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N
ossa amiga O SENEGALÊS MOHAMMED BA explica-me: ginário africano, o homem não morre, somente viaja.
Isabel, que “O africano vê a si mesmo como sendo uma pérola que é impor- Em cada objeto, planta ou animal da natureza encontramos
esteve visi- tante na medida em que faz parte de um colar. os espíritos dos nossos antepassados que continuam nos vigiando
tando o continente No nosso caso, o colar não é composto somente da comu- e nos punindo toda vez que não respeitamos as tradições”.
africano e, observou nidade humana, mas também dos espíritos que a cercam, os ISABEL: Entendi! São
de perto suas culturas espíritos das árvores, dos peixes, dos minerais, das entidades que espíritos que não fa-
e suas tradições, nos formam as forças da natureza. É através dos ritmos dos nossos lam, que ninguém vê,
fala da im- mas que observam e es-
portância do cutam.
som do tambor na vida daqueles BA: “E isso mesmo. A única
povos. maneira que temos para entrar
As mãos de Mohammed Ba dan- Bauan: Ritmo para pedir a chuva. em contato com eles é o tambor que,
çam ágeis e velozes na pele de seu tam- Lamba: Ritmo das mulheres no momento da semeadura. além de um instrumento musical, é
bor dando vida a um ritmo ancestral também um telefone que nos permite co-
que mexe com o corpo e os sentimen-
Labam: Ritmo usado após a primeira noite de matrimônio. municar diretamente com os antepassados
tos, transportando-os num mundo di- Balanta: Ritmo dos caçadores que pedem a proteção dos espíritos. através de ritos propiciatórios. A única
ferente e misterioso. Tatulaobe: Ritmo que expressa a felicidade após uma boa colheita. nossa certeza é que a vida não se conclui
De fato, na cultura negro-africana, Dundumba: Ritmo que festeja a passagem à idade adulta. com a morte, mas que a morte faz parte
a música não é parte da vida, mas é a da vida. Eis por que nós não choramos
própria vida. tambores que nós entramos em sintonia com os espíritos que nos pela morte de um ente querido, ao contrário, a celebramos e
circundam”. festejamos.
O africano nunca se sente sozinho! Toda vez que
ISABEL: Espíritos? Quem são eles? Eles dão medo na
você toca ritmicamente o seu tambor, você tem certeza de que
gente?
seus antepassados o escutam. E mais você tocar, mais eles escu-
“Absolutamente, pois nós africanos damos pouca im-
tam. Tenho certeza de que, neste exato momento em que estou
portância à morte, considerando-a algo natural. No ima-
lhe falando, meus antepassados estão me escutando. Espero que
eles aprovem aquilo que digo e faço”.