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SDE4407 – MEDICINA VETERINÁRIA E SAÚDE COLETIVA

-PRINCIPAIS ZOONOSES-
RAIVA
Prof.ª Nathalya Carneiro
RAIVA
• A raiva é uma doença viral aguda;

• se caracteriza por uma encefalite progressiva que atinge o homem e os


animais selvagens e domésticos, afetando o SNC.

• Possui baixa morbidade e alta mortalidade - poucos adoecem, mas


aproximadamente 100% morrem, considerando casos raros de cura.
HISTÓRICO
• É uma das doenças mais documentadas na história.

• Acreditavam os antigos que era causada por motivos sobrenaturais → cães


e lobos parecia estar “possuídos” por entidades malignas.
HISTÓRICO
• 500 a.C. – Democritus: descreve pela primeira
vez a raiva canina.

• 400 a.C. – Aristóteles mencionou “a loucura


dos cães”, mas acreditava que a enfermidade
não fosse transmitida ao homem.
HISTÓRICO
• Entre 1881 a 1885, Louis Pasteur desenvolveu o método de passagem do
vírus da raiva em coelhos que foi base para o desenvolvimento da 1ª
vacina contra raiva.
HISTÓRICO
• 2004 – Dr. Rodney Willoughby (EUA): “Protocolo de Milwaukee” – 1ª cura
de raiva humana no mundo

• 2008 – confirmado o 1º caso de cura da raiva no Brasil (Hospital Oswaldo


Cruz – Recife)
AGENTE ETIOLÓGICO
• Vírus de genoma RNA

• Ordem: Mononegavirales

• Gênero: Lyssavirus

• Família: Rhabdoviridae
AGENTE ETIOLÓGICO
• O vírus da raiva apresenta a forma de uma bala de revólver;

• Tem preferência pelos tecidos nervosos.

• Pouco resistente ao calor → destruído por uma exposição de 60ºC por 35 seg

• Resistência fora do hospedeiro é baixa

• Sensível a sabão, detergente, álcool iodado.


VARIANTES
No Brasil, foram encontradas as variantes antigênicas:

• variantes 1 e 2 → isoladas dos cães

• variante 3 → morcego hematófago - Desmodus rotundus

• variante 4 e 6 → morcegos insetívoros - Tadarida


brasiliensis, Lasiurus cinereus.
RESERVATÓRIOS
• Ciclo Urbano:

• Cães e gatos

• Ciclo Silvestre:

• Morcegos

• Raposas, lobos, macacos, gatos do mato, guaxinins


TRANSMISSÃO
• Contato com saliva de animal raivoso – mordeduras, lambeduras de
mucosa ou de pele com solução de continuidade

• Arranhaduras

• Acidental (trabalhadores de laboratórios)

• Inalatória
FISIOPATOLOGIA
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
• Homem: muito variável - em média 45 dias, podendo ser de até 2 anos

• Cães e gatos: varia em média entre 10 e 60 dias

Estes períodos variam com:

• A localização e gravidade da mordedura

• Proximidade de troncos nervosos

• Quantidade de partículas virais inoculadas


PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
• Cães e gatos: o vírus começa a ser eliminado na saliva de 2 a 5 dias
antes do início dos sintomas, permanecendo no organismo até a morte.

• Óbito 5 a 7 dias após os sintomas

• Morcegos: vírus em latência por longos períodos sem sintomatologia


aparente

• Animais silvestres: ???


SUSCEPTIBILIDADE E IMUNIDADE
• Todos os animais de sangue quente (mamíferos) são susceptíveis a
contrair a doença.

• A imunidade ativa se dá pela vacina e a passiva pela


imunoglobulina antirrábica indicada após a exposição.

• O homem não possui imunidade natural.


FORMAS CLÍNICAS
FORMA FURIOSA – caninos

• Mais conhecida como “cachorro louco”

• Alteração de comportamento

• Agressividade - Tendência a atacar objetos, pessoas ou animais


FORMAS CLÍNICAS
FORMA FURIOSA

• Fotofobia

• Salivação

• Pode ainda apresentar alterações do apetite, muitas vezes ingerindo os


mais variados objetos, como pedras, paus, fezes, terra.
FORMAS CLÍNICAS
FORMA PARALÍTICA

• Ocorre paralisia dos:

• músculos da garganta e da mandíbula e o animal aparenta estar


engasgado

• membros posteriores → progride para todo o corpo, sendo seguida de


coma e morte.
RAIVA EM HUMANOS
• Período Prodrômico: duração variável – horas a 4 dias.

• Febre, cefaleia, mal-estar, anorexia, hipertermia, náusea,


dor de garganta, irritabilidade, alteração de comportamento.

• Alteração de sensibilidade no local da mordedura: formigamento,


queimação, adormecimento, prurido e/ou dor local.
RAIVA EM HUMANOS
Período de Estado (Clínica e Evolução): 2 a 10 dias
• Nesta fase todos os sintomas se exacerbam surgindo:

• Ansiedade, delírios, hiperexcitabilidade progressiva , espasmos


musculares involuntário, sialorréia, lacrimejamento, midríase e
hipotensão.

• Disfagia, aerofobia, hidrofobia e fotofobia.

• Estado de consciência preservado, até evoluir para coma e óbito


RAIVA EM HUMANOS
EPIDEMIOLOGIA
RAIVA HUMANA

Fonte: SVS/MS. *Atualizado em 11/11/2022


2016

variante tipo 3 – circulante em morcegos


DIAGNÓSTICO
• Anamnese

• Exame Físico

• Investigação clínico epidemiológico

• Diagnóstico Laboratorial

• IFD: Saliva, impressão da córnea, raspado da mucosa lingual, e biópsia de pele


da nuca.

• Necropsia → confirmação do diagnóstico - SNC: Corpúsculos de Negri em


80%.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE

• Levar à população conhecimentos básicos sobre a doença,


suas formas de controle e de prevenção;

• Diversos tipos de divulgação (cartilhas, palestras, mídia) nas escolas,


unidades de saúde, associação de moradores, etc
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
GUARDA RESPONSÁVEL DE ANIMAIS
• Orientar e incentivar os proprietários de animais, quanto
ao controle populacional de cães e gatos, evitando contudo o abandono
de animais nos logradouros públicos e a proliferação de doenças
transmitidas por eles.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE

PRÉ -EXPOSIÇÃO VACINAL

• Vacinação preventiva de todos os profissionais que trabalham diretamente


com animais ou em situações em que existe risco de infecção.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
• Consiste na aplicação de 3 doses de vacina antirrábica IM,
nos dias 0, 7 e 28.

• Controle sorológico após o 14° dia após a última dose e anualmente

• Satisfatório: Ac > 0,5 UI/ml.

• Insatisfatório: Ac < 0,5 UI/ml.

• Aplicar uma dose de reforço e avaliar novamente após 14 dias.


MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE

TRATAMENTO ANTIRRÁBICO PÓS EXPOSIÇÃO

• Todas as pessoas agredidas por animais devem procurar


a Unidade de Saúde para que seja avaliada a necessidade de se indicar
ou não o tratamento antirrábico.

• Em alguns casos, basta observar o animal por 10 dias

• Depende das circunstâncias da agressão, do local do ferimento e do tipo


de mordedura.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
AVALIAÇÃO CLÍNICA DO ANIMAL AGRESSOR E EMISSÃO DE LAUDO
VETERINÁRIO

• Estado geral de saúde – vacinação

• Observação por 10 dias

• Procedência

• Emissão de Laudo com informações sobre as condições clínicas do


animal.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
VACINAÇÃO ANTIRRÁBICA ANIMAL

• Manutenção de altas coberturas vacinais através da vacinação


anual da população urbana e rural de cães e gatos a partir dos 3 meses
de idade.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
RETIRADA DE ANIMAIS DOS LOGRADOUROS PÚBLICOS

• Consiste na captura e/ou de animais agressivos, agressores ou


zoorelevantes soltos nos logradouros públicos, evitando a
disseminação do vírus da raiva e as agressões por animais.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
ANIMAIS SILVESTRES

• Controle populacional

• Brasil → Desmodus rotundus

• Uso de anticoagulantes aplicados às costas do morcego

• Outros morcegos lambem e morrem de hemorragia


• Animais morrem em torno
de 3 dias após aplicação;

• 1 único morcego após a


aplicação da pasta pode
contaminar até 20 animais.
AVALIAÇÃO DE RISCO E CONDUTA DE
ATENDIMENTO ANTIRRÁBICO HUMANO
NATUREZA DA EXPOSIÇÃO
• Mordedura: penetração dos dentes do animal na pele

• Arranhadura: ferimento causado por unhas e dentes

• Lambedura: contato da língua com áreas recentemente machucadas ou


mucosas

• Outros: saliva ou outros tecidos potencialmente infectados


CARACTERÍSTICAS DOS FERIMENTOS
• Local

• Profundidade

• Extensão e números de lesões


CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES
LEVES:

• Ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos, em tronco e


membros

• exceto mãos e polpas digitais e planta dos pés

• Podem acontecer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras


causadas por unha ou dente.

• Lambedura de pele com lesões superficiais


CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES
GRAVES

• Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta dos
pés

• Ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo

• Lambeduras de mucosas

• Lambedura de pele onde já existe lesão grave

• Ferimento profundo causado por unha de gato

• Qualquer ferimento por morcego


CARACTERÍSTICAS DO ANIMAL
Cão e gato:

• Estado de saúde no momento da agressão

• Circunstâncias do acidente

• Procedência do animal

• Hábito de vida

• Possibilidade de observação
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
NOTIFICAÇÃO E INVESTIGAÇÃO

• É doença de notificação compulsória, devendo ser informada


imediatamente e de investigação epidemiológica com busca ativa, para
evitar a ocorrência de novos casos e óbitos.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
CASO SUSPEITO

• Quando o paciente apresenta quadro clínico sugestivo de


encefalite, com antecedentes ou não de exposição ao vírus da
raiva
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
CASO CONFIRMADO

• Caso confirmado laboratorialmente (Imunofluorescência direta + prova


biológica) ou caso suspeito com progressão para coma e óbito, sem
diagnóstico laboratorial, com antecedente de exposição.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
CASO DESCARTADO

• Caso suspeito com diagnóstico confirmado laboratorialmente


por outra etiologia ou caso suspeito sem evolução para óbito.

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