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Manual de enfermidades parasitárias de peixes ornamentais de água doce

Book · February 2018

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8 authors, including:

William Furtado Karen Roberta Tancredo


City University of Hong Kong Federal University of Santa Catarina
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Mauricio Martins Rodrigo Yudi Fujimoto


Federal University of Santa Catarina Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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MANUAL DE ENFERMIDADES PARASITÁRIAS DE
PEIXES ORNAMENTAIS DE ÁGUA DOCE

MAURÍCIO LATERÇA MARTINS


RODRIGO YUDI FUJIMOTO
KAREN ROBERTA TANCREDO
LUCAS CARDOSO
WILLIAM EDUARDO FURTADO
NATALINO DA COSTA SOUSA
MONYELE ACCHILE SANTOS
GABRIELA TOMAS JERÔNIMO
Maurício Laterça Martins, Rodrigo Yudi Fujimoto
Karen Roberta Tancredo, Lucas Cardoso
William Eduardo Furtado, Natalino Sousa
Monyele Acchile Santos, Gabriela Tomas Jerônimo

Manual de enfermidades parasitárias de peixes


ornamentais de água doce

Primeira edição

Florianópolis
UFSC
2018
AUTORES

Maurício Laterça Martins


Biólogo, Doutor em Aquicultura, Pós-Doutorado em Patologia
de Peixes, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus
Reitor João David Ferreira Lima s/n, Cep 88040-900, Trindade,
Florianópolis, SC.

Rodrigo Yudi Fujimoto


Zootecnista, Doutor em Aquicultura, Embrapa Tabuleiros
Costeiros, Av. Beira Mar nº 3.250, Bairro Jardins, Cep 49025-
040, Aracaju, SE.

Karen Roberta Tancredo


Engenheira de Aquicultura, Mestre em Aquicultura,
Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor João
David Ferreira Lima s/n, Cep 88040-900, Trindade,
Florianópolis, SC.

Lucas Cardoso
Engenheiro de Aquicultura, Mestre em Aquicultura,
Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor João
David Ferreira Lima s/n, Cep 88040-900, Trindade,
Florianópolis, SC.

William Eduardo Furtado


Engenheiro de Aquicultura, Universidade Federal de Santa
Catarina, Campus Reitor João David Ferreira Lima s/n, Cep
88040-900, Trindade, Florianópolis, SC.

Natalino da Costa Sousa


Engenheiro de Pesca, Mestre em Ciência Animal,
Universidade Federal do Pará (UFPA), Rua Augusto Corrêa 1,
Guamá, Cep 66075-110, Belém, PA.
Monyele Acchile Santos
Engenheira de Pesca, Mestre em Aquicultura, Universidade
Nilton Lins, Av. Prof. Nilton Lins 3259, Parque das Laranjeiras,
Cep 69058-580, Manaus, AM.

Gabriela Tomas Jerônimo


Engenheira de Aquicultura, Pós-Doutorado em Aquicultura,
Universidade Nilton Lins, Av. Prof. Nilton Lins 3259, Parque
das Laranjeiras, Cep 69058-580, Manaus, AM.
SUMÁRIO

Apresentação.................................................................................. 8

1. Protozoários parasitos de peixes ornamentais cultivados......... 9

1.1. Piscinoodinium pillulare............................................... 9

1.2. Ichthyophthirius multifiliis........................................... 9

1.3. Trichodina spp........................................................... 10

2. Metazoários parasitos de peixes ornamentais cultivados........ 11

2.1. Monogenoides.......................................................... 11

2.2. Lernaea cyprinacea................................................... 11

2.3. Nematoides............................................................... 12

2.4. Cestoides................................................................... 13

3. Histologia de órgãos de peixes ornamentais cultivados........... 15

4. Parasitos de peixes ornamentais cultivados do Nordeste do


Brasil............................................................................................. 17

5. Recomendações ao produtor................................................... 19

6. Considerações finais................................................................. 22
APRESENTAÇÃO

Por apresentar diversidade de espécies de peixes ornamentais, o Brasil é


reconhecido entre os principais fornecedores de peixes ornamentais de
clima tropical, e a maior produção destes peixes é proveniente de
capturas.

Durante um vasto levantamento realizado nas pisciculturas do nordeste


e sul do Brasil recentemente, este manual abordará os principais
parasitos observados em peixes ornamentais de água doce cultivados,
que destinam sua produção para comercialização, bem como as
patogenias nos órgãos e tecidos acometidos por estes patógenos.

Estes dados são baseados em estudos realizados pelo Laboratório AQUOS


- Sanidade de Organismos Aquáticos, do Departamento de Aquicultura da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em conjunto com o
Laboratório de Aquicultura, EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, Aracaju, SE,
pelo projeto “Avanços em sanidade de peixes na piscicultura nacional:
identificação, distribuição, transmissão e fatores de risco de doenças”,
edital CAPES-EMBRAPA 15/236 e CNPq 446072/2014-1; 305869/2014-0.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 8


PROTOZOÁRIOS PARASITOS DE PEIXES ORNAMENTAIS CULTIVADOS

➢ Piscinoodinium pillulare

É responsável pela “doença do veludo”


que acomete o tegumento e brânquias de
peixes de água doce como mostra a figura
ao lado, de um filamento branquial
parasitado pelo trofonte, sua forma
adulta. As causas predisponentes da
enfermidade estão geralmente
relacionadas à redução da concentração
de oxigênio dissolvido, devido ao excesso
de matéria orgânica e alta densidade de estocagem. Como sinais clínicos,
pode-se citar o aspecto aveludado da superfície, excesso de produção de
muco, em infestações avançadas, os peixes ficam letárgicos, emagrecem pela
perda do apetite. Altas infestações pelo dinoflagelado P. pillulare podem
provocar hiperplasia nas brânquias com consequente dificuldade da
atividade respiratória, culminando em mortalidade.

➢ Ichthyophthirius multifiliis

É o agente causador da ictiofitiríase ou


doença dos pontos brancos. A figura
mostra a forma infectante do parasito
conhecida como teronte. Os peixes
acometidos apresentam inúmeros
nódulos arredondados de cor branca no
tegumento e brânquias que chegam a 1
mm de diâmetro e são chamadas de
trofontes.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 9


Este parasito é responsável por danos consideráveis nas pisciculturas, em
nível mundial, podendo acarretar mortalidade de até 100%. Sua ocorrência
é mais evidente em locais onde ocorrem oscilações bruscas de temperatura
ou que possuem má qualidade de água. Provocam hemorragias por todo
corpo do peixe e posterior invasão bacteriana e fúngica, anorexia, peixes
aglomerados na entrada da água, emagrecimento e produção excessiva de
muco.

➢ Trichodina spp.

Os tricodinídeos são ciliados que podem


ser encontrados na superfície do corpo
e brânquias de peixes de cultivo de água
doce e marinhos. Este parasito
apresenta formato de sino achatado,
macronúcleo em forma de ferradura. No
centro do corpo apresenta um disco
adesivo, formado por uma coroa de
dentículos. Apresentam transmissão
horizontal, por contato direto ou por água contaminada do parasito para
novos hospedeiros. Proliferam-se quando há excesso de material em
decomposição, ocasionando grande intensidade parasitária. Os peixes
infestados por este parasito tornam-se debilitados, nadando na superfície
da água, além de excesso na produção de muco.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 10


METAZOÁRIOS PARASITOS DE PEIXES ORNAMENTAIS CULTIVADOS

➢ Monogenoides

O monogenoide, como está representado


ao lado por sua forma adulta, é um
helminto ectoparasito que tem como
forma infectante o oncomiracídio de
reduzidas dimensões. É frequentemente
encontrado parasitando as brânquias e
superfície do corpo dos peixes. Os sinais
clínicos variam desde a alteração
comportamental até a natação de forma
desorientada chocando-se contra as paredes do tanque, a fim de livrar-se dos
parasitos. Por este motivo, é comum a abertura de ferimentos e infecções
secundárias por bactérias e fungos. Infestações massivas geralmente estão
relacionadas à alta densidade de estocagem de peixes em sistemas de
cultivo. Em alguns casos pode compromete o funcionamento das brânquias,
ocasionando a morte do peixe por asfixia.

➢ Lernaea cyprinacea

Conhecido como “verme âncora” devido


ao formato da sua cabeça, causa a doença
chamada de lerneose. L. cyprinacea, como
está representada a seguir na sua forma
adulta, é um crustáceo parasito não
específico de apenas um hospedeiro.
Baixas infestações do parasito podem
fazer os peixes se rasparem nas laterais e
fundo dos viveiros. Este parasito pode ser
vetor de outros, como o Epistylis sp.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 11


Além disso, em peixes pequenos, a infestação por esta parasitose é
considerada grave, pois devido ao modo de fixação do hospedeiro, a âncora
atinge os órgãos internos, dificultando o funcionamento dos mesmos. Já em
altas infestações, pode-se observar letargia, natação errática e animais com
corpo na posição lateral ou ventral. Nos locais de fixação do parasito observa-
se aumento na secreção de muco, inflamação, zonas hemorrágicas e
ulceradas. Outros sinais clínicos observados na lerneose é a perda de
escamas ao redor do parasito, perda de apetite e emagrecimento do peixe,
que acarretam, eventualmente, em mortalidade aguda nos animais.

➢ Nematoides

Destacam-se na piscicultura ornamental


os parasitos dos gêneros Camallanus sp. e
Pseudocapillaria sp. São parasitos comuns
em peixes de água doce e parasitam
praticamente todos os órgãos dos peixes,
tanto na forma adulta como larval. As
larvas podem ser encontradas encistadas
no músculo, fígado, superfície das
vísceras, intestino, cavidade visceral. Estes
parasitos podem causar danos aos hospedeiros, dependendo da espécie, do
órgão parasitado e do número de parasitos. Geralmente ocorre edema
(acúmulo anormal de líquido na região subcutânea), necrose (estado de
morte do tecido), inflamação localizada (reação do organismo em
decorrência de uma infecção ou lesão no tecido) e formação de granulomas.
Quando em intensidades elevadas, é possível também obstrução intestinal e
os peixes param de se alimentar.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 12


➢ Cestoides

Possuem o corpo em forma de fita (figura


ao lado), constituído por segmentos
chamados proglótides. Seu tamanho
varia de milímetros até vários metros de
comprimento. Na fase adulta habitam o
trato digestório dos hospedeiros. As
larvas podem ser encontradas na
musculatura, cavidade visceral e órgãos
internos dos peixes. Os sinais clínicos são
difíceis de serem percebidos, quando adultos. Podem provocar oclusão
parcial ou total do intestino, provocado pela alta infecção do parasito, além
de causar descamação e necrose na parede intestinal.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 13


Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 14
Tabela 1: Parasitos de peixes ornamentais cultivados no Sul do Brasil.
Piscinoodinium Ichthyophthirius Trichodina Monogenoide Nematoide Cestoide
pillulare multifiliis sp.
CHARACIDAE
Matogrosso (Hyphessobrycon eques) - + + - - -
Tetra rosa (Gymnocorymbus ternetzi) - + + + - -
CICHLIDAE
Acará bandeira (Pterophyllum scalare) + + + + + +
CYPRINIDAE
Barbo gema (Puntius sachsii) - + + - - -
Carpas coloridas (Cyprinus carpio Koi) - + + + - +
Kinguio (Carassius auratus) + + + + - -
Paulistinha (Danio rerio) + + + - - -
Tanictis (Tanichthys albonubes) + - + - - -
OSPHRONEMIDAE
Beta (Betta splendens) + - + + + +
POECILIDAE
Espada negra (Xiphophorus helleri) + + + - - +
Molinésia negra (Poecilia sphenops) + + + - - -
Plati aurora (Xiphophorus maculatus) + + + + + +
(+) observado; (-) não observado
HISTOLOGIA DE ÓRGÃOS DE PEIXES ORNAMENTAIS CULTIVADOS

Uma das técnicas comumente empregadas em laboratório para verificar o


estado de saúde dos peixes é a histopatologia. Ela consiste basicamente em
obter fatias muito finas dos órgãos dos animais de modo que, ao serem
coradas, é possível detectar alterações em níveis celular e tecidual. O grau
destas alterações, encontradas em órgãos como brânquia, fígado, baço,
coração e intestino, pode ser relacionado à maneira como os animais são
mantidos em cultivo. A manutenção dos parâmetros de qualidade de água
(como oxigênio dissolvido, pH e temperatura) dentro dos valores adequados
para a espécie de peixe cultivada, o cuidado com o manejo alimentar, as
ações de profilaxia dos utensílios utilizados e a adoção de práticas que
minimizem a entrada de vetores (seres vivos capazes de transmitir parasitos,
bactérias e vírus) devem ser constantemente observados para que a saúde
dos peixes ornamentais cultivados seja mantida. Tomando estes cuidados,
a probabilidade de encontrarmos peixes saudáveis, com órgãos íntegros e
com suas funções preservadas, aumenta. É o caso daqueles representados
pelas Figuras 1 A e 1 C: a seção transversal de um intestino e brânquias,
respectivamente; em ambos, verifica-se a ausência de lesões e de parasitos.
Em contrapartida, na Figura 1 B, observam-se cestoides obstruindo a
passagem intestinal. Já nas Figuras 1 D e 1 E, verificam-se protozoários
ciliados comuns em peixes cultivados: os tricodinídeos. E, por último, na
Figura 1 D, percebe-se outro parasito frequente em brânquias de peixes
ornamentais cultivados, o monogenoide. As alterações teciduais nas
brânquias de peixes acometidos por esses parasitos (tricodinídeos e
monogenoides) estão fortemente relacionadas ao grau de infestação.
Nas figuras, observa-se aumento da produção de muco como uma tentativa
de expulsar estes parasitos para proteger integridade da brânquia.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 15


Figura 1: Cortes histológicos de: intestino normal (A); obstrução intestinal por cestoides (asterisco) (B);
tecido branquial normal (C); brânquia com Trichodina (setas) (D); brânquia com Monogenea (seta) (E) e
brânquia com Trichodina (seta) (F).

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PARASITOS DE PEIXES ORNAMENTAIS CULTIVADOS DO NORDESTE DO BRASIL

A região Nordeste do Brasil é conhecida pelas exportações de peixes


ornamentais marinhos, no entanto, a produção dulcícola é promissora na
região, produzindo peixes para atender o mercado local. No estado de
Sergipe, apesar de menor mercado, se comparado a outros estados, o fluxo
da comercialização de peixes ornamentais é semelhante aos grandes polos.
As pisciculturas ficam próximas a capital Aracaju, cultivando-se espécies não
nativas e nativas, com destaque para o acará bandeira (Pterophyllum
scalare), guppy (Poecilia reticulata), plati (Xiphophorus maculatus), beta
(Betta splendens), kinguio (Carassius auratus) e o molinesia (Poecilia
shenops).
Por ser uma atividade altamente lucrativa, a criação de peixes
ornamentais passou por processos de intensificação produtiva a fim de
atender a crescente demanda do mercado. Entretanto, esse processo de
intensificação e crescimento provocou o aumento na incidência de doenças
nas pisciculturas, se tornando um dos principais gargalos para a criação de
peixes ornamentais, principalmente as originárias por parasitos.
Entre os agentes patogênicos encontrados nas pisciculturas da região,
pode-se destacar o Ichthyophthirius multifiliis, tricodinídeos e Piscinoodinium
pillulare (tabela 2), ectoparasitos que podem ocasionar mortalidade dos
peixes no viveiro e em aquários. O Ichthyophthirius multifiliis é um dos
principais responsáveis pela mortalidade de peixes nos períodos mais frios
do ano na região nordeste do Brasil. Já os tricodinídeos apresentam maior
intensidade de infestação nos viveiros de cultivo dos kinguios, que são
cultivados em sistemas com alta carga de matéria orgânica oriunda da
grande cobertura de macrófitas e pouca renovação de água.
Os helmintos também são encontrados como parasitos das espécies
ornamentais nas lojas e pisciculturas ornamentais da região, encontrando-se
monogenoides e nematoides (tabela 2). Os monogenoides encontrados
estão entre os grupos Dactylogyridae e Gyrodactylidae, ectoparasitos
espécie-específicos, parasitando as brânquias e tegumento dos animais,
respectivamente.

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 17


Nas pisciculturas da região a intensidade média de infestação de
monogenoides são maiores nos viveiros de kinguio e guppy, viveiros estes
que apresentavam alta carga de matéria orgânica, com a cor da água em tom
esverdeado escuro, alta produção primária, e lodos próximo aos taludes do
viveiro.
Os nematoides (tabela 2) encontrados pertencem ao gênero
Procamallanus e Capillaria pterophylli. O gênero Procamallanus é
encontrado em todas as espécies cultivadas e necessitam de hospedeiro
intermediário para conclusão do ciclo de vida, podendo ser um zooplâncton,
organismo secundário constituinte dos viveiros de cultivo. A água usada para
o abastecimento ou renovação dos viveiros de cultivo da região é captada
diretamente do rio e não passam por nenhum sistema de filtragem, seja
mecânico ou biológico, o que pode permitir a entrada destes organismos
primários. Estes organismos se adaptam rápido aos viveiros e servem de
alimento para os peixes em todas as fases de criação. Portanto, se um
zooplâncton estiver com o parasito, o ciclo pode ser completado no peixe,
ocasionando a infecção e a disseminação do agente patogênico. Já o
nematoide Capillaria pterphylli é observado apenas em juvenis de acará
bandeira, parasito de ciclo direto, podendo ocasionar no hospedeiro
anorexia e até a morte.
Essas características dos sistemas de criação de peixes ornamentais no
estado de Sergipe permitem concluir que o manejo empregado na região
ainda apresenta deficiências de boas práticas de cultivo que assegurem
evitar a disseminação de parasitos entres os elos da cadeira de
comercialização e produção.

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Recomendações ao produtor
Durante as visitas nas pisciculturas, foram observados alguns pontos
que possivelmente favoreceram a proliferação e a disseminação dos
parasitos nos viveiros. Tais como:
• Falta de filtros mecânicos na captação de água;
• Água de abastecimento direto para os viveiros;
• Alta densidade de estocagem nos viveiros;
• Falta de aclimatação;
• Falta de quarentena para os peixes;
• Espécies diferentes sendo cultivadas no mesmo tanque;
• Superfície da água coberta por macrófitas (alface d’água);
• Água com tom verde escuro;
• Não é feita biometria periódica nos peixes;
• Uso de puçá para todos os viveiros;
• Falta de desinfecção dos utensílios usados na piscicultura;

As medidas preventivas para os pontos negativos citados acima que


podem diminuir ou evitar a proliferação de doenças nos peixes são:

✓ O uso de filtros mecânicos com telas e substratos de


pedras/britas para diminuir a entrada de organismos
oriundos da água do rio durante a captação da água;
✓ O uso de um reservatório para abastecimento da água dos
viveiros é necessário, uma vez que as variáveis físicas e
químicas da água podem estar com alta concentração de
CO2 e cloro na água (poço artesiano e abastecimento local);
✓ Realizar repicagem dos peixes durante a mudança de fase
(larvas, alevinos, juvenil e adulto), controlando assim a
densidade (peixes/m3);
✓ Aumentar a renovação da água nos viveiros, para diminuir
a proliferação de algas e material orgânico;

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✓ Realizar a aclimatação de forma lenta, adicionando água do
viveiro aos sacos contento os peixes, esperar 10 min
(repetir este manejo três vezes), e monitorar o pH e a
temperatura, se estiverem iguais ou similares, retirar os
peixes do saco e colocar no viveiro de quarentena, e
descartar a água do saco;
✓ Realizar biometria mensal ou periódica, para verificar o
tamanho dos peixes (mudança de fase) e se estão com
sinais clínicos de doença;
✓ Isolar em aquário hospital os peixes que apresentarem
sinais clínicos de doenças para tratamento;
✓ Não utilizar o mesmo puçá ou rede para todos os viveiros,
sendo necessário um puçá individual;
✓ Há necessidade de desinfecção com sal e cloro para colocar
os puçás ou outros utensílios após o uso nos viveiros;
✓ Há necessidade de colocar caixas d’água como quarentena
de 15 dias para os peixes antes de colocá-los nos viveiros,
para verificar qualquer sinal de doenças.

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Tabela 2: Parasitos de peixes ornamentais cultivados no Nordeste do Brasil
Piscinoodinium Ichthyophthirius Trichodina Monogenoide Nematoide
pillulare multifiliis sp.
CICHLIDAE
Acará bandeira - + + + +
(Pterophyllum
scalare)
CYPRINIDAE
Kinguio (Carassius - + + + +
auratus)
OSPHRONEMIDAE
Beta (Betta - + + + +
splendens)
POECILIIDAE
Guppy (Poecilia - + + + +
reticulata )
Plati (Xiphophorus + + + + +
maculatus)
(+) observado; (-) não observado

Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 21


Considerações finais

Observou-se que os peixes ornamentais cultivados nas regiões sul e


nordeste do Brasil, apresentaram grande diversidade de parasitos. Fato este,
que pode impactar negativamente a comercialização destes peixes no
aquarismo. Uma vez que na maioria dos casos, as espécies permanecem
juntas, facilitando a transmissão dos parasitos de baixa especificidade, como
é o exemplo dos protozoários.
Com isso, é de suma importância monitorar a qualidade da água, a
saúde dos peixes através da observação dos sinais clínicos e fazer um manejo
adequado a cada tipo de cultivo. A melhor forma de combater os parasitos é
através da prevenção, com atitudes simples na rotina do piscicultor.

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Manual de Enfermidades Parasitárias de Peixes Ornamentais de Água Doce l 23
CNPq 446072/2014-1 e 305869/2014-0
CAPES/EMBRAPA edital 15/236

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