Universidade Federal de Catalão 1. Introdução ⚫ Materiais cerâmicos são materiais inorgânicos e não-metálicos.
⚫ A maioria dos materiais cerâmicos são
compostos de elementos metálicos e não- metálicos para os quais as ligações interatômicas são ou totalmente iônicas ou predominantemente iônicas mas tendo algum caráter covalente. 1. Introdução ⚫ O termo cerâmica vem da palavra grega keramikos, que significa "material queimado", indicando que as desejáveis propriedades destes materiais são normalmente encontradas através de um processo de tratamento térmico de alta temperatura denominado queima. 1. Introdução ⚫ Até 40 anos atrás, os materiais mais importantes nesta classe eram denominados “cerâmicas tradicionais", aquelas para as quais a matéria prima básica é a argila; produtos considerados como cerâmicas tradicionais são louça, porcelana, tijolos, telhas, ladrilhos, azulejos, manilhas e, em adição, vidros e cerâmicas de alta temperatura. 1. Introdução ⚫ Ultimamente, significativos progressos têm sido feitos no entendimento do caráter fundamental destes materiais e dos fenômenos que ocorrem neles que são responsáveis pelas suas únicas propriedades.
⚫ Conseqüentemente, uma nova geração destes
materiais foi desenvolvida e o termo "cerâmica" tem sido usado com um significado muito mais amplo. 1. Introdução ⚫ Num grau ou noutro, estes materiais têm um efeito bastante dramático sobre as nossas vidas: eletrônica, computador, comunicação, aeroespacial e um grande número de outras indústrias apóiam-se no seu uso. 1. Introdução ⚫ As cerâmicas são tipicamente isolantes à passagem de eletricidade e de calor, e são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes rudes do que metais e polímeros.
⚫ Com relação ao comportamento mecânico,
as cerâmicas são duras, mas muito frágeis. 2. Estruturas cerâmicas ⚫ Uma vez que a ligação atômica em materiais cerâmicos é parcialmente ou totalmente iônica, a maioria das estruturas cerâmicas pode ser pensada como sendo composta de íons eletricamente carregados em vez de átomos.
⚫ Os íons metálicos, ou cátions, são positivamente
carregados, uma vez que eles cederam os seus elétrons de valência aos íons não metálicos, ou ânions, que são negativamente carregados. 2. Estruturas cerâmicas ⚫ Como as cerâmicas são formadas por dois ou mais elementos, suas estruturas cristalinas são geralmente mais complexas do que as estruturas dos metais. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Duas características dos íons componentes em materiais cerâmicos cristalinos influenciam a sua estrutura cristalina: a magnitude da carga elétrica em cada um dos íons componentes e os tamanhos relativos dos cátions e ânions. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Com relação à primeira característica, o cristal deve ser eletricamente neutro, isto é, todas as cargas positivas do cátion devem ser contrabalançada por igual número de cargas negativas do ânion.
⚫ O segundo critério envolve os tamanhos ou
os raios iônicos dos cátions e ânions, rC e rA, respectivamente. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Uma vez que os elementos metálicos fornecem elétrons quando ionizados, cátions são ordinariamente menores do que ânions e, conseqüentemente, a razão rC / rA é menor do que um.
⚫ As estruturas cristalinas cerâmicas estáveis
se formam quando aqueles ânions circundando um cátion estão todos em contato com aquele cátion. 2.1. Estruturas cristalinas
Configurações de coordenação ânio-cátion estáveis e não-estáveis. Círculos
vermelhos representam ânions e azuis cátions. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ O número de coordenação (isto é, o número de vizinhos aniônicos mais próximos para um cátion) está relacionado à razão entre os raios iônicos do cátion e do ânion. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Para um número de coordenação específico, existe uma razão crítica (ou mínima) para a qual este contato cátion-ânion é estabelecido, cuja razão pode ser determinada a partir de considerações puramente geométricas.
⚫ Os números de coordenação e as geometrias de
vizinhos mais próximos para várias razões rC / rA são apresentados a seguir. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Para razões rC/rA menores do que 0,155 o cátion muito pequeno está ligado a dois ânions linearmente.
⚫ Se rC / rA tiver um valor entre 0,155 e 0,255, o
número de coordenação para o cátion é três.
⚫ Isto significa que cada cátion se encontra
circundado por 3 ânions na forma de um triângulo eqüilátero, com o cátion localizado no centro. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ O número de coordenação é quatro para rC / rA entre 0,225 e 0,414, sendo o cátion localizado no centro de um tetraedro, com ânions em cada um dos quatro cantos.
⚫ Para rC / rA entre 0,414 e 0,732, pode-se
pensar que o cátion está situado no centro de um octaedro circundado por seis ânions, um em cada canto. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ O número de coordenação é oito para rC / rA entre 0,732 e 1,0, com os ânions em todos os cantos de um cubo e um cátion posicionado no centro.
⚫ Para uma razão de raio maior do que a
unidade, o número de coordenação é doze. 2.1. Estruturas cristalinas ⚫ Os números de coordenação mais comuns para materiais cerâmicos são 4, 6 e 8.
⚫ A tabela a seguir apresenta os raios iônicos
para vários ânions e cátions que são comuns para materiais cerâmicos. 2.1. Estruturas cristalinas
Raios iônicos para vários cátions e ânions
(para um número de coordenação igual a seis) 2.2. Estruturas cristalinas do tipo AX ⚫ Alguns dos materiais cerâmicos mais comuns são aqueles nos quais existem iguais números de cátion e de ânion.
⚫ Estes são referidos como os compostos AX,
onde A denota o cátion e X o ânion. 2.2. Estruturas cristalinas do tipo AX ⚫ Existem várias diferentes estruturas cristalinas para os compostos AX; cada uma é normalmente denominada de acordo com um material comum que assume a particular estrutura. 2.2.1. Estrutura NaCl ⚫ Talvez a estrutura cristalina AX mais comum é a do tipo do cloreto de sódio (NaCl) ou do sal de rocha.
⚫ O número de coordenação tanto para cátions
quanto para ânions é seis e, portanto, a razão de raios iônicos se situa entre aproximadamente 0,414 e 0,732. 2.2.1. Estrutura NaCl ⚫ Uma célula unitária para esta estrutura cristalina é gerada a partir de um arranjo CFC de ânions com um cátion situado no centro do cubo e um no centro de cada uma das doze arestas do cubo.
⚫ Uma estrutura cristalina equivalente resulta a
partir um arranjo cúbico de face centrada de cátions. 2.2.1. Estrutura NaCl ⚫ Assim, pode-se pensar que a estrutura cristalina do sal de rocha seja constituída de duas redes CFC interpenetrantes,uma composta de cátions e a outra composta de ânions.
⚫ Alguns dos materiais cerâmicos comuns que
formam esta estrutura cristalina são NaCl, MgO, MnS, LiF e FeO. 2.2.1. Estrutura NaCl
Célula unitária da estrutura cristalina do cloreto de sódio (NaCl)
2.2.2. Estrutura CsCl ⚫ A figura a seguir mostra uma célula unitária para a estrutura cristalina do cloreto de sódio (CsCl).
⚫ O número de coordenação é oito para ambos
os tipos de íons. 2.2.2. Estrutura CsCl
Célula unitária da estrutura cristalina do cloreto de césio (CsCl)
2.2.2. Estrutura CsCl ⚫ Os ânions estão localizados em cada um dos cantos de um cubo, enquanto que no centro do cubo se encontra um único cátion.
⚫ Intertroca de ânions com cátions, e vice-
versa, produz a mesma estrutura cristalina.
⚫ Esta não é uma estrutura CCC porque íons
de dois diferentes tipos estão envolvidos. 2.2.3. Estrutura da esfalerita ⚫ Estrutura na qual o número de coordenação é quatro, isto é, todos os íons estão tetraedricamente coordenados.
⚫ Isto é denominado estrutura da esfalerita,
termo mineralógico para o sulfeto de zinco (ZnS). 2.2.3. Estrutura da esfalerita ⚫ Na célula unitária apresentada a seguir todas as posições dos cantos e das faces da célula cúbica estão ocupadas por átomos de S, enquanto que os átomos de Zn preenchem as posições tetraédricas interiores.
⚫ Uma estrutura equivalente resulta quando as
posições dos átomos de Zn e de S forem invertidas. 2.2.3. Estrutura da esfalerita
Célula unitária da estrutura cristalina da esfalerita (ZnS).
2.2.3. Estrutura da esfalerita ⚫ Assim cada átomo de Zn está ligado a quatro átomos de S e vice-versa.
⚫ Na maioria das vezes, a ligação atômica é
altamente covalente em compostos exibindo esta estrutura cristalina, os quais incluem ZnS, ZnTe e SiC. 2.2.4. Estrutura do diamante ⚫ Para o diamante, a estrutura cristalina é uma variante da esfalerita, na qual átomos de carbono ocupam todas as posições (tanto de Zn quanto de S).
⚫ Assim cada carbono se liga a quatro outros
carbonos e estas ligações são totalmente covalentes. 2.2.4. Estrutura do diamante ⚫ Esta é apropriadamente chamada a estrutura cristalina cúbica do diamante, que é também encontrada para outros elementos do grupo IVA na tabela periódica (por exemplo, germânio e estanho cinza, abaixo de 13ºC). 2.2.4. Estrutura do diamante 2.2.4. Estrutura do diamante 2.2.5. Estrutura da grafita ⚫ Outra polimorfo do carbono, a grafita que tem uma estrutura cristalina distintamente diferente daquela do diamante.
⚫ Esta estrutura é composta de camadas de
átomos de carbono hexagonalmente arranjados. 2.2.5. Estrutura da grafita ⚫ Entre as camadas, cada átomo de carbono está ligado a três átomos coplanares mais próximos por fortes ligações covalentes.
⚫ Ligações intercamadas são mais fracas e
são do tipo da de van der Waals. 2.2.5. Estrutura da grafita ⚫ A grafita é mais estável do que o diamante às temperatura e pressão ambientes.
⚫ Além disso, o carbono pode também existir
num estado não cristalino, ou amorfo. 2.2.5. Estrutura da grafita 2.2.5. Estrutura da grafita ⚫ A grafita é às vezes considerada como um material cerâmico mesmo embora seja um elemento, contrariamente à definição normal de cerâmica.
⚫ Como uma conseqüência das fracas ligações
de van der Waals, é fácil a clivagem interplanar, que dá origem às excelentes propriedades lubrificantes da grafita. 2.2.5. Estrutura da grafita ⚫ A condutividade elétrica é relativamente alta em direções cristalográficas paralelas às folhas hexagonais. 2.2.6. Estruturas do tipo AmXp ⚫ Se as cargas dos cátions e ânions não forem as mesmas, pode existir um composto com a fórmula AmXp , onde m e/ou p são diferentes de um.
⚫ Um exemplo seria AX2, para a qual uma
estrutura cristalina comum é encontrada na fluorita (CaF2). 2.2.6. Estruturas do tipo AmXp ⚫ A razão de raios iônicos rC / rA para CaF2 é de cerca de 0,8 que dá um número de coordenação de oito.
⚫ Íons cálcio estão posicionados nos centros
de cubos, com íons fluoreto nos cantos. Outros compostos que têm esta estrutura cristalina incluem UO2, PuO2 e ThO2. 2.2.6. Estruturas do tipo AmXp
Célula unitária para a estrutura cristalina da fluorita (CaF2).
2.2.6. Estruturas do tipo AmBnXp ⚫ É possível para compostos cerâmicos terem mais de um tipo de cátion.
⚫ Para dois tipos de cátions (representados por
A e B), suas fórmulas químicas podem ser designadas por AmBnXp. 2.2.6. Estruturas do tipo AmBnXp ⚫ O titanato de bário (BaTiO3), tendo cátions tanto de Ba2+ quando de Ti4+ entra nesta classificação.
⚫ Este material tem uma estrutura cristalina da
perovskita e propriedades eletromecânicas bastante interessantes. 2.2.6. Estruturas do tipo AmBnXp ⚫ Em temperaturas superiores a 120ºC, a estrutura cristalina é cúbica.
⚫ Na célula unitária desta estrutura os íons
Ba2+ estão situados em todos os oito cantos do cubo e um único cátion Ti4+ se encontra no centro do cubo, com íons O2- localizados no centro de cada uma das seis faces. 2.2.6. Estruturas do tipo AmBnXp
Célula unitária para a estrutura cristalina da perovskita.
2.2.6. Estruturas do tipo AmBnXp
Sumário de algumas estruturas cristalinas cerâmicas comuns
2.7. Cerâmicas de silicato ⚫ Os silicatos são materiais compostos principalmente de silício e oxigênio, os dois elementos mais abundantes na crosta terrestre.
⚫ Conseqüentemente solos, rochas, argilas e
areias se enquadram na classificação de silicatos. 2.7. Cerâmicas de silicato ⚫ Em lugar de caracterização das estruturas cristalinas destes materiais em termos de células unitárias, é mais conveniente usar vários arranjos de um tetraedro de SiO44-.
⚫ Cada átomo de silício está ligado a quatro
átomos de oxigênio, que estão situados nos cantos do tetraedro e os átomos do silício estão posicionados no centro. 2.7. Cerâmicas de silicato ⚫ Uma vez que esta é a unidade básica dos silicatos, ela é às vezes tratada com uma entidade negativamente carregada. 2.7. Cerâmicas de silicato ⚫ Às vezes silicatos não são considerados como sendo iônicos porque existe um significativo caráter covalente nas ligações interatômicas Si-O, que são direcionais e relativamente fortes.
⚫ Independente do caráter da ligação Si-O, existem
um carga -4 associada com todo tetraédro SiO44-, uma vez que cada um dos quatro átomos de oxigênio requerem um elétron extra para atingir uma estrutura eletrônica estável. 2.7. Cerâmicas de silicato ⚫ Várias estruturas de silicatos surgem a partir dos diferentes caminhos nos quais as unidades SiO44- podem se combinar para dar arranjos mono, bi e tridimensionais. 3. Propriedades mecânicas ⚫ Materiais cerâmicos são limitados em aplicabilidade por suas propriedades mecânicas, que em muitos aspectos são inferiores àquelas de metais.
⚫ A principal desvantagem é uma disposição à
fratura frágil catastrófica com pouca absorção energia. 3. Propriedades mecânicas ⚫ À temperatura ambiente, tanto a cerâmica cristalina quanto a cerâmica não-cristalina quase sempre se fraturam antes que qualquer deformação plástica possa ocorrer em resposta a uma carga de tração aplicada. 3. Propriedades mecânicas ⚫ O processo de fratura frágil consiste da formação e propagação de trincas através da seção reta de material numa direção perpendicular à carga aplicada.
⚫ Crescimento de trinca em cerâmicas
cristalinas é usualmente através dos grãos (isto é, transgranular) e ao longo de planos cristalográficos (ou de clivagem) específicos, que são planos de alta densidade atômica. 3. Propriedades mecânicas ⚫ Para tensões compressivas, não existe nenhuma amplificação da tensão associada com quaisquer defeitos existentes.
⚫ Por esta razão, cerâmicas frágeis exibem
muito maiores resistências em compressão do que em tração e elas são geralmente utilizadas quando condições de carga são compressivas. 3. Propriedades mecânicas ⚫ Como uma conseqüência do processo de fabricação, alguns sistemas cerâmicos retêm porosidade residual, que normalmente existe como poros isolados pequenos, aproximadamente esféricos. 3. Propriedades mecânicas ⚫ A porosidade é usualmente deletéria à resistência à fratura destes materiais por duas razões: ⚫ Os poros reduzem a área da seção reta através da qual uma carga é aplicada; ⚫ Eles também agem como concentradores de tensão (para um poro esférico isolado, uma tensão de tração aplicada é amplificada por um fator de dois). 3. Propriedades mecânicas ⚫ A influência da porosidade é bastante acentuada; experimentalmente tem sido observado que a resistência de muitas cerâmicas decresce exponencialmente com o aumento da porosidade.