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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Disciplina Doenças de cães e gatos


Professora Carla Maria Osório Silva

LEPTOSPIROSE
LEPTOSPIROSE

➢ Zoonose de importância mundial

➢ Várias espécies mamíferos domésticos e silvestres


LEPTOSPIROSE

➢ Agente etiológico - Bactérias do gênero Leptospira – 2 espécies

– Leptospira interrogans - Patogênicas


– L. biflexa – Saprófitas, vida livre
LEPTOSPIROSE

➢ Movimentos de flexão e ao redor de seu próprio eixo “saca-

rolha”– não é necessário lesão de continuidade para que ocorra

infecção.
LEPTOSPIROSE

• Bactéria helicoidal, aeróbia obrigatória, fina, flexível com


grande motilidade.

• Membrana externa – LPS.

– Sorovares baseados na reatividade humoral a diferentes


componentes de chos no LPS da membrana

• Mais de 200 sorovares


LEPTOSPIROSE

➢ Sorovares de importância mundial

– Leptospira canicola
– L. icterohaemorrhagiae

• Outros sorovares – regionais

• Países tropicais
– Alta precipitação pluvial
– Solo neutro ou alcalino
LEPTOSPIROSE

• Cada sorovar tem sua espécie animal –


porém não é espécie específico
LEPTOSPIROSE

• Tem sido considerada doença re-emergente


em humanos
– Alta incidência foi observada
• Na Àsia devido ao Tsunami
• Nos EUA devido ao furação Katrina
LEPTOSPIROSE
➢ Maior sobrevivência em ambientes quentes (28 a 30º) e úmidos.

➢ Crescem melhor em um pH entre 7,2 a 7,4.

➢ São sensíveis ao pH ácido (<6,8).

FONTE: Google imagens FONTE: http://www.luciacangussu.bio.br/atlas/leptospira-spp/


LEPTOSPIROSE
➢ Águas paradas ou de movimentação lenta podem concentrar

espiroquetas no ambiente.

➢ Pode permanecer viável por vários meses no solo saturado por

urina.

FONTE: Google imagens


LEPTOSPIROSE
➢ Distribuição cosmopolita – ocorrência maior em países de clima tropical
e subtropical.

➢ Doença sazonal com picos epidêmicos em períodos de alta


pluviosidade.

➢ Espécies susceptíveis – bovinos, ovinos, caprinos, suínos, cães, gatos,


coelhos, animais silvestres, roedores e homem.

➢ Animais domésticos e silvestres com infecções subclínicas mantém os


sorovares na natureza. Reservatórios – colonização dos túbulos renais
proximais.

ZOONOSE
LEPTOSPIROSE

➢ Leptospiras saprófitas - Leptospira biflexa. Encontradas principalmente

em água doce (vida livre).

➢ Leptospiras patogênicas - Leptospira interrogans e Leptospira

kirschneri. Possuem mais de 250 variáveis sorológicas denominadas

sorovares agrupados em 25 sorogrupos.


LEPTOSPIROSE
➢ Sorovares - reatividade distinta dos anticorpos frente aos diferentes

carboidratos dos LPS da membrana externa. Mais de 60 sorovares

foram reconhecidos na espécie L. biflexa e mais de 250 sorovares na

espécie L. interrogans.

➢ Sorogrupos – agrupamento dos sorovares antigenicamente

relacionados, que compartilham antígenos comuns e

consequentemente apresentam reações cruzadas entre si nos métodos

de detecção de anticorpos.
LEPTOSPIROSE

➢ Os sorovares universais são L. icterohaemorrhagiae e L. canicola. Os

demais sorovares possuem características mais regionais.

FONTE: http://slideplayer.com.br/slide/9409024/
Sorovares Reservatórios

icterohaemorrhagiae rato (Rattus norvegicus, Rattus ratus)


(bovinos, cavalo, suíno, porquinho da Índia)

copenhageni (isolada em cães no Brasil) rato (Rattus norvegicus)

pomona suíno, bovino e gambá (cavalo, caprino,


ovino, coelho, porquinho da Índia)

grippotyphosa roedores silvestres e marsupiais EUA,


Canadá e Europa (bovino, suíno, ovino,
caprino, coelho, porquinho da Índia)

hardjo bovinos (suíno, cavalo, ovino)

brastislava ratos, suínos (cavalos e bovinos)

ballum camundongos e ratos

canicola cão (bovino, cavalo, suíno)

pyrogenis rato (Rattus norvegicus)


LEPTOSPIROSE

Rattus norvegicus

Mus musculus

FONTE: Google imagens


LEPTOSPIROSE

• TRANSMISSÃO

➢ Transmissão direta

▪ Contato direto (urina infectada, transmissão venérea e feridas)

▪ Pele e mucosas

▪ Placentária

▪ Ingestão de tecidos infectados – caça de animais silvestres.


LEPTOSPIROSE

• TRANSMISSÃO

➢ Transmissão indireta

▪ Contato com solo, vegetação, alimentação e água contaminados.

▪ Sobrevivem em insetos e outros hospedeiros invertebrados – papel


incerto na transmissão.

FONTE: Google imagens


Transmissão – entre cães
• A disseminação da infecção se dá pela
convivência entre os cães
• Os cães excretam a bactéria de forma
intermitente por meses a anos após a
infecção
• Os animais, mesmo recuperados ou com
altos títulos de anticorpos, continuam a
excretar Letospiras
LEPTOSPIROSE

• Testes sorológicos têm demonstrado


que cães vadios possuem incidência
elevada de infecções leptospirais

• Os cães excretam a bactéria pela urina


intermitentemente - meses a anos após
a infecção
LEPTOSPIROSE

• Os cães recuperados da doença


continuam eliminando o agente pela urina
– portador

• Transmissão humana
– contato direto com urina, sangue ou tecidos
de cães infectados
– indireta - ambiente contaminado pela urina
de cães infectado
LEPTOSPIROSE

• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ Gravidade da infecção depende da:

▪ Patogenicidade dos sorovares.

▪ Sensibilidade dos hospedeiros.

▪ Cães são mais susceptíveis a L. canicola e L. icterohaemorrhagiae.


LEPTOSPIROSE

• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ Os lipopolissacarídios (LPS) das leptospiras estimulam a adesão de


neutrófilos e a ativação de plaquetas, induzindo intensa resposta
inflamatória no hospedeiro.

➢ Ocorrem alterações hemodinâmicas ligadas a diminuição fluxo


sanguíneo, coagulação intravascular disseminada e trombose.

➢ Estas alterações contribuem para hipóxia tecidual e morte celular nos


órgãos parenquimatosos.
Os LPS estimulam a adesão
de neutrófilos e a ativação
de plaquetas, induzindo
intensa resposta
inflamatória no hospedeiro

FONTE: Jericó, M. Tratado de Medicina Interna de cães e gatos


LEPTOSPIROSE

• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ LESÃO RENAL

▪ L. canicola, L. bratislava e L.grippotyphosa – disfunção renal (síndrome


nefrítica).

▪ Pode ocorrer injúria renal aguda por diminuição da filtração glomerular


causada pela dilatação intersticial (edema) que diminui a perfusão
renal – nefrite túbulo intersticial.

➢ A lesão renal crônica progressiva evolui em um a três anos, após a


leptospirose aguda.
LEPTOSPIROSE

• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ LESÃO HEPÁTICA

▪ L. pomona e L. icterohaemorrhagiae – disfunção hepática (síndrome


hepatonefrítica).

▪ O fígado é o segundo principal órgão parenquimatoso lesado durante


a leptospiremia.

▪ Toxinas leptospíricas causam as alterações iniciais e com a evolução


ocorre necrose hepática – lesão hepatocelular grave e colestase intra-
hepática associada à icterícia.
LEPTOSPIROSE

• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ Pirexia – 40 Cº

➢ Vômitos - desidratação rápida.

➢ Alterações de coagulação - hematêmese, hematoquezia, melena,


epistaxe, hemorragias petéquiais e hematúria.

➢ Sinais de Insuficiência renal – polidpsia e poliúria. Podem desenvolver


IR oligúrica ou anúrica.

➢ Sinais de insuficiência hepática – inapetência crônica, perda de peso,


ascite, icterícia ou encefalopatia hepática.
LEPTOSPIROSE
• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS

➢ LESÃO HEPÁTICA

FONTE: http://ispub.com/IJVM/7/2/12879#
LEPTOSPIROSE
• PATOGENIA/SINAIS CLÍNICOS
➢ LESÃO RENAL

FONTE: https://www.cliniciansbrief.com/column/consultant-call/canine-leptospirosis
LEPTOSPIROSE
• GATOS

➢ Evidencia sorológica, mas doença clínica é rara.

➢ Sorovares Canicola, Grippotyphosa e Pomona tem sido


isolado de gatos – leptospiremia e leptospirúria, mas sem
sinais clínicos.

➢ Evidência histológica de

inflamação renal e/ou hepática.

FONTE: Google imagens


LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Achados laboratoriais:

• Hemograma:

Leucopenia discreta na fase inicial (leptospiremia) seguida por


leucocitose por neutrofilia.

Trombocitopenia – manifestações hemorrágicas.

Anemia – discreta, em geral, do tipo regenerativa.


LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Achados laboratoriais:

• Bioquímica:

Elevação das taxas de ureia e creatinina – inicia-se no quarto


dia após a infecção.

Hipoalbuminemia – devido ao decréscimo da síntese hepática


e perda urinária.

Aumento discreto da globulina.

Aumento da ALT, FA e bilirrubinas – se acometimento


hepático.
LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Achados laboratoriais:

• Urinálise:

Glicosúria – lesão tubular aguda.

Proteinúria

Bilirrubinúria

Cilindros granulosos
LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Sorologia:

• Microaglutinação (MA) – teste principal.

Sorogrupo-específica – não discrimina os sorovares e pode


causar reação cruzada.

Laboratórios brasileiros incluem na bateria de antígenos


representantes até 20 sorogrupos.

Títulos são negativos na primeira semana da doença.


LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Sorologia:

• Microaglutinação (MA) – teste principal.

Exames pareados para comparação dos títulos, com intervalo


de duas semanas.

50% de acurácia no segundo exame e próximo de 100% em


um terceiro exame com novo intervalo de duas semanas.

Títulos vacinais e de doença podem se confundir – 1:400

Títulos 1:800 ou mais, geralmente indicam infecção ativa ou


estado de portador.
LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Identificação do microrganismo:

• Microscopia de campo escuro.

Visualização de leptospiras viáveis em amostras de sangue,


urina e líquor.
LEPTOSPIROSE
• DIAGNÓSTICO

➢ Identificação do microrganismo:

• Cultura bacteriana – crescimento fastidioso.

• PCR – permite diagnóstico precoce. Feito a partir do

sangue e da urina.
LEPTOSPIROSE
• TRATAMENTO

➢ Tratamento específico:

▪ Reduz a febre e a leptospiremia algumas horas após o

início do tratamento.
• TRATAMENTO
Terapêutica da leptospirose em cães e gatos (Green , 2012)
Penicilina G Cães e 25.000 – IM, SC, IV BID 21 dias
gatos 40.000 u/kg
Ampicilina Cães e 22 mg/kg SC, IV QID-TID 21 dias
gatos
20-40 mg/kg PO TID 21 dias

Amoxicilina Cães e 10-20 mg/kg PO TID-BID 21 dias


gatos

Doxiciclina* Cães 5 mg/kg PO, IV BID 21 dias

Tetraciclina* Cães e 22 mg/kg PO TID 21 dias


gatos

metilprednisolona Cães 5-10 mg/kg IV SID 21 dias

* Elimina condição de portador


LEPTOSPIROSE
• TRATAMENTO

➢ Tratamento suporte:

▪ Administração de fluidos.

▪ Controle do vômito e protetores de mucosa gástrica.

▪ Monitorar débito urinário – oligúria (< 2mL/kg/h).

▪ Transfusão – sangue total, plasma (hipoalbuminemia

grave).

▪ Heparina – suspeita de CID.


LEPTOSPIROSE

• CONTROLE

➢ Controle de roedores.

➢ Identificação de portadores e tratamento para cura


estéril.

➢ A vacinação com bacterinas (bactérias inteiras inativadas


quimicamente) tem sido decisiva para diminuir a
prevalência e a gravidade da doença.
LEPTOSPIROSE
• CONTROLE

➢ Vacinas – imunidade contra o sorogrupo,


presumivelmente protegendo contra os sorovares desse
sorogrupo.

➢ Vacinas disponíveis:

Canicola + Icterohaemorrhagiae

Canicola + Icterohaemorrhagiae + Pomona +


Grippotyphosa
Leptospirose
• Controle
Difícil - cães soropositivos podem ser
portadores
Eliminação na urina é intermitente - exames
falso negativos
Vacinação semestral - não evita infecção e
não elimina a condição de portador
Combate a roedores (animal silvestre
carreador)
Leptospirose
• Controle
– Canis em locais que não favoreçam a
permanência do agente
• Tratamento
– Doxiciclina
– Dihidroestreptomicina
- Eliminam o estado de portador, mas não
previnem nova infecção

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