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FERNANDES, Cleudemar Alves.

De sujeito a subjetividade na Análise do


Discurso. SARGENTINI, Vanice. GREGOLIN, Maria do Rosário. (Org.). Análise do
discurso: heranças, métodos e objetos. São Carlos: Editora Claraluz, 2008.

“[...] como o sujeito é também um objeto de análise, o olhar para esse objeto sofre
significativas modificações na história da Análise do discurso, ou seja, sofre deslocamento a
partir de problematizações promovidas pela mobilização de diferentes construtos teóricos.”
(Fernandes, 2008, pág. 69).

“[...] a subjetividade é o centro organizador da linguagem e da expressão e que o sujeito se


serve da palavra e do discurso para representar-se a si mesmo. Sujeito na Análise do discurso
contrapõe-se a indivíduo e/ou individualidade. Sujeito falante e sujeito falado também se
diferenciam.” (Fernandes, 2008, pág. 69)

[...] A subjetividade é vista da exterioridade, é uma construção histórica sob determinadas


condições, e como atesta Prado Filho (2005), se dá na relação com o discurso. Uma vez que o
sujeito é produzido nas relações discursivas, há, portanto, uma relação entre subjetividade e
discurso. (FERNANDES,2008, p. 78).

Michel Foucault pensa a subjetividade como historicamente construída a partir de: saberes
sobre o sujeito; práticas de governo sobre os indivíduos, técnicas de si, que possibilitam
transformações nos/pelos sujeitos. A teoria procura dar conta desses processos constitutivos
do sujeito e da subjetividade e de suas manifestações no discurso, e também se inscreve na
História, logo é marcada por movências e descontinuidade. (FERNANDES, 2008, p. 80).

A subjetivação consiste justamente no processo constitutivo dos sujeitos, processo de


produção de uma subjetividade que possibilita, em uma acepção Foucaultiana. Considerando
que os modos de subjetivação produzem sujeitos singulares, os procedimentos mobilizados
para a produção dos sujeitos. (FERNANDES, 2008, p.78).

O meu eu como um a gente expressivo está relacionado com o meu como objeto expresso
através da própria atividade de autoexpressão (seja o que for que essa atividade possa
concretamente explicar). Quando falamos da autodescoberta ou autoexpressão, temos uma
tendência a nos determos no conteúdo fornecido em cada uma dessas atividades e, portanto, a
negligenciarmos o seu caráter relacional.

MCGUSHIN, Edward. A teoria e a pratica da subjetividade de Foucault. In. Michel


Foucault: Conceitos fundamentais. Editado por: Diana Taylor. Tradução de Fabio Creder.
Petrópolis, RJ. Vozes, 2008

“enfrentar resolutamente essa tarefa paradoxal de sermos nós mesmos é o que Michel
Foucault chama de ‘cuidado de si’ (souci de soi). Ele define s nossa ‘subjetividade’ como
fazemos de nós mesmo quando realmente nos dedicamos a cuidar de nós mesmos.”
(MCGUSHIN,2008, 166)
“O cuidado de se é o que praticamos quando nos dispomos a fazer o trabalho duro [...]. A
subjetividade, resultante é a forma concreta de atividade que se define a relação do eu
consigo. A subjetividade, nesse sentido, é a base real do eu tanto como agente quanto como
objeto. [...] Foucault argumenta que o eu ou o sujeito não é um ser autônomo, algum tipo de
essência ou substância que existe dentro de nós quer procuremos ou não (1996).”
(MCGUSHIN, 2008, 168)

“A televisão e o entretenimento me divertem e me dão a chance de sentir coisas, mas também


me treinam formando minha imaginação, ajudando-me a compor imagens concretas do que eu
amo e desejo, do que odeio, de quem eu quero ser e de como preciso agir. O marketing faz as
mesmas coisas, só que menos eficazmente.” (MCGUSHIN,2008, 172)

Poder disciplinar ou governamentalidade

“a principal função do poder disciplinar é ‘treinar’[...]. a disciplina ‘faz ‘indivíduos’’


(FOUCAULT, 1979: 170) [...] centra a esse processo de treinar é a maneira como ele
concentre a atenção em mim (e em você e todos os outros) como um objeto tanto de controle
quanto de conhecimento. A disciplina é uma forma de poder que cuidadosamente observa,
examina, registra e mede. Ela faz isso a fim de me ajudar a alcançar plena entente meu
potencial produtivo. Mas, ao fazê-lo, ela regula o meu comportamento e estrutura o meu
tempo de modo que eu possa tirar o máximo proveito dele.” (MCGUSHIN, 2008, pag. 173,
174)

“É neste contexto disciplinar que nós muitas vezes decidimos procurar dentro de nós mesmo
esse verdadeiro eu, o eu que não foi moldado ou feito se conformar, que não foi disciplinado.
Mas, mesmo neste momento, somos governados ou treinados para nos relacionar como o
nosso eu de cena maneira. A própria ideia de que existe um verdadeiro eu interior esperando
sob a superfície é, como já observamos, um tipo muito particular de relação de eu consigo
mesmo. Foucault chama esse tipo de subjetividade de ‘hermenêutica’, ou de ‘confessional’,
porque é formada através das atividades de autointerpretação e autoexpressão. O ponto de
Foucault é que a hermenêutica e a confissão não discernem e expressam a verdade interior.
Antes, ao praticarmos essas atividades, nos tornamos um tipo específico de eu.”
(MCGUSHIN, 2008, pag. 175)

STONE, Eliot. Subjetividade e Verdade. In. Michel Foucault: Conceitos fundamentais.


Editado por: Diana Taylor. Tradução de Fabio Creder. Petrópolis, RJ. Vozes, 2008

“Parrhesia é o ato de dizer a verdade por dever moral, mesmo em situações perigosas: cinco
características importantes da parrehesia: franqueza, verdade, perigo, critica e dever

“Embora não sejamos capazes de ‘retornar’ a essa escola de pensamento devido a razões
psicológicos, podemos pelo menos colocar a questão de como nós enquanto sujeitos,
tornando-nos tão divorciados da verdade como uma pratica de si, que ‘subjetividade’ e
‘verdade’ não são meramente espaços reservados para alguma coisa que agora há pouca já se
foi.” (Stone, 2008, pag. 200)
FOUCAULT, Michel, 1926-1984. Subjetividade e verdade: curso no Collège de France
(1980-1981) / Michel Foucault; edição estabelecida por Frédéric Gros sob direção de François
Ewald e Alessandro Fontana; tradução Rosemary Costhek Abílio. - São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2016. - (Coleção obras de Michel Foucault)

“Primeiramente: o tipo de questão que quero colocar através desse tema “subjetividade e
verdade”. Há uma maneira, digamos filosófica – para não procurar uma palavra mais
[específica] a -, de colocar a questão “subjetividade e verdade”. É a maneira que foi utilizada
de Platão a Kant pelo menos, e que poderíamos resumir assim. O problema “subjetividade e
verdade” consiste, na tradição filosófica, em indagar como e em quais condições posso
conhecer a verdade, ou ainda: como o conhecimento enquanto experiência própria de um
sujeito cognoscente é possível? Ou ainda: de que modo aquele que faz essa experiência pode
reconhecer que se trata realmente de conhecimentos verdadeiros? Digamos que o problema
filosófico “subjetividade e verdade” pode caracterizar-se assim: resolver a tensão entre duas
proposições. Evidentemente não pode haver verdade sem um sujeito para o qual essa verdade
é verdadeira, mas, por outro lado: se o sujeito é um sujeito, como pode ele efetivamente ter
acesso à verdade?” (Foucault,2016, pag.11)

“A essa formulação filosófica da questão “subjetividade e verdade” poderíamos opor uma


formulação que eu chamaria, também aqui muito apressadamente e por comodidade, de
positivista, que seria a questão em sentido inverso: do sujeito, é possível ter um conhecimento
verdadeiro, e em que condições se pode ter esse conhecimento verdadeiro do sujeito? Será
tecnicamente possível, será teoricamente legítimo fazer valerem, a propósito do sujeito, a
propósito da forma e do conteúdo das experiências subjetivas, os procedimentos e os critérios
próprios do conhecimento de um objeto qualquer? Digamos que a questão positivista seria a
seguinte: como pode haver verdade do sujeito, quando só pode haver verdade para um
sujeito?.” (Foucault,2016, pág.11)

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