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UERN. Graduando de Letras (Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas). Aluno do 6º
período (Curso de Letras) e estudante da disciplina Sociologia da Linguagem E-mail:
francielioclima@gmail.com
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UERN. Graduanda de Letras (Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas). Aluna do 2º
período (Curso de Letras) e estudante da disciplina Sociologia da Linguagem. E-mail:
roberttarangel@hotmail.com
analisaremos as respostas sob os aspectos como formação, vivência, a linguagem utilizada,
termos específicos, escolha vocabular, além dos aspectos sociais e culturais. Neste sentido, a
organização do trabalho se fará a partir da fundamentação teórica, ressaltando a relação das
variantes linguísticas com os aspectos sociais, por fim se fará a análise do corpus,
apresentando os pontos mais relevantes e pressupostos do envolvimento com as comunidades.
1.1 AS RELAÇÕES SOCIAIS ENQUANTO ASPECTO PRÉVIO DAS VARIANTES
A Sociologia da Linguagem estuda a língua em sua essência social, não desvinculando
a prática linguística dos seus aspectos norteadores como são a idade, o sexo, o grau de
instrução, a região, o papel social, a comunidade linguística e aspectos afins, vendo-os como
pontos de partida para compreender o uso das variantes linguísticas, que servem de explicação
para o prestígio que a variante culta tem, supostamente, por ser utilizada pela classe
dominante e pessoas com um nível de instrução melhor do que as demais.
Contudo, segundo Bagno (2007) ainda que no Brasil, a língua falada pela maioria dos
brasileiros seja o português, essa língua apresenta um imenso grau de diversidade e
variabilidade, não apenas pela extensão territorial do nosso país nem pelas diferenças
regionais decorrentes disso, mas sobretudo pela grande desigualdade social. É o que explica
muitas vezes, o uso de uma variante linguística de menos prestígio por pessoas com um baixo
grau de instrução, capital econômico e de uma região subdesenvolvida, mas que em alguns
casos como no caso de um fazendeiro não se vê uma discriminação do uso dessa variante de
menos prestígio.
As forças sociais nesse sentido são o ponto chave para a explicação dessa ocorrência,
pois encontra-se implícita a ideologia que marca uma determinada sociedade, repercutindo
assim a posição social dos indivíduos, sobretudo a das classes de maior prestígio que não
necessariamente terá um grau de instrução elevado, basta dispor de capital econômico para
não ser estigmatizado pela variante utilizada, é o que nos diz Fiorin 2007:
[...]. Aparecem as ideias da desigualdade natural dos homens, uma vez, que
uns são mais inteligentes ou mais espertos que os outros. Daí se deduz que as
desigualdades são naturais. Outras ideias pias, presas às formas fenomênicas
da realidade: [...]. A esse conjunto de ideias para justificar e explicar a ordem
social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com os
outros homens é o que comumente se chama ideologia (FIORIN,2007, p.28).
Essa ideologia está implícita na sociedade, age como uma força social para que as
classes menos favorecidas pensem que existe apenas uma forma de falar a sua língua materna,
da qual só quem, presunçosamente, tem conhecimento são as classes dominantes,
desconsiderando assim as variantes usadas por pessoas de diferentes regiões, idades, sexos,
profissões, grau de escolaridade e membros de comunidades distintas, inclusive se
classificando os sujeitos como pertencentes a determinadas comunidades linguísticas por
causa da condição social que possuem. Contudo, isso não significa que todos façam uso da
mesma variante, haja vista que a relações sociais com diferentes campus pode proporcionar
uma adaptação e alteração no habitus do indivíduo, podendo inclusive se refletir na linguagem
utilizada, como disse Bakhtin 2009:
[...] No domínio dos signos, isto é, na esfera ideológica, existem diferenças
profundas, pois este domínio é, ao mesmo tempo, o da representação, do
símbolo religioso, da forma científica e da forma jurídica, etc. Cada campo
de criatividade ideológica tem seu próprio modo de orientação para a
realidade e retrata a realidade à sua própria maneira. Cada campo dispõe de
sua própria função no conjunto da vida social. É seu caráter semiótico que
coloca todos os fenômenos ideológicos sob a mesma definição geral
(BAKHTIN, 2009, p.33).
Assim, por mais que cada agente social se constituía de uma particularidade, essa
pressuposta individualidade reflete uma representação ideológica das instituições sociais,
que levam até mesmo os sujeitos envolvidos nos mais diversos campus a não perceberem
isso, visto que as diferenças caminham sob a mesma ideia, de um lado a submissão dos
desapercebidos, dos menos desfavorecidos frente ao prestígio dos dominadores. Como nos
diz Bourdieu 2011:
[...]. Em vez de ser a transferência que está na origem da construção do
objeto como quando se vai buscar a outro universo, de preferência
prestigioso, etnologia, linguística ou economia, uma noção
descontextualizada, simples metáfora com função puramente
emblemática– é a construção do objeto que exige a transferência e a
fundamenta: assim, tratando-se de analisar os usos sociais da língua, a
ruptura com a noção vaga e vazia de <<situação>. –que introduziria, ela
própria, uma ruptura com o modelo Saussuriano ou Chomskiano [...]
(BOURDIEU, 2011, p.68).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisarmos comunidades distintas, achamos importante considerar o grau de
instrução dos sujeitos escolhidos, para não cometer nenhum equívoco nem generalizar,
afirmando que todos os agricultores fazem uso da mesma variante, considerada socialmente
como “informal”, visto que pode haver agricultores com instrução formal, moradores da zona
urbana, que possam manter contato com pessoas de campus variados.
Assim como também, pode haver professores com um baixo nível de instrução, que
atuam desde o período que não era necessária ter formação alguma para ensinar, tal como
observamos a partir do relato de um agricultor entrevistado, dentre tantas hipóteses, que
podem contribuir para a mudança no resultado da pesquisa.
Dentre os aspectos analisados, a profissão também foi um ponto a ser ressaltado,
considerando, sobretudo, a relação com pessoas de outros campus profissionais, regionais e
econômicos. Com esse propósito, a idade também não foi desconsiderada, visto que foi
utilizada como um possível indicador dos sistemas de ensino de cada época.
Desse modo, observamos, que tanto a área rural como urbana pode apresentar fatores
que influenciam a linguagem, a cultura e as relações existentes entre os membros de cada
comunidade linguística. A partir daí, chegamos há alguns indicativos para as escolhas
linguísticas dos membros de cada comunidade.
A começar pelo agricultor, que não teve acesso a uma educação formal, por ser
residente da área rural e precisamente pelo sistema de ensino, que não tinha um profissional
formado para atender as necessidades de aprendizagem desses alunos, mas também pelo
contato apenas com o campus dos pais, que era a agricultura de produção e sobrevivência
própria, e consequentemente por causa de suas condições econômicas.
Tendo em vista tais aspectos, observamos que o inverso ocorreu com o professor, que
por morar na zona urbana teve acesso a um ensino um pouco melhor, supostamente, pelo
contato com livros didáticos, se pressupõe que o sistema de ensino havia mudado, além das
relações que mantem com pessoas de diferentes campus profissionais, regionais e
econômicos, resultantes de outras atividades que desempenha.
Assim, podemos concluir que analisar esses pontos torna-se essencial para
compreender o porquê de certas escolhas vocabulares, assim como as diferenças entre cada
campus, contribui para a variação linguística das comunidades.
ANEXO
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAPHYBAGNO, M. Preconceito lingüístico o que é, como se faz. 49ª. ed. São Paulo: EDIÇÕES
LOYOLA, 2007.
BOURDIEU, P. A Economia das Trocas Linguisticas: O que Falar Quer Dizer. 2ª. ed. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BAKHTIN, M.M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do
método sociológico da linguagem. 13ª. ed. São Paulo: Hucitec,2009.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Soiologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo:
Moderna, 2005.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 8ª.ed. São Paulo: Ática,2007.