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maugustofef@yahoo.com.br
Resumo: O ideário que permeia a prática docente é atravessado a todo tempo pelo
juízo de valores, ao descrever e prescrever o que devemos ser, bem como o que é ser
um bom ou mau docente. Constituímo-nos através de micro relações locais que
perpassam o que dizemos ser e, portanto, se torna interessante pensarmos, a partir de
uma prática de si, como nos legitimamos professores. Essa legitimação do que é ser
professor parece encontrar no conceito da parresia e do ”cuidado de si” um articulador
de suas práticas, um eixo centralizador das qualidades atribuídas a um “educador”. Ao
longo das investigações de Foucault (2010, 2011) acerca da cultura do cuidado de si
descobrimos que o cuidado de si consiste, de maneira geral, em imbuir o sujeito com
as práticas de suas verdades. Tais práticas são equivalentes a um equipar-se ou
munir-se com as suas verdades, exercendo a parresia, a fim de se obter condições
necessárias para a construção de um modo de ser. Parresia, do grego parrhêsia,
significa “coragem de dizer a verdade”, “falar livremente”, “dizer tudo”. É a fala franca,
da verdade responsável, não apenas como elucubração, como mero falar, mas como
prática de vida.
sob qual forma, no seu ato de dizer a verdade, o indivíduo se constitui ele
mesmo e é constituído pelos outros como sujeito detentor de um discurso de
verdade, sob qual forma se apresenta, aos seus próprios olhos e aos dos
outros, aquele que diz a verdade, qual é a forma do sujeito de dizer a verdade
(2011, p.04).
A Parresia é então [...] a coragem da verdade daquele que fala e corre o risco
de dizer, a despeito de tudo, toda a verdade que ele pensa, mas é também a
coragem do interlocutor que aceita receber como verdadeira a verdade
ofensiva que ele escuta (FOUCAULT, 2011, p. 14).
quanto ao discurso científico, quando ele se desenrola – e que não pode deixar
de fazê-lo, em seu desenvolvimento mesmo – como crítica dos preconceitos,
dos saberes existentes, das instituições dominantes, das maneiras de fazer
atuais, desempenha justamente esse papel parresiástico (2011, p.29).
É nessa postura crítica, desvelando aquilo que está posto como certo,
indagando, questionando, que encontramos as possibilidades de um educador que se
aproxime de um parresiasta. É o exercício, segundo Paulo Freire, da “curiosidade
epistemológica”:
Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta
corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo.
[...] Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal que o re-diz em lugar de
desdizê-lo (FREIRE, 1996, p. 38).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
___________. Pedagogia do Oprimido. Ed. 54. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.