Você está na página 1de 10

IFSul – Campus Passo Fundo

Curso de Graduação em Engenharia Civil


PFC – Projeto Final de Curso

CARBONATAÇÃO
Marco Hermes; Rafael Briato; Tiago Reimann

1 INTRODUÇÃO

O concreto armado é caracterizado pela mesclagem do aço com o concreto,


inserindo a armação no interior do pilar, viga ou fundação a ser concretada, gerando assim
uma estrutura em concreto armado com maior resistência e durabilidade.
Atualmente, o concreto armado é o método estruturas mais utilizado pelo homem no
mundo todo, tanto pelo seu baixo custo quando comparado a outros métodos estruturais,
quanto pela facilidade de transporte, moldagem e execução.
Conforme a NBR 6118:2014 – Estruturas de Concreto Armado: Procedimento,
existem exigências e normas básicas a serem seguidas e adotadas para a elaboração e
execução de estruturas em concreto armado, afim de garantir maior durabilidade e evitar o
processo de carbonatação, prolongando a vida útil da estrutura.
Na construção civil, a carbonatação é um processo químico que afeta a durabilidade
do concreto. O dióxido de carbono presente no ar reage com o hidróxido de cálcio presente
no concreto, formando carbonato de cálcio. Essa reação, conhecida como carbonatação,
pode reduzir o pH do concreto e corroer o aço presente nas armaduras, levando à perda
de resistência estrutural e comprometendo a segurança da edificação.
Medeiros e Helene (2009), afirmam sobre o concreto armado:

...os coeficientes de expansão térmica do aço e do concreto são similares e o aço


dentro do concreto encontra-se em um meio altamente alcalino devido à formação
de cal, e esse meio com pH acima de 12 faz com que o aço não corroa. A menos
que haja a presença de íons despassivantes ou redução do pH devido ao ataque
por CO2.
O processo de carbonatação no concreto ocorre a alguns fatores que variam desde
o projeto e execução a eventos extremos do ambiente em que a estrutura está situada. Os
principais agentes causadores do processo de carbonatação são: a exposição ao dióxido
de carbono (CO2), baixa cobertura das armaduras, exposição a ambientes agressivos,
utilização de materiais inadequados ou de baixa qualidade e a falta de manutenção
adequada.
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

São inúmeros e graves os efeitos gerados pela carbonatação no concreto e no aço,


contudo os principais e de maior gravidade são: corrosão da armadura, perda de
resistência, degradação da superfície e comprometimento da durabilidade.
Diante dos grandes problemas oriundos da degradação, em especial aos
provenientes da corrosão do aço em meio ao concreto pela ação da carbonatação, além
das necessidades no âmbito da competitividade construtiva juntamente as exigências no
padrão de qualidade desde o projeto a execução da obra, o estudo da carbonatação é de
grande valia para uma melhor compreensão do comportamento das estruturas em concreto
armado quando submetidas a intempéries, visando elencar e avaliar os efeitos causados
em relação a vida útil da estrutura.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CONCEITO E DEFINIÇÃO

A carbonatação, de modo geral, é um processo químico que se compreende como


uma reação entre o dióxido de carbono (CO2) com uma substância básica, como a água
ou o hidróxido de cálcio, formando o carbonato de cálcio (CaCO3). E esse fenômeno, de
acordo com Pauletti (2004), pode ocorrer nas estruturas em concreto armado, onde através
da difusão e dissolução do gás carbônico nos poros do concreto, preenchidos parcialmente
por água, irão reagir com hidróxidos e silicatos de cálcio hidratados ou não, para formar e
precipitar em carbonatos menos solúveis. E o resultado dessa reação afeta o pH do material
e reduz a durabilidade da estrutura.
Este processo da carbonatação do concreto, explicado por Kalsing (2020), é a
transformação dos hidróxidos em carbonatos. Ou seja, cálcio presente nos silicatos que
compõem os cimentos, quando em excesso liberam hidróxidos de cálcio (Ca(OH)2), que
por sua vez, após o endurecimento, podem ser encontrados em abundância no concreto
em forma de cristais e em parte dissolvidos na água presente nos poros capilares. E através
desses poros, conforme ilustração da figura 1, permite a penetração do gás carbônico até
os poros úmidos contendo hidróxido de cálcio, onde resultará no início da reação de
carbonatação.

2
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

Figura 1 - Processo de Carbonatação do Concreto

Fonte: FUSCO, 2008.

Essa penetração da carbonatação aumenta conforme os poros do concreto se


encontrem preenchidos com água. Ou seja, há uma relação direta que envolve a
carbonatação e os poros contendo água, e caso esta relação não seja satisfeita, há uma
tendência de o CO2 não reagir e diminuir as chances de carbonatação.

2.2 CAUSAS DO PROCESSO DE CARBONATAÇÃO

Na medida que ocorre o processo de carbonatação, o carbonato de cálcio se forma


e acaba ocupando espaços nos poros do concreto, e dependendo da extensão e da
profundidade podem ocasionar uma redução da alcalinidade, ou seja, ocorre uma
diminuição do pH do concreto, levando a perda da alcalinidade do material. E essa
alcalinidade do concreto é importante para a proteção da armadura contra a corrosão. Dado
a redução da alcalinidade, a armadura pode corroer mais rapidamente, assim
comprometendo a integridade estrutural da obra.
Principais fatores que favorecem o processo da carbonatação no concreto:
• Meio ambiente: Em ambiente com concentrações de CO2 e umidade relativa altas
tendem a aumentar as chances de ataque ao concreto;

3
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

• Características do concreto: Valores elevados na relação água/cimento, propiciam a


propagação de CO2 na estrutura.
• Camada protetora inadequada: Deve se atentar os requisitos da norma no que se
referem ao cobrimento mínimo de concreto na armadura.
• Cura: Como a cura afeta a hidratação do concreto, possui papel importante para
minimização da profundidade de carbonatação.
• Adições: Depende do modo que é executado a mistura e quantidade, influenciam na
difusão de CO2.

2.3 CONSEQUÊNCIAS DA CARBONATAÇÃO NAS ESTRUTURAS

Segundo GAMA (2021) “A consequência mais evidente, além da diminuição da


seção do concreto, é a corrosão da armadura, consequentemente sua seção. Além disso,
pode provocar a despassivação do aço e sua aderência com o concreto.”
Embora seja um processo lento e natural que é intensificado quando há fissuras no
concreto ou outras condições desfavoráveis, a carbonatação gera consequências negativas
no desempenho e na durabilidade do concreto armado, como:
• Redução da resistência do concreto: A carbonatação pode causar a redução
da alcalinidade do concreto, o que pode levar à corrosão das armaduras de aço. Isso pode
causar a perda de aderência entre o aço e o concreto, reduzindo a resistência do concreto
armado.
• Corrosão das armaduras: Quando a carbonatação alcança as armaduras de
aço, o pH do concreto diminui e os íons de cloreto podem penetrar mais facilmente nas
armaduras, acelerando o processo de corrosão. A corrosão pode causar a formação de
fissuras e rachaduras no concreto, diminuindo sua resistência e durabilidade.
• Diminuição da vida útil do concreto: A carbonatação pode diminuir a vida útil
do concreto armado, tornando-o mais suscetível a danos e deterioração com o tempo. Isso
pode resultar em custos elevados de manutenção e reparação.
• Redução da capacidade de suporte de carga: A corrosão das armaduras de
aço pode causar a perda de seção transversal e, consequentemente, a redução da
capacidade de suporte de carga do concreto armado.

4
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

• Perda de aderência entre o concreto e a armadura: A carbonatação pode


causar a perda de aderência entre o concreto e a armadura, o que pode comprometer a
capacidade do concreto armado de suportar cargas e deformações.

2.4 PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A prevenção da carbonatação no concreto armado exige medidas de proteção que


ajudam a prolongar a vida útil e a durabilidade da estrutura, como o aumento da espessura
de cobrimento, uso de aditivos com compostos alcalinos, redução da permeabilidade do
concreto, entre outros.
É possível utilizar revestimentos para proteger a superfície do concreto contra a
penetração do dióxido de carbono. Esses revestimentos podem ser aplicados após a cura
do concreto e ajudam a prolongar a vida útil da estrutura.
Segundo MEDEIROS e HELENE (2009), os materiais de proteção de superfície do
concreto são classificados em três grupos: formadores de película, hidrofugantes de
superfície, e bloqueadores de poros, representados na Figura 2.
a) Formadores de película: Estes materiais podem ser divididos em dois grupos,
tintas e vernizes. As tintas são formuladas a partir de quatro componentes
básicos, sendo eles resinas, solventes, pigmentos e aditivos. Já os vernizes
são constituídos apenas por resinas, solventes e aditivos. Pela ausência de
pigmentos, não apresentam cor e geralmente têm durabilidade inferior à das
tintas.
b) Bloqueadores de poros: Materiais compostos por silicatos, com a função de
penetrar os poros superficiais das estruturas formando uma camada
superficial menos porosa reduzindo assim a permeabilidade dos elementos.
Sendo em geral utilizado para esta finalidade uma solução de silicato de sódio,
tendo como principal característica a não alteração da superfície do concreto,
mantendo a aparência natural do mesmo.
c) Hidrofugantes de superfície: Diferenciam-se dos outros sistemas, devido seu
funcionamento, baseando-se em penetrar a superfície do concreto criando
uma camada hidrófuga que dificulta a penetração da água em forma liquida,
entretanto, permitindo a entrada e saída do vapor, permitindo a “respiração”
do concreto, desta forma ocasionado uma menor interferência na estrutura.
5
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

Figura 2 - Grupos de tratamentos de superfície para concreto: (a) formadores de película (b) bloqueadores
de poros (c) hidrofugantes de superfície

Fonte: MEDEIROS e HELENE, 2009.

De forma geral, a prevenção da carbonatação no concreto armado envolve diversas


medidas de proteção, durante o projeto da estrutura, bem como durante sua execução,
manutenção e reparo ao longo do tempo. É importante adotar essas medidas de proteção
para garantir a durabilidade e a segurança da estrutura.
Conforme Kalsing (2020), para efetuar-se a verificação do avanço da
carbonatação destacam-se as técnicas visuais e técnicas eletroquímicas – estas têm se
tornado atrativas por sua velocidade e principalmente por não necessitar a destruição da
estrutura na aferição, que é realizada no local, o que torna o processo ágil e abrangente.
Entre as técnicas visuais evidencia-se a utilização de reagentes químicos
sobre corpos de prova extraídos das estruturas, e por vezes no local. Na maioria dos casos
é aplicada uma solução de fenolftaleína na amostra, quando se torna possível então
visualizar e distinguir as áreas carbonatadas e não carbonatadas analisando as cores do
reagente. As áreas que não sofrem alteração de cor tiveram seu pH diminuído abaixo de 9
e são consideradas carbonatadas, enquanto as áreas mais escuras têm pH acima de 12,5.
Aguiar (2019) recomenda avaliar os avanços da carbonatação utilizando os
dois sistemas juntamente a fim de obter resultados melhores, mais confiáveis e
abrangentes.

6
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

Figura 2 - Corpo de prova aspergido com fenolftaleína

Fonte: Kalsing (2020)

Pode-se observar que, na Figura 2, uma parte da amostra submetida à


fenolftaleína sofreu grande avanço de carbonatação onde está posicionado o paquímetro,
pois é visivelmente notável uma porosidade maior nessa região. As outras áreas não
sofreram avanço significativo de carbonatação.
Segundo Araújo (2009), são três os mecanismos de restabelecimento da
alcalinidade do concreto. O primeiro se trata da difusão e absorção de uma solução alcalina
por ação capilar e de forças hidráulicas, denominado realcalinização química, que
independem do campo elétrico e do fluxo de corrente aplicado. O segundo e terceiro
ocorrem com o uso de corrente elétrica e consequentemente com a formação de um campo
elétrico, chamado de realcalinização eletroquímica. Sendo o segundo através da produção
de íons hidroxila, devido a reação catódica na superfície das armaduras, e o terceiro através
de um fluxo eletro-osmótico que transporta a solução alcalina para o interior dos poros
capilares do concreto.

7
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme apresentado no trabalho, o concreto é o material construtivo mais utilizado


na construção civil e essencial no meio socioeconômico. Durantes os anos, devido a sua
grande e ampla utilização na construção civil, foram verificadas varias formas de patologias
ligadas ao concreto, tanto pelo inevitável envelhecimento das estruturas quanto pelos
ambientes agressivos que se encontravam, neste caso, em especial o processo de
carbonatação do concreto, assim como suas causas, efeitos, prevenção e tratamento.
O processo de carbonatação é um processo longo e muitas vezes inevitável,
contudo, quando não adotado as medidas preventivas esse processo pode ser acelerado
pelas condições climáticas da região ou pelo tipo de uso da edificação, esta que muitas
vezes não é projetada e executada de forma adequada para resistir ao próprio uso diário,
afetando diretamente a vida útil da edificação ou quaisquer obras.
Com base nessas razões, é dado a importância de monitorar e avaliar o processo de
carbonatação do concreto em obras e edifícios já prontos. Visto que esse processo
acontece de forma natural com o tempo, e quando exposto a condições desfavoráveis, tais
como concentração de dióxido de carbono e presença de água, pode favorecer no
desencadeamento e aceleração da carbonatação.

8
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

4 REFERÊNCIAS

AGUIAR, José Eduardo de. Patologia e Durabilidade das Estruturas de Concreto.


Notas de aula (especialização em construção civil) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Engenharia, Belo Horizonte: 2019.

ARAÚJO, Fernanda Wanderley Corrêa de. Estudo da repassivação da armadura em


concretos carbonatados através da técnica de realcalinização química. 2009. Tese
de Doutorado. Universidade de São Paulo.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de


estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

FUSCO, Péricles Brasiliense. Tecnologia do concreto estrutural: tópicos aplicados. 1ª


ed. São Paulo: PINI, 2008.

GAMA, Matheus Ferreira. CARBONATAÇÃO DO CONCRETO: CAUSAS,


CONSEQUÊNCIAS E TRATAMENTO. III Congresso Online de Engenharia de Materiais,
2021.

KALSING, Felipe S. Causas e Efeitos da Carbonatação na Durabilidade do Concreto


Armado. Monografia de Especialização (Especialista em Construção Civil) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2020.

MEDEIROS, Marcelo Henrique Farias de; HELENE, Paulo Roberto do Lago.


Durabilidade e Proteção do Concreto Armado. Téchne, São Paulo, v.17, n.151, p. 50-
54, 2009.

PAULETTI, Cristiane. Análise Comparativa de Procedimentos para Ensaios


Acelerados de Carbonatação. Dissertação de Pós-Graduação (Mestre em Engenharia na
Modalidade Acadêmico) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

9
IFSul – Campus Passo Fundo
Curso de Graduação em Engenharia Civil

APÊNDICES E ANEXOS
Figura A1 - Exemplo da carbonatação na viga

Figura A2 - Variação do coeficiente de permeabilidade de acordo com a relação água/cimento

Figura A3 - Exemplo de aplicação de fenoftaleína

10

Você também pode gostar