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78 GRAUS DE SABEDORIA

Rachel Pollack
AVISO

À exceção das figuras const ant es no Capítulo 1, e à últ ima figura do Capít ulo 6, que são

esp ecíficas, t odas as demais, assim como suas referências (ex.: ver figura X), foram excluídas por

com odidade m inha.

A grande m aioria delas é do t arô Rider-Wait e. Apenas algum as, que est ão referidas no

t ext o, pert encem a out ro deck (Wirt h, Crow ley, BOTA, Golden Daw n), e est ão em péssim a

im pressão, o que inviabilizaria o t rabalho.

Como elas são m eram ent e ilust rat ivas, já que suas referências farão com que consigam

visualizar o int ento da autora, resolvi deixa-las de fora, assim com o foram excluídas a capa, cont ra-

capa, orelhas e páginas de rost o.

Espero que possam curt ir o t rabalho.


Introdução

ORIGENS DO TARÔ

Aproximadam ent e no meio do século XV, não muit o após t erem aparecido na Europa as

prim eiras referências escrit as a qualquer form a de cart as, um art ist a cham ado Bonifácio Bem bo

pintou um conjunto de cart as sem nom e a sem núm ero para a fam ília Viscont i de M ilão. Essas

pinturas com preendiam o baralho clássico para um jogo it aliano chamado Tarocchi: quat ro

seqüências de quat orze cart as cada, mais vinte a duas cart as m ost rando cenas diferent es e

post eriorment e chamadas t riomffi - em inglês t riumphs ou t rumps (em port uguês, t runfos).

At ualm ent e, dessas vint e a duas figuras m uit as podem ser int erpret adas com o um simples

cat álogo de t ipos sociais m edievais, t ais com o (para lhes dar seus nom es post eriores) " o Papa" ou

" o Imperador" , ou ent ão conceit os m orais comuns na Idade M édia, como " a Roda da Fort una" .

Algum as represent am virt udes, como " Temperança" ou " Força" . Out ras m ost ram cenas religiosas

ou mit ológicas, t ais como os mort os levant ando-se do t úmulo ao som da t rombet a cham ando para

o " Juízo Final" . Exist e at é um a cart a represent ando um a heresia popular, a figura do Papa

feminino, que podemos descrever com o uma piada dirigida à Igreja, com um significado um t ant o

mais profundo do que a m aioria do humor eclesiást ico. No ent ant o, podem os encarar essa pintura

herét ica como profundament e enraizada na cultura popular, a port anto óbvia para qualquer

pessoa que t encione represent ar " t ipos" medievais.

Um a figura, no ent ant o, se d est aca das dem ais por ser bast ant e est ranha. Ela m ost ra um

jovem pendendo de cabeça para baixo, pendurado a um a simples arm ação de m adeira pela perna

esquerda. As m ãos se m ant êm negligent ement e às suas cost as, de m odo a formar um t riângulo,

com a cabeça no ápice, e sua perna direit a est á dobrada at rás do joelho esquerdo, formando o

desenho de um a cruz, ou então do núm ero quat ro. O rosto t em aparência t ranqüila, at é

encant adora. De onde Bem bo ext raiu essa figura? Ela cert am ent e não represent a um crim inoso

pendent e na forca, como alguns artist as m ais t arde admitiram .

A t radição crist ã descreve São Pedro como sendo crucificado de cabeça para baixo,

ost ensivam ent e, de modo a não poder ser dit o que est ava copiando seu Senhor. Na ant iga Edda,
no ent ant o, o deus Odir é descrit o como pendendo na Árvore do M undo, de cabeça pare baixo,

durant e nove dias e noit es, não como um cast igo, m as com o propósito de receber iluminação, o

dom da profecia. M as est a cena m itológica t em origem, por sua vez, na prát ica real dos xam ãs,

homens e mulheres curandeiros, em lugares com o a Sibéria e a Am érica do Nort e. Na iniciação e

t reinament o, os candidatos ao xam anism o são por vezes obrigados a ficar dependurados de

cabeça para baixo, da mesma maneira most rada na cart a de Bembo. Aparent em ent e, invert er a

posição do corpo produz uma espécie de benefício psicológico da mesma forma que a fome ou o

frio ext remo podem produzir visões radiosas. Os alquim ist as - que como as bruxas, eram

possivelm ent e os sobrevivent es da t radição xamanist a na Europa t ambém se dependuravam de

cabeça para baixo, acreditando que elem ent os do esperma vit al para a imort alidade iriam ent ão

fluir para baixo, em direção aos cent ros psíquicos localizados no alt o da cabeça. E ant es m esm o

que o Ocident e com eçasse a encarar com seriedade a ioga, todos conheciam a im agem do iogue

apoiando-se sobre a cabeça.

Desejaria Bem bo sim plesm ent e represent ar um alquimist a? Ent ão por que não usou a

im agem m ais comum, a de um hom em barbudo mexendo um caldeirão ou m isturando produtos

químicos? A pintura int it ulada " O Hom em Dependurado", que apareceu nos baralhos seguint es e

mais t arde t ornou-se fam osa ao ser m encionada por T.S. Eliot em a Terra devast ada, não aparent a

ser nem um alquimist a e nem m esm o um jovem iniciant e em algum a t radição secret a. Seria o

próprio Bem bo um iniciant e? A m aneira especial de cruzar as pernas. um sinal esot érico das

sociedades secret as, sugeriria isso. E se ele Incluiu um a referência a prát icas esot éricas, não

poderiam out ras im agens, superficialm ent e vist as com o um cat álogo de t ipos da sociedade

represent ar, na verdade, um conjunto int eiro de conhecim ent os ocultos? Por que, por exemplo, o

baralho original cont inha vint e e duas cart as, e não, digamos vint e, vint e e uma, ou m esm o vint e e

cinco, se a t odas elas se atribui m ais comument e significado na cult ura ocident al? Foi por acaso,

ou Bem bo desejou (ou talvez out ros de quem Bem bo simplesm ent e copiou) sub-rept iciam ent e

represent ar o significado esot érico relacionado com as vint e a duas let ras do alfabet o hebraico? E,

no ent ant o, se algum a evidência exist e relacionando Bem bo ou a família Visconti a qualquer grupo

do ocultism o. ninguém jam ais provou isso publicam ent e.

Um breve olhar para as correspondências surpreendent es ent re o Tarô e o conjunto do

mist icismo Judaico a conhecim ent o Ocult o, cham ado colet ivament e de Cabala, demonst rara a

maneira pela qual as cart as de Bem bo parecem quase exigir um a int erpret ação esot érica apesar

da falt a de evidência concret a. A Cabala se det ém com m uit a profundidade no simbolismo do

alfabet o hebraico. As let ras est ão relacionadas com os cam inhos da Árvore da Vida e a cada um a

são at ribuídos significados simbólicos part iculares. O alfabet o hebraico cont ém, com o
mencionado, vint e a duas let ras, o m esm o núm ero que os t runfos de Tarocchi. A Cabala t am bém

se aprofunda nas quat ro let ras do nom e impronunciável de Deus, YHVH. Elas represent am os

quat ro mundos da criação, os quat ro elem ent os básicos da ciência m edieval, os quat ro est ágios da

exist ência, os quat ro m ét odos de int erpret ar a Bíblia, e assim por diant e. Exist em quat ro

personagens da cort e em cada um a das quat ro seqüências de Bem bo.

Finalm ent e, a Cabala t rabalha com o núm ero dez - os Dez M andam entos, os dez shephirot h

(est ágios da em anação) - em cada um a das quat ro Árvores da Vida. E as quat ro seqüências cont êm

cart as num eradas de um a dez. Devem os est ranhar, ent ão que os coment adores do Tarô t enham

at ribuído a origem do baralho a uma versão pictórica da Cabala, nada significando para as m assas,

mas alt ament e pot ent e para uma m inoria? E no ent anto, em nenhuma das m ilhares de páginas da

lit erat ura cabalíst ica aparece um a só palavra sobre o Tarô.

Ocultist as t em sust ent ado origens secretas pare as cart as, t ais com o uma grande

conferência de cabalist as e out ros mest res em M arrocos em 1300, m as ninguém jamais produziu

qualquer evidência histórica para t ais alegações. E, o que é mais condenável, os próprios

com entadores do Tarô não m encionam a Cabala at é o século XIX. E, nat uralm ent e, a seqüência de

nomes e números, t ão vit al para suas int erpret ações, veio após as im agens originais.

Se aceit armos a idéia de Carl Jung de arquét ipos básicos espirituais est rut urados na m ent e

humana, poderemos t alvez dizer que Bembo inconscient ement e ext raiu conhecim ent o de font es

secret as, acrescent ando imaginações post eriores para fazer conexões conscient es! E, no ent anto,

t ão exat as e complet as correspondências com o os vint e e dois t runfos, as quat ro cart as da cort e, e

as dez cart as iniciais nas quat ro seqüências, ou a posição e o rost o ext át ico do " Homem

Dependurado", pareceriam at é m esm o um a força t ão pot ent e quant o o Inconscient e Colet ivo.

Durant e anos o Tarocchi foi encarado primordialm ent e como um jogo de cart as, em escala

bem menor, como um art ifício para ler a sort e. Só no século XVIII, um ocultist a chamado Ant oine

Court de Gebelin declarou que o Tarô (como os franceses cham avam o jogo) era o rem anescent e

do Livro de Thoth, criado pelo deus egípcio da magia para t ransm it ir todo o conhecim ent o a seus

discípulos. A idéia de Court de Gebelin parece m ais fant ástica do que real, mas no século XIX um

out ro francês, Alphonse Louis Const ant , conhecido com o Eliphas Lévi, relacionou as cart as com a

Cabala, a desde ent ão as pessoas t êm olhado cada vez m ais profundam ent e para o Tarô,

encont rando cada vez m ais significados, sabedoria, a at é, at ravés de m edit ação a profundo

est udo, iluminação.

Hoje em dia, encaramos o Tarô como uma abert ura, um cam inho para o crescim ent o

pessoal através do conheciment o de nós m esm os e da vida. Para alguns, a quest ão da sua origem
continua sendo uma quest ão vit al; para out ros, só import a que significados t enham sido

acrescent ados às cart as no correr dos anos.

Porque Bem bo na realidade criou um arquét ipo, seja conscient em ent e ou por um inst into

profundo. Além de qualquer sist ema ou de explicações det alhadas, as próprias figuras, alt eradas e

elaboradas no decorrer dos anos por diferent es art ist as, nos fascinam e deliciam . Dessa m aneira,

elas nos at raem para seu mist erioso mundo que, definit ivament e,jam ais pode ser explicado, m as

só experim ent ado.

DIFERENTES VERSÔES DO TARÔ

A m aioria dos Tarôs m odernos diferenciam -se m uit o pouco dos conjuntos de cart as do

século XV. Eles ainda cont êm set ent a e oit o cartas divididas nas quat ro seqüências: Paus, Copas,

Espadas e M oedas ou Pent áculos, cham adas colet ivam ent e de " Arcanos M enores" , e os vint e e

dois t runfos, conhecidos como os " Arcanos M aiores" (a palavra " arcano" significa " conhecim ent o

secret o" ). É verdade que algum as das pinturas foram consideravelm ent e alt eradas, m as cada

versão conserva geralm ent e o mesmo conceit o básico. Por exemplo, exist em diversas versões do

Im perador que variam amplament e, m as todas elas represent am algum a idéia de um im perador.

Em geral, as m udanças t enderam para o m ais simbólico e o m ais míst ico.

Est e livro usa com o sua principal font e o Tarô de Art hur Edw ard Wait e, cujo popular

baralho Rider (que leva o nom e de seu edit or britânico) apareceu em 1910. Wait e foi criticado por

t er mudado algum as das cart as de t runfos, tornando-as diferent es de sua versão consagrada. Por

exemplo, o desenho comum do Sol most ra duas crianças de m ãos dadas em um jardim. Wait e

alt erou isso para um a criança sobre um cavalo, passeando fora de um jardim. Os crít icos alegaram

que Wait e est ava alt erando o significado da cart a de acordo com sua visão pessoal. Isso

provavelm ent e era verdade, já que ele acredit ava com m ais firmeza em suas próprias idéias do

que nas de qualquer out ra pessoa. M as poucos se det iveram a considerar que a prim eira versão

do Sol, a de Bembo, de m odo algum se assem elha à supost a versão " t radicional". Na realidade, ela

parece mais pert o da de Wait e; o desenho mostra uma única e milagrosa criança voando pelos

ares, segurando um globo com a imagem de uma cidade dent ro dele.

A mudança mais not ável que Wait e e sua art ist a, Pamela Colm an Sm ith, fizeram foi

int roduzir um a paisagem em t odas as cart as, inclusive nas cart as numeradas do Arcano M enor.

Virtualment e, t odos os baralhos anteriores, com o t ambém os post eriores, t êm simples padrões

geom ét ricos para as cart as " pip" (ou de início). Por exem plo, o dez de Espadas most ra dez espadas

dispost as em um desenho m uit o sem elhant e ao seu descendent e, o dez de espadas. O baralho
Rider é diferent e. O dez de Espadas de Pam ela Sm ith mostra um hom em deit ado sob um a nuvem

negra, com dez espadas espet adas nas cost as a nas pernas.

Nós realment e não sabem os quem desenhou essas cart as. Teria o próprio Wait e concebido

esses desenhos (com o ele indubit avelm ent e f ez com os Arcanos M aiores), ou t eria simplesm ent e

t ransmit ido a Smith as caract eríst icas e idéias que queria, perm it indo que ela invent asse as

paisagens? O próprio livro de W ait e sobre o Tarô, A chave pict órica para o Tarô, faz na verdade

pouco uso das figuras. Em alguns casos, com o no seis de Espadas, o desenho sugere bem m ais do

que o significado expresso por W ait e, ao passo que em out ros, part icularment e no dois de

Espadas, o desenho quase cont radiz a significação.

Quer t enha sido Wait e ou Sm it h quem projet ou os desenhos, eles t iveram um a influência

muit o fort e sobre os desenhist as post eriores do Tarô. Quase t odos os baralhos com paisagens em

t odas as cart as apóiam -se maciçam ent e nas im agens do baralho Rider.

Wait e chamou seu baralho de " Tarô ret ificado" . Ele insist ia em que seus desenhos

" rest it uíam" o verdadeiro significado das cart as, e ao longo de t odo o seu livro ele despreza a

versão de seus predecessores. Por " ret ificado", muit as pessoas poderão pensar que o fat o de

Wait e t er pertencido a sociedades secret as perm it iu-lhe t er acesso ao Tarô secret o " original".

M ais provavelm ent e, ele sim plesment e quis dizer que seus desenhos davam às cart as seu m ais

profundo significado. Quando alt erou t ão drast icament e a cart a dos Nam orados, por exemplo, ele

o fez porque achava a antiga im agem insignificant e, e considerava a sua, nova, como símbolo de

um a verdade m ais profunda.

Não quero sugerir que as cart as de W ait e sejam sim plesm ent e uma const rução int elect ual,

com o a de um est udioso que m odificasse algum a fala de Ham let de m odo a fazer com que t ivesse

mais significado para ele. Wait e era um míst ico, um ocultist a, e um est udant e de práticas m ágicas

a esot éricas. Ele baseou o seu Tarô em profunda experiência pessoal de iluminação. Acredit ava

que seu Tarô est ava cert o a os out ros errados porque o seu represent ava essa experiência.

Escolhi o baralho Rider com o m inha font e por duas razões. Em primeiro lugar, porque

considero muit as de suas inovações como ext rem am ent e valiosas. A versão de Wait e-Sm it h do

Louco m e parece mais significativa do que qualquer um a das ant eriores. Em segundo lugar, a

mudança revolucionária nos Arcanos M enores parece livrar-nos das fórmulas que por t ant o t em po

dominaram a seqüência de cart as. Ant eriorment e, um a vez que você t ivesse lido e decorado os

significados dados para uma cart a M enor, realm ent e nada podia acrescent ar a ela; a imagem

sugeria m uito pouco. No baralho Rider, podemos deixar a im agem t rabalhar no subconscient e;

podemos t am bém aplicar nossa própria experiên cia a ela. Resum indo, Pamela Sm it h nos deu algo

para int erpret ar.


Escrevi acim a que escolhi o baralho Rider com o m inha font e "prim ordial". M uitos livros

sobre o Tarô usam um baralho exclusivo para ilust rações. Essa aut olimit ação t alvez derive de um

desejo de represent ar o " verdadeiro" Tarô. Pelo fat o de escolher um baralho e não out ro, est amos

realm ent e declarando que um é corret o e o out ro falso. Tal declaração vale m uito para esses

escrit ores, como Aleist er Crow ley ou Paul Fost er Case, que consideram o Tarô um sist em a

sim bólico de conhecim ent o objet ivo. Est e livro, no ent anto, considera as cart as m ais como um

arquét ipo de experiência. Vist o por est e ângulo, nenhum baralho é cert o ou errado, m as

sim plesment e um a ext ensão do arquét ipo. O Tarô é t ant o a soma de diferent es versões ao correr

dos anos, quanto um a ent idade separada de qualquer um a delas. Nos casos onde um a versão

diferent e da de W ait e aprofundar a significação de uma cart a específica, olharemos para am bas as

im agens. Em alguns casos, no Julgam ento, por exemplo, ou na Lua, as diferenças são sut is; em

out ros, como nos Nam orados ou no Louco, a diferença é drást ica. Olhando para diversas versões

da m esm a experiência, nós aum ent am os nossa consciência dessa experiência.

ADIVINHAÇÃO

Hoje em dia, a m aior gam a das pessoas encara o Tarô como um m eio de ler a sort e, ou

" adivinhação". Est ranham ent e, conhecemos m enos historicam ent e sobre est e aspect o das cart as

do que sobre qualquer out ro. A julgar pelas raras referências hist óricas à adivinhação, em

com paração com o jogo, a prát ica só se t omou com um algum t empo depois da int rodução das

próprias cart as. Possivelment e os românicos, ou "ciganos" , encont raram em viagens pela Europa o
jogo de Tarocchi e decidiram usar as cart as para predizer o fut uro. Ou t alvez alguns indivíduos,

isoladam ent e, desenvolveram o conceit o (as prim eiras referências escrit as são int erpret ações

individuais, apesar de poderem t er derivado de algum sist em a ant erior, não escrit o mas de uso

corrent e) e os rom ânicos apoderaram-se dele. Acredit ava-se ant igam ent e que os próprios

rom ânicos haviam t razido as cart as do Egit o. O fat o é que os românicos provavelm ent e vieram da

Índia a chegaram à Espanha bem uns cem anos depois da int rodução das cart as de Tarô na It ália a

na França.

Na seção sobre as leit uras, considerarem os apenas o que a adivinhação faz, e como t al

prát ica abusiva poderia possivelm ent e funcionar. Aqui podem os simplesment e observar que as

pessoas podem , e já o fizeram , prever a sort e co m qualquer coisa - as ent ranhas fum egant es de

anim ais abatidos, desenhos form ados por pássaros at ravés do céu, pedras coloridas, m oedas

jogadas, qualquer coisa. A prática surge do sim ples desejo de saber, com ant ecedência, o que vai

acont ecer, e, de modo m ais sut il, da convicção int erna de que t udo est á relacionado, tudo t em

significado e de que nada acont ece por acaso.

A própria idéia do acaso é relat ivam ent e m oderna. Ela desenvolveu-se a part ir do dogm a

de que causa a efeit o são a única conexão válida ent re os dois acont ecim entos. Acont ecimentos

sem essa relação lógica são aleat órios, ist o é, sem significado. Ant eriorm ent e, no ent ant o, as

pessoas p ensaram em t ermos de "correspondências" . Acont ecim entos ou padrões em uma área

da exist ência correspondiam a padrões em out ras áreas. O desenho do zodíaco corresponde ao

padrão da vida de uma pessoa. O desenho formado pelas folhas de chá no fundo de um a xícara

corresponde ao result ado de um a bat alha. Tudo é relacionado. Est a idéia sempre t eve seus

adeptos, e recent em ent e at é alguns cient ist as, impressionados pela m aneira com o

acont eciment os ocorrem em séries (com o uma "seqüência de m á sort e" ), começaram a encarar

ist o seriam ent e.

Se podemos usar qualquer coisa para predizer a sort e, por que usar o Tarô? A respost a é

que qualquer sist ema nos dirá alguma coisa; o valor desse conhecim ento depende da sabedoria

inerent e ao sist em a. Porque as im agens do Tarô com port am , por si sós, um a profunda

significação, os padrões que elas form am durant e a leit ura podem ensinar-nos m uit a coisa sobre

nós m esm os e a vida em geral. Infelizm ent e, a m aior part e dos adivinhos no decorrer dos anos

ignorou esses significados m ais profundos, preferindo fórm ulas simples (" um hom em m oreno",

" alguém dispost o a ajudar o consulent e" ), facilment e int erpret adas a rapidam ent e assimiladas

pelo client e.

Os significados das fórmulas são m uit as vezes cont radit órios e t ambém obt usos, sem

indicações de como escolher ent re eles. Est a sit uação é especialment e verdadeira com relação aos
Arcanos M enores, que são a maior part e do baralho. Est e assunt o não foi t rat ado em quase

nenhum t rabalho sobre o Tarô. A maior part e dos est udos sérios, aqueles que t rat am dos

profundos significados do Arcano M aior, ou não mencionam as cart as M enores, ou simplesm ent e

int roduzem no final um conjunto de fórmulas, com o uma concessão para os leit ores que insist em

em usar o baralho para predizer o fut uro. Até W ait e, como foi m encionado, simplesm ent e dá suas

próprias fórmulas com relação aos not áveis desenhos de Pam ela Sm it h.

Est e livro t rat ará ext ensivam ent e dos conceit os cont idos nas cart as a seu sim bolism o, m as

t am bém t rat ará cuidadosam ent e da aplicação desses conceit os à leit ura do Tarô. M uit os

escrit ores, principalment e Wait e, denegriram a adivinhação como um uso degenerado das cart as.

M as o uso apropriado das leituras pode aum ent ar m uito nossa consciência do significado das

cart as. Uma coisa é est udar o simbolism o de um a cart a em part icular, out ra bem diferent e é

observar essa cart a em combinação com out ras. M uit as vezes t enho vist o leituras específicas

revelarem significados import ant es que não t eriam vindo à t ona de out ra m aneira.

As leit uras t am bém nos ensinam um a lição geral, a m uito import ant e. De um m odo que

nenhum a explicação pode igualar, elas dem onst ram que nenhum a cart a, nenhum enfoque da

vida, é bom ou m au a não ser no cont ext o do mom ent o.

Finalm ent e, int erpret ar as leit uras dá a cada pessoa um a oport unidade de renovar seu

sent im ent o inst intivo diant e das próprias imagens. Todo o simbolismo, t odos os arquét ipos, todas

as explicações dadas nest e ou em qualquer out ro livro só podem preparar a pessoa para olhar

um a im agem a dizer: "Est a cart a me diz..."

CAPÍTULO 1

O Padrão das Quatro Cart as

UNIDADE E DUALIDADE

Ao longo de sua longa hist ória, os Arcanos M aiores at raíram um grande núm ero de

int erpret ações. Hoje em dia t endemos a encarar os t runfos como um processo psicológico,

processo que nos most ra passando por diferent es est ágios da exist ência at é at ingirm os um est ado

de pleno desenvolviment o; podem os descrever est e est ado, por enquanto, como um a unidade
com o mundo que nos cerca, ou talvez como uma libert ação da fraqueza, da confusão e do m edo.

Os Arcanos complet os descrevem est e processo em det alhe, mas para conseguir um a

com preensão dele como um t odo, precisam os apenas olhar para quat ro cart as; quat ro arquét ipos

básicos dispostos em um padrão gráfico de evolução a consciência espiritual.


1
Se você t iver seu próprio jogo das cart as de Tarô Rider , ret ire o Louco, o M ago, a Grande

Sacerdot isa e o M undo, e coloque-os segundo um desenho de losango, como se vê na próxim a

página. Olhe para as cart as por algum t em po. Not e que enquanto t anto o Louco como o M undo

most ram figuras alegres, dançando, o M ago e a Grande Sacerdot isa est ão est acionários e imóveis

em suas posições. Se você olhar o rest ant e dos Arcanos M aiores, not ará que t odos os t runfos,

excet o o 0 e o 21, são desenhados como se est ivessem posando para uma fot ografia em vez de,

digamos, est arem num film e em moviment o. Eles se apresent am como os est ados fixos da

exist ência.

M as exist e uma diferença ent re os dois dançarinos. O Louco avança para a frent e

ricam ent e vest ido; a figura do M undo est á nua. O Louco parece est ar prest es a salt ar sobre o

mundo que fica em baixo, de algum lugar alto a dist ant e; o M undo, paradoxalm ent e, aparece fora

do universo mat erial, com a Dançarina suspensa dent ro de um a coroa m ágica de vitória.

Not e t am bém os números das quat ro cart as. O zero não é est rit am ent e um número, m as

represent a a ausência de um núm ero específico, e em conseqüência podem os dizer que ele

1
Em outros baralhos, particularmente nos anteriores ao de Waite, o louco aparece muito
diferente do que é mostrado aqui. O capítulo sobre o simbolismo do louco (pág. 33)
tratará desta tradição alternativa.1
cont ém todos os núm eros em si. Ele sim boliza a pot encialidade infinit a. Todas as coisas cont inuam

possíveis porque nenhuma forma definida foi tomada. 1 e 2 são os prim eiros números genuínos, a

prim eira realidade, novament e, um est ado fixo. Eles form am os arquét ipos "par" a " ímpar" , a

port anto represent am t odos os opost os, m acho a fêm ea, luz e escuridão, passivo a at ivo, et c. M as

o 21 combina esses dois números num a única figura.

Observe suas posições. O M ago ergue um a varinha mágica para o céu. Além das idéias de

espírit o e unidade, a vara fálica simboliza a virilidade. A Grande Sacerdot isa sent a-se ent re duas

colunas, um símbolo vaginal e t am bém sím bolo da dualidade. Essas duas colunas aparecem

repet idas vezes nos Arcanos M aiores, em lugares tão óbvios como o t emplo de Hierofant e, e de

form as mais sut is, com o os dois nam orados na cart a 6, ou as duas esfinges at reladas à Carruagem.

M as agora observe o M undo. A dançarina, uma figura feminina (apesar de ser represent ada em

alguns baralhos como um hermafrodita), segura duas varas mágicas, um a em cada m ão. O

masculino e o fem inino são unificados, e m ais, suas qualidades separadas est ão subordinadas à

sensação mais elevada de liberdade e alegria, m ost radas na m aneira leve com que a dançarina

segura esses dois poderosos símbolos.

Clarament e, port anto, enquanto a linha horizont al - o M ago e a Grande Sacerdot isa -

most ra uma dualidade de opostos, a linha vert ical, 0 e 21, most ra um a unidade, o Louco sendo

um a espécie de est ado perfeit o ant ecedendo a dualidade, e o M undo perm itindo -nos vislumbrar o

sent im ent o de euforia pela liberdade que seria possível se pudéssem os reconciliar os opostos

ent errados em nossa psiquê.

O Tarô, como m uit os sist emas de pensam ent o, na verdade com o muit as mit ologias,

sim boliza a dualidade com o a separação ent re o m asculino e o feminino. Os cabalist as

acredit avam que Adão era originalment e hermafrodit a, e que Eva apenas t ornou-se separada dele

em conseqüência da Queda. Na maior part e das culturas, em maior ou m enor grau, homens e

mulheres vêem -se a si mesmos com o m uito dist int os, quase como sociedades separadas. Hoje em

dia, muit as pessoas pensam que cada indivíduo possui qualidades, t ant o masculinas quant o

femininas, m as antigam ent e t al idéia só era encont rada em dout rinas esot éricas de unificação.

Se represent amos a dualidade dram at icam ent e com o m asculino e fem inino, ou pret o a

branco, t ambém experim ent am os divisões mais sut is em nossas vidas comuns, especialm ent e

ent re nossas esperanças, o que im aginamos com o possível, e a realidade do que conseguim os.

Com muita freqüência as ações que em preendem os não result am na sat isfação das esperanças

que deposit amos nelas. O casam ent o proporciona menos do que a felicidade t ot al esperada, o

em prego ou carreira acarret am m ais frust rações do que realizações. M uitos art ist as dizem que as

pinturas realizadas nas t elas nunca são a expressão do que eles imaginaram ; eles nunca
conseguem exprim ir o que realm ent e desejariam exprim ir. De alguma form a, a realidade da vida

fica sempre aquém do seu pot encial. Profundament e conscient es disso, m uit as pessoas sofrem

agonias diant e de qualquer decisão, não importando se é pequena ou grande, porque elas não

podem aceitar a idéia de que, um a vez t om ada um a at itude em um a direção, perderam a chance

de it em quaisquer out ras direções ant eriorm ent e abert as para elas. Elas não podem aceit ar as

limit ações de ação no mundo real.

A separação ent re a pot encialidade e a realidade é vist a algum as vezes com o a separação

ent re a m ent e e o corpo. Nós sent im os que nossos pensam ent os e em oções são algo distint o de

nossa presença física no mundo. A ment e é ilimit ada, capaz de ir a qualquer ponto do universo,

andar para a frent e e para t rás no t em po. O corpo é fraco, sujeit o à fom e, ao cansaço, à doença.

Tent ando resolver essa separação, as pessoas chegaram a ext rem os filosóficos. Os behaviorist as

alegaram que a " m ent e" não exist e; apenas o corpo e os hábitos que ele desenvolve são reais. No

out ro ext rem o, m uitos m íst icos sent iram o corpo como um a ilusão criada por nossa com preensão

limit ada. A t radição crist ã define a " alm a" com o o verdadeiro e im ort al " ser" , exist ent e ant es e

depois do corpo que o cont ém . E muit as religiões e seit as, como os gnóst icos e alguns cabalist as,

consideram o corpo com o um a prisão, criada pelos pecados ou erros de nossos ancest rais

desaparecidos.

Na font e de t odas essas dualidades, sent im os que não nos conhecemos a nós m esm os.

Sent imos que bem no fundo nossa verdadeira natureza é algo mais fort e, mais livre, possuidora de

maior sabedoria e poder; ou ent ão objet o de violent as paixões e furiosos desejos anim ais. De

qualquer m aneira, " sabemos" que esse verdadeiro eu se esconde ou t alvez perm aneça ent errado

profundament e dent ro de nossas personalidades norm ais, socialm ent e rest rit as. M as com o

farem os para at ingi-lo? Admitindo que o eu essencial seja um objet o de beleza a poder, como

fazer para liberá-lo?

As disciplinas a que cham amos ciências ocult as iniciam-se com um a fort e consciência

dessas separações e limit ações. Desse ponto, no ent anto, elas evoluem para um a out ra idéia, de

que exist e um a chave, ou um plano, para junt ar t odas as coisas, para unificar nossas vidas com

nossas esperanças, como liberam os nossa força lat ent e e nossa sabedoria. As pessoas

freqüent ement e confundem os propósitos das disciplinas espirituais. M uitos pensam que o Tarô é

para predizer a sort e, que os alquim ist as desejam ficar ricos t ransform ando chumbo em ouro, que

os cabalist as lançam encant am ent os pronunciando palavras secret as, e assim por diant e. Na

realidade, essas disciplinas se dirigem para uma unificação psicológica. O " m et al de baixo valor"

que o alquimist a deseja t ransformar em ouro é ele m esm o. Aceit ando a dout rina de que caímos

de um est ado perfeit o para um limit ado, o ocult ist a não acredit a que devamos esperar
sim plesment e em passividade por algum a futura redenção efet uada por um agent e ext erno. Pelo

cont rário, ele, ou ela, acredit a ser nossa responsabilidade efet uar essa redenção encont rando a

chave para a unidade.

O Tarô descreve uma versão dessa "chave" . Ele não é a chave, da mesma m aneira que não

é realm ent e uma dout rina secret a. Ele represent a um processo, a um a das coisas que nos ensina é

que com et em os um erro quando admitim os que a unificação vem at ravés de um a simples chave

ou fórmula. Ao cont rário, ela vem at ravés do crescim ent o e da m aior consciência enquanto

cam inhamos passo a passo pelos vint e e um est ágios dos Arcanos M aiores.

O Louco represent a a verdadeira inocência, uma espécie de est ado perfeit o de alegria e

liberdade, um sent im ento de unificação com o espírit o da vida de t odos os t empos; em out ras

palavras, o ser " imort al" que sent im os t er ficado aprisionado nas confusões a concessõ es do

mundo comum. Talvez esse ser radiant e jamais t enha exist ido. De alguma m aneira t em os a

int uição dele com o algum a coisa perdida. Virtualment e, t odas as culturas desenvolveram o m ito

de um a Queda de um paraíso primitivo.

" Inocência" é um a palavra freqüent ement e mal ent endida. Ela não significa "sem culpa" e

sim um a liberdade e um a complet a abert ura para a vida, um a complet a falt a de m edo que deriva

de um a fé t ot al na vida e em seu próprio eu inst intivo. Inocência não significa " assexuado", com o

cert as pessoas pensam . É a sexualidade expressa sem medo, sem culpa, sem cumplicidade e

desonest idade. E a sexualidade expressa espont ânea e livrem ent e, com o expressão do amor e do

êxt ase da vida.

O Louco t raz o núm ero 0 porque t odas as coisas são possíveis para a pessoa que est á

sem pre pront a a seguir em qualquer direção. Ele não pert ence a nenhum lugar específico; ele não

é fixo com o as out ras cart as. Sua inocência faz dele um a pessoa sem um passado, e port anto sem

um futuro definido. A todo inst ant e ele é um novo ponto de partida. Na num eração arábica, o

número 0 é represent ado na form a de um ovo, para indicar que t odas as coisas se originam dele.

Originalm ent e o zero era escrit o como um ponto; na t radição herm ét ica e cabalíst ica, o universo

em ergia de um único ponto de luz. E Deus na Cabala é comument e descrit o com o " nada" porque

descrever Deus com o uma coisa seria limit á-lo a algum est ado fixo e finit o. Os com ent adores de

Tarô que discut em se o Louco deveria ser colocado ant es, depois, ou em algum lugar ent re as

out ras cart as, parecem não ent ender o pont o principal. O Louco é movimento, mudança, o

const ant e salto at ravés da vida.

Para o Louco não exist e diferença ent re possibilidade a realidade. Zero significa um vazio

t ot al de esperanças e medos, e o Louco nada espera, nada planeja. Ele reage inst ant aneament e à

sit uação im ediat a.


Out ras pessoas adm it irão sua complet a espont aneidade. Nada é calculado, nada é

escondido. Ele não faz isso deliberadam ent e, como alguém decidindo conscient ement e ser

com plet am ent e honest o com um amigo ou um am ant e. O Louco dá a sua honest idade e seu am or

naturalm ent e, para qualquer um, sem sequer pensar nisso.

Falamos do Louco com o "ele" e da dançarina do M undo como " ela" devido à sua aparência

nos desenhos, m as am bos podem ser t ant o um hom em quant o um a m ulher sem que realm ent e

haja um a m udança. Da m esm a form a que o Louco não sent e um a separação do mundo físico,

assim ele ou ela não sent em nenhum isolamento do " sexo opost o" . O Louco e a Dançarina são

hermafrodit as psíquicos, expressando sua complet a hum anidade em t odos os t empos, por suas

próprias naturezas.

Agora olhe novam ent e para o padrão das quat ro cart as. Repare como o Louco divide o

M ago e a Grande Sacerdot isa, que precisam ser t razidos de volt a novam ent e para form ar o

M undo. As duas cart as represent am a divisão da inocência do Louco na ilusão dos opost os. O

M undo nos m ost ra uma unidade rest aurada, mas uma unidade mais elevada a m ais profunda

conseguida at ravés do crescim ent o delineado nas out ras 18 cart as. O Louco é inocência, m as o

M undo é sabedoria.

INOCÊNCIA E LIBERDADE

O Louco nos ensina que a vida é sim plesm ent e uma cont ínua dança de experiência. M as a

maioria de nós não consegue mant er nem por breves períodos t al espontaneidade e liberdade.

Devido aos m edos, condicionam ent os e simplesment e aos muit os problem as reais da vida diária,

necessariam ent e permit im os aos nossos egos isolar-nos da experiência. No ent anto, em nosso

ínt imo sent imos indist int ament e a possibilidade de liberdade, e, port anto, invocam os est e

sent im ent o vago de perda, uma "queda" da inocência. Uma vez perdida est a inocência, no

ent anto, não podem os sim plesm ent e ascender ao nível do Louco. Em vez disso, precisam os lut ar e

aprender, at ravés da m at uridade, da descobert a de nós m esm os a da consciência espirit ual, at é

at ingirm os a m aior liberdade do M undo.

O M ago represent a a ação. A Grande Sacerdot isa, a passividade, o M ago, masculinidade, a

Grande Sacerdot isa, fem inilidade. O M ago, consciência, a Grande Sacerdot isa, inconsciência.

Por "consciência" não queremos dizer o conheciment o profundo do M undo, mas a fort e,

em bora limit ada, consciência do ego como é criado em um universo ext erno de lim it ações a

fórm ulas. Essa descrição não t enciona denegrir o u diminuir a força criat iva do M ago. Que maior

criat ividade pode exist ir do que dar form a ao caos da experiência? É o M ago quem dá à vida seu
significado e seu objet ivo. Curandeiros, art ist as e ocultist as, todos concent raram -se no M ago

com o sua carta prot et ora. No ent anto, seu poder represent a um isolam ent o da liberdade do

Louco ou da com preensão do M undo.

Da mesma m aneira, a Grande Sacerdot isa indica, em sua inconsciência, um est ado muito

profundo de consciência inst intiva. E no ent anto, seu conhecim ent o íntimo não pert ence àquele

cent ro radiant e do nada que perm it e ao Louco agir com t ant a liberdade.

A Grande Sacerdot isa represent a o arquét ipo da verdade int erior, mas com o est a verdade

é inconscient e, inexprim ível, ela só pode m ant ê-la at ravés de um a t ot al passividade. Essa sit uação

most ra-se na vida de diversas maneiras. Todos nós carregam os dent ro de nós um sent im ento

confuso de quem som os, de um ser genuíno jam ais vist o por out ras pessoas, im possível de

explicar. M as as m ulheres e os homens que se at iram em compet ições, carreiras,

responsabilidades, sem se esforçarem ao mesmo t empo para aument ar o seu conhecim ento

próprio, freqüent em ent e descobrem , em algum ponto no t em po, que perderam o sent im ent o de

quem são, e do que um a vez desejaram na vida. Diret am ent e opost os a est as pessoas, os m onges

budist as ou as freiras ret iram -se do m undo porque o m ais leve envolvim ento os dist rai do cent ro

de suas m edit ações.

Tant o o M ago quant o a Grande Sacerdotisa exibem um a pureza de arquét ipos. De cert a

maneira, eles não perderam o esplendor do Louco, sim plesm ent e dividiram -no em luz e sombras.

Na separação t radicional das religiões do Oest e e do Lest e, o M ago represent a o Oest e, com sua

ênfase em ação a salvação hist óricas, a Grande Sacerdot isa, o Lest e, o cam inho de separação ent re

mundo a t em po. No ent ant o, os que se aprofundaram m ais em am bas as t radições com binarão

esses elem ent os.

A Grande Sacerdot isa sent a-se ent re os pilares de luz a som bra. Embora ela própria

sim bolize o lado passivo, escuro, sua intuição pode encont rar um equilíbrio ent re os dois. Isso é

menos paradoxal do que parece. Se sent irm os nossas vidas com o plenas de opostos que não

podemos resolver, podem os reagir t ant o de um m odo como de out ro. Nós podem os avançar para

t rás ou para frent e, indo de um ext remo a out ro, ou podem os não fazer absolut am ent e nada.

Sent ar no m eio, não at raídos por qualquer direção, m as passivament e, perm it indo que os opostos

continuem à nossa volt a. A não ser, é claro, que isso t ambém seja um a opção, e event ualm ent e

perdemos aquele equilíbrio e aquele conhecim ent o int erior simplesment e porque a vida cont inua

ao redor de nós.

Na coleção de imagens cabalísticas, a Grande Sacerdot isa represent a o Pilar da Harmonia,

um a força que reconcilia os opost os Pilares da M isericórdia e do Julgam ento. Ela se sent a,
port anto, ent re os dois pilares do t emplo. M as sem a habilidade de harm onizar-se com a força

at iva do M ago, o senso de harmonia da Grande Sacerdot isa torna-se disperso.

Como arquét ipos, o M ago e a Grande Sacerdot isa não podem exist ir em nossas vidas m ais

do que o Louco pode. Inevit avelm ent e, mist uram os esses elem ent os (em vez de fundi-los) e

conseqüent em ent e sent imos suas form as menores, com o ação confusa, ou ent ão passividade

insegura e carregada de culpas. Em out ras palavras, a pureza dos dois pólos se perde porque a

vida os confunde.

O propósit o dos Arcanos M aiores é duplo. Ant es de t udo, isolando os elem ent os de nossas

vidas em arquét ipos, eles nos perm it em vê-los em suas formas puras, como aspect os da verdade

psicológica. Em segundo lugar, ajudam -nos a solucionar verdadeiram ent e esses diferent es

elem ent os, para levar-nos passo a passo at ravés dos diferent es est ágios da vida at é at ingirmos a

unidade. Na realidade, t alvez a inocência simbolizada pelo Louco jamais t enha exist ido. De algum a

form a, nós a sent im os como algo perdido. Os Arcanos M aiores nos ensinam como recuperá-la.

CAPÍTULO 2

Visão Geral

AS CARTAS COM O UM A SEQÜÊNCIA

A m aioria dos int érpret es dos Arcanos M aiores t omam um dos seguint es enfoques: ou

consideram as cart as como um a ent idade separada ou encaram -nas como uma seqüência. O

prim eiro enfoque vê cada cart a com o representando diferent es qualidades ou sit uações de

im port ância para o desenvolviment o espirit ual de um a pessoa. A Imperat riz represent a a alm a

glorificada na nat ureza, o Imperador, domínio de si próprio, et c. Est e sist em a considera os

números nas cart as com o part e de sua linguagem sim bólica. O núm ero 1 pert ence ao M ago, não

porque vem em primeiro lugar, mas porque esse número significa idéias - unidade, força de

vont ade - apropriadas ao conceito do M ago.

O segundo enfoque encara os trunfos como um a progressão. O M ago é 1 porque suas

qualidades form am o ponto de partida do padrão de crescim ent o ilust rado nas out ras cartas. A

cart a núm ero 13, digamos, deve est ar nesse exat o pont o, ent re o Hom em Dependurado e a

Tem perança, e em nenhum out ro. Cada novo trunfo se apóia sobre o ant erior a most ra o cam inho

para o próximo.
Em geral, eu segui o segundo m ét odo. Conquanto o simbolismo do número não deva ser

negligenciado, é igualm ent e im port ant e ver onde cada cart a se encaixa no padrão geral.

Comparações com out ros números t ambém podem ajudar-nos a ver t ant o as limit ações quanto as

virt udes de cada cart a. Por exemplo, o núm ero 7, o Carro, é m uit as vezes referido com o " vitória" .

M as que espécie de vit ória? Será a liberação tot al do M undo, ou algo m ais rest rit o, mas ainda de

grande valor? Olhando para a posição da cart a, pode-se responder a est as pergunt as.

Os int érpret es que seguiram est e enfoque geralm ent e procuraram algum lugar para dividir

os t runfos, para mais fácil compreensão. A escolha m ais comum é a Roda da Fort una. Como o

número 10, ela simboliza o t érm ino de um ciclo e o com eço de um out ro. Também , se você

colocar o Louco no com eço, isto dividirá as cart as exat am ent e em dois grupos de onze. M ais

im port ante, a idéia de um a roda que gira simboliza uma mudança de perspect iva, a part ir de um a

relação com coisas ext ernas, com o sucesso e rom ance, para um a abordagem m ais int erior,

ret rat ada em t ais cart as com o a M ort e e a Est rela.

Além da im port ância de encarar os Arcanos M aiores com o duas met ades, cheguei à

conclusão de que os t runfos se dividem at é m ais organicam ent e em t rês part es. Colocando o

Louco à parte, realment e com o uma cat egoria separada por si só (e colocá-t o à part e nos perm it e

ver que ele pode est ar em qualquer lugar e em nenhum lugar), ist o nos dá 21 cart as - t rês grupos

de set e.

O número set e t em uma longa hist ória em sim bolismo: os set e planet as da ast rologia

clássica, set e como um a som a de t rês a quat ro, que são por si sós núm eros arquét ipos, set e pilares

da sabedoria, as set e est ações mais baixas da Árvore da Vida, as sete abert uras na cabeça

humana, os set e chakras e, naturalm ent e, set e dias da sem ana.

Um aspect o part icular do set e relaciona-o diret am ent e ao Tarô. A let ra grega pi significa,

nest e caso, a proporcionalidade que exist e em t odos os círculos ent re a circunferência e o

diâm et ro. Não import a que o círculo seja pequeno ou grande, os dois (a circunferência e o

diâm et ro) obedecerão sempre à m esma proporcionalidade, à m esm a fração, 22/ 7. E os Arcanos

M aiores, junt am ent e com o Louco, atingem o núm ero 22, da m esm a form a que, sem o Louco, são

reduzidos a set e. Tam bém, 22 vezes set e é igual a 154 (154 som a 10, vinculando-o à Roda) a 154

dividido por 2, para os dois Arcanos, dá 77, o Tarô int eiro com o Louco novament e posto de lado.

Como a concepção cabalística de Deus, o ponto é nada, embora todo o círculo irradie dele.

E o núm ero do Louco, 0, t em sido represent ado tanto como um círculo quant o como um pont o.

As melhores razões para a divisão em t rês grupos permanecem dent ro dos próprios

Arcanos M aiores. Prim eiro, observe o simbolism o da pint ura. Olhe para a primeira cart a em cada

linha. O M ago e a Força são am bos obviam ent e cart as de Poder, m as o Diabo t ambém o é. O M ago
e a Força est ão ligados pelo sinal de infinito sobre suas cabeças, enquanto o Diabo carrega um

pent áculo invert ido. Se você olhar para a postura do Diabo, com um braço para cim a a out ro para

baixo, verá que a pintura é de cena form a uma paródia do M ago, com a t ocha apont ando para

baixo em vez da vara apont ando para cima. Em alguns baralhos, a cart a 15 t rás o título de "M ago

Negro" . (Em m uit os baralhos a Just iça, e não a Força é o número 8. Se você olhar para a posição da

figura na Just iça, você not ará um a semelhança ainda mais chegada ao M ago e ao Diabo.) A m esm a

esp écie de correspondências vert icais se aplica por t odo o caminho at ravés de t rês linhas.

AS TRÊS ÁREAS DE EXPERIÊNCIA

A divisão em t rês áreas perm it e-nos ver os Arcanos M aiores com o at uando em t rês áreas

dist intas da experiência. Resum idam ent e, podem os cham á-las: consciência, as preocupações

ext ernas da vida em sociedade; o subconscient e, ou a busca int erior para descobrir quem som os

realm ent e; e o superconscient e, o desenvolvim ent o de uma consciência espirit ual a um a

libert ação de energia arquét ipo. Os t rês níveis não são cat egorias im post as. Eles derivam das

próprias cart as.

A primeira linha, concent rada em assunt os como o amor, relações sociais a educação,

descreverá as principais preocupações da sociedade. De m uit as maneiras, o mundo que vemos

ret rat ado em nossas novelas, film es, escolas, é resumido pelas set e prim eiras cam as dos Arcanos

M aiores. Um a pessoa pode viver e morrer e ser considerada um sucesso por todas as pessoas à

sua volt a, sem jamais ir além do nível do Carro. M uit as pessoas, na realidade, não at ingem

absolut am ent e est e nível.

A moderna psicologia profunda ocupa-se com a segunda linha de t runfos, com seus

sím bolos de um a reclusão sem elhant e à do eremit a na direção de um a conscientização, seguida

de um a M ort e simbólica e renascim ent o. O anjo da Tem perança, ao final, represent a aquela part e

de nós mesmos que descobrimos ser essencialment e real depois que deixamos que as ilusões do

ego, as defesas e os hábitos rígidos do passado se ext ingam.

Finalm ent e, que direm os da últ im a linha? Que pode ir além do encont ro de nosso

verdadeiro eu? Para simplificar, essas set e cart as ilust ram um a confront ação e finalment e um a

unidade com as grandes forças da vida em si. As out ras cart as, vist as ant es como t ão im port ant es,

t ornam -se m eram ent e a preparação para a grande descida na escuridão, a liberação da luz, e a

volt a daquela luz ao mundo iluminado pelo sol da consciência.


Para m uit os leitores, a últim a linha parecerá por demais vaga e fant asiosa. Podemos

chamar a isto assunto " religioso" ou " míst ico", mas at é essas palavras cont inuam difíceis de

com preender.

A imprecisão em nossas m ent es fala m ais sobre nós m esm os e sobre nossa época do que

sobre o assunto. Qualquer sociedade aut om aticament e ensina seu povo, apenas pela linguagem

que usa, a fazer cert as suposições a respeit o do mundo. Exem plos na nossa cultura incluiriam o

valor e a singularidade dos indivíduos, a realidade e a import ância predominant e do amor, a

necessidade de liberdade e just iça social, e, mais com plexo e t ão fort e quanto isso, a

individualidade básica de cada pessoa. " Nascemos sós e m orremos sós." Nossa sociedade,

const ruída sobre os séculos mat erialist as XVIII a XIX, não só m eram ente rejeit a a noção de

" superconsciência" ou " forças universais"; nós, na realidade, não sabemos o que elas significam.

Quando lidam os com a últim a linha dos Arcanos M aiores, ent ão lidamos com uma área que

é embaraçosa para m uit os de nós. Ist o tornará a t arefa de ent ender essas cart as m ais dura - e

t alvez m ais compensadora. Trabalhar com essas imagens ant igas pode proporcionar-nos o

conhecim ent o negligenciado em nossa educação.

CAPÍTULO 3

Os Trunfos Iniciais:

Símbolos a Arquét ipos

O LOUCO

Já vimos o Louco sob um aspect o, a im agem de um espírit o tot alm ent e livre. M as podemos

examiná-lo por um out ro lado - o salto para o mundo arquét ipo dos t runfos.

Im agine-se a si m esmo penet rando em um a paisagem estranha. Um mundo de m agos, de

pessoas dependuradas de cabeça para baixo, a de dançarinos ao ar livre. Você pode ent rar

salt ando de uma elevação, at ravés de um a caverna escura, de um labirinto, ou at é m esm o

penet rando num a toca de coelho à caça de um coelho vit oriano com um relógio de bolso. Seja

qual for o caminho que escolher, você será um louco se fizer isso. Por que perscrut ar o profundo

mundo da ment e quando você pode ficar em segurança no ambient e com um do emprego, do lar a

da família? Herm an M elville, em M oby Dick, advert ia seus leit ores a não darem um passo sequer

fora do caminho com um t raçado pela sociedade. Você se arrisca a não volt ar.
E no ent ant o, para quem est iver dispost o a correr o risco, o salt o pode proporcionar

alegria, avent ura, e, finalment e, para quem t em a coragem de continuar, quando a t erra da

fant asia se t orna m ais apavorant e do que alegre, o salto pode t razer conheciment o, paz e

libert ação. De forma int eressant e, o arquét ipo do Louco aparece m ais na m it ologia do que na

religião est rut urada. Um a igreja inst itucionalizada dificilment e pode est imular as pessoas além dos

limit es das instituições. Em vez disso, as igrejas nos oferecem um abrigo seguro cont ra os t errores

da vida. A mitologia leva diret o ao centro desses t errores, e em qualquer cult ura a paisagem

mit ológica inclui a im agem do ilusionist a empurrando, espicaçando, cut ucando os reis e heróis

sem pre que se desviam do mundo int erior da verdade.

Na lenda do rei Art ur, M erlin aparece não apenas como um feit iceiro a sábio, m as t am bém

com o um ilusionist a. Ele aparece const ant em ent e diant e de Art ur, disfarçado de criança, de

mendigo ou de velho cam ponês. O jovem rei, já seduzido pela imponência de sua elevada posição

social, nunca reconhece M erlin, at é que seus companheiros lhe most ram que ele foi iludido

novament e. M ais import ant e do que as leis ou a est rat égia m ilit ar, é a habilidade de enxergar

at ravés das ilusões. Os m est res t aoíst as eram famosos pelas peças que pregavam em seus

discípulos.

O arquét ipo do Louco at é encont rou sua expressão social, com o o bobo da cort e real.

Todos nós conhecemos a imagem do " louco", t irada do Rei Lear, a quem era permit ido dizer ao rei

verdades que ninguém mais ousaria exprim ir. Hoje em dia, nossos com ediant es e humorist as

gozam , de cert a form a, desse m esm o privilégio.

Em m uitos países, um carnaval anual dá vazão a t odas as loucuras reprim idas durant e o

rest o do ano. O sexo é m ais livre, várias leis são suspensas, as pessoas andam disfarçadas e o Rei

dos Loucos é escolhido para presidir o fest ival. Hoje em dia, na Europa e na América do Nort e, o

dia primeiro de abril continua sendo " O dia do Louco de Abril" , um dia dest inado a t ruques a

t rot es.

A Figura 0 do baralho Rider m ost ra o Louco como foi concebido por Osw ald W irth. Tradição

mais antiga que a de Wait e, ela represent a o arquét ipo como um grot esco andarilho. Essa imagem

t em sido int erpret ada diversam ent e com o a alm a ant es da iluminação, um a criança recém -nascida

ent rando no mundo da experiência e do princípio da anarquia. Elizabet h Haich forneceu-nos um a

int eressant e int erpret ação da grot esca imagem do Louco produzida por Wirth. Colocando-o ent re

o Julgam ent o e o M undo, ela descreve o Louco com o o que o m undo ext erno vê quando est á

diante de alguém que é realment e iluminado. Porque o Louco não segu e suas regras nem

com part ilha de suas fraquezas, ele lhe aparece dessa m aneira feia e dist orcida. Haich descreve a
face do Louco com o um a m áscara, colocada não por ele, mas pelo m undo ext erior. A última cart a,

o M undo, apresent a a m esm a criatura esclarecida, m as vist a por dent ro, quer dizer, por si mesma.

Em alguns baralhos antigos de Tarô, o Louco aparecia com o um bobo da cort e gigant e,

dest acando-se acim a das pessoas ao redor. Seu tít ulo era " o Louco de Deus" . O t erm o foi t am bém

usado para os idiot as, para os loucos inofensivos a para os epilépticos graves, t odos sendo

considerados como est ando em cont at o com uma sabedoria maior, just am ent e por est arem fora

de cont ato com o rest o de nós.

O arquét ipo persist e da m esm a m aneira na moderna mit ologia popular. Por sua fant ást ica

natureza primitiva, os livros côm icos freqüent ement e reflet em os t emas mitológicos m elhor do

que os romances. Em Bat man, o m aior inimigo do herói é chamado de Coringa, uma figura que

não t em passado e que nunca é vist a sem a m aquiagem exót ica do coringa de um baralho de

cart as. O coringa, nat uralm ent e, descende diret ament e do Louco de Tarocchi. A rivalidade ent re

Bat man e o Coringa envia uma clara m ensagem ao leit or: não se revolt e cont ra os valores sociais;

apóie a lei e a ordem . Nos últimos anos, a revist a t em descrit o o Coringa m ais como um insano do

que como um crim inoso. Para a sociedade, o cam inho do Louco, inst into em vez de regras, é um a

perigosa insanidade.

At é agora t emos vist o o Louco com o "o out ro", que nos arranca da com placência com suas

brincadeiras a seus disfarces. Com o o " eu" , ele represent a aquela longa t radição do irm ão ou irm ã

t olos, desprezados pelos irm ãos e irmãs m ais velhos, e no ent ant o capazes de conquist ar a

princesa ou o príncipe por seu espírit o inst intivo e bondade.

Curiosam ent e, a im agem do Louco com o "eu" ocorre m ais em hist órias de fadas do

que em mit os. Encaram os os m it os com o se representassem forças m aiores do que

nós m esm os; o cont o de fadas, m ais sim ples, permit e-nos expressar a nossa própria

loucura.
Como " Boot s" ou " Gluck" no conto de fadas, sempre acompanhados por vários ajudant es

anim ais, em quase t odos os baralhos o Louco caminha com um com panheiro. Em Wait e, a figura é

um cão saltit ant e, em out ros, um gat o, ou at é um crocodilo. O anim al simboliza as forças da

natureza e a part e anim al do homem, t udo em harm onia com o espírito que age a partir do

inst into. Os cães m it ológicos são quase sempre at erradores, como, por exemplo, o Cão do Inferno

caçando alm as perdidas. M as ele é realm ent e o m esm o animal; apenas nossa at itude m uda.

Renegue seu eu secret o e ele se t orna feroz. Obedeça-lhe e ele se t oma m anso.

O louco de Wait e segura um a rosa branca. Rosas sim bolizam paixão, enquanto o branco, a

cor t radicional da pureza, conjugado com a maneira delicada de segurar a flor, indica as paixões

elevadas ao m ais alt o nível. Os gregos viam Eros, o deus do amor, com o um t rapaceiro, que fazia
com que as pessoas m ais convencionais agissem de maneira ridícula. M as aqueles que já

expressam sua loucura não serão desest abilizados pelo amor. Os gregos t am bém falavam de Eros,

de out ra form a, como a força animadora do universo.

O saco às suas costas carrega suas experiências. Ele não as abandona, ele não é

descuidado, m as elas sim plesm ent e não o cont rolam como nossas lem branças e t raum as

freqüent ement e cont rolam nossas vidas. O saco t raz a cabeça de um a águia, símbolo do espírit o

ascendent e. Seu alt o inst int o complet a a t ransform a t oda experiência. A águia é t am bém o

sím bolo de Escorpião elevado a um nível m ais alto, ist o é, a sexualidade elevada ao espírito. Essa

idéia da conexão ent re sexo e espírito volt ará novament e na cart a do Diabo.

Como um vagabundo, o Louco carrega um bast ão no ombro. M as o bast ão é na verdade

um cet ro, sím bolo do poder. O M ago e o condutor do carro t ambém carregam bast ões, m as sem

naturalidade, apert ando-os com força. O Louco e o Dançarino do M undo seguram seus bast ões de

modo t ão casual que quase não os not am os. Que poderia ser mais louco do que t omar um a vara

mágica e usá-la para carregar sua sacola? Podem os im aginar um a hist ória de fadas em que o

irm ão m ais moço louco encont ra um a vara ao lado da est rada e a carrega, não reconhecendo nela

o bast ão perdido de um feit iceiro, e por isso não é dest ruído como seus dois irm ãos mais velhos,

que tent aram em punhá-lo em proveit o próprio.

O bast ão do Louco é pret o; os out ros são brancos. Para o Louco inconscient e, a força do

espírit o permanece sem pre em pot encial, sempre pront a, porque ele não a est á dirigindo

conscient ement e. Tendemos a int erpret ar erroneament e a cor pret a, vendo-a com o um mal, ou a

negação da vida. Em vez disso, o pret o significa todas as coisas sendo possíveis, a infinit a energia

da vida ant es que a consciência t enha traçado quaisquer lim it ações. Quando t ememos o negro ou

a escuridão, t em em os a font e profunda a inconscient e da própria vida.

Como o coringa, o Louco realment e se encaixa em qualquer lugar no baralho, em

com binação com e ent re qualquer das out ras cart as. Ele é a força anim adora que dá vida às

im agens estát icas. Nos Arcanos M aiores, ele se encaixa em qualquer lugar onde haja um a

t ransição difícil. Isso explica sua posição no princípio, onde exist e a t ransição do mundo de t odos

os dias dos Arcanos M enores para o mundo dos arquét ipos. O Louco t ambém nos ajuda a t ranspor

a divisão ent re um a linha e a próxim a, isto é, do Carro para a Força, da Tem perança para o

Demônio. Para atingir o Carro ou a Temperança, é necessário grande esforço a coragem , e sem a

disposição do Louco de salt ar para um novo t errit ório, provavelm ent e pararíamos no pont o que já

at ingim os.
O Louco combina t ambém com cart as de passagem difícil, como a Lua e a M orte (observe o

cam inho sinuoso em cada uma dest as duas), onde nos impele para frent e apesar dos nossos

medos.

Nos Arcanos M enores, o Louco se relaciona em prim eiro lugar com os Cet ros - ação,

pressa, m ovim ent o sem reflexão. M as ele se relaciona da m esm a m aneira com Copas, com sua

ênfase na im aginação e no inst into. O Louco, de fat o, combina est as duas seqüências. M ais t arde

veremos que est a combinação, fogo e água, represent a o caminho da t ransformação.

Finalm ent e, levant a-se a quest ão do lugar do Louco nas leituras divinatórias. Já falei da

im port ância das leituras para uma com preensão m ais complet a das cart as. M ais ainda, elas nos

ajudam a aplicar a sabedoria das cart as às nossas vidas diárias. Nas leituras, o Louco nos fala de

coragem e ot imism o, encorajando-nos a t ermos fé em nós mesmos e na vida. Em épocas difíceis,

quando sofrem os pressão de pessoas à nossa volt a para serm os prát icos, o Louco relem bra-nos

que nosso " eu" int erior pode indicar-nos melhor o que fazer.

M uit as vezes o Louco pode sim bolizar com eço, salt o corajosament e dado em algum a fase

da vida, part icularment e quando o salto é dado sob o impulso de um sent im ento profundo, e não

cuidadosam ent e planejado.

Isso diz respeit o ao Louco em sua posição normal. Precisamos t ambém considerar os

significados " invert idos" , ist o é, quando a maneira com o m isturamos as cart as faz com que o

Louco apareça com os pés para cima. Significados invert idos causam cont rovérsia ent re os

com entadores do Tarô. Quem adot a fórm ulas com o significados, geralment e invert e as fórm ulas,

um mét odo sim plist a que levou diversos int érpret es a abandonarem com plet ament e a idéia dos

significados inversos. M as podem os encarar as inversões com o um aprofundam ent o do significado

da cart a com o um todo. Em geral, uma cart a invert ida indica que as qualidades dessa cart a foram

bloqueadas, distorcidas ou canalizadas em out ra direção.

Quanto ao Louco, uma inversão significa ant es de m ais nada não conseguir seguir seus

inst intos. Pode significar não arriscar-se a aproveit ar um a chance em algum m om ent o crucial, por

medo, ou por depender dem ais de planos e conselhos prát icos de out ros.

Um out ro significado invert ido do Louco inicialm ent e parecerá cont radizer est e que

acabamos de dar. Ousadia, t em eridade, loucos projet os, parecem o opost o da precaução

excessiva. E no ent ant o eles se originam da m esm a fraqueza, uma incapacidade de agir a part ir do

seu ínt imo. A pessoa t em erária sobrepõe uma loucura conscient e ou art ificial à sua vida, não só

porque não confia no seu inconscient e para agir como um guia, m as t ambém porque t em m edo de

não fazer algo.


Est e segundo significado invertido sugere um a out ra dim ensão para o Louco - o

conhecim ent o de que as grandes chances só devem ser aproveit adas no devido t empo. Afinal de

contas, há ocasiões em que a caut ela é necessária, e out ras em que é m elhor não fazer

absolut am ent e nada. O básico que qualquer oráculo nos ensina é que nenhum a ação ou at it ude é

cert a ou errada, excet o em seu próprio cont ext o.

À medida que penet rarm os no Tarô, verem os que est e conceit o de t em po oportuno

permeia as cart as, e é, de fat o, a verdadeira chave para seu uso corret o. No baralho Rider a cart a

que cai exat ament e no m eio das t rês linhas, isto é, Just iça, indica um a respost a adequada.

O M AGO

O M ago em erge muit o diret am ent e do Louco, à sem elhança do ilusionist a-m ágico. Como

foi m encionado ant es, M erlin desempenha ambos os papéis (com o professor e feit iceiro), e

muit os out ros mitos est abelecem a mesma conexão. Os baralhos de Tarô m ais antigos ilust ravam

o t runfo número um com um ilusionist a em vez de um M ago, ou m esm o um malabarist a at irando

bolas coloridas para o ar. Charles W illiam s pintou-o com o um prest idigit ador jogando para o ar as

est relas e os planet as.

A m aioria das m odernas im agens do t runfo seguem o M ago de W ait e, erguendo um a vara

mágica para t razer à realidade a força espirit ual - a energia da vida em sua form a mais criat iva. Ele

segura a varinha cuidadosam ent e, conscient e do poder psíquico que o Louco carregava t ão

descuidadam ent e no ombro. Dest a maneira, o M ago, como o início dos verdadeiros Arcanos

M aiores, represent a consciência, ação a criação. Ele sim boliza a idéia de manifest ação, ist o é,

ext rair algo real das possibilidades da vida. Port ant o, vem os os quat ro em blemas dos Arcanos

M enores colocados à frent e dele sobre um a mesa. Ele não apenas usa o mundo físico para suas

operações m ágicas (os quat ro símbolos são t odos objet os usados pelos mágicos em seus rit uais),

com o t ambém cria o mundo, no sent ido de dar à vida um significado a uma direção.

O M ago perm anece rodeado de flores para lembrar-nos de que o poder em ocional e

criat ivo que sent im os em nossas vidas necessit a t er sua origem na realidade física para que

possamos ext rair dele algum valor. A não ser que façam os algum uso de nossas pot encialidades,

elas na realidade não exist em .

" No com eço, Deus criou o céu e a t erra." A Bíblia com eça no mom ento em que o espírit o desce

para a realidade física. Quanto a nós, no mundo físico, não podem os falar de coisa alguma ant es

desse m om ent o. Ao relacionar o Tarô com o alfabet o hebraico, o Louco freqüent ement e recebe a

prim eira let ra, aleph (aleph não produz nenhum som ; é um silencioso port ador de vogais, a
port anto simboliza o nada. É a prim eira let ra dos Dez M andam ent os). Isto designaria a segunda

let ra hebraica, bet h, com o a prim eira let ra com um som real, para o M ago. Bet h é a primeira let ra

do Gênesis.

Observe a figura do M ago do baralho de Wait e. Ele não est á lançando encant am ent os, ou

conjurando demônios. Simplesm ent e est á parado com uma das mãos levant ada para o céu e a

out ra apont ando para a t erra verde. É um pára-raios. Ao abrir-se para o espírit o, ele o at rai para

dent ro de si, e depois aquela mão abaixada, com o um pára-raios ent errado no chão, conduz a

energia para dent ro da t erra. Para dent ro da realidade.

Vemos na Bíblia, em out ros t ext os religiosos e em experiências religiosas cont emporâneas,

muit as descrições da "descida do espírito" . As pessoas " falam em línguas" em igrejas pent ecost ais,

grit am , bradam e rolam no chão em assem bléias evangélicas. O padre, ao dar a comunhão, vê-se a

si próprio como um " recipiente" ou um canal para o Espírit o Santo. M as podem os ver essa

experiência t ambém em t erm os muito m ais sim ples, não religiosos. As pessoas t rem em de

excit ação nos event os esport ivos. " Est ou t ão excit ado que posso explodir!" Em um novo caso de

am or ou ao com eçar um a nova carreira, sent imos um a força t omar cont a de nós. Você pode, às

vezes, ver pessoas no início de alguma fase im port ant e de suas vidas, est icando e encolhendo as

pernas, quase pulando na cadeira, cheias de algum a energia que não conseguem descarregar. E

escrit ores e art istas, quando seu t rabalho est á indo bem, sent ir-se-ão como canais quase passivos

para um a força semelhant e ao espírito. A palavra " inspiração" originalm ent e significava " cheio de

um sopro divino" e deriva da m esm a raiz que " espírito".

Not e que em t odos est es exemplos, excet o o padre e o art ist a, todos são tomados de

frenesi. O freqüent ador de igreja fanát ico e o adolescent e prest es a explodir durant e uma partida

de fut ebol part ilham o sent im ento de que seu corpo est á dom inado por um poder grande dem ais

para eles. Longe de ser suave, o surt o de energia pode ser quase penoso. A pessoa t om ada de

fervor religioso grit a e pula para conseguir libert ar uma energia insuport ável.

A força da vida que enche o universo não é suave ou am ena. Ela precisa ser descarregada,

assent ada em algum a coisa real, porque nosso eu não se dest ina a cont ê-la, mas só a passá-la

adiant e. Assim , o art ist a não se junt a ao frenesi físico porque est á descarregando essa força na

pintura. Da mesma m aneira, o padre passa a energia para o pão e o vinho.

Nós funcionamos melhor com o um canal para a energia. A não ser que sigam os o cam inho

da Grande Sacerdot isa, ret irando-nos do mundo, vivem os nossas vidas m ais complet am ent e

quando criam os ou somos at ivos. "Criar" não significa apenas art e, m as qualquer at ividade que

produza algum a coisa real e import ant e fora de nós m esm os.
M uit as pessoas experim ent am sent im ent os de poder t ão rarament e que t ent am ret ê-los.

Agindo assim , esperam preservar seus moment os mágicos. M as nós só podem os realm ent e ret er

o poder em nossas vidas descarregando-o cont inuament e. Liberando o poder criat ivo, abrimo-nos

para receber um novo fluxo. No ent ant o, t ent ando ret ê-lo conosco, bloqueam os os canais, e o

sent im ent o de poder, que é na verdade a própria vida, fenece dent ro de nós. O espect ador do

jogo de fut ebol e at é o freqüent ador de igreja fanát ico descobrirão que sua excit ação se foi depois

que t erminou o event o que a despert ou. M as o art esão ou o cient ist a ou o professor - ou o leit or

de Tarô descobrirão que quant o m ais o descarregarem na realidade física, m ais o poder aum ent a.

Quando olham para o M ago, aqueles dent re nós que sent em um vazio ou um t édio em

suas vidas serão at raídos pela vara levant ada em direção ao céu. M as a m ágica real repousa

naquele dedo apont ado para a t erra. Aquela habilidade para criar lhe confere seu t ít ulo. Sua

im agem se origina não apenas do ilusionist a prest idigit ador, m as t am bém do arquét ipo do herói.

Em nossa cult ura seria Promet eu, que t rouxe o fogo celest e para a débil e fria humanidade.

No Ocident e, t endemos a encarar os magos com o m anipuladores. Eles aprendem t écnicas

secret as, ou fazem pact os com Sat ã, com o objet ivo de conquistar poder pessoal. Est a im agem um

t anto decadent e origina-se em part e dos próprios m ágicos, já que eles fazem encant ament os para

descobrir t esouros ent errados, mas vem t ambém da Igreja, que vê os m agos, que t rat am

diret ament e com o espírit o em vez de usar a int erm ediação do sacerdócio oficial, como

com petidores. O Tarô e t odas as ciências ocult as são em cert o sent ido revolucionários, porque nos

ensinam a salvação diret a, nest a vida, at ravés de nossos próprios esforços.

Podemos t er um conceito diferent e do M ago at ravés da imagem do xam ã, ou curandeiro.

Porque nenhum a igreja hierárquica se levant ou para banir os xamãs, eles não foram isolados da

com unidade. Eles prest am serviços com o curandeiros, professores, guias da alma após a mort e.

Como os m agos, os xam ãs est udam e aprendem t écnicas com plicadas. Seu vocabulário mágico é

muit as vezes bem m ais am plo do que o vocabulário cot idiano do povo que os rodeia. Ent ret ant o,

nada de seu conhecim ent o é usado para m anipular o espírit o ou para proveit o próprio. Em vez

disso, o xamã apenas procura tornar-se um canal adequado, t ant o para si mesmo, de maneira a

não ser dom inado, como para a comunidade, de modo a poder servi-la m elhor. Ele conhece o

grande poder que o penet rará em m om ent os de êxt ase e quer t er cert eza de que esse poder não

o dest ruirá, t omando-o sem utilidade para as pessoas à sua volt a.

Como o M ago, o xam ã desenvolveu sua vont ade a ponto de poder dirigir o fogo que t em

dent ro de si. Ao m esm o t em po, ele se m ant ém abert o, permit indo que seu ego se anule sob o

at aque diret o do espírito. O fato de nossos m agos se m ant erem dent ro de um círculo m ágico, para

t er cert eza de que os dem ônios não podem atingi-los, diz algum a coisa sobre nossa cultura.
Podemos aplicar a at it ude do xam ã ao nosso uso do conjunt o do baralho de Tarô.

Est udamos as cart as, aprendem os a linguagem sim bólica e até fórm ulas específicas, com o

propósit o de orient ar os sent imentos que elas despert am em nós. M as não devemos esquecer que

a verdadeira mágica reside nas imagens em si e não nas explicações.

Os significados divinat órios do M ago inferem -se de am bas as mãos, a que recebe o poder e

a que o dirige. A cart a significa ant es de t udo uma consciência de poder em sua vida, de espírito

ou simples excit ação possuindo você. Ela t ambém pode significar, dependendo de sua posição e

de sua reação diant e dela, o poder de algum a outra pessoa afet ando você. Como o Louco, a cart a

diz respeit o a começos, m as aqui aos prim eiros passos reais. Ela pode significar t ant o a inspiração

para começar algum novo projet o ou fase da vida, quanto a excit ação que sust ent ará você durant e

o árduo t rabalho para at ingir seu objet ivo. Para m uit as pessoas, o M ago pode t ransformar-se em

poderoso símbolo pessoal da força criativa at ravés de suas vidas.

Em segundo lugar, o M ago significa força de vont ade; a vont ade unificada e dirigida para

um objet ivo. Ist o indica t er um a grande força, porque t oda sua energia est á canalizada em um a

direção específica. Pessoas que parecem sem pre conseguir o que desejam na vida são quase

sem pre pessoas que sim plesm ent e sabem o que desejam e que podem dirigir a sua energia. O

M ago nos ensina que t anto a força de vont ade com o o sucesso derivam do fat o de se est ar

conscient e do poder acessível a cada um. A m aioria das pessoas raram ent e agem ; em vez disso,

reagem , sendo at iradas de um a experiência a out ra. Agir é dirigir sua força, at ravés da vont ade,

para onde você quiser que ela vá.

O m ago invert ido significa que de algum a form a o fluxo próprio da energia foi

int errom pido ou bloqueado. Ist o pode significar uma fraqueza, uma falt a de vont ade ou um a

confusão de propósitos que leva a nada realizar. O poder exist e, m as não podemos tocá-lo. A cart a

invert ida pode significar a apat ia let árgica que caract eriza a depressão.

O t runfo invert ido t ambém pode significar poder mal empregado, uma pessoa que usa o

seu carát er m uit o fort e para exercer uma influência dest rut iva sobre os out ros. O exem plo m ais

diret o disso seria nat uralment e a agressão psíquica da " magia negra" .

Finalm ent e, o M ago invert ido indica int ranqüilidade m ental, alucinações, medo e,

part icularm ent e, m edo da loucura. Est e problema surge quando a energia, ou o fogo do espírito,

invade um a pessoa que não sabe como dirigi-la para uma realidade ext erna. Se não dirigirm os o

raio para a t erra, ele pode ficar ret ido no corpo e impor-se à nossa consciência, na form a de

ansiedade ou alucinações. Alguém que já t enha passado por um momento de pânico tot al saberá

que a ansiedade ment al aguda é um a experiência t ot alment e física, um sent im ent o de que o
corpo tom ou-se rebelde, como um fogo fora de cont role. A palavra " pânico" significa "possuído

pelo deus Pã" , ele próprio símbolo de forças m ágicas.

Pense novam ent e no pára-raios. Ele não só at rai a faísca, mas a dirige para o solo. Sem essa

conexão com a t erra, o raio queim aria a casa.

Diversos escrit ores fizeram com ent ários sobre o relacionam ento ent re o xam anismo e o

que o Ocident e chama "esquizofrenia" . Freqüent em ent e, os xamãs não são t ão predestinados

com o se pensa. Se, em nossa cult ura, uma pessoa jovem t em visões, alucinações am edront adoras,

nós não sabem os o que fazer com t ais experiências a não ser t ent ar fazer com que parem, por

meio de drogas ou autocont role. M as em out ras culturas, t ais pessoas recebem t reinament o. Não

t encionamos dizer que a loucura não exist e, ou que não é reconhecida nas cult uras arcaicas.

Pode-se dizer que o t reinamento se dest ina à prevenção da loucura, canalizando as experiências

para um a direção produt iva.

Os iniciados aprendem, at ravés do est udo com um xamã reconhecido, e at ravés de

t écnicas físicas, t ais como jejum, a compreender, est rut urar e finalm ent e orient ar est as

experiências visionárias para o serviço da comunidade. O M ago invert ido não deveria ser banido

ou confinado; em vez disso, precisam os encontrar uma maneira de virá-lo corret am ent e para

cima.

A GRANDE SACERDOTISA

Bill But ler , em seu livro O Tarô definit ivo, comentou as font es hist órico-lendárias desse

arquét ipo feminino. No correr da Idade M édia, insist ia-se na hist ória de que uma vez uma m ulher

fora eleit a papa. Durant e anos, disfarçada como homem , essa supost a " papisa Joana" t eria abert o

seu cam inho at ravés da hierarquia da Igreja, chegando à posição m áxim a, apenas para morrer de

part o durant e uma com em oração da Páscoa.

A papisa Joana foi, muit o provavelm ent e, um a lenda; a papisa Viscont i foi real. Ao final do

século XIII, um grupo italiano chamado os guglielmit as acredit ava que sua fundadora, Guglielma da

Boêm ia, que m orreu em 1281, ressuscit aria em 1300 e iniciaria um a nova era, durant e a qual as

mulheres seriam papas. Adiant ando-se a isso, elegeram um a mulher chamada M anfreda Viscont i

com o a prim eira papisa. A Igreja acabou de form a vívida com essa heresia, queim ando a irm ã

M anfreda em 1300, no mesmo ano da esperada nova era. Uns cem anos mais t arde. a m esm a

família Visconti encom endou o prim eiro jogo de camas de Tarô, t al como as conhecemos. Ent re

esses t runfos sem nom e nem número aparece a figura de uma mulher, m ais t arde int it ulada " A

Papisa" .
A denominação persist iu at é o século XIII, quando Court de Gebelin, acredit ando que o

Tarô t inha se originado na religião de Ísis do am igo Egit o, mudou -lhe o nome para Grande

Sacerdot isa. Hoje em dia am bos os nom es exist em (como também o de " Ísis Velada" ), e a im agem

da cart a de Wait e provém diret am ent e das roupagens sim bólicas da sacerdotisa de Ísis,

part icularm ent e a coroa, que represent a as t rês fases da lua.

A lenda da papisa Joana e a de M anfreda Viscont i não são sim plesm ente curiosidades

históricas. Elas ilustram um a evolução da m aior im port ância na Idade M édia, a reint rodução da

mulher e dos princípios femininos na religião e na cosmologia. As im agens e os conceit os

associados ao papel m asculino tinham dom inado t anto a Igreja quant o a religião judaica durant e

séculos. Em conseqüência, as pessoas com uns sentiam a religião dos padres e dos rabinos como

algo rem ot o, inflexível e inacessível, com sua ênfase em p ecado, julgamento e cast igo. As pessoas

queriam at ribut os como m isericórdia e am or. E elas ident ificavam essas qualidades com as

mulheres. Com o uma mãe prot ege seu filho da severidade algo dist ant e do pai, um a divindade

feminina iria supost ament e int erceder pelos patét icos pecadores diant e do julgam ent o inflexível

do Pai.

É int eressant e not ar que, de muit as m aneiras, a Igreja via Crist o, como o Filho, exat am ent e

nesse papel de int rodut or do amor e da compaixão. M esmo assim , o povo clam ava por uma

mulher. At é a idéia da Igreja com o " M ãe Igreja" não progrediu muit o. Finalm ent e, a Igreja

capitulou, elevando a Virgem M aria quase ao nível do próprio Cristo.

M uit os escrit ores a est udiosos acredit am que a elevação de M aria - t ant o quant o as

roupagens dos padres com saias longas - t eve origem no desejo da Igreja de assim ilar um a

persist ent e religião de deusa que vinha desde os t em pos ant eriores à crist andade. Se ist o é

verdade, viria indicar não t ant o um conservadorismo cultural quanto a capacidade do arquét ipo

feminino de m ant er um dom ínio e t riunfar parcialm ent e cont ra a supressão.

No judaísm o, a religião oficial dos rabinos conseguiu resist ir cont ra qualquer fem inism o

insurgent e. A necessidade do povo, no ent anto, apoiou-se em uma out ra área: a longa t radição da

Cabala. Os cabalist as t om aram um a palavra do Talmude, Shekinah, que significava a glória de Deus

manifest ada no mundo físico, e t ransformaram-na para fazer dela a anima de Deus, ou seu lado

feminino. Os cabalist as t ambém reviram a idéia de Adão, fazendo dele originalm ent e um

hermafrodit a. A separação de Eva de Adão, at é a separação da Shekinah de Deus,

t ransform aram-se em result ados da Queda; a ausência da fêm ea na religião oficial t ornou-se

quase um a quest ão de pecado, em vez de pureza.

At é agora examinamos as qualidades benignas e mat eriais das figuras m it ológicas

femininas. Hist oricament e, no ent anto, as divindades fem ininas sem pre m ost raram um lado
obscuro e t am bém oculto. Int roduzir a part e fem inina é de algum m odo int roduzir o arquét ipo

com plet o. O Tarô divide o arquét ipo fem inino em dois t runfos, e na realidade at ribui as qualidades

benignas ao segundo t runfo (t runfo 3), a Imperat riz. A Grande Sacerdot isa represent a um aspect o

mais profundo, mais sut il da fêm ea; o aspect o som brio, mist erioso e ocult o. Com o t al, ela se

relaciona com o lado virgem da Virgem M aria, o lado filial puro da Shekinah (que foi descrit a

sim ult aneam ent e como mãe, esposa e filha).

Deveríam os nos dar cont a de que essa at ribuição de qualidades às mulheres vem

principalm ent e dos homens e das idéias masculinas. Os cabalist as, os ocult ist as, e os que

projet aram o Tarô, t odos lam ent aram a separação ent re hom ens e m ulheres em cat egorias e

ensinaram que a unificação era a m et a final. Isso é dem onst rado pelo Dançarino do M undo do

Tarô. Eles est avam adiant ados com relação à religião est abelecida, que quest ionava at é se as

mulheres t inham de fat o um a alm a. No ent anto, o hom em ainda est abelecia cat egorias. Para os

homens, as m ulheres sem pre pareceram m ist eriosas, est ranhas, e, quando prot egidas por seu

papel de m ães, am orosas e misericordiosas. As m ulheres lhes parecem est ranhas, mais sutis em

seus pensam ent os e não racionais. Em nossos t em pos, novelas e film es const ant em ent e ret rat am

homens simples manipulados por m ulheres ast ut as.

O fat o de o ciclo m enst rual durar aproximadament e t anto quant o o ciclo lunar vincula as

mulheres àquele rem ot o corpo prat eado. A própria menst ruação, o copioso sangram ent o

provenient e das part es genit ais, sem perda de vida, sim plesm ent e t em at errorizado o homem

at ravés dos séculos. M esm o hoje, judeus superst iciosos acredit am que uma got a do sangue

menst rual pode m at ar um a plant a. O apavorant e m ist ério do nascimento vincula m ais

profundament e as mulheres à idéia da escuridão. O fet o cresce e a alm a ent ra na escuridão úmida

e morna do út ero. A m at ernidade relacionou a mulher à t erra, e lá t am bém a escuridão dom ina.

As sem ent es repousam na t erra durant e o escuro e let árgico inverno, para emergirem com o

alim ento sob os raios m ornos e encorajadores do sol que, em m uitas culturas, é considerado como

macho.

Do mesmo modo que os raios de sol penet ram na t erra, assim o órgão m asculino penet ra

na fêmea para deixar um a sem ent e em seu út ero m ist erioso. Podemos facilment e perceber com o

os hom ens chegaram a ver-se como at ivos e as m ulheres com o passivas e m ist eriosas. As pessoas

muit as vezes relacionam passivo com "negat ivo" , ou seja, inferior e fraco. M as a passividade

cont ém seu próprio poder. Ela dá à ment e um a chance de t rabalhar. As pessoas que só conhecem

a ação nunca t êm a oportunidade de reflet ir sobre o que aquela ação lhes ensinou. Em um sent ido

mais profundo, a passividade perm it e que o subconscient e aflore. Apenas at ravés do

dist anciam ent o do envolviment o ext erno possibilit am os que aquela voz int erna de clareza e forças
psíquicas nos fale. É precisam ent e para evit ar essa voz int erna que m uit as pessoas nunca param

de agir e m ovim ent ar-se. Nossa sociedade, t otalment e baseada nas realizações ext ernas, fom ent a

um t error do subconscient e; no ent anto, sem sua sabedoria jam ais podemos conhecer -nos

com plet am ent e ou conhecer o mundo.

A Grande Sacerdotisa represent a t odas essas qualidades: escuridão, m ist ério, forças

psíquicas, o poder da lua para agit ar o subconscient e, passividade, e a sabedoria conquist ada

at ravés dela. Est a sabedoria não pode ser expressa em t ermos racionais; t ent ar fazê-lo, seria

im ediatam ent e limit á-la, est reit á-la e falsificá-la. A maioria das pessoas algum a vez sent iu que

com preendia algo de uma m aneira t ão profunda que jam ais conseguiria explicar. Os m it os servem

com o m et áforas para os sent im ent os psíquicos profundos; no ent ant o, os próprios mitos, como as

explicações dadas pelos t eólogos a ant ropólogos, são apenas símbolos. A Grande Sacerdot isa

significa sabedoria ínt ima em seu nível m ais profundo.

Ela se sent a ent re dois pilares, represent ando t anto o t em plo de Ísis quanto o antigo

t em plo hebreu em Jerusalém , a morada de Deus na t erra, em out ras palavras, o lar da Shekinah.

Um véu pende ent re os dois pilares indicando que somos im pedidos de ent rar no lugar da

sabedoria. A im agem do t em plo velado ou santuário aparece em muit as religiões. Dizia-se na

verdade que a Shekinah m orava dent ro de um arco velado do t emplo.

Agora, a m aioria das pessoas adm it e que som os de alguma maneira proibidos de passar

pelos pilares da Grande Sacerdot isa. Na realidade, sim plesment e não sabem os fazê-lo. Ent rar at rás

do véu seria conhecer conscient em ent e a sabedoria irracional do inconscient e. Est a é a met a de

t odos os Arcanos M aiores. Observe cuidadosament e a pintura de Sm it h. Você pode ver o que

exist e at rás do véu olhando ent re o véu a os pilares. E o que jaz at rás é água. Não um grande

t em plo ou sím bolos complexos, sim plesment e um a poça d'água, uma série d e m orros, e o céu. A

poça significa o inconscient e e a verdade escondida lá. A água est á im óvel, os segredos em suas

mais escuras profundezas, escondidos sob um a superfície plana. Para a m aioria de nós, na maior

part e das vezes, o subconscient e turbulento perm anece escondido sob uma cam ada plácida de

conscient e. Não podem os penet rar no t em plo porque não sabemos como penet rar dent ro de nós

mesmos; em conseqüência, t emos que percorrer os t runfos at é at ingirm os a Est rela e a Lua, onde

podemos agit ar finalment e as águas e volt ar com a sabedoria para a luz conscient e do Sol.

O t em plo int roduz a im agem dos dois pilares, e o t em a da dualidade e dos opostos. A

im agem ocorre repet idas vezes at ravés dos t runfos, em lugares t ão óbvios como os pilares da

igreja de Hierofant e ou as duas t orres da Lua (os pilares da Grande Sacerdot isa vist os a part ir do

out ro lado), mas t ambém de m aneiras m ais sut is, t ais como as duas esfinges do Carro, ou o

homem e a mulher dos Nam orados. Finalm ent e, o Julgam ento, com a criança levant ando-se ent re
um homem e uma mulher, e o M undo, segurando duas varas, solucionam a dualidade unindo os

mist érios m ais ínt imos com a consciência ext erna.

As let ras " B" a " J" equivalem a Boaz a Jakin, nom es dados aos dois pilares mais import ant es

do t em plo em Jerusalém. Obviam ent e, o obscuro Boaz significa passividade e mist ério, enquant o

Jakin simboliza ação e consciência. Not e, no ent anto, que as let ras cont êm indicações cont rárias,

um B branco e um J pret o. Com o os pontos no sím bolo Tao, as let ras significam que a dualidade é

um a ilusão, e cada ext rem o t raz o out ro encerrado dent ro de si.

Em seu colo ela segura um rolo de pergam inho marcado " Torá" . Esse nom e se refere à lei

judaica, aos cinco livros de M oisés. Essa maneira part icular de escrever perm it e que as palavras

sirvam como anagram a de " Taro", e com o o últim o objet o de t odas as m edit ações cabalíst icas

(com o a crucificação de Crist o para os m ísticos crist ãos), Torá encerra um a grande quant idade de

significado esot érico. Os cabalist as acredit avam que o Torá lido nas m anhãs de sábado nas

sinagogas era apenas uma represent ação, uma espécie de sombra do verdadeiro Torá, a palavra

viva de Deus que exist iu ant es do universo e que cont ém em si toda a exist ência verdadeira. O

Torá seguro pela grande Sacerdotisa, enrolado e parcialment e escondido em seu mant o, significa

port anto um conhecimento m ais alt o, vedado a nós com nossa com preensão inferior. Podemos

descrevê-lo t am bém como as verdades psíquicas que est ão ao nosso alcance apenas sob a form a

deform ada de mit os e sonhos.

Ant eriorment e falamos do Louco chegando em moment os cruciais de mudança para

im pelir-nos para frent e. A cisão ent re a Grande Sacerdot isa e a Imperat riz é um desses m om ent os.

Podemos ser seduzidos com excessiva facilidade pela frieza escura do segundo t runfo, m esm o sem

jamais penet rar realm ent e em seus segredos. A pessoa que se inicia na disciplina espiritual muit as

vezes prefere ficar no nível visionário em vez de prosseguir o lent o e árduo t rabalho necessário

para o aperfeiçoam ent o. M uit as pessoas em sit uações m ais comuns acharão que a vida é por

demais avassaladora, por demais vast a e exigent e para que t omem part e nela. Podem os usar

melhor a passividade da Grande Sacerdotisa como um equilíbrio à atitude volt ada para o ext erior

do M ago, m as muit as pessoas acham o lado passivo ext rem am ent e at raent e. Ele represent a um a

respost a para a lut a, um ret iro t ranqüilo em vez do brilho ofuscant e da auto-exposição, que ocorre

quando nos envolvem os abert am ent e com out ras pessoas.

M as a m ent e humana não t rabalha assim , ela requer paixão e necessit a vincular-se ao

mundo. Se não puderm os at ravessar o véu, o t emplo cont inua para nós um espaço vazio,

dest it uído de significado. A pessoa que t ent a viver uma vida complet ament e passiva t orna-se

deprim ida, cada vez mais enredada em um ciclo de apat ia e medo.


Virtualment e todas as religiões da deusa da lua criam mitos sobre o lado feroz da deusa.

Ovídio cont a a hist ória de Act eão, um caçador, e port ant o uma figura que pert encia

part icularm ent e ao m undo da ação. Acont ece que um dia ele viu um regat o e decidiu segui-lo at é

sua font e (novam ent e a água como um símbolo do inconscient e). Dest a m aneira, ele se separou

dos seus cães e de out ros caçadores, e quando at ingiu a font e, longe do mundo at ivo, viu um

grupo de donzelas. Ent re elas, nua, est ava a deusa virgem, Diana. Agora, se Act eão t ivesse volt ado

im ediatam ent e para o mundo ext erior, ele t eria t ido sua vida enriquecida. Em vez disso, permit iu

que a beleza de Diana o fascinasse; ele se demorou dem ais, e a deusa, descobrindo que um

homem t inha vist o sua nudez (compare as camadas de roupas da Grande Sacerdot isa t om a nudez

da donzela Est rela), t ransform ou Act eão em um cervo. Quando ele fugiu am edrontado, seus

próprios cães o despedaçaram .

Aqui chega o Louco (e recorde-se do cão do Louco salt ando a seu lado), lembrando-nos de

dançar agilm ent e para longe de ambas est as visões, o M ago e a Grande Sacerdot isa, at é est armos

verdadeirament e pront os para assim ilá-los.

O significado divinat ório da Grande Sacerdotisa envolve primeiro um sent ido de mist ério

na vida, t anto as coisas que não conhecem os quanto as que não podem os conhecer. Ela indica um

sent ido de escuridão, algumas vezes como um a área de m edo em nossas vidas, mas t ambém um a

área de beleza. Um período de ret iro passivo pode enriquecer nossas vidas ao permit ir que coisas

int eriores acordem .

Como um em blem a de conheciment o secret o, o t runfo indica aquele sent im ento de

perceber int uitivament e a respost a para algum grande problem a, caso conseguíssemos exprimir

essa respost a conscient ement e. M ais especificament e, a cart a pode referir-se a visões e a poderes

ocultos a psíquicos, t ais como a clarividência.

Em seus aspect os mais posit ivos, a Grande Sacerdot isa significa o pot encial em nossa vidas

- possibilidades m uito fort es que não realizamos, apesar de poder sent i-las como possíveis. A ação

precisa cont inuar ou o pot encial jamais será realizado.

Apesar da sua sabedoria profunda, a cart a pode algum as vezes encerrar um significado

negat ivo. Como a maioria dos t runfos, o valor da Grande Sacerdot isa depende do cont ext o das

out ras cart as. Negat ivament e, o t runfo indica passividade na hora errada ou por um t em po muit o

longo, levando à fraqueza, ao m edo da vida e de out ras pessoas. Ele most ra uma pessoa com um a

int uição fort e que não consegue t raduzir seus sentim ent os em ações, ou com m edo de se abrir

para as out ras pessoas. Se o aspect o bom ou m au da cart a aparece numa det erm inada leitura,

depende das cart as que a rodeiam e, nat uralm ent e, da intuição do leit or (nós fazem os part e da
Grande Sacerdot isa cada vez que lemos as cartas). Freqüent ement e, am bos os significados podem

ser aplicados. Os seres humanos t êm m ais de um a facet a.

A Grande Sacerdot isa é um arquét ipo, uma im agem simples de um aspect o da exist ência.

Quando a invert emos, int roduzim os as qualidades que falt am. A cart a invert ida significa um a volta

à paixão, a um profundo envolvim ent o com a vida e com out ras pessoas, em t odos os sent idos,

em ocionalm ent e, sexualment e, e com pet it ivam ent e. No ent anto, o pêndulo pode balançar longe

demais, e ent ão a cart a invert ida pode simbolizar a perda daquele conhecim ent o m ais precioso: o

sent ido do nosso eu int erior.

CAPÍTULO 4

A Seqüência M undana

OS ARCANOS M AIORES E O CRESCIM ENTO PESSOAL

A primeira linha dos Arcanos M aiores nos conduz at ravés do processo de mat uridade. Ela

most ra os est ágios do crescim ent o de uma pessoa a part ir de um a criança, para quem a m ãe é

t oda am or e o pai é t odo poder, at ravés da educação, at é o ponto em que a criança se t orna um a

personalidade independent e. Ao m esm o t empo, essas cart as lidam com um desenvolvim ento

muit o mais amplo, do qual o desenvolviment o individual é um m icrocosm o Elas ilust ram a criação

da sociedade humana, fora t anto dos arquét ipos da exist ência como das energias caót icas da

natureza.

Enquant o est abelecem os princípios para o baralho complet o, o M ago e a Grande

Sacerdot isa se aplicam m ais especificam ent e à prim eira linha. O movimento ent re os opostos é o

rit m o básico do m undo mat erial. Nada exist e de m aneira absolut a na natureza. Nas palavras de

Úrsula Le Guin, " a luz é a m ão esquerda da escuridão e a escuridão a m ão direit a da luz" . Quando

nos t ransferim os dos dois princípios para a Imperat riz, est am os vendo os opost os m ist urarem -se

na nat ureza para produzir a real idade do universo físico.

As t rês cart as do m eio da linha form am um conjunto. Elas nos most ram uma t ríade de

natureza, sociedade, e Igreja. Tam bém significam m ãe, pai e educação. No ant igo Egit o, o deus

principal era freqüent ement e represent ado como uma t rindade. As pessoas m udavam de um

lugar para out ro at ravés dos anos, m as geralm ent e eram uma fêm ea e dois machos, sendo a

fêm ea considerada superior. No Tarô, a nat ureza, simbolizada pela Imperat riz, é a realidade
subjacent e, enquant o seus consort es, sim bolizados pelo Imperador e pelo Hierofant e, são

idealizações hum anas.

As últim as duas cart as da linha represent am os problem as do indivíduo, amor e

sofrim ent o, renúncia e vont ade. Em algum ponto, cada um de nós precisa aprender a

diferenciar-se do mundo ext erior. Ant es disso, a personalidade continua a ser um a vaga e inform e

criação dos pais e da sociedade. Aqueles que nunca efet uam a ruptura t ornam -se privados de um a

vida plena. Para a m aior part e das pessoas, o m eio at ravés do qual elas rom pem com seus pais é a

em ergência (os freudianos e t alvez os ocultist as diriam " reem ergência" ) do impulso sexual na

puberdade. Não é por acident e que as crianças se revolt am cont ra seus pais quanto a idéias,

hábitos e roupas, ao m esm o t em po que seus corpos se desenvolvem para a m aturidade.

O desenvolviment o da individualidade é apenas um a part e do crescim ent o. Cada pessoa

precisa encont rar suas próprias met as e finalidades. Ao m esm o t em po, ela t erá m ais cedo ou m ais

t arde que enfrent ar a t rist eza, a doença e o enfraqueciment o geral de um a vida governada pela

velhice e pela mort e. Só quando alcançamos um a compreensão plena da vida ext erior da

humanidade, podemos esperar at ingir intimament e uma realidade m ais profunda.

A IM PERATRIZ

Como vimos no capítulo ant erior, a Imperat riz represent a o aspect o m ais acessível, m ais

benigno, do arquét ipo fem inino. Ela é m at ernidade, am or, delicadeza. Ao m esm o t empo significa

sexualidade, em oção e a m ulher com o am ant e. Tant o a m at ernidade quant o o sexo derivam de

sent im ent os que são não-int elect uais e básicos para a vida. Paixões em vez de idéias. A Grande

Sacerdot isa represent ava o lado m ent al do arquét ipo feminino; sua profunda compreensão

int uitiva. A Imperat riz é pura emoção.

Como a M ulher Ast uciosa, nós a vemos reflet ida em nossos film es e novelas com o a fêmea

provocant e, que frust ra e delicia ao m esm o t empo, porque seus processos m ent ais não seguem

um desenvolvim ent o racional. M uit as m ulheres acham est a imagem insult uosa, em part e porque

ela represent a valores e enfoques t idos com o negat ivos por nossa sociedade pat riarcal, e em part e

porque as pessoas com et em o erro de adm it ir que as m ulheres e os hom ens deveriam expressar

pessoalment e essas idéias arquét ipas. M as as imagens sociais são deformant es de out ra m aneira

t am bém . Elas são t riviais. A Im perat riz, bem como suas sósias m it ológicas, como Afrodit e ou Isht ar

ou Erzulie, represent am algo muit o elevado. Elas significam o enfoque apaixonado da vida. Elas

dão e receb em experiência com emoção incont rolada.


Enquant o não aprendermos a sent ir o mundo ext erno complet am ent e, não poderemos

t ranscendê-lo. Port anto, o prim eiro passo para o esclareciment o é a sensualidade. Só at ravés da

paixão podemos sent ir, do profundo do íntim o e não at ravés de raciocínio intelect ual, o espírit o

que enche t oda a exist ência.

M uit as pessoas vêem a religião como um a alt ernat iva para o mundo natural, que encaram

com o algo impuro ou sujo. Em bora nossa t radição cultural favoreça essa dualidade, ela é

realm ent e uma ilusão, e a pessoa que se aproxima da espirit ualidade com a int enção de salvar-se,

provavelm ent e nunca at ingirá uma compreensão muit o desenvolvida. O corpo e o mundo natural

são realidades que precisam ser int egradas e não negadas.

Na mit ologia do budism o vemos que os deuses m anipularam o pai do príncipe Sidart a para

que proporcionasse a seu filho, Gaut ama, todas as sat isfações sensuais. O pai acredit ava que o

prazer im pediria seu filho de renunciar ao mundo e t ornar-se um buda. O esquema t eve efeit o

cont rário, porque som ent e depois de t er sent ido com plet ament e a sensualidade o príncipe pôde

deixá-la para t rás. Depois de renunciar ao mundo, Gaut ama juntou-se aos ascét icos, o out ro

ext remo. M as ele só alcançou a ilum inação quando t rocou ambos os ext rem os pelo Caminho

Int erm ediário. Assim , podem os ver o Buda no Dançarino do M undo, que segura delicadam ent e

em suas m ãos o M ago e a Grande Sacerdot isa.

Como uma com binação de 1 e 2, o número 3 significa sínt ese e harm onia. O mundo natural

conjuga o M ago e a Grande Sacerdot isa em um a indivisível unidade de vida e mort e, escuridão e

luz. A idéia da em oção t ambém reúne o arquét ipo de at ividade do M ago com o arquét ipo de

inst into da Grande Sacerdot isa.

Considere da mesma form a o processo da criação. O M ago sim boliza a energia da vida, a

Grande Sacerdotisa, as possibilidades de desenvolvim ento futuro. A realidade da Imperat riz

result a da combinação de am bos. Recent em ent e, Carl Sagan demonst rou que a vida na t erra

poderia t er-se iniciado quando um a cent elha de raio at ingiu o mar primitivo. Assim , de novo, do

corisco do M ago at ingindo as águas da Grande Sacerdot isa, surge o mundo natural.

O sim bolism o da Imperat riz de Wait e-Sm it h reflet e a idéia da nat ureza, com toda sua força

e glória. A própria Imperat riz, voluptuosa e sensual, sugere paixão. Seu escudo é um coração com

o signo de Vênus, a versão rom ana da Grande Deusa. Durant e o mundo antigo, a deusa reinou

com o Dem ét er, Ast art e, Nut , at é que os invasores pat riarcais a rebaixaram a esposa (e finalm ent e

a subst ituíram complet am ent e por um deus suprem o t ot alm ent e masculino). Aos pés da

Im perat riz cresce um cam po de t rigo; a deusa regia a agricultura, no Nordest e da Europa era

chamada a "Deusa do M ilho" . Ela usa um colar de nove pérolas, pelos nove planet as, enquanto

sua coroa cont ém doze est relas, pelos signos do zodíaco. Em resum o, ela usa o universo com o
suas jóias. A Grande M ãe não significa as formas da natureza, mas o subjacent e princípio da vida.

As est relas t êm seis pont as, um sím bolo muito m ais ant igo do que seu uso corrent e como um

em blem a social do judaísm o. A estrela de seis pont as combina dois t riângulos; o de cim a simboliza

fogo, o de baixo, água. Novam ent e, a Imperat riz combina os t runfos 1 e 2 em uma nova realidade.

Um rio brot a das árvores, at rás dela, para desaparecer sob seus pés. Esse rio é a força da

vida, fluindo com o uma grande corrent e sob t odas as formas separadas de realidade, a sent ida

mais plenam ent e quando nos ent regarm os à paixão ilimit ada. Dent ro de nós podem os sent ir,

profundament e, o rit mo de um rio, carregando-nos para frent e at ravés da experiência at é que,

com a mort e, nossas vidas individuais ret om em para o mar da exist ência.

O rio sim boliza t ambém a unidade de mudança e est abilidade. A água nele nunca é a

mesma, e no ent anto ele sem pre permanece um rio particular, com suas próprias qualidades

esp eciais. Os seres hum anos mudam dia a dia, as células de nossos corpos m orrem e novas células

t om am seu lugar, e no ent anto sempre permanecem os nós m esm os.

O núm ero 3 produzido pela combinação de 1 e 2 encerra ainda um a out ra idéia. Da m esm a

maneira que os núm eros 1 e 2 represent aram especificam ent e o macho e a fêm ea assim o

número 3 significa a criança produzida pela sua união. A criança nasce como um a criatura da

natureza, livre de ego ou personalidade, sent indo o universo diret ament e, sem cont roles nem

rót ulos. É só quando nos t ornamos m ais velhos que aprendem os a colocar barreiras ent re nós e a

vida. Um a das met as do Tarô é fazer-nos volt ar àquele est ado nat ural de sent ir diret am ent e o

mundo que rios cerca.

M as se a Im perat riz significa a criança, ela t ambém represent a a mãe. A m at ernidade é o

meio básico pelo qual a vida continua at ravés da natureza. E porque o cont ato físico ent re a mãe e

a criança é t ão diret o, o amor m at erno, em sua forma mais fort e, é puro sent imento, doado sem

considerações m orais ou int elect uais. (Ist o é, nat uralment e, um ideal, e na realidade t al amor

pode vir m ais do pai do que da mãe, ou, lam ent avelm ent e, não exist ir.) At ravés da hist ória, as

pessoas t êm identificado a m at ernidade com a nat ureza, de m aneira que o t ermo " Grande M ãe" ,

aplicado à t erra em si, aparece pelo m undo t odo, e mesmo hoje falam os vagam ent e de M ãe

Nat ureza.

Na leit ura das cart as, a Imperat riz represent a um t em po de paixão, um período em que nos

aproxim amos da vida at ravés de sent iment os e prazeres, e não at ravés do pensament o. A paixão é

sexual ou mat ernal; seja com for, ela é profundam ent e sent ida, e no cont ext o cert o pode dar

grande sat isfação. No conceito errado, quando se exige análise, a Im perat riz pode significar um

enfoque em ocional persist ent e, uma recusa em considerar os fat os. Ela pode indicar um out ro

problema t ambém : a auto-sat isfação do prazer quando a cont enção é exigida. Usualm ent e, no
ent anto, ela indica sat isfação e at é compreensão obt ida at ravés das emoções. Os significados

invert idos da cart a t ambém t êm seu cont ext o negat ivo e positivo. De um lado ela pode significar

um afast am ent o do sent iment o, t anto rejeit ando suas emoções com o t ent ando suprim ir seus

desejos, part icularment e os sexuais. Cont udo, como a Grande Sacerdot isa, volt ada para baixo,

acrescent a o element o de envolvimento, ausente, t am bém a Im perat riz invert ida pode significar

um a nova consciência int elect ual, especialm ent e a solução de algum com plicado problem a

em ocional, at ravés de calma m edit ação sobre ele.

Com seu lado cert o para cima, e invert idos, os trunfos 2 e 3 são espelhos um do out ro.

Algum as vezes acont ece que em um a leitura ambos aparecerão de cabeça para baixo. Isso

significa que a pessoa expressa t ant o os aspect os em ocionais quant o m ent ais intuit ivos, m as de

form a negat iva. A racionalidade vem com o uma reação ao excessivo envolvim ent o em ocional,

enquanto um sent iment o de isolamento ou frieza leva à paixão. Se os dois aspect os da deusa

podem ser percebidos com o lado cert o para cima, a pessoa at ingirá um equilíbrio mais est ável a

mais compensador.

O IM PERADOR

Para cada criança seus pais são arquét ipos. Não apenas mãe e pai, m as M ãe e Pai. Porque

nossas mães nos dão a vida, aliment am -nos e nos abrigam, t endem os a vê-las como figuras de

am or a m isericórdia (e ficam os m uito decepcionados quando elas agem severa ou friament e). M as

o Pai, especialment e em t empos t radicionais, quando o papel dos sexos era mais rígido,

permanecia m ais rem ot o e, port anto, uma figura de severidade. Era o pai quem det inha a

autoridade, a assim t omava-se o juiz, o pai que punia (e a m ãe que int ervinha) e o pai que nos

ensinava as regras da sociedade e exigia obediência. Para a criança o pai é, de várias m aneiras,

indist inguível da sociedade como um todo, da mesma forma que a m ãe é a própria natureza. Para

muit as pessoas, um dos penosos m om entos da m at uridade ocorre quando elas descobrem a

limit ada hum anidade de seus pais.

No esquem a do desenvolvim ent o m ent al do companheiro, de Freud, o pai e as regras da

sociedade t ornam-se diret am ent e vinculados. A psique da criança solicit a sat isfação const ant e,

part icularm ent e quant o a seus desejos por alim ent o e por prazer físico vindo da m ãe. (Os

freudianos podem afirm ar que a criança deseja, na realidade, relações físicas com a mãe, mas a

sit uação persist e, mesmo quando a criança procura apenas o prazer de m ant er-se junto ao corpo

da mãe.) Pelo fat o de int erferir no relacionam ento da criança com a mãe, o pai despert a na

criança, ainda não reprim ida, a host ilidade; isso significa um desejo de acabar de vez com a
int erferência. O impulso de dest ruir o pai, no ent anto, não pode ser consum ado e nem m esm o

reconhecido, e assim a psique resolve o t errível dilem a, identifica-se com a im agem do Pai, criando

um "superego" como um novo guia para o ser (subst ituindo o id os impulsos e desejos que

levaram a t al crise). M as qual é a forma que esse superego t om a? Precisam ent e a form a das regras

da sociedade t radicionalm ent e aprendidas sob a orient ação do pai.

Os t runfos 3 e 4 do Tarô represent am os pais nos seus papéis de arquét ipos. M as da

mesma form a que a Im perat riz significa o mundo natural, assim o lmperador comport a a m ais

am pla conot ação do m undo social "casado" com a nat ureza. Ele simboliza as leis da sociedade,

t anto as boas quanto as m ás, e o poder que as aplica.

Nos t em pos ant igos, em que a Deusa reinava, o rei desempenhava um a função especial. A

nova vida só pode vir da m ort e; em conseqüência, a cada inverno os represent ant es da Deusa

sacrificavam o amigo rei, freqüent em ent e ret alhando-o e ent errando os pedaços no chão, para

assim fert ilizar m ist icam ent e a t erra. M ais t arde, quando as religiões dom inadas pelo macho

prevaleceram, o rei chegou a sim bolizar o império da lei que pusera um a capa de repressão sobre

o que parecia aos pat riarcas a escuridão m onst ruosa e caót ica da velha ordem . Vem os esse dram a

(m uito sem elhant e à substituição freudiana do superego pelo id) em m uitos mitos, como o de

M arduk, herói nacional da Babilônia, m at ando Tiam at , a m ãe original da criação, porque ela est á

gerando m onst ros. Quer considerem os os velhos cam inhos como monst ruosos, ou os novos como

civilizados, o Imperador sim boliza a abst ração da sociedade subst it uindo a experiência diret a da

natureza.

Em Rom a, o conceit o de lei versus caos foi levado ao ponto em que a est abilidade, ou "lei e

ordem " , para usar o t erm o m oderno, t ornaram -se virt udes em si, independent em ent e da

moralidade inerent e a essas leis. Nenhum progresso pode ser conseguido em condições de

anarquia (prossegue o argum ent o); as más leis precisam ser m udadas, m as prim eiro a lei precisa

ser obedecida a t odo cust o. Qualquer out ro enfoque consegu e apenas dest ruir a sociedade. Hoje

em dia, vemos est e ponto de vist a incorporado a uma abst ração a que chamam os " sist em a" . Os

rom anos viam isso m ais concret am ent e na figura pessoal do Imperador, a quem descreviam com o

o pai de todo o seu povo.

No seu melhor aspect o, o Imperador indica a est abilidade de uma sociedade just a que

permit e que seus m em bros procurem sat isfazer suas necessidades pessoais e at injam o

desenvolvimento. O mundo natural é caótico; sem algum tipo de est rut ura social, poderíamos

passar t oda a nossa vida lut ando para sobreviver. A sociedade nos perm it e t ant o t rabalharmos

junt os como beneficiar-nos da experiência daqueles que viveram ant es de nós.


A est abilidade t am bém nos propicia o desenvolvim ent o espirit ual. Em muitos países a

sociedade sust ent a as igrejas (se bem que é discut ível que esse arranjo desenvolva a

espirit ualidade); em alguns países orient ais, os monges são livres para prosseguir seus est udos

porque os leigos enchem suas t igelas de esm olas. Sem esse costume social, eles t eriam que passar

suas vidas t rabalhando para conseguir o pão.

Em seus aspect os m ais negat ivos, o Imperador represent a o poder das leis injust as num a

sociedade onde a est abilidade t em precedência sobre a moralidade. Um a vez t endo est abelecido a

lei e a ordem como o bem suprem o, um governant e corrupt o t ransform a-se ent ão num desast re.

M as se t odo o sist ema é corrupto, produzindo apenas maus governant es, ent ão a est abilidade

t orna-se inimiga da moralidade. O valor do sím bolo do Imperador depende em grande part e do

t em po a do lugar. Em um a sociedade injust a, o poder do Imperador ret arda, em vez de favorecer,

o desenvolviment o pessoal. Inúm eras pessoas foram para a cadeia por at acarem leis injust as.

M esmo em seu m áxim o, no ent anto, o Imperador cont inua limit ado. Ele lançou uma rede

de repressão sobre a espont aneidade da Imperat riz. Se perdem os cont at o com nossas paixões, a

vida torna-se ent ão fria e est éril. No baralho Rider, o Imperador é desenhado como velho e duro,

vest ido com uma m alha de ferro, represent ando a est erilidade de uma vida rigidam ent e

governada por regras. O rio, que fluía com t ant a força at ravés do jardim da Imperat riz, tornou-se

aqui um regat o fino, que m al pode penet rar num desert o sem vida.

O out ro sim bolism o da cart a reflet e seus aspect os duplos. Ele segura um ankh, o sím bolo

egípcio da vida, para indicar que sob a lei ele det ém o poder de vida ou mort e, e espera usá-lo

bem. Quat ro carneiros, símbolos de Áries, adornam seu t rono, e no alto da coroa ele t raz o signo

de Áries (infelizment e parecendo uma hélice). Áries sim boliza a força, a agressão e a guerra, m as,

com o o prim eiro signo do zodíaco, t ambém simboliza a vida nova da primavera, que pode surgir

da est abilidade de um a sociedade just a.

Como a cart a do meio da primeira linha dos Arcanos M aiores, o Im perador represent a um

t est e crucial. No processo de cresciment o, o que m uit as pessoas acham m ais difícil de superar são

realm ent e as regras da sociedade.

Precisam os absorver essas regras, da m esm a forma que as t radições e crenças de nossa

sociedade, e ent ão ir além delas para encont rar um código de condut a pessoal. Isto não significa a

at itude " regras foram feit as para serem quebradas". As pessoas que se sent em com pelidas a

desafiar t odas as leis cont inuam t ão presas a elas quant o a pessoa que as segue cegament e.

Devido ao papel do pai ao ensinar-nos um procedim ent o socialm ent e aceit ável, as pessoas

que ficam presas ao nível do Imperador são freqüent em ent e pessoas que jam ais aceit aram a

humanidade comum de seu pai. Elas podem reconhecer o fat o racionalm ent e, m as ele as pert urba
e persegue. Problem as sem elhant es at orment am as pessoas para quem a Imperat riz continua

sendo as paixões e a sensualidade de sua m ãe, e não as suas próprias.

A idéia do Im perador como a idéia de valores lim it ados da est rut ura social nasce

principalm ent e com Wait e e seus seguidores. O desenho da esquerda, no início dest a seção, do

baralho do Builders of t he Adyt um (BOTA), de Paul Fost er Case, com o foi desenhado por Jessie

Burns Parke, ilust ra uma out ra t radição. Aqui o Imperador simboliza a som a tot al do

conhecim ent o espiritual. Ele é desenhado de perfil (ist o é muit o mais comum do que a im agem de

frent e do baralho Rider), o que o vincula à im agem cabalíst ica de Deus com o o " Ancião dos Dias" ,

um rei sent ado de perfil. (A face do ancião nunca era visível, apenas sua coroa com um fulgor por

baixo dela.)

Os braços e pernas do Imperador form am um t riângulo eqüilát ero sobre um a cruz, símbolo

alquímico do fogo. Essa figura é m ais t arde invertida (t ant o em Wait e com o em Case), form ando o

Hom em Dependurado. Como foi m encionado acim a, as pernas cruzadas são um sím bolo esot érico,

encont rado t ambém na cart a do M undo. O Imperador de BOTA sent a-se num cubo, não num

t rono. Sím bolo esot érico t am bém, o cubo simboliza t anto o mundo quant o o próprio Tarô, da

mesma forma que o alfabet o hebraico e os cam inhos da Árvore da Vida. O sim bolism o nasce do

fato de que um cubo cont ém doze bordas, seis faces, t rês eixos e, nat uralment e, um cent ro, t udo

t ot alizando vint e e dois, o núm ero dos t runfos, das let ras hebraicas e dos caminhos. E porque se

acredit a que a Árvore da Vida represent a t oda a criação, o cubo simboliza o universo.

Nas leit uras, o Imperador indica (segundo a im agem do baralho Rider) o poder da

sociedade, suas leis e principalment e sua aut oridade para aplicar essas leis. A aparição do t runfo

indica um encont ro com a lei. Novament e, as qualidades boas ou m ás dependem do cont ext o.

De maneira mais pessoal, o Imperador pode significar um t em po de est abilidade e ordem

na vida de uma pessoa, com promessas de revelar energia criat iva. Ele t ambém pode indicar um a

pessoa específica que det ém grande poder, t anto objet ivo como emocional, sobre o consulent e.

Freqüent em ent e é o pai, mas pode ser t am bém um m arido ou amant e, principalm ent e para as

pessoas que t rat am seus am ant es com o pais subst itutos, a quem ent regam o com ando de suas

vidas. Tenho visto leit uras t ão dom inadas pelo Im perador, que t odas as possibilidades da vida

t om aram -se paralisadas e irrealizadas.

Como a lm peratriz invert ida, o Imperador, quando de cabeça para baixo, recebe os

elem ent os com plem ent ares à sua nat ureza quando est á com o lado cert o para cim a. Ele é, nas

palavras de Wait e, "benevolência e com paixão" ; vida nova em um desert o rochoso. M as o

pêndulo pode oscilar longe dem ais. O Im perador invert ido pode significar imaturidade e

inabilidade para tom ar decisões firmes e levá-las avant e.


O HIEROFANTE

Na m aioria dos baralhos de Tarô, o t runfo 5 é chamado de " Papa" ou de " Sumo-Sacerdot e" ,

t erm os que o vinculam , t anto pelo nom e quant o pelo desenho, ao t runfo 2, o arquét ipo da

verdade int erior. W ait e escreveu que rejeit ava " Papa" porque o t ítulo sugeria um exemplo muit o

esp ecífico da idéia geral do t runfo. O nome " Hierofant e" designava o sum o-sacerdot e dos

mist érios gregos de Elêusis. Wait e descreve sua cart a com o simbolizando o " caminho objet ivo"

das igrejas e dos dogm as. M as seu use do elem ent o mist ério sugere um a out ra int erpret ação, que

é preferida por quem vê o Tarô como um a dout rina secret a de práticas ocult as e não como um a

represent ação m ais geral dos padrões hum anos. Est a interpret ação é vividam ent e revelada na

pintura do Hierofant e

ext raída do Livro de Thoth, de Aleist er Crow ley, e desenhada por Frieda Harris. Aqui o t runfo

significa iniciação num a dout rina secret a, t al como as diversas ordens e lojas que floresceram na

virada do século e que voltaram a surgir na Inglaterra e nos Est ados Unidos. Da Ordem da Aurora

Dourada, a que t anto W aite como Crowley pert enceram ao m esm o t em po, possivelm ent e

originou-se o t ermo " Hierofant e" para o t runfo 5.

No nível mais element ar, esses dois significados, " cam inho objet ivo" a " dout rina secret a" ,

parecem cont raditórios. Na realidade, eles são m uit o sem elhant es. Quer os dois acólit os est ejam

sendo admitidos numa igreja ou numa sociedade secret a, eles est ão se iniciando num a dout rina,

com um conjunto de crenças que precisam aprender a aceit ar ant es de poderem t ranspor a

ent rada. Exist e, é claro, uma diferença fundam ent al ent re, digam os, o cat ecism o e os rit uais da

" Aurora Dourada". Para ambos, no ent anto, o t runfo indica uma educação a um a t radição.

Port ant o, se encararm os a primeira linha como descrevendo o desenvolvim ento da personalidade,

ent ão o Hierofant e, vindo depois do mundo natural e da sociedade, indica a t radição int elect ual da

sociedade de det erminada pessoa, a sua educação naquela t radição.

Segundo a int erpret ação de Wait e (e pensando especificam ent e no papa ocident al),

podemos ver no Hierofant e um companheiro para o Im perador. A palavra " papa" significa "pai" e,

com o o Imperador Romano, o Papa é vist o como um pai sábio guiando seus filhos. Juntos, eles

dividem a responsabilidade pela hum anidade, um suprindo as necessidades físicas, o out ro

orient ando o cresciment o espirit ual. Em um dos prim eiros t rat ados que insist iam na separação

ent re a Igreja e o Est ado, Dant e argum ent ava que as duas funções não devem ser conjugadas

devido ao perigo de corrupção. No ent anto, ele nunca cont estou a idéia de que a Igreja é

responsável por nossas almas.


Hoje em dia m uit as pessoas não compreendem a idéia básica do sacerdócio. Nossa era

democrát ica rejeit a a noção de um int erm ediário ent re um indivíduo e Deus. Not e, no entant o,

que o Hierofant e t ambém pode sim bolizar " a dit adura do prolet ariado" ou de qualquer out ra elit e

liderando as m assas para onde elas não podem ir por si m esm as. Originalm ent e, a função especial

dos sacerdot es era evident e; eles falavam com os deuses at ravés dos oráculos, prát ica muit as

vezes at erradora, e a maioria das pessoas alegrem ent e deixava que algum out ro fizesse isso por

elas. Quando o crist ianism o rejeit ou t al conexão pit oresca e im ediat a com Deus, a idéia do

sacerdot e t om ou-se, como a do Imperador, m ais abst rat a. Ela deriva basicam ent e da idéia de que

a m aioria das pessoas realment e não se preocupa m uito com Deus. Em média, as pessoas

sent em -se m ais felizes perseguindo objet ivos t em porais, como dinheiro, fam ília e polít ica.

Exist em, no ent anto, cert as pessoas que, por tem peram ent o, sent em muito diret ament e o espírito

que percorre t oda a nossa vida. Chamadas ao sacerdócio por sua própria consciência íntim a, essas

pessoas podem com unicar-se com Deus por nós. O que é mais im port ant e, elas podem falar

conosco, int erpret ando para nós a lei de Deus, de modo que possamos viver vidas corret as, e

event ualm ent e, depois da mort e, receber nossa recom pensa de ret orno a Deus. Depois da

ressurreição, nós descansarem os sob o olhar de Deus. Na vida, no ent anto, precisam os dos

sacerdot es para guiar-nos.

Assim segue o raciocínio. M esm o que concordemos com o princípio, na prática ele t ende a

esboroar-se. Há quem se t orne sacerdot e por várias razões - am bição, pressão fam iliar, et c. - e os

que sent em uma vocação genuína para se comunicar com Deus podem dem onstrar m uito pouco

t alento para comunicar-se com as pessoas. Além do m ais, como as inst ituições sociais do

Im perador, as instituições religiosas do Hierofant e podem facilm ent e t ornar-se corrom pidas pela

autoridade que lhes é conferida, de m odo que os sacerdot es vejam seu poder com o um fim em si

mesmo, colocando a obediência acim a do esclarecim ent o. Obviam ent e, a posição de defesa de

um a dout rina at rairá pessoas dout rinárias.

É possível, no ent ant o, que rejeit em os a idéia de um sacerdócio guia por um a razão m ais

sut il. Desde os t empos da Reforma, um a noção que adquiriu cada vez mais força no Ocident e é a

da suprem a responsabilidade individual. Toda a idéia de um a dout rina ext erna, de um código de

regras e crenças adot ado em confiança, repousa na suposição de que a maior part e das pessoas

preferem que alguém lhes diga o que fazer a pensar. Ist o pode muito bem ser verdade. Para

realm ent e descobrir Deus dent ro de si, você precisa passar por alguns confront os desagradáveis

com sua própria psique. Da m esm a form a, decidir por você m esm o qual é a coisa digna a ser feit a

em t odas as sit uações poderia exigir um a const ant e t ort ura para escolher. Apesar disso, muitas
pessoas hoje em dia simplesment e não podem aceit ar uma sociedade ou um a igreja que

det enham a responsabilidade suprem a sobre suas vidas.

Talvez a int erpret ação do Hierofant e como represent ando dout rinas secret as se ajust e

melhor à nossa época. Porque ent ão a dout rina não nos diz o que fazer, m as, em vez disso, nos dá

orient ação para com eçarmos a t rabalhar por nós m esmos. E o Tarô, como vimos com o M ago,

sit ua-se cont ra t odas as igrejas, guiando-nos para um a salvação pessoal nest a vida. Para Crow ley,

o Hierofant e represent a a iniciação no modo pelo qual o indivíduo se t orna unido ao Universo. A

form a e a dout rina da iniciação mudam a cada idade do mundo; t endo durado quase dois m il

anos, a present e era de Peixes est á chegando ao fim, de modo que o Hierofant e est á em vias de

mudar, com o mudarão todos os relacionam entos est rit am ent e humanos. Crowley com ent a que

apenas o futuro poderá dizer-nos qual será a nova " corrent e de iniciação". M as a qualidade básica

da iniciação com o uma fusão com o cosmos permanecerá sem pre a m esm a.

Na versão BOTA do Hierofant e (como no baralho Rider) as chaves cruzadas nos pés do

Hierofant e são de ouro e prat a, represent ando os cam inhos int ernos e ext ernos, o sol e a lua, o

M ago e a Grande Sacerdot isa, que a dout rina nos ensina a combinar. No baralho Rider, am bas as

chaves são de ouro, indicando que o lado escuro est á oculto para quem segue a dout rina ext erna.

Na imagíst ica de Wait e-Sm it h, não há véu obst ruindo a ent rada para a igreja, como no

t em plo da Grande Sacerdotisa. M as os pilares são de um cinzent o fosco. Quem ent ra aqui pode

receber prot eção conform e sua escolha, m as não penet rará nos segredos da dualidade. O

inconscient e perm anece fechado. Em muit os baralhos de Tarô, a Grande Sacerdot isa segura não

um pergam inho, mas um livrinho fechado. E as chaves do Hierofant e não se ajust am a seu fecho

int rigant e.

No ent anto, não devem os pensar que a dout rina ext erna da religião seja desprovida de

propósit o para o pesquisador. Como a educação geral, da qual é um exem plo especial, ela dá ao

indivíduo um a firm e t radição na qual enraizar o seu desenvolvim ent o pessoal. O moderno

fenôm eno de um a espécie de m ist icismo eclét ico ocident al, haurindo inspiração em t odas as

religiões, é um acont eciment o ext rem am ent e incomum. Baseia-se, possivelment e, na consciência

colet iva somada ao m odo de ver-se a religião como um est ado psicológico desvinculado da ciência

e da hist ória. Assim , encaramos a religião como um a experiência, e não com o uma explicação do

universo, e concordam os em que t odas as experiências religiosas são válidas, quaisquer que sejam

as contradições que evidenciem na superfície. Em bora essa idéia abra grandes possibilidades,

muit as pessoas const at aram sua superficialidade. O fato é que, at ravés dos séculos, os grandes

míst icos sem pre falaram do ínt imo no seio de um a religião. Os cabalist as eram profundam ent e

judeus, Thom as à Kem pis um complet o crist ão, e o sufis inclinavam -se em direção a M eca com o
t odos os out ros m uçulm anos ortodoxos. Em seu m elhor aspect o, o Hierofant e (com o um a

dout rina ext erna) pode fornecer nos um pont o de part ida para criar um a consciência pessoal de

Deus.

Um out ro aspecto do simbolism o da cart a merece especial at enção. A posição das t rês

pessoas (ist o é, um a imagem grande sobrepondo-se sobre duas m enores, uma de cada lado),

int roduz um t em a que se repet e, como os dois pilares da Grande Sacerdot isa, ao longo do

conjunto dos Arcanos M aiores, e é solucionado no Julgam ent o e no M undo. As duas cart as

im ediatam ent e após o t runfo 5 repet em o t ema, com o anjo sobre os dois Namorados, e o

cocheiro do Carro sobre as esfinges branca a pret a.

Podemos ver esse t rio como um emblem a da idéia de uma t ríade, como a t rindade crist ã,

ou a t rina pint ura da m ent e: o id/ ego/ superego de Freud, ou o

inconscient e/ conscient e/ superconscient e das t rês linhas dos Arcanos M aiores. Para com preender

o significado da im agem, devem os volt ar à Grande Sacerdot isa. Ela se sent a ent re dois pilares,

sim bolizando as dualidades da vida. Ela própria significa um lado, o M ago, o out ro. O Hierofant e

admit e dois acólitos em sua igreja. Vem os, port anto, que o Hierofant e, os Namorados e o Carro

represent am, t odos, t ent ativas de mediação ent re pólos opost os da vida e encont ram algum a

form a, não de solucioná-los, mas sim plesm ent e de mant ê-los em equilíbrio. Um a dout rina

religiosa, com seus códigos de m oral a suas explicações para as q uest ões m ais básicas da vida, faz

exat am ent e isso. Se nos ent regam os a um a igreja, t odas as cont radições da vida serão explicadas,

mas não solucionadas.

Nas leit uras, a cart a significa igrejas, dout rinas, e educação em geral. Psicologicam ent e, ela

pode indicar ort odoxia, conform idade com as idéias da sociedade e códigos de comport am ento,

com o t ambém , mais sut ilment e, um a desist ência da responsabilidade. O Im perador significa as

próprias regras e seus execut ores oficiais; o Hierofant e indica nosso sent ido íntimo de obediência.

Invert ida, a cart a significa o opost o de ort odoxia, especialment e ment al - a formação de idéias

originais. Ela pode t am bém, no ent anto, significar credibilidade e essa idéia sugere um a out ra

virt ude da cart a quando ela est á com o lado cert o para cima. Uma sociedade const rói sua t radição

int elect ual at ravés de um a cent ena de anos. Aqueles que aceit am essa t radição, recebem dela um

padrão pelo qual julgar novas idéias e inform ações. Aqueles que a rejeit am, precisam encont rar

seus próprios caminhos a facilment e podem se perder em idéias superficiais. Exist em muit as

pessoas que, t endo desist ido do dogma que lhes foi impost o quando crianças, caem em algum

out ro dogm a, um cult o ou algum grupo político ext remist a, t ão ext remist a quanto ele e talvez

mais vazio. Tendo rejeit ado a t radição, elas não rejeit aram realm ent e o Hierofant e; elas não

aceit aram a responsabilidade de verdadeirament e encont rar seus próprios cam inhos.
OS NAM ORADOS

Das várias mudanças que Art hur Wait e e Pam ela Sm ith fizeram nos desenhos t radicionais

do Tarô, a cart a dos Nam orados continua sendo a mais grit ant e. Onde o Tarô de M arselha most ra

um hom em jovem ferido pela set a de Cupido e forçado a escolher ent re duas m ulheres, o baralho

Rider m ost ra um hom em m aduro e um a única mulher com um anjo pairando sobre eles. Além

disso, enquanto a maior part e dos baralhos indica apenas uma situação social, a im agem do

baralho Rider sugere claram ent e o jardim do Éden, ou m elhor, um novo jardim do Éden, com as

árvores t razendo consigo iluminação a não a Queda.

As primeiras versões do t runfo 6 às vezes t raziam como t ít ulo " A Escolha" , a nas leit uras

divinat órias significa um a escolha import ant e entre dois desejos. Porque um a mulher é clara e a

out ra escura, um sim bolism o t radicional na Europa, onde a escuridão sempre indica o m al a as

mulheres em geral indicam t ent ação, a escolha foi vist a como sendo ent re algo respeit ável, m as

t alvez t edioso, e alguma coisa muito desejada m as moralm ent e incorret a. A cart a pode referir-se a

um a escolha sem im port ância ou at é a um a grande crise na vida da pessoa. Hoje vem os esse

antigo simbolismo nos vários film es a novelas de homens de m eia-idade, da classe m édia,

t ent ados a t rocar suas amadas, m as um t anto desint eressant es esposas, por uma m ulher m ais

jovem a m ais " ardent e" .

A escolha pode, na verdade, ext ender-se por t oda a vida de uma pessoa. At é as pessoas

que jam ais puseram em dúvida os limit es de sua respeit abilidade de classe m édia fizeram um a

escolha, da mesma forma que as que foram crim inosas a vida int eira. E exist em m uit as pessoas

que aparent em ent e vivem vidas socialment e aceit áveis e que em seu íntimo sofrem const ant es

t orm ent os de desejo, lut ando cont ra a t ent ação do adult ério, ou da violência, ou simplesm ent e

cont ra a vont ade de sair de casa e t ornar-se um vagabundo sem pouso cert o.

No piano esot érico, a escolha ent re a mulher clara e a escura indica a escolha ent re o

cam inho ext erno (sim bolizado no baralho Rider pelo Hierofant e), onde sua vida é planejada para

você, e o cam inho int erno do ocult ist a, que pode conduzir a uma confront ação com seus desejos

ocultos. A Igreja rot ulava os m ágicos com o adoradores do dem ônio, a nas alegorias crist ãs a

mulher escura geralment e represent ava Sat ã.

Todos esses significados vêem a escolha ent re a luz e a escuridão nos t ermos mais amplos

possíveis. No cont ext o da prim eira linha de t runfos podem os vê-la de um a m aneira m uito m ais

esp ecífica, a da prim eira escolha real que uma pessoa faz independent ement e de seus pais.

Enquant o o impulso sexual não despert a, muit as pessoas cont ent am -se em proceder conforme a
expect at iva de seus pais. O im pulso sexual, no ent anto, indica-nos aonde ele quer ir. Com o

result ado, começam os a escapar em out ras áreas t am bém. É muit o raro que os com panheiros que

nossos pais escolheriam para nós sejam os m esm os que nós escolheríamos. Se a diferença é

excessiva, ou os pais muit o dominadores, ent ão a pessoa pode enfrent ar uma escolha dolorosa.

Paul Douglas comentou que a mulher de cabelos escuros, que parece muit o mais velha, é a

mãe do rapaz, e a escolha reside ent re ficar sob sua prot eção ou avent urar-se por si m esm o.

Aqueles que acredit am , com o Freud, que o prim eiro desejo de um menino é dirigido para sua

mãe, verão aqui um clássico dilema edipiano. Uma part e da personalidade deseja m ant er a

fant asia secret a de um a união com sua m ãe, enquanto a out ra deseja encont rar um am or

verdadeiro na realidade da própria geração do garot o. M as nós não precisam os aceit ar a dout rina

de Freud para perceber as im plicações m ais am plas dest a escolha. Se o rapaz deseja secret am ent e

sua mãe, ou não, a vida levada sob a prot eção dos pais é segura a confort ável. M as ele (ou ela,

pois as meninas basicament e enfrent am os m esm os problem as, em bora algumas vezes de form as

diferent es), jamais poderá t om ar-se um verdadeiro indivíduo sem efet uar uma ruptura. E nada,

com o a sexualidade, indica isso de m odo mais forte.

Port ant o, a versão t radicional do t runfo 6 represent a a adolescência. Não apenas a

sexualidade em erge nessa época, m as t ambém a independência moral a int elect ual. As cart as 3, 4

e 5 represent aram-nos com o moldados pelas grandes forças da nat ureza, da sociedade e dos pais.

Na cart a 6, o indivíduo emerge, um a personalidade verdadeira com suas próprias idéias e

objet ivos, capaz de fazer im port ant es escolhas, baseado não em ordens dos pais, mas em suas

próprias avaliações de desejos e responsabilidades.

Esses significados pert encem à est rut ura t radicional da cart a. Ao desenhar sua própria

versão dos Nam orados, Wait e levant ou um a quest ão diferent e. Quais as funções que o sexo e o

am or, em última análise, desem penham na vida de um a pessoa? E quais são os profundos

significados que podem os encont rar no int enso drama de duas pessoas que junt am seus corações

a seus corpos? Wait e cham ava sua pintura de " a cart a do amor hum ano, aqui m ost rado como

part e do cam inho, a verdade e a vida".

O im pulso sexual nos t ira do isolam ent o. Ele nos impele a form ar relacionam ent os vit ais

com out ras pessoas, e finalm ent e abre o caminho para o am or. At ravés do amor, nós não apenas

form am os um a unidade com out ra pessoa, m as percebemos um lampejo dos significados m aiores

e m ais profundos da vida. No amor nós renunciamos a part e daquele cont role do ego que nos

isola não apenas das out ras pessoas m as da própria vida. Por isso, o anjo aparece sobre as cabeças

do hom em e da m ulher, um a visão inatingível para cada um individualm ent e, m as vislumbrada

pelos dois juntos.


A religião, a filosofia e a art e sem pre t om aram o sim bolismo do m acho e da fêm ea com o

represent ando dualidade. Já vim os essa idéia reflet ida no M ago a na Grande Sacerdotisa, como

t am bém na Imperat riz e no Imperador. O simbolism o aqui é fort alecido pelo fat o de que a Árvore

da Vida, com suas chamas sem elhant es às do M ago, ergue-se at rás do hom em , enquanto a Árvore

do Conhecim ent o, com um a serpent e (símbolo não do mal, m as da sabedoria inconscient e)

enrolada, se ergue at rás da mulher. O anjo une esses dois princípios. Nos ensinament os

t radicionais, supõe-se que os hom ens e as m ulheres cont êm , dent ro de seus corpos, princípios de

vida separados. Por m eio do am or físico esses princípios se juntam .

Os ocultist as, no ent anto, sem pre reconheceram ambos os elem ent os dent ro do ser.

At ualm ent e, é com um ouvirmos dizer que t odos possuímos qualidades t ant o m asculinas quant o

femininas; habitualm ent e, porém , diz-se isso com referência a vagas idéias de comport am ento

social, como agressão e delicadeza. Quando o m acho e a fêm ea eram vist os com o opostos em suas

naturezas m ais profundas, o pont o de vist a dos ocultist as era m uito mais radical. Uma m aneira de

descrever os objet ivos dos Arcanos M aiores é dizer que eles fazem aflorar e reúnem os princípios

masculinos a fem ininos. Dessa m aneira, em m uit os baralhos, o dançarino na cart a do M undo é um

hermafrodit a.

De acordo com os cabalist as a os filósofos herm ét icos, toda a hum anidade (e, na realidade,

at é a divindade) era originalment e herm afrodit a, o macho e a fêmea separaram-se apenas com o

um a conseqüência da Queda. Assim , no nível ext erno, cada um de nós é apenas a met ade de um a

pessoa e soment e at ravés do amor podem os encont rar um sent ido de unidade.

Encont ramos est a mesma idéia em Plat ão, m as com um a variação int eressant e. Um dos

mit os platônicos declara que originalment e os hum anos eram criat uras duplas, m as de t rês

esp écies: macho-fêm ea, macho-macho e fêm ea-fêm ea. Acredit ando que os hum anos possuíam

poder excessivo, Zeus os separou com um raio, e agora cada um de nós est á procurando sua out ra

met ade. Em cont rast e com os m it os judeus e crist ãos, a hist ória de Platão dá idênt ica realidade

aos homossexuais. Advert e-nos sobre o perigo do sim bolismo demasiado simplist a de m acho e

fêm ea como definitivament e opost os. O M ago e a Grande Sacerdotisa est ão mesclados de

maneira m uito sutil em cada um de nós. E o anjo pode ser invocado por qualquer par de am ant es.

O que import a não são os papéis, m as a realidade da união.

Na int erpret ação com um do Gênesis, cabe a Eva a m aior part e da culpa, não apenas

porque ela comeu primeiro, mas porque sua sensualidade induziu Adão a cair. Supost ament e, o

homem era governado pela razão e a mulher pelo desejo. Essa separação levou alguns crist ãos a

declarar que as mulheres não t inham alm a. Todo o mito da Queda, no ent anto, com sua ênfase

em desobediência e cast igo, na realidade dest ina-se a servir a um a moralidade repressiva. As


paixões físicas eram vist as com o perigosas para a sociedade e, port anto, precisavam ser

cont roladas. Como Joseph Campbell m ost ra em As máscaras de Deus, a ant iga religião da deusa da

Palest ina encerra o m esm o dram a com um a serpent e, um a Árvore da Vida, e uma m açã. M as, na

antiga história, o iniciant e recebia da deusa a maçã, o que t he perm it ia ent rar no paraíso, e não se

const it uía em causa de sua expulsão. Os antigos hebreus invert eram o m ito, em part e como

maneira de estigm at izar a velha religião como m á, mas t ambém porque, como os babilônios, eles

consideravam os velhos hábit os " monstruosos" .

O Tarô, no ent ant o, é um caminho de libert ação. O medo que Jeová demonst ra de que as

criat uras humanas " se t ornem como nós" , é precisam ent e o objet ivo do Tarô - fazer aflorar

plenam ent e a cent elha divina em nós e uni-la aos nossos eus conscient es, para acabar com a

dualidade ent re Deus e a criat ura hum ana, a fazê-los um. Dessa forma, embora conservem muit o

do simbolism o do Gênesis, os Namorados do baralho Rider sut ilm ent e invert em seu significado.

Observe que enquant o o homem olha para a mulher, a m ulher olha para o anjo. Se o

macho é na verdade a razão, ent ão a racionalidade soment e pode estender-se além dos seus

limit es at ravés da paixão. Por sua natureza, a razão cont rola e cont ém , enquant o a paixão t ende a

ext inguir t odos os lim it es. Nossa t radição colocou o corpo e o pensam ent o racional em conflit o um

com o out ro. O Tarô nos ensina que precisamos uni-los (uma única m ont anha se eleva ent re os

dois nam orados) e que não é o poder cont rolador da razão que eleva os sent idos a um nível m ais

alt o, e sim o caminho cont rário.

Podemos verificar isso em t erm os psicológicos diret os. A m aioria das pessoas est á presa

dent ro dos seus egos ou das m áscaras que apresent am ao mundo. M as se podem ent regar-se à

paixão sexual, elas conseguem, ao m enos por um m om ento, superar seu isolam ent o. Aqueles que

não podem libert ar seus egos, m esm o por um momento, fazem m au uso do sexo, ou são mal

usados por ele. O sexo se t orna um m eio de adquirir poder sobre alguma out ra pessoa, m as jam ais

sat isfaz. Quando uma pessoa nega os desejos do corpo de liberar-se com out ra pessoa, o

result ado é depressão. O anjo foi repudiado.

Ao mesmo t em po, as paixões sozinhas não podem nos conduzir ao anjo. Elas precisam ser

guiadas pela razão, t anto quanto a razão necessit a que as paixões a libert em . Aqueles que

sim plesment e vão para onde seus desejos os im pelem são freqüent em ent e at irados de uma

experiência a out ra.

Paul Fost er Case cham a o anjo de Rafael, o que dirige o superconscient e. Isso nos leva de

volt a à m ent e t rina; aqui aprendemos que os t rês níveis da m ent e não são separados e isolados,

com o os t rês andares de um a casa, m as que o superconscient e é na verdade um produt o do

conscient e e do inconscient e reunidos. O caminho est ende-se at ravés do inconscient e porque é lá


que encont ram os a verdadeira energia da vida. De fat o, o superconscient e pode ser descrito como

a energia ext raída do inconscient e e t ransform ada em um est ado m ais elevado. Part e dessa

t ransform ação perm anece na consciência, dando forma, direção a significado à energia.

Se no m ot ivo t riangular as duas figuras de baixo represent am as dualidades da vida,

enquanto a figura maior, no alto, simboliza uma força m ediadora ent re elas, ent ão no t runfo 6 o

mediador é o amor sexual. Quando nos rendem os a ele sent imos um a manifest ação rápida de algo

maior do que nós mesmos. Apenas um lam pejo, e apenas por um momento; a verdadeira

libert ação requer, finalm ent e, m uito m ais do que paixão. M as o am or pode ajudar-nos a ver o

cam inho, e a conhecer um pouco da felicidade que nos aguarda ao fim dele. Alguns m ísticos,

principalm ent e Sant a Teresa, descreveram a união com Deus em t ermos de êxt ase sexual.

Os significados divinat órios para a imagem de Wait e-Sm it h são diret os. Eles se referem à

im port ância do amor na vida de um a pessoa dedicada a um am ant e definido; muit as vezes

referem -se a casam ent os ou a relacionament os prolongados. A cart a sugere que det erminado

relacionamento foi ou provará ser m uit o import ant e para a pessoa, conduzindo-a a um a nova

com preensão da vida. Se algum problema específico est á sendo considerado na leitura, ent ão os

Nam orados indicam algum t ipo de auxilio, seja virt ualm ent e através da ajuda do am ant e, ou

at ravés de apoio emocional. M as isso nem sempre é verdade. Os Nam orados, na posição do

passado, especialm ent e relacionados com cart as que indicam uma recusa em encarar a sit uação

presente, podem apont ar um a frust rant e nost algia por um amor passado.

Todas as primeiras cart as represent aram arquét ipos. Quando as invert emos, adicionamos

os elem ent os que falt am. M as aqui o indivíduo avançou e agora o significado inverso m ost ra

fraqueza e bloqueios. Ele é ant es de t udo um am or dest rut ivo, part icularment e em um mau

casament o. Pode referir-se a problemas românt icos ou sexuais que dominam a vida de um a

pessoa, t anto a part ir de dificuldades com uma pessoa específica, com o porque a pessoa

sim plesment e acha o am or um grande problem a. Porque a pintura de W ait e-Smit h indica um

am or maduro, e a im agem t radicional most ra o processo de escolha adolescent e, qualquer versão

invert ida indica im aturidade afet iva; a adolescência prolongada que m ant ém algum as pessoas

envolvidas em fant asias infant is muit o t em po depois de seus corpos t erem am adurecido

com plet am ent e.

O CARRO

As primeiras versões dest a cart a, que most ravam o Carro puxado por dois cavalos em vez

de duas esfinges, derivam de uma série de raízes históricas e mit ológicas. Originalment e, ela vem
dos desfiles organizados em Roma, e em out ros lugares, em hom enagem a um herói conquist ador,

quando sua carruagem o conduzia pelas ruas cheias de cidadãos que o aclamavam . O cost um e

aparent ement e responde por alguma profunda necessidade psicológica de part icipação em grupo.

Dois m il anos depois nós ainda o prat icamos, nos desfiles feit os para president es, generais e

ast ronaut as, com limusines abert as substituindo a carruagem .

O Carro sugere m ais do que uma grande vit ória. Dirigir um veículo de dois cavalos em

velocidade requer cont role t ot al sobre os anim ais; a atividade serve com o um veículo perfeit o

para a vont ade poderosa. Plat ão, no Fedro, refere-se à m ent e como um a carruagem puxada por

um cavalo pret o e um branco, a imagem exat a do Tarô.

Um cert o mit o hindu coma a hist ória de Xiva dest ruindo uma t ríplice cidade dos dem ônios.

Para fazer isso, ele exige que t oda a criação seja subordinada à sua vont ade. Os deuses fizeram um

carro para Xiva, ut ilizando não som ent e a si m esm os, m as os céus e a t erra com o m at eriais. O sol e

a lua form aram as rodas, e os vent os, os cavalos. (O símbolo na frent e do Carro do Tarô, como

um a porca e um parafuso, ou uma roda e um eixo, é chamado o lingam e o yoni, represent ando

Xiva, o princípio m asculino, e Parvat i, o princípio feminino, unidos num a única figura. At ravés das

im agens do m it o aprendemos que a vit ória espirit ual sobre o m al vem quando podemos focalizar a

t ot alidade da natureza, da mesma m aneira que a energia inconscient e encarnada no próprio Xiva,

at ravés da vont ade conscient e.

As duas fábulas most ram dois aspect os diferent es da idéia da vont ade. A hist ória de Xiva

fala de uma verdadeira vit ória, na qual o espírito encont rou um foco para descarregar sua força

t ot al. M as o Fedro nos dá a im agem de um ego t riunfant e, que cont rola, mais do que soluciona, os

conflitos básicos da vida. Os coment adores do Tarô que vêem as cart as como um grupo de

im agens independent es, cada uma delas cont ribuindo com algum a lição vit al para nossa

com preensão espiritual, t endem a dar ao Carro sua significação m ais ampla. Eles argum ent am que

o t ítulo cabalíst ico para o núm ero 7, com t odas as suas conot ações míst icas, é " Vitória" .

Em muitos lugares, especialm ent e na Índia, o cavalo foi associado a mort e e funerais.

Quando o pat riarcado nascent e aboliu o sacrifício rit ual do rei, um cavalo era m ort o em seu lugar.

O sacrifício do cavalo t ornou-se o m ais sagrado, associado à imort alidade. M esm o hoje, os at aúdes

de grandes líderes são t ransport ados por cavalos. (Um a conjugação bizarra dos dois aspect os do

Carro foi vist a na mort e de John Kennedy. Ele foi m ono em sua limusine durant e um desfile, e em

seguida um cavalo - rebelado cont ra o cont role de seu t reinador - puxou seu caixão no funeral de

Est ado.) Essas conexões sugerem a idéia da vitória da alm a sobre a mort alidade.

Quando olhamos para as cart as em seqüência, vemos que o 7 é apenas a vit ória da

prim eira linha dos Arcanos M aiores. Ele coroa o processo de m at uração daquela linha, m as, por
necessidade, não pode dirigir-se às grandes áreas do inconscient e e do superconscient e. Vist o

dessa maneira, o Carro nos most ra o ego desenvolvido; as lições das prim eiras cart as foram

absorvidas, o período adolescent e de busca e aut ocriação passou, e agora vem os o adulto

maduro, bem -sucedido na vida, adm irado pelos out ros, confiant e a sat isfeit o consigo m esm o,

capaz de cont rolar sent imentos, e, acima de t udo, de governar a vont ade.

Como o M ago, o Cocheiro t raz uma vara mágica. Ao cont rário do M ago, ele não a levant a

sobre sua cabeça em direção ao céu. Seu poder est á subordinado à sua vont ade. Suas m ãos não

seguram rédeas. Seu carát er fort e, sozinho, cont rola as forças opost as da vida.

O lingam e o yoni indicam sua sexualidade m adura, que est á sob o seu cont role. Assim , ele

não é a vít im a de suas emoções e sua sexualidade cont ribui para um a vida sat isfat ória. O

quadrado brilhant e em seu peit o, um sím bolo de nat ureza vibrant e, vincula-o ao m undo sensual

da Imperat riz, m as a est rela de oito pont as em sua coroa most ra sua energia ment al dirigindo suas

paixões (os simbolist as consideram a est rela de oit o pont as como m eio cam inho ent re o quadrado

do mundo m at erial e o círculo do espirit ual). Seu carro aparece m aior do que a cidade indicada

at rás, dando a ent ender que sua vont ade é m ais poderosa do que as regras da sociedade. No

ent anto, o fato de seu carro não est ar em moviment o indica que ele não é um rebelde. As rodas

do carro repousam na água, most rando que ele ext rai energia do inconscient e, em bora o carro em

si, parado na t erra, o isole de um cont ato m ais diret o com aquela grande força.

M encionamos o simbolism o sexual do lingam e do yoni. Enquant o o mito hindu relaciona

os cavalos com a mort e, o simbolismo freudiano do sonho os relaciona com a energia sexual da

libido. Pelo fato de cont rolar os cavalos (ou esfinges) o Cocheiro cont rola seus desejos inst int ivos.

Diversos sinais m ágicos enfeit am seu corpo. Sua túnica t raz símbolos de m agia cerimonial,

seu cint o m ost ra o signo e os planet as. As duas faces lunares em seus om bros são cham adas Urin e

Thum mim, as placas que se supõem que o Sumo-Sacerdot e de Jerusalém t razia nos ombros, e

que, port anto, sugerem o Hierofant e. Ao m esm o t empo, as placas lunares referem -se à Grande

Sacerdot isa. Not e t ambém que o pano na part e t raseira do carro lembra o véu da Grande

Sacerdot isa; ele sit uou o m ist ério do inconscient e at rás dele.

Vemos, port anto, no simbolism o do Carro, todas as cart as ant eriores da primeira linha. A

vara e os sím bolos indicam o M ago, a água, as esfinges e o véu sim bolizam a Grande Sacerdot isa, o

quadrado e a t erra verde sim bolizam a Imperat riz, a cidade sim boliza o Imperador, as placas do

om bro sim bolizam o Hierofante, e o lingam e o yoni simbolizam os Nam orados. Todas essas forças

cont ribuem para a personalidade ext erna.

M ais um a vez, observe o Carro com suas qualidades pét reas. Observe o próprio cocheiro

incorporando-se ao seu veículo de pedra. A m ent e que subordina todas as coisas ao conscient e
correrá o risco de t ornar-se rígida, separada das próprias forças que aprendeu a cont rolar.

Observe t ambém que a esfinge branca e a pret a não est ão harmonizadas um a à out ra. Olham em

diferent es direções. A vont ade do cocheiro as conserva junt as, num equilíbrio t enso. Se essa

vont ade falhar, o Carro e seu condut or serão despedaçados.

Paul Douglas comparou o Carro à idéia da persona de Jung. À proporção que crescem os,

criam os uma espécie de máscara para lidar com o mundo externo. Se conseguimos enfrent ar com

sucesso os vários desafios da vida, ent ão os diferent es aspect os simbolizados pelas out ras cart as

se t ornarão int egrados nessa ego-máscara. M as nós podem os m uito facilment e confundir est a

bem-sucedida persona com o verdadeiro " eu" , at é ao ponto em que, se t ent armos descart ar a

máscara, t em erem os sua perda como um a espécie de m ort e. Essa é a razão por que a segunda

linha dos Arcanos M aiores, que t rat a precisament e da libert ação do eu de suas máscaras ext ernas,

t raz a M ort e com o sua penúltim a cart a.

At é agora consideramos o Carro com o um em blem a de mat uridade pessoal. M as a idéia da

vont ade hum ana se est ende além do indivíduo. Com suas im agens da m ent e subjugando e

utilizando as forças da vida, o Carro é um símbolo perfeit o da civilização, que cria a ordem a part ir

do caos da natureza usando o m undo natural com o m atéria-prima para sua agricultura e suas

cidades. Um a das principais conot ações cabalíst icas para essa cart a desenvolve essa idéia. Por sua

conexão com a let ra hebraica " Iaien", o Carro t ransm it e a qualidade da fala. A fala sem pre deu aos

humanos a impressão de represent ar a ment e racional a seu domínio sobre a nat ureza. At é onde

sabem os, apenas os humanos possuem o dom da linguagem (embora os chimpanzés t enham -se

most rado capazes de aprender os signos da linguagem hum ana, a as baleias a os golfinhos talvez

possuam uma linguagem própria desenvolvida) e podem os dizer que a fala nos separa dos

anim ais. Adão conseguiu domínio sobre os anim ais do Éden falando seus nom es. M ais import ant e,

as criat uras hum anas usam a linguagem para t ransm itir a inform ação que perm it e à civilização

continuar.

No ent anto, da mesma forma que o ego é limit ado, t ambém a fala o é. Ant es de mais nada,

a fala rest ringe nossa experiência da realidade. Elaborando um a descrição do mundo, dando a

cada coisa um rótulo, const ruímos um a barreira ent re nós mesm os e a experiência. Quando

olhamos para um a árvore, não sent imos o im pacto de um organismo vivo; em vez disso, pensam os

em " árvore" e seguim os adiant e. O rót ulo substitui a coisa em si. Tam bém , por depender dem ais

da qualidade racional da linguagem , ignoramos experiências que não podem ser expressas em

palavras. Já vim os com o a Grande Sacerdot isa significa sabedoria intuit iva além da linguagem.

Cert as experiências, especialm ent e a união m ística com o espírit o, não podem ser descrit as. A

linguagem pode apenas fazer alusão a elas at ravés de m et áforas a fábulas. As pessoas que
dependem t ot alm ent e da linguagem chegaram ao pont o de insist ir que experiências não-verbais,

ou experiências que não podem ser m edidas por t est es psicológicos, não exist em. Tal dogm at ism o

encont ra seu sím bolo perfeit o no cocheiro incorporando-se ao seu carro de pedra.

At é agora consideram os cada sím bolo da pintura excet o, t alvez, o mais óbvio: as duas

esfinges. Wait e pediu emprest ada essa inovação a Eliphas Lévi, o grande pioneiro do Tarô

cabalíst ico. Como os dois pilares da Grande Sacerdot isa, ou os cavalos pret o e branco que

subst ituem, as esfinges significam as dualidades a cont radições da vida. Novam ent e, vem os o

padrão t riangular. Aqui a força mediadora é o poder da vont ade.

O uso de esfinges em vez de cavalos sugere diversos significados mais profundos. Na lenda

grega a esfinge era um enigma, apresent ando o mist ério da vida ao povo de Tebas. O m ito nos

conta que a esfinge agarrava os jovens da cidade e lhes apresent ava o seguint e enigm a: " Qual é a

criat ura que anda sobre quat ro pernas de m anhã, duas pernas ao m eio-dia, a t rês pernas à noit e?"

Aqueles que não conseguiam responder eram devorados. Agora, a respost a é " hom em" , que

engat inha quando bebê, anda em pé quando adult o, a usa bengala na velhice. A ilação é clara. Se

você não compreende sua humanidade básica, com suas forças e suas fraquezas, ent ão a vida o

dest ruirá. O Carro sim boliza a m aturidade, aceit ando os lim it es da vida, m ais a faculdade de falar,

ist o é, a compreensão racional, que é usada para definir a exist ência e, port ant o, cont rolá-la.

M as um out ro significado se esconde aqui. O homem que respondeu ao enigm a da esfinge

foi Édipo, que chegou a Tebas depois de mat ar seu pai. A ênfase de Freud sobre o incest o desviou

a at enção da m ensagem mais profunda da hist ória de Édipo. Édipo era a imagem perfeit a do

homem bem -sucedido. Ele não apenas salvou Tebas de um a am eaça e t ornou-se rei da cidade,

com o realizou isto por sua compreensão da vida. Ele sabia o que era o homem. No ent anto, não

conhecia a si mesmo. Sua própria realidade íntim a permaneceu fechada para ele at é que os

deuses o forçaram a confront á-la. E os deuses realment e o forçaram. Se os oráculos não tivessem

falado primeiro a seu pai e depois a ele, Édipo jam ais t eria feit o o que fez. Port ant o, em bora

com preendesse o significado ext erno da vida do hom em , ele nem sequer com preendia quem

realm ent e era, nem sua relação com os deuses que governavam sua vida. E est es dois assunt os

const it uem precisam ent e os int eresses precípuos da segunda e da t erceira linhas dos Arcanos

M aiores. Na segunda, vam os além do ego para encont rar o verdadeiro eu. Na t erceira, t rat amos

abert am ent e das forças arquét ipas da exist ência e at ingimos finalm ent e um a plena int egração

daquelas dualidades que o cocheiro foi capaz de dom inar, mas nunca conciliar.

Os significados divinat órios do Carro t êm origem em sua poderosa vont ade. Em um a

leit ura, a cart a significa que a pessoa est á controlando sem sucesso algum a situação at ravés da

força de sua personalidade. A cart a sugere que um a sit uação cont ém algumas cont radições e que
elas não foram junt adas mas sim plesm ente conservadas sob cont role. Isso não pret ende dar muit a

ênfase às t onalidades negat ivas da cart a. Quando em sua posição para cima, o Carro significa

basicam ent e sucesso; a personalidade que se encarrega do mundo à sua volt a.

Conseqüent ement e, se ele aparece em um a leitura que t rat e de problem as, ent ão indica vit ória.

Invert ida, as cont radições inerent es da cart a gan ham uma força m aior. O Carro de cabeça

para baixo sugere que o enfoque da força de vont ade não foi bem-sucedido, e a sit uação fugiu ao

cont role. A não ser que a pessoa possa encont rar algum out ro enfoque para as dificuldades, ela

est ará diant e do desast re. A força de vont ade sozinha não nos pode sust ent ar sem pre. Com o

Édipo, algum as vezes precisamos aprender a ceder ant e os deuses.

CAPÍTULO 5

Voltando-se para o Int erior

A BUSCA DO AUTOCONHECIM ENTO

Com a segunda linha dos Arcanos M aiores, nós nos t ransferim os do m undo ext erior e seus

desafios para o eu ínt imo. As cont radições ocult as na poderosa imagem do Carro precisam agora

ser enfrent adas abert ament e. A máscara do ego precisa m orrer. Por m ais dramát ica que soe, essa

sit uação é na realidade m uit o comum, pelo menos na necessidade, se não na realização.

Aut oquest ionamento e busca há m uito t empo t êm sido vist os com o caract eríst icas da m eia-idade.

Quando as pessoas são jovens, elas se preocupam principalm ent e com a vitória sobre as forças da

vida, preocupam -se em encont rar um parceiro e em conquist ar sucesso. Quando o sucesso foi

at ingido, no ent anto, as pessoas podem t er dúvidas sobre seu valor. A pergunt a, " Quem sou eu

sob t odas as minhas posses, sob t odas as im agen s que eu apresent o às out ras pessoas?" adquire

cada vez m ais import ância. Hoje em dia, muit as pessoas mais jovens não est ão esperando pela

meia-idade e pelo sucesso para pergunt ar-se essas coisas. Uma característ ica de nossos t em pos é

o desejo de que a vida t enha um sent ido de significado, de essência ínt ima. E m ais a m ais pessoas

est ão decidindo que o primeiro lugar para procurar t al significado é dent ro de si mesmas.

Est a idéia, de fat o, é apenas um a m eia verdade. O M ago nos ensina que, com o seres

físicos, apenas encont ramos realidade em conexão com o mundo ext erno; a verdade ínt im a da

Grande Sacerdot isa é um pot encial e precisa ser manifest ada at ravés da consciência do M ago. M as

enquanto nossas máscaras, hábitos e defesas nos separam do autoconheciment o, de m aneira a

jamais saberm os por que agim os, t odas as coisas que fazem os permanecem sem sent ido. O fluxo

ent re o M ago e a Grande Sacerdotisa precisa ser livre para que a vida t enha valor.
Porque a linha basicament e invert e a ênfase das prim eiras set e cart as, muit as delas

parecem uma im agem vist a no espelho das cart as que est ão sobre elas. A polaridade sexual dos

t runfos 1 e 2 torna-se invert ida na Força e no Erem it a, enquanto o princípio da luz e da escuridão,

o ext erno e o int erno, perm anecem nas m esm as posições. A Roda da Fortuna gira para longe do

mundo natural e não pensant e da Imperat riz, para um a visão de mist érios íntim os. Ao fim da

linha, a Tem perança nos m ost ra uma nova espécie de vit ória. A força do Carro foi sub stituída pelo

equilíbrio e pela calm a. Enquanto o carro de pedra do cocheiro o afast a do cont at o diret o com a

t erra e o rio, o anjo da Temperança se eleva com um pé na t erra, out ro na água, m ost rando a

personalidade em harmonia consigo mesma e com a vida.

Um out ro t ema aparece na segunda linha. At é agora as cart as nos apresent aram uma série

de lições, coisas que precisamos aprender a respeit o da vida para nos t ornarm os bem -sucedidos e

maduros no mundo ext erno. M as o esclarecim ent o é uma experiência profundam ent e pessoal. Ele

não pode ser est udado nem analisado, som ent e vivido. A série de lições ext ernas culm ina na Roda

da Fortuna, que nos most ra uma visão do mundo e de nós mesmos que precisa ser solucionada. O

Dependurado, no ent ant o, m ost ra algo int eirament e diferent e. Aqui vemos não uma lição, mas a

im agem do próprio esclarecim ent o, a personalidade ext erna virada de cabeça para baixo por um a

experiência m uito real e pessoal.

Ent re essas duas cart as, e no exat o centro de t odos os Arcanos M aiores, est á a Just iça,

equilibrando cuidadosament e a balança ent re o int erno e o ext erno, o passado e o futuro,

racionalidade e intuição, conhecimento e experiência.

A FORÇA

A m udança que Wait e fez nos Nam orados é a mais óbvia de suas alt erações do Tarô; sua

t roca de Força por Just iça cont inua a ser a mais cont roversa. Ele m esm o não dá nenhuma razão

real para a mudança.

" Por mot ivos que m e sat isfazem , est a cart a foi t rocada pela da Just iça, que geralm ent e t em

o núm ero oit o. Como a variação não possui nenhum significado para o leit or, não há necessidade

de explicações." As razões são cert am ent e mais do que pessoais. Não apenas Wait e, mas Paul

Fost er Case e Aleist er Crow ley colocaram a Força com o 8 e a Just iça como 11. Provavelm ent e

t odos eles seguiram a Ordem da Aurora Dourada, cujo baralho secret o de Tarô t am bém t rocou as

duas cart as.


Est a conexão com uma ordem secret a sugere a idéia de iniciação. Agora, a Aurora

Dourada, nat uralm ent e, não deu origem à prática da iniciação, em bora afirm asse que recebia seus

rit uais específicos diret ament e de espírit os inst rutores. A iniciação dat a de milhares de anos e é

observada no mundo todo, dos t emplos egípcios ao desert o aust raliano. Ela represent a um m eio

esp ecial de t ransformação psíquica, just am ent e o assunt o de que t rat a a linha média do Tarô. Por

int erligar a Just iça a as cart as que a rodeiam a essa idéia ant iga, adquirimos uma compreensão

mais ampla do Tarô como um a experiência.

Vale a pena considerar as im plicações da antiga classificação dos t runfos. A imagem da

Just iça sugere pesar nossa vida na balança. A segunda linha nos leva para longe das realizações

ext ernas a em direção ao próprio eu. Assim, a Just iça na primeira posição significaria um a

avaliação do que sua vida significou para você, seguida por um a decisão de procurar intim am ent e

maiores significados. Obviam ent e, ist o se encaixa m uito bem . M as se a Just iça vem em primeiro

lugar, ent ão todas essas coisas acont ecem racionalment e; a avaliação se origina como um a reação

conscient e ao descont ent am ento. Quanto mais poderosa esta avaliação aparece quando ela nasce

de dent ro, impost a a nós pela visão poderosa da Roda da Fort una. A espada de dois gum es da

Just iça sugere ação, uma respost a ao conhecim ento obtido pela avaliação. A idéia da reação nos

leva diret am ent e ao Homem Dependurado. Se a Justiça viesse prim eiro, ent ão o Eremit a a

seguiria. Como alguém que busca a sabedoria, o Erem it a t am bém represent aria um a reação válida

à Justiça. M as novament e, se perm it irm os que aquela sabedoria venha ant es da Just iça, ent ão o

Hom em Dependurado dem onst ra um a reação originada no m ais profundo do ínt imo.

Agora considerem os a Força em ambos os lugares. A pintura m ost ra um a mulher domando

um leão. Resum idam ent e, a imagem sugere a energia do inconscient e libertada e acalm ada,

" dom ada" pela orient ação da compreensão conscient e. Tal idéia facilment e caberia na posição do

meio. Nós descreveríamos ent ão a cart a como o test e cent ral de t oda a linha. E cert am ent e a paz

e a grande reversão do Homem Dependurado seguiriam a Força perfeit ament e.

M as nós podem os t am bém ver a Força com o as qualidades vit ais para iniciar a linha. A

busca em direção ao ínt imo não pode ser realizada pelo ego. Precisam os enfrent ar sent imentos e

desejos há muit o escondidos dos nossos pensament os conscient es. Se t ent am os nos t ransform ar

por um processo int eiram ent e racional, criamos um a out ra espécie de persona. Algo muit o

sem elhant e a isso na realidade acont ece com freqüência. M uit as pessoas sent em um a falt a de

espont aneidade em suas vidas. Elas olham à sua volt a ou lêem livros so bre psicologia, e observam,

com uma cert a inveja, ou at é com vergonha de suas próprias repressões, as caract eríst icas de

pessoas espontâneas. E ent ão, em vez de seguir o t emível processo de libert ar seus medos
escondidos e seus desejos, elas se esm eram em im it ar a espont aneidade. Elas prolongaram o

Carro at é um dom ínio novo.

Fazendo da Força o núm ero 8, nós a colocamos cont ra o Carro, com o uma espécie

diferent e de poder, não a vont ade do ego, mas a Força ínt ima para se confront ar calmament e e

sem m edo consigo mesmo. Os m ist érios podem vir à t ona porque encont ramos a Força para

enfrent á-los. O leão significa todos os sent imentos, medos, desejos e confusões suprimidos pelo

ego em sua t ent at iva para cont rolar a vida. O cocheiro fez surgir seus sent im entos m ais profundos

com o um a font e de energia, mas t eve sem pre o cuidado de dirigir aquela energia para onde

conscient ement e decidiu que ela devia ir. A Força perm it e que as paixões ínt im as se apresent em

com o o primeiro passo no caminho além do ego.

Em um nível m uito sim ples podemos ver essa emergência de sent im ent os suprimidos na

pessoa que se perm it e agir "infantilment e" , chorando e grit ando; em resum o, fazendo todas as

coisas que ant eriorm ent e pareciam t olas ou const rangedoras. Em um nível mais profundo, o leão

sim boliza a plena força da personalidade, geralm ent e ret ocada (ou suavizada) pelas exigências da

vida civilizada. A Força libert a essa energia para usá-la com o uma espécie de combust ível, que nos

im pele ao longo do cam inho secret o do Erem it a. Esse propósito só pode ser alcançado porque o

leão é "dom ado" no m om ento em que é libert ado. A Força revela a personalidade como Pandora

abrindo sua caixa. Ela faz isso, no ent anto, com um sent ido de paz, um amor pela vida em si e um a

grande confiança no result ado final. A não ser que acredit em os realm ent e que o processo de aut o-

descobert a é um processo que t raz alegria, nós nunca o seguiremos at é o final.

O sim bolism o das pinturas e dos núm eros reforça a comparação ent re a Força e o Carro. O

Carro m ost ra um homem e a Força, uma mulher. Tradicionalment e, é claro, eles represent am

racionalidade e emoção, agressão e capit ulação. Também t radicionalment e, o número 7 do Carro

pert ence à m agia do macho, o núm ero 8, à fêm ea. Esse simbolism o t em sua origem na anat omia.

O corpo do hom em t em set e orifícios (cont ando o nariz como um ), o corpo da m ulher t em oit o. E

mais, o corpo m asculino possui set e pont os, os braços e pernas, a cabeça, o t ronco e o pênis. O

corpo feminino possui oit o, os seios subst it uindo o pênis.

O que queremos dizer por magia m asculina e feminina? A t eoria esot érica considera a

energia sexual como um a m anifest ação dos princípios da energia sublinhando o universo int eiro; o

macho e a fêm ea sendo sem elhant es aos pólos negat ivo e posit ivo do elet romagnet ismo. Da

manipulação dessa energia bipolar, result a o poder "m ágico". O oculist a considera esses princípios

um a ciência, nem mais, nem menos. Podemos descrever os Nam orados do baralho Rider com o um

diagram a esquem ático da energia. Port anto, o Carro e a Força est ão ligados esot ericam ent e com o

a manifest ação prát ica dos princípios simbolizados pelo M ago e a Grande Sacerdotisa.
Psicologicam ent e eles t ambém encarnam duas espécies de poder. Nossa sociedade

enfat iza a força "m asculina" de cont role; a conquist a, a dominação do mundo pela razão e pela

vont ade. M as as qualidades "fem ininas" de intuição e emoção espont ânea est ão longe de serem

fraquezas. Libert ar suas emoções m ais profundas com amor e fé requer t ant o grande coragem

quant o força.

O Louco aparece aqui. Soment e por um a espécie de salt o psíquico podem os t ransferir-nos

do conscient e ao inconscient e. E apenas um louco daria t al salt o, pois qual a razão para desist ir do

sucesso, do cont role? Os deuses forçaram Édipo; que necessidades ínt imas forçarão o rest ant e de

nós?

A posição da Força, como primeira na linha, liga a cart a ao mágico, com o o faz o sinal do

infinito - um a out ra referência ao 8 sobre sua cabeça. A inversão dos sexos indica um a junção de

aspect os de am bos os arquét ipos, o m asculino e o fem inino. O envolviment o at ivo do M ágico com

a vida foi m odificado pela paz int erna implícit a na Grande Sacerdot isa.

O corpo sensual da m ulher, seu cabelo louro, e o cinto de flores que a liga ao leão

est abelecem t ambém uma conexão ent re a cart a e a Im perat riz. A Im perat riz represent a os

inst intos nat urais e a paixão; novam ent e vem os a imagem da energia em ocional, os " desejos

anim ais" como alguns coment adores de Tarô os chamam, libert os e domados. Wait e descreve o

cinto de flores como um segundo sinal do infinit o, com um a volt a em t omo da cintura da m ulher e

a outra ao redor do pescoço do leão. Podem os descrever a Força como o M ago unido à Imperat riz,

ist o é, o poder de conscient ização e direção do M ago mist urou-se com a sensualidade da

Im perat riz, dando-lhe um sent ido de propósito a levando ao Eremit a. Not e que pela prim eira vez 1

mais 3 é igual a 4, o Im perador. Para a segunda linha 1 m ais 3 é mult iplicado por 2; a verdade

ínt ima da Grande Sacerdotisa.

Um out ro aspect o do t runfo leva essa unidade de 1 e 3 ainda m ais além . A let ra hebraica

dada por Case e out ros para a Força é t et h. Tet h aplica-se cabalist icam ent e à " serpent e" ; mas a

palavra hebraica para serpent e t ambém significa " m ágica" . At ravés do mundo as pessoas

est abeleceram essa conexão; das serpent es na vara m ágica de Herm es para o poder kundalini do

ocultismo t ânt rico na Índia e no Tibet e. E a serpent e, em kundalini e em outros lugares, represent a

a sexualidade. O Tarô, com o sabem os pela serpent e enroscada em volt a da Árvore da Vida at rás

da m ulher nos Namorados, considera a sexualidade como sendo uma força volt ada para o

esclarecim ent o. Se, esot ericam ent e, a Força represent a a prática efet iva da magia sexual,

psicologicam ent e ela se refere m ais um a vez à liberação daquela energia relacionada com nossos

sent im ent os mais fort es. Quando comparamos a Força com o Dem ônio, vemos que a libert ação
aqui é na verdade apenas parcial. O leão é cont rolado e dirigido em vez de lhe ser perm it ido

dirigir-se a qualquer lugar aonde deseja ir.

Na alquimia, o leão represent a o ouro, o sol e o enxofre. O enxofre é um elem ent o inferior

e o ouro (na alquim ia) é o m ais alt o. O processo pelo qual o enxofre t orna-se ouro é precisam ent e

o processo de t ransformar o eu inferior. E o intuit o da Tem perança, a últ im a cart a da linha, com

seu líquido despejado de um a t aça para outra, espelha o objet ivo alquímico de m ist urar os

opost os para formar uma exist ência nova e mais significat iva.

Aqueles que consideram a vida um assunto de cont role est rit o, que vêem o inconscient e

com o um " esgot o m oral" de repressões (como Jung caract eriza a visão est reit a de Freud), que

consideram as paixões um tormento, considerarão o leão como forças naturais que a m ent e

racional precisa sobrepujar. Alguns baralhos de Tarô m ais ant igos, incluindo o Visconti, most ravam

Hércules mat ando o leão de Nem éia. As paixões vencidas pela razão. M as o leão t ambém

represent ava Crist o, o poder radiant e de Deus. Aqueles que permit em que as energias

inconscient es de dent ro de si mesmos venham à t ona, guiando-as com am or e fé na vida,

descobrirão que a energia não é um a best a dest ru t iva, mas a m esma força de espírit o dirigida para

baixo at ravés do pára-raios do M ago.

Nas leit uras, a cart a da Força indica a habilidade para enfrent ar a vida, e part icularm ent e

algum problema difícil ou época de m udança, com esperança e disposição. Ela most ra um a pessoa

fort e por dent ro, que saboreia a vida apaixonada embora pacificam ent e, sem ser cont rolada ou se

deixar arrast ar pelas paixões. A cart a represent a o encont ro da Força para iniciar ou continuar

algum projet o difícil, apesar do m edo e da t ensão em ocional.

Se a Força aparece em conexão com o Carro ela pode significar uma alt ernat iva para a

força e o poder da vont ade, especialment e, é claro, se o Carro est iver invert ido. As duas cart as

t am bém podem sim bolizar lados com plem ent ares, a m elhor configuração sendo a Força na

posição do " eu" íntimo, e o Carro na posição do " eu" ext erno (as linhas vert ical e horizont al de

um a cruz). Então vemos um a pessoa que age energicam ente, mas com um sentido de calm a.

A Força invert ida indica ant es de m ais nada a fraqueza. Falt a coragem para enfrent ar a

vida, e a pessoa se sent e vencida e pessimista. Ela significa t ambém um torment o que vem de

dent ro. O lado best ial do leão se desprende da unidade de espírito e sensualidade. As paixões

t ransform am -se em inimigo am eaçando dest ruir a personalidade conscient e e a vida que ela

const ruiu para si.


O EREM ITA

Como a est rela de seis pont as dent ro da sua lant erna, a idéia do Erem it a segue duas

direções: uma int erna, out ra ext erna. Em prim eiro lugar a cart a significa um recolhimento do

mundo ext erno com o propósit o de at ivar a m ente inconscient e. Vem os est e processo sim bolizado

no t riângulo da " água", que aponta para baixo, como os alquim ist as o cham avam . M as o Erem it a

t am bém significa um m est re que nos ensinará com o iniciar est e processo, e nos ajudará a

encont rar nosso caminho. O t riângulo que apont a para cim a, o do " fogo", simboliza esse guia

esp ecial, que pode ser um professor ocult o, um t erapeut a, nossos próprios sonhos, ou at é um

espírit o guia invocado de dent ro do nosso ser.

A im agem do Erem it a ocupou um lugar especial na im aginação medieval. Vivendo nas

florest as ou no desert o, complet am ent e afast ado de t odos os int eresses normais da hum anidade,

o erem it a apresent ava um a alt ernat iva para a Igreja. Versão européia de um iogue ascét ico, ele

demonst rava a possibilidade de se aproximar de Deus at ravés da experiência pessoal. As pessoas

muit as vezes consideravam os erem it as como santos vivos e lhes at ribuíam poderes m ágicos, da

mesma form a que os discípulos dos iogues cont arão histórias m aravilhosas a respeit o de seus

mest res.
2
M esmo que o erem it a t enha se ret irado da sociedade, ele ou ela não se afast aram da

humanidade. Ent re out ras ocupações, eles davam abrigo e, algum as vezes, bênçãos aos viajant es.

Inúmeras hist órias, especialment e as lendas do Graal, descrevem o erem it a agindo como um

propiciador de sabedoria ao cavaleiro em expedição espiritual. Vem os novament e a im agem dupla

do Erem it a: exemplo e guia.

A im agem do Erem it a persist iu m uit o t em po após a prát ica especial t er-se ext inguido. O

filósofo t ranscendent al Ralph Waldo Emerson viajou durant e dias at ravés da rem ot a Escócia para

encont rar a cabana de Thom as Carlyle. Henry David Thoreau, amigo de Emerson, viveu ele próprio

em um a cabana em W alden Pond para encont rar um a compreensão de si m esm o e da natureza.

Ele ent ão escreveu a respeit o disso como exem plo para out ros. O livro de Niet zsche Assim falou

Zarat ust ra colocou num alt ar a imagem do Eremit a; o livro começa com Zarat ust ra volt ando

depois de t er conseguido a t ransform ação pessoal. E hoje em dia inúmeras pessoas ent regam -se a

gurus orient ais na esperança de que est es m est res, sem elhant es a eremit as, possam t ransform ar

suas vidas.

2
Freqüentemente as mulheres tornavam-se eremitas e a aversão medieval pelas
mulheres transformava-se em veneração por uma mulher em particular, uma mulher que
supostamente teria superado a maldade do seu sexo.
Para quem não pode encont rar um guia real, a psique m uit as vezes proporcionará um.

Jung e seus seguidores descreveram muit os sonhos de seus pacient es com velhos sábios que os

guiavam por m ist eriosos cam inhos at é a sua psique. Em muitos casos a análise dos sonhos

demonst rou que o guia do sonho na realidade era um equivalent e do t erapeut a. O inconscient e

pode reconhecer um mest re Eremit a ant es que a m ent e conscient e o faça.

O grande cabalist a do século t reze, Abraham Abulafia, descreveu t rês níveis da Cabala. O

prim eiro era a dout rina; o que pode ser aprendido dos t ext os. O segundo vinha da orient ação

diret a de um guia pessoal, enquanto o t erceiro, o m ais desenvolvido, era a experiência diret a da

união ext át ica com Deus. Est es t rês níveis t êm uma conexão m uito diret a com o Tarô, não apenas

nas t rês linhas, m as t ambém nos t rês t runfos específicos que formam juntos um t riângulo

isósceles. Vem os o primeiro nível no Hierofant e; o t erceiro, diret ament e abaixo do Hierofant e,

afast ado um nível, aparece na criança alegre da cart a 19, o Sol. O segundo nível, no ent anto, vem

não na cart a que fica ent re elas, o Hom em Dependurado, m as na out ra ext rem idade da

configuração, como a segunda cart a da segunda linha, o Erem it a.

Dout rina e mist ério surgem, am bos, como o final de um processo; dout rina, porque em

prim eiro lugar é preciso ordenar sua vida ant es de poder encet ar o est udo de uma m aneira

esp ecial (os cabalist as freqüent em ent e rest ringiam cert os t ext os import ant es a pessoas de m ais

de t rinta a cinco anos), e êxt ase porque primeiro se deve ult rapassar a confront ação arquet ípica

ent re a escuridão e o mist ério. Um guia, no entanto, aparece logo no início da jornada, após o

viajant e t er encont rado a Força para começar.

Como um emblem a do desenvolviment o pessoal, m ais do que um guia, o Eremita significa

a idéia de que soment e por um afast am ent o do mundo externo nós podemos acordar o eu

int erior. Aqueles que vêem o Tarô em duas m et ades, com a Roda da Fortuna como pont o médio,

encaram o Erem it a com o o período de cont emplação ant es que a Roda da Vida se volt e em

direção a sua segunda met ade. Quando vem os o Tarô em linhas de set e, vemos que esse

afast am ent o e a visão da própria Roda são passos em direção de um alvo m aior.

Vemos o Erem it a sobre um pico gelado e solit ário. Ele deixou o mundo dos sent idos para

penet rar na ment e. Est a imagem da m ent e como nua e fria t ransmit e apenas um a verdade parcial,

ou melhor, um a ilusão. A m ent e é rica em símbolos, alegria, luz e amor do espírito. M as ant es que

possamos assimilar essas coisas precisamos prim eiro experiment ar a m ent e com o um a alt ernat iva

silenciosa para o mundo barulhent o dos sent idos. Para os xamãs o pico nu é freqüent ement e um a

realidade diret a. Em lugares t ão dist ant es uns dos out ros, como a Sibéria e o Sudoest e da Am érica,

os candidat os a xam ãs vão sozinhos para as regiões selvagens em busca dos guias espirituais que

lhes ensinarão como curar.


O Erem it a significa uma t ransição. At ravés das t écnicas da medit ação, ou disciplina

psíquica, ou análise, nós permit imos que as part es escondidas da psique com ecem a falar conosco.

M ais t arde, experim ent aremos um a sensação de renascim ent o, prim eiro como um anjo (a part e

et erna do eu, além do ego), e depois mais profundam ent e sent ida, como um a criança livre

correndo para fora do jardim de experiências passadas. Por enquant o, o caminho pert ence à

im agem do velho sábio, sozinho, confort ado e aquecido pelo seu espesso m anto cinzento de

cont emplação.

O sím bolo da lant erna nos faz ret ornar ao Eremit a com o guia e m est re. Ele nos oferece a

luz, indicando sua boa vont ade para guiar-nos a nossa habilidade em encont rar o cam inho, se nos

dispusermos a usar a Força que t emos para continuar. Em alguns baralhos o Erem it a esconde sua

lant erna em baixo do mant o, a ent ão ela sim boliza a luz do inconscient e ocult a sob o m anto da

ment e conscient e. Tornando-a visível, mesmo dent ro de um a lant erna, o baralho Rider indica que

nós libert amos a luz at ravés de um processo definido de aut oconhecim ent o, a que esse processo é

acessível a todos.

Vimos a est rela t ant o quanto um símbolo do Eremit a com o quanto mest re, mas t am bém

com o uma luz do inconscient e, convidando-nos a descobrir seus segredos. Ela t ambém significa o

fim , a int enção de resolver os opost os da vida. Os t riângulos de água a de fogo represent am

t radicionalment e opostos, m as t ambém o m acho e a fêmea unidos em uma única form a.

O bast ão do Erem it a sugere o bast ão de um feit iceiro, a port ant o a vara mágica do M ago.

Enquant o o Louco usou a vara inst int ivam ent e, o Erem it a se apóia sobre ela como um arrim o

conscient e. Ela, port anto, simboliza o est udo que ajuda a desvendar a consciência íntima.

Im ediat am ent e abaixo da Grande Sacerdot isa, o Erem it a se relaciona com seu crit ério de

afast am ent o, indicando ainda que, em cert o sent ido, precisamos abandonar o mundo ext erno se

desejarm os t rabalhar dent ro de nós m esm os. Com o acont ece com a Força a segunda linha invert e

o arquét ipo sexual. Aqui, o papel do sim bolism o nos ensina que um esforço ment al deliberado,

baseado em t écnicas e ensinament os específicos, nos leva além da intuição bem guardada do

t em plo secret o da Grande Sacerdot isa. As águas daquele t em plo não est ão int eiram ent e libert as,

o véu continua em seu lugar at é que o raio da Torre, embaixo do Erem it a, o rasgue, abrindo-o. Sob

a influência do t runfo 9, no ent anto, o inconscient e nos fala por det rás do véu, por meio de

sím bolos, sonhos e visões.

A dist inção ent re o simbolismo m acho-fêm ea e a realidade dos tipos individuais nos leva a

algumas import ant es revelações a respeit o de arquét ipos. Tem os a t endência de encarar erem it as

e m est res como " hom ens" velhos e sábios, at é em nossos sonhos, porque nosso pat riarcado de

mais de dois m il anos im prim iu est a idéia em nossas m ent es. Em épocas mais remot as, os guias
com maior freqüência eram m ulheres, com o represent ant es da Grande Deusa, e mesmo em nosso

t em po algumas mulheres, t ais como M adame Blavat sky, t êm desem penhado essa ant iga função.

O fat o de nossos sonhos quase sem pre opt arem por hom ens velhos e sábios demonst ra a

im port ante verdade de que o inconscient e t ambém vai buscar seu m at erial nos ant ecedent es

culturais de cada sonhador. M uit as pessoas vêem os arquét ipos como imagens rigidam ent e fixas,

sem pre part ilhadas por t odos. Em vez disso, os arquét ipos são t endências da m ent e para form ar

cert as espécies de im agens, como a de um guia, e a forma específica que uma im agem t om a

dependerá muito da experiência e da bagagem cultural de cada pessoa. As iniciações medievais do

Graal e os ritos dos desert os aust ralianos seguem o m esm o padrão arquet ípico; ele os sujeit a

com o uma grade. No ent ant o, as formas ext ernas desse padrão variam im ensam ent e.

Os significados divinatórios do Erem it a derivam de ambos os aspect os. De um lado ele

sim boliza um afast am ent o de preocupações ext ernas. A pessoa pode se afast ar fisicam ent e, m as

na verdade isso não é necessário. O que im port a é a t ransferência íntim a de at enção do " ganhar e

gast ar" , como W ordsw orth chamava nossas at ividades mundanas, para as necessidades ínt im as de

um a pessoa. Ist o requer, port ant o, um afast ament o em ocional das outras pessoas e de out ras

at ividades ant igam ent e consideradas da m aior import ância. A cart a cont ém em si um sent ido de

propósit o deliberado, de recolhim ent o no t rabalho de aut odesenvolvim ent o. Em conexão com

esse sent iment o de propósito e com o desenho de um hom em velho, a cart a sim boliza

mat uridade, a um conhecim ent o do que realm ent e t em valor na vida de uma pessoa.

A cart a t ambém pode significar assist ência da part e de um guia definido, algumas vezes,

com o indicado acim a, uma guia psíquico vindo do int erior, m as na maior part e das vezes um a

pessoa real que o auxiliará em sua autodescobert a. Algum as vezes nós realm ent e não percebemos

que t al guia exist e para nós. Se o Erem it a aparece num a leit ura de Tarô, será prudent e olhar para

as pessoas à sua volt a. Se você est á envolvido em ajudar out ras pessoas na busca de

conhecim ent o, ent ão o Erem it a pode simbolizar você em seu papel de guia e mest re.

Quando invert emos a cart a, nós corrompem os a idéia de recolhim ent o. Da m esm a maneira

que a Grande Sacerdot isa invert ida pode indicar um m edo da vida, o Eremit a invert ido pode

indicar um m edo das out ras pessoas. Se nosso afast am ent o da sociedade é com o uma fuga, ent ão

a realidade do afast am ent o t orna-se cada vez m ais dominant e, levando e fobias e paranóia. Como

acont ece com out ros t runfos, os aspect os positivo e negat ivo do Erem it a dependem do cont ext o.

Algum as vezes o Eremit a invert ido pode simplesm ent e significar que nesse moment o a pessoa

precisa envolver-se com out ras pessoas.

Como a cart a, quando colocada com o lado cert o para cim a, sugere m at uridade, o Erem it a

invert ido pode algumas vezes indicar um a atitude de Pet er Pan perant e a vida. A pessoa se apega
a at ividades basicam ent e sem sent ido, ou ent ão imit a entusiasm os infantis (com o a imit ação da

espont aneidade) com o um m eio de evit ar as responsabilidades de fazer algum a coisa com sua

vida. Encont rei pela prim eira vez essa int erpret ação do Eremit a invert ido em um a leitura feit a por

um hom em em Nova Iorque para um amigo m eu; desde ent ão, considerei-a út il em muit as

sit uações. Curiosament e, conheci o homem at ravés de um out ro amigo que considerava o leit or

com o um guia pessoal em seu desenvolviment o espiritual.

A RODA DA FORTUNA

Como cert as out ras cart as de t runfo (de modo especial a M ort e), a Roda da Fort una t em

origem numa lenda medieval. A Igreja considerava o orgulho o m aior dos pecados, porque a

pessoa orgulhosa se coloca acim a de Crist o. Um a lição cont ra o orgulho era a idéia de um grande

rei t om bando do poder. Em muit as versões da lenda do Rei Artur, ele sonha com, ou enxerga à sua

frent e, na véspera de sua bat alha final, a visão de um rei rico e poderoso sent ado no alt o de um a

roda. De repent e a deusa Fortuna gira a roda e o rei fica esmagado embaixo. Pensando

seriam ent e, Art ur compreende que, não im porta quant o poder mundano concent remos, nosso

dest ino repousa sempre nas mãos de Deus. As cart as Viscont i, ilust ram essa exortação.

Agora, poderíamos considerar essa fábula moral como est ando m uito longínqua dos

sím bolos poderosos e m ist eriosos que nos enfrent am na cart a de W ait e-Sm ith, e na versão de

Osw ald Wirt h. M as a Fort una e seu arco brilhant e t êm um a hist ória curiosa. Ant es de mais nada, a

im agem m edieval deriva de uma época bem m ais antiga, quando a Fortuna represent ava a Grande

Deusa, e o rei esmagado era um fat o verdadeiro. Todos os anos, no m eio do inverno, as

sacerdot isas sacrificavam o rei; imit ando a m ort e do ano, elas se curvavam ant e o poder da Deusa,

e escolhendo um novo rei elas lhe sugeriam sut ilment e que mais um a vez ela poderia criar a

prim avera no inverno - um acont eciment o que não é de m aneira algum a autom ático para muit as

pessoas que não acredit avam em " leis nat urais" , como a gravidade. Assim , a Roda originalm ent e

sim bolizou t ant o o mist ério da natureza quanto a habilidade hum ana em t om ar part e nesse

mist ério at ravés de um sacrifício ritual. Observe que a cart a vem im ediat am ent e abaixo da

Im perat riz, o em blem a da própria Grande M ãe.

Na Idade M édia a Roda t inha perdido seu significado original; isso não quer dizer que ela

t inha perdido seu poder de sugerir o mist ério da vida. Na versão de Thom as M alory sobre a

história do rei Art ur encont ram os a sugestão de que a Roda sim boliza as volt as da " sort e" ao

acaso.
Por que algum as pessoas ficam ricas e out ras pobres? Por que um rei poderoso haveria de

cair e out ro ant igam ent e fraco subir ao poder? Quem , ou o que, cont rola as volt as da roda da

vida? M alory sugere que a sort e, e suas subidas e descidas aparent em ent e sem sent ido, é na

realidade um fato; ist o é, o dest ino que Deus escolheu para cada indivíduo, baseado em razões

que só ele consegue compreender. Com o não podemos compreender essas razões, dizem os que

os acont ecimentos da vida das pessoas t êm origem na sort e, m as t udo faz part e dos planos de

Deus.

Com a Roda, port anto, chegam os à grande quest ão de como e por que qualquer coisa

acont ece no universo. O que faz o sol brilhar? Elem ent os em fusão, sim , m as o que os faz

queim ar? Como passou a exist ir a energia at ôm ica? Por que, afinal de cont as, a prim avera deve

seguir o inverno? Por que, e com o, funciona a gravidade? Indo m ais além, descobrim os que o

dest ino t ambém é um a ilusão, um a art im anha para disfarçar o fat o de que nós, em nossa visão

limit ada, não podem os ver a conexão ínt ima ent re t odas as coisas. " Ah, bem – dizem os - é o

dest ino", um a declaração sem sent ido, porque não podem os com preender-lhe o significado. As

coisas não acont ecem simplesm ent e: são preparadas para acont ecer. O poder de planejar os

acont eciment os, de dar vida, forma e direção ao universo, diz-nos M alory, pert ence ao Espírit o

Santo, habit ando o m undo físico com o uma presença dent ro do Santo Graal (o Ás de Copas) da

mesma m aneira que a Shekinah habit ava fisicam ent e o sant uário velado do t emplo de Jerusalém .

Chegam os assim à verdade de que t anto os acont ecim ent os fort uit os da vida, como as

chamadas "leis" do universo físico, são m ist érios que nos levam à conscient ização de um a força

espirit ual at raída para baixo pelo braço levant ado do M ago e m anifest ada no mundo natural da

Im perat riz. M uitíssim os m ísticos e xamãs disseram que suas visões lhes most ravam como todas as

coisas se relacionam, como tudo se encaixa em conjunto, porque o espírit o une o universo int eiro.

Possivelm ent e poderíamos ver e compreender esse grande esquem a de vida, se não fosse o fat o

de não viverm os o bast ant e. Nossas vidas curt as rest ringem nossa visão a uma porção t ão

minúscula do m undo que a vida nos parece sem sent ido.

Est a idéia da Roda como o mist ério do dest ino, com seu significado oculto, com bina muit o

bem com a moderna versão da cart a de Wait e-Sm it h, especialm ent e quando a consideramos

com o a m et ade do cam inho para o t runfo final. Se colocarmos a Roda do baralho Rider ao lado do

M undo, imediat ament e veremos a ligação ent re elas. Num a, vem os uma roda cheia de sím bolos;

na out ra encont ramos um a coroa de vit ória, e dent ro dela um a dançarina que personifica a

verdade por t rás dos sím bolos. M ais impressionant e ainda, encont ram os os m esm os quat ro

anim ais nos cantos de cada cart a, só que os seres m it ológicos da cart a 10 foram t ransform ados em
algo real e vivo no M undo. Assim, no ponto interm ediário recebemos uma visão do significado

int erior da vida; ao fim essa visão t ornou-se real, encarnada em nosso próprio ser.

Na Índia, o rei t am bém perdia sua vida a cada ano para a Deusa. Quando os arianos

pat riarcais acabaram com esse uso, a im agem da roda do ano em m ovim ent o t ornou-se um

sím bolo ainda m ais poderoso da nova religião. A Roda da Vida girando const ant em ent e surge para

significar as leis do carm a, levando a pessoa a reencarnar em um corpo após out ro. O carm a é, de

cert a forma, sim plesm ent e um a out ra explicação para o mist ério do dest ino. Pelas ações que

prat ica em um a vida, você const rói um det erminado dest ino para si próprio na próxim a, de

maneira que, se comet er m uit os at os m aus, você cria em seu " eu" im ort al um a espécie de

necessidade psíquica de punição. Quando chega o t empo de sua próxima reencarnação, você

inevit avelm ent e escolhe um ser de cast a inferior ou um corpo enferm o. (Est a explicação

psicológica simples do carm a t alvez se baseie m ais no budism o do que no hinduísmo.)

Novament e, nossa limit ada compreensão nos impede de descobrir diret am ent e a verdade

contida na Roda do Dest ino, ou carm a. Quando Buda atingiu o perfeit o esclarecim ent o,

lembrou-se sem hesit ar de cada uma de suas vidas ant eriores. Na verdade, a m emória era o

esclarecim ent o. Por at ingir conhecim ent o pleno, ele era capaz de perceber que t odas essas vidas

eram apenas formas criadas por seus desejos. Quando pôs fim a seus desejos, ele " saiu da Roda" .

Poderíam os dizer que o esclarecim ent o significa (ou pelo m enos implica) penet rarm os event os

ext ernos at é o espírit o que habit a dent ro deles, ou seja, encont rar o Espírito Santo dent ro da Roda

da Fortuna.

É significativo que o rei Artur perceba a Roda da Fortuna como um a visão em um sonho.

Porque, quer nós a vejam os com o o ponto int erm ediário dos Arcanos M aiores, ou simplesm ent e

com o um dos passos para complet ar a segunda linha, a Roda é realm ent e um a visão que nos é

dada pelo inconscient e. O Erem it a deu as cost as ao mundo ext erno. Como result ado, o

inconscient e most ra-lhe um a visão da vida como um a roda girant e, cheia de símbolos.

A Roda da Vida só se t orna visível quando nos afast amos dela. Quando est am os envolvidos

com ela, vem os apenas os acont eciment os que est ão im ediat am ent e na frent e ou at rás de nós: os

assunt os cot idianos que nossos egos consideram t ão import ant es. Quando nos afast amos,

conseguim os ver o plano com plet o. Psicologicam ent e podemos considerar essa visão com o a

avaliação que um a pessoa faz de onde sua vida foi ou para onde est á indo. Em um nível m ais

profundo, a visão permanece m ist eriosa e sim bólica. Podem os ver o que fizemos de nossa vida

part icular, mas o dest ino continua um mist ério.


Todos os sím bolos na Roda possuem um significado: eles nos ajudam a com preender a verdade

dent ro das visões. No ent anto, não sent im os a força plena da vida. A luz do inconscient e cont inua

velada.

É significat ivo t am bém que M alory relacione a Roda da Fortuna com o Sant o Graal. Porque

os símbolos do Graal, que são t ambém os sím bolos dos Arcanos M enores, provavelm ent e

ret rocedem t ant o quanto o sacrifício anual do rei. Quando ao candidat o à iniciação nos ant igos

mist érios europeus era concedida sua " visão" dos segredos íntimos do culto, est a " visão" muit o

provavelm ent e era a dos quat ro sím bolos: a t aça, a espada, a lança e o pent áculo, que lhe eram

most rados em grande cerim ônia míst ica. E os instrument os básicos da magia rit ual, deposit ados

na m esa do M ago, são os m esm os quat ro símbolos e t am bém as séries dos Arcanos M enores.

Em bora não vejamos diret am ent e os quat ro símbolos no t runfo 10, vem os dois de seus

muit os análogos. As quat ro criat uras nos cant os da cart a derivam da visão de Ezequiel 1:10. Elas

aparecem t ambém em Apocalipse 4:7. At ravés dos séculos, essas quat ro figuras, às vezes

chamadas de "guardiães do céu" , chegaram a sim bolizar os quat ro element os básicos da ciência

antiga a m edieval. No canto direit o, no sent ido inverso ao dos pont eiros do relógio, eles são fogo,

água, ar e t erra, e est es elem ent os t ambém dizem respeit o às Lanças, às Taças, às Espadas e aos

Pent áculos. Além de represent arem os elem ent os, as quat ro feras t am bém correspondem a

quat ro signos do zodíaco - Leão, Escorpião, Aquário e Touro. O zodíaco, naturalm ent e, é a Grande

Roda do universo visível. Assim , t anto elem entos com o signos significam o mundo físico,

novament e vist o como um mist ério, onde cada um só pode realm ent e ser com preendido at ravés

do aprendizado das verdades secret as.

A out ra ligação com os quat ro elem ent os aparece na quart a let ra do nome de Deus no

círculo da Roda. Com eçando pela part e de cima, no canto direit o, a novament e lendo em sent ido

cont rário ao dos pont eiros do relógio, as let ras são Yod, Heh, Vav, Heh. Como aparece na Torá sem

vogais (as quat ro let ras são consoant es) o nom e é impronunciável. Port ant o, o verdadeiro nom e

de Deus p erm anece secret o. Pelo m enos há dois mil anos judeus e crist ãos consideram est e nom e

mágico. Os míst icos m edit am sobre ele (o ext át ico t erceiro nível da Cabala de Abulafiaera at ingido

at ravés do est udo do nom e de Deus) e os m agos o m anipulam. Para os cabalist as, as quat ro let ras

são o m aior sím bolo dos mist érios do mundo. Considerou-se o processo de criação do universo

com o t endo ocorrido em quat ro est ágios, correspondent es às quat ro let ras. E, nat uralment e, as

let ras ligam -se aos quat ro elem ent os, aos símbolos do Graal e aos Arcanos M enores.

As let ras rom anas int ercaladas ent re as hebraicas form am um anagrama. Lidas da esquerda

para a direit a, a part ir do alt o, elas dão a palavra TARO; lidas em sent ido cont rário, elas formam a

palavra TORA (lem bre-se do pergam inho da Grande Sacerdot isa). Podem os t ambém encont rar a
palavra " ROTA" , que é o lat im para a " roda", a palavra " ORAT" que em lat im que dizer "fala" , e

" ATOR" , um a deusa egípcia (t ambém cham ada Hat hor). Paul Fost er Case, seguindo M acGregor

M at hers, fundador da Aurora Dourada, formou a sent ença " ROTA TARO ORAT TORA ATOR" . Isso

pode ser t raduzido por: " A Roda do Taro fala a lei de At or" . Case cham a a isso a " lei das let ras" , já

que At or tomou-se mais conhecida no Egit o como a deusa dos m ort os, e na realidade ela é a " lei"

da vida et erna, ocult a no m undo nat ural. Embora o corpo m orra, a alma continua. Cabe t am bém

assinalar que os valores do núm ero hebraico das let ras de TARO som am 691, e que isso, som ado a

6, valor do núm ero para as quat ro let ras do nome de Deus (chamado Tet ragrama) som a 697. Esses

dígit os som am 22, o núm ero de let ras no alfabet o hebraico e dos t runfos nos Arcanos M aiores. E,

naturalm ent e, 22 nos leva de volt a ao 4.

Os quat ro símbolos nos raios da roda são alquímicos. A part ir de cima, lendo da esquerda

para a direita, eles são m ercúrio, enxofre, água e sal, e dizem respeit o à finalidade alquímica da

linha dois, ist o é, t ransformação. A água é o símbolo da dissolução, ou seja, dissolução do ego para

libert ar o verdadeiro eu que ficou imerso em hábit os, m edos e defesas. Veremos exat am ent e o

que isso significa quando est udarmos a M ort e e a Tem perança.

A idéia da m ort e e do renascim ent o est á t am bém simbolizada nas criaturas que enfeit am a

Roda. A serpent e represent a Set , o deus egípcio do mal, e lendariament e o int rodutor da mort e no

universo. É ele quem m at a Osíris, deus da vida. É m uito provável que essa lenda, como a própria

Roda, t enha se originado na prát ica pré-hist órica de m at ar o deus-rei, especialm ent e quando

consideram os que Set foi um a vez um deus-herói, e que a serpent e era sagrada para a Deusa que

t eria recebido o sacrifício. A serpente segue a Roda para baixo; o homem com cabeça de chacal

subindo é Anúbis, guia para as almas mort as, e port ant o doador de um a nova vida. Segundo

algumas lendas, Anúbis é filho de Set, e assim vem os que só a m ort e pode t razer uma nova vida, e

quando t emem os a m ort e est am os vendo apenas um a verdade parcial. Psicologicam ent e, só a

mort e do eu ext erno pode liberar a energia vit al int erna.

A esfinge no topo da Roda represent a Hórus, o filho de Osíris, e deus da ressurreição

(m uit as vezes subst ituído por At or nos últim os séculos). A vida t riunfou sobre a mort e. M as a

esfinge, como vim os no Carro, t ambém significa o m ist ério da Vida. O Carro cont rolava a vida com

um ego fort e. Agora a esfinge levant ou-se acima da Roda. Se deixarmos o inconscient e falar,

sent irem os que a vida cont ém algum grande segredo, m ais import ant e do que o int erm inável giro

de acont eciment os aparent ement e sem sent ido.

Set , a serpent e, era cham ado t am bém de deus da escuridão. Novam ent e, ver a escuridão

com o " mal" é um a ilusão, e, de fat o, o medo da escuridão, como o m edo da mort e, pert ence ao

ego. O ego am a a luz exat am ent e como o inconscient e am a o escuro. Na luz t udo é sim ples e
diret o; o ego pode ocupar-se t om as im pressõ es dos sent idos que vêm do mundo ext erno.

Quando chega a escuridão, o inconscient e começa a agit ar-se. É por isso que as crianças vêem

monst ros à noit e. Um m ot ivo para t ornarmos o eu ext erno fort e é que assim não t erem os que

encarar demônios cada vez que as luzes se apagam .

Quern, no ent anto, deseja ult rapassar o Carro precisa fazer frent e a esses t errores.

Serpent es e água, escuro e dissolução são t odos sím bolos de mort e, ist o é, m ort e do corpo e

mort e do ego. M as a vida exist e ant es a depois da personalidade individual, que, naturalm ent e, é

apenas uma bolha na superfície de nossos seres. A vida é poderosa, caót ica, est uant e de energia.

Ent regue-se a ela, a Hórus, deus da ressurreição, ext rairá nova vida do caos. A Roda gira t anto

para cima como para baixo.

A versão de W irt h da Roda da Fortuna m anifest a essa idéia com m ais força ainda. A Roda

est á parada num bot e sobre a água. Dissolução, caos em ergem como a realidade essencial

sublinhando o universo físico. Todas as form as de exist ência, a grande variedade de coisas e de

acont eciment os, são simplesm ent e criações moment âneas originadas pela energia poderosa que

enche o cosm o. No mit o hindu, periodicam ent e, quando as formas ext ernas, como o ego, ficam

esgot adas e apáticas, desprendendo a energia básica da qual o universo t inha originalm ent e

em ergido, Xiva dest rói o universo t odo.

O número 10 sugere o 0. O Louco é nada e não tem personalidade. M as o Louco, como o

número 0, e t ambém t udo, porque ele sent e diret am ent e aquela energia vit al, aquele m ar

encapelando-se sob o bot e. No baralho Rider, a Roda da Fortuna não t em nenhum símbolo no

cent ro. Quando chegam os ao cent ro calmo da exist ência, sem ego e sem m edo, t odas as form as

ext ernas desaparecem . Podem os com preender isso int uitivam ent e, m as para realm ent e sent i-lo,

precisam os deixar nosso eu ent rar naquele mar escuro, deixar a personalidade morrer,

dissolver-se, e dar lugar à nova vida que em erge de dent ro da escuridão.

Nas leit uras divinatórias, a Roda da Fortuna significa alguma mudança nas circunst âncias

da vida de uma pessoa. A pessoa possivelm ent e não compreenderia o que causou essa mudança;

poderia não haver nenhum a razão que alguém pudesse ver, e de fat o a pessoa muit o

provavelm ent e não seria responsável em nenhum sent ido normal do t erm o. Um a grande

corporação compra a com panhia para a qual um homem t rabalha, e ele se t orna supérfluo. Um

caso de am or t ermina não porque as pessoas envolvidas t enham com et ido algum " equívoco" no

t rat am ent o recíproco, m as simplesm ent e porque a vida cont inua. A Roda gira.

O m ais im port ant e a respeit o da mudança é a reação. Será que aceitam os e nos adapt amos

à nova situação? Será que a usamos como uma nova oport unidade e vem os algum significado e

valor nela? Se a Roda aparecer com o lado cert o para cim a, isso significa adapt ação. Em seu
sent ido mais fort e, pode indicar a habilidade para penet rar at ravés do mist ério dos event os para

encont rar um a compreensão maior da vida. O fim de um caso de am or, apesar do sofrim ent o,

pode proporcionar m aior autoconhecim ent o.

Invert ida, a cart a significa uma lut a cont ra os acont ecimentos, geralment e dest inada ao

fracasso porque a mudança acont eceu e a vida sempre triunfará sobre a personalidade, que t ent a

opor-se a ela. Se a pessoa envolvida, no ent anto, sem pre reagiu passivam ente a qualquer coisa

que a vida lhe t enha im post o, ent ão a Roda invert ida pode significar um a mudança m ais

im port ante do que simplesm ent e um novo conjunto de circunst âncias. Ela pode abrir o cam inho

para um a nova conscientização de responsabilidade por sua própria vida.

A JUSTIÇA

A imagem desse t runfo deriva da deusa grega t it ã Têmis, que aparece, com sua venda nos

olhos e sua balança, nos afrescos dos palácios da Just iça em t odo o mundo ocident al. A Just it ia

legal , denominando-a em lat im, est ava com os olhos vendados para demonst rar que a lei não

discrim ina e é aplicada igualm ent e aos fracos e aos poderosos. O princípio de just iça social, no

ent anto, pert ence exat am ent e ao Im perador, imediat ament e acim a da Just iça. A cart a 11 indica

que as leis psíquicas de Just iça, at ravés das quais avançamos de acordo com nossa habilidade em

com preender o passado, depende da faculdade de vermos a verdade a respeit o de nós mesmos e

da vida. A Justitia do Tarô, port anto, não usa venda nos olhos.

At é agora, falam os da segunda linha como um processo de afast am ent o das preocupações

ext ernas a fim de despert ar a visão int erior de nós m esmos e da vida. M as uma visão da nat ureza

ocult a das coisas não t em sent ido se não produz um a respost a at iva. Precisamos sem pre agir (o

princípio do M ago) segundo a sabedoria que recebem os do nosso eu íntim o (o princípio na Grande

Sacerdot isa). Não apenas a balança perfeit am ent e equilibrada, m as t odas as im agens na cart a

apont am para um equilíbrio entre a compreensão e a ação. A figura, um a mulher, parece

andrógina; em bora sent ada firm ement e em seu banco de pedra, ela parece prest es a levant ar-se;

um pé est á à vist a sob sua t única, o out ro permanece escondido. A espada, em blema de ação,

apont a diretam ent e para cima, indicando t anto a resolução quanto a idéia de que a sabedoria é

com o um a espada t respassando a ilusão dos acont ecim ent os para descobrir o significado íntim o.

De gume duplo, a espada significa escolha. A vida exige que t om emos decisões; ao m esm o t empo,

cada decisão, um a vez t om ada, não pode ser revogada. Ela se t orna part e de nós. Somos formados

pelas ações que praticam os no passado; formamos nosso futuro eu pelas ações que prat icamos

agora.
Os prat os da balança t am bém represent am o equilíbrio perfeit o do passado e do fut uro.

Passado e fut uro equilibrados, não no t em po, mas no olhar claro da Justiça encarando você, a

part ir do exat o cent ro dos Arcanos M aiores.

Ao longo de t oda a prim eira m et ade dos Arcanos M aiores, quando um a pessoa se envolve

com o mundo ext erno, ela sofre a ilusão de que est á vivendo a vida segundo o princípio ativo. Isto

porque confundimos fazer coisas com ação. Quando nos volt amos para dent ro, admitimos que nos

afast am os da ação; e na verdade o processo da linha dois não pode ser realizado sem um a pausa

em nossas vidas, ou pelo m enos um a mudança de enfoque quanto à at enção. M as ação real,

com preendida com o o oposto ao movimento sem sent ido, sem pre t raz significado e valor para

nossas vidas; t al ação provém da com preensão. Caso cont rário, perm anecemos na realidade

passivos, m áquinas que são empurradas de um acont ecimento para out ro sem nenhum a

com preensão do que nos leva a fazer as coisas que fazem os. O verdadeiro propósito da linha dois

não é abandonar o princípio ativo, m as despert á-lo.

As im agens do t runfo 11 combinam o M ago e a Grande Sacerdot isa m ais complet am ent e

do que em qualquer moment o ant erior. Ant es de m ais nada, os dígitos do número 11 somam 2,

mas o número t ambém significa uma versão m ais elevada de 1 (da mesm a maneira que um a

versão inferior de 21). A m ulher sent ada diant e de dois pilares, com um véu est endido ent re eles,

sugere a Grande Sacerdot isa, m as seu vest ido vermelho e sua post ura, com um braço para cim a e

um para baixo, sugerem o M ago. A verdadeira ação se origina do aut o-conhecim ent o; a sabedoria

t em sua origem na ação. Na vida, como no desenho, o M ago e a Grande Sacerdot isa est ão

indissoluvelment e com binados, como um a serpent e m acho e um a fêm ea enroladas um a na out ra

(sím bolo do kundalini como t ambém do caduceu de Herm es) ou a dupla hélice de DNA. A cor do

véu é púrpura, em blema da sabedoria int erna; o fundo, a coroa, o cabelo e a balança são t odos

am arelos, significando a força m ent al. A sabedoria não nasce espont aneam ent e. Nós precisamos

pensar a respeit o de nossa vida se quisermos compreendê-la. M as t odos os nossos pensament os

não chegam a lugar algum a não ser que se desenvolvam a partir de um a clara visão da verdade.

Ao nível microcósmico da psicologia pessoal, a Roda da Fort una represent a um a visão da

vida de uma pessoa: os acont eciment os, quem você é, o que você fez de si m esm o. A Just iça indica

um a com preensão dessa visão. O cam inho para a compreensão passa pela responsabilidade.

Enquant o acredit amos que nossas vidas passadas apenas acont eceram, que não t razem os à

exist ência nosso eu at ravés de ações que prat icam os, o passado permanece um mist ério, e o

fut uro um a roda que gira et ernament e, sem qualquer significado. M as quando aceit amos que

cada acont ecim ent o em nossa vida ajudou a formar nosso carát er, e que no futuro cont inuaremos

a nos criar a nós m esm os at ravés de nossas ações, ent ão a espada da sabedoria rasgará o mist ério.
M ais ainda, aceit ando a responsabilidade por nós mesm os, paradoxalm ent e nos libert amos

do passado. Como Buda relembrando todas as suas vidas, apenas podem os libert ar-nos do

passado tom ando-nos conscient es dele. Caso cont rário repet im os const ant ement e o

com port am ento passado. É por essa razão que a Just iça diz respeit o ao cent ro de nossas vidas. O

ego pode ser apenas um a persona , um a espécie de m áscara, m as essa máscara pode cont rolar-nos

enquanto não adm itirm os que nós m esm os a forjam os.

A idéia de responsabilidade por sua própria vida não implica nenhum a espécie de cont role

invisível sobre o mundo ext erno. Não significa, por exem plo, que se um t errem ot o dest ruir sua

casa você de algum a maneira desejou que isso acont ecesse, por qualquer razão secret a que você

pudesse t er. A compreensão inclui a aceit ação das lim it ações de sua exist ência física. O universo é

vast o e est ranho, e nenhum indivíduo pode cont rolar o que acont ece nele.

Nem a responsabilidade implica algo moral. Simplesm ent e significa que, queiram os ou não,

qualquer coisa que você faz, qualquer coisa que sint a, cont ribuem para o desenvolvim ent o da sua

personalidade. A vida exige que você reaja a cada acont ecim ento. Não é uma exigência moral, é

apenas um fato da exist ência.

E no ent anto t odos os nossos inst intos, a psicologia e a religião, bem como o t est em unho

dos místicos, nos dizem que a vida cont ém algum a coisa a m ais, um a essência íntim a

independent e daquele "eu" ext erno arrem essado de uma experiência a out ra. A segunda linha

most ra a personalidade ext erna m orrendo e a essência íntima, o anjo da Tem perança, podendo

em ergir. Ant es que essa libert ação possa acontecer, precisamos aceit ar a " Just iça" de nossas

vidas; som os o que fizemos de nós.

Nossa época vê essa conscient ização como primordialm ente psicológica, m elhor

exemplificada no difícil processo da psicanálise. Out ras épocas ext eriorizaram o processo de

t ransform ação nos rit os dramát icos de iniciação. Todas as iniciações seguem o m esm o padrão.

Tendo reunido coragem para t om ar-se um neófit o, o prim eiro candidato recebe inst ruções no

ensinament o do culto ou do m ist ério; durant e esse est ágio, m edidas são tom adas, at ravés da

medit ação, do ritual e das drogas, para abrir os canais ao inconscient e e t ornar a pessoa recept iva.

Esses prim eiros est ágios est ão sim bolizados na Força e no Erem it a. Ent ão, numa grande at m osfera

de m ist ério e de dram a, é m ost rada ao candidat o um a visão dos mist érios secret os do cult o. (Eles

são mantidos secret os para prot egê-los dos incrédulos, mas ainda mais para torná-los eficazes

quando revelados.) Nos cultos do Graal, est a visão era uma dram át ica procissão do Graal e de seus

sím bolos, levados por mulheres que choravam por um rei ferido. Vem os uma analogia dest a visão

na Roda da Fort una.


E agora chega o m oment o crucial. O candidat o precisa t er um a reação. Se ele ou ela

sim plesment e ficam passivos aguardando os próximos acont ecimentos a iniciação não pode

continuar. Nos cult os do Graal, a reação necessária m uit o provavelm ent e era um a pergunt a, seja:

" Que significam est as coisas?" , ou, mais sut ilm ente: "A quem o Graal serve?" Ao fazer a pergunt a,

o candidat o dá ao culto a oport unidade de responder, ist o é, de cont inuar a iniciação at ravés do

rit ual da mort e e do renascim ent o. O que é m ais import ant e, ele ou ela demonst ram consciência

de est arem part icipando do processo, de serem responsáveis pelo result ado corret o. Ist o é m ais

difícil do que parece. O rit ual sim boliza a vida, a m ort e, e o renascim ent o da natureza, bem com o

o corpo morrendo para libert ar a alma et erna. Falar de um acont ecim ent o t ão at em orizant e (e

lembre-se de que o iniciado acredit ava em seus deuses ou deusas de um a form a que hoje seria

im possível para a maioria de nós) exigia um a coragem no m ínimo t ão grande quant o a necessária

para aceit ar as verdades reveladas at ravés da análise psicológica e da conscientização.

At ualm ent e, a ênfase sobre o individualism o leva-nos a pensar só na mort e pessoal e no

renascim ent o. As grandes iniciações, por out ro lado, serviam não apenas para t ransform ar a

própria pessoa, mas t am bém para ligá-la aos m ais am plos mist érios do universo. Seguindo essa

direção podemos ver out ra razão pela qual o lugar que com pete à Just iça é o cent ro dos Arcanos

M aiores. Falamos do m undo como um a ação recíproca de opost os, um a roda de luz e escuridão

girando const ant em ent e, vida e mort e. Tam bém dissem os que no centro da roda fica o pont o

est acionário ao redor do qual os opost os giram sem parar. Os prat os equilibrados da balança da

Just iça novament e sugerem aquele ponto est acionário. Quando encont ram os o cent ro de novas

vidas, tudo ent ra em equilíbrio. Quando todos os opost os, incluindo o passado e o futuro, ficam

equilibrados, somos capazes de sent ir-nos livres dent ro de nós m esm os.

M uit as pessoas querem saber o que o Tarô, ou o I Ching, ou a ast rologia nos dizem a

respeit o do livre-arbít rio. Se as cart as podem predizer o que vam os fazer, significa que o

livre-arbít rio na realidade não exist e? A pergunt a surge a part ir de um equívoco sobre o próprio

livre-arbít rio; pensam os nele com o algo simples e independent e do passado. Acham os que a

qualquer moment o somos livres para fazer o que quiserm os. M as as nossas supost as escolhas

livres são governadas por nossas ações passadas. Se não nos compreendem os a nós m esm os,

com o podem os esperar fazer um a escolha livre? Só vendo e aceit ando o passado podemos

libert ar-nos dele.

Um a pessoa pode consult ar as cart as a respeit o de det erm inada situação. As cart as

delineiam m uit o diret ament e as conseqüências de alguma decisão, digamos, se cont inuar ou não

com um caso de amor, ou se iniciar algum novo projet o. Digam os que as cart as indiquem fracasso,

e que a pessoa na realidade possa ver a probabilidade de acont ecer o que as cart as predizem . A
pessoa poderia dizer: "Bem , ist o é possível, mas o meu livre-arbít rio m e permit e m udar a

sit uação." M as ela segue em frent e e a sit uação acaba exat ament e com o as cart as predisseram . A

pessoa, na realidade, absolut am ent e não usou seu livre-arbít rio; em vez disso, a idéia do

livre-arbít rio serviu com o uma desculpa para ignorar o que ela admit iu como um a projeção válida.

Ist o não é uma sit uação hipot ét ica; acont ece muit as e muit as vezes nas leit uras do Tarô. Não bast a

apenas prever um result ado provável para que possam os m udar ou evit ar aquele acont ecim ent o.

Precisam os com preender por que ele est á se aproxim ando, e precisamos t rabalhar com as causas,

dent ro de nós, do que fazem os e da maneira como reagim os. O livre-arbít rio cert ament e exist e. Só

não sabemos como usá-lo. A coisa mais import ant e que podem os aprender das leit uras do Tarô é

quão pouco exercit am os nossa liberdade.

Nas leit uras do Tarô deve-se sem pre prest ar cuidadosa at enção à cart a da Just iça. Sua

aparição indica, ant es de mais nada, que os acont ecim ent os se desenrolaram da m aneira como

eles est avam "dest inados" a se desenrolar; quer dizer, o que lhe est á acont ecendo decorre de

sit uações e decisões do passado. Você t em o que m erece. Em segundo lugar, ela indica um a

necessidade e um a possibilidade de ver a verdade desse result ado. A cart a significa honest idade

absolut a. Ao mesmo t em po ela m ost ra a possibilidade de que suas ações fut uras possam ser

mudadas por um a lição aprendida na atual situação.

Não podemos t ornar-nos honest os para conosco m esm os sem est endermos est a

honest idade para a maneira com o lidamos, ou nos relacionamos, com out ras pessoas. Nest e

sent ido a cart a t raz em si os significados óbvios da Justiça: honest idade, imparcialidade, ações

corret as e, nat uralm ent e, em assunt os legais e out ros, um a decisão just a - apesar de não ser

necessariam ent e a decisão que a pessoa preferia.

Invert ida, a cart a indica desonest idade para consigo m esm o e os out ros. Ela m ost ra cert a

relut ância em encarar o significado dos acont eciment os e most ra especialm ent e que você est á

perdendo um a oportunidade de obt er uma compreensão m elhor de você m esmo e de sua vida.

Ao nível ext erno ela indica desonest idade e ações ou decisões injust as. Algumas vezes indica

out ras pessoas que são injust as conosco. O significado da cart a invert ida pode t am bém referir-se a

decisões legais injust as ou m au t rat am ento da part e de out rem .

Por out ro lado, não podem os perm it ir que a sugest ão de injust iça atue como uma desculpa

para negarm os nossa própria responsabilidade pelo que acont ece conosco. A Justiça invert ida

algumas vezes reflet e a at it ude: " Ist o é injusto. Veja como todo mundo m e t rat a." E assim por

diante. Quer com o lado cert o para cim a, ou invert ida, os olhos claros da Just iça nos m andam um a

mensagem contundent e. Nas palavras de Emerson: " Nada pode salvar você, a não ser você

mesmo."
O HOM EM DEPENDURADO

Após a crise de ver o que você fez de sua vida, vem a paz da aceit ação; depois da Just iça, o

Hom em Dependurado. Artist as, escrit ores e psicólogos sent iram-se at raídos para essa cart a, com

suas sugest ões de grandes verdades num simples d esenho. Já nos referim os à t radição ocult a

at rás da post ura de cabeça para baixo e de pernas cruzadas. Ao discutir a Força, dissemos que os

ocultist as procuram libert ar a energia dos desejos e t ransform á-la em energia espirit ual. M uitos

ocultist as, e part icularm ent e os alquimist as, acredit aram que um a maneira muito diret a de fazer

ist o é lit eralm ent e apoiar-se na cabeça, de modo que a gravidade em purra a energia das part es

genit ais para o cérebro. Nat uralment e, apenas os alquim ist as mais ingênuos e otimistas poderiam

esp erar que t al acont ecesse em seu sent ido lit eral. Eles podem t er acredit ado que m icro-

elem ent os encont rados no fluido genit al escorreriam para baixo e af et ariam o cérebro; m ais

precisam ent e, a inversão da postura física serve com o um símbolo muit o diret o da inversão de

at itude e da experiência que vem at ravés do despert ar espiritual. Onde t odos est ão frenét icos,

você conhecerá a paz. Onde out ras pessoas acredit am que são livres, m as na realidade são

em purradas de um a coisa para out ra por forças que não compreendem , você at ingirá a verdadeira

liberdade por ent ender e abranger essas forças.

O Hom em Dependurado pende de uma árvore com a form a da let ra T. Isso é a met ade

inferior de um ankh, símbolo egípcio da vida e que algum as vezes é chamado de cruz t au. Segundo

Case, o ankh no Egit o subst it uía a letra hebraica t au, let ra que pert ence ao M undo. Assim , o

Hom em Dependurado fica a meio caminho do M undo. Vem os isso t ambém no fato de que 12 é 21

de t rás para a frent e, e se você virar a cart a do Hom em Dependurado para baixo (fazendo com

que o próprio hom em fique de cabeça para cim a), t erá quase a figura do Dançarino do M undo.

Quando pergunt amos, port anto, qual é a cart a que fica a m eio cam inho dos Arcanos M aiores, a

respost a é não apenas uma, mas t rês - a Roda, a Just iça, e o Hom em Dependurado, simbolizando

mais um processo do que um mom ento.

Not e que enquanto o Dançarino est ende os braços com suas varas mágicas, o Homem

Dependurado conserva os braços cruzados at rás das cost as. Lembre-se t am bém de que ele est á de

pont a-cabeça. Nesse est ágio uma profunda conscient ização espiritual só pode ser m ant ida por um

afast am ent o da sociedade. No M undo vem os essa mesma conscient ização m antida em m eio a

t odas as atividades ext ernas da vida.

Ele est á dependurado em um ankh, o que faz da sua a Árvore da Vida. Lem brando Odin

sacrificando-se em Yggdrasil, podem os t ambém chamar o pat íbulo de Árvore do M undo. Est a
árvore com eça no submundo (o inconscient e), e se est ende at ravés do m undo físico (o conscient e)

at é o céu (o superconscient e). As idéias que foram inicialment e apresent adas pelo diagram a dos

Nam orados começaram realm ent e a acont ecer. O que primeiro vim os como conceit os

t ransform a-se agora, depois da Just iça, num a experiência genuína. O núm ero do Homem

Dependurado, 12, é 2 vezes 6, ou seja, a Grande Sacerdot isa elevando os Nam orados a um nível

mais alt o.

Acim a de t odo o seu simbolismo, o Homem Dependurado nos afet a porque m ost ra um a

im agem diret a de paz e com preensão. A calma se most ra de m aneira t ão fort e na cart a porque o

Hom em Dependurado renunciou int eirament e aos rit m os da vida. Nas velhas iniciações, renunciar

era junt ar-se aos rit uais, não apenas observá-los. Para muit as pessoas modernas ela envolve a

libert ação das em oções que m ant iveram encerradas durant e anos. Not e que ambas essas coisas

são at os; renunciar para Árvore do M undo é um passo real que t omamos, não um a espera passiva.

O poem a de T.S. Eliot, " Terra devast ada", une a idéia de um a capitulação individual às

em oções t ant o com a aridez da vida européia após a Primeira Grande Guerra com o com os antigos

mist érios do Graal. O Rei Pescador ferido pode ser curado por um " momento de renúncia que um a

era de prudência jam ais poderá revogar" . Inicialm ent e, no poem a, diz-se ao herói que " t ema a

mort e por afogam ento". O ego encara a renúncia como a mort e - dissolução no m ar da vida.

Quem dá essa advert ência é um leit or de Tarô. O poem a de Eliot ajudou a popularizar as cart as do

Tarô na década de 20. Especificam ent e, popularizou o Hom em Dependurado. Na realidade, o

Hom em Dependurado não aparece no poema, mas é im port ant e devido à sua ausência.

Na realidade, Eliot afirm ava nada conhecer do Tarô, m as apenas usar algumas imagens

dele. Aparent em ent e, no ent anto, ele sabia pelo menos um fato esot érico desconhecido at é de

muit os com ent adores do Tarô - que, de acordo com alguns escritores esot éricos, o Homem

Dependurado " originalm ent e" t inha por t ítulo "O M arinheiro Fenício Afogado". M adame Sosost ris

aplica est e t ít ulo ao herói. " Est a é a sua cart a." A renúncia é o dest ino dele, mas ele o renegou: "Eu

não encont ro o Hom em Dependurado."

As pernas cruzadas represent am o núm ero 4 volt ado para baixo. O 4 represent a a Terra

com suas quat ro direções. Invert endo seu próprio senso de valores, o Hom em Dependurado virou

o M undo na sua cabeça. Os braços e a cabeça junt os formam um t riângulo de água que apont a

para baixo. O caminho para o superconscient e é at ravés do inconscient e. A cart a da Aurora

Dourada, most ra o Hom em Dependurado suspenso sobre a água. A maior part e dos cabalist as do

Tarô dá a est a cart a a let ra mem. M em significa "m ares" , ou o elem ent o da água.
Vemos, port anto, 4, o mundo, a consciência, e 3, aqui represent ando a água, ou o

inconscient e, no corpo do Hom em Dependurado. Est es núm eros m ult iplicados form am 12. Na

mult iplicação os núm eros originais se dissolvem e form am algo m aior do que sua soma.

O núm ero 12, como o 21, sugere t anto o 1 como o 2. A cart a reflet e o M ago no sent ido de

que o poder at raído para baixo pela vara ent rou agora no Hom em Dependurado; vem os isso com o

um círculo de luz sobre sua cabeça. A experiência de sent ir realm ent e a força do espírit o dent ro da

vida é um a experiência de grande poder a excit ação em m eio à calm a com plet a. O núm ero 2

sugere a Grande Sacerdot isa; o mesmo sugere a im agem da água. Ambas as cart as indicam um

ret raim ent o, m as onde o t runfo 2 indica o arquét ipo da recept ividade, o t runfo 12 most ra um a

experiência dist o.

1 m ais 2 é igual a 3. A Im perat riz sent iu a vida diret am ent e at ravés do envolvim ento

em ocional, o Hom em Dependurado sent e-a at ravés da conscient ização ínt ima.

Em leit uras, o Homem Dependurado t raz um a m ensagem de independência. Como o

Louco, que significa fazer o que você sent e que é m elhor, m esm o que out ras pessoas considerem

um a loucura, o Hom em Dependurado indica ser o que você é, m esm o que os out ros pensem que

você est á vendo tudo de t rás para frent e. Sim boliza o sent im ent o de est ar profundam ent e

relacionado com a vida, e pode significar um a paz que vem após alguma prova difícil.

O t runfo invert ido indica um a falt a de habilidade para se libert ar de pressões sociais. Em

vez de dar ouvidos ao nosso eu íntim o, fazemos o que os out ros esperam ou exigem de nós. Nossa

consciência da vida perm anece sem pre indiret a, nunca é um a experiência diret a, m as som ent e

um a série de est ereót ipos, como a pessoa que m odela seu com port am ent o pelas ordens de seu s

pais ou ações de ast ros do cinem a.

A cart a invert ida t ambém significa lut ar cont ra seu eu ínt imo de algum a m aneira. Pode

significar a pessoa que t ent a negar algum a part e básica de si m esm a ou sim plesm ent e a pessoa

que não pode aceit ar a realidade e que de uma maneira ou de out ra est á const ant em ent e em

com bat e com a vida. Colocando o seu ego cont ra o m undo, est a p essoa jamais sent e a vida em sua

plenitude. Nenhum de nós pode conhecer o significado pleno de est ar vivo enquanto, como Odin,

não nos dependurarmos na Arvore do M undo, com suas raízes profundas além do conhecim ent o

no m ar da experiência, com seus galhos perdidos ent re as inúmeras est relas.

A M ORTE

Assim com o os Nam orados (imediat ament e acim a da M ort e), o desenho de Art hur Wait e

para o t runfo 13 se afast a das imagens padrão do Tarô. A M ort e at inge a t odos igualm ent e, t ant o
a reis quanto a plebeus. Est a dem ocracia básica da mort e era um t em a favorit o dos serm ões

medievais. Como uma idéia, ela remont a, no mínim o, à época da prát ica judaica de ent errar t odos

do mesmo modo, com uma mort alha branca e um caixão simples de pinho, de m aneira que na

mort e o rico nivela-se ao pobre.

Como poderíam os imaginar, o grande poder da mort e nos leva além da democracia, t anto

para os significados filosóficos quanto para os psicológicos. A m ort e, como a vida, é et erna e

sem pre present e. As form as individuais est ão sem pre m orrendo, enquanto out ras vêm à

exist ência. Sem a mort e para remover o velho, nada novo poderia encont rar um lugar no mundo.

M uit as novelas de ficção cient ífica most raram que sociedade t irânica result aria se os líderes do

mundo não morressem. A libert ação da Espanha depois da m ort e de Franco dem onst rou de modo

oportuno a import ância da m ort e.

Quando morrem os, nossa carne se decompõe, deixando apenas o esquelet o. Est e t am bém

event ualm ent e se desfará, mas dura o t empo suficient e para dar-nos um a vaga idéia da

et ernidade. Port anto, o esquelet o na cart a da Aurora Dourada significa que a et ernidade t riunfa

sobre o t ransit ório. O esquelet o t em um significado oculto t am bém . At ravés de t odo o mundo o

t reino para xamãs inclui m ét odos de ver nosso próprio esquelet o, usando drogas, medit ação, at é

mesmo arranhando a pele do rost o. Libert ando o osso da carne, os xam ãs se relacionam com a

et ernidade.

Por t em erem a m ort e, as pessoas procuram just ificat iva e import ância para ela. A religião

crist ã nos ensina que a mort e libert a nossas alm as da carne pecaminosa, para que possamos

unir-nos a Deus em uma futura vida maior. Carl Jung escreveu sobre o valor de acredit ar num a

vida póst um a. Sem isso, a mort e pode parecer-nos m onst ruosa dem ais para que a aceit emos.

Out ras pessoas salient aram que a m ort e nos une à nat ureza. A consciência que nos isola do

mundo será ext int a; mesmo que o corpo se decom ponha, isso apenas significa que ele est á

alim entando out ros seres. Cada mort e t raz nova vida. M uit as pessoas acham horrível a idéia de

que elas próprias serão devoradas. O hábito m oderno de em balsam ar e pint ar cadáveres para que

pareçam vivos, e depois ent errá-los em caixõ es de m et al lacrados, deriva do desejo de mant er a

separação do corpo da natureza m esm o depois da mort e.

O fat o é que, desde que não sabem os o que acont ece com nossos corpos um a vez que o

espírit o o t enha deixado, o que na realidade t ememos é a dest ruição da personalidade. É o ego

que se vê a si m esm o com o separado da vida; porque é som ent e uma m áscara, o ego não deseja

morrer. Ele deseja fazer-se superior ao universo.

Se pudermos aceit ar a m ort e, serem os capazes de viver mais plenam ent e. O ego nunca

quer despender energia; ele t ent a ret ê-la cont ra o medo da mort e. Em conseqüência, não pode

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