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Universidade Federal da Bahia

Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento MAASA


Disciplina: Seminários
Docente: Prof. Dr. Severino Soares Agra
Discente: Bruna de Oliveira Passos

Ciência E Tecnologia Para O Desenvolvimento Sustentável Brasileiro


Eduardo Baumgratz Viotti

A presente resenha trata dos principais aspectos trazidos por Eduardo Baumgratz Viotti no
capítulo 6 intitulado ‘’Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável brasileiro’’
contido no livro Ciência, ética e sustentabilidade: desafios ao novo século, publicado pela
UNESCO em Brasília, em 2001. O livro está dividido em 7 capítulos que fazem uma reflexão sobre
a construção de uma ciência ética no Brasil.

O objetivo do artigo escolhido é fazer uma reflexão e dar diretrizes para a construção de uma
política tecnológica brasileira, pautada numa estratégia de aprendizado para inovação
tecnológica. O autor num primeiro momento contextualiza a relação de países como o Brasil,
menos industrializados e mais dependentes de mecanismos econômicos, com as economias
mais industrializadas e o fenômeno desagregador que o liberalismo tem promovido nas
sociedades. Num segundo momento ele traz a perspectiva do desenvolvimento sustentável no
Brasil como um motivador a mais para a mudança tecnológica e quais diretrizes são indicadas
para esta mudança.

A uma diferença clara destacada pelo autor entre o desenvolvimento da industrialização em


países que iniciaram esse movimento de modernização e consolidação de uma ordem global (e
por isso foram capazes de fomentar a inovação tecnológica em seus sistemas), e os países de
industrialização tardia que não conseguem competir tecnologicamente por se encontrarem
ainda numa fase de incorporação e assimilação dessas tecnologias promulgadas pelas
economias mais avançadas.

Esse contexto define como as economias retardatárias estão condicionadas a realizar uma
espécie de mecanismo de compensação em seus produtos pelo déficit tecnológico, medidas
essas que são insuficientes e pouco agregadoras em vários aspectos, seja abaixando o preço do
material, da força de trabalho ou diminuindo exigências ambientais para atrair mercado.
Estabelecer vantagem comercial por um déficit (custo, valor, precarização do serviço) é uma
medida que não fomenta o desenvolvimento, na verdade a tendencia é caminhar para mais
depreciação pois consiste uma dinâmica depreciativa e volúvel, há sempre o risco de que o valor
do trabalho aumente na medida em que a industrialização avance, outros fornecedores podem
diminuir o custo e atrair os compradores, etc. Uma real agregação de valor econômico poderia
ser estimulada a partir de incentivos reais para produtores locais que podem assim aumentar a
capacidade e qualidade da transformação da matéria e promover inovação no próprio pais ao
invés de vender a mesma matéria em custos mais baixos pro incentivos improdutivos.

O mais indicado, segundo o autor, é investir massivamente na mudança técnica dos sistemas
produtivos nacionais, promovendo inovação, absorção de inovação externa e aperfeiçoamento
da inovação. No grupo das economias retardatárias tem aquelas que se encontram de forma
passiva, apenas absorvendo inovação para produção de manufaturas, e a ativa, que além disso
faz o aperfeiçoamento dessas inovações, conseguindo, portanto, uma maior independência
sobre esses mecanismos de ganho ínfimo e aumento da competitividade. O esforço hercúleo no
sentido de superar as limitações de aprendizado e inovação tecnológica deve ser tratado de
Universidade Federal da Bahia
Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento MAASA
Disciplina: Seminários
Docente: Prof. Dr. Severino Soares Agra
Discente: Bruna de Oliveira Passos

forma estratégica, pois, é a única forma de promover uma competividade real.

Todos esses elementos deixam claro os motivos pelos quais o Brasil ainda é considerado passivo
nessa transição tecnológica: o baixo nível educacional que prejudica a capacidade do
trabalhador em inovar e a baixa capacidade de conexão e cooperação entre os produtores de
conhecimento cientifico e a sociedade. A simples absorção de tecnologias inovadoras para
produção sem o estímulo a uma elevação educacional e cooperação institucional estratégica
dificulta o aperfeiçoamento das tecnologias absorvidas e a mudança do perfil do sistema
nacional, pois o melhoramento continuo dos processos produtivos é realizado pelos
trabalhadores no chão de fábrica e aperfeiçoado pela pesquisa científica. Sem capacidade
criativa e conhecimento técnico a produção não inova, e sem haver o mínimo de cooperação
entre a academia e a indústria, a economia brasileira e o sistema educacional estarão limitados.

A abertura de mercado por si só não corrobora para uma universalização tecnológica muito
menos para mudança técnica brasileira, isto porque a natureza deste sistema econômico que se
espalha pelo globo terrestre preconiza a não política, quando de fato o que precisamos pra
superar as diferenças socioeconômicas são de politicas afirmativas e intencionais no sentido de
promover essa conversão educacional e social.

O desenvolvimento sustentável se apresenta como um desafio a mais neste panorama por trazer
à tona todas as limitações do sistema antigo e as necessidades de revisão desse sistema
proposto que considere os aspectos sociais e ambientais além dos econômicos. Nesse sentido o
esforço para expandir nossa capacidade de absorção e aperfeiçoamento dessas tecnologias
deve ser ainda maior tendo em vista nossa necessidade de inovação como estratégia de
sustentabilidade. Corremos o risco de nos mantermos como exportadores de matéria prima e
ainda ficarmos com o passivo ambiental decorrente da economia global, que compartilha os
danos, mas concentra os bônus.

Por fim o autor sugere algumas medidas que podem contribuir para a construção de uma nova
política tecnológica brasileira que podem ser resumidas como a integração e cooperação entre
as instituições brasileiras, seja de pesquisa e desenvolvimento ou indústria e comércio a fim de
viabilizar esforços verdadeiramente inovadores; priorização de setores para intervenção
temática tecnológica, levando em consideração inclusive os setores mais estratégicos para
transformar commodities em produtos mais especializados, além de um esforço educacional
que vise a inserção dessa mão de obra em empregos qualificados que possam a longo prazo
fomentar o aperfeiçoamento das tecnologias.

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