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RAIVA

Profa Heloisa Godoy


Raiva

Doença infecciosa aguda, mortal, caracterizada por


encefalomielite e sinais clínicos nervosos como
alteração de comportamento, agressividade e paralisia
Histórico
• Já era descrita como doença fatal, transmitida por mordedura canina, em
textos médicos

- Egípcios e mesopotâmicos do 2º milênio AC


- Chineses do 5º século AC

• IV Século AC – Aristóteles descreve a raiva canina


• 1793 – John Hunter inaugura o estudo científico moderno da raiva humana
• 1880/84 - Pasteur demonstra que raiva é uma doença infecciosa do SNC
1903 Adelchi Negri- corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos
característicos- PATOGNOMÔNICOS (principal ferramenta de diagnóstico)
Importância
- Zoonose 100% fatal ... ou quase sempre
fatal ???

- A cada 15 minutos alguém morre com


Raiva no mundo

- Cerca de 1000 pessoas por hora, no mundo,


recebem profilaxia pós-exposição de raiva.
Importância
Nas Américas $ 40 milhões/ano
- 2.500.000 doses de vacina contra a raiva humana
- 500 000 mililitros de soro hiperinmune
- 45 milhões de doses de vacina contra a raiva animal
Brasil 2013 ~ R$ 80 milhões/ano
Controle da raiva canina: ~ R$ 36 milhões
~ R$ 42 milhões imunobiológicos humanos (soro e
vacina)
Custo: ~ R$ 200.000 /ano (02 tratamentos) - Biopterina
Importância

Prejuízos econômicos:
- Saúde pública - Risco de raiva humana
- Morte de pessoas
- Custo tratamento
-Saúde animal - Economia
- Morte de animais de produção/trabalho
- Redução de produtividade em animais espoliados por
transmissores
Etilogia
• Família: Rhabdoviridae
• Gênero: Lyssavirus
Propriedades Gerais dos
Lyssavirus
 Formato de projétil (bala de revolver)
 Envelopados
 RNA de fita simples
 Tamanho - 130nm a 380 nm X 50nm a 95 nm
 Composição química – 65% a 75% - proteínas
15% a 25% - lipídeos
3% - carboidratos
Propriedades Gerais dos Lyssavirus

4. Sensibilidade do vírus
- Sensível a pHs extremos
- Inativado em altas temperaturas: 50ºC - 15 ‘ / 80 a100ºC - 2’
- Abaixo de 0ºC conservam-se por vários meses
- Sensíveis a solventes lipídicos: saponáceos, éter, álcool, fenol, formol,
hidróxido de sódio (soda)
- Sensíveis à luz solar e raios UV
- Conservam-se bem em glicerina 50% à temp.normal e por vários
meses a 4ºC
Proteínas virais dos Lyssavirus
Core
O genoma codifica 5 proteínas
N – Nucleoproteína (principal proteína estrutural,
envolve o RNA
P – Fosfoproteína
M- Proteína de matriz (Participa na montagem das
partículas e de sua liberação. Regula o final da
transcrição
G- Glicoproteina (formam as projeções do
envelope (espículos)
L - RNA polimerase (transcrição e replicação do
RNAa
Variantes antigênicas inicialmente
identificadas no Brasil
 Variantes 2 – cão
 Variante 3 – morcego vampiro Desmodus rotundus
 Variante 4 – morcego Tadarida brasiliensis
 Variante 5 – morcego vampiro da Venezuela*
 Variante 6 – morcego Lasiurus cinereus
 Lab – variante estabelecida para cepas de laboratório

* O perfil de reação com o painel é semelhante a AgV 5, mas análises


genéticas posteriores mostraram que são variantes genéticas distintas
ESPÉCIES de LYSSAVIRUS (ICTV, 2015)
1.Aravan lyssavirus 8.Irkut lyssavirus
2.Australian bat lyssavirus 9.Khujand lyssavirus
3.Bokeloh bat lyssavirus 10.Lagos bat lyssavirus
4.Duvenhage lyssavirus 11.Mokola lyssavirus
5.European bat 1 lyssavirus 12.Rabies lyssavirus
6.European bat 2 lyssavirus 13.Shimoni bat lyssavirus
7.Ikoma lyssavirus 14.West Caucasian bat lyssavirus
Epidemiologia
• Distribuição mundial
• Erradicada em algumas ilhas
– Japão
– Reino Unido
– Havaí
– algumas ilhas do Pacífico
• Oceania único continente
livre
Epidemiologia

Susceptíveis animais de sangue quente (inclusive o ser humano)

Carnívoros e quirópteros
– Mantém o vírus rábico na natureza
– Importância epidemiológica

Herbívoros e outros animais não mordedores


– Sem importância epidemiológica
Principais reservatórios
América Latina
Estados Unidos
Europa Caribe
Canadá
África e Ásia

raposa
racoon, gambá e raposa
cão
Raiva Urbana
Ocorre nas cidades (humanos e animais)
• Reservatórios: cão (85%)
gato
morcegos não hematófagos
Raiva Silvestre
- Ocorre nos ambientes silvestres (selvas, montanhas, matas e florestas)
- Reservatórios: quati, gambá, raposa, macacos, cachorro do mato, etc
Raiva Rural ou Desmodina
• Ocorre em áreas rurais e acomete principalmente bovinos e equinos
• Reservatórios: morcegos hematófagos

Desmodus rotundus Diphylla ecaudata Diaemus youngi


Desmodus rotundus
América do Sul, América
Central e México

Habita geralmente tocas ou cavernas


muito úmidas
Pelagem fina com as partes superiores
marrom-escuras e as inferiores mais
claras.

Se diferencia das outras espécies de


morcegos-vampiros pelo polegar
alongado, as orelhas pontudas e pela
quantidade de dentes.

Focinho curto e em forma de cone


Epidemiologia

Fonte de infecção animal com a presença do vírus


Via eliminação saliva
Transmissão contato com saliva de animal infectado.
– Mordeduras, lambeduras ou arranhaduras
Porta de entrada Mucosa ou pele com solução de continuidade
Epidemiologia

• Outras formas de transmissão


– Transplante de córnea de 1978 a 1994: 8 casos no mundo
– Transplante de orgãos 4 casos nos EUA em 2004
– Aerossóis 4 casos
- Caverna com morcegos
- Técnicos de laboratório
Patogenia
Período de incubação
– porta de entrada do agente SNC
– inervação da área
– múltiplas mordeduras e a profundidade das mesmas
– quantidade de vírus inoculado e sua patogenicidade
– ausência de tratamento imediato das feridas
Patogenia

• Período de incubação
– Ser humano 2 a 10 semanas, em média 45 dias (até 6 anos)
– Cão 10 dias a 2 meses ou mais
– Bovinos 25 a mais de 150 dias
– Morcegos hematófagos 2 a 25 semanas (laboratório)
Patogenia

• A partir da intensa replicação no SNC, o vírus da raiva segue em


direção centrífuga, disseminando-se pelo sistema nervoso
periférico e autônomo para diferentes órgãos (pulmões, coração,
rins, bexiga, útero, testículos, folículo piloso, etc.) e glândulas
salivares, sendo eliminado pela saliva.

• A disseminação possibilita que o vírus atinja terminações nervosas


sensoriais do tecido cutâneo da cabeça e do pescoço, onde se pode
demonstrar a presença de antígeno viral.

• Por tal razão, utiliza se a biópsia de tecido dessa região como


método de diagnóstico ante-mortem. O vírus rábico pode localizar-
se também na retina e no epitélio da córnea.
Patogenia

• Período de Transmissibilidade
– Animal infectado elimina o vírus na saliva mesmo antes de
manifestação de sintomas, ainda no período de incubação da
doença.
– Cão e gato de 5 a 3 dias antes dos sintomas
– Bovinos 2 a 1 dias antes dos sintomas
– Morcegos indeterminado
Imunidade anti-rábica
• A produção de anticorpos anti-rábicos em indivíduos infectados só ocorre
tardiamente, com frequência apenas quando surgem os primeiros
sintomas.

• Ao penetrar nos neurônios, o vírus da raiva torna-se protegido da ação


dos Ac, das células do sistema imune e da ação dos interferons
responsáveis pela resposta imune inespecífica.
Raiva dos herbívoros
Principal transmissor: morcego hematófago

Desmodus rotundus
Locais de preferência para sugar sangue
• Bovinos: tábua do pescoço, orelha, focinho, dorso, cauda,
pregas anais e vulvares, tetos, base do casco, entre dedos

• Equinos: tábua do pescoço, orelha, base dos olhos, base da


cauda, base do casco

• Suínos: orelhas, dorso, mamilos, focinho, dedos do pé, cauda


Sinais clínicos nos Herbívoros
• Raiva Paralítica
– Disfagia, engasgo, sialorréia
– Ataxia
– Paralisia progressiva dos posteriores
– Movimentos de pedalagem
– Morte 3 a 5 dias
SINTOMATOLOGIA –Quirópteros

Morcego durante o dia Ataxia


Programa Nacional de Controle da Raiva dos
Herbívoros
• Vigilância epidemiológica
• Cadastramento e monitoramento dos abrigos de morcegos hematófagos
• Controle de morcegos da espécie Desmodus Rotundus, principal
transmissor da raiva para os herbívoros
• Vacinação dos herbívoros domésticos, quando necessário
• Educação sanitária
Comportamento dos morcegos hematófagos favorecem seu
controle

• Vivem em colônias isoladas


• Voltam ao mesmo animal
• Lambem-se uns aos outros
Métodos de controle
RESTRITIVO
• Barreiras mecânicas
• Luz artificial
Métodos de controle
Vantagens
• Ecologicamente correto
• Não representa risco a saúde humana
• Não necessita de treinamento específico
• Fácil realização e eficiente
Desvantagens
• Restrito a pequenos rebanhos
• Custo considerável
• Alguns morcegos podem se adaptar a presença
• de luz
Métodos populares
• Uso de alho nas janelas e portas, junto a animais domésticos ou em volta de
feridas provocadas por morcegos hematófagos

• Uso de asa de gavião ou rabo de raposa penduradas em currais

• Uso de garrafas penduradas em currais

• Uso de óleo queimado no madeiramento de habitações, nos poleiros ou nas


mordeduras provocadas por morcegos hematófagos
Métodos de controle
SELETIVO
• INDIRETO
- Uso de substâncias anticoagulantes -
(Warfarina 2%) nos animais “vítimas”
• DIRETO
Controle da população de morcegos pela
captura e tratamento tópico com Warfarina
WARFARINA = anticoagulante
A Warfarina inibe a ação das duas redutases no
ciclo da vitamina k, limitando o processo de
formação dos fatores de coagulação.
Vantagens
A principal vantagem do método é a possibilidade de aplicação da pasta
vampiricida pelo próprio criador, visto que não há contato direto com o
Desmodus rotundus.

Baixo risco a saúde humana

 Ecologicamente correto
Desvantagem
 Boa eficiência
Rebanhos extensivos:
 Baixo custo
dificuldade de observação
 Qq sp. animal
 Facilidade de aplicação – não requer treinamento
 Único método seletivo disponível no Brasil
Métodos de controle
SELETIVO – DIRETO
Vantagens
• A cada 10 fêmeas capturadas – 100 mortas
• Alta eficiência
• Resposta rápida (3 a 7 dias no tratado e 15 nos demais)
Desvantagens
• Ecologicamente incorreto
• Necessidade de treinamento específico
• Alto custo
• Alto risco a saúde humana - mordeduras
Por que controlar os morcegos hematófagos?
Aspecto econômico
• Queda na produção de leite e carne
• Perda da qualidade do couro
Aspecto sanitário
• Transmissão da raiva aos animais e ao homem
• Lesão – porta de entrada para agentes
infecciosos
• Predisposição para miíases
Raiva urbana
• O período de incubação de 15 dias a dois meses
• Cães possuem fases da raiva

Fase Prodrômica ou Fase Furiosa


Raiva Muda ou Paralítica
Fase Prodrômica
-Animais mudança de comportamento, escondem-se em locais escuros ou
mostram uma agitação inusitada

- Após 1 a 3 dias, ficam acentuados os sintomas de excitação

- O cão se torna agressivo, com tendência a morder objetos, outros animais


e morde-se a si mesmo, muitas vezes provocando graves ferimentos.

- A salivação torna-se abundante, uma vez que o animal é incapaz de


deglutir sua saliva, em virtude da paralisia dos músculos da deglutição.
Fase Prodrômica
• Há alteração do seu latido, que se torna rouco ou bitonal, em virtude da
paralisia parcial das cordas vocais.

• Os cães infectados pelo vírus rábico têm propensão de abandonar suas


casas e percorrer grandes distâncias, durante a qual podem atacar outros
animais, disseminando, desta maneira, a raiva.

• Na fase final da doença, é frequente observar convulsões generalizadas,


que são seguidas de incoordenação motora e paralisia do tronco e dos
membros.
Forma Muda
• caracteriza por predomínio de sintomas do tipo paralítico, sendo a fase de
excitação extremamente curta ou imperceptível.

• A paralisia começa pela musculatura da cabeça e do pescoço; o animal


apresenta dificuldade de deglutição e suspeita-se de “engasgo”, quando
então seu proprietário tenta ajudá-lo, expondo-se à infecção.

• A seguir, vêm a paralisia e a morte.


Vacina contra a raiva
• A vacinação para evitar o vírus da raiva tanto para cães,
quanto para gatos, deve ser feita quando o animal tiver 4
meses de vida.

• Após esta, deve-se fazer um reforço anual.


O que fazer quando agredido por um animal, mesmo se ele
estiver vacinado contra a raiva

- Lavar imediatamente o ferimento com água e sabão.


- Procurar com urgência o Serviço de Saúde mais próximo.
- Não matar o animal, e sim deixá-lo em observação durante 10 dias, para que
se possa identificar qualquer sinal indicativo da raiva.
- O animal deverá receber água e alimentação normalmente, num local
seguro, para que não possa fugir ou atacar outras pessoas ou animais.
- Se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento,
voltar imediatamente ao Serviço de Saúde.
- Nunca interromper o tratamento preventivo sem ordens médicas.
- Quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele
não tenha agredido ninguém, não o mate e procure o Serviço de Saúde.
Diagnóstico
Laboratórios especializados
• Material resfriado (até 24h) ou congelado
• Acondicionado em sacos plásticos estéreis
1. metade do cerebelo
2. segmento de medula cervical
3. metade caudal de um dos hemisférios (córtex cerebral)
4. uma fatia do tálamo
Diagnóstico

• Para pesquisa antígenos


(inclusões citoplasmáticas=corpúsculos de
Negri)
- Histopatológico (HE)
Imunohistoquímica
• Alta sensibilidade e especificidade
Para isolamento viral (Prova Biológica)
• Inoculação intracerebral em camundongos
• Inoculação em cultura de células
• Identificação direta:
corpúsculos de inclusão
• Histopatológico (HE), Coloração
de Sellers e Microscopia
• Eletrônica
sorológicos – IFD e Imunohistoqímica

Moleculares
• Isolamento viral - sistemas sensíveis
Animais de laboratório
• Camundongos jovens e lactentes
• cultivo de células BHK-21 (rim de hamster)
VERO (rim de macaco-verde africano), CER, McKoy Neuro-2A-
não causa efeito citopático
Laboratórios de referência
• Centro de Controle de Zoonoses / SMS /
PMSP
• Instituto Biológico / CPA / SAA
• Instituto Pasteur / SES

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