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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo

A LÍNGUA NACIONAL COMO AFIRMAÇÃO DA CULTURA


NACIONAL NO EXTERIOR: O CASO DA FRANCOFONIA

DIEGO BARBOSA DA SILVA

RESUMO:

Com o surgimento dos Estados nacionais, a língua e a cultura


passam a ser questões de Estado, que através do planejamento lin-
güístico ou gestão in vitro (CALVET, 2007) irá construir uma língua
nacional, que levará consigo a cultura do grupo.
Nossa apresentação tem como objetivo discutir, a partir das
leis e ações estatais, a existência de um direito lingüístico do Estado
frente ao direito do falante, sobretudo no ensino e difusão da língua e
cultura nacionais no exterior.
O mundo globalizado em que vivemos hoje, contrasta com a
necessidade de preservar a identidade e a língua nacional frente ao
crescimento da uniformidade cultural e ao avanço da língua inglesa.
Por isso surgem políticas lingüísticas, através de associações que
reúnem países que compartilham uma mesma língua, como a franco-
fonia e a lusofonia.

Com o surgimento dos Estados Nacionais, a língua e o aspecto


cultural, tornam-se questão de Estado, muitas vezes na busca da a-
firmação de uma identidade nacional em contraposição às demais
nações. Torna-se necessária para isso uma normatização da língua.
Até mesmo para fins burocráticos, como emitir documentos e produ-
zir leis era preciso um modelo de língua (BAGNO, 2008). A língua
deixa de ser apenas expressão cultural de um grupo, com vida e mo-
dificação cultural, passa a se submeter aos interesses do Estado e
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conseqüentemente ao grupo dominante que controla o mesmo Esta-


do.
No Brasil, este grupo criou um padrão lingüístico fruto do nos-
so processo colonial. Hannah Arendt diz que a sociedade da nação no
mundo moderno é “aquele domínio curiosamente híbrido onde os
interesses privados assumem significação pública” (BHABHA,
1997). A língua torna-se uma arma seja na manutenção desse grupo
no poder e controle, ou na consolidação da nação, da identidade na-
cional, frente ao imperialismo de outras nações. Bourdieu diz que é
no processo de constituição do Estado que se criam as condições da
constituição de um mercado lingüístico unificado e dominado pela
língua oficial (BOURDIEU, 1996).
Podemos observar adiante como alguns estudiosos do século
XX viam a relação língua-Estado. O escritor francês de idioma pro-
vençal, prêmio Nobel de Literatura em 1904 e defensor das línguas
regionais francesas, Frédéric Mistral dizia que “a língua é o mais
poderoso instrumento de conquista, porquanto permite impor idéias e
valores sem contestação” e o geógrafo francês Vidal de La Blache,
nas vésperas da I Guerra Mundial afirmava “o papel de um país no
mundo se mede pelo número de indivíduos que falam sua língua”.
Com essas falas podemos notar a importância dada à língua no
processo de colonização e no imperialismo, sobretudo de nações
européias nos demais continentes. Esse imperialismo teve como con-
seqüência a adoção de idiomas europeus como línguas nacionais de
países africanos e asiáticos, mesmo após o surgimento de movimen-

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tos nacionalistas de independência após a II Guerra Mundial. Em


muitos desses países, a estrutura do Estado foi construída pelos colo-
nizadores e seria custoso modificá-la.
O Estado surge buscando a obediência de seus indivíduos e se
apresenta como meio de consolidação e concretização do futuro das
nações, um futuro sem limites, do povo e da cultura e a garantia de
sua continuidade (BAUMAN, 2005).
A nação, como dizia Ernest Renan, é um plebiscito diário, um
eterno poder de exclusão, frente a um poder de pertencimento. Resul-
tado de um longo passado de esforços, a nação é um desejo de viver
junto, vontade de continuar valer a herança que recebemos. A nação
seria incompleta, um projeto a exigir uma vigilância contínua, um
esforço a fim de assegurar que a exigência fosse ouvida e obedecida.
Se não fosse o poder do Estado de segregar, selecionar e classificar,
dificilmente existiria a comunidade nacional. Se o Estado era a con-
cretização do futuro da nação, era também condição para a existência
de uma nação. (Idibidem e RENAN, 1997)
Desse jeito, o Estado, aparentemente através de políticas lin-
güísticas, não exerce apenas o controle da língua, mas com isso, irá
impor alterações que tentarão afetar a cultura do grupo, que serão ou
não em longo prazo absorvidos pelo conjunto de indivíduos.
A política lingüística aplicada por um Estado pode ter como
objetivos desde a fixação de uma escrita para campanha de alfabeti-
zação; enriquecimento do léxico, com busca de vocábulos para subs-
tituir os estrangeirismos; padronização, com a escolha de uma varia-

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ção ou dialeto a se tornar a versão nacional da língua; ou a luta con-


tra influências estrangeiras.
O Estado afirma e confirma uma identidade e conseqüente-
mente uma língua, a língua nacional. Afinal identidade traz seguran-
ça. Dessa forma, as demais identidades são submetidas a sua prote-
ção, ou melhor, controle, o que só endossa a superioridade da identi-
dade nacional. Bourdieu foi ainda mais longe ao afirmar que a língua
oficial que se impõe de maneira imperativa, sendo a única legítima
naquela jurisdição, contribui para reforçar a autoridade que funda-
menta sua dominação. (BOURDIEU, op. cit.)
Para isso, o grupo dominante utilizará instituições estatais, pa-
raestatais ou aliadas ao Estado para promover as alterações necessá-
rias à garantia dos seus interesses, da escola à universidade, do ensi-
no à aprendizagem, das músicas à rua e da imprensa à TV.
O norueguês Einar Haugen, a partir da década de 1960, foi um
dos primeiros lingüistas a estudar as políticas lingüísticas e a propor
as primeiras teorias. Para ele toda política lingüística para ser concre-
tizada deve ser acompanhada do planejamento lingüístico, ou seja, da
aplicação prática da política e acrescenta que é no seio da nação que
se encontram os meios oficiais para desenvolver um planejamento
lingüístico. (CALVET, 2007) Ele introduz os conceitos de planifica-
ção do corpus, isto é, do corpo da língua como o léxico, sintaxe ou
do status, que é o grau de importância que o Estão confere à língua.
Louis-Jean Calvet vai ainda mais longe às afirmações de Hau-
gen e nos mostra que todo planejamento lingüístico passa por uma

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descrição, seguida por uma reflexão feita pelos lingüistas. Agora


caberia aos políticos a decisão de modificar essa situação, atuando
sobre o ambiente lingüístico, na sua presença simbólica, que para ele
é o espaço de manifestação da língua, ou seja, a rua, placas, cartazes,
jornais, escolas.
O lingüista franco-tunisiano denomina o planejamento lingüís-
tico de gestão in vitro da língua, que segundo ele é feita pelos lin-
güistas e concretizada pelos políticos. Essa gestão in vitro irá dife-
renciar da gestão in vivo, que para ele é “feita pelos falantes através
de suas competências lingüísticas e de acordo com suas necessida-
des”. (Idem, 2002)
Calvet advertirá sobre a dificuldade que terá uma gestão in vi-
tro quando não for assimilada pelo falante, ou seja, contrária à gestão
in vivo.

Os instrumentos de planejamento lingüístico aparecem, portanto,


como a tentativa de adaptação e de utilização in vitro de fenôme-
nos que sempre se manifestaram in vivo. E a política lingüística
vê-se então diante, ao mesmo tempo, dos problemas de coerência
entre os objetivos do poder e as soluções intuitivas que são fre-
qüentemente postas em praticas pelo povo, bem como do pro-
blema de certo controle democrático, a fim de não deixar os deci-
sores fazerem o que bem entendam. (CALVET, 2007)

As influências do Estado na língua vão desde o status que ele


dá a tal língua, o caráter de oficial como o neerlandês, o alemão e o
francês na Bélgica ou ao hindi, inglês e mais vinte e um idiomas na
Índia, quanto na interferência do corpus da língua como Atatürk

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promoveu na Turquia na década de 1920, quando consolidou um


idioma turco, de alfabeto latino, tentando se contrapor às fortes influ-
ências árabes e persas no país, ou ainda a lei Toubon e as comissões
ministeriais de terminologia na França, na busca de contrapor a in-
fluência do inglês, sobretudo o domínio do idioma anglo-saxão nos
léxicos tecnológicos e científicos. Ou ainda mais atualmente na difu-
são feita pelos mais variados países do seu idioma nacional para que
atinja um caráter internacional, global, através de iniciativas como as
comunidades francófonas e lusófonas.

A Francofonia

Criada em 1970, após o processo de descolonização, a Organi-


zação Internacional da Francofonia (OIF) tinha como parâmetro a
Commonwealth Britânica, criada em 1931, e sua intenção era além
da simples união de países com passados coloniais comuns. A Co-
munidade Francófona assume na prática um papel para promoção da
língua francesa pelo mundo e mesmo uma defesa frente ao cresci-
mento da importância política da língua inglesa, principalmente após
a perda das Índias e do Canadá pelos franceses para os ingleses1, a
Independência dos Estados Unidos e as novas conquistas territoriais
britânicas na segunda metade do século XIX.

1
A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) foi um conflito internacional entre a
Grã-Bretanha, Prússia, Portugal e aliados contra a França, Áustria, Espa-
nha Rússia e aliados, pela posse de territórios na Europa e pelo controle
comercial e marítimo das colônias nas Índias e na América do Norte.

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A França em pouco menos de dois séculos acompanha o seu


idioma, de amplo aspecto científico, literário e filosófico, que ocupa-
va a preferência como língua estrangeira nos sistemas de ensino de
variados países, reduzir-se a categoria de segundo idioma de alcance
mundial, e como marco simbólico temos o Tratado de Versalhes
(1919), que pôs fim a I Guerra Mundial e também a supremacia do
francês nas questões diplomáticas, sendo o primeiro da Idade Con-
temporânea a ser redigido em outra língua, além da francesa2.
A partir desse novo contexto histórico, surge a proposta de cri-
ação da Organização Internacional da Francofonia, cuja missão, a
respeito da língua francesa, seria:

(...) trabalhar no reforço do francês como instrumento de comu-


nicação e por extensão como língua de comunicação internacio-
nal de ensino e apoio a um dinamismo intelectual, científico e
cultural inovador. Ela agirá em favor do multilinguismo e em
simbiose com as grandes comunidades lingüísticas do mundo. A
nível nacional, a promoção da língua francesa se insere em uma
problemática de convivência do francês com outras línguas par-
ceiras ou internacionais (...). (A OIF) posiciona-se a favor da
manutenção e promoção da diversidade cultural e lingüística.
(Tradução e grifo meus)3
Ao analisarmos a composição da Comunidade Francófona, ve-
remos que o francês é amplamente utilizado como língua materna

2
O presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson (1912-1921) propôs
que o Tratado de Versalhes, além do francês, fosse redigido também em
inglês.
3
Organização Internacional da Francofonia In: http://www.francophonie.
org/oif/missions.cfm , acessado em 5 de setembro de 2008.

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oficial, apenas nos países europeus, França4 e Mônaco e co-oficial na


Suíça e Bélgica, além do Canadá. Nas demais ex-colônias, o francês
foi adotado como oficial pela elite colonial dominante como meio de
afirmação de uma identidade nacional que pudesse manter as diver-
sas etnias unidas sob uma mesma bandeira e também pelo fato de ser
custoso modificar a estrutura do Estado colonial planejado pela ex-
metrópole. Por esses motivos, o francês compete e perde espaço com
o avanço do árabe no Magreb e das línguas africanas e do crioulo na
África Subsaariana e no Caribe.
Além disso, se compararmos a comunidade de língua espanho-
la onde a Espanha detém apenas 10% do número de falantes de espa-
nhol como língua materna5, tornar-se inegável a importância e lide-
rança da França na Comunidade Francófona, já que é responsável
por quase 50% de todos os falantes da Francofonia, o que demonstra
sua forte presença e influência sobre a comunidade.
Como podemos notar mais que uma associação política, a
França utiliza a Comunidade para criar uma idéia de Francofonia,
assumindo um discurso de que a língua francesa estaria presente nos
cinco continentes ou até mesmo nos seis se contarmos as bases fran-
cesas na Antártica e que não estaria diretamente ligada à cultura

4
A França, mesmo após o processo de descolonização, manteve diversos
territórios pelo mundo, com o status de Departamento Ultramarino: Guia-
na Francesa, Reunião, Gua-dalupe e Martinica e Coletividade Ultramarina:
Mayotte, Nova Caledônia, Polinésia Francesa, Saint Pierre et Miquelon,
Terras Austrais e Antárticas Francesas e Wallis et Futuna.
5
Dentro da Comunidade Hispanófona, o México detém cerca de 25% do
número de falantes, enquanto que a Argentina e a Colômbia, 10% cada.

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francesa, como sendo expressão cultural de um único país, mas de


todos os países de língua francesa, destacando a importância de sua
promoção internacional.
A política lingüística do Estado francês a nível mundial, ini-
cia-se séculos atrás com os subsídios que o Estado concedia às enti-
dades religiosas para promoção da cultura e da língua nas suas mis-
sões pelo mundo e ao apoio dado à Aliança Francesa, a partir de
1883. Entretanto, somente a partir do século XIX e mais intensamen-
te no século XX, a política lingüística passa a marcada por uma ne-
cessidade de reação da língua francesa, sobretudo à importância que
o inglês assume no mundo. Alguns bons exemplos disso são os di-
versos decretos a respeito da língua, que criavam comissões de ter-
minologia em cada ministério para a adaptação do francês e criação
de vocabulário adequado, especialmente de palavras de caráter cien-
tífico-tecnológico.
Outro ato estatal que causou muita polêmica foi a lei Toubon
de 19946 que restringia o uso de idiomas estrangeiros, inclusive no
campo privado.
Esta lei causou tantos questionamentos que meses depois, vá-
rios de seus artigos foram declarados inconstitucionais pelo Conselho
Constitucional, por contrariar a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão.

6
Ministère de la Culture et de la Communication In:
http://www.cultu re.gouv.fr/culture/dglf/lois/sommaire_loi.htm, a-
cessado em 10 de setembro de 2008.
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Com essas constatações, eis que surge um problema, a Comu-


nidade Francófona seria mesmo uma reunião de falantes de francês
de todo o mundo, respeitando o multilingüismo ou um instrumento
utilizado para expandir a língua francesa da França pelo mundo glo-
balizado?
Louis-Jean Calvet nos mostra que a França criou em 1945, a
Direção Geral das Relações Culturais e das Obras Francesas no Exte-
rior7, ligado ao Ministério das Relações Exteriores, cuja principal
função seria o ensino do francês no exterior. Ligado a essa está a
figura do adido cultural presente nas representações diplomáticas
francesas pelo mundo, cujo cargo não é preferencialmente exercida
por um diplomata e sim por um universitário (2007, p. 131), que irá
incentivar e financiar a difusão da cultura francesa, através da língua.
Quanto a União Européia, em várias reuniões de cúpula, a
França questionou o excesso de línguas de trabalho, defendendo
apenas as mais faladas na comunidade entre elas o francês; além
disso, insiste para que em toda a União Européia seja obrigatório o
ensino de duas línguas estrangeiras nas escolas, e não apenas o in-
glês.

7
A partir de 1969 passa a denominar Direção Geral dos Assuntos Culturais,
Cientí-ficos e Técnicos, abrangendo novas áreas de conhecimento. Atual-
mente chama-se Direção Geral de Cooperação Internacional e de Desen-
volvimento, que agrega no seu interior a Direção de Cooperação Cultural e
da Língua Francesa e a Direção de Cooperação Científica e Universitária,
a última com a Subdireção de Cooperação Universitária e Formação Pro-
fissional. Dados in http://www.diplomatie.gouv.fr/fr/IMG/pdf/Visio-2008-
8.pdf.

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Dessa forma, percebemos diferentes e às vezes contraditórias


frentes de atuação do governo francês na sua política lingüística a
nível mundial, a Francofonia, como seu discurso multilíngüe para
aqueles países que tem o francês como língua oficial ou mesmo for-
tes ligações históricas com a França, embora muitas vezes um dis-
curso vazio de prática, uma política de incentivo do francês como
língua estrangeira, nos demais países, enquanto que na União Euro-
péia certa restrição ao multilingüismo. Todos esses meios de atuação
seriam exemplos da política francesa expansionista em defesa de sua
cultura e língua. Calvet afirma: que “a França não defende em todos
os lugares os mesmos princípios, porque defende o francês em todo e
qualquer lugar, ainda que não o reconheça em voz alta e mesmo que
nem sempre saiba como fazê-lo”. (CALVET, 2007)
Seguindo o exemplo francófono, em 1996, os países de língua
portuguesa, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-
Bissau, Cabo Verde, Brasil e Portugal8 criaram a Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tem na sua Declaração
Constitutiva como objetivos “a projeção internacional dos valores
culturais dos povos de língua portuguesa, difusão do idioma comum
e incentivar a expansão da língua portuguesa, como instrumento de

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O Timor Leste ingressou na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
em 2002, após o seu processo de independência.

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comunicação e de trabalho nas organizações internacionais”9. Ou


seja, modificar o status que o português apresenta no cenário mundi-
al. Esses países defendem assim um novo papel internacional para a
língua portuguesa, condizente com uma das dez línguas mais falada
no planeta10.
Porém a configuração da CPLP é específica, temos de um lado
a ex-metrópole, com menos de 5% dos falantes de língua portuguesa
e o Brasil, ex-colônia com mais de 80%. Nesse cenário percebemos
uma bipolarização atípica no interior da Lusofonia que irá direcionar
as ações da comunidade, de um lado a importância histórica de Por-
tugal, de outro o poder sócio-econômico do Brasil.
Nosso objetivo com esse artigo não é criticar a existência de
uma política lingüística de defesa ou mesmo promoção da língua,
seja pelo governo francês, português ou qualquer outro, afinal pode-
mos encontrar durante a história diversas intervenções do Estado no
status ou no corpus da língua. Pelo contrário, o que buscamos aqui é
chamar a atenção para uma geopolítica da língua, isto é, uma análise
da língua sob aspectos sócio-culturais, econômicos e políticos em
escala global.
O surgimento de diversas organizações como a Francófona e a
Lusófona traz consigo um sentimento de identidade e união cultural

9
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. In: http://www.cplp.
org/Declaração Constitutiva.aspx?ID=48, acessado em 5 de setembro de
2008.
10
Sítio Etnologue in http://www.ethnologue.com/ , acessado em 10 de se-
tembro de 2008.

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entre os povos criado a partir de um idioma comum. No entanto, não


podemos esquecer que a língua é vista como um bem essencial a toda
comunidade fônica que a compartilha e que essa atuação global de
uma língua pode ter conseqüências fatais às línguas menos expressi-
vas em número de falantes e poder sócio-cultural e econômico.

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