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INTRODUÇÃO

A RAIVA
A raiva é uma doença sempre letal. Uma vez manifestados os primeiros
sintomas, o tratamento limita-se, até o presente, a diminuir o sofrimento do paciente.

Portanto, o melhor remédio disponível para se evitar mortes por essa doença é a
profilaxia, desde que se obedeçam a critérios racionais.

Tal tratamento, quando mal indicado, desperdiça recursos, além de expor o


paciente aos riscos da anafilaxia.

Torna-se fundamental uma criteriosa análise das circunstâncias do acidente, seja


por arranhadura, lambedura ou mordedura de animais susceptíveis. A anamnese do
animal agressor é imprescindível para que a decisão a ser tomada seja correta e segura.

CARACTERIZAÇÃO DO ACIDENTE

ESPÉCIES ANIMAIS DE RISCO:

 Alto risco: morcegos, cães, gatos e macacos silvestres;


 Médio risco: macacos em cativeiro, bovinos, eqüinos, caprinos, suínos e
ovinos;
 Baixo risco: ratos, cobaios, hamsters, coelhos e outros roedores urbanos.

CIRCUNSTÂNCIA DA AGRESSÃO:

 Agressão provocada: animal sadio que reage em defesa própria, seja de


seu território, alimento ou da prole;
 Agressão não-provocada: animal que agride sem fator estimulante bem
definido, sugerindo importante alteração de comportamento, o que torna
necessária a intervenção profilática da vítima, na ausência da
impossibilidade do diagnóstico laboratorial.

ASPECTOS SANITÁRIOS E HÁBITOS DE VIDA DO ANIMAL


AGRESSOR:

 Domiciliado: valorizar cuidados habituais e vacinação regular;


 Não-domiciliado ou silvestre: vive solto em ruas, reservas ou matas,
inclusive impossibilitando sua observação clínica.

ÁREA GEOGRÁFICA:

 Área de raiva não-controlada: áreas onde as ações de profilaxia não


são eficientes, inclusive limitando-se apenas a campanhas de vacinação
em cães e gatos. Não há serviços de observação ou diagnóstico
laboratorial dos animais agressores;
 Área de raiva controlada: áreas onde há ações de profilaxia em termos
de campanhas de vacinação (anual), observação e diagnóstico
laboratorial, além de outras medidas de vigilância e controle.

Em se tratando de animais domiciliados, deve-se observar alterações de


comportamento numa vigilância de 10 dias após o acidente, com relação aos hábitos
alimentares, ingestão de água, agressividade ou passividade. Pode ser feita pelo
proprietário ou pelas autoridades (no domicílio ou em canil público). No caso de o
animal permanecer no domicílio, o proprietário deve ser auxiliado pelos agentes de
saúde e/ou veterinário.

No caso de alterações importantes de comportamento ou morte do animal


durante o período de observação, o diagnóstico laboratorial é imprescindível. O cérebro
do animal morto será submetido à imunofluorescência para o diagnóstico de raiva.

CARACTERIZAÇÃO DA FERIDA

O vírus da raiva não penetra o corpo pela pele íntegra. Feridas abertas,
lacerantes, perfurantes e escoriações são essenciais para que ele seja introduzido no
organismo. Considerar também as lambeduras e deposição de saliva em mucosas (que
são permeáveis ao vírus).

As agressões podem resultar em ferimentos superficiais ou profundos, únicos ou


múltiplos. Feridas únicas ou múltiplas em cabeça (crânio e/ou face), mãos e pés são
graves (pela maior quantidade de terminações nervosas nessas áreas). Feridas múltiplas
e/ou extensas também são graves (por aumentarem a probabilidade de exposição do
tecido nervoso).

PROFILAXIA
Pacientes vítimas de tais agressões deverão receber o primeiro atendimento em
qualquer unidade de saúde e encaminhados ao CEPRA (Centro de Profilaxia da Raiva
Humana), sito à Rua Emílio Moreira, 510 (esquina com a Rua Silva Ramos), Praça 14,
Manaus (AM), de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.

No primeiro atendimento, devem ser tomados os seguintes cuidados:

 Lavagem abundante com água, sabão ou detergentes imediatamente. Quando


possível, devem ser utilizadas substâncias anti-sépticas (povidine), pois, além de
eliminar impurezas, inativam o vírus;
 Profilaxia para tétano.

Após triagem, os pacientes serão vacinados o mais precocemente possível no


CEPRA e os casos com indicação de soroterapia anti-rábica serão transferidos para o
Pronto Atendimento da FMT/IMT-AM. Esta soroterapia só está indicada até o sétimo
dia após o acidente. Por se tratar de soro heterológo, sua administração deve ser sempre
feita em ambiente hospitalar, pelos riscos de reações adversas.
O tempo de observação pós-soroterapia no Pronto-Atendimento é de, no mínimo, 12
horas, e está contra-indicada a antibioticoprofilaxia.

As suturas devem ser evitadas, pois podem facilitar a inoculação mais profunda do
vírus. Nos casos de lesões extensas, profundas e com importante comprometimento
estético, com necessidade de sutura, procede-se à infiltração perilesional com soro anti-
rábico (até metade da dose total).

MODELO DE PRESCRIÇÃO PARA SORO HETERÓLOGO

1. Dieta oral zero até segunda ordem (ou após término da soroterapia)
2. Instalar acesso venoso com cateter em Y
3. Hidrocortisona 500 mg (ou 10 mg/kg) IV 30 minutos antes do item 6
4. Cimetidina 300 mg (ou 10 mg/kg) IV 30 minutos antes do item 6
5. Prometazina 50 mg (ou 0,5 mg/kg) IV 30 minutos antes do item 6
6. Soro anti-rábico 40 UI/kg (máximo de 3.000 UI) IM em múltiplos músculos
7. Deixar bandeja de traqueostomia e material de urgência à beira do leito
8. Sinais vitais a cada 10 minutos

Obs.: Não utilizar os deltóides.

Caso o volume do SAR seja superior a 10ml., Poderá ser administrado em dois ou tres
locais em cada glúteo ou vasto lateral da coxa.
REFERENCIA BIBLIOGRAFICA
1. RUPPRECHT, C. E.; HANLON, C. A.; HEMACHUDHA, T. Rabies re-examined.
Lancet Infect Dis, v. 2, n. 6, p.327-43, 2002.

2. RAI CHOWDHURI, A. N.; BHATIA, R.; ICHHPUJANI, R. L. Immunoprophylaxis


against rabies. J Commun Dis, v. 16, n. 1, p.43-8, 1984.

3. JACKSON, A. C. Update on rabies. Curr Opin Neurol, v. 15, n. 3, p.327-31, 2002.

4. PASTORET, P. P. Rabies. Virus Res, v. 82, n. 1-2, p.61-4, 2002.

5. PLOTKIN, S. A. Rabies. Clin Infect Dis, v. 30, n. 1, p.4-12, 2000.

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