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no tocante de sua confraria iniciática Ilê Axé Opò Obá Aláadò, sem fins comerciais.
Autores
Mauro Bomfim
Regina Carvalho
Margot Dravet
Marcelo Takatsu
Bruna Cardoso
Andréia Lima
Ilustrações
Caco Bressane
Foto de Capa
Bruna Carolli
Diagramação e Capa
Bruna Carolli
Agradecemos à Alan Oliveira, Marcos Valente, Taís de Oxumaré e Tina Muller pela contribuição na pesquisa e nas informações
cantar
Quando falamos sobre as religiões brasileiras vindas de matriz africana, falamos antes de tudo, de manifestações de auto afirmação de um povo que foi escravizado e retirado de
suas próprias raízes. Portanto, o candomblé, principal representante dessas manifestações, traduz em seu culto a necessidade de um povo em se proteger, reunir e fortalecer sua
ancestralidade e sua existência cultural, social e étnica. Por isso, a manifestação dos deuses chamados Orixás, se dá por uma coletividade que se perpetua de maneira oral e prática
na vivência de um egbé.
O canto e a dança vêm como instrumentos fundamentais para esse fortalecimento ancestral e identitário. "Os africanos trouxeram para o Brasil formas celebratórias originais de
suas etnias e utilizaram a performance das mesmas como forma de “recuperar um comportamento”, o qual eles haviam sido forçados a abandonar pela própria condição de
escravos longe de sua cultura” (LIGIÉRIO, p.136). Cantar em sua língua nativa, agradecer, pedir, celebrar, sacralizar são formas de fazer-se ouvir pelo seu Orixá. Assim os
alcançamos. Cantando com o coração, contando seus mitos, revivendo suas histórias, comendo suas comidas, compartilhando seus ensinamentos. Os deuses vivem nas vozes que
ecoam a cada vivência, a cada reconhecimento que conseguimos fazer em nossos próprios corpos e no corpo da natureza que nos abraça.
“O candomblé, como todas as religiões de origem africana, é marcado profundamente pela presença da música. Todas as relações com os Orixás e todas as cerimônias, públicas
ou privadas, são mediadas e conduzidas por um imenso repertório de cantigas e rezas, acompanhadas ou não por tambores. Para cada atividade existe um conjunto de cantigas
específicas. Canta-se para preparar as oferendas, canta-se nos rituais de iniciação, canta-se para fazer as divindades dançarem nos dias de festa, canta-se para abrir os caminhos e
Os Orixás são então incorporados em rituais de dança e canto onde para os africanos “o céu está sob a terra - que é o mundo dos ancestres, mas as forças da natureza estão
em volta e devem ser incorporadas pelos dançarinos” (LIGIÉRIO, p.141). Portanto, os deuses chegam dançando em celebrações e ritualizações de momentos festivos, fúnebres
e/ou penitentes. A dança nasce de dentro para fora, o corpo se torna o centro de tudo, se torna o próprio Orixá em presença e manifestação. Não há nada mais sagrado que a
manifestação dessa energia pelos movimentos e pela conexão que esse momento realiza em toda a comunidade.
"A dança possui o corpo, que possui o Deus, que é musica e se expressa em ritmo, percussão e canto, na festa de fé e esperança na beleza da nossa humanidade
reencontrada, expressão máxima da individualidade de quem celebra como parte de um coletivo harmônico” (LIGIÉRIO, p.145)
tocar
Para o Camdomblé os ritmos executados são usados para acompanhar as danças e canções dos Orixás, em todos os contextos que eles se inserem. São cerca
de 28 possibilidades entre as Nações de Keto, Jeje e Angola. Eles são tocados por diferentes instrumentos: como o Gã (sino), o Lé (tambor agudo), o Rumpi
(tambor médio) e Rum (tambor grave que faz as variações), Agogô, Abê e Adjá. Os ritmos da Nação Angola, por exemplo, são tocados apenas com as mãos, já
os de Keto e Jeje utilizam baquetas chamadas Aquidavis. Os toques acompanham cantigas para: Abertura de caminhos; Cura de doenças; Clemência; Feituras;
Rito fúnebre e outros… Os Atabaques são os principais instrumentos da tradição afro brasileira, sua execução é de responsabilidade dos Ogãs. Homens que ao
tocarem esses “tambores mágicos” chamam os Orixás à terra. Os atabaques pontuam o toque, mas, tem como principal objetivo chamar os Orixás para o mundo
dos humanos. Eles só podem ser usados no contexto religioso e são feitos das peles dos animais sacrificados dentro dos locais consagrados.
rum, rumpi e lê
"A orquestra do candomblé é composta por três tambores de formato semelhante, porém de tamanho e afinação diferentes: rum, rumpi e lê. Esses tambores (ou
atabaques) são cobertos com pele de animais em uma das extremidades e podem ser tocados com as mãos, no caso dos candomblés congo e angola, ou com
O rum, maior e mais grave dos três tambores, é o solista, fazendo variações e floreios sobre o ritmo constante sustentado pelos outros dois tambores. Essas
variações orientam a dança dos orixás, pontuando seus passos e gestos, e por este motivo tocar o rum é tarefa de grande responsabilidade, reservada aos ogãs
mais experientes. Devido a sua importância no culto religioso, os atabaques são considerados sagrados e passam por uma série de rituais e preparos antes de
serem usados. Nos dias de festa, são “vestidos” com faixas de pano chamadas ojás e recebem oferendas como as próprias divindades” (ILÊ OMOLU OXUM, p.13)
Os atabaques são as vozes que chamam os Orixás. Com suas bocas abertas voltadas para a terra, os deuses respondem a essa evocação e adentram os ritos
conduzidos pelos ritmos e cadências que cada toque pede. Guerreiros, caçadores, grandes mães, feiticeiras, amazonas; toda sorte de poder é evocado na entrada
Adarrum: invocatório de todos os Orixás, porém mais usado para Ogum. É um ritmo Ilu ou Daró: atribuído a Iansã, é rápido e de cadência marcada. Sempre é percutido com
apressado, forte e contínuo e poder ser usado sem canto. Muito bom para propiciar o aguidavis.
transe mediúnico.
Opanijé: ritmo pesado, quebrado por pausas e relativamente lento. Lembra a
Aguerê: em ioruba significa “lentidão”. Cadenciado quando dedicado a Oxóssi e mais circunspeção do Orixá das epidemias. Ligado à terra. Obaluaiê.
Ajujá: toque rápido de características guerreiras. Dedicado a Xangô, também utilizado produzir uma irradiação constante no terreiro.
Batá: tocado com as mãos, é atribuído a Xangô, embora também possa ser dedicado a
Sató: vagaroso e pesado, é tocado para Nanã, a senhora das Iabás.
outros Orixás. Pode ser Batá lento ou rápido, de acordo com as características da dança
executada. Vamunha: tocado para todos os Orixás. Rápido, é executado em situações particulares
dobrado e repicado.
Igbim: execução lenta com batidas fortes. Descreve a viagem de um ancião. É o toque *Nossos agradecimentos ao Ogã Marcos Valente, pela disponibilidade e gravação dos áudios dos toques.
de Oxalufã no Candomblé.
exu
Exu é o Orixá que intermedia a relação entre as demais divindades e os homens. Não que os outros
deuses não possam se comunicar ou interagir com os humanos, mas é sempre Exu aquele que
responde em todo e qualquer oráculo, trazendo a mensagem dos Orixás.
O Mensageiro mata para a casa de culto e Ódara mata para a casa do Rei
Assim como a maioria dos Orixás, Ogum possui um objeto que o identifica, e que são seus facões,
que serão utilizados então em boa parte de sua representação cênica. As mãos espalmadas, com
dedos unidos e os braços esticados, como os dois grandes facões, são utilizados para representar
esses objetos característicos de Ogum. Os movimentos dos ombros também são traços fortes na
dança de Ogum, bem como os de peito, que ilustram o embate corporal durante. A dança de Ogum
é rápida, forte, precisa e ilustra a movimentação que esse Orixá realiza quando utiliza seus facões
para abrir a mata ou em movimentos de batalha os amolando.
rêrê irê ir
Cô mô um ri ijá ré ô
É à noite que o Orixá, silenciosamente, vai às matas, iluminado e conduzido pela lua, em busca
do alimento que não nos pode faltar. Rodeado de árvores, galhos, raízes e de animais, Oxóssi,
ao adentrar na floresta, dança o aguerê (denominação dada para a coreografia do orixá) com
seu arco e flecha – objeto através do qual o orixá caça e traz fartura para sua aldeia – em uma
mão, e na outra com seu irukeré – instrumento confeccionado com o rabo de cavalos, búfalo ou
boi, que serve para afastar maus espíritos e atrais prosperidade –. Sua dança, muito rápida, com
movimentos precisos e calculados, é mímica de uma caçada e simula os gestos de atirar flechas
para todo lado, espalhando também a sua magia.
Imitando o cavaleiro que persegue sua caça, Oxóssi dá passos rápidos e, de vez em quando,
percebem-se pulos e giros em torno de si mesmo, demonstrando sua prontidão e atenção a
tudo o que acontece ao seu redor. É ainda, aquele que pode manipular o chicote, objeto que
costuma ficar preso em seu cinto, representando seu poder de rei das matas, em Ketu. Percebe-
se através de sua dança uma integração do orixá no espaço, por meio de seu corpo que
rapidamente vai ao chão, se esquiva e corcoveia, a depender das possíveis adversidades
oferecidas pela floresta.
"De todos os passos de dança e gestos executados por Euá, o mais característico é aquele no
qual ela junta as mãos de forma graciosa (como quem apanha água) e joga o “conteúdo” para
cima, dando-nos nítida impressão de que está recolhendo com as mãos e atirando para o alto
alguma coisa mágica” ( Martins, Cléo. Euá - a senhora das possibilidades). Yewá também se
movimenta como cobra, para cima e para baixo. Dessa forma se afirma como parte da criação
- ao criar, ninar e jogar o mundo para cima; afirmando dessa maneira o próprio movimento de
transformação e ciclos.
Ma O Ma O Lese
Yẹmọnja àwa bó
Ààbò a yó Yẹmọnja
Àwa ààbò a yó
Ìyáàgbá ó dé iré ṣé
A kíì ẹ Yẹmọnja
Odò ó fí a ṣà
Wè rè ó
A primeira que chamamos para abençoar a nossa casa e nos encher de satisfação.
Usar o seu rio que escolhemos para nos banharmos, pois, o rio que escolhemos é o que usas para o banho.
oxalá
Oxalá possui dois arquétipos principais dentro da cultura afrobrasileira. Oxalufã e Oxaguiã, oxalá velho
e o oxalá jovem e guerreiro, respectivamente. Aqui trataremos do Oxalá velho, o grande pai, dono de
toda candura, bondade e perseverança.
Oxalá é um Orixá funfun e está inserido no contexto mitológico da criação do mundo, por isso mesmo
assumo papel fundamental na tradição africana como o grande genitor das coisas que existem.
Os movimentos de sua dança são lentos e suaves, carregados de mansidão e recebidos com extrema
reverência. Quando Oxalá dança apazigua tudo, aquieta as energias evocando a boa sorte sobre o orí.
As mãos unidas uma sob a outra remetem ao Opaxorô, seu cajado sagrado, utilizado no momento da
criação do mundo. Oxalá se curva ao dançar representando a sabedoria do Igbin (caracol), aquele que
carrega o segredo da perfeição em sua espiral nas costas, representando também a humildade nos
caminhos daqueles que necessitam perseverar.
Ála ye ájàlà o
Ezulabae, Ezulabae
Quando Ossain dança temos em seus movimentos as folhas sendo colhidas e distribuídas ao mundo,
como se seu gesto mostrasse o controle que ele tem sobre a magia contida nelas ao mesmo tempo que
ao lançá-las desperta as potencialidades de cada uma. A dança de Ossain é energética, vibrante,
principalmente quando os movimentos de passos se tornam mais marcantes.
Pèrègún a lá we titun o
Pèrègún a lá we titun o
À àjá lé o pèrègún lá to ni o
Obá pensa com o coração, por isso dança sempre com a mão esquerda apontado para o lado esquerdo
na altura da orelha, e na mão direita uma espada, na forma de uma guerreira. Dança combatendo as
injustiças, especialmente aquelas sofridas por mulheres. Sempre pronta para qualquer justiça é um
Orixá temido por muitos, mas se torna dócil quando ama de verdade.
Diz a lenda que em um certo dia, Xangô acompanhado de seu numeroso exército, viu-se à frente com
um poderoso exército inimigo. Este exército era conhecido por exterminar seus opositores, sem
qualquer piedade. A batalha foi dura, o exército de Xangô perdia muitos homens. Ele via seus homens
sendo derrotados, mutilados e jogados ao pé da montanha. Isso provocou sua ira, que num movimento
rápido chocou o seu martelo contra a pedra, provocando imensas faíscas. Quanto mais forte ele batia,
mais inimigos eram atingidos pelas faíscas. Ele fez isso até derrotar boa parte do exército inimigo. A
força de seu machado acovardou o inimigo. Alguns inimigos haviam sido feitos de prisioneiros e os
ministros de Xangô pediam a morte dos opositores. Ele negou. “Meu ódio não pode ultrapassar os
limites da justiça. Os guerreiros cumpriam ordens, foram fiéis aos seus superiores e não merecem ser
destruídos. Mas os líderes sim, estes sofrerão a ira de Xangô.” Neste momento, ele ergueu seu machado
ao céu e descarregou uma sequência de raios, que atingiram os chefes inimigos. Os guerreiros,
poupados, passaram a servir Xangô com lealdade. A principal coreografia de xangô, o alujá, é dominada
pela simulação de golpes de machado. Em um momento rasga o espaço para frente, noutro cruza sua
arma com o um opositor imaginário. De forma impetuosa, o tronco é impulsionado para frente e, em
seguida, para um dos lados. A coreografia vai aos poucos ocupando todo o espaço que lhe é dado.
Àrá lò si sá jô
Àrá lò si sá jô
Veste-se de cobre metal e vermelho. Oya se exprime pelo ar em movimento e pelo fogo – seu aspecto
essencial. Ela é dona dos ventos. Sua dança acompanha essa lógica. Movimenta-se muito os braços
como se Oyá levasse os mortos, se tornando a ventania da passagem. Ela varre com o mariwô (folhas
tenras do dendezeiro) as impurezas e limpa o mundo. Oyá é mãe e rainha dos egunguns e dos
ancestrais masculinos. Oya dança com os Sacerdotes do culto egungun, os Ojés (intermediários entre os
vivos e os mortos), que tornam visíveis os ancestrais. Ela é ar em movimento, pássaro, fogo e relâmpago.
Reafirma, com as mãos espalmadas para frente, que é só aguardar para presenciar uma mudança
inevitável. Aponta o seu dedo indicador sobre a palma da mão mostrando que é apenas uma questão
de tempo. Curvando-se de um lado para o outro aponta o dedo para o céu e para a terra reconhecendo
seu domínio sobre eles, ao mesmo tempo que aponta para o ouvido, olho e boca expressando que
nada acontece sem que ele escute, veja e em silêncio permanecerá.
Lentamente dobra os joelhos, desce até o chão e descreve a sentença de todos, abrindo a sepultura,
colocando o corpo sem vida e cobrindo-o com seu elemento mais precioso, a terra, em seguida pega
seu xaxará (objeto que traz a vida), se levanta e triunfa sobre a verdade absoluta, recebendo e
acolhendo a alma dos seus filhos, que agora sobre o seu domínio conhecerá a vida pós morte.
a ji dagôlônã qui uá xaurôrô dagô ilêilê dagôlônã qui uá xauôrô dagô ilêilê.
nilé côrajô.
Esteira de capim que cobre o rio e está rende ao chão (charco, pântano),
A dança de Iroco é Avania também conhecida por arramunha, arraia. É dançada também, pela família
de Omulu (Obaluaiê, Omulu, Euá, Nanã, Oxumarê..) Conta a tradição que Iroko dançou o
mencionado toque quando voltava da guerra, passando definitivamente para o lado dos
Orixás. Antes ele era arruaceiro, metido com tudo quanto é tipo de gente ruim. Para marcar esta data
Iroko dança com uma coreografia de aproximadamente 17 passos diferentes.
E o sí bodè E o sí bodè
Arolè o sí bodè
E o sí bodè E o sí bodè
Akueran é um caçador
Nós o saudamos
Vive seis meses com a mãe nos rios e seis meses com o pai nas matas. Conhece e domina os segredos
desses dos dois mundos, sendo um hábil caçador e pescador. É um Orixá fortemente ligado à música e
à dança, assim como à poesia e às artes de modo geral.
Divindade metametá, o que quer dizer que ele é três sendo um. Logun não é metade Oxum, metade
Oxóssi, metade masculino, metade feminino. Ele é masculino e feminino ao mesmo tempo, é Oxum, é
Oxóssi e o próprio Logunedé ao mesmo tempo. "Em iorubá, méta significa 'três'. E métaméta traduz-se
como 'três ao mesmo tempo'” (LOPES, 2002:46-7).
Por essa influência tão presente dos pais, a dança de Logunedé combina movimentos dos dois. O Orixá
dança com o arco e flecha e se mostra caçador, como também gira nas águas e empunha o espelho
mítico de sua mãe. Beleza e força unidas em passos graciosos e alegres. A dança de Logunedé quando
acontece ecoa essa alegria jovem e ativa. Doce e vigorosa traduzida não apenas de seus pais, mas
também pela riqueza e abundância que o próprio Orixá representa.
Em sua dança, seus movimentos se alternam entre a fluidez e a leveza da água de um rio, como quem se
banha na cachoeira, penteia seus cabelos e se admira com doçura pelos reflexos do abebé e com a sedução
do balanço de seus quadris; ou, também podem ser movimentos mais ativos, como uma guerreira
empunhando a sua espada, mas ainda mantendo sua feminilidade, sabendo que em seus braços, além da
espada, também estão enfeites, pulseiras e anéis de ouro e bronze. “Anima é a energia predominante na
dança de Oxum, sempre fluida e sensual. Movimentos conduzidos e ondulantes, sempre muito ligados, com
pouca força e sem acentos muito marcados são característicos da dança deste Orixá, que é sempre muito
cadenciada e acontece ao som do ijexá.” ( A dança de Oxum “lembra o comportamento de uma mulher
vaidosa e sedutora que vai ao rio se banhar, enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar seus
braceletes, abana-se graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho” (Verger, 1981).
então pra mim sempre foi muito intuitivo, mas toda vez que vou dançar pra Oxum, me imagino sendo embalada por ela. Como se eu tivesse na profundidade de um rio e meu
corpo todo fosse preenchido com a energia dela. Mas é uma troca, sabe? Ao mesmo tempo que eu me alimento dela, também sinto que alimento a minha Oxum com a força
original do rio, da geração, com o mistério do abebé e dos leques. No geral, quando eu to dançando, eu sinto um vácuo na cabeça, sabe? Parece com a sensação de desmaio ou
com a sensação de mergulhar na água também... mas acho que isso é pelo nervosismo de dançar em roda, junto da energia da corrente, dos atabaques e das palmas. ”
"Pra mim é uma sensação maravilhosa, ao mesmo tempo de conexão com o sagrado e de libertação, sabe? Acho muito potente saber que o ritmo e o movimento do corpo podem
“Quando danço eu sinto um arrepio na espinha, e ao mesmo tempo leveza e prazer. Dançar para mim é a representação e a mistificação do Orixá. É como se fossem duas energias
ocupando o mesmo corpo. Sensação única, sinto uma pontada no Orí. Dançar pro Orixá faz com que eu sinta a força do meu próprio ser, do meu próprio eu”
"Eu geralmente sinto o orixá, principalmente quando toca só pra xangô na roda. Vem uma alegria muito grande, parece que é a alegria que vai tomar conta, que vira um
“Dançar pro Orixá é poder sentir com todo meu corpo a alegria e a beleza que essa energia tem. É alcançar um lugar tão sagrado e tão poderoso que a gente não faz isso
racionalizando. A gente só faz isso quando é o corpo que pensa do jeito dele, com os movimentos dele, com o sentimento, o sorriso… com a minha própria história. Porque eu tô
ali vivendo e sentindo aquilo. Não é algo distante que eu só posso olhar, ao contrário, quando eu danço é como se aquela energia que eu admiro tanto estivesse ali me nutrindo e
me fortalecendo, com o amor que eu sinto no meu coração. Dançar para Yewá é transformar a mim e a tudo ao meu redor nela própria. Então tudo é belo e perfeito do jeito que é”
Relatos de yawôs
referências bibliográficas
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PENA, Nasser de Freitas; SILVA JUNIOR, Isley Borges da. EWÉ ÁSÀ: folhas e religiosidade afro-brasileira. 1ed. Uberlândia, 2017.
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