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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO POLÍTICA PÚBLICA ESTATAL

Jean Carlos Lima

RESUMO: Em nossos dias tem sido notório o empenho dos governantes de todo
mundo em encontrar meios alternativos e adequadas de resolução de conflitos de
interesses para intensificar e implantar uma harmonia social mais eficiente e eficaz,
bem como instaurar e difundir cultura de paz dentre os cidadãos da sociedade.
Contudo, este processo não tem sido fácil tendo em vista a falta de politicas pública
efetivas, sólidas e válidas, com relação a divulgação desses meio no seio da
sociedade, bem como pela de interesse, bem como, em alguns casos, falta de
qualificação técnica profissional, principalmente daqueles que atuam como
administradores da justiça. Por tais razões, este estudo visa abordar, de maneira
pragmática, de que forma o estado pode contribuir para pacificação social. Revisam-
se, também, as doutrinas já apresentadas, demonstração de técnicas de retórica e
neurolinguística, legislação pertinente ao tema, em específico a Resolução n. 125/
2010, do Conselho Nacional de Justiça.
Palavras: chave: Mediação, políticas públicas, meios alternativos e politicas
públicas

1. Introdução

“Comece fazendo o necessário, depois faça o possível e


quando sem mesmo esperar estará fazendo o
impossível.”
São Francisco de Assis

Nos últimos anos, o instituto da mediação de conflitos tem se tornado uma


promessa efetiva de ser um meio privado alternativo e adequado de resolução de
disputa com grandes condições de implantar um cultura de paz no seio social.
Mediadores de todo mundo buscam diariamente aperfeiçoamento das suas
habilidades e técnicas comunicativas para condução de uma sessão de mediação
de conflitos exitosa.
Para a implantação efetiva da mediação de conflitos no seio da sociedade,
como política pública estatal, é preciso que se construa um ambiente comunicativo

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eficiente e eficaz por meio de formas persuasivas, também eficientes e eficazes para
que, com isso, as pessoas se estimulem a pensar em resolução não adversarial de
seus conflitos de interesses..
Na afirmação de Ken Binmore (2007)1 "Assim como os atletas têm o prazer
de treinar seus corpos, também há imensa satisfação em treinar a mente para
pensar de uma forma que é simultaneamente racional e criativa[...]."
O objetivo desse artigo é, fundamentalmente, trazer à baila as questões
relevantes aduzidas pelos diplomas legais existentes no campo do meios
alternativos de resolução de disputas no âmbito público, revelando como podem ser
aplicados de forma efetiva pelo Estados em parceria com a sociedade. O trabalho
pretende, assim, fazer uma reflexão em torno do papel do Estado como agente
transformador de costumes e conduta das relações humanas, bem como agente
responsável de transformação do confronto em cooperação. Por fim, faz algumas
considerações concernentes as possiblidades e os meios de divulgação desses
métodos de pacificação.

2. Mediação de conflitos

“Entra em acordo depressa com teu adversário, enquanto estás


com ele a caminho do tribunal, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, o juiz te entregue ao carcereiro,
e te joguem na cadeia.”
Mateus 5:25

É uma forma de resolução de disputa em que uma pessoa neutra e imparcial,


capacitada, e voluntariamente escolhida pelas pessoas que estão envolvidas em um
conflito de interesses, atua como uma facilitadora da comunicação entre essas
pessoas que se denomina “mediandos”. A essa pessoa escolhida pelas partes que
vivenciam o conflito denomina-se “mediador”.
Muitas pessoas acreditam que a mediação é um método de resolução de
conflitos da modernidade, porém esta vem de muito tempo.

                                                                                                               
1  BINMORE, Ken. Game Theory: A Very Short Introduction. Oxford University Press, 2007, p. 45. 132 p.
 
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Os fenícios e os gregos, que reconheciam o mediador como “proxanetas”,


faziam uso da mediação no comércio, e os romanos reconheceram a sua aplicação
por lei. A civilização romana já admitia o uso da mediação, e denominavam os
mediadores por uma variedade de palavras, a saber, internuncius, médium,
intercessor, philantropus, interpolator, conciliador, interlocutor, interpres, e tembém
mediador.
Frequentemente os romanos usavam a mediação para solucionar os seus
conflitos e introduziram-na em sua lei, que iniciou com o Digesto de Justiniano de
530-533.
O mestre Confúcio já ensinava que a melhor forma de resolver um conflito era
por meio do acordo em vez da coação. Nas comunidades do Japão e da África, os
membros mais respeitados ajudavam as pessoas a resolverem os seus conflitos.
O processo de mediação, também, foi largamente empregado em diversos
seguimentos religiosos. No Judaísmo, foi de grande importância. A cultura Islâmica
tem uma longa tradição no uso da mediação e da conciliação como forma
preferencial de resolução disputa. Durante a idade média, o Clero Cristão
costumeiramente mediava os conflitos.
Os estudiosos da mediação ao redor do mundo definem este meio alternativo
de resolução de disputas, geralmente, segundo a sua ótica, baseados em suas
experiências pessoas ou alicerçados pelos resultados obtidos por intermédio de
pesquisas de campo e experimentos.
Para Worchel e Lundgren (1996):2La mediación implica con frecuencia la
actuación de una tercera parte como simplificador en el proceso de negociación3.
Mediação para Duffy:4 “Es la intervención en un conflicto de una tercera
parte neutral que ayuda a las partes opuestas a manejar o resolver su disputas”5.
Assevera Malhadas6 que:

                                                                                                               
2  Worchel,  Stephen  y  Lundgren,  Sharon.  La  Natureza  y  la  Resolución  Del  Conflicto.  In:  La  mediación  y  sus  

contextos   de   aplicación.   Una   introducción   para   profesionales   e   investigadores.   Buenos   Aires:   Paidós,  
1996,  p.  46,  413  p.    
3  Duffy,   Karen   Grover.   Introducción   a   los   programas   de   Medicación   Comunitaria:   Pasado,   presente   y    

futuro.     In:   La   mediación   y   sus   contextos   de   aplicación.   Una   introducción   para   profesionales   e  
investigadores.  Buenos  Aires:  Paidós,  1996,  p.  52  ,  413  
4  Malhadas  Junior,  Marcos  Julio  Olivé.  Psicologia  na  Mediação.  Inovando  a  gestão  de  conflitos  interpessoais  

e  organizacionais.  São  Paulo:  LTr,  2004,  p.  52,  406  p.  


5  HANNA,  Frank.  Conflict  Resolution  and  Mediation  in  The  Real  World.  Arizona:  Merge  Consultants,  2003,  

p.  49,  216  p.  

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Em síntese, a mediação surge como método mais adequado para a


abordagem de conflitos, em que os elementos de natureza emocional
envolvidos podem e devem ser considerados na busca das melhores
alternativas pelas partes, que assumem a responsabilidade pelo
acordo.

Segundo o entendimento do professor de mediação irlandês Frank Hanna:

A mediação é um processo conduzido por uma pessoa neutra e


inteiramente independente cujo trabalho consiste em assistir as
pessoas envolvidas a encontrarem um denominador comum para
suas desavenças e ajuda a estas pessoas a entenderem os seus
reais interesses, e para dirimir opiniões desnecessárias e difíceis
assumidas por elas. 7

Há um consenso entre os doutrinadores e vários estudiosos que a mediação


é um ato voluntário, no qual as pessoas que a buscam têm total liberdade e controle
sobre o processo. Ao mesmo tempo que essa assertiva é verdadeira, é necessário,
no entanto, em alguns casos, que o mediador oriente o mediando quanto a
voluntariedade do processo de mediação.
Os estudiosos Folger e Bush8 que são os criadores do modelo de mediação
transformativa a definem da seguinte forma:

A mediação é um processo que permite que as partes em conflito


ajam com maior grau de autodeterminação e responsividade em
relação aos outros, ao mesmo tempo em que exploram soluções para
questões específicas.

Não é demais afirmar que a mediação é considerada uma técnica ou método,


multidisciplinar9, pela qual duas ou mais pessoas, que estão em conflito consciente
ou inconsciente, recorrem a um mediador capacitado profissionalmente e com
habilidades especiais para tal função, neutro e imparcial, para obterem num espaço
curto de tempo e a baixos custos uma solução aceitável, conformativa e amigável
para ambos.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
6  FOLGER,   Joseph   P,   BUSH,   Robert   A.   Baruch.   Mediação   Transformativa   e   Intervenção   de   Terceiros:   as  

Marcas   Registradas   de   um   Profissional   Transformador.   In:   Novos   Paradigmas   em   Mediação.   Porto   Alegre:  
Artmed,  1999,  p.  86,  414  
 
 
9  Diz-­‐se   multidisciplinar   por   que   mediação   abrange   todas   as   áreas   da   educação,   envolvendo   a  

antropologia,   filosofia,   sociologia,   psicologia,   pedagogia,   comunicação   social,   medicina,   administração  


entre  outros.  

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Atualmente a mediação tem desempenhado um importante papel na


sociedade organizada em relação a sua forma de resolução pacífica de conflitos, e é
usada em praticamente todos os tipos de disputas de interesse. Sobre esta evolução
da mediação Debora Kolb assinala que:

Uma das razões da crescente popularidade da mediação é que muitas


pessoas creem que ela promete ser um método, mais satisfatório e
harmonioso, mais eficiente e quem sabe menos demorado para que a
sociedade aborde os seus conflitos. 10

2. O Papel do mediador

Na mediação de conflitos o papel de um mediador é de alta importância para


que os efeitos da mediação e a chegada ao acordo sejam eficazes, eficientes e
aceitáveis, ainda que não sejam satisfatórios. O mediador tem a proposta de
promover e facilitar a comunicação entre os mediandos.
11 12
Segundo Shailor(1999) , “O mediador promove o reconhecimento
reforçando a habilidade inata de cada parte de praticar o reconhecimento do outro e
sua preocupação com o mesmo”.
Com esse entendimento, resta nítido, que compete ao mediador servir como
intérprete das dores, dos sentimentos, das frustrações, das raivas, das expressões
corporais dos mediandos para propiciar uma comunicação mais eficiente entre eles.
Em contra partida, com relação ao papel do mediador, por seu turno, o
Manual de Mediação Judicial(2012) elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça
brasileiro assinala que o mediador deve perguntar apenas o necessário, isto é,
buscar somente as informações que precisa para compreender quais são os pontos
controvertidos, quais são os interesses das pessoas e quais sentimentos precisam
ser endereçados para que as questões possam ser resolvidas a contento.13

                                                                                                               
10  KOLB,   Debora   M.   Otro   modo   de   zanjar   disputas.   La   práctica   de   La   Mediación.   In:   Cuando   hablar   de  

resultado.  Perfiles  de  mediadores.  Barcelona:  Paidós,  1996,  p.  11,  416  p.  
11  SHAILOR,   Jonathan   G.   Desenvolvendo   uma   abordagem   Transformacional   à   Prática   da   Mediação:  

Considerações  teóricas  e  Práticas.  In:  Novos  Paradigmas  da  Mediação.  Porto  Alegre:  Artmed,  1999,  p.  72,  
414  p  
12  Conforme  afirmação  de  Shailor  a  habilidade  de  cada  indivíduo  entender  os  outros,  de  respeitá-­‐los  e  de  

demonstrar  preocupação  por  eles,  ibdem,  p.  75  


13  BRASIL,  Manual  de  Mediação  Judicial.  Ministério  da  Justiça.  2012,  p.  127,  331  p.  

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Ressalte-se que ser mediador vai além de analisar meros papeis, ou leis
escritas de forma fria e sem emoção. Ser mediador é separar a observação do
julgamento e separar a pessoa do problema.
Quando se fala que o mediador é uma terceira pessoa neutra, alguns
doutrinadores discordam desta prerrogativa, pois entendem que o mediador,
algumas vezes, não deve ser neutro, e não o é, quando faz intervenções.
Cumpre salientar que a neutralidade não é, e nem deve estar associada aos
meios persuasivos usados pelo mediador, pois esses fazem parte do processo de
facilitação da comunicação entre os mediandos e a chegada de uma solução para
os conflitos.
Quanto ao papel do mediador, o professor William Ury da Universidade de
Harvard entende que:

O mediador não tenta decidir quem está certo e quem está errado,
mas tenta chegar ao cerne da questão e resolvê-la. O cerne da
questão são os interesses de cada parte – em outras palavras, suas
necessidades, preocupações, desejos, temores e aspirações. Expor a
diferença entre duas opiniões contrárias não basta; o Mediador
precisa ajudar as partes a satisfazer os interesses subjacentes a
essas opiniões. 14

Em tempo, pode-se asseverar que a neutralidade do mediador está lastreada


na sua habilidade em interpelar o mediando por meio de perguntas abertas ou
fechadas, dependendo do objetivo do mediador.
De acordo com a American Arbitration Association(AAA), o mediador pode
desempenhar e assumir vários papéis para ajudar aos participantes na resolução de
suas disputas, entre esses papéis estão:

a) Facilitador do canal de comunicação, que inicia a comunicação ou


a facilita quando os envolvidos já estão se falando entre si;

b) Legitimador, que ajuda aos mediandos a reconhecer o direito dos


outros envolvidos na negociação;

                                                                                                               
14  URY,  William.  Getting  to  peace.  Transforming  conflict  at  home,  at  work,  and  in  the  world.  New  York,  

1999,  p.  112,  256  p.  

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c) Um agente da realidade, que ajuda os participantes a construir e


programar acordos razoáveis e encoraja os mediandos a objetivos
realistas.

Ainda, o mediador desempenha uma função de modelo. A confiança das


partes neste, é o ponto de partida para um caminhar sólido da mediação. A
confiança no mediador constitui elemento fundamental. Para isso, os mediandos (as
partes) reconhecem, nessa pessoa, a competência e a autoridade para atuar no
processo, no qual influirá por meio de suas funções e pelo exercício de
determinados papéis.15
Nessa toada, com relação ao papel do mediador Karambayya e Brett
obtemperam que os papéis dos terceiros são os padrões de conduta adotados pelos
terceiros em suas intervenções nas disputas.16

3. Política Pública

Não obstante o grande número existente de definições sobre política pública,


cumpre refletir que não se pode fazer uma sumarização um processo tão grandioso.
Nesse diapasão, uma definição geralmente aceita de políticas públicas tem sido
muito difícil. Alguns autores definem política pública como simplesmente "o que o
governo faz." Outros dizem que são os princípios enunciados que orientam as ações
de governo. Ainda outros prelecionam que a discussão de uma definição contribui
pouco e move-se rapidamente para estabelecer uma variedade de estudos de
casos.A política pública é um curso intencional e consistente de ação produzido
como uma resposta a um problema percebido de um círculo eleitoral, formulada por
um processo político específico, e adotada, implementada e aplicada por um órgão
público. Por seu turno, as políticas públicas traduzem, no seu processo de
elaboração e implantação e, sobretudo, em seus resultados, formas de exercício do
poder político, na perspectiva da distribuição e redistribuição de poder, o papel do
conflito social nas ações decisórias, a repartição de custos e benefícios sociais.

                                                                                                               
15  MALHADAS,  Junior,  MARCOS,  Júlio  Olivé.  Op.  Cit.  p.  55  
16  KARAMBAYYA,   Rekha,   BRETT,   Jeanne   M.   El   tercero   Gerente.   Estrategias,   processo   y   consecuencias   de   la  

intervención.   In:   Nuevas   direcciones   em   mediación:   investigación   y   perspectivas   comunicacionales.   Org.  


Joseph  P.  Folger  e  Tricia  S.  Jones.  Tradução  de  Jorge  Piatigorsky.  Buenos  Aires:  Paidós,  1997,  p.  254.  

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Importa lembrar que o poder é uma relação social que envolve diversos agentes
com projetos e interesses diferenciados, em algumas vezes contrários.

Segundo preleciona Cristiane Derani:

“(...) política pública é um conjunto de ações coordenadas pelos


entes estatais, em grande parte por eles realizadas, destinadas
a alteras as relações sociais existentes. Como prática estatal,
surge e se cristaliza por norma jurídica. A política pública é
composta de ações estatais e decisões administrativas
competentes.”17

4. Entendendo o Público e o Privado

Insta-nos ressaltar que e de suma importância um breve explanação do que


vem a ser público e privado na esfera das políticas, e nessa toada é de todo
oportuno trazer à baila os ensinamentos do filósofo e educador americano John
Dewey quanto ao significado de público e privado é preciso ponderar a distinção
entre eles:

Tomamos então o nosso ponto de partida a partir do fato objetivo de


que as ações humanas em um contexto social têm consequências
sobre os outros, que algumas dessas consequências são percebidas
e que a sua percepção leva ao esforço posterior para controlar a
ação, de modo a garantir algumas consequências e evitar outras. A
partir dessa premissa, somos levados a observar que as
consequências são de dois tipos, aqueles que afetam as pessoas
diretamente envolvidas em uma transação e as que afetam outras
pessoas além dos imediatamente em causa. Nesta distinção,
encontramos a essência da distinção entre o privado e o público.18

5. Política Pública Estatal e a Pacificação Social

                                                                                                               
17  Política pública e a norma pública, in Políticas Públicas – Reflexões sobre o conceito jurídico, org.
MARIA PAULA DALLARI BUCCI, Saraiva, 2006, pg. 135.

 
18
Dewey, John. The Public and its Problems. 1988. Ohio University Press, p. 39

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“Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o
que você pode fazer pelo seu país.” (John F. Kennedy)

Muito embora toda responsabilidade de uma sociedade esteja a cargo do


poder público, mister se faz lembrar que o poder público é o organismo originário do
seio social, e como tal, dotado de princípios, valores, conceitos, reações e ações,
que em sua maioria, carecem da cooperação daqueles que formam a sociedade.
Ora, se é de responsabilidade do poder público a oferta e garantia do Direitos
Sociais tais como: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, está inserido também nesses direitos o de
pacificação social, e todos esses direitos para que se concretizem verdadeiramente
e satisfatoriamente precisam da participação da sociedade – todos devem contribuir
de forma efetiva para que esses direitos sejam aplicados e instituídos.
A pacificação social como forma de transformação da cultura de confrontação
para cultura de cooperação requer, sobretudo, desejo de querer mudar. É preciso
que seja despertado na sociedade um desejo ardente de mudança para
implementação da cultura de pacificação social. Sobre despertar um desejo ardente
nas pessoas, remetemo-nos aos ensinamentos do Prof. Overstreet, citado pelo
mestre Dale Carnigie: “Primeiro: despertar na outra pessoa um desejo ardente.
Aquele que conseguir terá o mundo aos seus pés, aquele que não conseguir trilhará
um caminho isolado.”
O tema políticas públicas faz-nos trazer a reflexão dos ensinamentos Maria
Paula Dallari Bucci19 ao dizer que: “são expressas em disposições constitucionais,
ou em leis, ou ainda em normas infralegais, como decretos e portarias e até mesmo
em instrumentos jurídicos de outra natureza, como contratos de concessão de
serviço público, por exemplo”.
Um marco muito importante no campo de política pública para prevenção e
resolução de conflitos, o que revela o empenho do Ministério da Justiça, da
Secretaria de Reforma do Judiciário e do CNJ brasileiros, foi a criação da
Resolução n. 125, de 29.11.2010 do CNJ a qual versa sobre a Política Judiciária

                                                                                                               
19  BUCCI,
Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: BUCCI, Maria Paula Dallari (org.)
Políticas Públicas: Reflexões Sobre o Conceito Jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 11.

 
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Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos.


A mediação de conflitos como política pública tem por fim o tratamento
adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário ente as pessoas
própria sociedade.
Ademais, não somente a mediação, e também a conciliação são instrumentos
efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que a sua
apropriada disciplina em programas já implementados nos país tem reduzido a
excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de
execução de sentenças. Também, se faz necessária a organização dos serviços de
não somente desses métodos de resolução de conflitos, mas de outros métodos
consensuais de solução de conflitos deve servir de princípio e base para a criação
de Juízos de resolução alternativa de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais
especializados na matéria;

6. Mediação de conflitos como agente de pacificação social no ambiente


escolar

A mediação escolar é um dos avanços mais significativos na seara da


pacificação social – seja política pública ou não. É nesse tipo de mediação de
conflitos que o agente mediador tem um lastro muito grande para desenvolvimento
de técnicas e estratégias de facilitação da comunicação.
É de todo oportuno lembrar que a mediação de conflitos escolar, ou a
mediação na escola revela-se um fator de ordem sine qua non para que se possa
restaurar a dignidade da pessoa humana de todos os agentes que labutam de forma
direta ou indireta no processo ensinar e aprender. Contudo, cumpre ressaltar que
esta modalidade de mediação pode ser considerada uma das mais árduas, e por
que não dizer a mais árdua dentre todas, sobretudo com relação a mediação no
âmbito escolar onde há predominância de adolescentes. Essa afirmativa tem como
fundamento a vida em constante transformação desses jovens e dessas jovens está
em constante ebulição e transformação.
Segundo estudo feito pela coordenadora do Projeto Escola Legal da
Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco a Professora Dra. Marcial Maciel
revela que para impedir ou conter atos indisciplinados, medidas
repressivas/punitivas são, com mais ou menos frequência, utilizadas pelo conjunto

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das escolas pesquisadas. Expressivamente, com percentuais superiores a 50%,


nunca se retira o recreio escolar (65,59%) ou se expulsa estudante da sala de aula
(53,72%). Às vezes se dialoga com estudantes e/ou pais e nunca se coloca o
estudante de castigo (90,50%) em instalações da escola.
Contudo mister se faz salientar que a mediação de conflitos na escola, bem como
outros meios alternativos de resolução de conflitos devem ser feita pelos seus pares,
isto é, por mediadores com as mesmas inclinações emocionais, que tenha,
sobretudo, a confiança irrefutável dos mediandos. Sendo assim, resta nítido que a
mediação escolar deve ser promovida, incentiva e realizada pelos próprios jovens
que compõem a comunidade escolar, pois elas são mais capazes de entender os
sentimentos uns dos outros por viverem as mesmas aflições, dúvidas
questionamentos, gosto cultural, e ainda mais falam o mesmo idioma, ou seja, o
mesmo socioleto. A exemplo desse modelo de atuação de mediação de conflitos,
cumpre trazer à baila o trabalho dos Alunos Mediadores do instituto Parceiros do
Brasil Centro de Processos Colaborativos, localizado na cidade do Rio de Janeiro,
Integra a rede global Partners for Democratic Change International (PDCI), que
possui 23 anos de experiência em processos colaborativos, inclusivos e
participativos em mais de 50 países. Parceiros Brasil foi estabelecida com o apoio
da “Sustainable Leadership Initiative” da Partners for Democratic Change, cujo
objetivo é desenvolver cidadãos comprometidos e responsáveis pela construção de
uma sociedade sustentável, mais justa e democrática.
Em 26 de novembro de 2013, ocorreu a assinatura do termo de parceria “Paz
nas Escolas” entre o Ministério Público e as Escolas do Amanhã da Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ). O termo visa a estabelecer
procedimento operacional para a atuação conjunta do Ministério Público e da SME-
RJ nos casos de prática de ato infracional por alunos dentro das escolas públicas da
rede municipal de ensino.

7. Mediação de conflitos comunitária

Esta é uma das modalidades de mediação que mais cresce no país e no


mundo. Consiste em desenvolver uma cultura de paz e harmonia entre as pessoas
que vivem em sociedade e compartilham de uma vida em comum.

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Por meio da mediação comunitária é possível resolver os mais diversos


conflitos tais como: demarcação de terrenos, empréstimos financeiros pessoais,
construções irregulares que afetam a vida dos vizinhos até mesmo a mais simples
desavença entre filhos ou filhas de vizinhos.
Da mesma forma como se processa a mediação no ambiente escolar,
também deve se desenvolver a mediação comunitária: entre os seus pares, os seus
iguais.
A exemplo desse modelo de mediação é importante ressaltar o trabalho
realizado pelo Núcleo de Mediação Comunitária e Justiça Cidadão do Ministério
Público de Pernambuco, localizado na cidade de Recife-PE, que consiste em
promover a mediação de conflitos em um dos maiores bairros da cidade, e esta dá-
se por meio de mediadores que residem no próprio bairro.
Para conseguir esse feito, o Núcleo de Mediação Comunitária capacita os
mediadores por meio de cursos, seminários e palestras.

8. Vantagens da mediação de conflitos como política pública estatal

“Quando uma pessoa apenas tem um martelo na mão, tudo que


vê é prego”, ensina Mark Twain.

Promete ser um meio alternativo, adequado de resolução eficiente eficaz para


propiciar um cultura de paz na sociedade, e por sua vez estabelecer uma
pacificação social mais duradoura. Contudo, é necessário entender as vantagens da
mediação de conflitos estão atreladas a vontade de as pessoas desejarem,
voluntariamente, resolverem os seus conflitos de forma não adversarial.
Em termos práticos é possível elencar , dentre tantas outras vantagens, da
mediação de conflitos, as seguintes: Celeridade, voluntariedade, a não obrigação de
chegar a um acordo que não seja aceitável e em que haja conformação. Controle
dos mediandos sobre todo processo. Toda decisão advém dos interesses e da
vontade dos mediandos.

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9. Considerações finais

Mediação de conflitos como politica pública estatal apresenta-se como uma


necessidade social em que todos ganham.
Diante do estudo apresentado, vê-se incontestável que a chegada de uma
solução por parte do mediando depende muito da habilidade técnica do mediador
quando estiver na reunião individual, nesse momento é possível o mediador, por
meio dessas técnicas, manipular um resultado.
Por fim, destaque-se que os meios de persuasão são os instrumentos
essenciais e adequados, quando usados de forma eficientes e eficazes, para
garantir o sucesso da mediação de conflitos, desde que, também, haja animus dos
mediandos em encontrar uma solução. Esses meios de persuasão funcionam como
instrumentos alternativos de empoderamento dos mediandos quando estes só veem
a raiva, o rancor e o desejo de vingança que representam um martelo,
metaforicamente falando, então é nesse instante que o mediador supri-os com
outros instrumentos. “Quando uma pessoa apenas tem um martelo na mão, tudo
que vê é prego”, ensina Mark Twain.

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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE
 

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