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KARINA VARGAS DA SILVA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INDÚSTRIA TABAGISTA


NO DIREITO BRASILEIRO: DELIMITAÇÕES AO DEVER DE
INDENIZAR

CANOAS, 2019
KARINA VARGAS DA SILVA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INDÚSTRIA TABAGISTA


NO DIREITO BRASILEIRO: DELIMITAÇÕES AO DEVER DE
INDENIZAR

Trabalho de conclusão apresentado à banca


examinadora do curso de Direito da universidade
La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob.
Orientação do Prof. Dra. Maria Cláudia Cachapuz.

CANOAS, 2019
3

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INDÚSTRIA TABAGISTA


NO DIREITO BRASILEIRO: DELIMITAÇÕES AO DEVER DE
INDENIZAR

Karina Vargas da Silva1

RESUMO

Este trabalho visa abordar aspectos sobre responsabilização civil por danos
causados pela indústria tabagista aos fumantes na pessoa do consumidor e
possuidor de direitos fundamentais que são violados por meio do comércio e do
consumo do cigarro, o que acarreta diversos malefícios substanciais.Assim, no fim
do ano de 2018 revela-se o primeiro caso de procedência parcial no Brasil,
condenando uma indústria tabagista ao pagamento de indenização por danos aos
fumantes e evidenciando a probabilidade da mudança de visão jurisprudencial a
respeito do assunto.

Palavras-chave: Indústria tabagista. Responsabilidade civil. Dano. Cigarro. Saúde.


Livre-arbítrio.

ABSTRACT

This paper aims to address aspects of civil liability for damages caused by the
tobacco industry to smokers in the person of the consumer and possessing
fundamental rights that are violated through trade and consumption of cigarettes,
which leads to several substantial harms. Thus, at the end of 2018, the first case of
partial origin in Brazil was found, condemning a tobacco industry to pay damages for
smokers and showing the likelihood of a change in the jurisprudential view on the
subject.

Keywords: Tobacco industry. Civil responsability. Damage. Cigarette. Health. Free will

1
Acadêmica do curso de graduação de Direito da Universidade La Salle – Unilasalle, matriculada na
disciplina de Trabalho de Conclusão. E-mail: kvargassilva@hotmail.com, sob a orientação da professora
Dra. Maria Cláudia Cachapuz. E-mail: maria.cachapuz@unilasalle.edu.br. Data da entrega: 08/07/2019.
4

Sumário

1. INTRODUÇÃO
PARTE I: DOGMÁTICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
1. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A NORMATIVIDADE DA
SAÚDE.......................................................................................................................................................06
1.1. A ORIGEM DO CIGARRO, SUBSTANCIAS COMPONENTES E ALGUNS MALEFÍCIOS
CAUSADOS................................................................................................................................................08
1.2. O LIVRE ARBÍTRIO DOS FUMANTES E A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INDÚSTRIAS
TABAGISTAS.............................................................................................................................................10
2. REQUISITOS PARA A RESPONSABILIDADE CIVIL EM DEMANDAS DE
SAÚDE.......................................................................................................................................................11
2.1. ANÁLISE DOS ARTIGOS 186, 187, E 927 DO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO..............................................................................................................................................13
2.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO................................................14
2.3. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E RESPONSABILIDADE CIVIL: A RELAÇÃO DE
CONSUMO ENTRE FUMANTES E PRODUTORES DE
CIGARRO..................................................................................................................................................15

PARTE II: JURISPRUDÊNCIA E EVOLUÇÃO DE ARGUMENTOS NO ORDENAMENTO BRASILEIRO

1. REALIDADE JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA..................................................................................18


2. RAZÕES PARA A PROCEDÊNCIA E IMPROCEDÊNCIA DAS DEMANDAS CONTRA A INDÚSTRIA
DO CIGARRO............................................................................................................................................20
3. A VIOLAÇÃO DA BOA FÉ E SUA INCIDÊNCIA NA RESPONSABILIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
TABAGISTAS.............................................................................................................................................23
3.1. DOS DEFEITOS DE INFORMAÇÃO: A PUBLICIDADE ABUSIVA E SUAS
CONSEQUÊNCIAS....................................................................................................................................24
4.CONCLUSÃO..........................................................................................................................................26
5.REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................28
5

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da indústria do tabaco, bem como a disseminação do


cigarro, ocorreu de forma camuflada durante o início do século XX, simbolizando
modernidade associada à imagem de beleza, elegância, e status quo. Assim, o
aumento do consumo do cigarro, desde então até os dias atuais, vem se consolidando
e evidenciando que as propagandas referentes ao cigarro têm sido bem sucedidas.2
Neste sentido, vale citar a entrevista do psiquiatra João Maurício Maia, num
debate durante o programa Café Filosófico do Instituto CPFL(Companhia Paulista de
Força e Luz), a respeito do tabaco:

Na década de 60, tivemos um aumento grande de consumo de cigarro


graças à propaganda direcionada ao público jovem - lembrou. “O
cinema teve um papel importante nessa propaganda. Havia
departamentos em Hollywood responsáveis apenas para criar papeis
para personagens fumantes. (...).”
Segundo Maia, somente no fim do século é que os documentos da
indústria do tabaco sobre os malefícios da nicotina foram revelados ao
público. “As estratégias eram maquiavélicas. A ideia era negar que
havia relação entre consumo de cigarro e malefícios à saúde.”
Desde então, o hábito de fumar, considerado charmoso no século
passado, hoje é algo desprezível. Apesar disso, a indústria do tabaco
tem diversificado seus negócios e o consumo ainda é preocupante.3

Percebe-se a influência das propagandas no consumo do tabaco, sendo que


houve uma onda de consumo em massa após à década de 60, afetando os jovens
mais do que qualquer outra faixa etária da população.4 Assim, o aumento do consumo
tabagista acarretou inúmeras mortes e ainda é o maior causador de doenças
respiratórias crônicas.
Outrossim, na mesma medida do crescimento de casos de mortes advindas do
hábito de fumar, aumentaram as tentativas de se obter indenização pelos prejuízos
causados aos fumantes(ativos e passivos) e, consequentemente, às suas famílias,
sendo que a jurisprudência se firmou, por muitos anos, no sentido da comercialização
do cigarro como uma atividade lícita, não havendo razão para a responsabilização dos
seus fabricantes, desconsiderando a diferença entre atividade lícita e ato lícito . 5
2
PASSOS, Liz. O GLAMOUR NAS ANTIGAS PROPAGANDAS DE CIGARRO. Disponível em<
http://lounge.obviousmag.org/entre_outras_coisas/2012/12/o-glamour-nas-antigas-propagandas-de-
cigarro.html>. Acesso em: 21 mai.2019.
3
MAIA, João Maurício. Cigarro: de símbolo de status à condenação. Disponível em:<
https://www.institutocpfl.org.br/2014/10/06/cigarro-de-simbolo-de-status-a-condenacao-com-joao-
mauricio-maia/>. Acesso em: 14 mai. 2019.
4
VERGARA,Rodrigo e AQUINO, Manuela. Ascensão e queda do tabaco. Disponível em<
https://super.abril.com.br/ciencia/ascensao-e-queda-do-tabaco/>. Acesso em: 06 jun.2019.
5

SALAZAR, Andrea Lazzarini; GROU, Karina Bozola. Ações indenizatórias contra indústria do tabaco:
6
Portanto, por muitos anos o tribunal brasileiro vinha negando provimento das ações
movidas em face da indústria tabagista arguindo a falta de pressupostos para ensejar
danos morais e materiais.6
Apesar de haver diversas decisões em primeiro grau condenando empresas
fumígenas, os tribunais brasileiros, vinham reformulando tais decisões, até que em
2018 iniciou-se grande mudança no histórico das ações da responsabilidade civil
contra os fabricantes de cigarro no Brasil em virtude da procedência da apelação Cívil
que condenou a empresa Souza Cruz a indenizar família de fumante falecido por causa
do consumo do cigarro.7
Nesta perspectiva, muito se tem a discutir e demonstrar a respeito do assunto,
posto que a questão da responsabilidade civil das empresas tabagistas no Brasil é
ainda um tema bastante polêmico e controverso, tanto na doutrina quanto na
jurisprudência. Todavia, há tendências futuras na visão jurisprudencial ensejando
provimentos nas demandas de responsabilização da indústria do tabaco.
Cabe salientar que a responsabilidade civil da indústria tabagista é um
mecanismo importante de implementação de um direito fundamental à saúde do
consumidor, pois prevê a reparação de danos à integridade física e moral das pessoas
quanto consumidoras do tal produto.
Assim, foi realizada pesquisa com base na bibliografia de diversos autores,
artigos, sites, revistas jurídicas, leis, princípios jurídicos e jurisprudência que estão
relacionados com a temática em questão.

PARTE I: DOGMÁTICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO

1. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A NORMATIVIDADE DA SAÚDE

Primeiramente, cabe mencionar que os direitos fundamentais estão positivados


no Título II (“Dos Direitos e Garantias Fundamentais”) da Constituição Federal de 1988,
sendo que este título abastece um acervo de direitos considerados inalienáveis e
irrenunciáveis. Portanto, segundo Alexandre Guimarães Gavião Pinto, os direitos

Estudos de casos e jurisprudência. Disponível em:<


http://www.actbr.org.br/uploads/arquivo/633_publicacao_c_capa_final.pdf>. Acesso em 06 jun.2019.
6
Apelação Cível Nº 70064875792, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel
Ângelo da Silva, Julgado em 16/12/2015.Disponível em:< http://www.tjrs.jus.br/busca/?
tb=jurisnova#main_res_juris>. Acesso em 06 jun.2019.
7
Apelação Cível Nº 70059502898, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eugênio
Facchini Neto, Julgado em 18/12/2018. Disponível em:< http://www.tjrs.jus.br/busca/?
tb=jurisnova#main_res_juris>. Acesso em 06 jun.2019.
7
fundamentais constituem valores eternos e universais, que impõem ao Estado fiel
observância e amparo irrestrito. Constituem os direitos fundamentais legítimas
prerrogativas que, em um dado momento histórico, concretizam as exigências de
liberdade, igualdade e dignidade dos seres humanos, assegurando ao homem uma
digna convivência, livre e isonômica, e se vê, portanto, que os direitos fundamentais
representam o núcleo inviolável de uma sociedade política, com vistas a garantir a
dignidade da pessoa humana.8
Os direitos fundamentais, portanto, asseguram uma convivência social digna, e
são protegidos pelo Estado mediante a Constituição. Neste sentido, no artigo 6º da
Constituição de 1988 estão elencados os direitos fundamentais de cunho social. O
direito à saúde, bem como os demais direitos fundamentais, foi normatizado na
Constituição Federal de 1988 devido à sua elevada importância. Outrossim, o artigo
196 da Constituição Federal define que a saúde é direito de todos,sendo dever estatal
garanti-la.
Ademais, a saúde tem um papel de extrema relevância no desenvolvimento do
tema abordado, sendo um direito fundamental protegido através de diversas medidas,
conforme será explicitado a seguir.
Cabe salientar que desde 1989 há um órgão do Ministério da saúde denominado
INCA (Instituto Nacional de Câncer), o qual desenvolve ações voltadas para o
tratamento do tabagismo, instituindo-se assim o Programa Nacional de Controle do
Tabagismo, restando evidenciado a ação do Estado em relação à normatividade da
saúde. Neste sentido, assim explicita o portal do Instituto Nacional de Câncer:

(...) o tratamento de tabagismo no Brasil é desenvolvido com base nas


diretrizes do PNCT que está sob a coordenação e gerenciamento da
Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do INCA.
As ações educativas, legislativas e econômicas desenvolvidas no Brasil
vêm gerando uma diminuição da aceitação social do tabagismo, fazendo
com que um número cada vez maior de pessoas queira parar de fumar,
evidenciando a importância de priorizar o tratamento do fumante como
uma estratégia fundamental no controle do tabagismo.9

Portanto, não há dúvidas de que grandes esforços têm sido empregados no


combate ao tabagismo, visando à proteção da saúde como um direito fundamental, o
qual tem sido violado por meio das propagandas que incitam de forma abusiva ao
consumo do cigarro. Assim, o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 prevê a

8
PINTO, Alexandre Guimarães Gavião. Direitos Fundamentais Legítimas Prerrogativas de Liberdade,
Igualdade e Dignidade. Disponível
em:<http://www.emerj.tjrj.ju.br/revistaemerj_online/edicoes/revista46/Revista46_126.pdf>>. Acesso em
15 mai 2019.
9
Tratamento do tabagismo. Disponível em:< https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-
tabagismo/tratamento>. Acesso em 16 mai. 2019.
8
inviolabilidade do direito à vida, bem como do direito à liberdade, tratando-se, portanto,
de direitos fundamentais assim como o direito à saúde.
Neste contexto, segundo explicita Edmar Oliveira da Silva, o direito à vida deve
trazer consigo a ideia de uma vida digna, devendo o Estado prestar o aparato
necessário para essa garantia, sendo que o direito à saúde é consequência lógica do
direito à vida digna.10
Cabe, portanto, colocar que há um conflito evidenciado na sociedade
envolvendo os direitos fundamentais em face do tabagismo. Não obstante, deve ser
salientado que a própria Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXXII, estabelece a
defesa do consumidor no rol de direitos e garantias fundamentais e entre os princípios
gerais da Ordem Econômica, no artigo 170 da Constituição Federal de 1988.
Neste sentido, cabe ressaltar que a defesa do consumidor é direito fundamental.
Portanto, há de ser abordado sobre grandes prejuízos, no tocante aos direitos
fundamentais como o direito à saúde, à vida, à dignidade, e o princípio de defesa do
consumidor, sendo que a licitude da venda de cigarros traz à tona imenso conflito, já
que há violabilidade dos direitos fundamentais, como será visto a seguir, considerando
que há uma relação de consumo estabelecida, segundo o que é explícito nos artigos 1º
ao 4º do Código de Defesa do Consumidor, na qual as empresas tabagistas, os
comércios que vendem o cigarro, e os fumantes ativos constituem vínculo de
consumo.11

1.1. A ORIGEM DO CIGARRO,SUBSTANCIAS COMPONENTES E ALGUNS


MALEFÍCIOS CAUSADOS

O tabaco está presente na sociedade há pelo menos seis séculos, possuindo


um histórico interessante de mudanças até a era atual. 12 Neste sentido, conforme
explicita Artur Reis, o tabaco tem uma longa história originada nas Américas. Os
primeiros cigarros comerciais foram feitos em 1865 por Washington Duke, mas foi
durante o período de 1914 -1918 que o uso de cigarro se elevou; em 1966, as
campanhas de saúde nos maços de cigarro começam a aparecer, e em 1980 já havia
muitos processos movidos contra a indústria do tabaco, devido aos efeitos prejudiciais
dos seus produtos. Por fim, o cigarro chegou ao Brasil apenas no inicio do século XX,
10
SILVA, Edmar Oliveira da. Direito à vida e à saúde. Disponível em<https://direitonarede.com/direito-
vida-e-saude/>. Acesso em 19 mai.2019.
11
LOPEZ, Teresa Ancona. Estudos e Pareceres sobre Livre-arbítrio, Responsabilidade, e Produto de
Risco Inerente. Disponível em
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/118995/pressupostos_responsabilidade_civil_aguiar.pdf>.
Acesso em 21 mai. 2019.
12
O tabaco na história. Disponível em<
http://www.souzacruz.com.br/group/sites/SOU_AG6LVH.nsf/vwPagesWebLive/DO9YDBCK>. Acesso em
24 mai. 2019.
9
quando começou a canibalizar o hábito de se fumar charuto.13
Percebe-se, assim, que o tabaco passou de “mocinho a vilão” através dos anos,
sendo evidenciado os prejuízos pertinentes à saúde e adquiridos concomitantemente
ao hábito do tabagismo. Ademais, as propagandas usadas de forma abusiva
ludibriaram os consumidores de tabaco, acarretando em vício e prejuízos na área da
14
saúde, conforme será abordado detalhadamente no seguimento do trabalho.
Tamanhos são os malefícios do tabaco à saúde humana que o Brasil tornou-se
signatário da Convenção-Quadro sobre Controle do Uso do Tabaco (Decreto 5.658/06)
em novembro de 2005, adotada pelos países membros da Organização Mundial da
Saúde, cujo objetivo é proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras
consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pela fumaça do
tabaco, a fim de reduzir de maneira contínua o consumo e a exposição.
Ademais, segundo o INCA(Instituto Nacional de Câncer), o tabagismo causa
quase 50 diferentes doenças incapacitantes e fatais, respondendo por 45% das mortes
por infarto do miocárdio, 85% das mortes por enfisema pulmonar, 25% das mortes por
derrames, 30% das mortes por câncer, ocorrendo entre os fumantes 90% dos casos de
câncer de pulmão; as estatísticas apontam que o tabaco é o responsável por matar 5
milhões de pessoas anualmente no mundo, sendo que no Brasil são 200 mil mortes
anuais. Se a atual tendência de consumo se mantiver, em 2020, serão 10 milhões de
mortes por ano.15
Outrossim, o Instituto Nacional de Câncer assegura ainda que há um comércio
alimentado por várias estratégias para aumentar o consumo dos produtos de tabaco,
fazendo do tabagismo uma epidemia; portanto,não restam dúvidas a respeito dos
malefícios causados pelo tabaco.
Não obstante, o cigarro é composto por três componentes: nicotina, alcatrão e
monóxido de carbono, mas possui ainda outras inúmeras substâncias que prejudicam a
saúde, a saber, o tolueno; aldeídos como o formaldeído e o acetaldeído; acrilamida;
metais como arsênico ou cádmio, e isopreno; polônio-210; e ainda aditivos como o
amoníaco, açúcares, adoçantes artificiais e mentol, entre outros.16
13

REIS, Artur. A HISTÓRIA DO CIGARRO: A EVOLUÇÃO DE UM PRODUTO POLÊMICO. Disponível


em< http://professorarturreis.blogspot.com/2012/11/a-historia-do-cigarro-evolucao-de-um.html>. Acesso
em 24 mai. 2019.
14
BEDENDO, Marcos; TREVISAN, Fabricio. O último suspiro da indústria do tabaco. Disponível em <
https://exame.abril.com.br/blog/branding-consumo-negocios/o-ultimo-suspiro-da-industria-do-tabaco/>.
Acesso em 24 mai. 2019.
15
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Tabagismo: UM GRAVE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA.
Disponível em< http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/t_Tabagismo.pdf>. Acesso em 24 mai. 2019.
16
GONZÁLEZ, Jesús Méndez. Se o problema fosse só a nicotina...Disponível em<
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/27/ciencia/1427452306_690385.html>. Acesso em 28 mai. 2019.
10
Assim sendo, muito se tem a discorrer a respeito dos malefícios do cigarro,
sendo que sua composição aponta para consequências sérias na saúde de quem
adquire o hábito de fumar, ou mesmo para quem acaba tornando-se fumante passivo.

1.2. O LIVRE ARBÍTRIO DOS FUMANTES E A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS


INDÚSTRIAS TABAGISTAS

No que diz respeito ao livre arbítrio dos fumantes em face da responsabilidade


civil das indústrias tabagistas, cabe salientar que:

(...) fumar é um hábito e não um vício que pode ser abandonado a


depender da força de vontade do fumante. Ocorre que as pesquisas
científicas no campo da saúde comprovam o que há muito a indústria do
tabaco já sabia: a nicotina é uma poderosa droga, causadora de
dependência físico-química, com efeitos semelhantes aos de outras
drogas ilícitas como a heroína e a cocaína, tendo recebido o tratamento
de doença crônica epidêmica pela Organização Mundial de Saúde.17

Assim, considerando a potencialidade da nicotina em causar dependência


química, cabe questionar até que ponto vai o livre arbítrio, ou seja, o poder de escolha,
de uma pessoa em face do tabagismo. Tal questão tem sido alvo de muitas
discussões, havendo uma demanda procedente, julgada recentemente, a saber, a
apelação cível nº 70059502898, onde o Des. Eugênio Facchini Neto expõe que,
segundo especialistas, o termo livre-arbítrio tem sido utilizado para representar a
possibilidade de livre escolha do ser humano; assim, nada mais distante da realidade
quando refletimos sobre a iniciação e manutenção do tabagismo. Ele argumenta que
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que 90% das pessoas
começam a fumar ainda quando jovens, sendo que as habilidades de tomada de
decisão não podem ser consideradas plenamente desenvolvidas nesta etapa, daí
porque não se deve aplicar o conceito de livre-arbítrio associado ao uso de produtos de
tabaco por crianças e adolescentes.18
Neste sentido, conforme será detalhado a seguir, as propagandas abusivas do
comércio tabagista contribuiram demasiadamente no passado para que muitos jovens
e adolescentes adquirissem o hábito de fumar, tornando-se presos ao vício do
tabagismo. Cabe, portanto, uma reflexão a respeito da responsabilidade da indústria
tabagista, considerando que o argumento mais utilizado para a improcedência nas tais

17
SAMPAIO, Marília de Ávila e Silva. Tabagismo, livre arbítrio e dignidade da pessoa humana:
Parâmetros científicos e dogmáticos para (re)pensar a jurisprudência brasileira sobre o tema. Revista de
informação Legislativa. Disponível em:<
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496563/000940653.pdf?sequence=1>. Acesso em:
15 mai.2019.
18
Apelação Cível Nº 70059502898, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eugênio
Facchini Neto, Julgado em 18/12/2018.
11
demandas agora “cai por terra”, através da colocação plausível na decisão supracitada.

2. REQUISITOS PARA A RESPONSABILIDADE CIVIL EM DEMANDAS DE SAÚDE

Antes de tudo, cabe salientar que a palavra responsabilidade civil advém de


verbo latim “respondere”, ou seja, que alguém deve responder pelas consequências
jurídicas de sua atividade.19
Logo, na esfera da saúde, há requisitos pelos quais haverá responsabilização
civil. Assim, conforme explicita Sergio Cavalieri Filho, a partir do momento em que
alguém, mediante conduta culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano, está-se
diante de um ato ilicito, e deste ato deflui o inexorável dever de indenizar, consoante o
art. 927 do Código Civil. Por violação de direito deve-se entender todo e qualquer
direito subjetivo, não só os relativos, que se fazem mais presentes no campo da
responsabilidade contratual, como também e principalmente os absolutos, reais e
personalíssimos, nestes incluídos o direito à vida, à saúde, à liberdade, à honra, à
intimidade, ao nome e à imagem.20
Neste sentido, percebe-se, conforme o trecho doutrinário supracitado, que se a
vida é prejudicada, como ocorre nos casos de tabagismo, devido ao vício da nicotina,
há uma responsabilidade por parte do agente causador do dano.
Todavia, no caso de um direito fundamental, há de se refletir a respeito da
responsabilidade do Estado, que deve assegurar e efetivar tal direito, considerando
que a saúde está inserida entre os direitos sociais previstos no caput do art. 6º da
Constituição Federal de 1988, bem como nos artigos 196 a 200 do referido dispositivo.
Em vista disso, Dalmo de Abreu Dallari explica que, por ser direito essencial, a
vida deve ser plena. A ausência de doenças será uma das formas de efetivação desse
direito, uma vez que a saúde proporciona qualidade de vida. O princípio da dignidade
humana é elemento basilar e informador dos direitos e garantias fundamentais.
Portanto, os direitos fundamentais à vida e à saúde decorrem da dignidade da pessoa
humana.21
Não obstante, há diversos casos na jurisprudência assegurando a
responsabilidade do Estado no sentido de assegurar a saúde. Em vista disso, conforme
os artigos 196,197, e 198 da Constituição Federal de 1988, a União, juntamente com
Estados e Municípios, é responsável, de forma solidária, por assegurar o direito de
19
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3:
responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 1-2.
20
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. - 10. Ed. - São Paulo: Atlas, 2012,
p.19.
21
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Editora Moderna, 1999,p.22
e 23
12
todos à saúde. Cabe, aqui, elucidar a posição jurisprudencial da relatora Laura
Louzada Jaccottet:

Nos termos do artigo 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de


todos e dever do Estado, considerado lato sensu. Compete ao Poder
Público, independentemente da esfera institucional a que pertença,
a responsabilidade de cuidar do sistema de saúde posto à disposição da
população, o que permite ao cidadão direcionar a busca por seus
direitos a qualquer dos entes federativos. A União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios detêm competência comum, em matéria
administrativa, inexistindo a pretendida ordem na busca dos serviços e
ações.22

Portanto, em demandas de saúde, há de se analisar várias questões para


ensejar a responsabilidade civil, ou seja, os requisitos previstos no artigo 186, 187, e
927 do Código Civil, bem como os artigos previstos na Constituição Brasileira.
Assim sendo, a idéia de responsabilidade civil vem do princípio de que se
alguém causa dano a outrem, seja ele moral ou material, deverá restabelecer o bem ao
estado em que se encontrava antes do seu ato danoso, ou seja, conforme as palavras
de Sílvio de Salvo Venosa, em princípio, toda atividade que acarreta prejuízo gera
responsabilidade ou dever de indenizar. O termo responsabilidade é utilizado em
qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as
consequências de um ato, fato ou negócio danoso.23
Isto posto, analisando sob o ângulo das citações supra, percebe-se que nos
casos dos prejuízos causados pelo tabaco, as indústrias tabagistas devem ser
responsabilizadas, considerando o dano á vida, à saúde e, por consequência, à
dignidade humana. Por conseguinte, no que diz respeito a dano e seu contexto,
tangente à responsabilidade civil das indústrias tabagistas, muito relevante é explicitar
a diferença entre dano patrimonial e extrapatrimonial (moral), o que Paulo Nader faz
com excelência:

O dano se diz patrimonial quando provoca a diminuição do acervo de


bens materiais da vítima ou, então, impede o seu aumento. (...) Os
patrimônios individuais são formados por bens materiais e imateriais. Os
primeiros se compõem de riquezas suscetíveis de avaliação pecuniária,
enquanto os segundos não comportam tal estimativa, como a vida, a
honra, a liberdade. Os prejuízos causados aos bens materiais por
damnum emergens ou lucrum cessans configuram os danos
patrimoniais, enquanto os afetos aos bens imateriais são os danos
morais. A indenização por danos morais não visa à reparação, pois não
há como a vítima se tornar indene; condena-se com dupla finalidade: a
de proporcionar à vítima uma compensação e para se desestimular

22
Apelação Cível Nº 70069470458, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Laura
Louzada Jaccottet, Julgado em 28/09/2016.
23
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e responsabilidade civil. -18-São Paulo: Atlas, 2018,
p.437.
13
condutas desta natureza.24

Neste seguimento, Nader ainda afirma que “a Constituição, pelo art. 5º, inciso X,
foi categórica ao reconhecer o direito à indenização por danos morais”, o que
demonstra que, referente à saúde, se esta é lesada, irá ensejar a indenização por
danos extrapatrimoniais à parte prejudicada.

2.1. ANÁLISE DOS ARTIGOS 186, 187, E 927 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

No que diz respeito aos pressupostos do dever de indenizar, Flávio Tartuce


afirma que não há unanimidade doutrinária em relação a quais são os elementos
estruturais da responsabilidade civil.25
Neste sentido, Carlos Roberto Gonçalves faz uma análise minuciosa do artigo
186 do código civil na estrutura de sua obra, onde leciona que os pressupostos da
responsabilidade civil são: ação ou omissão; culpa ou dolo do agente, relação de
causalidade e o dano experimentado pela vítima.26
Ademais, Sílvio de Salvo Venosa concorda que há quatro requisitos para a
configuração do dever de indenizar: ação ou omissão voluntária, relação de
causalidade ou nexo causal, dano e, finalmente, culpa. 27 Deste modo, a respeito dos
artigos 186, 187 e 927 do código civil brasileiro muito se tem a discorrer, mas o
principal é que estes protegem contra ilicitude, assegurando que o direito do outro não
seja violado nem lesado, conforme explicita Carlos Roberto Gonçalves.
Destarte, ao iniciar uma análise sobre tais artigos do Código Civil, entende-se,
consoante às palavras de Eugênio Facchini Neto, que a função originária e primordial
da responsabilidade civil, portanto, é a reparatória (de danos materiais) ou
compensatória (de danos extrapatrimoniais). Mas outras funções podem ser
desempenhadas pelo instituto. Efetivamente o art. 186 estabelece um preceito segundo
o qual “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, ao
passo que o caput do art. 927 prevê as consequências jurídicas de tal fattispecie:
“aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”. (...).28
24

NADER, Paulo. Curso de direito civil, volume 7: responsabilidade civil. – 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2016, p. 120-122.
25
Tartuce, Flávio. Direito Civil.13.ed.rev.,atual.e ampl.- Rio de Janeiro:Forense,2018,p.363
26
GONÇALVES,Carlos Roberto.Direito Civil brasileiro, volume 4:responsabilidade civil.5.ed-São
Paulo:Saraiva,2010,p53
27
VENOSA;Sílvio de Salvo. Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil.-18.ed-São
Paulo:Atlas,2018,p.445
28
FACCHINI NETO, Eugênio. Da responsabilidade civil no novo código. Revista do Tribunal Superior do
14
Não obstante, Flávio Tartuce entende que a “consequência do ato ilícito é a
obrigação de indenizar, de reparar o dano, nos termos da parte final do art. 927 do
CC”, sendo que ele se filia à corrente doutrinária pela qual ato ilícito constitui um fato
jurídico:

(...) o art. 187 do CC traz uma nova dimensão de ilícito, consagrando a


teoria do abuso de direito como ato ilícito, também conhecida por teoria
dos atos emulativos. Amplia-se a noção de ato ilícito, para considerar
como precursor da responsabilidade civil aquele ato praticado em
exercício irregular de direitos, ou seja, o ato é originariamente lícito, mas
foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes.29

Vale ressaltar que a responsabilidade civil pode ser subjetiva ou objetiva,


conforme entende Sérgio Cavalieri Filho no sentido de que “a responsabilidade
subjetiva sempre estaria relacionada a um ilícito, ao passo que a responsabilidade
objetiva estaria ligada a um comportamento lícito”.30
Neste ponto, cabe lembrar que as indústrias tabagistas tem um comportamento
embasado na licitude, já que a lei autoriza a venda de cigarros, havendo previsão no
artigo 170, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988; ter-se-a, portanto,
responsabilidade objetiva, conforme será visto mais detalhadamente a seguir.31

2.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO

Antes de tudo, cabe colocar que a responsabilidade objetiva tem previsão no


código civil em seu artigo 927, onde se estabelece “obrigação de reparar o dano,
independente da culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem”.
Neste sentido, conforme preceitua Caio Mário da Silva Pereira, a
responsabilidade objetiva surgiu com referência aos grandes civilistas que desde o final
do século XIX e os albores deste século delinearam com precisão os seus contornos,
sendo que “onde se realiza a maior revolução nos conceitos jus-romanísticos em
termos de responsabilidade civil é com a Lex Aquilia, que se prende aos tempos da
República; ela foi um marco tão acentuado que, a esta, se atribui a origem do elemento
‘culpa’, como fundamental na reparação do dano. Ademais, a responsabilidade

Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 76, n. 1, p. 17-63, jan./mar. 2010.


29
TARTUCE, Flávio Direito civil. Op. cit. p.331.
30
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. Op. Cit. p.9.
31
SCHUCH, Luiz Felipe Siegert. O papel do Judiciário no controle do tabagismo no Brasil: reflexões para
além do outubro rosa. Disponível em:<
http://actbr.org.br/uploads/arquivo/950_Revista_ESA_publicada.pdf>. Acesso em: 11 jun.2019.
15
subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação de danos,
verificando-se que nem sempre o lesado consegue provar os elementos necessários, e
em consequência a vítima remanesce não indenizada, posto se admita que foi
efetivamente lesada.32
Portanto, resta evidenciado que a teoria objetiva mostrou-se mais adequada, no
que diz respeito à aplicabilidade em casos de reparação, já que na responsabilidade
objetiva não se faz necessária a comprovação de dolo ou culpa, bastando que reste
evidenciado o nexo causal da atividade com o objetivo atingido.
A respeito da culpa, Sílvio de Salvo Venosa leciona que ao analisarmos
especificamente a culpa, lembremos a tendência jurisprudencial cada vez mais
marcante de alargar seu conceito, ou de dispensá-lo como requisito para o dever de
indenizar. Surge, destarte, a noção de culpa presumida, sob o prisma do dever
genérico de não prejudicar. Esse fundamento fez surgir a teoria da responsabilidade
objetiva, presente na lei em várias oportunidades, que desconsidera a culpabilidade,
ainda que não se confunda a culpa presumida com a responsabilidade objetiva. A
insuficiência da fundamentação da teoria da culpabilidade levou à criação da teoria do
risco, com vários matizes, que sustenta ser o sujeito responsável por riscos ou perigos
que sua atuação promove, ainda que coloque toda a diligência para evitar o dano.33
Acerca da teoria do risco, Carlos Roberto Gonçalves elucida que esta é uma das
teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva, ou seja, toda pessoa que
exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros, devendo repará-lo, ainda
que sua conduta seja isenta de culpa; logo, a responsabilidade civil desloca-se da
noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”, que se funda
no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de
uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus).34
Ademais, a responsabilidade civil objetiva, bem como a teoria do risco, aplica-se
ao Código de Defesa do Consumidor, a saber, nos artigos 12, 13 e 14, como será
tratado mais detalhadamente no tópico a seguir. Todavia, de antemão cabe ressaltar
que, conforme os artigos supracitados, a própria teoria do risco se faz suficiente para
comprovar a certeza da responsabilidade civil objetiva das indústrias do tabaco.

2.3. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E RESPONSABILIDADE CIVIL: A


RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE FUMANTES E PRODUTORES DE CIGARRO

32
PEREIRA, Caio Mário da Silva; TEPEDINO, Gustavo.Responsabilidade Civil. – 12. ed. rev., atual. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2018, p.318 – 319.
33
VENOSA; Sílvio de Salvo. Op.cit.,p.445
34
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 4 : responsabilidade civil. – 12. ed. – São
Paulo : Saraiva, 2017,p.48.
16

Já de antemão, no tocante à relação de consumo entre fumantes e produtores


de cigarro, vale lembrar que a Constituição Federal chancela a comercialização do
cigarro (artigo 220, § 4º) e impõe restrições apenas à publicidade do produto.
Entretanto, o advento da própria Constituição de 1988 trouxe o dever de proteção do
consumidor como direito fundamental e princípio da ordem econômica (arts. 5º, XXXII,
e 170, V da Constituição Federal de 1988), cabendo ao Estado a promoção da defesa
do consumidor, na forma da lei.
Nesse diapasão, em 11 de setembro de 1990, através da Lei nº 8.078/90, surgiu
o Código de Defesa do Consumidor, que assegura o reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor e estabelece o princípio da boa-fé como basilar das
relações de consumo.35
E ainda, vale ressaltar que a concordância entre o Código Civil e Código de
Defesa do Consumidor consagram a responsabilidade civil objetiva, dispensando-se o
elemento culpa, e prevendo-se diversas situações como atividade de risco por fato de
serviço(art. 927, parágrafo único), pelo fato do produto (art. 931),ou pelo fato de outrem
(arts. 932 e 933).36
Ademais, no tocante a responsabilidade civil objetiva, não se deve esquecer que
os artigos 927 e 187 do Código Civil Brasileiro tratam a respeito do abuso do direito,
sendo que, segundo Sérgio Cavalieri Filho, o que caracteriza tal é o seu anormal
exercício, ou seja, aquele que se afasta da ética e da finalidade social ou econômica do
direito:

O fundamento principal ao abuso do direito é impedir que o direito sirva


como forma de opressão, evitar que o titular do direito utilize seu poder
com finalidade distinta daquela a que se destina. O ato é formalmente
legal, mas o titular do direito se desvia da finalidade da norma,
transformando-o em ato substancialmente ilícito. E a realidade
demonstra ser isso perfeitamente possível: a conduta está em harmonia
com a letra da lei, mas em rota de colisão com os seus valores éticos,
sociais e econômicos -enfim, em confronto com o conteúdo axiológico
da norma legal.37

Semelhantemente, Flávio Tartuce, a respeito da teoria do abuso do direito,


define ser “um ato lícito pelo conteúdo, ilícito pelas consequências, tendo natureza
jurídica mista – entre o ato jurídico e o ato ilícito – situando-se no mundo dos fatos
35
BESSA, Leonardo Roscoe; e MOURA, Walter José Faiad de. Manual de direito do consumidor;
coordenação de Juliana Pereira da Silva. -- 4. ed. Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor,
2014.
36
CALIXTO, Eduardo da Silva. Análise crítica das teorias sobre a responsabilidade civil: da reparação à
punição e securitização. Disponível em< http://www.ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=20070&revista_caderno=7>. Acesso em 20 jun.2019.
37
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. Op. Cit. p.172-173.
17
jurídicos em sentido amplo”.38
Portanto, ao realizar-se uma análise, no tocante à responsabilização civil das
indústrias tabagistas, se compreenderá que o ato ilícito surgirá do descumprimento de
um dever de conduta, independente de se constatar culpa do agente, ou seja, resta
configurada a responsabilidade objetiva pelo fato do produto (cigarro), conforme art. 12
do Código de Defesa do Consumidor, e também por se confirmar a teoria do abuso do
direito(art. 186 do Código Civil Brasileiro).Neste sentido, se pode afirmar, sem receio,
que o abuso na divulgação do cigarro evidencia o defeito (extrínseco) que alicerça a
sua responsabilidade civil.39
Assim, como em qualquer contrato, há um princípio de boa fé que se
estabelece naturalmente pelo contratante, ainda mais no que se refere à relação de
consumo estabelecida pelo indivíduo que compra o produto (o cigarro) e,
posteriormente, sofre danos, até mesmo chegando ao falecimento por doenças que
são consequência do vício causado pelas substâncias do cigarro, conforme
supramencionado nos tópicos anteriores.40
Outrossim, conforme explicita Sérgio Cavalieri Filho, o dever de informar
desempenha um papel demasiadamente relevante, no tocante ao fornecedor, sendo
que este pode responder pelo chamado risco inerente, assim entendido o risco
intrinsicamente atado à própria natureza do serviço e ao seu modo de prestação,
como, por exemplo, o risco de produtos tóxicos, tratamento médico com efeitos
colaterais (quimioterapia), cirurgia de alto risco etc.41
Não obstante, Cavalieri entende que, via de regra, o fornecedor não responde
pelos danos decorrentes do risco inerente, por não ser defeituoso um produto ou
serviço nessas condições. Transferir as consequências dos riscos inerentes para o
fornecedor seria ônus insuportável; acabaria por inviabilizar o próprio fornecimento.
Tais riscos, entretanto, criam para o fornecedor outro dever jurídico - o de informar -,
expressamente estabelecido no art. 9º do Código de Defesa do Consumidor. O dever
de informar, portanto, também serve de fundamento para a responsabilidade do
fornecedor, cuja violação pode levá-lo a ter que responder pelos riscos inerentes, não
por defeito de segurança do produto ou do serviço, mas pelo defeito de informação ou
de comercialização, que envolve a apresentação, a publicidade e a informação

38
TARTUCE, Flávio. Direito civil. Op. cit. p. 335.
39
DELFINO, Lúcio. Responsabilidade civil da indústria do tabaco. Disponível em:<
http://www.luciodelfino.com.br/enviados/2016420144331.pdf>. Acesso em 11 jun.2019.
40
LOBO, Paulo. Boa-fé entre o princípio jurídico e o dever geral de conduta obrigacional.
Disponível em< http://genjuridico.com.br/2018/02/26/boa-fe-do-administrado-e-do-administrador-como-
fator-limitativo-da-discricionariedade-administrativa/>. Acesso em 21 jun. 2019.
41
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. Op. Cit. p. 516
18
inadequada a respeito da sua nocividade ou periculosidade.42
Neste seguimento, se entende que não haveria a responsabilização das
indústrias do tabaco pelo risco inerente em si mesmo, mas sim pelo defeito de
informação apresentado entre os anos 1927 e 1954 através das propagandas daquela
época, fazendo parte de uma exposição organizada pela Biblioteca Pública de Nova
York. Os anúncios, que circulavam em revistas como Life e Saturday Evening Post,
eram coloridos e criativos. A exposição ainda recorria a celebridades que emprestaram
rosto e pulmões à indústria tabagista. O ator Ronald Reagan, o esportista Joe
DiMaggio e até Papai Noel apareceram de cigarro em mãos.43

PARTE II: JURISPRUDÊNCIA E EVOLUÇÃO DE ARGUMENTOS NO


ORDENAMENTO BRASILEIRO

1. REALIDADE JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA

No tocante ao entendimento dos tribunais brasileiros a respeito do tema, cabe


ressaltar que a realidade jurisprudencial brasileira se faz marcante, no que diz respeito
ao histórico das ações da responsabilidade civil contra os fabricantes de cigarro no
Brasil, posto que o histórico anterior não havia sido nada favorável às vítimas e aos
seus sucessores. Todavia, no acórdão divulgado em dezembro de 2018(Apelação
Cível 70059502898), a 9ª Câmara Cível do tribunal de justiça da comarca de Caxias do
Sul condenou a Souza Cruz a indenizar a viúva de um fumante.
Ademais, cabe ressaltar que a decisão atual contraria a jurisprudência, até então
dominante, do Superior Tribunal de Justiça, fundada especialmente no não
reconhecimento do nexo causal entre o tabagismo e a causa da doença do fumante, no
seu livre-arbítrio (ou culpa exclusiva da vítima) e também no não reconhecimento de
que os produtos derivados do tabaco sejam defeituosos à luz do Código de Defesa do
Consumidor.44
Assim sendo, nas ações judiciais indenizatórias movidas contra fabricantes de
cigarro até o ano de 2018, a maior parte das sentenças e acórdãos no país não havia
reconhecido a responsabilidade dessas empresas nos casos de adoecimento e morte
de seus consumidores. Neste sentido, a Aliança de Controle do Tabagismo - ACT
lançou o documentário Dois Pesos e Duas Medidas, de 26 minutos, o qual conta a
história de José Carlos Marques, aposentado que teve as duas pernas amputadas por
42
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. Op. Cit. p.523
43
VERAS, Andres. Quando fumar fazia bem à saúde. Disponível em<
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI14584-15254,00-
QUANDO+FUMAR+FAZIA+BEM+A+SAUDE.html>. Acesso em 21 jun. 2019.
44
SALAZAR, Andrea Lazzarini e GROU, Karina Bozola. Ações Indenizatórias Contra a Indústria do
Tabaco: Estudo de Casos e Jurisprudência. Supervisão ACT| Aliança de Controle do Tabagismo,2011.
19
causa de uma doença comprovadamente relacionada ao fumo, a tromboangeíte
obliterante; sua imagem ilustrou a primeira rodada de advertências sanitárias nos
maços de cigarro, a partir de 2001.45
Ele entrou com uma ação indenizatória contra a fabricante dos cigarros que
fumou por mais de 30 anos e não conseguiu ter seu pleito atendido. Ao contrário do
que se esperava, a Justiça não aplicou as normas de defesa do consumidor ao seu
caso sob a justificativa de que o Código de Defesa do Consumidor não existia à época
em que ele começou a fumar, quando tinha somente 15 anos. O filme traz, através de
sua história, a opinião de especialistas em Direito, Saúde e políticas públicas com o
intuito de promover o debate na sociedade sobre como o Poder Judiciário vem usando
pesos e medidas diferentes quando se trata do direito do consumidor tabagista e a
responsabilidade civil.46
Assim, portanto, no tocante à apelação cível Nº 70059502898, o acórdão levou
em consideração estudo feito por perito, afirmando que apenas 12,5% dos casos a
DPOC não tinha como causa o tabagismo. Logo, se deu base ao acolhimento de “um
juízo de séria probabilidade” do nexo causal, suficiente para o convencimento do juiz,
dentro do princípio da persuasão racional, sendo o fabricante condenado a indenizar o
dano em 85%. Outrossim, cabe ressaltar, referente ao acórdão, que foi aplicado a
teoria da cota de mercado (market share liability) para moderar a indenização, haja
vista que não há prova relativa às marcas de cigarros que a vítima fumava. O fator
moderador será a participação que a Souza Cruz detinha no mercado durante os anos
em que a vítima fumou (a ser apurada na liquidação da sentença).
Já em relação ao livre-arbítrio, o acórdão fez uso da estatística, a qual aponta
que 90% dos jovens começam a fumar na adolescência. Neste seguimento, o
desembargador Eugênio Facchini Neto expôs histórico das descobertas científicas a
respeito da nocividade do tabaco, o desvelamento de documentos internos sigilosos
dos fabricantes de cigarros nos Estados Unidos comprovando que eles tinham
conhecimento dessas descobertas, embora as tenham ocultado do público, e
finalmente mostrou a mudança na jurisprudência estrangeira, especialmente a norte-
americana, que da rejeição inicial às demandas indenizatórias ajuizadas nas décadas
de 1950 e 1960 passou a homologar acordos milionários a partir dos anos 1990.
Diante do exposto, paira no ar a seguinte indagação: Tal decisão, tão inovadora

45

DOCUMENTÁRIO DEBATE RESPONSABILIDADE DA INDÚSTRIA DO TABACO. Disponível


em<https://www.cancer.org.br/documentario-debate-responsabilidade-da-industria-do-tabaco-2/>.
Acesso em 24 de jun. 2019.
46
Filme discute responsabilidade civil da indústria do tabaco. Disponível em<
https://www.plurale.com.br/site/agenda-detalhes.php?cod=2003>. Acesso em 24 de jun. 2019.
20
em seus argumentos, terá força para alterar a jurisprudência do STJ? Bem, somente o
tempo dirá, mas é certo que o entendimento a respeito do tema está sendo seguindo
rumo à grandes transformações na esfera da responsabilidade civil em face das
indústrias tabagistas.

2. RAZÕES PARA A PROCEDÊNCIA E IMPROCEDÊNCIA DAS DEMANDAS


CONTRA A INDÚSTRIA DO CIGARRO

A respeito das razões para procedência e improcedência das demandas em


face da indústria fumígena, a ACT realizou em junho de 2011 estudo de casos e
jurisprudência onde se extraiu diversos dados estatísticos relevantes. Neste sentido,
foram encontrados 96 acórdãos proferidos no período analisado, dos quais apenas 6
são decisões do Superior Tribunal de Justiça. Foram localizadas 90 decisões em 12
Estados e no Distrito Federal, com concentração expressiva nas regiões Sul e Sudeste
com 83,2% (75 decisões).
Ademais, os resultados da pesquisa revelaram a predominância do
posicionamento do Poder Judiciário favorável às teses da indústria tabagista. Os
argumentos que prevalecem para rechaçar o pedido indenizatório das vítimas e seus
familiares são basicamente o livre arbítrio; a incidência da responsabilidade subjetiva; a
falta de nexo de causalidade entre o dano e o tabaco; a licitude da atividade; e a
prescrição de cinco anos do Código de Defesa do Consumidor. Assim, o livre arbítrio
retratado nos julgados espelha uma visão de que fumar é uma opção livre, que hábito
não é vício. A falta de nexo de causalidade entre o dano e o tabaco é argumentada
diante da falta de provas contundentes da relação como causa única. A licitude da
atividade é também motivo bastante usado como excludente do dever reparatório,
desconsiderando a responsabilidade objetiva e a teoria do risco da atividade, que
obrigam a indenização, independentemente da licitude.47
Neste sentido, vale citar alguns julgados que exemplificam o posicionamento
jurisprudencial vigente até 2018, a saber, a apelação cível Nº70042003939, da Nona
Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do RS, onde o relator Leonel Pires Ohlweiler
declarou que a questão jurídica sobre a responsabilidade civil das indústrias produtoras
de cigarro já foi por diversas vezes submetida a julgamento pelo Superior Tribunal de
Justiça, cuja posição se consolidou no sentido de julgar improcedentes tais demandas,
sendo que o julgamento do Recurso Especial nº 921.500-RS, j. 13.06.2012, do Rel.
Min. Ricardo Villas Boas Cueva, exemplifica o entendimento.48
47
SALAZAR, Andrea Lazzarini e GROU, Karina Bozola. Ações Indenizatórias Contra a Indústria do
Tabaco: Estudo de Casos e Jurisprudência. Supervisão ACT| Aliança de Controle do Tabagismo, 2011.
48
21
Outrossim, vale citar como caso de improcedência em demandas de
responsabilidade civil das indústrias fumígenas, a saber, a apelação Cível
Nº 70047613757, das Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
49
Sul, cujo relator também foi Leonel Pires Ohlweiler. De fato, muitos casos de
improcedência foram registrados e poderiam aqui ser citados, onde o direito dos
fumantes não foi reconhecido, devido ao entendimento dos tribunais de que faltam os
requisitos para configurar responsabilidade civil.
Isto posto, o primeiro caso de procedência nas tais demandas, conforme já
citado anteriormente, foi a apelação de nº70059502898, a qual teve parcial provimento,
sendo julgada em 18/12/2018. Não obstante, o relator apontou fatores interessantes
que firmaram fortemente sua argumentação, a saber, alegou que o nexo de
causalidade, em praticamente todos os países ocidentais, vem lenta mas firmemente
aceitando que se acolham demandas indenizatórias mesmo na ausência de provas
contundentes sobre o nexo de causalidade entre uma conduta e determinado dano,
sendo que o objetivo é facilitar a sorte processual de vítimas, em demandas judiciais
contra alegados causadores dos danos.
Assim, mesmo que não haja provas irrefutáveis, se o dano é certo e ligado à
determinada atividade do demandado, então é mais aceitável acolher-se a pretensão
condenatória, havendo, portanto, flexibilização da prova do nexo de causalidade.
Assim, convém citar doutrinas neste sentido, tais como market share liability, a doutrina
da perda de uma chance (perte d une chance), a doutrina da res ipsa loquitur; a
doutrina da causalidade alternativa; a doutrina da presunção de causalidade; a doutrina
do more probable than not; a doutrina da redução do módulo da prova; a doutrina
sueca da verossimilhança, bem como a admissão de probabilidades estatísticas (essa
última especialmente importante para o caso em tela).
Logo, concluiu-se haver dados científicos mais do que suficientes apontando
para a presença de nexo de causalidade entre o tabagismo e a doença que vitimou o
marido da autora. Já em relação ao livre-arbítrio, aprouve ao relator salientar que
restou demonstrado, através de pesquisas científicas, a influência de diversos fatores
irracionais que nos afetam a cada decisão. Assim, em reflexão, percebe-se que livre-
arbítrio é uma realidade distante, concluindo, portanto, Facchini, que não deve ser o

Apelação Cível Nº 70042003939, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires
Ohlweiler, Julgado em 26/08/2015. Disponível em < https://www.tjrs.jus.br/site/jurisprudencia/>. Acesso
em 25 jun.2019.
49
Apelação Cível Nº 70047613757, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires
Ohlweiler, Julgado em 26/08/2015. Disponível em < https://www.tjrs.jus.br/site/jurisprudencia/>. Acesso
em 27 jun.2019.
22
consumidor de cigarros a assumir os riscos do tabagismo, mas sim as empresas
fabricantes que, ao colocarem um produto altamente danoso no mercado, deveriam
assumir o risco de responder pelos danos causados.
Destarte, em defesa ao terceiro argumento a ser refutado, ou seja, a alegada
inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, o Des. Eugênio fundamenta não
serem normais os riscos do consumo do cigarro em decorrência de sua natureza e
fruição, afinal, quem fuma não tem como pretensão desfrutar, no futuro, de doenças ao
adquirir um maço de cigarros, depreciar sua saúde ou de buscar sua morte prematura.
Assim, o relator alegou ser possível sustentar a incidência do Código de Defesa do
Consumidor em razão da omissão de informação adequada e clara sobre as
características, composição e riscos (vício de informação); em razão da publicidade
insidiosa e hipócrita, adotada por décadas, vinculando o cigarro a situações como
sucesso profissional, beleza, prazer, requinte, etc; e em razão da introdução no cigarro
de substância aditiva (nicotina), que compele o usuário ao vício.
E ainda, quanto ao fato atual de haver no próprio maço de cigarros advertência
sobre os malefícios associados tabagismo, coube a Facchini lembrar que quem cumpre
os deveres de informar o consumidor é o Estado, através de normas. Não há, portanto,
como considerar que a indústria do fumo cumpre o dever de informar de modo
suficiente e adequado. E ele fundamenta, ainda, que mesmo que fosse descartada a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor e se aplicasse apenas a legislação civil,
não se poderia olvidar a responsabilidade objetiva, constatada através do art. 931 do
Código Civil.
Já no que concerne a contribuição causal da vítima, o relator constatou que, de
fato, houve uma decisão da vítima de começar a fumar e de permanecer fumando até
receber o diagnóstico de que havia contraído doença tabaco-relacionada. Portanto, não
é razoável imputar-se a integralidade do prejuízo à demandada, devendo ser
reconhecida uma contribuição causal de 25% à própria vítima.
Por fim, a saída do impasse se realizou através da aplicação da teoria da Market
Share Liability, ou responsabilidade por cota de mercado, imputando-se à demandada
a responsabilidade pela média da quota de mercado que detinha, no Estado do Rio
Grande do Sul, durante o período em que o marido da autora fumou (1964 a 1998),
sendo a sentença de 1º grau reformada, julgando-se parcialmente procedente a ação.
23
3.A VIOLAÇÃO DA BOA FÉ E SUA INCIDÊNCIA NA RESPONSABILIZAÇÃO DAS
INDÚSTRIAS TABAGISTAS

No que diz respeito à responsabilização das indústrias tabagistas, é mister


falar-se em boa fé, considerando que há uma clara ausência da mesma por parte das
empresas tabagistas.Neste seguimento, cabe elucidar que conforme o artigo 6º do
Código de Defesa do Consumidor, direitos básicos do consumidor, tais como a
informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, bem como sobre
os riscos que apresentem, estão expressamente previstas.
E ainda, o art. 4º da legislação consumerista traz o princípio básico da
transparência, impondo ao fornecedor a obrigação de informar de modo claro e correto
o consumidor sobre as qualidades do produto. Nada obstante, o fornecedor não deve
omitir informações ou informar mal, posto que estará violando o princípio da
transparência, previsto como um dos objetivos da Política Nacional de Relações de
Consumo.
Em vista disso, resta evidenciado que a conduta da indústria do tabaco é
desleal, violando a boa-fé objetiva, já que não somente omitiu (e continua omitindo)
informações sobre os malefícios do uso do tabaco como também se utilizou de
publicidade insidiosa para atrair seus consumidores, induzindo os tais em uma relação
de consumo que acarreta em prejuízos, a longo prazo, para saúde.50
Ademais, conforme explicita Judith Martins Costa, o Código de Defesa do
Consumidor, cujo campo de incidência é extenso, situa a boa-fé como um dos
princípios da Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º, inciso III). 51 Neste
sentido, vale ressaltar que, no tocante à boa-fé, assim preceitua César Fiuza:

A boa-fé subjetiva consiste em crenças internas, conhecimentos e


desconhecimentos, convicções internas. Consiste, basicamente, no
desconhecimento de situação adversa. Quem compra de quem não é
dono, sem saber, age de boa-fé, no sentido subjetivo.
A boa-fé objetiva baseia-se em fatos de ordem objetiva. Baseia-se na
conduta das partes, que devem agir com correção e honestidade,
correspondendo à confiança reciprocamente depositada. As partes
devem ter motivos objetivos para confiar uma na outra.52

Destarte, em que pese a relação de consumo deva se firmar em pilar de boa-fé,


ou seja, em confiança recíproca das partes componentes da relação de consumo, o
que se observa na relação consumerista entre as indústrias fumígenas e seus
50
DELFINO, Lúcio. A indústria do tabaco e a teoria do abuso do direito. Disponível em<
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/ind%C3%BAstria-do-tabaco-e-teoria-do-abuso-do-direito>.
Acesso em 28 jun.2019.
51
COSTA, Judith Martins. OS CAMPOS NORMATIVOS DA BOA- FÉ OBJETIVA: AS TRÊS
PERSPECTIVAS DO DIREITO PRIVADO BRASILEIRO. Nº6. 2004, p.91-92.
52
FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 9. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p.410/411
24
clientes(fumantes) é o oposto, conforme art. 37, §1º do Código de Defesa do
Consumidor, já que o que se presenta nos maços de cigarro, referente à composição
química, é distante da realidade.Assim, para viciar o consumidor mais rapidamente, a
indústria tabagista altera a composição química do cigarro e acrescenta, por exemplo,
amônia, o que vem a potencializar os efeitos da nicotina, sendo que a maioria das
substâncias que o cigarro contém não é devidamente anunciada para os
consumidores, sendo dever do fornecedor informar de maneira ostensiva e adequada a
respeito dos riscos do produto.53
Portanto, os maços de cigarros vendidos no Brasil apenas informam sobre a
quantidade de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono, não informando sobre as
outras quase cinco mil substâncias tóxicas, e as advertências do Ministério da Saúde
não esclarecem suficientemente os consumidores a respeito das doenças provocadas
pelo consumo de cigarro. Assim, se torna perceptível e inegável que as indústrias do
tabaco violam o dever de informação e, portanto, configura-se absolutamente ilícita a
conduta.54
Isto posto, fica claro e evidente a violação da boa-fé, a qual, conforme
anteriormente mencionada, é a base das relações de consumo; no caso em questão,
todo aquele que se torna um fumante não espera, obviamente, ficar preso ao vício,
devido à nicotina e demais substâncias contidas no cigarro,mas a publicidade, a
omissão de informações, como já constatado, vem a ludibriar os consumidores,
acarretando em prejuízos decorrentes do tabagismo.

3.1. DOS DEFEITOS DE INFORMAÇÃO: A PUBLICIDADE ABUSIVA E SUAS


CONSEQUÊNCIAS

No que diz respeito à publicidade abusiva, deve ser salientado que a indústria
do cigarro buscou incitar o hábito de fumar através de propagandas apelativas, repletas
de glamour, acarretando, assim, em diversos malefícios à saúde do ser humano. A
propaganda de cigarro sempre fora insinuante, ligada ao sucesso pessoal e a fatores
como status econômico.55
Neste sentido, foi sancionada no ano 2000 a lei Lei 10.167, alterando
dispositivos da Lei nº 9.294/96, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda

53
Tabagismo. Disponível em<https://www.portalsaofrancisco.com.br/saude/tabagismo>.
https://www.portalsaofrancisco.com.br/saude/tabagismo>. Acesso em 28 jun. 2019.
54
SERPEJANTE, Carolina. Descubra as substâncias do cigarro que são nocivas à saúde. Disponível
em< https://www.minhavida.com.br/saude/materias/13305-descubra-as-substancias-do-cigarro-que-sao-
nocivas-a-saude>. Acesso em 28 jun. 2019.
55
STEGLICH,Tassia Tabille. O cigarro e a propaganda. Disponível em<
https://www.webartigos.com/artigos/o-cigarro-e-a-propaganda/36993/>. Acesso em 29 jun.2019.
25
de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos
agrícolas, sendo que de acordo com esta lei a propaganda do cigarro somente era
permitida na parte interna dos locais de venda do produto, por meios de pôsteres,
painéis e cartazes, restando proibidas as demais formas de divulgação.Já em
dezembro de 2014, passou a vigorar a nova regulamentação da Lei Antifumo no Brasil,
a qual passou a proibir a propaganda de cigarros até mesmo nos pontos de venda.56
Ademais, Flávio Tartuce conceitua que o conceito de publicidade abusiva pode
ser encontrado no art. 37, § 2.º, do Código de Defesa do Consumidor, cuja transcrição
merece realce, para os devidos aprofundamentos, a saber, que “é abusiva, dentre
outras, a publicidade que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança”; e ainda, diante do seu conteúdo,
muitas vezes agressivo, a publicidade abusiva pode gerar a responsabilidade civil das
pessoas envolvidas. Ademais, estipula o caput do art. 60 do Código de Defesa do
Consumidor que a imposição de contrapropaganda será cominada quando o
fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, sempre às
expensas do infrator.57
Isto posto, cabe citar a apelação cível sob nº 1022881-33.2016.8.26.0053, da
comarca de são paulo, tratando-se de ação ordinária movida por Philip Morris Brasil
Indústria e Comércio Ltda em face da Fundação e Proteção e Defesa do Consumidor
PROCON, objetivando a declaração de nulidade da multa que lhe foi imposta no Auto
de Infração nº 11523-D8. A juíza da 11ª vara da Fazenda Pública de SP manteve multa
aplicada pelo Procon-SP à Philip Morris por abusividade em propaganda do cigarro
Marlboro, sendo que a propaganda, veiculada entre 2012 e 2013, consistia em uma
foto de um adulto empurrando um sofá, com a frase "Talvez vou ser independente", em
que ao "talvez" sobrepunha-se um "X", resultando na frase "vou ser independente". 58
O Procon alegou que a autora infringiu o Código de Defesa do Consumidor por
veicular propaganda abusiva considerando que a campanha publicitária faria
associação entre o uso de cigarros e a ideia de independência, atraindo o máximo de
consumidores, especialmente jovens, sendo este um exemplo da publicidade abusiva
advinda da indústria tabagista e suas consequências devastadoras.
56
Lei Antifumo proíbe propagandas a partir de dezembro. Disponível em<
http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2014/06/lei-antifumo-proibe-propagandas-a-partir-de-dezembro>.
Acesso em 29 jun. 2019.
57
TARTUCE, Flávio. Manual de responsabilidade civil: volume único. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018, p.82-83.
58
TALVEZ VOCÊ SEJA O ALVO. ACT, 2014. Disponível
em<http://actbr.org.br/uploads/arquivo/902_be_marlboro.pdf>. Acesso em 29 jun.2019.
26

4. CONCLUSÃO

Por meio do estudo aqui apresentado, procurou-se demonstrar que houve


grande influência das propagandas no consumo do tabaco, afetando os jovens mais do
que qualquer outra faixa etária da população. Assim, o aumento do consumo tabagista
acarretou inúmeras mortes e ainda é o maior causador de doenças respiratórias
crônicas.
Desde 1980 o tribunal brasileiro vem obtendo muitos processos movidos contra
a indústria do tabaco, devido aos efeitos prejudiciais dos seus produtos, tendo sido
negado provimento das ações movidas em face da indústria tabagista arguindo a falta
de pressupostos para ensejar danos morais e materiais, até que em 2018 ocorre o
primeiro caso de provimento, a saber, a apelação de nº70059502898.
Neste sentido, em que pese haja grandes esforços no combate ao tabagismo no
Brasil, resta evidenciado a abusividade presente nas propagandas das indústrias
tabagistas, as quais ludibriaram os consumidores de cigarro ao longo dos anos,
acarretando em vício e prejuízos na área da saúde.
Assim, a presente pesquisa traz a reflexão a respeito de diversas questões,tais
como o livre arbítrio em face da potencial dependência causada pela nicotina, sendo
que o estudo realizou-se através de obras doutrinárias, bem como através de dados
científicos e jurisprudência. Demonstrou-se, portanto, o dever de indenizar com base
nos pressupostos apresentados nas demandas de responsabilidade civil das indústrias
tabagistas, afinal, ainda que seja originalmente lícito a produção e comercialização de
cigarros no Brasil, tal ato foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes, consoante aos diversos danos
à saúde dos consumidores.
Não obstante, restou explicitado, através dos argumentos apresentados no
decorrer do trabalho, que se aplica a responsabilidade objetiva sobre as indústrias
tabagistas, não necessitando-se comprovar dolo ou culpa. E ainda, o dever de informar
também serve de fundamento para a responsabilidade do fornecedor, cuja violação
pode levá-lo a ter que responder pelos riscos inerentes pelo defeito de informação ou
de comercialização, que envolve a apresentação, a publicidade e a informação
inadequada a respeito da sua nocividade ou periculosidade.
Ademais, embora anteriormente predominasse o posicionamento do Poder
Judiciário favorável às teses da indústria tabagista, o primeiro caso de procedência
nas tais demandas chegou trazendo mudanças no âmbito da responsabilidade civil em
defesa dos que sofreram prejuízos advindos do vício do tabagismo.
27
5. REFERÊNCIAS

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