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problema 1
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
- sistema melânico, formado pelos MELANÓCITOS → células de - CÉLULAS DE LANGERHANS, com função imunológica → são
origem ectodérmica, cuja principal função é a síntese de grânulos responsáveis pelo reconhecimento e apresentação de antígenos para
chamados melanossomas ricos em MELANINA, uma macromolécula os linfócitos T.
que absorve a radiação UV → através de longos dendritos, cada
- CÉLULAS DE MERKEL, integradas ao sistema nervoso e que contém
melanócito “inocula” seus melanossomos em aproximadamente 36
os grânulos osmiófilos, contendo neurotransmissores que são
ceratinócitos, formando o conjunto melanócito-ceratinócitos, liberados mediante pressão sobre a pele, assim, atuam como
denominado unidade epidermomelânica. receptores mecânicos.
o número total de melanócitos varia segundo o sítio
- CÉLULAS DENDRÍTICAS INDETERMINADAS (função mal definida).
anatômico, não em relação à raça → o que determina os diferentes
tons de pele é a morfologia, tamanho e distribuição dos A derme desempenha uma influência reguladora sobre a morfogênese
melanossomos. e diferenciação epidérmica, sendo fundamental para a determinação
de sua espessura, arquitetura, tipo de diferenciação e padrão dos seus
o bronzeamento produzido pelo sol ocorre pela excitação da
anexos. O pH da pele situa-se entre 4,6 e 5,8.
tirosinase pela radiação UV, levando à formação de melanossomos
maiores e mais numerosos.
ANEXOS CUTÂNEOS
São estruturas que surgem de modificações da epiderme ainda na vida GLÂNDULA SEBÁCEA: são glândulas exócrinas que possuem um ducto
embrionária, sendo elas: folículo pilossebáceo, glândulas sudoríparas (desemboca no folículo piloso) e uma porção acinar (formada por
e unhas. células espumosas holócrinas, que descamam por inteiro liberando
sua secreção, o sebo). Também podem desembocar diretamente na
FOLÍCULO PILOSSEBÁCEO superfície da pele. Sua atividade é máxima durante a puberdade, pois
É composto pelo folículo piloso, glândula sebácea e músculo eretor sua regulação é feita inteiramente por hormônios androgênios.
do pelo. Possui várias terminações nervosas e, em algumas regiões
(axilas, mamas, púbis), desembocam no folículo as glândulas GLÂNDULA SUDORÍPARA APÓCRINA : só se desenvolve nas regiões axilar,
apócrinas (sudoríparas). genital e periareolar, a partir da estrutura embrionária do folículo
piloso → entram em atividade na puberdade por ação de hormônios
FOLÍCULO PILOSO: forma-se na vida embrionária como uma projeção androgênios e também respondem a estímulos nervosos.
de queratinócitos modificados (tricócitos) para dentro da derme que
ocorre por influência de células mesenquimais que, mais tarde, - é formada pelo ducto (desemboca acima do ducto da glândula
constituem a papila folicular (se localiza na sua porção mais inferior). sebácea no folículo piloso) e porção acinar (localizada próxima à
Histologicamente, é dividido em infundíbulo, que se estende de sua hipoderme e composta por células cuboidais apócrinas).
abertura (óstio) à inserção do ducto da glândula sebácea; istmo, da - produz uma secreção oleosa e inodora, que é comumente
inserção da glândula sebácea à região da inserção do músculo eretor metabolizada pela flora bacteriana na axila e região genital, produzindo
do pelo e da protuberância (área de concentração de células-tronco); o odor forte.
e bulbo (ou porção inferior do folículo), que, na sua extremidade mais
GLÂNDULA SUDORÍPARA ÉCRINA : responsável pela sudorese e
inferior, tem a matriz, responsável pela produção do pelo e que abraça
termorregulação do corpo pela perda de calor promovida pelo suor
a papila folicular.
→ tem distribuição universal, concentrando nas palmas e plantas. O
- existem três tipos de pelos: pelos terminais (espessos e ácino (porção secretora) encontra-se bem próximo à hipoderme,
pigmentados – couro cabeludo, barba, axilas, região genital – sofrem emitindo um ducto que vai desembocar diretamente na superfície.
influência dos hormônios andrógenos); pelo lanugo (pelos finos
- a termorregulação obedece a um set-point hipotalâmico, que emite
encontrados no feto); pelo velus (finos e sem pigmento – encontrados
impulsos às glândulas através de terminações simpáticas colinérgicas
no adulto e cobrem a maior parte do corpo, não sendo afetados pelos
(e não noradrenérgica como ocorre com o resto do sistema simpático
androgênios).
no organismo).
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É uma camada de tecido conjuntivo abaixo da epiderme, composta - glândula sudorípara écrina: periporite e abscessos múltiplos dos
por uma rede complexa de fibras (principalmente colágeno e elastina) lactentes;
e preenchida com material amorfo (macromoléculas retentoras de - unha e suas dobras: paroníquia e panarício.
água, como o ácido hialurônico), na qual são acomodados vasos,
nervos e anexos epidérmicos. A pele normal é rica em bactérias, que podem ser agrupadas em:
Fibroblastos, histiócitos, células dendríticas e mastócitos são suas - RESIDENTES PERMANENTES: colonizam a pele e vivem nela como
células residentes (responsáveis pela síntese e destruição da matriz comensais, sendo de difícil remoção → é geralmente constituída por
extracelular), enquanto linfócitos, plasmócitos e outros elementos cocos Gram-positivos (estafilococos coagulase-negativos),
celulares do sangue são encontrados em número variável e de forma bastonetes Gram-positivos aeróbios e anaeróbios, difteroides
transitória. (Corynebacterium e Brevibacterium), bactérias Gram-negativas, além
A interação com a epiderme é fundamental para a manutenção dos de fungos → esses microrganismos são capazes de conviver com um
dois tecidos: colaboram na formação da junção dermoepidérmica e pH relativamente ácido (entre 5,0 e 6,0) e uma osmolaridade
dos anexos epidérmicos, assim como no processo de reparação da relativamente alta.
pele. essa flora permanente varia quantitativa e qualitativamente
A derme pode ser dividida em três partes distintas: de acordo com vários fatores, como idade, sexo, raça, grau de
umidade e os locais anatômicos.
- Derme superficial ou papilar: mais superficial, em contato com a
membrana basal → grande celularidade e predomina fibras colágenas - RESIDENTES TRANSITÓRIAS (podem colonizar a pele e permanecer
mais finas e dispostas verticalmente; nela em pequeno número, por tempo variável, e são de remoção
relativamente fácil) → é representada, principalmente, pelo
- Derme profunda ou reticular: constituída por feixes mais grossos de
Staphylococccus aureus e pelo Streptococcus pyogenes, que são
colágeno, ondulados e dispostos horizontalmente.
bactérias do ambiente, tornando-se patogênicas em geral quando há
- Derme adventiícia: disposta em torno dos anexos e vasos e perda da integridade da pele.
constituída de feixes finos de colágeno, como na derme papilar.
A pele, quando intacta, funciona como uma importante barreira contra
a invasão de micróbios nos tecidos orgânicos, porém, pequenas
HIPODERME (PANÍCULO ADIPOSO) abrasões e o caminho dos folículos pilosos podem servir como porta
de entrada, permitindo a proliferação de bactérias patogênicas no
É a camada mais profunda da pele, situada abaixo da derme reticular
tecido cutâneo ou subcutâneo → dentre as bactérias patogênicas que
e constituída de lóbulos de adipócitos delimitados por septos de
invadem a pele, destacam-se o Staphylococus aureus, Streptococcus
colágeno com vasos sanguíneos, linfáticos e nervos.
pyogenes e o bacilo Gram-negativo Pseudomonas aeruginosa.
O panículo adiposo proporciona a mobilidade da pele sobre a
musculatura e também age como isolante térmico, depósito de Mecanismos de defesa da pele
calorias, amortecedor de traumas e função endócrina (por ex., O turnover celular é a descamação superficial da pele, processo
conversão periférica de hormônios sexuais). fisiológico de renovação celular e eliminação de células mortas que
favorece a “limpeza” externa da pele por eliminar possíveis agentes
patógenos presentes nessa região bem como dificultar sua
PIODERMITES (INFECÇÕES BACTERIANAS DA PELE) proliferação. O pH da pele é ácido, em torno de 4,7 e 5,75, que
As piodermites são processos infecciosos purulentos da pele e dos também dificulta a proliferação e agressão bacteriana por tornar o meio
seus anexos. inóspito a determinados agentes agressores.
Podem ser primárias (infecção em pele saudável) ou secundárias A pele não é inerte, apesar de formar uma barreira física para entrada
(quando a pele estiver previamente lesada ou ocorrer a partir de uma de elementos, permite as secreções de substâncias sebáceas, essas
infecção inicial de outro órgão); supurativas (decorrentes da que contém elementos antibióticos protetores ao organismo, e
proliferação das bactérias na pele) ou não supurativas (manifestações também produz resposta imune pelas células de defesa presentes nas
de hipersensibilidade a antígenos bacterianos). camadas celulares, por exemplo, as células de Langherans, mastócitos
e células dendríticas. Além disso, a própria flora bacteriana natural da
Podem ser classificadas de acordo com: pele serve como uma proteção ao organismo por agirem contra as
ETIOLOGIA: estafilocócicas (Staphylococcus aureus) ou demais bactérias patogênicas → porém, em condições de quebra de
estreptocócicas (Streptococcus pyogenes); barreira física por lesão ou diminuição da resposta imunológica, a flora
residente permanente pode iniciar processos patológicos graves.
PROFUNDIDADE DA INFECÇÃO NA PELE:
Fatores predisponentes: presença de macerações e lesões cutâneas
- infecção superficial da pele → impetigo e síndrome da pele
prévias, obesidade, tratamento imunossupressor, disglobulinemias,
escaldada estafilocócica (SSSS);
disfunções leucocitárias, diabetes, desnutrição e outras
- infecção da epiderme e derme → ectima; imunodeficiências.
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EPIDEMIOLOGIA
Acomete basicamente crianças, apresentando, na maioria das vezes,
curso benigno. Apesar de rara no adulto, mas quando presente tem
mortalidade de 60%, podendo chegar a 100% nos pacientes com
alguma doença de base, como insuficiência renal, imunossupressão,
etilismo, malignidade ou infecção por HIV.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clínico, mas em alguns casos (falha terapêutica,
ETIOPATOGENIA
recorrência de lesões, pacientes imunodeprimidos ou para fins
epidemiológicos) pode-se realizar exames bacterioscópicos e cultura Duas exotoxinas participam na patogênese: toxina esfoliativa A (ETA)
para identificação do agente causal. e toxina esfoliativa B → essas exotoxinas agem na zona granulosa da
Entre os diagnósticos diferenciais, destacam-se herpes simples, epiderme, unindo-se à desmogleína 1 e, consequentemente, ativando
candidíase, dermatofitose, periporite e miliária. proteases que levam à formação de bolhas.
Cerca de 30% da população apresenta S. aureus na pele e nas
mucosas como organismo comensal, mas apenas 5% produzem a
TRATAMENTO toxina esfoliativa → isso ocorre porque, para o desenvolvimento de
Medida essencial é a limpeza e remoção das crostas com água morna SSSS, deve haver uma grande produção de toxinas ou deficiência na
e sabão → deve ser feita 2-3 vezes ao dia para prevenir a formação sua eliminação.
de novas crostas. Se houver dificuldade na retirada, as crostas devem
ser amolecidas previamente com óleo ou vaselina ligeiramente MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
aquecida. Em seguida, aplica-se pomada ou creme antibiótico, de uso
tópico e de baixo poder sensibilizante → por ex.: mupirocina ou ácido A infecção primária inicia-se, em geral, na conjuntiva, na nasofaringe,
fusídico, 2-3x/dia, durante 5 a 7 dias. no ouvido, no trato urinário ou na pele → paciente pode apresentar
fase prodrômica com febre, mal-estar, irritabilidade e prostração.
- é recomendável o uso de antissépticos (óxido amarelo de Hg a 0,5-
1%; ácido bórico a 2% em compressas ou cremes; permanganato de Em seguida, surge rash eritematoso escarlatiforme, mais pronunciado
potássio e outros). nas flexuras. A formação de bolhas flácidas ocorre em cerca de 24-
48h, de preferência nas flexuras (virilhas,
Quando há lesões disseminadas, é administrado antibiótico por via
nádegas, região posterior do joelho e
sistêmica → são indicados: penicilina comum ou semissintéticas
antebraço) e ao redor de orifícios, e, ao
penicilinase resistentes (como a oxacilina) ou as cefalosporinas.
se romperem, originam extensas áreas
- Cefalexina 500 mg, 30 a 50 mg/kg/dia VO, 4 x/dia, por 10 dias; ou exulceroexsudativas, de maneira que o
- Clindamicina 300 mg VO, 3 a 4 x/dia, por 10 dias; ou paciente assemelha-se a um grande
queimado.
- Amoxicilina 500 mg VO, 3 x/dia, por 10 dias; ou
- a descamação revela base eritematosa
- Azitromicina, 500 mg/dia VO, por 5 dias; ou de rápida cicatrização → pode ter sinal de Nikolsky (pele normal à
- Eritromicina 500 mg VO, 4 vezes/dia, por 10 dias. visualização, mas com o toque e tração da pele, ocorre a descamação).
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DIAGNÓSTICO erisipela
O diagnóstico de SSSS baseia-se em três critérios: É uma infecção pelo Streptococcus pyogenes da derme superficial e
(1) a clínica, em que há eritrodermia, descamação ou formação de profunda, acometendo os vasos linfáticos, e que também se
bolhas; superficializa, atingindo a epiderme → pode ser considerada um tipo
especial de “celulite superficial”.
(2) o isolamento do S. aureus produtor de toxina esfoliativa → a
cultura deve ser feita de outras regiões, visto que as bolhas são - a porta de entrada da bactéria ocorre após perda da barreira cutânea,
estéreis; e podendo ser úlcera de estase ou lesões micóticas intertriginosas,
principalmente nos membros inferiores (especialmente quando há
(3) histopatologia característica, que consiste em clivagem
condições locais favoráveis ao desenvolvimento da infecção, como
intraepidérmica na altura da camada granulosa.
edema e estase venosa) → porém, há formas que ocorrem após
O principal diagnóstico diferencial da SSSS é com a necrólise traumas ou sem nenhuma lesão local.
epidérmica tóxica (NET), devendo ser afastada em especial pela
Fatores de risco: tinea pedis (infecção fúngica nos pés), insuficiência
histopatologia; nesta última, observa-se clivagem subepidérmica com
venosa, diabetes, tromboflebite, trauma, desnutrição,
necrose da epiderme.
imunodeficiência e doenças cardiorrespiratórias e hematológicas.
TRATAMENTO
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O paciente deve ser hospitalizado imediatamente e a antibioticoterapia,
O período de incubação é de 2 a 5 dias.
iniciada com a finalidade de erradicar o foco de infecção, além disso,
deve-se realizar o controle hidroeletrolítico rigoroso, para evitar Manifesta-se por eritema vivo e intenso edema doloroso, com bordas
complicações e também realizar a limpeza e curativos das áreas bem delimitadas (diferencia da celulite clássica), que avançam
descamadas (evitar infecções secundárias). rapidamente sobre a pele circunvizinha.
A antibioticoterapia deve ser parenteral, sendo a Oxacilina a droga de - quando o processo é intenso, surgem bolhas flácidas no centro da
primeira escolha → posteriormente, após a alta, é indicado o uso de lesão que podem se romper (erisipela bolhosa) e, até mesmo, necrose
Cefalexina, VO, por 7 a 14 dias. com posterior ulceração.
A lesão é quente e dolorosa, com preferência típica pela face (região
ectima malar) e pela face anterior, lateral ou medial da perna (em até 80%
dos casos).
Também chamada de impetigo ulcerativo, é uma infecção bacteriana
O início é agudo acompanhado de febre alta, calafrios, mal-estar,
que acomete mais crianças, frequentemente como evolução de lesões
adenite satélite à região acometida e náuseas.
de impetigo mal tratadas.
- o comprometimento linfático superficial facilita a disseminação lateral
De etiologia estreptocócica ou estreptoestafilocócica, inicia-se por
da infecção e determina um aspecto “em casca de laranja” da pele
pústula (vesícula de conteúdo purulento), que se aprofunda,
afetada.
originando uma lesão ulcerada (0,5-3 cm) recoberta por crosta
espessa e muito aderida, deixando, ao involuir, cicatriz. Pode ser Após a regressão pode haver surtos repetidos de erisipela (erisipela
única, mas, em geral, há várias lesões. recidivante) pela permanência de linfedema local, que favorece novos
surtos da infecção. Surtos sucessivos de erisipela podem conduzir ao
- as bordas são eritematosas, podendo ser infiltradas.
aumento progressivo da região, com edema e fibrose, que constitui o
Apresenta curso lento e doloroso e a localização preferencial é nas quadro da elefantíase.
pernas.
Como complicações, podem-se citar nefrite e septicemia. A
Diagnóstico é clínico, mas pode-se realizar o exame bacterioscópico mortalidade é rara, mas pode ocorrer sobretudo em crianças ou
e cultura para identificação do agente etiológico. Diagnóstico quando a doença acomete a face.
diferencial: leishmaniose cutânea e pioderma gangrenoso.
Além dos cuidados locais (água e sabão, compressas com água
boricada ou permanganato seguido de antibiótico tópico – mupirocina
2-3x/dia), muitas vezes utiliza-se antibiótico sistêmico contra
estreptococos.
A infecção determina cicatrizes e complicações, como celulite. Podem
ocorrer linfangite e glomerulonefrite.
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Celulite
com diabetes, imunodeprimidos e em uso de terapia anticoagulante,
é caracterizada por área de hemorragia dérmica e bolhas → TNF-α
A celulite é uma infecção aguda do tecido subcutâneo (derme parece ser responsável pelo dano vascular.
profunda e hipoderme) que se dissemina com bordas visualmente mal A celulite facial é mais comum em crianças, porém pode ser observada
definidas (em contraste com as bordas bem definidas da erisipela) e em adultos. A celulite pré-septal atinge de forma aguda os tecidos
o eritema menos vivo. palpebrais na região anterior ao septo orbitário → quando o processo
- pode envolver estruturas ainda mais profundas, como fáscia, ultrapassa os limites desse septo, passa a ser considerada celulite
músculos e tendões. orbitária, que constitui uma situação aguda, extremamente grave, pelo
risco de trombose séptica do seio cavernoso.
- como fatores predisponentes inclui-se trauma na região orbitária,
sinusite, e menos comuns, como dacriocistite (inflamação do saco
lacrimal), infecção dentária, infecção de pele, amigdalite, conjuntivite,
estado gripal, varicela e disseminação hematogênica.
Nos casos de celulite facial significativa, é mandatória uma avaliação
oftalmológica para descartar diplopia, defeito pupilar aferente e
redução da motilidade ocular → exames de imagem como radiografia
dos seios da face, ultrassonografia orbitária (pouco sensível) e TC de
ETIOPATOGENIA globo ocular são complementares ao diagnóstico.
A celulite se desenvolve quando microrganismos entram na derme e Complicações como glomerulonefrite pós-estreptocócica, linfadenite,
nos tecidos subcutâneos através de rupturas na barreira cutânea endocardite bacteriana subaguda e sepse são raras e mais comuns
(abrasão, ferida cutânea, mordedura, arranhadura, úlcera, em crianças e imunodeprimidos.
furunculose).
É causada pelo Staphylococcus aureus e, em segundo lugar, o
Streptococcus pyogenes (geralmente causa celulite não purulenta).
Entretanto, vários outros microrganismos podem excepcionalmente
resultar em celulite e geralmente isso ocorre em um hospedeiro com
imunidade alterada ou como o resultado de uma exposição específica
→ Pseudomonas aeruginosa, Pasteurella multocida, Capnocytophaga
canimorsus, Vibrio vulnificus e Cryptococcus neoformans.
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Celulite x erisipela
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clínico, mas em casos de dúvida, exame de imagem A cultura do foco purulento deve ser realizada em todos os casos de
como ultrassonografia de alta frequência, biópsia cutânea e cultura celulite associada a, ou adjacente a, uma ferida ou foco pustular →
para identificação do agente infeccioso podem auxiliar no diagnóstico. pode ajudar a identificar a presença de patógenos resistentes, como o
MRSA, e guiar a escolha do antibiótico.
- hemocultura geralmente é negativa, com exceção da infecção por H.
influenzae, que também cursa com leucocitose importante. Fatores de risco: episódio prévio de celulite; úlcera/ferida; dermatose;
tinha do pé interdigital; linfedema (após cirurgia e/ou radioterapia)
Os diagnósticos diferenciais mais importantes são tromboflebite
(pernas), angioedema e herpes-zoster (face) e erisipeloide (mãos).
TRATAMENTO
O tratamento inclui repouso com elevação do membro, analgesia e Em crianças < 5 anos, o H. influenzae é frequentemente o causador
antibioticoterapia sistêmica, que deve ser parenteral nos casos de celulite pré-septal e orbitária não relacionada com traumatismo →
intensos ou localizados na face, devendo-se considerar as tratamento é IV e pode ser feito com ampicilina, cloranfenicol ou
possibilidades etiológicas na escolha do tratamento. ceftriaxona.
A penicilina semissintética resistente à penicilinase ou a cefalosporina O uso de prednisona na dose de 0,5 mg/kg/dia é preconizado por
de primeira geração é uma terapia empírica adequada na maioria das alguns autores como terapia coadjuvante nos casos mais exuberantes
situações → preferência para cefalosporinas devido a maior causa ser ou com pouca resposta à antibioticoterapia.
por estafilos.
- na alergia grave à penicilina em que há a reação de
hipersensibilidade do tipo I imediata, é indicado um antibiótico não
betalactâmico.
- a fluoroquinolona pode ser indicada em alguns casos, mas os
médicos devem estar cientes de que tem sido associada a eventos
adversos incapacitantes e potencialmente irreversíveis do sistema
nervoso ou musculoesquelético, portanto, geralmente é reservada
como opção de segunda linha em infecções de pele e dos tecidos
moles quando for considerado inadequado usar outros antibióticos
comumente recomendados.
Etiologia estreptocócica: mesmo tratamento da erisipela → Penicilina
G cristalina 5 a 10 milhões U, via IM ou IV, a cada 4 ou 6 horas ou
Penicilina G procaína 400 mil unidades, 2-3 x/dia.
Etiologia estafilocócica (desde que não seja MRSA): Oxacilina 100 a
150 mg/kg/dia de 4/4h ou Cefalotina 100 a 150 mg/kg/dia IV, a cada
4 ou 6 horas.
Uma história de infecção por MRSA no paciente ou nos seus contatos
próximos deve levantar a suspeita desse organismo como a causa da
celulite → outros riscos incluem pessoas com exposição a hospitais
ou a cuidados em longo prazo, encarcerados, usuários de drogas
intravenosas, militares, homens que fazem sexo com homens ou
membros de equipe de atletismo.
- tratamentos sugeridos incluem vancomicina, clindamicina,
linezolida, daptomicina, doxiciclina e sulfametoxazol/trimetoprima ou
glicopeptídeos alternativos, como telavancina, dalbavancina ou
oritavancina.
Nos casos de celulite hemorrágica, é indicado, ainda, o uso de
corticosteroide sistêmico.
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Foliculites
São localizações frequentes o couro cabeludo, a barba (sicose
lupoide) e os membros inferiores (foliculite decalvante de Arnozan-
São piodermites que se iniciam no folículo piloso, após uma oclusão Dubreuilh). A foliculite decalvante tem maior incidência no homem
folicular por queratina, hiper-hidratação ou infecção bacteriana ou adulto.
fúngica.
Compreendem forma superficial (ostiofoliculite) e duas formas
profundas (sicose e hordéolo) → o termo sicose aplica-se à foliculite
supurativa das regiões pilosas da face e ocorrem mais no adulto.
São doenças universais, que incidem em todas as idades.
Etiologia: Staphylococcus aureus (mais frequente) e bactérias Gram-
negativas (Enterobacter, Klebsiella, Escherichia, Serratia e Proteus).
São fatores favorecedores de foliculites, em geral: o barbear frequente
(cortes da pele podem servir como porta de entrada), dermatoses pré- O tratamento oferece resultados bastante precários e deve ser feito
existentes, uso prolongado de antibióticos, exposição a calor e com antibióticos por longos períodos → Dapsona pode ser útil na
umidade, obesidade e DM. dose de 100 mg/dia durante alguns poucos meses com resultados
As áreas mais frequentemente acometidas são face, couro cabeludo, após 2 meses e deve ser reduzida posteriormente para 25 mg/dia,
tronco, axilas, coxas, regiões inguinais e nádegas. assim como Dapsona tópica 1 a 2 vezes ao dia.
- também há relatos de eficácia na associação de Rifampicina (300
mg) e Clindamicina ((300 mg) 2x/dia, durante 2 meses.
FOLICULITE SUPERFICIAL
Também chamada de ostiofoliculite ou impetigo de Bockhart.
FOLICULITE QUELOIDIANA DA NUCA (ACNE KELOIDALIS)
Resulta da infecção do óstio folicular pelo
Caracteriza-se por sua localização típica na nuca. A doença se inicia
S. aureus e clinicamente apresenta-se
com foliculite profunda causada por estafilococos, posteriormente as
como pequena pústula folicular centrada
pústulas confluem e levam à formação de fístulas e fibrose de aspecto
por um pelo com pequeno halo
queloidiano.
eritematoso, de coloração branco-
amarelada, em número variável, que, após
ruptura e dessecação, recobre-se de
pequena crosta. No início podem ser
extremamente pruriginosas, mas são
indolores.
Na criança são comuns no couro
cabeludo, com reação ganglionar regional,
e, no adulto, nas faces anterior e interna das coxas e nádegas.
É um quadro crônico, rebelde e peculiar do homem adulto,
Geralmente apresentam resolução espontânea em 7 a 10 dias,
predominantemente de raça negra.
podendo deixar hiperpigmentação pós-inflamatória.
Medidas locais: remoção com pinça depiladora dos pelos encravados
O tratamento inclui o uso de antibióticos tópicos (ex.: mupirocina) e
e drenagem dos eventuais abscessos. O tratamento consiste no uso
sabões antissépticos, em geral suficientes. Além disso, deve-se
de antibióticos tópicos (clindamicina) e orais. Pode-se utilizar
recomendar o uso de roupas folgadas e porosas.
corticoide de alta potência tópico e intralesional.
Nas foliculites superficiais disseminadas e resistentes, empregam-se
Se a lesão for crônica e estável, excisão cirúrgica torna-se uma opção.
antibióticos sistêmicos: cefalosporinas, dicloxacilinas,
sulfametoxazol/trimetoprima, minociclina e clindamicina.
As foliculites de repetição podem estar associadas à contaminação FOLICULITE DA BARBA OU SICOSE
bacteriana nas narinas, no períneo, nas dobras cutâneas e à presença Caracteriza-se por sua localização (região da barba) e elevada
de comorbidades que induzam à imunossupressão → é indicado o cronicidade (se não tratadas) → exclusiva do adulto masculino.
uso de antibióticos tópicos nas regiões flexurais, interior das narinas
As pústulas podem apresentar-se isoladas ou confluentes, formando
e subungueais.
verdadeiras placas infiltradas,
centralizada por pelo.
FOLICULITES PROFUNDAS A sicose da barba não interfere no
crescimento da barba, mas a
FOLICULITE DECALVANTE chamada sicose lupoide é uma
É uma foliculite representada por pústulas relativamente superficiais, foliculite decalvante da barba, onde a
que leva à destruição dos folículos, resultando alopecia cicatricial. lesão é cicatricial.
É de evolução crônica e vai estendendo-se centrifugamente. Em Deve-se diferenciá-la principalmente
função da fibrose, vários fios podem emergir da mesma abertura da dermatofitose, herpes simples e pseudofoliculite.
folicular (politriquia) dando o aspecto típico de “cabelo de boneca”.
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HORDÉOLO OU TERÇOL Existem alguns fatores de risco associados: histórico prévio ou familiar
e contato próximo com pessoas infectadas, obesidade (formação de
É a infecção aguda de cílios e glândulas de Meibomius (grandes dobras na pele que facilitam a proliferação bacteriana e dificultam
glândulas sebáceas localizadas nas placas tarsais das pálpebras). limpeza local), diabetes e outras situações de imunodepressão.
- quando a infecção atinge a glândula de Meibomius que produz a
camada lipídica do filme lacrimal, trata-se do hordéolo interno →
apresenta-se como nódulo eritematoso não na borda palpebral, mas MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
na face interna da pálpebra. Inicia-se por lesão eritematoinflamatória bastante dolorosa, centrada
- quando há infecção das glândulas de Zeiss e Moll, que são as por pelo, com evolução aguda (dias), levando à necrose central
glândulas sebáceas dos folículos pilosos correspondentes aos cílios, (carnegão), que acaba por eliminar-se.
constitui-se o hordéolo externo → apresenta-se como nódulo O furúnculo é um nódulo eritematoso, doloroso e quente → após 2-
eritematoso, discretamente edematoso, às vezes, centrado por pústula 4 dias, torna-se flutuante, formando uma tumoração eritematosa, com
localizado na borda palpebral. vários pontos de necrose, que evolui para grande área ulcerada; é
comum ocorrer discreta celulite perilesional.
- a ocorrência de várias lesões semelhantes determina o quadro de
furunculose.
É comum nas áreas mais pilosas e sujeitas à fricção, como axilas e
nádegas, e tem preferência pelo adulto jovem.
FOLICULITE NECRÓTICA
Caracteriza-se por lesões foliculares superficiais, mas com necrose
Quando há confluência, ao mesmo tempo e no mesmo lugar de vários
que deixa cicatriz varioliforme → é também denominada,
furúnculos, o quadro recebe o nome de carbúnculo, que é a
impropriamente, de acne necrótica.
denominação mundial para este quadro clínico → deve-se reservar o
Atinge a face de adultos seborreicos, principalmente do sexo termo antraz para a infecção pelo B. anthracis, conforme a
masculino, após 40 anos de idade. nomenclatura inglesa.
Clinicamente reconhecem-se duas formas, varioliforme e miliar: - o carbúnculo é típico do idoso, sobretudo diabético.
- a foliculite necrótica varioliforme caracteriza-se por lesões papulosas
eritematosas que evoluem rapidamente a necrose, recobrindo-se de
crosta hemorrágica aderente que, em 3-4 semanas, é eliminada,
deixando cicatriz varioliforme → as lesões em geral surgem em surtos
e produzem prurido e ardor. Acometem particularmente a margem
anterior do couro cabeludo e as têmporas, mas eventualmente,
atingem as bochechas e o nariz e raramente a face anterior do tronco
e dorso.
- a forma miliar produz lesões vesicopustulosas esparsas no couro
cabeludo que não evoluem a necrose e não deixam cicatrizes.
O tratamento se faz com tetraciclinas a longo prazo. Se o prurido for
DIAGNÓSTICO
significativo, utilizam-se anti-histamínicos.
O diagnóstico é clínico, mas o exame bacteriológico e antibiograma
podem ser feitos no caso de suspeita de MRSA comunitário.
FOLICULITE PERFURANTE
O principal diagnóstico diferencial é com a miíase furunculoide, que
Sua localização é o nariz, iniciando-se por comprometimento de uma
apresenta menos inflamação e orifício central. Hidroadenite na fase
vibrissa, que acaba perfurando a pele e elevando-se por uma lesão
inicial, devido a ser recidivante, e cisto epidermoide infectado.
cutânea inflamatória.
A furunculose é uma infecção estafilocócica necrosante do folículo O furúnculo tem tempo de evolução autolimitado em torno de 10 a 14
piloso e da glândula sebácea anexa que destrói esses anexos e deixa dias; portanto, o uso de antibiótico sistêmico antiestafilococos se faz
cicatriz → pode levar à formação de furúnculos que se estendem além mais no sentido da prevenção de uma furunculose do que do
da região dos folículos, acometendo tecido subcutâneo (carbúnculo). tratamento da lesão. No início do furúnculo, compressas quentes são
úteis.
10
Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
As lesões com flutuação ou muito dolorosas devem ser drenadas. Nas A descolonização é feita com sabonetes antissépticos, como
lesões importantes de face, recomenda-se o uso de antibiótico via clorexidina, e uso tópico de mupirocina, no vestíbulo nasal, por 5 dias.
parenteral. Rifampicina, 600 mg/dia durante 10 dias, também tem mostrado
eficácia.
Nos casos de furunculose, além de afastar doenças de base que
possam estar predispondo ao quadro, é de grande importância o
tratamento dos reservatórios bacterianos.
REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 2
1
Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
ecZema De contato
Pode-se distinguir 2 tipos de dermatite de contato, com etiologia e
fisiopatogenia absolutamente distintas:
É uma dermatose causada por substâncias do meio ambiente que - DERMATITE DE CONTATO POR IRRITANTE PRIMÁRIO (DCIP) →
entram em contato com a pele, ou seja, é considerada de origem corresponde a cerca de 80% dos casos, sendo o resultado de um
exógena. efeito tóxico local;
- pode estar relacionada ao trabalho do paciente, medicamentos, - DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA (DCA) → 20% dos casos,
cosméticos, plantas, joias, remédios caseiros, substâncias químicas, sendo um tipo de reação de hipersensibilidade tardia desencadeada
entre outros. quando a pele entra em contato com uma substância química com a
qual o indivíduo já foi previamente sensibilizado.
DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA
Cosméticos (fragrâncias e conservantes), sais
metálicos (níquel, cromo, cobalto, mercúrio),
Água, sabões, detergentes, solventes, graxas,
Causas comuns germicidas (formaldeído), aditivos da borracha
ácidos e álcalis, poeira, fibra de vidro, plantas
(tiurans), resinas plásticas (epóxi, acrílico), resina
(colofônio), látex, medicamentos tópicos
Concentração do agente Menor Maior
Mecanismo Imunológico tipo IV (linfócito T) Não imunológico (lesão direta nos queratinócitos)
Sensibilização Necessária Desnecessária
Predisposição individual Sim Não
Teste de contato Positivo Negativo
Tempo de aparecimento das lesões
Algumas horas a dias Alguns minutos até 48h
após contato
Demarcação anatômica das lesões Menos frequente Geralmente típica
Resolução clínica +/- 3 semanas Após 96 horas
Afastamento da causa; corticosteroide Afastamento da causa; corticosteroide
Tratamento
tópico/sistêmico; anti-histamínico sistêmico tópico/sistêmico; anti-histamínico sistêmico
2
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Existem variações na suscetibilidade dos indivíduos e de regiões do Na DCI aguda tardia, os sintomas cutâneos só aparecem em 8 a 24
mesmo indivíduo que dependem, principalmente, da espessura da horas após a exposição e são acompanhados de ardência (queimação)
camada córnea → assim, é mais provável a DCIP ocorrer na pele fina e não de prurido → é uma resposta inflamatória retardada.
do dorso da mão do que na região palmar, como também é mais fácil
nas mãos finas de quem não está acostumado a serviços domésticos,
pois o contato crônico e gradativo com tais substâncias é capaz de
promover um espessamento epidérmico.
Outros fatores – tais como atrito, umidade e exposição solar – também
podem influenciar a ocorrência dessa dermatite → a DCIP é
frequentemente dermatose de caráter ocupacional (pedreiros,
químicos, pintores, donas de casa etc.).
Duas condições muito corriqueiras são a dermatite das mãos da dona
de casa (detergentes e sabões são alcalinos) e a dermatite das fraldas
(ação irritativa de fezes e urina).
PATOGÊNESE
Diversos mecanismos patogênicos têm sido associados à DCI, como
desnaturação das queratinas epidérmicas, ruptura da barreira de
permeabilidade, dano às membranas celulares e efeitos citotóxicos DERMATITE DE CONTATO POR IRRITANTE – CRÔNICA
diretos.
A DCI cumulativa é a mais comum, desenvolvendo-se lentamente
As reações agudas resultam de lesão citotóxica direta aos após exposição aditiva repetida a agentes irritantes brandos,
queratinócitos → inicia-se com a penetração através da barreira de habitualmente nas mãos → essas exposições repetidas causam
permeabilidade, o leve dano aos queratinócitos e a liberação de distúrbio da função de barreira que possibilita a penetração na pele de
mediadores inflamatórios que resultam na ativação das células T. concentrações até mesmo subtóxicas do agente agressor,
- TNF-alfa e IL-1 são os principais mediadores, sendo capazes de desencadeando resposta inflamatória crônica.
induzir a produção de outras citocinas, quimiocinas e moléculas de Os sintomas incluem ferroadas, pontadas, ardência e prurido, dor
adesão, acarretando recrutamento de leucócitos ao local. quando surgem fissuras.
A lesão crônica resulta de exposições repetidas, que causam dano às O ressecamento e a aspereza predispõem a formação do eritema, que
membranas celulares, com ruptura da barreira cutânea, desnaturação devido à cronicidade evolui com hiperceratose e descamação e,
das proteínas e toxicidade celular. consequentemente, formação de fissuras e crostas.
- danos aos lipídios do estrato córneo (que medeiam a função de - as bordas bem demarcadas se transformam em mal definidas, com
barreira) estão associados à perda de coesão dos corneócitos, liquenificação.
descamação e à perda de água transepidérmica → essa perda de água
que desencadeia a síntese de lipídios, proliferação dos queratinócitos
e hiperqueratose transitória durante a restauração da barreira cutânea.
- após a exposição crônica, o resultado é o aumento do turnover
epidérmico manifestado clinicamente por uma reação eczematoide
irritativa.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
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- a epiderme úmida é mais suscetível ao dano friccional ocasionado DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA PUSTULOSA E ACNEIFORME
pela fralda, tornando-se mais permeável aos irritantes presentes na
urina e nas fezes; Desencadeada por substâncias que levam à oclusão dos folículos
(graxas, óleos, fibra de vidro). Pode tornar-se pustulosa ou
- a inflamação induzida pela irritação friccional e química promove papulopustulosa, sendo essas pústulas estéreis e transitórias.
aumento da permeabilidade, facilitando, assim, infecção secundária
por Candida albicans, Proteus, Pseudomonas e B. faecalis.
DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA SUBJETIVA OU SENSORIAL
Manifesta-se clinicamente por lesões variadas, sendo mais intensa nas
superfícies convexas, enquanto as dobras são tipicamente poupadas. Caracterizada por relatos de pinicação ou queimação na ausência de
sinais cutâneos de irritações visíveis. Ocorre principalmente em face,
- inicialmente, a pele apresenta eritema de intensidade variável, com
sendo comum em usuários de cosméticos e pacientes com dermatose
brilho e pregueamento característicos; se houver agravamento do
preexistente, como dermatite atópica, rosácea e seborreica.
quadro, podem surgir edema, pápulas, vesiculação, erosões e
ulcerações → em uma fase mais tardia, o eritema perde o brilho e
ocorre descamação, que pode ser intensa. DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA TRANSPORTADA PELO AR
Eventualmente, surgem nódulos e pápulas simulando condiloma Geralmente ocorre na face, pescoço, parte anterior do tórax e nos
sifilítico ou erosões e ulcerações arredondadas, o que se denomina braços. As causas frequentes consistem em poeira, substâncias
dermatite das fraldas erosiva de Jacquet. irritantes e substâncias químicas voláteis.
Quando ocorre infecção por Candida albicans, a pele fica brilhante,
com descamação fina e induto esbranquiçado, acometendo DERMATITE VENENATA
primordialmente as dobras e, frequentemente, com lesões satélites
papulosas ou vesicopustulosas características. Ocorre após contato com plantas da família anacardiácea (gênero
Lithraea), como a aroeira, cajueiro, mangueira.
De início, agem como agentes etiológicos irritantes; mas o seu
princípio ativo (urushiol) é um potente antígeno, sendo capaz de
sensibilizar a maioria das pessoas → o quadro clínico passa a ser o
de eczema de contato, com erupção eritematovesicoescamosa.
Uma complicação do uso intempestivo de corticosteroides tópicos de - o diagnóstico de dermatite de contato irritativa permanece como um
alta potência ou de forma prolongada no tratamento da dermatite das diagnóstico de exclusão → quando a dermatite não pode ser
fraldas é o granuloma glúteo infantil, caracterizado por nódulos explicada por um teste de contato positivo de um alérgeno conhecido.
assintomáticos, de coloração acastanhada ou violácea, na região das - outro aspecto que pode ajudar é que na DCI ocorre mais queimação
fraldas → não requer tratamento específico, além da suspensão do e pinicamento, enquanto na DCA ocorre muito prurido.
corticosteroide.
Diagnósticos diferenciais: o mais importante é com a dermatite de
contato alérgica; nas palmas das mãos e nas plantas dos pés (psoríase
DERMATITE ASTEATÓSICA palmoplantar) e em áreas expostas (dermatite de contato fotoalérgica).
Ocorre durante os meses secos de inverno. Prurido intenso é comum,
com a pele se apresentando seca com escamas ictiosiformes e com EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO
áreas características de pele superficialmente rachada (“eczema
craquelê”). A regressão ocorre em 2 semanas após a remoção dos estímulos
nocivos, sendo que em casos mais crônicos podem ser necessárias 6
semanas ou mais.
DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA TRAUMÁTICA
Mesmo com exposição contínua, alguns indivíduos podem apresentar
Desenvolve-se após um trauma agudo na pele, como queimaduras, “acomodação” ou “endurecimento”, como se fosse um mecanismo de
lacerações ou DCI aguda → lesões eczematosas, durando semanas a tolerância ou resistência → isso pode ocorrer por:
meses com eritema persistente, infiltração, escamas e fissuras.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
PATOGÊNESE
É uma resposta do tipo hipersensibilidade tardia, alérgeno-específica
que requer uma sensibilização anterior do indivíduo à substância
química.
Envolve uma fase se sensibilização inicial, quando o paciente entra
pela primeira vez em contato com a substância química, que penetra
na pele e inicia a cascata de eventos que resulta em sensibilização. A
reexposição subsequente acarreta apresentação do alérgeno
responsável a uma célula T já sensibilizada, ocasionando liberação de
citocinas e fatores quimiotáticos, resultando no eczema.
A exposição a um agente sensibilizante potente resulta em A denominada recall dermatitis pode ocorrer em pacientes
sensibilização dentro de uma semana ou mais, enquanto a exposição previamente sensibilizados e que, ao se exporem sistemicamente
a um alérgeno fraco pode levar meses a anos para sensibilizar → é (inalação pelas vias oral, intramuscular ou intravenosa) a um
esperado que o paciente diga que sempre usou determinado produto determinado agente ou relacionado a ele, seria capaz de desencadear
sem nunca ter apresentado aquela manifestação antes. a reativação de lesões em locais que já apresentaram previamente o
mesmo quadro de eczema → a manutenção do estímulo pode levar à
Em geral, a hipersensibilidade adquirida persiste por toda a vida, eritrodermia (dermatite descamativa inflamatória que envolve 90% ou
embora, eventualmente, ocorra o desenvolvimento de tolerância com mais da pele do paciente).
a exposição continuada, havendo então a cura.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
DIAGNÓSTICO
Avaliação da história e dos achados clínicos, incluindo avaliação do TESTE DE CONTATO OU EPICUTÂNEOS ( PATCH-TEST)
local e distribuição:
São úteis na identificação de substâncias às quais o indivíduo é
- mapeamento topográfico: procura-se correlacionar o local do alérgico, no entanto, deve ser interpretado com critério, pois
eczema com várias exposições; assim, no eczema de pescoço, substâncias testadas, ainda que positivas, podem não estar
devemos investigar joias e adereços de metais e plásticos, perfumes, relacionadas com o problema atual, e a substância envolvida pode não
casacos, gravatas, corantes de tecidos, goma de colarinho, etc. ter sido testada. Outra possibilidade é que os componentes do teste
- seletividade profissional: investigar quais antígenos a pessoa está possam ter perdido, por qualquer motivo, o padrão.
exposta na sua atividade ocupacional → por ex., se em cabeleireiros, São 22 elementos presentes em testes internacionais, acrescidos de
investigar xampus, sabonetes, desodorantes, desinfetantes, perfumes mais 8 substâncias relacionadas com medicamentos tópicos e de uso
e outras substâncias usadas. frequente no nosso meio, totalizando 30 substâncias → esta bateria
- seletividade utilitária: pela história topográfica, suspeita-se de que o padrão é aplicada em todo paciente com suspeita de DCA.
eczema investigado esteja relacionado com um elemento de uso diário - por vezes, dependendo da ocupação profissional ou de lazer do
ou esporádico, procurando realizar testes dirigidos à substâncias que indivíduo, é possível adicionar elementos ao teste, desde que
entrem na confecção do objeto → por ex., se eczema dos pés, pensa- corretamente manipulados e diluídos.
se nos sapatos e nos seus principais constituintes.
- correlação antígeno/utilidade: uma vez determinado pelos testes que
o indivíduo é sensível a determinada substância, deve-se procurar
relacionar o eczema com os objetos que contenham o referido
alergênio.
HISTOPATOLOGIA
Aguda: grau variado de espongiose (edema intercelular), com
infiltrado inflamatório dérmico misto contendo linfócitos, histiócitos,
eosinófilos.
- se moderada a grave → espongiose acentuada com vesiculação
intraepidérmica.
Subaguda a crônica: hiperplasia epidérmica, espongiose com
acantose, alongamento e alargamento das papilas, hiperceratose,
infiltrado linfocítico.
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Alterações sudorais, alterações do manto lipídico da pele e baixo limiar - alguns linfócitos T, principalmente os pertencentes ao subtipo Th2,
ao prurido são outras características muito conhecidas da DA. liberam IL-4, que induz o linfócito B à produção de IgE nos linfonodos
aferentes → portanto, na pele do portador de DA, parece ocorrer um
- o limiar ao prurido nos indivíduos atópicos é mais baixo, e os
somatório de reações tipo I e tipo IV, que podem ser induzidas pelo
estímulos prurigênicos produzem, nos atópicos, prurido mais intenso,
mesmo antígeno.
mais duradouro e em áreas mais extensas do que em indivíduos
normais. - a IL-4 também estimula a produção de histamina pelos mastócitos e
inibe a produção de IFN-γ (ativa macrófagos) produzido pelos
- a sudorese, no atópico, geralmente se acompanha de prurido,
linfócitos T subtipo Th1 que poderia explicar a maior suscetibilidade
atribuído a uma retenção sudoral ou eliminação de alergênios pelo
à infecção que o atópico apresenta.
suor.
Recentemente, foi proposto que o desenvolvimento das lesões de pele
O estresse induzido no atópico provoca eritema e prurido nas áreas
na DA resulta da ativação sequencial de células Th2/Th1 → a fase de
de eczema. O perfil da personalidade desses indivíduos também é
peculiar, envolvendo labilidade emocional, hiperreatividade, iniciação da DA é induzida por citocinas (IL-4, IL-5) derivadas de
agressividade reprimida, insegurança e inteligência superior à média. células Th2 alergênio-específicas, ativadas.
- na pele, macrófagos e eosinófilos atraídos e ativados por citocinas
A imunopatologia do eczema atópico é complexa e controversa,
Th2 produzem IL-12, a qual leva à ativação de células Th1 e Th0
envolvendo distúrbios da imunidade humoral, imunidade celular e
alergênio-específicas e não específicas → as células Th1 ativadas
disfunção de outras células imunes.
produzem IFN-γ (responsável pela cronicidade das lesões da DA e
IMUNIDADE HUMORAL determina a gravidade da doença).
O anticorpo envolvido na imunopatologia do eczema atópico é a IgE, As lesões eczematosas parecem ser acentuadas em áreas de grande
produzida pelos linfócitos B. potencial de exposição a antígenos (face e mãos), em áreas de
aumento de vascularização (face e dobras) e em áreas de pele fina
O eczema atópico é associado à elevada produção de IgE e à e/ou cobertas, nas quais a penetração percutânea pode ser aumentada
reatividade alterada da pele e das mucosas, com aumento da (dobras antecubitais e poplíteas).
suscetibilidade a reações anafiláticas (células de Langerhans da
epiderme possuem receptores de IgE de alta afinidade). Os indivíduos atópicos também têm exacerbação das lesões,
associada à infecção da pele pelo S. aureus, principalmente, e, em
- aumento dos níveis séricos de IgE ocorre em 80% dos indivíduos alguns casos, pelo S. pyogenes. Colonização da pele pelo S. aureus
com eczema atópico, e parece ter correlação com a extensão e foi encontrada em 93% das lesões ativas e em 79% da pele normal de
gravidade da doença e com asma e/ou rinite alérgica. atópicos.
IMUNIDADE CELULAR - acredita-se que a colonização da pele do atópico pelo S. aureus pode
provocar processo inflamatório iniciado pela ativação dos linfócitos T,
Quanto à imunidade celular, os portadores de DA apresentam
em um mecanismo semelhante ao dos aeroalergênios, agravando o
diminuição de respostas de hipersensibilidade retardada (que se
processo eczematoso inicial, por meio da liberação de superantígenos
correlaciona inversamente com os níveis séricos de IgE),
(proteínas de alto peso molecular).
evidenciando-se por menor incidência de eczema de contato e
respostas a antígenos intradérmicos fúngicos (candidina), bacterianos
(PPD, SKD) e virais, além de serem menos suscetíveis à sensibilização
pelo DNCB (dinitroclorobenzeno).
Observa-se também diminuição no número de linfócitos T circulantes,
particularmente os linfócitos T supressores (Ts), alterando a
proporção CD4+/CD8+, que passa a ser de 7:1.
- o aumento do número de null cells circulantes parece corresponder
a células T imaturas.
A lesão eczematosa que ocorre na dermatite atópica é própria da
reação tipo IV envolvendo imunidade celular, e o infiltrado linfocitário
dérmico das lesões eczematosas é composto, predominantemente,
por linfócitos auxiliadores (CD4+).
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Tende-se a dividir a dermatite atópica nas seguintes fases: infantil, DA PRÉ-PUBERAL : ocorre entre 2 a 12 anos de idade → as lesões são
pré-puberal e adolescentes-adultos, podendo evoluir de uma fase para menos exsudativas e tendem a se tornar liquenificadas
outra, ou iniciar-se em qualquer uma delas. (espessamento, escurecimento e acentuação dos sulcos da pele),
comprometendo principalmente as áreas flexoras, como dobras
antecubitais e poplíteas, punhos, mas também as nádegas, raiz
posterior de coxa, dorso das mãos, tornozelos e pescoço.
O surgimento de vesiculação aguda, localizada ou generalizada,
sugere infecção secundária bacteriana ou viral. Nessa fase, aumenta a
hipersensibilidade a inalantes (pelo de animais, pólen, penas e poeira
domiciliar – ácaros). Observa-se incidência aumentada, nos atópicos,
de hipersensibilidade a níquel, neomicina, oleorresinas e lanolina.
ESTIGMAS ATÓPICOS
São constatações físicas de outras dermatites que são frequentemente
observadas em pacientes com DA.
Xerose: pele seca com placas finas em áreas sem inflamações
clinicamente aparentes; tipicamente piores a noite; usualmente mais
proeminente nas pernas, podendo ser generalizada.
Queratose pilar: início típico na infância; pápulas foliculares
queratóticas, normalmente com um aro de eritema ou um eritema de
segundo plano; afeta o aspecto lateral dos antebraços, coxas e
bochechas laterais.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Ictiose vulgar: placas finas excessivas, brancas a marrons, com Sinal de Hertogue: falta ou afinamento das sobrancelhas laterais,
predominância nas pernas e poupam as articulações. muitas vezes devido à coçadura.
Dermografimos brancos: atrito a pele leva a um esbranquiçamento que
reflete a vasoconstrição excessiva. A aplicação de pressão suave sobre
a pele acometida não provoca eritema, como na pele normal, mas
empalidecimento.
Pitiríase alba: afeta crianças e adolescentes com DA, sendo
caracterizada por várias máculas maldefinidas e hipopigmentadas com
fina escamação, tipicamente localizadas na face, mas ocasionalmente
aparecem nos ombros e braços. As lesões são mais óbvias em
Hiperlinearidade palmar e plantar: proeminência aumentada de vincos indivíduos de pele pigmentada e/ou exposição ao sol. O uso regular
palmares e plantares (provavelmente mais associada com a ictiose). de protetores solares e outras formas de fotoproteção podem
Linhas de Dennie-Morgan: dobras horizontais simétricas e minimizar o seu aparecimento.
proeminentes, únicas ou duplas, logo abaixo da margem da pálpebra.
COMPLICAÇÕES
O acometimento ocular na DA ocorre entre 25 e 40%, sendo a - o eczema herpético ocorre pela rápida disseminação de infecção viral
dermatite palpebral a mais comum. A ceratoconjuntivite (conjuntivite por herpes simples sobre a pele eczematosa dos pacientes com DA
alérgica) pode se manifestar como prurido ocular bilateral, cansaço, → inicialmente desenvolve como uma erupção de vesículas, mas os
irritação ou sensação de corpo estranho, chegando, eventualmente, à indivíduos afetados mais frequentemente apresentam erosões
ulceração ou perfuração da córnea → prurido intenso e mantido leva monomórficas com crosta hemorrágica. Normalmente é generalizado
ao ceratocone, conificação da córnea (1% dos casos). e pode ocorrer em qualquer lugar, com predileção pela cabeça,
pescoço e tronco.
- em menos de 8% dos casos de DA, surge, em geral na 3ª década,
catarata uni ou bilateral.
- blefarite e conjuntivite são frequentes.
Ocorre aumento de suscetibilidade a infecções fúngicas
(dermatofitose), virais (molusco contagioso, verrugas vulgares e
herpes simples) e bacterianas, principalmente estafilocócica.
- considerando que S. aureus coloniza a pele da grande maioria dos
pacientes com DA, não é surpreendente que o surgimento de impetigo
(também pode ocorrer devido a Streptococcus pyogenes) ocorra
muito frequentemente.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é basicamente clínico, corroborado muitas vezes por A confirmação diagnóstica é feita por meio dos critérios apresentados
uma história pessoal ou familial de atopia; eosinofilia e aumento da na tradicional classificação de Hanifin e Rajka (1980) → é necessária
IgE circulante podem reforçá-lo. a associação de um mínimo de 3 critérios maiores a 3 menores.
Prurido
Morfologia e distribuições típicas
Características maiores Liquenificação flexural em adultos
(deve ter 3 ou mais) Envolvimento facial e extensor em lactentes e crianças
Dermatite crônica ou cronicamente recorrente
História pessoal ou familiar de atopia – asma, rinite alérgica, dermatite atópica
Catarata (anterior subcapsular)
Ceratocone
Ceratose pilar
Conjuntivite recorrente
Dermatite das mãos – não alérgica irritativa
Dermatite dos mamilos
Dermografismo branco
Eczema – acentuação perifolicular
Escurecimento periorbital
Hiperlinearidade palmar
Características menores Ictiose
(deve ter 3 ou mais) IgE elevada
Infecções cutâneas
Intolerância à lã
Intolerância alimentar
Palidez facial/eritema facial
Pitiríase alba
Prega infraorbital (linhas de Dennie-Morgan)
Prurido quando transpira
Quelite
Reatividade cutânea imediata (tipo I)
Xerose
Em 1994, Williams et al. propuseram critérios simplificados, A partir de 2007, foi proposto que as questões subjetivas fossem
conhecidos como critérios UK (United Kingdom): presença de prurido eliminadas e uma nova pontuação de gravidade fosse atribuída,
cutâneo e três ou mais dos seguintes achados: envolvimento flexural, denominando-se este “novo” critério SCORAD objetivo, assim
história de atopia respiratória, xerodermia e erupção cutânea antes dos pontuado:
2 anos de idade.
- 0-14: dermatite atópica leve
Na histopatologia:
- 15-40: dermatite atópica moderada
- agudo: espongiose marcada, com acúmulo de fluido
- acima 41: dermatite atópica grave.
intraepidérmico, formação de vesículas ou bolhas → edemas
dérmicos podem estar presentes, em conjunto com linfócitos
perivasculares e número variável de eosinófilos. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
- subagudo: não há vesiculação, enquanto acantose, hiperqueratose e Devem ser consideradas: dermatite seborreica, dermatite de contato,
paraqueratose são evidentes. eczema numular, escabiose, psoríase (principalmente palmoplantar),
- crônico: espessamento da epiderme → espongiose e inflamação são dermatite herpetiforme e doença de Darier.
menos visíveis, mas pode haver aumento de mastócitos e fibrose Em crianças, por apresentarem erupção cutânea semelhante à DA,
dérmica. devem sempre ser consideradas algumas síndromes associadas a
* essas características não são específicas, podendo haver conclusões imunodeficiências (de hiper-IgE, Wiskott-Aldrich, agamaglobulinemia,
semelhantes na dermatite de contato alérgica. ataxia-telangiectasia, síndrome de Hurler, síndrome de Jung,
síndrome de Netherton), distúrbios metabólicos (fibrose cística,
A gravidade da DA é avaliada tanto pelo EASI (eczema area severity fenilcetonúria, doença celíaca, acrodermatite entropática), infiltrativas
index) quanto pelo SCORAD (scoring atopic dermatitis) → ambos (langerhoses) e genodermatoses (displasia ectodérmica anidrótica).
avaliam a área da pele acometida e a gravidade de uma lesão em
especial, destacando-se: eritema, edema, presença de crostas, sinais Adolescentes e adultos sem histórico pessoal ou familiar de atopia que
de escoriação e liquenificação. apresentam uma erupção eczematosa devem ter um histórico
completo e (quando indicado) teste de sensibilidade para avaliar a
- no SCORAD, considera-se ainda a avaliação do paciente ou cuidador possibilidade de dermatite de contato alérgica.
incluindo perguntas sobre a qualidade do sono e intensidade do
prurido nos últimos três dias que antecederam a avaliação.
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A dermatite de contato de proteína também pode apresentar-se como Para o tratamento de erupções agudas da DA, corticosteroides tópicos
uma dermatite eczematosa crônica e é mais comum em indivíduos representam a terapia de primeira linha devido aos seus potentes
atópicos → as causas mais comuns incluem uma variedade de efeitos anti-inflamatórios → esses agentes suprimem a produção de
alimentos e produtos animais e é diagnosticada por meio de testes ou vários fatores de transcrição, o que conduz não só a redução da
pela observação de uma reação urticariforme em 30 minutos, com o expressão de citoquinas pró-inflamatórias, mas também para a
auxílio de um teste de sensibilidade, na pele previamente afetada. inibição do crescimento celular e diminuição da síntese de colágeno
Micose fungoide (MF) deve ser considerada em adolescentes e e outras proteínas estruturais.
adultos com dermatite crônica pouco responsiva ao tratamento com Aplicação imediata após o banho melhora a penetração cutânea e
corticosteroides tópicos. também diminui a queimação.
2) IMUNOMODULADORES
TRATAMENTO
São o pimecrolimo, em concentrações a 1% em cremes, para doença
Como é uma afecção crônica e recidivante, não existe um recurso para leve a moderada e o tacrolimo, em concentrações de 0,03% e 1% em
sua cura definitiva. O tratamento se baseia no controle dos sintomas pomadas, para doença moderada a grave.
e da reação inflamatória → objetivos são: evitar a coçadura, a Esses agentes são chamados de inibidores tópicos da calcineurina,
xerodermia e afastar os agravantes (sabões, lã, extremos de sendo supressores da ativação de células T e de modulação da
temperatura, baixa umidade ambiente, exposição a antígenos secreção de citocinas e de outros mediadores pró-inflamatórios.
inalantes, banhos demorados e quentes, roupas sintéticas,
substâncias irritantes à pele etc.). Possuem vantagem de não produzir os efeitos colaterais dos
corticoides tópicos (atrofia cutânea, telangiectasias e estrias) →
Cuidados gerais: ocasionalmente podem apresentar sensação de ardor e queimação.
- orientações sobre a doença e sua evolução, possíveis fatores de Porém, são produtos de alto custo.
piora, fatores ambientais, alimentares, psicológicos, predisposição São particularmente indicados em formas de dermatite atópica menos
familiar. intensas e localizadas em áreas com maior probabilidade de ocorrer
- banhos devem ser em água morna, não demorando mais de 3 a 5 efeitos adversos com corticoides tópicos – face, especialmente região
minutos e os sabonetes devem ser suaves ou neutros, sendo usados orbitária, dobras, genitais e quaisquer áreas do corpo que já mostrem
o menos possível (uma vez ao dia) → nunca friccionar a pele com os efeitos colaterais da corticoterapia tópica prolongada.
esponjas e similares. Essas drogas são extremamente úteis também como terapia de
- como a pele é seca, deve ser sempre usadas as substâncias manutenção após o uso de corticosteroides para a melhora de áreas
emolientes ou lubrificantes que evitem a desidratação → os mais de dermatite muito inflamadas.
ativos são à base de vaselina líquida ou óleo de amêndoas, sendo ICTs também são benéficos em pacientes com frequência de lesões
usados após o banho e, se necessário, mais vezes durante o dia. ou DA persistente que poderiam exigir o uso quase contínuo de
- uso de roupas de algodão e folgadas, para permitir a ventilação corticosteroides tópicos.
corporal adequada → evitar contato da pele com tecidos de lã e fibras
sintéticas. 3) ANTIBIÓTICOS TÓPICOS
- realizar o corte de unhas semanalmente, para evitar escoriações. Quando houver infecção secundária, utilizar a mupirocina a 2%, que
não deve ser empregada em áreas maiores que 20% da superfície
- recomenda-se a higienização do ambiente, com retirada de cortinas, corpórea, pelo risco de nefrotoxicidade. Pode ser substituída pelo
carpetes , entre outros itens que podem reter alergênicos inalantes em ácido fusídico a 2% ou gentamicina a 0,1%.
geral.
- nos casos especialmente rebeldes ou graves da primeira infância,
podem ser prescritas dietas restritivas, com posterior reexposição, TRATAMENTO SISTÊMICO
para determinar possíveis agentes alimentares provocadores. 1) CORTICOSTEROIDES SISTÊMICOS
Excepcionalmente nos casos de lesões agudas graves generalizadas
TRATAMENTO TÓPICO resistentes à administração tópica agressiva, o tratamento com um
corticosteroide sistêmico deve ser cuidadosamente considerado por
1) CORTICOSTEROIDES um período curto.
Corticosteroides tópicos são úteis em todas as formas clínicas da DA Em geral, o tratamento da DA com corticosteroides sistêmicos deve
e em todas as idades. ser evitado devido a uma propensão para erupções rebote
Crianças de 0 a 2 anos → corticosteroides de baixa potência, como significativas após sua interrupção e os efeitos colaterais inaceitáveis
hidrocortisona 0,5-1%, por períodos curtos (10 a 20 dias). de utilização em longo prazo.
Crianças > 2 anos → hidrocortisona 1-2% A droga de escolha é a prednisona 1 a 2 mg/kg/dia no início,
procurando reduzir a dose gradualmente de acordo com a melhora →
Corticoides de média potência (mometasona, desonida) na
deve-se procurar a menor dosagem possível, inclusive com a
concentração de 0,1% podem ser usados em casos mais moderados.
administração em dias alternados.
Corticoides de potência alta (betametasona, difluocortolona,
triamcinolona) e os de potência muito alta (clorobetasol) devem ser
usados somente em adolescentes e adultos e em lesões crônicas,
liquenificadas.
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Talidomida: é o imunomodulador mais eficiente para o controle da DA, - parasitárias exclusivas do homem: pediculose de couro cabeludo e
ainda que não existam estudos controlados definitivos → efeito é oxiuríase
evidente entre a 3ª e 4ª semana de tratamento. Não deve ser - parasitárias não exclusivas do homem: miíase, picada de pulgas e
empregada quando há possibilidade de gravidez. mosquitos
IFN-γ: atua diminuindo a intensidade do prurido e a eosinofília. Há - não parasitárias: picadas de escorpião e aranhas, abelhas e
relatos de efeitos favoráveis em formas graves, porém, o tratamento é queimaduras por anêmonas e fisálias
oneroso.
Inibidores de fosfodiesterase (teofilina 300 mg, via oral, duas vezes ao
ESCABIOSE
dia por cinco dias): podem aliviar os surtos, porém o uso por mais
tempo leva à taquifilaxia (diminuição do efeito do fármaco em doses É uma doença contagiosa produzida pela fêmea fecundada do
consecutivas). Sarcoptes scabei variedade hominis, que vive toda a sua vida dentro
da epiderme (morre rapidamente fora dela) e produz uma dermatose
5) IMUNOSSUPRESSORES pruriginosa predominantemente noturna (ocorre pela migração do
Ciclosporina: indicada em formas graves e resistentes de DA na dose ácaro no interior da pele e pela reação de hipersensibilidade ao ácaro
de 3 a 5 mg/kg/dia. Há em geral melhora evidente em 2 semanas, e seus produtos metabólicos).
quando a dosagem pode ser diminuída, procurando-se a menor dose A transmissão tipicamente ocorre através de um contato direto com
necessária. O tempo de administração é indeterminado e não deve ser uma pessoa infectada; a transmissão de fômites (objeto ou substância
administrada com a eritromicina e quando houver suspeita de infecção capaz de absorver, reter e transportar organismos infecciosos, de um
pelo herpes-vírus e S. aureus. indivíduo a outro, como roupas pessoais e de cama) também é
- evitar o uso em crianças e em doentes com hipertensão, nefropatia possível e muito mais comum nos casos graves e/ou crostosos.
e hepatopatia. - apresenta relação com a promiscuidade, inclusive sexual, sendo
Metotrexato: há relato da administração em formas graves, dosagem incluída entre as doenças de transmissão sexual.
de 15 mg/semana ou 2,5 mg/4 vezes por semana com eventuais Trata-se de uma afecção universalmente distribuída sendo observada
melhoras. em diversas partes do mundo. Acomete todas as raças, idades
Azatioprina: há referência sobre o uso em formas graves, dosagem de (prevalência maior em crianças e pessoas sexualmente ativas) e
100/200 mg/dia por seis semanas, com eventuais melhoras. classes sociais, embora predomine nos indivíduos adultos de baixa
renda, que moram em ambientes aglomerados e com pouca higiene.
Micofenolato de mofetil: pode ser bastante útil em alguns doentes na
dose de 1,5 a 2 g/dia via oral. - já foram relatados surtos em hospitais, quartéis, creches e escolas.
- a escabiose crostosa (também conhecida como sarna norueguesa)
6) FOTOTERAPIA é mais encontrada em indivíduos imunocomprometidos (idosos, HIV+,
Todas as formas de fototerapia mostram-se úteis na dermatite atópica: transplantados), assim como naqueles com comprometimento das
UVB; UVB narrow-band; UVA em combinação com UVB; e PUVA. funções sensoriais e/ou capacidade de coçar (por ex., na hanseníase,
infecção por HTLV-1 ou paraplegia → apresentam prurido mínimo,
- UVB pode beneficiar a dermatite atópica leve.
apesar da infestação ser com um número elevado de ácaros, sendo
altamente contagiosos.
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Após o período variável de incubação, surge o quadro de pruridemia Apresenta-se com formação de crostas estratificadas, com graus
intensa, notavelmente mais à noite e ao amanhecer. variados de eritema e descamação, que podem chegar a centímetros
de espessura, localizadas, preferentemente, nas eminências ósseas,
A lesão típica é o túnel escabiótico, que mede 5 a 15 mm, de cor podendo, inclusive, comprometer unhas, face, cabeça e regiões
acinzentada clara ou da cor da pele, em geral sinuoso, tendo na palmoplantares.
extremidade migrante uma pequena vesícula ou pápula do tamanho
de uma cabeça de alfinete – a eminência acarina (onde se encontra o - a queixa de prurido pode estar ausente ou ser discreta.
parasita). Ocorre em indivíduos de hábitos higiênicos precários, desnutridos,
- esses túneis, cujo número aumenta com a duração da doença, neuropatas, deficientes mentais ou imunodeprimidos → nesses
localizam-se preferentemente em partes quentes do corpo, como nos casos, a quantidade de parasitas é astronômica (hiperinfestação).
dedos, nas pregas interdigitais, nos punhos, nos cotovelos, nos O diagnóstico diferencial da sarna crostosa inclui psoríase (inclusive
mamilos (sobretudo nas mulheres), nas pregas axilares, na genitália, apresentação rupioide), doença de Darier, farmacodermia, dermatite
nas nádegas e no hipogástrio → nas crianças, as lesões localizam-se seborreica e eczemas.
também no couro cabeludo, nas palmas e nas plantas.
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REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
BOLOGNIA. Dermatologia. 3 ed. 2015
WOLFF. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. 2014
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problema 3
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- pseudoalérgico: mediado pelo complemento (urticária ao calor, A estimulação dos mastócitos na pele humana pode ocorrer por
angioedema hereditário), desconhecido (AINES e alimentos); mecanismos imunológicos e não imunológicos:
- outros: químicos liberadores da histamina (codeína, polimixina B), (1) por estímulo antigênico da IgE ligada ao receptor de alta afinidade
doenças internas (LES, tumores, febre reumática, hipertireoidismo). para IgE;
(2) pela ativação do complemento (anafilotoxinas C3a e C5a);
O mecanismo básico de formação das urticas é explicado pela tríplice
reação de Lewis: eritema inicial pela dilatação capilar; resposta (3) por estímulos diretos como a acetilcolina (terminações nervosas
secundária produzida por dilatação arteriolar mediada por reflexos colinérgicas da pele);
nervosos axonais; e formação da urtica causada pelo extravasamento (4) liberadores diretos da histamina (químicos denominados
de fluido intravascular para o espaço extravascular, secundário ao secretagogos), os quais provocam mobilização do cálcio, tais como a
aumento da permeabilidade vascular. codeína, morfina, meperidina, succinilcolina, polimixina B, AAS,
- essas reações podem ser reproduzidas pela injeção intradérmica de quinina, tiamina, dextrana, meios de contraste iodados, composto
vários mediadores vasoativos, comuns aos mastócitos, que são 48/80, iontóforos do cálcio;
considerados os principais responsáveis pela maioria dos casos de (5) por outros compostos como os crustáceos, morangos e corantes;
urticária e angioedema.
(6) estímulos físicos (calor, frio, vibração, luz, pressão, água);
Os mastócitos produzem dois tipos de mediadores:
(7) neuropeptídios (substância P);
- mediadores pré-formados: ficam armazenados nos grânulos
citoplasmáticos → histamina, fatores quimiotáticos, heparina e fator (8) proteína básica principal (MBP) do eosinófilo;
de necrose tumoral; (9) citocinas (IL-1, IL-3, IL-8, GM-CSF, fator 4 plaquetário).
- mediadores neoformados: são formados no momento da atuação O estímulo imune mais bem caracterizado aos mastócitos é a ligação
dos mastócitos → derivados do ácido araquidônico e o fator ativador de antígenos divalentes específicos aos seus receptores para IgE
de plaquetas (PAF). (FcεRI) → todos os mastócitos teciduais expressam FcεRI em sua
superfície, onde ocorre a ligação com a porção Fc dos anticorpos IgE.
A histamina é o principal mediador envolvido nos fenômenos de Após o estímulo imune, os mastócitos atravessam um período
vasodilatação, exsudação plasmática e prurido, tendo a participação refratário, o que possibilita a regeneração dos mediadores associados
também de outros mediadores, como a bradicinina, serotonina, aos seus grânulos → após liberação de histamina, é necessário de
leucotrienos, prostaglandinas, acetilcolina e anafilatoxinas. um dia ou mais para os mastócitos acumulá-la novamente.
A sucessão de mediadores secretados pelos mastócitos ativados inicia O processo de degranulação pode ser inibido por epinefrina, teofilina
uma resposta imediata na urticária → esses mediadores podem ser e AMPc, os quais atuam nos nucleotídios cíclicos, bem como pela
capazes de desencadear um estado mais persistente de inflamação, citocalasina B e colchicina, as quais interferem no funcionamento dos
denominado de resposta de fase tardia da urticária. microtúbulos e na formação da proteína tubulina.
- a histamina liberada pode inibir uma futura degranulação por
mecanismo deretroalimentação negativa, envolvendo os receptores
H2 e elevando os níveis da AMPc;
- a acetilcolina, por sua vez, aumenta a liberação da histamina por
elevar os níveis do monofosfato de guanosina cíclico (GMPc).
Existem alguns fatores moduladores que favorecem a vasodilatação:
ingestão de álcool, calor, febre, exercícios, estresse emocional e
fatores hormonais (explicam as exacerbações pré-menstruais e pós-
menopausa às vezes observados nas urticárias).
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O diagnóstico clínico da urticária autoimune é inferido pelo teste OUTROS POSSÍVEIS MECANISMOS ETIOPATOGÊNICOS
cutâneo do soro autólogo, que é realizado por coleta de sangue do Sugere-se que a gastrina, liberada pelas células G do antro gástrico e
paciente, durante episódio de urticária, com separação do soro por duodeno proximal imediatamente após a alimentação, poderia estar
centrifugação → em seguida, injeta-se por via intradérmica, na pele envolvida nas reações anafiláticas e nas urticárias relatadas após a
clinicamente não envolvida pela urticária, um volume de 0,05 mL do ingestão de determinados alimentos → corrobora esta teoria a
soro; a reação na pele inoculada é submetida à leitura após 30 min. observação de que uma correlação direta entre os sintomas clínicos
- a formação de uma urtica com um diâmetro de pelo menos 1,5 mm com a detecção de IgE específica a um antígeno não é sempre possível
maior que o edema provocado pela injeção de solução salina estéril, nos casos suspeitos de alergia alimentar.
usada como controle, é considerada como teste positivo (grau de - sabe-se que a ingestão de proteínas provoca uma secreção
recomendação B). significativamente maior da gastrina, em comparação com
carboidratos e lipídios.
AUTOIMUNIDADE À TIREOIDE - especularam ainda que as síndromes pós-prandiais de
hipersensibilidade imediata-símile, tais como a anafilaxia induzida pelo
Demonstrou-se que em até 20% dos pacientes com urticária crônica
exercício apenas após a alimentação, a hipotensão pós-prandial nos
refratária ao tratamento podem ser encontrados títulos elevados de
idosos e a urticária inexplicada após a alimentação poderiam ter como
anticorpos antitireoide (antiperoxidase e antitireoglobulina), enquanto,
substrato a atuação da gastrina, influenciando a expressão clínica da
na população geral, espera-se encontrá-los em apenas cerca de 3-4%
liberação dos mediadores dos mastócitos nesses pacientes (grau de
dos indivíduos saudáveis.
recomendação C).
O encontro de autoanticorpos antitireoide e anticorpos anti-FcεRIα,
Nas urticárias recorrentes e crônicas postula-se que possa estar
simultaneamente, em alguns pacientes com urticária crônica parece
envolvida uma intolerância à histamina, determinada por uma
indicar a existência de um estado de doença secundário a um
sobrecarga de histamina contida na dieta e/ou metabolismo anormal
processo autoimune e/ou uma ruptura na regulação imune → esta
da histamina (deficiência da diamino-oxidase – principal enzima
ideia é reforçada por Rottem, que não correlacionou a direta
envolvida na degradação da histamina, com atividade predominante
participação dos autoanticorpos contra a tireoide na etiopatogenia da
na mucosa intestinal).
urticária crônica, postulando que provavelmente estariam relacionados
paralelamente, como eventos autoimunes (grau de recomendação C). - o álcool e alguns medicamentos (imipeném, dobutamina,
pancurônio, pentamidina, verapamil, isoniazida, ácido clavulânico,
cloroquina, metoclopramida, entre outros), podem diminuir a atividade
URTICÁRIA DE CONTATO AO LÁTEX dessa enzima e determinar maior sensibilidade a alimentos ricos em
A alergia ao látex da borracha natural afeta pessoas expostas histamina ou alimentos geradores de histamina, como peixes (atum,
rotineiramente aos produtos feitos com borracha natural, obtidos da sardinha, anchova), queijos (parmesão, emental, gouda), salame,
árvore Hevea brasiliensis, sendo os grupos de maior risco: linguiça, certos vegetais (tomate), vinhos e cervejas.
profissionais da área de saúde, trabalhadores da indústria da borracha,
pessoas submetidas a múltiplos procedimentos cirúrgicos e
HISTOPATOLOGIA
portadores de espinha bífida.
A alergia ao látex da borracha consiste em uma reação de O exame histopatológico da urtica clássica demonstra edema da
hipersensibilidade do tipo I de Gell e Coombs, mediada pela IgE, a epiderme e da derme superficial e média, com dilatação das vênulas
qual pode levar à anafilaxia e à morte → as reações ao látex da pós-capilares e vasos linfáticos da derme superficial; não é específico.
borracha ocorrem como síndrome da urticária de contato, tipicamente No angioedema, alterações similares ocorrem na derme profunda e no
dentro de 1h após a exposição a essa substância. subcutâneo.
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Dependendo da duração da urtica, há um infiltrado inflamatório misto Ainda existe outra subdivisão em:
perivascular de intensidade variável, constituído por neutrófilos e/ou - URTICÁRIA CRÔNICA INTERMITENTE: quando há surtos intermitentes
eosinófilos, macrófagos e linfócitos do tipo T auxiliares. com intervalos de tempo variáveis → causas mais frequentes são, em
geral, as mesmas dos processos agudos (drogas, alimentos e
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS inalantes);
- URTICÁRIA CRÔNICA CONTÍNUA: quando continuamente surgem
URTICÁRIA AGUDA lesões → os agentes etiológicos mais comuns, além de drogas,
Possui início agudo, duração < 6 semanas, com formação de placas alimentos e inalantes, são distúrbios gastrointestinais, infecções
erimatoedematosas grandes, pruriginosas e de duração efêmera, focais, infestações, alterações endócrinas, doenças internas,
acompanhadas, com frequência, de fenômenos gerais e angioedema autoimunidade e fatores psicogênicos.
→ o episódio de urticária aguda pode persistir por horas a dias,
inclusive geralmente com recidiva em menos de 30 dias.
As lesões urticadas são bem demarcadas, podendo ser pequenas a
grandes (< 1 cm a > 8 cm), eritematosas ou brancas com bordas
eritematosa, redondas, ovais, acriformes, anulares ou serpiginosas →
são pruriginosas e transitórias.
O angioedema é da cor da pele e atinge mais frequentemente
extremidades, pálpebras, lábios, língua e laringe (provoca asfixia)
causando o aumento transitório devido ao edema subcutâneo.
Não é difícil encontrar o fator desencadeante, sendo frequentemente
associado a alimentos (morango, frutos do mar, castanhas),
medicamentos (antibióticos, AAS, AINES, morfina e codeína),
hemoderivados, contrastes, infecções virais e doenças febris, picadas
de insetos (abelha e vespa).
URTICÁRIAS FÍSICAS
Formam um grupo heterogêneo de doenças devido à ampla
variabilidade de estímulos desencadeantes ou formas clínicas
variáveis, bem como sua associação a outros tipos de urticária.
Isso sugere que nas formas tradicionais participam mecanismos não
específicos, como menor limiar de ativação mastocitária ou maior
reatividade das células-alvo → isso tem sido observado em pacientes
com dermografismo, que também podem sofrer de hiper-reatividade
brônquica à histamina ou metacolina.
- por outro lado, mecanismos mais específicos podem ser relevantes
na urticária solar e na por calor.
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URTICÁRIA DE CONTATO
É a que ocorre em consequência do contato com determinada
substância específica (plantas, pelo de animais, leite, frutas, trigo etc.),
podendo ocorrer tanto por mecanismos não imunes como imunes →
aparece poucos minutos após o contato e desaparece no período de
1-4h.
Em geral, ocorre sob uma forma localizada na área do contato,
iniciando-se dentro de minutos a 1 h após a exposição ao agente O angioedema pode representar uma das manifestações clínicas da
causal → as reações, na maioria dos casos, são de intensidade leve. anafilaxia, que pode ser graduada em:
Grau Sinais e sintomas
URTICÁRIA-VASCULITE Leve (pele) Urticária, eritema generalizado ou angioedema
Moderado (envolvimento Dispneia, estridor, sibilos, náuseas, vômitos,
Doença multissistêmica caracterizada por lesões cutâneas respiratório, cardiovascular lipotimia, diaforese, desconforto torácico ou de
semelhantes à urticária, exceto por persistirem por > 24h (mais ou GI) laringe ou dor abdominal
duradouras), apresentam hiperpigmentação e descamação residuais
Grave (hipoxia, hipotensão Cianose, saturação de O2 < 92%, hipotensão,
e, em vez de prurido, despertam dor e ardor.
ou comprometimento confusão mental, colapso e perda de
Podem ser acompanhadas por neurológico) consciência ou incontinência fecal e urinária
artralgias, artrites ou outros
fenômenos sistêmicos (febre,
elevação da VHS, náusea e dor
abdominal).
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A investigação laboratorial deve ser orientada para cada caso - são ainda importantes o teste do gelo nas urticárias ao frio e,
individualmente, mas pode incluir: hemograma, fatores antinucleares, eventualmente, o exame histopatológico para exclusão de outros
complementenemia, sorologia para sífilis, crioglobulinemias, diagnósticos.
dosagem de hormônios e anticorpos tireoidianos, exames
micológicos, exame parasitológico, exame de urina, raio X de seios
da face e dentes.
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EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO
50% dos pacientes que apresentam apenas urticária ficam livres das
lesões em 1 ano, porém, 20% tem lesões durante mais de 20 anos.
O prognóstico é satisfatório na maioria das síndromes, com exceção
do angioedema hereditário, que pode ser fatal sem tratamento.
TRATAMENTO
As primeiras medidas terapêuticas na urticária são a descoberta e o
afastamento do agente causal, além disso, deve-se aliviar os sintomas
por meio do tratamento medicamentoso.
TRATAMENTO NA URTICÁRIA AGUDA Em casos que não respondem ao uso dos anti-H1, ou que a
apresentação da doença aguda é grave com angioedema associado, é
A abordagem terapêutica das urticárias agudas é fundamentada no uso indicado o uso de corticosteroide oral (Prednisolona) na dose de 50
dos anti-histamínicos de 2ª geração (não sedantes) como abordagem mg/dia VO para adultos e 1 mg/kg/dia para crianças, por 3 dias.
padrão → deve ser mantido até uma ou duas semanas após
desaparecimento das urticas. Se houver angioedema com sinais de evolução para anafilaxia (edema
de laringe, de glote, broncospasmo, náuseas e vômitos, hipotensão
Mecanismo de ação anti-histamínicos arterial), deve-se administrar epinefrina 1 mg/mL, por via SC ou IM
A histamina liberada em resposta a certos estímulos exerce seus (preferencial na coxa anterolateral). Dependendo da resposta à
efeitos ligando-se a vários tipos de receptores específicos (H1, H2, H3 epinefrina, podem ser necessárias outras medidas, como:
e H4) → os receptores H1 e H2 são amplamente expressados e são - elevar as extremidades inferiores → previne hipotensão ortostática
alvos de fármacos com utilidade clínica. e auxilia o desvio da circulação da periferia para a cabeça, o coração
A histamina tem um amplo espectro de efeitos farmacológicos e os rins;
mediados pelos receptores H1 e H2, por ex., os receptores H1 são - manter a permeabilidade das vias respiratórias → administrar
importantes na produção de contração da musculatura lisa e no oxigênio (se necessário) em fluxo de 6-8 L/min;
aumento da permeabilidade dos capilares, sendo assim, os receptores
H1 medeiam vários processos patológicos, incluindo rinite alérgica, - estabelecer acesso venoso → usar solução salina IV para reposição
dermatite atópica, conjuntivite, urticária, broncoconstrição, asma e de fluidos.
anafilaxia. A histamina ainda estimula as células parietais do estômago,
causando aumento na secreção ácida pela ativação de receptores H2.
Os ANTI-HISTAMÍNICOS H1 podem ser de 1ª ou 2ª geração → os de
primeira geração, são mais antigos, mas ainda são amplamente
utilizados, já que são eficazes e baratos, porém, a maioria deles entra
no SNC causando sedação e costumam interagir com outros
receptores, produzindo variedade de efeitos indesejados (exemplos:
bronfeniramina, clorfeniramina, prometazina). Já os de segunda
geração, são específicos para os receptores periféricos H1, não
atravessando a BHE, causando menos depressão do SNC (por ex.,
loratadina, desloratadina e fexofenadina).
- a ação desses fármacos consiste em bloquear a resposta mediada
pelo receptor no tecido alvo, por isso, são mais eficazes em prevenir
os sintomas do que em revertê-los depois de desencadeados → além
disso, também possuem efeitos adicionais não relacionados com o
bloqueio H1, ligando-se também a receptores colinérgicos,
adrenérgicos ou serotoninérgicos.
Os BLOQUEADORES DOS RECEPTORES HISTAMÍNICOS H2 apresentam
baixa ou nenhuma afinidade pelos receptores H1, sua utilidade clínica
principal é como inibidor da secreção do HCl no tratamento de úlceras
e pirose → exemplos: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina.
- a associação de um antagonista H2 aos anti-H1 convencionais pode
ser útil em alguns pacientes com urticária crônica, tendo respalto
teórico, embora evidências dos benefícios dessa associação ainda
sejam pobres e a eficácia discutida.
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Pode-se ainda fazer uso da doxepina, um antidepressivo tricíclico, - outros imunomoduladores, como sulfassalazina, hidroxicloroquina,
com potente efeito anti-histamínico (bloqueiam receptores H1) → a metotrexato, varfarina e sulfona, não possuem estudos controlados e
dose usual é de 10 mg 3x/dia. a eficácia não está totalmente comprovada.
O omalizumabe tem sido indicado no tratamento da urticária idiopática
CORTICOESTEROIDES ORAIS : consistem no tratamento de segunda linha, crônica que permanece sintomática apesar do tratamento com anti-
podendo ser necessários em curtos períodos de uso (7 a 14 dias), histamínicos em pacientes > 12 anos → dose de 300 mg SC a cada
durante exacerbações importantes da urticária crônica que não 4 semanas.
responde completamente aos anti-histamínicos.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
REFERÊNCIAS
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
WOLFF. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. 2014
WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. 6 ed. 2016
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 4
AGENTE ETIOLÓGICO
O Mycobacterium leprae foi identificado em 1973, sendo também
chamado de Bacilo de Hansen → é um bacilo álcool-ácido resistente
(BAAR), gram-positivo, ligeiramente encurvado e de extremidades
arredondadas.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
O BH ainda não pode ser cultivado em meios de cultura (in vitro), - imunidade celular está preservada nas formas benigna e deprimida;
sendo um dos fatores que dificulta o estudo de suas propriedades, - exaltação da imunidade humoral nas apresentações bacilíferas.
apesar disso, sabe-se que ele apresenta multiplicação extremamente
lenta (justifica a apresentação insidiosa da doença e o período de Após a penetração do M. leprae no organismo, o bacilo se localiza na
incubação de anos) e também possui preferência para ambientes com célula de Schwann e na pele → sua disseminação para outros tecidos
temperatura mais baixa (< 36,5 ºC – pele, nervos periféricos, câmera (linfonodos, olhos, testículos, fígado) pode ocorrer nas formas mais
anterior do olho, vias respiratórias superiores e testículos). graves da doença, onde o agente etiológico não encontra resistência
contra sua multiplicação.
- na célula de Schwann, o bacilo permanece protegido dos
TRANSMISSÃO
mecanismos de defesa do hospedeiro e, como essa célula não tem
O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo, apesar capacidade fagocítica profissional, é incapaz de destruir patógenos,
do relato de animais selvagens naturalmente infectados (tatus e permitindo que o bacilo se multiplique continuamente → além disso,
macacos). a própria barreira sanguínea do nervo limita o acesso de vários
medicamentos na célula de Schwann, fazendo com que ela seja a
A hanseníase é transmitida por meio de contato próximo e prolongado
hospedeira ideal, onde o bacilo pode permanecer no SNP e
de uma pessoa suscetível com um doente com hanseníase que não
desencadear a lesão neurológica.
está sendo tratado → normalmente, a fonte da doença é um parente
próximo que não sabe que está doente, como avós, pais, irmãos, A imunidade humoral (dependente de anticorpos) é ineficaz contra o
cônjuges, etc. M. leprae. A defesa é efetuada pela imunidade celular, capaz de
fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-
A bactéria é transmitida principalmente pelas vias aéreas superiores
gama) e mediadores da oxidação, fundamentais na destruição bacilar
(pelas secreções nasais e da orofaringe), e não pelos objetos
no interior dos macrófagos.
utilizados pelo paciente.
Assim, com o início da luta entre o bacilo e as defesas do indivíduo,
- soluções de continuidade na pele eventualmente podem ser porta
origina-se o grau de patogenicidade, determinando algumas formas
de entrada da infecção e secreções orgânicas (leite, suor, esperma e
de evolução da infecção:
secreção vaginal) podem eliminar bacilos, mas não possuem
importância na disseminação da hanseníase. 1) resistência natural suficiente para destruir o bacilo → impede a
infecção;
Fatores socioeconômicos de risco: higiene precária, ausência de
saneamento básico, más condições de moradia e desnutrição. 2) em pacientes com sistema linfócito-macrofágico competente, a
infecção evolui para manifestação subclínica, que pode regredir
O bacilo de Hansen possui alta infectividade, mas baixa
espontaneamente ou evoluir para a forma de hanseníase
patogenicidade e virulência.
indeterminada (MHI), caso as defesas forem parcialmente deficientes;
Estima-se que a maioria da população possui defesa natural
3) hanseníase indeterminada também pode ser abortada
(imunidade) contra o M. leprae, portanto, a maior parte das pessoas
espontaneamente (pela contínua estimulação da imunidade celular –
que entrarem em contato com o bacilo não adoecerão. Além disso,
70% dos pacientes) ou evoluir para:
sabe-se que existe uma influência genética na susceptibilidade ao M.
leprae, através da observação que familiares de pessoas com - hanseníase tuberculoide polar (paucibacilar – polo benigno) →
hanseníase possuem maior chance de adoecer → marcadores quando o doente tem alto grau de resistência (reação de Mitsuda
imunológicos relacionados à capacidade dos macrófagos em destruir positiva), com boa resposta imunológica celular, sem multiplicação
o bacilo ou deixa-lo se multiplicar. dos bacilos (são eliminados na grande maioria) → surge granuloma
tuberculoide e a pesquisa anti-PGL1 mostra títulos baixos (semelhante
A resistência à infecção pode ser avaliada pela reação de Mitsuda, que
aos da população sem a doença);
consiste na injeção intradérmica de uma suspensão de bacilos mortos
pelo calor → a leitura do teste é tardia (após 4 semanas), se surgir - hanseníase virchowiana polar (multibacilar – polo maligno) →
um nódulo eritematoso, indica resistência ao bacilo (teste positivo) e quando o doente não tem resistência e os bacilos se multiplicam
representa o desenvolvimento de uma imunidade celular após livremente nos macrófagos e se disseminam pelos tecidos,
estimulo pelo próprio M. leprae ou outras micobactérias → polo caracterizando a forma grave e contagiante da doença → surgem
tuberculoide. granulomas macrofágicos e níveis elevados de anti-PGL1.
- a positividade a essa reação aumenta com a idade e ocorre em cerca - quando o grau de resistência celular for intermediário (entre os
de 80% da população adulta. polos), há evolução para o grupo dimorfo ou borderline (multibacilar),
que pode apresentar manifestações semelhantes à forma tuberculoide
(DT) ou à virchowiana (DV) ou equidistantes entre os dois polos (DD)
ETIOPATOGENIA → nesses doentes, a reação de Mitsuda pode ser fracamente positiva
ou negativa, e a imunidade celular será maior quanto mais próximo
O período de incubação é longo (meses a anos), em média de 2 a 5
estiver do polo tuberculoide.
anos → isso ocorre pelo M. leprae ser um microrganismo que se
multiplica lentamente, por divisão binária simples a cada 14 dias, 4) outra possibilidade é da doença se estabelecer, desde o princípio,
sendo necessários muitos anos para que o organismo possua uma de maneira definida, ou seja, no sentido do polo tuberculoide ou
carga bacilar capaz de se expressar clinicamente. virchowiano.
Existe uma correlação bem nítida entre as apresentações clínicas da
doença e o grau de imunidade inata específica do paciente.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
A capacidade de resistência à infecção baseia-se na capacidade de o Entretanto, alguns pacientes não apresentam lesões facilmente visíveis
macrófago lisar ou não o M. leprae → é provável que essa capacidade na pele, e podem ter lesões apenas nos nervos (hanseníase
seja inata e que, após o primeiro processamento intracitoplasmático primariamente neural) ou as lesões podem se tornar visíveis só após
do bacilo, haja liberação de antígenos específicos capazes de iniciado o tratamento → assim, para melhor compreensão e facilidade
sensibilizar o linfócito T, que passaria a comandar, daí em diante, essa para o diagnóstico, o guia do MS utiliza a classificação de Madri
resistência pela ativação específica do macrófago. (1953) que considera critérios de ordem clínica, imunológica,
bacteriológica, histopatológica e evolutiva:
- a característica maior da HV é a incapacidade de os macrófagos
lisarem o M. leprae, decorrendo daí a transformação do macrófago em - dois tipos estáveis (imutáveis) → correspondem aos dois polos da
célula de Virchow, que nada mais é do que um macrófago com grande doença, hanseníase tuberculoide (PB) e hanseníase virchowiana (MB);
quantidade de M. leprae.
- dois tipos instáveis → hanseníase indeterminada (PB – pode evoluir
- por outro lado, os macrófagos dos indivíduos infectados sem para qualquer tipo polar, permanecer como tal ou curar) e hanseníase
doença, ou de pacientes com HT, são capazes de lisar o M. leprae. dimorfa (MB – espectro não polar da doença).
A resistência do indivíduo é específica e parece ter uma conotação
genética → Rotberg (1937) chamou de fator N (natural) um fator
relacionado com a imunidade natural à hanseníase e que existiria
congenitamente na maioria dos indivíduos (80 a 95%), onde os não
portadores do fator N estariam na margem anérgica (5% dos
indivíduos), sendo capazes de desenvolver as formas graves da
doença.
Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de
linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN-gama que impedem a
proliferação bacilar, mas podem se tornar lesivas ao organismo,
causando lesões cutâneas e neurais, pela ausência de fatores
reguladores.
Enquanto na forma multibacilar (lesões virchowianas), o predomínio é
de linfócitos T supressoras e Th2, produzindo IL-4, IL- 5 e IL-10, e a MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – LESÕES CUTÂNEAS
produção de substâncias pelo bacilo (ex. PGL-1), no interior do
macrófago, favorece seu escape à oxidação pois essas subst. HANSENÍASE INDETERMINADA (PAUCIBACILAR)
possuem função supressora da atividade do macrófago e favorecem
sua disseminação → por isso, as manifestações na HV são Geralmente todos os pacientes passam por essa fase no início da
decorrentes da existência do bacilo, necessitando de alta taxa de doença, podendo ser ou não ser perceptível.
multiplicação bacilar para que surjam. Normalmente afeta crianças abaixo de 10 anos, ou mais raramente
adolescentes e adultos que foram contatos de pacientes com
hanseníase.
CLASSIFICAÇÕES
- a fonte de infecção, normalmente um paciente com hanseníase
Classificação operacional da OMS (1985): para fins de tratamento, os multibacilar não diagnosticado, ainda convive com o doente, devido
doentes são classificados em: ao pouco tempo de doença.
- paucibacilares (PB) → presença de até 5 lesões de pele com A lesão geralmente é única, caracterizada por uma MANCHA
baciloscopia de raspado intradérmico negativo, quando disponível; HIPOCRÔMICA, sem alteração de relevo, com bordas mal delimitadas,
- multibacilares (MB) → presença de 6 ou mais lesões de pele OU ANIDRÓTICA e com HIPOESTESIA (térmica e/ou dolorosa, sendo que
baciloscopia de raspado intradérmico positiva. a tátil geralmente é preservada).
- podem se localizar em qualquer lugar da pele, sendo que, em
crianças, é comum a localização na face e membros inferiores.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
A infiltração assimétrica da face e pavilhões auriculares, bem como a Na pele, as lesões caracterizam-se por MÁCULAS, PÁPULAS,
presença de lesões no pescoço e nuca, são elementos sugestivos NÓDULOS (hansenomas) e TUBÉRCULOS, a pele torna-se infiltrada
dessa forma clínica. As lesões neurais são precoces, assimétricas e, (mais acentuada na face e membros), xerótica, tonalidade semelhante
com frequência, levam a incapacidades físicas. ao cobre e poros dilatados (em aspecto de “casca de laranja”) →
geralmente poupa o couro cabeludo, axilas e o meio da coluna lombar
Dependendo da morfologia, número de lesões e simetria, a
(áreas quentes).
hanseníase dimorfa é subclassificada em:
- há rarefação dos pelos nos membros, cílios e na cauda da
BORDERLINE TUBERCULOIDE (BT) : placas ou manchas eritematosas, por
sobrancelha, caracterizando a madarose.
vezes anulares, de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco
numerosas ou com lesões satélite. Ocorre o comprometimento de
vários troncos nervosos, causando incapacidades.
- baciloscopia é negativa ou discretamente positiva, a histopatologia
exibe granulomas tuberculoides e o teste de Mitsuda é positivo.
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- mucosa oral: ocorre infiltração difusa com ou sem lesões papulosas Os quadros reacionais, às vezes, antecedem o diagnóstico da
e/ou nodulares nos lábios, língua, palato mole, palato duro, úvula, hanseníase, aparecem durante o tratamento ou após alta
polpa dentária; medicamentosa.
- laringe: infiltração da epiglote, falsas pregas vocais e dobras
aritenoepiglóticas → pode ocorrer obstrução mecânica da fenda REAÇÃO TIPO 1 (REVERSA)
glótica com afonia, dispneia e asfixia;
Ocorre em pacientes com algum grau de imunidade celular, como os
- olhos: madarose, espessamento dos nervos corneanos, córnea, íris tuberculoides e dimorfos → tende a surgir mais precocemente no
e corpo ciliar → pode ocorrer glaucoma, catarata, queratite pontada, tratamento, entre o 2º e o 6º mês.
aumento da vascularização, nódulos;
Trata-se de uma reação de hipersensibilidade do tipo tardio (IV),
- linfonodos: linfoadenomegalia cervical, axilar, supratroclear; devido a antígenos liberados pela destruição bacilar, em que há um
- fígado, baço e suprarrenais: comprometimento das suprarrenais, aumento da imunidade celular, com resposta predominante Th1 (IL-
hepatomegalia, esplenomegalia, sem alterações funcionais 2, IL-12, IFN-gama e TNF-alfa.
significativas pois os granulomas são pouco destrutivos; Caracteriza-se pela exacerbação das lesões preexistentes, que se
- testículos: infiltração marginal no início (impotência sexual), depois tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes, semelhante à erisipela
medular (esterilidade e ginecomastia), causando a diminuição da → podem surgir novas lesões, embora pouco numerosas.
produção de testosterona e consequente aumento de FSH e LH, além - com a involução da reação, as lesões mostram descamação.
de poder ocorrer atrofia testicular tardiamente, sendo mais comum em
idosos; nos jovens, podem manifestar dor testicular devido a orquites;
- medula óssea: alterações na hematopoiese, com anemia;
- alterações ósseas: rarefações, atrofia e absorção, em especial nas
mãos e pés → pode ocorrer osteíte por trauma repetido, endarterite,
bacilos nos ossos, osteoporose generalizada por déficit de
testosterona e por desuso, osteomielite;
- músculos: amiotrofias de músculos interósseos no antebraço e loja
anterior da tíbia. Os sintomas sistêmicos normalmente não estão presentes, mas pode
ter uma febre baixa.
Variações da hanseníase virchowiana: Surgem lesões novas à distância e as neurites mostram-se frequentes
HISTIÓIDE: lesões nodulares múltiplas, consistentes e pardacentas, e graves, podendo ser a única manifestação clínica ou ainda
que se assemelham a dermatofibromas (caracterizado por histiócitos silenciosas (sem quadro clinico) → se não tratadas precocemente,
fusiformes). Baciloscopia é rica. deixam sequelas.
- os nervos mais comprometidos são os ulnares e medianos nos
membros superiores, fibular comum e tibial posterior nos membros
inferiores e facial e grande auricular no segmento cefálico.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
FENÔMENO DE LÚCIO
Ocorre antes do tratamento em poucos pacientes com hanseníase de
Virchowiana ou de Lucio. Ainda se discute se pode ou não ser
considerada uma reação.
- após a terapia, o quadro se resolve e não há repetição (o que difere
dos quadros reacionais tipos 1 e 2).
Caracteriza-se por lesões maculares equimóticas (necróticas) que se
ulceram, são dolorosas e podem ocorrer em pequeno número ou por
uma área extensa da pele, sendo observada mais comumente em
Eritema nodoso necrotizante
extremidades inferiores.
Há comprometimento do estado geral e as manifestações sistêmicas
- no caso de lesões generalizadas, o paciente pode comportar-se
incluem:
como um grande queimado, e a infecção secundária das lesões por
- Febre (pode ser alta e prolongada), mal-estar, dores no corpo e Pseudomonas aeruginosa é uma complicação temida.
linfadenopatia;
- Neurite → nervo ulnar é o mais comumente acometido;
- Uveíte;
- Orquite;
- Glomerulonefrite.
Pode-se observar leucocitose (incluindo reação leucemoide) com
desvio para esquerda, anemia normocítica e normocrômica, VHS
bastante elevado e PCR aumentada.
- títulos altos de fator reumatoide e FAN podem ser encontrados,
confundindo o diagnóstico com o das colagenoses.
A histopatologia demonstra necrose isquêmica da epiderme e derme
superficial, parasitismo intenso de células endoteliais, proliferação de
células endoteliais e formação de trombos em grandes vasos das
porções profundas da derme.
O tratamento consiste na poliquimioterapia, medidas de suporte,
antibioticoterapia e transfusões de troca.
- glicocorticoides e a talidomida não são úteis.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – LESÕES NEURAIS No exame neurológico, a identificação das lesões deve ser feita pelas
seguintes etapas no exame físico:
Geralmente as primeiras manifestações e lesões clínicas ocorrem no
(1) Inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés;
SNP e antecedem os sinais cutâneos.
(2) Palpação dos troncos nervosos periféricos;
Os ramúsculos neurais (componentes mais distais do SNP) são os
primeiros a serem afetados, instalando-se a ramusculite periférica → (3) Avaliação da mobilidade articular;
progride na direção proximal aos ramos secundários e depois aos (4) Avaliação da força muscular; e
troncos neurais periféricos, que se tornam edemaciados, doloridos à
palpação ou percussão (sinal de Tinel positivo – percussão do trajeto (5) Avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e
do nervo gera sensação de choque que se irradia para o território membros inferiores.
correspondente). O exame dos nervos periféricos é fundamental, procurando-se déficit
- essa inflamação ocorre principalmente próxima às articulações e motores, sensitivos e espessamento dos troncos nervosos pela
provoca graves perturbações na circulação neural, agravando a palpação → o nervo deve ser palpado com as polpas digitais do
isquemia com consequente disestesia grave ou perda da função. segundo e terceiro dedos, deslizando-os sobre a superfície óssea,
acompanhando o trajeto do nervo, no sentido de cima para baixo.
Há comprometimento neural em todas as manifestações clínicas.
- deve-se verificar se há queixa de dor espontânea no trajeto do nervo;
DISTÚRBIOS SENSITIVOS : a primeira sensibilidade a ser alterada é a de choque ou de dor; se há espessamento do nervo palpado
térmica, seguida pela dolorosa e depois pela tátil. comparado com o nervo correspondente, no lado oposto; se há
DISTÚRBIOS MOTORES : levam a paresias ou paralisias que alteração na consistência do nervo (endurecimento, amolecimento);
correspondem à fraqueza muscular, amiotrofias, retrações tendíneas e se há alteração na forma do nervo (abscessos e nódulos); se o nervo
fixações articulares. apresenta aderências.
DISTÚRBIOS VASOMOTORES E SECRETÓRIOS : distúrbios vasculares e da
sudorese → perda de pelos nas lesões, diminuição ou abolição da
sudorese (anidrose) e do reflexo de vasodilatação (resposta
incompleta à pilocarpina e à histamina).
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Os nervos comumente avaliados são: nos membros superiores, o Graus de incapacidade física
nervo ulnar, o mediano e o radial; nos membros inferiores, o tibial Grau 0 Nenhum problema com os olhos, mãos e pés
posterior e o fibular comum; no segmento cefálico, o grande auricular Grau 1 Diminuição ou perda da sensibilidade dos olhos
e o nervo facial que é motor e não é palpável. Diminuição ou perda da sensibilidade de mãos e pés
Dá-se o nome de anestesia à perda total de sensibilidade e de (não sente 2g ou toque da caneta)
hipoestesia à sua diminuição. Grau 2 Olhos: lagoftalmo e/ou ectrópio, triquíase, opacidade
corneana central, acuidade visual menor que 0,1 ou
Para definir incapacidade, pode-se analisar: não conta dedos a 6 metros de distância
- sensibilidade protetora: o melhor é que sejam utilizados os Mãos e pés: lesões tróficas e/ou traumáticas, garras,
monofilamentos de Semmes-Weinstein ou estesiômetro reabsorção, mão caída, pé caído, contratura do
(monofilamentos de 0.05 g, 0.2 g, 2 g, 4 g, 10 g e 300 g) nos pontos tornozelo
de avaliação das mãos e pés → caso não haja monofilamentos, pode-
se utilizar a ponta de uma caneta esferográfica. A avaliação da força motora é feita com o teste manual da exploração
da força muscular, durante o movimento, capacidade de oposição à
- para os olhos, o fio dental (sem sabor) é indicado para avaliar a
força da gravidade e à resistência manual → avaliado como forte,
sensibilidade da córnea.
diminuída e paralisada, com pontuação de 0 a 5.
BACILOSCOPIA DE PELE (ESFREGAÇO INTRADÉRMICO) Considera-se um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou
mais dos seguintes sinais cardinais:
É o exame complementar mais útil no
diagnóstico, sendo de fácil execução e - Mancha e/ou área(s) da pele com alteração (perda) de sensibilidade,
baixo custo. característica da hanseníase;
Deve em pelo menos quatro locais - Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento,
(lóbulos das orelhas direita e esquerda, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; e
cotovelos direito e esquerdo) e em - Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico.
lesão cutânea suspeita → o exame consiste em isquemiar a lesão
(nódulo ou margem de uma mácula ou placa) comprimindo-se a pele
entre o polegar e o indicador e, com um bisturi, fazer uma incisão EXAME HISTOPATOLÓGICO
linear com uma profundidade que atinja a derme → em seguida,
É raramente necessário, apenas para elucidação diagnóstica e em
raspar, fazer o esfregaço em lâmina de vidro, fixar em chama e corar,
pesquisas. O local de amostra deve ser uma lesão sólida, pápula ou
pelo método de Ziehl-Neelsen.
nódulo, ou a borda de uma mancha ou placa, pois são locais mais
O resultado é apresentado sob a forma de Índice Baciloscópico (IB), ativos.
numa escala de 0 a 6.
HANSENÍASE INDETERMINADA: encontra-se um infiltrado inflamatório
- a baciloscopia mostra-se negativa (IB = 0) nas formas tuberculoide que não confirma o diagnóstico de hanseníase, com discretos focos
e indeterminada; fortemente positiva (IB ≠ 0) na forma virchowiana e de células mononucleares (linfócitos e monócitos) em torno de vasos,
revela resultado variável na forma dimorfa. nervos e anexos.
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- a pesquisa de bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e Níveis aumentados do anti-PGL-1 têm sido descritos na hanseníase
organizados em grumos (globias). virchowiana e tendem a decrescer com o tratamento especifico. Por
outro lado, na hanseníase tuberculoide não há resposta desses
HANSENÍASE DIMORFA: há um infiltrado linfo-histiocitário que varia anticorpos.
desde inespecífico até com formação de granulomas tuberculoides
(associação de aspectos de infiltração virchowiana e de granuloma A identificação do Micobacterium leprae pela Reação em Cadeia da
tuberculoide). A baciloscopia é frequentemente positiva. Polimerase (PCR), que serve para detectar quantidades mínimas de
micobactérias, tem sido estudada em centros de pesquisa, mas não é
realizada rotineiramente.
PROVA DE HISTAMINA E TESTE DA PILOCARPINA
Também usados em casos de dúvida. TRATAMENTO
PROVA DE HISTAMINA EXÓGENA : avalia a resposta vasorreflexa à droga,
O objetivo do tratamento é a cura, o mais precoce possível, a fim de
indicando integridade e viabilidade do SN autonômico de dilatar os
interromper a cadeia epidemiológica da doença e evitar o
vasos cutâneos superficiais, o que resulta no eritema.
aparecimento das incapacidades → se o tratamento é realizado de
É feito colocando-se uma gota de solução de cloridrato de histamina forma completa e correta, a cura é garantida.
a 1:1.000 sob a pele normal e na mancha suspeita → com uma agulha
Toda pessoa afetada pela hanseníase deverá ter fácil acesso ao
fina faz-se uma escoriação embaixo do líquido, de modo que não haja
diagnóstico e ao tratamento gratuito e ambulatorial com os esquemas
sangramento.
terapêuticos padronizados (PQT) por meio da poliquimioterapia
O esperado normalmente é que ocorra a tríplice reação de Lewis: a) (rifampcina + dapsona + clofazimina).
eritema inicial no local da picada, no máximo com 10 mm, 20 a 40
O tratamento da hanseníase com a PQT vem apresentando um
segundos após a picada; b) eritema pseudopódico com 30 a 50 mm
sucesso contínuo; nem a questão da recidiva, nem resistência a
após aproximadamente 1 min, devido à vasodilatação arteriolar por ato
drogas têm sido problemas significativos e os esquemas são bem
reflexo axônico; e c) seropápula, 2-3 minutos após a escarificação.
tolerados. Relatos esporádicos de pacientes recidivantes com cepas
Se não ocorre eritema e o paciente não está utilizando antialérgicos, a de M. leprae resistentes às drogas anti-hansênicas foram divulgados
lesão é sugestiva de hanseníase. recentemente, ainda que não de forma alarmante até momento.
É um exame útil para auxiliar no diagnóstico de manchas hipocrômicas - o risco potencial de surgimento e transmissão de cepas resistentes
hansenianas iniciais, pois nestas falta o eritema pseudopódico. à rifampicina deve ser contido assegurando a maior regularidade do
tratamento e a rigorosa adesão aos esquemas da PQT.
TESTE DA PILOCARPINA (ANIDROSE) : utiliza-se injeção intradérmica de
cloridrato de pilocarpina a 1% na pele normal e na lesão suspeita → Características dos fármacos utilizados no tratamento
normalmente ocorre sudorese na área picada 2 minutos após, mas
DAPSONA (DIAMINO-DIFENIL-SULFONA) : é um fármaco antibiótico, da
nas lesões hansênicas ocorre anidrose.
classe das sulfonas, quase completamente absorvido por via oral, bem
tolerado e bem distribuído nos tecidos, tendo uma vida média de 28
REAÇÃO DE MITSUDA horas.
É utilizada para classificação da doença e definição do prognóstico, - é uma droga bacteriostática e seu modo de ação é competir com o
não possuindo valor para o diagnóstico, pois de um modo geral é ácido paraminobenzoico por uma enzima (di-hidropteroato sintetase),
encontrado de forma positiva na população sã, que já teve contato impedindo a formação de ácido fólico pela bactéria.
com o bacilo, porém não desenvolveu a doença por apresentar boa RIFAMPICINA : é um antibiótico, rapidamente absorvido, principalmente
imunidade. quando ingerido em jejum. Tem boa distribuição nos tecidos e sua
O teste consiste na aplicação intradérmica – na superfície extensora maior parte é eliminada pelo intestino.
do antebraço direito – de 0,1 ml de um preparado que contém 40 a - tem alto efeito bactericida contra o M. leprae e atua inibindo a sua
60 milhões de bacilos mortos por mililitro → após cerca de 48 a 72 RNA polimerase dependente de DNA.
horas da injeção, observa-se uma reação localizada (semelhante à
reação tuberculínica), denominada reação de Fernandez, de CLOFAZIMINA : é um antibacteriano corante rimino-fenazínico,
significado incerto. consistindo em uma suspensão microcristalina dissolvida em óleo da
qual 70% são absorvidos após a administração oral e o restante é
- depois de 28 a 30 dias pode eliminado com as fezes. Sua meia-vida é longa, cerca de 70 dias, e
ocorrer uma segunda reação tardia à sua excreção pela urina é muito pequena, sendo a maior parte
mitsudina ou lepromina que é a eliminada pelo suor, glândulas sebáceas e fezes.
reação de Mitsuda → consiste na
presença de uma pápula ou nódulo, - tem ação bacteriostática, ligando-se preferencialmente ao DNA da
que pode ou não ulcerar. micobactéria, inibindo seu crescimento; também atua na membrana
celular da micobactéria, interferindo na cadeia respiratória bacteriana
Segundo a OMS, reações até 5 mm são chamadas de mitsuda e transporte de íons, porém esse efeito bactericida é lento.
negativo, e acima de 5 mm chamadas de mitsuda positivo.
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PB: o tratamento estará concluído com 6 doses supervisionadas em - se associação talidomida e corticoide, usar AAS 100 mg/dia como
até 9 meses → na 6ª dose, os pacientes deverão ser submetidos à profilaxia para tromboembolismo.
avaliação clínica; Talidomida somente pode ser prescrita para mulheres em idade fértil
MB: o tratamento estará concluído com 12 doses supervisionadas em após exclusão de gravidez e mediante comprovação da utilização de 2
até 18 meses → na 12ª dose, os pacientes deverão ser submetidos à métodos contraceptivos eficazes.
avaliação clínica.
Sempre que estive em uso de corticosteroides:
- se doentes MB sem melhora clínica ao final das 12 doses, a
indicação de um segundo ciclo de 12 doses deverá se basear na - registrar peso, PA e taxa de glicose no sangue;
associação de sinais de atividade da doença, mediante exame clínico - tratamento antiparasitário para Strongyloides stercoralis, prevenindo
e laboratorial (baciloscopia). disseminação sistêmica (tiabendazol 50 mg/kg/dia, 3x por 2 dias);
- pacientes MB que iniciam o tratamento com numerosas lesões ou - profilaxia da osteoporose com cálcio 1000 mg/dia, vitamina D 400-
extensas áreas de infiltração cutânea podem ter um risco maior de 800 UI/dia ou bifosfonatos (alendronato 10 mg/dia).
desenvolver reações, dano neural e insuficiência do tratamento com
12 doses para ocorrer total regressão.
RECIDIVAS
Correspondem a todos os casos de hanseníase, tratados
TRATAMENTO DE REAÇÕES HANSÊNICAS
regularmente, que receberam alta por cura e que voltaram a apresentar
É imprescindível: novos sinais e sintomas clínicos de doença infecciosa ativa →
- diferenciar o tipo de reação hansênica; geralmente ocorrem em período superior a 5 anos após a cura.
- avaliar a extensão do comprometimento de nervos periféricos, PAUCIBACILAR : novos nervos afetados, novas áreas com alterações de
órgãos e outros sistemas; sensibilidade, novas lesões e/ou exacerbação de lesões anteriores e
que não respondam ao tratamento com corticosteroide nas doses
- investigar e controlar fatores potencialmente capazes de desencadear recomendadas – por pelo menos 30 dias para lesões cutâneas de RR
os estados reacionais; (reação tipo 1) e por 90 dias para comprometimento neurológico
- conhecer as contraindicações e os efeitos adversos dos (neurite) –, além de pacientes com surtos reacionais tardios (5 anos
medicamentos utilizados no tratamento da hanseníase e em seus após a alta);
estados reacionais; MULTIBACILAR : novas lesões cutâneas e/ou evolução de lesões antigas,
- instituir, precocemente, a terapêutica medicamentosa e medidas novas alterações neurológicas que não respondam ao tratamento com
coadjuvantes adequadas visando à prevenção de incapacidades; talidomida e/ou corticosteroide nas doses e nos prazos
recomendados; baciloscopia positiva (índice baciloscópico) igual ou
- encaminhar os casos graves para internação hospitalar.
maior que a do momento da cura, coletado nos mesmos sítios;
A ocorrência de reações hansênicas não contraindica o início da PQT, pacientes com surtos reacionais tardios, geralmente após 5 anos da
não implica sua interrupção e não é indicação de reinício de PQT se alta, que podem ocorrer em período menor, além de, quando
o paciente já houver concluído seu tratamento. disponível, manutenção de altos níveis de ELISA anti-PGL1 e/ou com
bacilos íntegros bem definidos no raspado dérmico e/ou biópsia de
pele.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Deve ser diferenciada de: - falência terapêutica: raro, quando o paciente não apresenta sinais de
- reação reversa (reação tipo 1): reagudização de lesões antigas e melhora clínica durante o tratamento regular e adequado (ex.: MB com
até 24 doses, com sinais de atividade clínica, bacilos íntegros e
surgimento de novas lesões eritematoplacares inflamatórias e agudas;
definidos no raspado dérmico ou histopatologia). Ocorre por
- insuficiência terapêutica: quando o paciente não recebeu tratamento resistência bacteriana aos medicamentos; alterações enzimático-
adequado e suficiente (ex.: irregularidade ao tratamento, casos MB metabólicas dos pacientes, com diminuição da eficácia dos
avançados que necessitarão de 12 doses adicionais); medicamentos.
PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES
Medidas visando evitar a ocorrência de danos físicos, emocionais e As incapacidades físicas dificultam a rotina diária em casa, no trabalho
socioeconômicos. e na geração de renda, afetando a qualidade de vida das pessoas de
diversas maneiras → traz ainda problemas psicossociais, fruto da
Medidas gerais: educação em saúde, exercícios preventivos,
diminuição do status na comunidade, somado à discriminação e
adaptações de calçados, adaptações de instrumentos de trabalho e
exclusão social. Essas razões levam à ocultação da condição física,
cuidados com os olhos.
privação da vida social normal, das atividades de geração de renda e
O paciente com incapacidade instalada, apresentando mão em garra, das responsabilidades familiares.
pé caído e lagoftalmo, bem como outras incapacidades como
O autocuidado deve ser compreendido como ação essencial que
madarose superciliar, desabamento da pirâmide nasal, queda do
lóbulo da orelha ou atrofia cutânea da face, deve ser encaminhado perpassa por todas as atividades realizadas com o doente. O doente
devidamente orientado, pode realizar as práticas de autocuidado
para avaliação e indicação de cirurgia de reabilitação em centros de
regularmente no seu domicílio e/ou em outros ambientes.
atenção especializada hospitalar, de acordo com os seguintes critérios:
ter completado o tratamento PQT e não apresentar estado inflamatório O doente deve ser orientado a fazer a autoinspeção diária e, se
reacional e/ou uso de medicamentos antirreacionais há pelo menos necessário, estimulado a usar proteção, especialmente voltada para os
um ano. olhos, nariz, mãos e pés.
EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO
É doença crônica e de prognóstico bom com relação à vida; no O risco de incapacidade está relacionado com episódios reacionais,
entanto, apresenta grande potencial incapacitante (mão em garra, mal cujo diagnóstico e tratamento deverão ser os mais precoces possíveis.
perfurante plantar, cegueira).
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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Considera-se um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou Vacinação BCG (Bacilo de CalmetteGuërin): a vacina deverá ser
mais dos seguintes sinais cardinais: aplicada nos contatos intradomiciliares, sem presença de sinais e
- lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração da sensibilidade sintomas de hanseníase, no momento da avaliação,
independentemente de serem contatos de casos PB ou MB → deve-
térmica e/ou dolorosa e/ou tátil; ou
se considerar a história vacinal anterior e a idade:
- comprometimento do nervo periférico, geralmente espessamento,
associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; ou Menores de 1 ano de idade A partir de 1 ano de idade
- Não vacinados: administrar 1 dose
- presença de bacilos M. leprae, confirmada na baciloscopia de - Sem cicatriz vacinal: administrar 1
- Comprovadamente vacinados com
esfregaço intradérmico ou na biopsia de pele. dose
cicatriz vacinal: não administrar
- Vacinados com 1 dose: administrar
Notificação: a hanseníase é uma doença de notificação compulsória outra dose
outra dose de BCG
em todo o território nacional e investigação obrigatória. - Comprovadamente vacinados sem
- Vacinados com duas doses: não
cicatriz vacinal: administrar 1 dose
- cada caso diagnosticado deve ser notificado na semana administrar outra dose
de BCG 6 meses após a última dose
epidemiológica de ocorrência do diagnóstico, utilizando-se a Ficha de
Notificação/Investigação da Hanseníase do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan).
A investigação epidemiológica tem por finalidade a descoberta de
casos entre aqueles que convivem ou conviveram com o doente e
suas possíveis fontes de infecção. A partir do diagnóstico de um caso
de hanseníase, deve ser feita, de imediato, a investigação
epidemiológica. As pessoas que vivem com o doente correm maior
risco de ser infectadas e de adoecer do que a população geral, por
isso devem ser submetidas a uma anamnese dirigida, exame
dermatoneurologico e vacinação BCG.
REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia prático sobre a Hanseníase. 2017 | MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância em saúde. 3 ed. 2019
SBD. Nota técnica: mudança de esquema de tratamento da hanseníase em pacientes paucibacilares em acordo as recomendações do MS. 2021
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problema 6
PELOS
Os pelos são estruturas filiformes, constituídas por células O folículo piloso compreende as seguintes porções:
queratinizadas produzidas pelos folículos pilosos. - infundíbulo: situado entre o óstio e o ponto de inserção da glândula
Existem três tipos de pelos: sebácea;
- LANUGO: pilosidade fina e clara que cobre boa parte do feto e - acrotríquio: porção intraepidérmica do folículo;
geralmente cai após o nascimento; - istmo: entre a abertura da glândula sebácea no folículo e o ponto de
- VELLUS: pelo fino e não pigmentado, cujo crescimento não é afetado inserção do músculo eretor do pelo;
por hormônios → encontrado nos adultos cobrindo a maior parte do - segmento inferior: porção restante situada abaixo do músculo eretor
corpo; → nessa porção mais inferior do folículo piloso, encontra-se uma
- PELOS TERMINAIS: pelos espessos e pigmentados que sofrem expansão, o bulbo piloso, que contém a matriz do pelo, onde se
influência dos hormônios andrógenos → compreende os cabelos, a introduz a papila, uma pequena estrutura conectiva, ricamente
barba, a pilosidade pubiana e axilar. vascularizada e inervada.
Os pelos são compostos por uma parte livre, a haste e a raiz (porção ao redor das células matrizes, encontram-se melanócitos
intradérmica). ativos e a maior parte da atividade mitótica do pelo se dá na metade
Anexam-se ao folículo piloso: a glândula sebácea, superiormente; o inferior do bulbo.
músculo eretor do pelo, inferiormente; e, em certas regiões corpóreas O componente principal do pelo é a queratina, além de participarem
(axilar, genital e periareolar), o ducto excretor da glândula sudorípara de sua estrutura cerca de 20 aminoácidos, sendo particularmente
apócrina que desemboca no folículo, acima da glândula sebácea. importantes a cisteína, arginina e citrulina.
Estima-se que o couro cabeludo possua cerca de 100.000 a 150.000 FASE CATÁGENA: os folículos regridem a 1/3 de suas dimensões
fios de cabelo, com crescimento em torno de 10 mm/mês. anteriores, ocorrendo a interrupção da melanogênese na matriz e a
Os pelos não crescem continuamente, havendo alternâncias de fases diminuição da proliferação celular até cessar → fase de apoptose
de crescimento e repouso, que constituem o CICLO DO PELO: entre a fase telógena e a anágena, durando poucas semanas.
- 1% dos pelos estão na fase catágena.
FASE ANÁGENA: é a fase de crescimento, caracterizada por intensa
atividade mitótica da matriz e onde o pelo se apresenta na máxima FASE TELÓGENA: é a fase de desprendimento do pelo que, no couro
expressão estrutural, determinando o comprimento final do cabelo no cabeludo, tem cerca de 3 meses de duração → os folículos mostram-
local → pelos anágenos possuem extremidades proximais se quiescentes, reduzidos à metade ou menos do tamanho normal e
pigmentadas e maleáveis. Duração de 2 a 5 anos, mas varia de acordo há desvinculação completa entre a papila dérmica e o pelo em
com o local do corpo e da idade. eliminação. Os pelos telógenos têm forma de clava e extremidade
- a matriz dos pelos na fase anágena apresenta células epiteliais em proximal redonda e despigmentada.
crescimento acelerado que são extremamente sensíveis a - 14% dos pelos estão na fase telógena.
medicamentos, fatores de crescimento, hormônios, estresse e FASE EXÓGENA: processo ativo de queda da haste capilar.
problemas imunológicos e físicos;
Os fatores reguladores do ciclo piloso são desconhecidos, admitindo-
- a destruição das células-tronco epiteliais resulta em perda se a influência de condições intrínsecas ao folículo e a fatores
permanente dos pelos. sistêmicos, nutricionais, emocionais e, especialmente, hormonais
- 85% dos pelos estão na fase anágena. (androgênios).
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Alopecia areata
TRICOGRAMA
É um método microscópico para avaliação das hastes e do ciclo
folicular, quantificando o percentual de folículos nas diferentes fases A alopecia areata (AA), pelada, acomete aproximadamente 2% da
de crescimento. população, caracterizada por áreas de alopecia localizada ou
O cabelo não deve ser lavado por 5 dias para a realização do exame. generalizada, por vezes com grave impacto psicossocial.
Utiliza-se uma pinça reta ou porta-agulha para coletar os fios e, em Apresenta distribuição universal, afetando ambos os sexos, ainda que
média, 40 a 60 fios devem ser tracionados e analisados no haja referências como mais frequente no sexo masculino. Surge em
microscópio ou dermatoscópio para estabelecimento dos percentuais. qualquer idade, com pico de incidência entre os 15 e os 29 anos.
- o exame deve ser realizado nas regiões parietal e occipital para A perda de cabelos ou pelos ocorre em áreas caracteristicamente
efeitos de comparação. redondas ou ovais, donde a denominação, sem sinais inflamatórios ou
Está indicado no diagnóstico diferencial e acompanhamento das de atrofia da pele → ocorre quase sempre no couro cabeludo ou,
alopecias difusas não cicatriciais, principalmente eflúvio telógeno ocasionalmente, em outras regiões pilosas (barba, supercilio, púbis,
agudo e alopecia androgenética (AAG). etc.).
Considera-se alterado quando mais de 25% dos fios são telógenos.
Tipicamente, o fio telógeno caracteriza-se pelo bulbo globoso com ETIOPATOGENIA
pouca ou nenhuma melanina em seu interior, caracterizando a
É uma doença autoimune crônica órgão-específica mediada por
chamada clava (ou formato de cotonete). Os fios catágenos são
linfócitos T que afeta os folículos pilosos e unhas.
raramente observados, por isso no tricograma costumam-se incluir os
catágenos na contagem dos fios telógenos. Os seguintes fatores têm sido implicados na sua etiopatogenia:
O fio anágeno caracteriza-se pelo formato de taca ou em tip de golfe, - GENÉTICOS: a participação genética é apoiada pela existência de
com coloração escura pela alta concentração de melanócitos no seu casos familiares em até 20% dos indivíduos afetados e pela associação
interior e a bainha radicular interna é visível desde a matriz até sua com doenças congênitas, como a síndrome de Down e de Addison.
parte mais distal com a ajuda do pigmento que cora essa bainha - IMUNOLÓGICOS: uma série de evidências apoia a definição da AA
(anagen dye). como doença de participação imunológica → há um infiltrado
linfocitário de linfócitos T em torno dos folículos pilosos na área
afetada. Encontra-se associação de AA com atopia, urticária e doenças
autoimunes, como tireoidites e vitiligo.
O dano folicular ocorre na fase anágena e é seguido por transformação
rápida para a fase catágena e para a fase telógena → segue-se o
estado de fase anágena distrófica, onde enquanto a doença está em
atividade, os folículos não conseguem ultrapassar a fase anágena
inicial e não formam pelos normais.
- a célula-tronco folicular é poupada e os folículos pilosos não são
destruídos (não há fibrose) → o cabelo pode renascer.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O início é brusco, com perda de cabelos ou pelos em áreas circulares
ou ovais, únicas ou múltiplas, sem qualquer outra alteração → ocorre
de forma rápida e completa.
A placa da área pelada é lisa e brilhante e, na borda, podem ser
retirados pelos que são afilados e descorados para o lado da raiz, que
apresenta dilatação → são os cabelos peládicos, em ponto de
exclamação.
- a placa cresce em tamanho, atingindo dimensões variáveis.
Prurido e tricodinia (hipersensibilidade do couro cabeludo) podem
acompanhar o quadro. Já o eritema, coloração amarelada ou leve
HISTOPATOLOGIA descamação são raros.
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Embora, na maioria dos casos, haja repilação espontânea em alguns Depressões puntiformes (pittings) das lâminas ungueais podem
meses (geralmente os pelos nascem despigmentados – poliose), acompanhar o quadro, sendo encontradas com maior frequência nos
outras vezes o processo progride com surgimento de novas lesões, casos mais graves.
que, por confluência, podem atingir todo o couro cabeludo (alopecia
- traquioníquia (superfície rugosa, áspera e acinzentada), onicorrexe
total) ou todo o corpo (alopecia universal).
(estriações longitudinais) espessamento ou afinamento das unhas,
onicomadese (destacamento espontâneo e indolor da unha) e
leuconiquia puntada ou transversa (mancha branca na unha) podem
ocorrer.
Embora o índice de recorrência seja alto, o prognóstico é variável,
tendo como fatores agravantes o início antes da puberdade, atopia,
distrofias ungueais, história familial de alopecia areata, concomitância
com outras doenças autoimunes, variante ofiásica e desenvolvimento
de alopecia total ou universal.
Diagnósticos diferenciais: tinhas (ocorrem na infância e caracterizam-
se pela tonsura dos cabelos), alopecias cicatriciais (pele perde o
brilho, cor e consistência, com desaparecimento dos folículos pilosos)
e tricotilomania.
TRATAMENTO
A alopecia areata não tem repercussões sistêmicas, mas está sujeita a
recorrências para as quais não há, até o momento, recursos para
evitar.
A conduta terapêutica deve ser individualizada, considerando-se a
faixa etária e extensão da doença → o tratamento pode ser tópico,
intralesional ou sistêmico.
FORMAS LOCALIZADAS
A primeira opção de tratamento é com corticoide tópico em loção ou
creme, aplicado 2x/dia → são usados os de alta a altíssima potência,
como a betametasona e o clobetasol.
- eventualmente, pode-se fazer aplicações de neve carbônica
(crioterapia).
Em casos resistentes, infiltração com triamcinolona, 3 a 4 mg/mL de
soro fisiológico, pode ser indicada.
Existem ainda três variantes clínicas menos frequentes: Atrofia temporária pode ocorrer. O tratamento com tópicos
rubefacientes não é mais usado.
- pelada em coroa ou ofíase: encontrado nas crianças e apresenta
evolução desfavorável, onde a perda de cabelo se inicia na nuca e
progride para a frente pela orla do couro cabeludo, atingindo FORMAS DISSEMINADAS
bilateralmente as regiões parietais; Infiltração com corticoide: é o recurso mais efetivo → emprega-se a
triancinolona, na diluição de 3 a 4 mg/mL, dose total de 10 a 20 mg,
por aplicação semanal ou quinzenal, posteriormente mais espaçada,
consoante à resposta clínica.
Antralina: atua pela ação irritativa sendo empregada em creme (uso
tópico) de concentrações que variam de 0,5-1% → é feita como
terapia de curto contato, iniciando o tempo de exposição com 5 min,
aumentando gradualmente 5 a 10 min/semana, até atingir 1h ou até
que apareça uma leve irritação (necessária para que seja efetiva).
- se não houver resposta em até 3 meses, deve ser descontinuado.
- reações adversas: irritação intensa, foliculite, linfadenopatia regional,
- ofíase inversa: tipo muito raro com acometimento da área manchas na pele e cabelos.
frontoparietotemporal;
Minoxidil: geralmente utilizado em associação a outras terapias tópicas
- difusa: não há formação de placas alopécicas, mas encontram-se ou sistêmicas, sendo usado em solução hidroalcóolica a 5% (2x/dia).
pelos em pontos de exclamação entre os cabelos normais. O mecanismo de ação parece ser na síntese do DNA folicular,
estimulando o crescimento de pelos pelo prolongamento da fase
anágena, além de promover vasodilatação e aumento da espessura do
bulbo capilar, angiogênese e algum efeito imunossupressor.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Imunoterapia tópica: é o tratamento de escolha para os casos crônicos É considerado agudo quando a queda persiste por < 6 meses, tendo
de alopecia areata com mais de 50% do couro cabeludo acometido. bom prognóstico, com recuperação espontânea em 95% dos casos
Atualmente, usa-se o dibutilester do ácido esquálico (SADBE) e a em até 1 ano.
difenciprona (DPCP). Repilação ocorre em 50 a 60% dos doentes,
Já o eflúvio telógeno crônico ocorre quando a queda persiste por > 6
porém recidivas são frequentes.
meses, ocorrendo de forma contínua ou em ciclos.
- reações adversas: urticária, eritema multiforme, dermatite de contato
- pode ser primário (idiopática e costuma aparecer em mulheres entre
e vitiligo.
30-60 anos, de forma insidiosa e curso flutuante, gatilho é o estresse
- técnica: sensibilização inicial em área de 4 cm² com a solução a 2% emocional) ou secundário (associa-se a uma doença crônica).
de SADBE ou difenciprona → após uma semana, usar, em parte do
couro cabeludo, solução a 0,001% e, consoante à reação, aumentar
semanalmente a área e a concentração da solução até 2%. Localmente, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO
ocorre eritema ou erupção eczematosa e, eventualmente, áreas
acrômicas. A manifestação é a queixa de perda excessiva de cabelos →
eventualmente o paciente até traz uma porção de cabelos que caíram.
Fotoquimioterapia: exposição ao ultravioleta A após uso de
psoralênico tópico ou sistêmico (PUVA) → resultados são variáveis e O exame do couro cabeludo nada revela ou mostra apenas discreta
índice de recidivas é extremamente alto com a interrupção do dermatite seborreica e/ou prurido.
tratamento.
- preconizam-se de 20 a 40 sessões até se obter resultado favorável.
Corticosteroides sistêmicos: tem indicação limitada pela grande
recorrência após sua interrupção, além dos potenciais efeitos
colaterais da corticoterapia sistêmica prolongada.
- um método alternativo seria o uso da corticoterapia intramuscular
(associação de dipropionato/acetato de betametasona e fosfato
dissódico de betametasona ou mesmo a triancinolona 40 mg/dose) a
cada 4 semanas → parece diminuir os efeitos colaterais dos
corticosteroides, porém a recorrência também é alta com interrupção
da terapia.
- pulsoterapia, utilizando-se prednisona ou prednisolona 1 mg/kg/dia,
2 dias seguidos/semana, pode ser utilizada em casos extensos ou de
evolução rápida.
Efluvio telogeno
após (correspondendo à duração da fase telógena).
- ocorre após doença consumptiva, doenças tireoidianas, febre alta,
Caracteriza-se por aumento transitório da queda de pelos normais dietas radicais para emagrecer, cirurgias, hemorragias, anemias,
claviformes (telógeno), como consequência da reentrada em uma deficiência de ferro, zinco ou vitamina D, após infecções, ou em
nova fase anágena de grande número de folículos provocado por doenças sistêmicas graves.
estresse físico ou psíquico. - é típico do uso de certos fármacos como heparina, cumarínicos, lítio,
- a queda de fios telógenos pode subir de 120 a 400 por dia. estatinas, clofibrato, início ou término de medicamentos
contraceptivos orais ou da reposição hormonal, agentes citostáticos,
Pode ocorrer por várias causas: pós-parto, uso de ACO (durante a hipervitaminose A e retinoides, em especial acitretina, colchicina,
ingestão das pílulas pelo potencial androgênico dos progestogênios betabloqueadores e outros.
ou algumas semanas após a suspensão), regime de emagrecimento,
deficiência proteica, de ferro ou zinco, estados estressantes 2) Liberação anágena tardia: mecanismo do eflúvio pós-parto →
prolongados e doenças sistêmicas (LES, dermatomiosite, caquexia, durante a gestação, observa-se prolongamento da fase anágena, e se
anemias graves, DM descompensado, hiper ou hipotireoidismo, muitos fios são envolvidos, a conversão para fase telógena será
hepatites, entre outras). seguida de aumento da queda 2 a 3 meses após o parto.
3) Síndrome do anágeno curto: encurtamento idiopático da fase
anágena, o que pode causar queda persistente em alguns casos.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
ALOPECIA ANDROGENÉTICA MASCULINA É importante ressaltar, no entanto, que a maioria dos casos de AAG
na mulher tem avaliação hormonal normal e que esta deve ser
O aspecto clínico da perda de cabelo no homem é uma rarefação de reservada aos casos em que um estado hiperandrogênico é fortemente
fios em graus variáveis nas regiões frontoparietal, bitemporal e vértice suspeitado por outros sintomas e sinais clínicos.
(áreas androgênio-dependentes).
Associadas à alopecia, ocorrem, com certa frequência, seborreia e
- alguns pacientes podem apresentar sintomas locais associados hiperidrose (muitos autores usam inadequadamente a designação
como dor, prurido e alteração da sensibilidade. alopecia seborreica).
A progressão pode ser lenta ou rápida, geralmente mais intensa É uma queda mais difusa que no padrão masculino, está classificada
quanto mais cedo se iniciar. em três graus segundo a escala de Ludwig:
Há diminuição dos cabelos anágenos e aumento dos telógenos. Os
cabelos eliminados são finos e descorados, com bulbo terminal em
clava → progressivamente, os cabelos se tornam mais finos,
desaparecem os cabelos terminais e, na fase final, permanecem pelos
do tipo velo.
A alopecia ocorre ao longo dos anos e segue um padrão segundo as
classificações propostas por Hamilton-Norwood:
Tipo I: perda de cabelo ao longo da margem frontal;
Tipo II: aumento da perda dos cabelos na região frontal e início da
perda na região occipital (vértice ou coroa);
Tipos III, IV e V: perda crescente em ambas as regiões, finalizando
com confluência e calvície total da região superior do couro cabeludo,
poupando as regiões laterais.
(tipo II)
O diagnóstico é feito com base na história clínica e no exame físico.
- a avaliação da perda de cabelo é feita por meio da aplicação de
diferentes técnicas: tricoscopia manual, para a verificação da
miniaturização dos fios do cabelo pela redução do diâmetro, do
comprimento e da pigmentação dos fios, entre outros achados
característicos; teste da tração pode ser positivo principalmente nas
áreas afetadas pela AAG.
- o tricograma é considerado um exame muito útil na diferenciação de
condições como eflúvio telogênico e AA.
(tipos IV e V)
Não há associação com doença sistêmica → porém, há estudos TRATAMENTO
limitados que referem maior risco de doença coronariana e aumento
significativo do colesterol e triglicerídeos nos calvos em comparação Tanto no homem como na mulher, a AAG pode ser tratada de maneira
com os não calvos. tópica, sistêmica e/ou cirúrgica.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
CIRÚRGICO
Em casos mais avançados e resistentes à terapêutica clínica, a técnica
de microimplantes capilares é de extrema utilidade na melhora
cosmética dos pacientes.
- o controle do tratamento é comumente acompanhado de registros
fotográficos periódicos e por imagens digitais de tricoscopia para
avaliar o volume e a quantidade de pelos.
Tricotilomania
ALOPECIA MUCINOSA : caracteriza-se por áreas de alopecia com pápulas
É um estado neurótico que leva pessoas (em geral meninas com
foliculares, placas papulosas ou infiltração nodular → ocorre no couro
menos de 10 anos de idade) a arrancar os cabelos.
cabeludo, na nuca e na face. Geralmente é temporária, exceto se
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV), houver destruição do folículo piloso pela mucina.
tem critérios definidos para o diagnóstico dessa afecção, que são:
Há 2 tipos de alopecia mucinosa:
- arrancamento recorrente de cabelos com perda visível;
- o 1º é encontrado mais em crianças e jovens, não é associado a
- sentimento progressivo de tensão imediatamente antes do linfoma e, em geral, evolui espontaneamente para a cura, sem deixar
arrancamento do pelo ou ao tentar resistir ao ato; cicatriz → pode ser tratada com glicocorticoides tópicos ou
- sentimento de prazer, gratificação ou alívio após o arrancamento; intralesionais.
- distúrbio não é justificado por outra doença psiquiátrica ou médica; - o 2º é mais observado em adultos, pode estar associado a linfoma
→ o tratamento é o mesmo da neoplasia maligna.
- distúrbio provoca marcado prejuízo clínico e/ou ocupacional e social
para o paciente.
Não existe um tratamento efetivo, porém métodos como psicoterapia,
hipnose, terapia comportamental ou uso de fármacos (clomipramina,
fluoxetina, sertralina e citalopram) têm sido tentados.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
REFERÊNCIAS
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
WOLFF. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. 2014
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 7
1
Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
ETIOPATOGENIA
A espécie de Leishmania e sua quantidade no organismo associam- Assim, alguns pacientes curam as lesões precocemente, às vezes sem
se com a gravidade da doença → a maior ou menor quantidade de procurar atendimento médico, enquanto outros permanecem meses
parasitas em determinada lesão vai depender, em última análise, do com a lesão em atividade e o processo de cicatrização mostra-se lento
estado imunitário do hospedeiro. → isso pode ser explicado pelo estabelecimento rápido ou tardio de
Após a inoculação na pele, o parasita é fagocitado por macrófagos do uma resposta imune específica e eficiente na eliminação do parasito.
hospedeiro e assume sua forma amastigota → por se tratar de um De acordo com a interação parasito-hospedeiro, o espectro clinico da
parasita intracelular obrigatório, a imunidade celular, com perfil de LT é variável, podendo-se classificá-la em polos:
resposta Th1, tem papel central no controle da infecção. POLO ANÉRGICO (POLO NEGATIVO) : caracterizada pela forma cutânea
- nos pacientes com resposta Th1 adequada, há produção de difusa (LCD) pela ausência de resposta celular específica, associada à
interferon-α e IL-2, e tendência a formas clínicas limitadas e melhor acentuada proliferação de parasitos → teste de Montenegro negativo;
evolução da doença; POLO HIPERÉRGICO (POLO POSITIVO) : caracterizada pela forma mucosa
-já uma deficiência na resposta Th1 ou o desenvolvimento de um (LM) devido ao exagero das respostas celulares antileishmania,
padrão de resposta Th2, com produção de IL-4 e IL-10, estão associada à escassez de parasitos → IDRM muito positiva (bolhas).
relacionados com formas mais graves da doença. FORMA CUTÂNEA (LC) : está no meio do espectro, sendo a manifestação
Além disso, existem moléculas presentes na superfície do parasito que mais frequente, com lesões exclusivamente cutâneas, localizadas e
também interferem na atividade do macrófago e, consequentemente, que tendem à cicatrização → a resposta celular está preservada, por
na resposta imune → a gp63 e o LPG degradam enzimas lisossômicas isso o IDRM é positiva.
e a fosfatase ácida bloqueia a produção de metabólitos oxidativos. * um mesmo paciente pode evoluir dentro desse espectro ao longo
do tempo.
ACHADOS LT CUTÂNEA DIFUSA (LCD) LT CUTÂNEA (LC) LT MUCOSA (LM)
Placas infiltradas e nódulos não Lesão destrutiva no septo nasal ou
Clínicos Úlcera(s) limitada(s)
ulcerados disseminados palato
Resposta celular Ausência Preservada Exagerada
IDRM (-) (+) (++)
Linfoproliferação Negativa Positiva Positiva
Presente (geralmente títulos
Resposta humoral (sorologia) Presente Presente
maiores de anticorpos específicos)
Esfregaço Riqueza parasitaria Escassez parasitaria Escassez/ausência de parasitos
Sem formação de granuloma,
Com formação de granuloma e Escassa formação de granuloma e
Histopatológico poucos linfócitos e muitos
infiltração de linfócitos infiltração de mononcleares
macrófagos infectados
L. (L) amazonenses ou
Espécie de Leishmania L. (L) amazonensis L. (V) braziliensis
L. (V) braziliensis
Cura espontânea Não Possível Não
Adequada (em geral após dois
Resposta à terapêutica Resistência
esquemas)
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
O período de incubação varia de poucos dias a meses → média de 2 Ocorre em cerca de 2% dos pacientes, sendo caracterizada por lesões
meses, mas pode apresentar períodos mais curtos (2 semanas) ou em diferentes estágios de evolução, sugerindo disseminação do
mais longos (2 anos). parasita por via sanguínea ou linfática, que aparecem algumas
semanas após a lesão inicial ulcerada característica → são papulares
A lesão inicial aparece apenas no ponto de inoculação e geralmente e de aparência acneiforme, acometendo vários segmentos corporais,
ocorre em áreas expostas da pele (face, membros, mãos e pés) → especialmente a face e o tronco.
normalmente é uma lesão única, mas pode ser múltipla.
- a disseminação pode ocorrer após início do tratamento para a forma
- caracterizada pela formação de uma pápula eritematosa que se cutânea localizada.
transforma em uma lesão papulocrostosa, papulovesiculosa ou
papulopustulosa. O comprometimento das mucosas ocorre em 30% dos pacientes.
Além disso, pode ser acompanhada de sintomas gerais, como
- pode ocorrer adenopatia regional e linfangite. calafrios, febre e mialgia durante o período de disseminação.
FORMA CUTÂNEA
Alguns dias ou semanas depois, a lesão adquire aspecto ulceroso bem
característico (85% dos pacientes), com bordas elevadas e bem
definidas (“úlcera em moldura de quadro”), indolor, com centro
granulado, coloração vermelho-viva e recoberta por exsudato discreto,
seroso ou seropurulento. FORMA CUTÂNEA DIFUSA (LCD)
- pode estar coberta por crosta, cuja remoção expõe o aspecto Também chamada de forma hansenoide, causada no Brasil apenas
ulcerado típico. pela L. (L) amazonensis → é rara e grave, ocorrendo em pacientes
com anergia e deficiência específica na resposta imune celular a
antígenos de Leishmania.
Caracteriza-se pela presença de nódulos isolados ou agrupados,
máculas, pápulas e placas infiltradas → inicialmente são localizadas,
mas depois se espalham pelo corpo, mostrando limites imprecisos (se
confundem com a pele normal).
- lembra bastante a hanseníase virchowiana.
As lesões predominam nas extremidades e no segmento cefálico,
geralmente se limitando à pele → o comprometimento das mucosas
ocorre tardiamente (lesão laringofaringiana).
- não há comprometimento visceral.
A lesão pode evoluir (após 6 a 15 meses) para cicatrização espontânea
(deixando cicatriz atrófica e apergaminhada) ou originar placas
vegetantes-verrucosas (que cronificam e crescem lentamente).
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
DIAGNÓSTICO
As bases para o diagnóstico são: procedência do doente, aspectos
clínicos das lesões cutâneas e das lesões mucocutâneas indolores
com mínimos sinais de inflamação (ausência de exsudato purulento),
ou da cicatriz atrófica, ovalar ou circular, lisa e brilhante, com
pigmentação salpicada no seu interior.
EXAMES PARASITOLÓGICOS
A borda de uma úlcera relativamente nova é o local preferencial para
a obtenção de raspados dérmicos, uma amostra de biópsia ou um
fácies tapiroide
aspirado de agulha → os últimos dois tipos de amostras podem ser
A orofaringe também pode ser acometida com lesões no palato, utilizados para cultura e ensaios com base na PCR.
gengiva, laringe e faringe. Raramente, o pavilhão auricular também é
acometido de forma assimétrica. EXAME DIRETO : o diagnóstico da leishmaniose cutânea pode ser
confirmado pelo exame direto do raspado da lesão, corado pelo
- especialmente no palato, as lesões são ulcerovegetantes com
Giemsa, onde revela a presença de amastigotas em macrófagos
granulações grosseiras.
dérmicos → o raspado pode ser obtido da biópsia da pele, esfregaços
Grupos de risco: de impressão de tecidos ou esfregaços de raspados cutâneos.
- sexo masculino;
ISOLAMENTO EM MEIOS DE CULTURA : feita no meio NNN (Novy-McNeal-
- pacientes com história de LC de evolução crônica e curada sem
Nicolle), sendo positiva em apenas 40% dos casos → permite
tratamento ou com tratamento inadequado;
identificar a espécie de Leishmania envolvida.
- pacientes com lesões cutâneas múltiplas, extensas e com > 1 ano
de evolução, localizadas acima da cintura. REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE (PCR) : pode ser extremamente útil,
sobretudo nos casos mucosos. É indicada especialmente em
FORMA RECIDIVANTE pacientes suspeitos de LTA, mas que apresentam resultados negativos
nos testes convencionais para diagnóstico etiológico.
Caracteriza-se por ativação da lesão nas bordas de uma úlcera
original, após cicatrização da lesão, mantendo-se o fundo com aspecto
cicatricial → é causada pelos parasitas que ficam confinados pelo INTRADERMORREAÇÃO DE MONTENEGRO
processo cicatricial. Nas lesões mais antigas de leishmaniose, o parasita pode não
A resposta terapêutica costuma ser inferior à da lesão primária. aparecer → nesse contexto, o teste de reação cutâneo tardio (teste
cutâneo de Montenegro), que utiliza antígenos de leishmanias para
induzir uma resposta celularmente mediada. Uma suspensão fenolada
de promastigotos mortos é injetada intradermicamente, em geral na
face anterior do antebraço → o teste é considerado positivo se uma
pápula com > 5 mm de diâmetro se forma no local da inoculação, após
48-72 horas.
Entretanto, o teste não consegue distinguir entre infecções prévias e
presentes → a positividade aparece enquanto as lesões cutâneas
ainda estão ativas e o teste permanece positivo por muito tempo após
a cura espontânea. É um teste prognóstico.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
ANTIMONIAL PENTAVALENTE
ANFOTERICINA B LIPOSSOMAL
Os antimoniais pentavalentes constituem a medicação preferencial
para o tratamento das diferentes formas da leishmaniose → aqui no As formulações lipídicas constituem alternativa menos tóxica, com
Brasil está disponível apenas a N-metilglucamina, comercializada com poucos efeitos colaterais, mas é mais caro.
o nome de Glucantime. É utilizada especialmente em pacientes com > 50 anos, gestantes e
Os antimoniais são leishmanicidas que atuam na bioenergética das portadores de insuficiência renal, cardíaca e/ou hepática.
formas amastigotas de Leishmania → tanto a glicólise quanto a A dose é de 1 a 4 mg/kg/dia, endovenosa, até completar 1 a 1,5 g de
oxidação dos ácidos graxos, processos que ocorrem em organelas dose total.
específicas, são inibidos, e há redução na produção de ATP e GTP.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
REFERÊNCIAS
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
VERONESI-FOCACCIA. Tratado de infectologia. 5 ed. 2015
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância da Leishmaniose Tegumentar. 2017
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância em saúde. 3 ed. 2019
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Nota informativa nº 13/2020 – orientações sobre o uso da miltefosina. 2020
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 8
1
Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
REAÇÕES CRUZADAS Esta reação adversa pode ser desencadeada por dois mecanismos
Ocorrem quando medicamentos diferentes compartilham um mesmo distintos: fototóxico e fotoalérgico → alguns fármacos podem
radical → por ex., pacientes com alergia à penicilina apresentam desencadear tanto fototoxicidade quanto fotoalergia.
reação cruzada com cefalosporina em 10% dos casos, eczema de - fototóxico: certas substâncias têm a capacidade de absorver
contato a timerosal (antiga substância do mertiolate) e piroxicam. radiações, produzindo lesões cutâneas diretas somente nas áreas
expostas, semelhantes à queimadura solar → é dose-dependente,
não requer sensibilização prévia e ocorre poucas horas após a
REAÇÕES NÃO IMUNOLÓGICAS
exposição. São exemplos as tetraciclinas, as quinolonas, os tiazídicos,
EFEITO COLATERAL OU SECUNDÁRIO as sulfas, etc.
É decorrente da ação secundária e não terapêutica do medicamento, - fotoalérgico: é desencadeado por mecanismo imunológico (tipo IV),
por ex., eflúvio anágeno e alopecia secundários ao uso de citostáticos ocorrendo 24 a 48h após a reexposição ao fotoalérgeno e acomete
e sonolência pelo uso de anti-histamínicos. também áreas não expostas → não é dose-dependente e pode
apresentar reações cruzadas com outros agentes. São exemplos a
ALTERAÇÕES METABÓLICAS clorpromazina, as sulfas, as salicilamidas, etc.
Fármacos podem alterar o status nutricional ou metabólico por vários
mecanismos, como retinoides sistêmicos, levando ao aparecimento de EFEITO TÓXICO
xantomas, e hidantoína, interferindo na absorção de folato e Trata-se de um termo abrangente, inespecífico, utilizado de modo
desencadeando estomatite aftosa. heterogêneo. A toxicidade ocorre quando o contato com determinado
composto desencadeia resposta do organismo, seja por dosagem
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS excessiva (aparecimento de zumbido com o uso de ácido
Existem 3 mecanismos pelos quais os medicamentos podem interagir acetilsalicílico), falhas de metabolismo ou mecanismo alérgico (aplasia
e causar RMA: de medula pelo cloranfenicol).
- uma substância interferir na excreção de outra: probenecida
SUPERDOSAGEM
reduzindo a excreção de penicilina pelos rins;
Ocorre após ter sido ultrapassado, a curto prazo ou após uso
- uma substância inibir ou estimular enzimas importantes na prolongado (efeito cumulativo), o limite de tolerância do organismo.
degradação de outra: rifampicina ou griseofulvina diminuindo a
eficácia de pílula anticoncepcional; fluconazol potencializando a ação É o que ocorre na ingestão acidental ou não de barbitúricos, levando
de hidantoína e da clorpropamida; ao coma ou quando a clofazimina causa hipercromia.
- medicamentos competindo pelo mesmo local (pode ser o da Exemplo clássico de efeito cumulativo tardio, embora raro, é o
proteína plasmática transportadora) e, portanto, diminuindo a ação do aparecimento da doença de Bowen muitos anos após a ingestão de
fármaco deslocado: fenilbutazona ou ácido acetilsalicílico deslocando arsênico inorgânico.
cumarínicos, causando sangramento; administração de folato
concomitantemente ao metotrexato reduz a ação deste, por deslocá- IDIOSSINCRASIA
lo do receptor. É uma resposta individual peculiar e, às vezes, até paradoxal
(contrário) a uma substância, como sedativos provocando euforia.
EXACERBAÇÃO DE DOENÇA PREEXISTENTE
Um medicamento pode causar a exacerbação de uma doença prévia, INTOLERÂNCIA
como a griseofulvina, os barbitúricos e a cloroquina na porfiria latente É uma resposta individual exagerada às doses normais da medicação,
por ativação enzimática; lítio e agentes betabloqueadores podem como ocorre quando a eritromicina causa intolerância gástrica em
desencadear psoríase. adultos.
FOTOSSENSIBILIDADE
Como o nome indica, é necessário um componente lumínico →
substâncias fotossensibilizantes podem afetar a pele tanto pela via
tópica quanto sistêmica.
- a quase totalidade das reações fotoquímicas mediadas por fatores
exógenos é induzida pelo raio ultravioleta A.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Manifestacoes clinicas
O tratamento da urticária/angioedema medicamentoso é a suspensão
da droga implicada e o início de anti-histamínicos (antagonistas H1).
Anafilaxia
EXANTEMA INDUZIDO POR DROGAS
Trata-se de uma grave reação multissistêmica, potencialmente fatal e
É a farmacodermia mais comum, presente em até 75% dos casos. de início rápido, cujo mecanismo principal está relacionado à liberação
abrupta de mediadores sistêmicos por mastócitos → como resultado,
Ocorre principalmente pelo uso de antibióticos (penicilinas,
tem-se o surgimento de alterações cutâneo-mucosas, respiratórias,
sulfonamidas, eritromicina, gentamicina) e anticonvulsivantes.
cardiovasculares e gastrointestinais (edema de laringe e de glote,
O rash cutâneo aparece geralmente dentro de 2 semanas após início broncoespasmo, náuseas, vômitos, hipotensão arterial).
da droga (podendo também ocorrer até 2 semanas após a sua
Além da manutenção de vias aéreas pérvias, a primeira medida
suspensão). O mecanismo é desconhecido.
farmacológica a ser adotada é a administração de adrenalina
- um tipo clássico é o rash induzido pela ampicilina em 85% dos intramuscular (1ª linha, na coxa anterolateral) ou intravenosa.
pacientes com mononucleose infecciosa (vírus Epstein-Barr).
As demais medidas incluem: reposição volêmica (pelo choque
O exantema é caracterizado por uma distributivo), anti-histamínicos (angioedema e prurido), corticoides
erupção eritematosa maculopapular (visando sintomas tardios, porém de ação questionável) e
de distribuição simétrica, geralmente broncodilatadores (sibilância refratária). A posição supina com
pruriginosa, que desaparece à digito- membros inferiores elevados também está indicada.
pressão e surge principalmente no
tronco e nas áreas de pressão em
pacientes acamados. ERITEMA PIGMENTAR FIXO
- pode ser do tipo morbiliforme (com Está presente em 10% dos casos de farmacodermias, surgindo até 24
lesões eritematosas confluentes, horas após a exposição e persistindo por dias a semanas → acomete
semelhantes ao sarampo). uma localização especifica após a exposição ao agente causal.
O curso dessa farmacodermia é benigno, cujo tratamento é feito Está associado principalmente ao uso de antibióticos (tetraciclinas,
apenas com a suspensão da medicação que estava em uso, com sulfonamidas, penicilinas), AINES, analgésicos, anticonvulsivantes,
regressão das lesões em 1 a 2 semanas. Em situações mais graves, barbitúricos e laxantes (fenoftaleína).
pode-se utilizar anti-histamínicos e corticosteroides.
Seu mecanismo é alérgico, mas ainda não totalmente esclarecido;
trata-se, provavelmente, de vasculite.
URTICÁRIA E ANGIOEDEMA Caracterizado pelo surgimento de uma ou múltiplas lesões, que
A urticária e o angioedema estão presentes em até 25% dos casos de começam com uma característica eritematoedematosa, e que evolui
farmacodermias, também ocorrendo principalmente em associação ao para hipercromia de natureza melânica (acastanhadas), bordas bem
uso de antibióticos (penicilinas, cefalosporinas, sulfonamidas), AINES, definidas, arredondada, não pruriginosa (pode ter sensação de
anestésicos, contraste iodado, plasma, látex, IECA (captopril), queimação), predominando na face, pescoço, extremidades e
analgésicos (morfina, codeína), entre outros. genitália, de distribuição assimétrica. Em casos muito intensos, podem
ocorrer bolhas.
Geralmente surgem de forma imediata, ou seja, nos primeiros 30
minutos após a exposição à medicação, mas também podem aparecer
dias após a administração (tardia).
A erupção urticariforme é caracterizada pelo aparecimento de pápulas
e placas eritematosas, com bordas irregulares e centro pálido,
associadas a prurido intenso → o caráter transitório é característico e
as lesões individuais tendem a desaparecer em menos de 24h.
- predominam no tronco e extremidades proximais. O diagnóstico é confirmado quando surge a mesma lesão, exatamente
nos mesmos locais das lesões prévias, após nova exposição à droga.
O prognóstico da reação é excelente e o quadro tende a se resolver
dias após descontinuação da substância causadora.
As lesões recorrentes podem deixar hiperpigmentação residual.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
VASCULITE POR HIPERSENSIBILIDADE As lesões mucosas são vistas em 70% dos casos, apresentando-se
nos lábios, cavidade bucal, palato, gengiva e genital.
Tem como mecanismo proposto a reação de hipersensibilidade tipo
Não há fase prodrômica e tipicamente não ocorrem sintomas
III, ou seja, uma doença por imunocomplexos, causando vasculite
constitucionais → paciente apresenta-se com estado geral bom.
leucocitoclástica de predomínio nos membros inferiores.
Uma vez estabelecida, o rash cutâneo é estável e desaparece
O paciente apresenta uma erupção eritematosa maculopapular que se
espontaneamente após 1 a 3 semanas, com um curso extremamente
transforma num rash purpúrico, com petéquias e púrpuras
benigno → exceto nos 20% dos casos que evoluem para SSJ.
confluentes, de distribuição simétrica pelos membros inferiores.
O tratamento na grande maioria dos casos consiste apenas na
- a presença da púrpura palpável (elevada) e a ausência de
suspensão do fármaco ou resolução da infecção herpética.
plaquetopenia são bastante sugestivos do diagnóstico.
Lesões urticariformes, bolhas e necrose podem ocorrer.
SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E NECRÓLISE EPIDÉRMICA
TÓXICA (NET – SÍNDROME DE LYELL)
Considera-se que a síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e a Necrólise
Epidérmica Tóxica (NET) provavelmente constituem espectros de uma
mesma doença (necrólise epidérmica), sendo a NET uma forma mais
grave do que a SSJ.
São doenças cutâneas que possuem um potencial de evolução grave,
com letalidade de 5% para a SSJ e de 30 a 50% para a NET. A causa
A erupção pode ser assintomática ou associada a um conjunto de mais comum de morte é a septicemia secundária.
sinais e sintomas que recebem a denominação de doença do soro →
Segundo consensos atuais, a diferença entre as duas entidades é
pode se apresentar com ou sem a vasculite cutânea leucocitoclástica
apenas quantitativa → ambas são definidas pelo acometimento de
e/ou lesão urticariforme e caracteriza-se pela ocorrência, 7 a 10 dias
duas ou mais áreas de mucosa (oral, ocular, genital), exantema
após a administração da droga, de febre alta, mialgias, artralgias e
eritematoso disseminado contendo lesões em alvo atípicas e lesões
linfadenopatia.
bolhosas que geram desnudamento cutâneo (escaldamento).
- por ser uma doença mediada por imunocomplexos, há queda do
O termo SSJ é reservado para os casos com menos de 10% de pele
complemento plasmático.
desnudada e o termo NET, para os casos mais graves, com mais de
- suspendendo-se o medicamento, os sintomas desaparecem em dias 30% de pele desnudada.
ou poucas semanas.
- os pacientes intermediários com 10 a 30% de pele desnudada são
referidos como sobreposição SSJ-NET.
ERITEMA POLIMORFO (ERITEMA MULTIFORME MINOR) Pela estatística americana, a SSJ é duas vezes mais comum que a NET
e a proporção de casos entre as três entidades (SSJ, overlap, NET) é
Está presente em cerca de 5% dos casos de farmacodermia, sendo
de aproximadamente 3:2:1,7. Todas elas são cerca de duas vezes mais
que em 20% desses casos pode haver a evolução para o eritema
comuns em mulheres. Predominam nos adultos, embora possam
multiforme major (Síndrome de Stevens-Johnson).
ocorrer em crianças, especialmente a SSJ.
As drogas mais comumente envolvidas são os antibióticos
(sulfonamidas, penicilinas, quinolonas, cefalosporinas), AINES,
anticonvulsivantes e alopurinol. Apesar dessa associação com
algumas drogas, a maior parte dos casos de eritema multiforme minor
estão relacionados à infecção pelo vírus herpes-simplex (eritema
multiforme herpético).
Trata-se de uma erupção eritematosa polimorfa (com diversas
morfologias), de início súbito, distribuição simétrica, raramente
pruriginosa, predominando na porção extensora dos membros, mãos
e pés (embora possa ocorrer na região palmar), face e eventualmente
mucosa oral → em alguns casos, o rash progride centripetamente
para o tronco.
- a lesão em alvo típica, contêm pelo menos 3 anéis concêntricos, de
diferentes colorações, com as bordas elevadas, já a lesão em alvo
atípica normalmente possui 2 anéis e são planas.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
FISIOPATOLOGIA (SSJ E NET) - além das localizações mucosas, pode-se ter comprometimento grave
de outros órgãos (pneumonites, necrose tubular aguda etc.), levando
A patogênese e a fisiopatologia são parcialmente conhecidas. à morte.
O mecanismo desencadeador inicial parece ser mediado por pelo O histopatológico revela um discreto infiltrado inflamatório
poder citotóxico direto dos linfócitos T CD8 sobre os queratinócitos mononuclear subepidérmico, com degeneração hidrópica da camada
da epiderme, modulados pelos linfócitos T CD4. Aparentemente, a basal e extensa necrose eosinofílica da epiderme.
droga, ou mais comumente um metabólito da droga, é incorporado na
membrana dos queratinócitos, servindo de hapteno ao ligar-se no - nas áreas bolhosas ou desnudas, há caracteristicamente necrose de
complexo de histocompatibilidade classe I → assim, a ativação dos toda a espessura da epiderme e descolamento subepidérmico.
linfócitos citotóxicos gera liberação de IL-6, IL-10 e TNF-α, que - na NET o infiltrado inflamatório é menos proeminente e ocorre maior
induzem à apoptose maciça pela ativação dos receptores Fas (receptor destruição epidérmica.
de apoptose).
Existe um aumento importante da incidência de SSJ/NET em pacientes
- além disso, o TNF-α e o interferon-α também estimulam o aumento portadores de HIV, especialmente os casos provocados pelas
da quantidade de óxido nítrico e da enzima óxido nítrico-sintetase, sulfonamidas. Há também uma relação genética com o HLA A29 e B12
produzidos nos queratinócitos. (predisposição genética por aumentar a chance dessa interação).
- o envolvimento de uma proteína encontrada nas células T citotóxicas Um defeito da detoxicação hepática e cutânea de metabólitos
e NK, a granulisina, está sendo aceita como parte da patogênese. medicamentosos pode ser observado em alguns pacientes propensos
- não há participação importante dos anticorpos. → ocorre maior acúmulo das hidroxilaminas reativas do metabolismo
das sulfonamidas e óxidos de areno do metabolismo dos
O resultado final é a necrose dos queratinócitos, que gera o anticonvulsivantes aromáticos, sendo que esses metabólitos estão
descolamento da epiderme, acometimento mucoso (uretrite, envolvidos na gênese da síndrome.
estomatite, balanite, vulvovaginites, conjuntivite, uveíte e panoftalmia)
e sintomas gerais (febre, mialgia, artralgias).
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
- as lesões orais são bastante dolorosas. A biópsia da pele é exame complementar definitivo → demonstra
derme com mínimo infiltrado de células inflamatórias, predomínio de
Pode ocorrer acometimento da gengiva, faringe, laringe e até esôfago linfócitos T CD4+, necrose da epiderme e a junção derme-epiderme
e traqueia. mostra alteração vacuolar a bolhas subepidérmicas.
- o infiltrado dérmico é superficial e na maior parte perivascular e, na
microscopia eletrônica, a conjuntiva revela metaplasia epitelial
escamosa, rompimento vascular e reduplicação.
Fatores prognósticos devem ser sempre avaliados, o que facilita a
adoção das medidas necessárias → escore de gravidade SCORTEN
(SCORe of Toxic Epidermal Necrosis) considera:
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
PROGNÓSTICO
As lesões de pele geralmente não deixam cicatrizes, mas lesões de
mucosa podem ser uma complicação tardia, podendo causar
sangramentos e estreitamentos dos locais afetados.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
As sequelas mais comuns da NET são lesões oculares, incluindo a Outras complicações correspondem a cicatrizes cutâneas, nevos
síndrome do olho seco, fotofobia e sensação de corpo estranho no melanocíticos eruptivos, estenose vulvovaginal com subsequente
olho. dispareunia, fimose, despigmentação ou hiperpigmentação cutânea,
xerostomia, bronquiectasia, bronquite e bronquiolite obliterante.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
TRATAMENTO
Após a suspensão do medicamento envolvido, que é a principal Pode-se fazer uso de glicocorticoides sistêmicos (1 a 1,5 mg de
medida terapêutica a ser estabelecida, a melhora ocorre gradualmente prednisona), que deve ser mantido até controle absoluto da doença (4
dentro de 6 a 9 semanas. a 6 semanas). Em caso de piora do quadro, deve-se considerar o
pulso de corticoide ou uso de imunoglobulina.
REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 9
PATOGENIA E HISTOPATOLOGIA
A etiopatogenia ainda não é completamente conhecida, mas aceita-se
uma predisposição genética, com herança multigênica, mas que
requer fatores ambientais para sua expressão → se um dos
progenitores tem psoríase, a chance de aparecer a doença no
descendente é de 8%; se os dois pais têm psoríase, a chance eleva-
se para 40%.
Existe uma correlação da forma cutânea vulgar (mais comum) com os
antígenos HLA-Cw6, B13 e B17, enquanto as formas artropática e
pustulosa estão mais relacionadas ao HLA-B27 (importante marcador
genético das espondiloartropatias soronegativas).
A psoríase é uma doença que cursa com atividade inflamatória da
derme papilar (justificando o eritema) e hiperproliferação da epiderme
(justificando espessamento e descamação).
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
PSORÍASE INVERTIDA Faz diagnóstico diferencial com outras causas de eritrodermia difusa,
como farmacodermias, dermatite atópica e micose fungoide com
Placas eritematosas crônicas com pouca ou nenhuma descamação, síndrome de Sézary.
localizadas nas regiões intertriginosas/de flexura (axilas, região
inguinal, genitália, pescoço). Costumam ser pruriginosas.
Ocorre com frequência em pacientes infectados pelo HIV e
melanodérmicos.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Em 2006, componentes do GRAPPA (Group of Research and O lúpus eritematoso cutâneo subagudo pode apresentar lesões
Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis) desenvolveram e psoriasiformes em áreas fotoexpostas e o exame histopatológico pode
validaram o CASPAR (Criteria Classification of Psoriatic Arthritis) que definir o diagnóstico.
tem sido amplamente usado, não diagnosticando apenas a artrite
A psoríase no couro cabeludo costuma se manifestar por placas bem
inicial:
delimitadas, o que as diferencia das lesões de dermatite seborreica →
Doença articular inflamatória e, pelo menos, 3 pontos nos critérios: a delimitação das lesões é também critério para diferenciar a dermatite
Psoríase cutânea atual 2 pontos seborreica da psoríase invertida.
História de psoríase 1 ponto A curetagem de Brocq geralmente permite diferenciar a psoríase em
História familiar de psoríase 1 ponto gotas da pitiríase liquenoide em que a descamação não é estratificada.
Dactilite 1 ponto
A psoríase eritrodérmica deve ser diferenciada das eritrodermias
Neoformação óssea justarticular 1 ponto
encontradas em pacientes atópicos, nas erupções medicamentosas e
Fator reumatoide negativo 1 ponto
nos linfomas → histopatologia pode ser necessária.
Distrofia ungueal 1 ponto
ESCORES
COMORBIDADES ASSOCIADAS À PSORÍASE
Com o intuito de escolher e avaliar protocolos de tratamento, foi criado
A inflamação crônica presente nas placas de psoríase está associada um instrumento para medir a gravidade e a extensão do
a aterosclerose, a maior ativação de plaquetas e a resistência periférica comprometimento cutâneo, o PASI (Psoriasis Area Severity lndex),
elevada à insulina. Tais fatos explicam a maior incidência de que avalia o grau de eritema, espessura e descamação com escores
obesidade, hipertensão, dislipidemia aterogênica e hiper- de rigor que variam de 0 a 4 e de extensão de 1 a 6.
homocisteinemia observada nos pacientes psoriásicos, que também
apresentam aumento do risco cardiovascular.
Por outro lado, do ponto de vista psicológico, pode-se interpretar a
associação da psoríase às comorbidades descritas como sendo tudo
fruto de um mesmo processo em que, com níveis variados, observa-
se depressão, perda da autoestima e “necessidade” de estar e/ou se
sentir adoentado.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado na clínica, pelo aspecto e distribuição das
lesões e, em geral, não requer complementação laboratorial.
- a curetagem metódica de Brocq possui grande valor semiológico.
O laboratório é inespecífico, com eventuais aumentos de ácido úrico
nas apresentações extensas e ativas e de VHS, α2-globulina e proteína
C reativa nas formas artropáticas.
- a leucocitose ocorre nas apresentações pustulosas extensas e,
sobretudo, agudas;
- a hipocalcemia é encontrada no impetigo herpetiforme.
Em casos de dúvidas, pode-se solicitar biópsia:
- no histopatológico, encontra-se alongamento das cristas epiteliais,
com afinamento na porção suprapapilar, papilas estão alargadas e TRATAMENTO
edemaciadas; na epiderme, ocorrem paraqueratose, desaparecimento
da camada granulosa e presença de agrupamentos de neutrófilos Não existe um tratamento definitivo da psoríase, sendo o seu objetivo
(microabscessos de Munro); podem ocorrer, particularmente na o controle clínico da doença, utilizando fármacos tópicos e/ou
psoríase pustulosa, cavidades contendo neutrófilos (pústulas sistêmicos com propriedades antiproliferativas e anti-inflamatórias
espongiformes de Kogoj). (para bloquear a proliferação exagerada dos queratinócitos e a ativação
linfocitária) → na maioria das vezes é necessário a associação de mais
de uma substância tópica e/ou sistêmica.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Como a psoríase é uma doença crônica, que pode durar muitos anos,
Algumas formas de eczema podem apresentar aspecto numular,
é importante avaliar o paciente de forma cuidadosa para fazer um bom
principalmente o eczema numular.
planejamento de tratamento, sendo que os esquemas terapêuticos
A pitiríase rósea de Gilbert, em regra, pode ser excluída pelos dois atuais incorporam regimes rotatórios de medicamentos, visando
tipos de lesões e pela evolução para a cura em 8 semanas. minimizar os riscos dos efeitos colaterais cumulativos → esse
A sífilis pode apresentar lesões psoriasiformes, porém a presença de planejamento irá depender não só do tipo da psoríase como também
outros achados, como adenopatia, placas mucosas e sorologia da extensão da doença cutânea e articular.
específica, confirmam a infecção sifilítica.
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Tomando como base a porcentagem de extensão (BSA – body surface - a principal indicação é na psoríase pustulosa generalizada, na qual
area), consideramos psoríase leve abaixo de 10% e grave acima de age rapidamente.
10% de área corporal acometida. Quando o parâmetro utilizado é o
- pode ser usado em combinação com PUVA (RePUVA);
PASI, os escores maiores que 10 classificam a psoríase em moderada
a grave. b) Metotrexato: trata-se de um agente citotóxico inibidor da síntese de
DNA por antagonismo da diidrofolato redutase. É feito na dose de 15
- a terapêutica será diferente também no caso de envolvimento
mg/semana (5 mg 12/12h por três tomadas).
sistêmico e/ou ocorrência de artrite nas suas diversas modalidades.
- a dose cumulativa do metotrexato deverá ser sempre calculada, já
que, a partir de 1,5 g, deverá ser considerada a realização de biópsia
TRATAMENTO TÓPICO hepática para prevenir a grave hepatotoxicidade (cirrose hepática).
É usado para as formas localizadas (psoríase leve a moderada). - outros efeitos adversos são: leucopenia, mucosite, intolerância
Várias são as opções (sob a forma de creme, pomada e xampu): gastrointestinal;
- corticoides tópicos (ex.: betametasona 0,05%) → deve-se prevenir c) Ciclosporina: imunossupressor que inibe a produção de IL-2 pelos
o uso exagerado, pois a longo prazo pode determinar atrofia da pele; linfócitos T. A dose inicial é de 2,5-3 mg/kg/dia.
- coaltar (alcatrão), em preparações 2-5% em vaselina ou óxido de - sua ação é mais rápida e efetiva em situações de eritrodermia, e
zinco 20%; pustulose.
- antralina (ditranol) 0,1-0,5% + ácido salicílico 1-2%, aplicado 1x/dia - pode ser usado no lugar do metotrexato em casos selecionados.
ou 1-3% em veículo aquoso, aplicar por 20-30min e retirar, 1x/dia - a função renal deve ser monitorizada e a droga suspensa se houver
(terapia de contato curto); aumento de mais de 50% da creatinina;
- calcipotriol (análogo da vitamina D) a 0,005% 1x/dia, devem ser d) Imunobiológicos: proteínas ligantes derivadas de células vivas que
evitados na face → atua diminuindo a proliferação e induzindo a objetivam bloquear moléculas/citocinas (TNF-alfa) da ativação
diferenciação terminal dos queratinócitos, além de modificarem a inflamatória mediadoras da resposta Th1, no caso da psoríase → são
resposta imune pela ligação aos receptores de vitamina D; utilizados nos casos resistentes ao tratamento convencional.
- tazaroteno (retinoide) em gel 0,1%. Os mais utilizados são os agentes biológicos inibidores do TNF-α:
No tratamento facial, podemos utilizar ainda tacrolimus ou etanercepte, infliximabe, adalimumabe, golimumabe e certolizumabe.
pimecrolimus como alternativa ou para poupar os corticoides. e) Apremilast: agente oral inibidor de fosfodiesterase tipo 4, capaz de
reduzir algumas citocinas envolvidas na patogênese da psoríase.
FOTOTERAPIA Devido ao fenômeno de rebote, os corticosteroides sistêmicos
raramente são usados → no entanto, apenas em situações de
É uma opção para a terapia da doença moderada a grave ou refratária
às medidas tópicas. A terapia tópica geralmente é necessária de forma emergência, em que não se tenha outro recurso, pode ser usada
adjuvante e para alívio sintomático. corticoterapia por tempo limitado, com o cuidado de, a seguir,
introduzir outro medicamento que possa sustentar a melhora obtida.
A fototerapia utiliza a aplicação da radiação ultravioleta nas lesões
psoriásicas. Existem dois métodos:
DERMATOVIROSES
1) PUVA (Psoraleno + UVA): consiste na aplicação de doses
progressivas (2-3x/semana) de radiação UVA, aplicadas após 2h da Os vírus são organismos intracelulares obrigatórios caracterizados por
ingestão do Metoxipsoraleno (MOP), substância fotossensibilizante. A apresentarem um só tipo de ácido nucleico (DNA ou RNA), sendo que
combinação do psoraleno com os raios UVA inibe a síntese do DNA os vírus de maior interesse para a dermatologia são os do grupo DNA.
da lesão, determinando progressiva regressão. Após cada aplicação,
Os vírus agem de maneira direta, alterando o metabolismo das células
é fundamental a proteção contra a luz solar por 24h, sendo necessário
parasitadas, sendo assim as infecções virais podem ser de três tipos:
também o uso de óculos escuros neste período.
- citolítica: vírus penetra na célula, se replica e provoca a morte celular
- além dos efeitos colaterais imediatos, geralmente leves, múltiplas
precoce, com liberação do vírus no fluido extracelular → por ex.,
sessões de PUVA podem aumentar o risco de envelhecimento cutâneo
herpes, varíola;
e carcinoma espinocelular da pele.
- infecção permanente: vírus quase não altera o metabolismo e
2) Método de Goeckerman (coaltar + UVB): uma pomada de coaltar é
multiplicação da célula, podendo ser lento ou rápido seu processo de
aplicada em todas as lesões e o paciente é submetido a doses diárias
replicação, sendo eliminado por brotamento da superfície da célula,
de UVB. Possui eficácia semelhante à PUVA.
podendo então penetrar em outra célula → por ex., HPV (verrugas);
- infecção integrada: o vírus, ou parte dele, se integra ao DNA celular,
TRATAMENTO SISTÊMICO mudando as características da célula infectada ou induzindo a
Indicada nos pacientes refratários ou com contraindicação à transformação neoplásica → por ex., vírus Epstein-Barr.
fototerapia e nos casos graves e extensos de psoríase (especialmente As infecções virais podem ser localizadas (verrugas, moluscos),
a psoríase eritrodérmica e forma pustulosa generalizada, bem como generalizadas (rubéola) ou inaparentes (herpes simples).
na forma artropática).
a) Acitretina: é um derivado do ácido transretinoico que substituiu o
etretinato na terapia da psoríase, por ter meia-vida mais curta e,
portanto, melhor risco de teratogenia em mulheres. A dose é de 0,5-
1,0 mg/kg/dia por 3-4 meses.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
papilomavirus humano
Predomina no dorso das mãos, dedos (região periungueal), pés e
joelhos de crianças.
Os “pontos vermelhos ou castanhos” são patognomônicos da verruga
O papilomavírus humano (HPV) é um vírus DNA medindo 45-55 nm,
vulgar, sendo mais facilmente visualizados pelo dermatoscópio →
da família dos papovavírus, que infecta células epiteliais da pele ou
representam alças capilares trombosadas das papilas dérmicas.
mucosas, constituindo o agente etiológico das verrugas.
Existem mais de 100 tipos de HPV, um grupo infectando a pele
(causando as verrugas) e o outro grupo a genitália (causando o
condiloma acuminado, neoplasia intraepitelial e carcinoma de colo
uterino, vulva, pênis e ânus).
As VERRUGAS são proliferações epiteliais na pele e mucosas,
causadas por diversos tipos de HPV.
As verrugas periungueais podem envolver o hiponíquio e o leito
A prevalência de verrugas é maior em crianças e adolescentes, com ungueal, levando à distrofia local da lâmina ungueal, constituindo
pico entre 12 e 16 anos de idade, sendo 70% verrugas vulgares, 24% problema de difícil terapêutica.
plantares e 3,5% planas, e, atualmente, existe uma incidência
ascendente das lesões genitais.
- estima-se que 30-50% dos adultos sexualmente ativos (20-40 anos)
estão infectados com o HPV → a maioria das displasias de colo de
útero e de cânceres está relacionada com o HPV oncogênico.
Há alta incidência de infecção por HPV em pessoas com depressão da
imunidade celular.
A transmissão ocorre por contato direto (interpessoal, sexual, parto)
ou indireto, especialmente em locais públicos, ou por autoinoculação
→ geralmente pequenos traumas são necessários para que ocorra a As verrugas dos açougueiros, causadas pelo HPV-7, bem como pelos
inoculação do HPV. O período de incubação é v ariável, sendo em HPV tipos 1 e 4 das verrugas vulgares, são encontradas nas mãos e
média de 3 meses. nos dedos de manipuladores de carne.
Dependendo do estado imune, as verrugas podem involuir
espontaneamente ou aumentar em número e tamanho. VERRUGA PLANTAR
Pelo efeito de pressão do corpo, as verrugas plantares têm
ETIOPATOGENIA crescimento endofítico, sendo pouco salientes → apresentam-se
como lesões planas com halo hiperceratórico, sendo conhecidas
O gênero do HPV de maior significado clínico é dividido em: popularmente como “olho de peixe”.
- tipos cutâneos → verrugas vulgar, plantar e palmar (tipos
1,2,27,57), verruga plana (3, 10), verruga do açougueiro (7).
- tipos mucosos, estes subdivididos em termos de evolução em baixo
risco oncogênico (tipos 6 e 11) e alto risco oncogênico (16 e 18).
No caso do acometimento cutâneo, a infecção ocorre nas camadas
mais superficiais da pele, ativando o crescimento anormal das células
da epiderme, de forma localizada, causando o surgimento da verruga,
Por causa da pressão, a proliferação epitelial penetra na derme,
que é uma pápula hiperceratósica.
tornando a lesão muito dolorosa, dificultando a deambulação, sendo
então denominada mirmécia (verruga plantar profunda).
FORMAS CLÍNICAS Frequentemente, as verrugas plantares desenvolvem-se mais em
superfície, formando placas hiperqueratóticas → são as verrugas em
As lesões clínicas resultantes das infecções por HPV podem ser
mosaico, menos dolorosas para a deambulação.
divididas em duas categorias:
1) Cutâneas: verrugas vulgares, filiformes, planas, plantares (tipos
mirmécia e mosaico), anogenital e papulose bowenoide;
2) Extracutâneas: ocorrem nas membranas mucosas e incluem
verruga vulgar oral, condiloma acuminado oral, hiperplasia epitelial
focal, papilomatose oral florida, papiloma nasal, papiloma conjuntival,
papilomatose laríngea e verrugas da cérvice.
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VERRUGA PLANA A aplicação de ácido acético (3 a 5%) nas mucosas vaginal e cervical
e no pênis revela lesões inaparentes por ganharem coloração
São pápulas planas de 1-5 mm, ligeiramente salientes (liquenoides), esbranquiçada.
de cor levemente amarelada (cor clara a castanho-escura), sendo
numerosas e predominando no dorso das mãos, no antebraço,
pescoço e na face.
- muitas vezes mostram-se em arranjo linear, pelo fenômeno
isomórfico.
Ocorrem principalmente em crianças e adolescentes, por isso a
denominação verruga plana juvenil.
VERRUGA FILIFORME
São elementos filiformes (semelhante a espículas) muito ceratósicos,
em geral isolados e pouco numerosos, saindo de forma perpendicular
ou oblíqua à pele.
Predominam na face (pálpebra, comissuras da boca) e pescoço.
PAPULOSE BOWENOIDE
A etiologia está relacionada com o HPV, sobretudo do tipo 16.
Caracteriza-se por múltiplas pápulas ou placas verrucosas,
hipercrômicas ou eritematoacastanhadas, em média com 4 mm de
diâmetro.
Localização preferencial na genitália externa, como pênis, vulva, região
VERRUGA GENI TAL (CONDILOMA ACUMINADO) perianal, períneo e, eventualmente, região inguinal de adultos jovens
A transmissão é sexual, sendo causada na maioria das vezes pelos sexualmente ativos.
tipos 6 e 11, de baixo risco oncogênico. Aproximadamente 80% das
pessoas sexualmente ativas serão portadoras do vírus em algum
momento de suas vidas.
A maioria dos indivíduos infectados e que elimina o vírus do
condiloma nas secreções genitais não apresenta lesões e não sabe
que está infectado. O vírus é altamente transmissível, passando para
2/3 dos contactantes e a melhor maneira de prevenir é reduzindo o
número de parceiros sexuais (que é o principal fator de risco).
O condiloma acuminado manifesta-se como lesões verrucosas
vegetantes, com aspecto de couve-flor, úmidas e róseas, com À patologia, observam-se alterações citológicas típicas da doença de
superfície aveludada, de tamanho variado, podendo ser isoladas ou Bowen (carcinoma espinocelular in situ, fase precoce e localizada),
agrupadas. com atipias celulares na epiderme, em arquitetura que lembra a do
condiloma acuminado.
- ocorrem na mucosa da glande, vulva, ânus e vagina, e ainda podem
acometer o ânus e região perianal. Evolutivamente, as lesões podem involuir espontaneamente, persistir
indefinidamente ou evoluir para doença de Bowen ou espinalioma.
Em geral são assintomáticas, mas podem ser pruriginosas, dolorosas,
friáveis ou sangrantes. Prevenção é feita, assim como nas demais ISTs, com o uso de
preservativo. Recorrências são frequentes.
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PODOFILOTOXINA
Em solução alcoólica ou creme a 0,5%, aplicada 2 vezes/dia durante
3 dias na semana, por até 4 semanas. Por ser menos irritante que a
podofilina, pode ser utilizada pelo paciente em casa. Não contém
quarcetin, motivo pelo qual não provoca alterações displásicas.
Não está estabelecida sua segurança na gravidez. Apresenta índices
de clareamento de 80%.
IMIQUIMODE
Acredita-se ser uma doença multifatorial em que o agente viral, em Promove ação imunomoduladora, ativando a imunidade inata e a
especial o HPV-5, soma-se à predisposição genética e imunológica e celular (Th1) pela indução das citocinas pró-inflamatórias, como INF-
a fatores ambientais, como o sol, levando à expressão clínica da α, TNF-α e as IL-1, IL-6, IL-8 e IL-12. Além disso, induz a apoptose
doença. e ativa os linfócitos B, potencializando a resposta imunológica contra
as células alteradas pelo HPV. Desta forma, o imiquimode não destrói
Especialmente nas lesões das áreas expostas, pode-se processar a as lesões, mas induz a secreção local de citocinas, que contribuem
transformação maligna, como o carcinoma in situ, quando causada para a eliminação das lesões.
pelo HPV-5, pois este apresenta elevado potencial oncogênico.
- ao mesmo tempo, mantendo a imunidade favorável, as taxas de
Os cânceres são múltiplos, e surgem a partir da 3ª à 4ª década da recorrência com este medicamento são menores do que com a
vida. podofilotoxina.
- nos pacientes com a imunidade preservada, raramente ocorrem Na apresentação em creme a 5%, pode ser aplicado 3 vezes/semana
metástases, a menos que sejam tratados com irradiação, o que torna até o máximo de 16 semanas. É removido com água após 6 a 10 h.
as lesões bem mais agressivas.
Efeitos colaterais: eritema, prurido e queimação, na maioria das vezes
Com a maior sobrevida de pacientes imunodeprimidos, em especial suportáveis.
com AIDS, tem sido descrita uma forma da doença denominada
epidermodisplasia verruciforme adquirida (epidermodisplasia Não está estabelecida a sua segurança na gravidez. O seu preço é fator
verruciforme-like) de comportamento similar à doença genética, limitante de uso.
porém os pacientes apresentam maior susceptibilidade a desenvolver Usado em: verrugas vulgares, plantares (lesões resistentes), e nos
carcinoma espinocelular (CEC). condilomas acuminados.
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ÁCIDO TRICLOROACÉTICO
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Por ser extremamente cáustico, o ácido tricloroacético (TCA) deve ser
empregado com muito cuidado, em concentrações que variam de 30 As lesões dermatológicas encontradas são pápulas semiesféricas com
a 70%, a cada 5 a 7 dias. umbilicação central (leve depressão), medindo aproximadamente 0,5
cm, geralmente agrupadas e sem base eritematosa, com cor de cera.
É aplicado diretamente nas lesões e está indicado nos casos não Na maioria dos casos, é assintomática, exceto se infectada, quando
responsivos à podofilina, sendo empregado principalmente para pode ser dolorosa.
verrugas do pênis.
- geralmente se localizam na face, tronco, membros e genitália (mais
Não é contraindicado na gravidez. Nas lesões ceratóticas não comum nos adultos).
responsivas à podofilina, pode-se aplicar TCA para então utilizá-la.
Elas disseminam-se pelo toque, por autoinoculação, e pelo ato de
CRIOTERAPIA COM NITROGÊNIO LÍQUIDO coçar, ou após o barbear/depilação, e podem resultar em uma
distribuição linear das lesões.
É indicada para lesões genitais maiores, em especial nas lesões da
uretra, vaginais e perineais, tanto em adultos como em crianças.
Trata-se de um método eficaz que consiste na destruição das lesões
por meio de congelamento → é bastante doloroso.
Mostra índice de clareamento de 50 a 80% e recorrência de 20 a 30%
e, após 6 meses de seguimento, 70%.
Pode ser usado em todos os tipos de lesões.
CIRURGIA E ELETROCIRURGIA
Em pacientes imunodeprimidos (Aids), pode-se encontrar lesões
Está indicada apenas nos casos de lesões gigantes não responsivas a
maiores e mais numerosas.
terapêuticas prévias, ou quando houver suspeita de transformação
maligna. As lesões persistem por meses ou anos e acabam por desaparecer;
podem involuir precocemente pela instalação de hipersensibilidade
Nunca fazer cirurgia com exérese e sutura nas verrugas vulgar e
celular, o que se expressa clinicamente por eritema, descamação,
plantar (causa disseminação local do vírus).
infiltração e, por vezes, prurido.
A exérese está indicada nas verrugas filiformes.
Existem duas micoses profundas, histoplasmose e criptococose, que
A eletrocoagulação com curetagem pode ser feita nas verrugas podem se expressar clinicamente com lesões semelhantes ao
vulgares (tratamento eletivo), periungueais, planas e no condiloma molusco nos pacientes com Aids.
acuminado gigante (indicação eletiva).
DIAGNÓSTICO
VACINAÇÃO
O diagnóstico é clinico, mas pode-se realizar a avaliação histológica
Indicada para prevenção de infecção e, consequentemente, dos que revela a inclusão de grandes corpos intracitoplasmáticos nos
cânceres cervical, vulvar e anal. queratinócitos epidérmicos (corpos de Henderson-Patterson –
Uma das vacinas, é uma vacina recombinante quadrivalente (HPV-6, material viral eosinofílico ocupando o citoplasma e deslocando o
11 – cepas mais frequentes; 16 e 18 – cepas mais oncogênicas), para núcleo dos queratinócitos para a periferia).
uso intramuscular em duas doses (0 e 6 meses).
A indicação atual é para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a TRATAMENTO
14 anos. Para os infectados por HIV, a faixa etária é de 9 a 26 anos,
CURETAGEM : é o melhor método, onde as pequenas pápulas podem ser
em três doses (0, 2 e 6 meses).
rapidamente removidas com uma cureta, com ou sem anestesia local
De acordo com a Anvisa, a vacina quadrivalente é aprovada para → o sangramento é controlado com pressão com gaze ou uma
mulheres entre 9 a 45 anos e homens entre 9 a 26 anos; enquanto a solução de Monsel.
bivalente é aprovada para mulheres entre 10 a 25 anos.
A curetagem é útil quando há poucas lesões, pois fornece o tratamento
mais rápido. A lidocaína/prilocaína creme (EMLA) aplicada 30-60min
Molusco contagioso
antes do tratamento ajuda a evitar a dor de curetagem.
É necessário o retorno a cada 2 semanas para tratar possíveis lesões
Causado pelo maior vírus já encontrado, mede cerca de 300 nm → que apareçam posteriormente.
este vírus é do tipo DNA que pertence ao grupo Poxvírus, em especial
ao subgrupo Parapoxvírus. O vírus do molusco contagioso (MCV) CRIOCIRURGIA : é o tratamento de escolha para os pacientes que não se
apresenta 4 subtipos distintos, sendo o MCV1 o mais prevalente e o opõem à dor. A pápula é pulverizada ou tocada levemente com um
MCV2 o mais frequente em adultos. cotonete molhado em nitrogênio até que a borda congelada, branca,
que está avançando, progrida até o lado da pápula, formando um halo
Acomete a pele humana e é transmitido pelo contato próximo de 1 mm na pele normal, circundando a lesão. Isso deve levar 5
interpessoal, sendo mais comum em crianças e adolescentes. segundos.
Também ocorre em adultos, normalmente transmitido por via sexual, Uma abordagem conservadora é necessária, porque o congelamento
especialmente em pacientes imunocomprometidos. excessivo produz hipopigmentação ou hiperpigmentação.
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HIDRÓXIDO DE POTÁSSIO : empregado a 5 ou 10%. Aplicar nas lesões IMIQUIMODE : uso eventual em casos resistentes e recidivantes,
diariamente, suspendendo quando surgir irritação. Eficiente, simples particularmente em imunodeprimidos. Aplicação por várias semanas.
e econômico, indicado em lesões numerosas e recidivantes.
REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
WOLFF. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. 2014
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
problema 10
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
DERMATOSES PRÉ-CANCEROSAS
As dermatoses pré-cancerosas são aquelas que, adquiridas ou
genéticas, podem evoluir para um verdadeiro câncer cutâneo (mais de
10-20% sofrem transformação) ou já constituírem um câncer de pele
em estágio inicial → os limites entre dermatose pré-cancerosa e
câncer cutâneo nem sempre são precisos.
Não existe um quadro clínico peculiar, os achados clinicopatológicos
são extremamente variados e polimorfos.
Existe uma gama de cancerização, que varia de:
- afecções cancerizáveis, como as cicatrizes, especialmente as
decorrentes de úlceras onde a evolução maligna é relativamente pouco
comum e no seu aspecto histopatológico há ausência de atipias
celulares;
- estados cancerígenos, correspondem ao meio do espectro, já que
apresentam certo grau de anaplasia celular e frequentemente se
transformam em verdadeiros cânceres, desde que sejam mantidos os A histopatologia da lesão mostra hiperqueratose e paraqueratose, com
estímulos cancerígenos → por ex., ceratoses actínicas e tóxica áreas de atrofia e acantose na camada malpighiana → as células
(coaltar e arsênico); malpighianas mais profundas apresentam atipias com disposição
desordenada, porém com a camada basal intacta.
- dermatoses blastoides, constituem o outro extremo do espectro,
com características histopatológicas da malignidade e que terminam, Na ceratose actínica que há exagerada produção de camada córnea,
quase sempre, em quadros invasivos e metastizantes → ex.: doenças aparece clinicamente o corno cutâneo → não é especifico, pois outras
de Bowen (carcinoma in situ), onde as células neoplásicas não patologias também se expressam clinicamente dessa forma, como
ultrapassam o epitélio. nevos verrucosos, verruga viral, ceratose seborreica e carcinoma
espinocelular → deve-se realizar a retirada e exame histopatológico.
Ceratose actinica
É a lesão pré-maligna mais comum, também conhecida como ceratose
solar ou inadequadamente, ceratose senil, visto que não é um sinal de
velhice, mas sim uma manifestação da irradiação solar cumulativa,
progressiva, persistente e duradoura que leva à proliferação de
queratinócitos aberrantes, por isso, sua localização preferencial é nas
áreas expostas (face, lábio inferior, pescoço e membros superiores ou
couro cabeludo em indivíduos calvos).
TRATAMENTO
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O tratamento é feito preferencialmente por destruição mecânica quer
São lesões maculopapulosas, múltiplas e pequenas, discretamente seja pela eletrodessecação, pelo nitrogênio líquido ou pela aplicação
salientes, de coloração acastanhada e superfície rugosa/áspera, de ácido (ácido tricloroacético 50 a 90%).
podendo ser recoberta por escamas secas e aderentes (ao serem
Quando em grande quantidade de lesões, o uso de substâncias
destacadas, podem ocasionar pequenas hemorragias) e crostas →
químicas fica melhor indicado, como o masoprocol a 10% em creme,
essas lesões podem confluir, formando placas.
embora cause eczema de contato em cerca de 10% dos pacientes,
O curso da lesão é crônico e o aparecimento de halo eritematoso, parece ter melhor tolerabilidade do que a 5-fluorouracila.
mesmo nas lesões pequenas, e a infiltração na base podem indicar
transformação carcinomatosa → esse tipo de lesão tem potencial O uso de 5-fluorouracila tópico serve tanto para o tratamento como
risco de transformação em carcinoma espinocelular (CEC), com baixo para revelar o início de algumas ceratoses ainda não clinicamente
risco de metástase. visíveis → isso ocorre pela substância ter predileção por células em
mitose, originando, nessas áreas, certo grau de eritema inflamatório,
As lesões iniciais da ceratose actínica podem estar associadas a lesões geralmente intenso, sendo justamente esse quadro inflamatoiro que
pigmentares também frequentes nas áreas expostas da pele de muitas vezes inviabiliza seu uso.
pessoas idosas, a melanose solar/actínica.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Um tratamento bastante eficaz é a terapia fotodinâmica, que emprega Recentemente, a aplicação do gel de mebutato de ingenol (Picato®),
o ácido metilaminolevulínico 160 mg/g em creme e luz vermelha um indutor de morte celular, nas concentrações de 0,015% para
(comprimento entre 570 e 670 nm) → a aplicação é feita com uma lesões na face ou no couro cabeludo e 0,05% para
espessa camada e até por 5 mm da lesão, que deve ser coberta por tronco/extremidades, por 3 e 2 dias respectivamente, mostrou-se
material opaco. Aguarda-se por 3 h e a exposição dura cerca de 8 a 9 igualmente eficaz. Irritação local ocorre em mais de 90% dos casos,
min; as lesões muito ceratósicas devem ser curetadas previamente. incluindo em ordem decrescente eritema, descamação, formação de
Deve-se repetir, se necessário, em 3 meses. crosta, edema, vesiculação/pustulização, erosão, prurido e dor que
tem seus picos com 7 dias após o tratamento e podem persistir por
O diclofenaco de sódio a 3% em gel, 2 vezes/dia, por 60 a 90 dias,
cerca de 2 semanas.
também é uma alternativa válida.
Ceratoses toxicas
Têm praticamente as mesmas características das anteriores, com Surgem várias décadas após a ingestão crônica de arsênico → podem
diferenças de localização → as produzidas pelos hidrocarbonetos ser decorrentes de ingestão de água contaminada (certas regiões),
aromáticos localizam-se, sobretudo, nas áreas de contato da ingestão voluntária de solução de Fowler (remédio antigo para
substância, quer como medicamento (coaltar, antralina e outros), quer psoríase e tônico fortificante) ou outros preparados que contenham
como produto de manipulação industrial (derivados do petróleo). arsênico inorgânico e, mesmo, inalação (inseticida).
- são muito menos frequentes atualmente devido à prática responsável As ceratoses arsenicais têm o potencial de transformação em CEC in
de utilização dos EPI. situ ou invasivo.
As ceratoses arsenicais são múltiplas e puntiformes, com localização Polineuropatia simétrica, anemia, leucopenia, trombocitopenia,
preferencialmente palmoplantar. Outras manifestações clínicas são alopecia e alterações tipo acrodermatite e tromboangiite nas pernas
hipercromias com pequenas despigmentações em gota, podem ocorrer.
predominantemente em axilas, virilhas e mamilos.
O tratamento é o mesmo da ceratose actínica.
- pode estar associada a múltiplas lesões de CBC do tipo superficial e
da doença de Bowen.
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Radiodermite Leucoplasia
Decorre de aplicações de radioterapia com fins terapêuticos, de Caracteriza-se por placas brancas em mucosas, sobretudo na mucosa
exposição acidental ou mesmo de exposição profissional → em geral, oral → essas placas variam em número, são discretamente elevadas
é decorrente de múltiplas aplicações, e a lesão surge meses ou anos e não removíveis mecanicamente; outras vezes, o aspecto é salpicado
após as exposições (radiodermite crônica). e, até mesmo, variegado.
Clinicamente, a pele é xerótica e a área acometida apresenta-se - em alguns casos, tornam-se discretamente vegetantes, enquanto em
poiquilodérmica (atrófica com telangiectasias, hipo-hiperpigmentada), outros, tornam-se erosivas e/ou ulceradas (sinal de possível
podendo ter alguns pontos de ceratose e mesmo ulceração. malignização).
Não é infrequente o aparecimento de CEC, que tende a metastatizar Podem ser idiopáticas ou decorrentes de processos irritativos ou
precocemente. Quando a pele não está muito alterada, ou seja, traumáticos (dentaduras, corrente galvânica por metais diferentes em
aparentemente normal, em geral surge o CBC predominantemente do prótese dentária, fumo).
tipo superficial. É rara a transformação sarcomatosa. Em cerca de 10 a 30% dos casos, há transformação para CEC.
A retirada do agente causal quase sempre faz regredir a lesão; a
exérese cirúrgica é um bom recurso.
No diagnóstico diferencial, devem ser considerados líquen plano,
disceratose congênita, sífilis secundária, LES e candidíase.
e
Em geral, são tumores com poucas atipias e bem diferenciados que
podem requerer múltiplas biópsias para um diagnóstico de certeza.
Ocorre mais em áreas fotoexpostas (cabeça, pescoço e pernas),
- a luz de Wood pode auxiliar no local a ser escolhido para biopsia, mostrando o papel da RUV, mas também pode ocorrer em áreas não
pois, eventualmente, gera fluorescência que lembra brasa no local da fotoexpostas, preferencialmente em pacientes acima dos 60 anos.
transformação.
- atualmente, em certos casos têm sido incriminados alguns tipos de
Nos casos advindos de queimadura, tem comportamento mais HPV.
agressivo.
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Carcinoma Basocelular
Também chamado de epitelioma basocelular ou basalioma, é o mais
benigno dos tumores malignos de pele, pois constitui-se por células
que se assemelham às células não queratinizadas da camada basal da
epiderme → o crescimento é muito lento.
Pode ser considerado incapaz de originar metástases (melhor
prognóstico), sendo que os casos onde estas foram descritas são
exceções (< 1%), porém, possui malignidade local, sendo capaz de
invadir e destruir tecidos adjacentes, inclusive ossos.
É o câncer mais comum, correspondendo a cerca de 75% de todos
os tipos de câncer da pele, ocorrendo geralmente em indivíduos acima
O tratamento consiste na terapia tópica que deve ser guiada pelo dos 40 anos (especialmente idosos), com fatores predisponentes de
tamanho, localização da lesão e idade do paciente. exposição à luz solar e pele clara (é raro em pessoas negras).
- opções são semelhantes às para a ceratose actínica, como: excisão - a maior ocorrência em determinado sexo depende da população de
e sutura (preferencialmente), terapia fotodinâmica, imiquimod, 5- estudo;
fluorouracil, criocirurgia ou eletrocoagulação.
- outros fatores desencadeantes incluem irradiações radioterápicas
prévias, absorção de compostos de arsênico e cicatrizes antigas (raro
ERITROPLASIA DE QUEYRAT quando comparado ao CEC).
Atualmente, está sendo questionada a exposição solar continuada,
É a denominação dada à lesão em placa bem delimitada, com
visto que o CBC não é reproduzível em animais de laboratório em
superfície aveludada e brilhante, eritematosa, localizada no pênis, em
exposição constante à luz e, sim, o carcinoma espinocelular (CEC) →
geral de homens não circuncidados (> 40 anos), cuja patologia é
acredita-se na importância da exposição solar de maneira intermitente.
semelhante à da doença de Bowen, sendo então sua equivalência de
localização na mucosa (glande, prepúcio, uretra, bucal ou mucosa Algumas síndromes genéticas apresentam elevada frequência do
genital feminina). tumor, como a síndrome do nervo basocelular (SNBC), associadas a
mutações no gene patched (PTCH).
O traumatismo constante, higiene ruim, herpes simples genital, HPV
16 e 18 têm sido identificados como fatores de risco.
A doença de Bowen é considerada paraneoplásica, sobretudo, quando HISTOPATOLOGIA
de localização anogenital (câncer do trato geniturinário ou da cérvice
Existem vários padrões histológicos no CBC, mas a característica
uterina).
fundamental é a presença de massas de células basaloides que se
Tem chance de transformar-se em CEC invasor em 33% dos casos, dispõem perifericamente, em paliçada. Em geral, os núcleos são
sendo que ulceração, sangramento e vegetação são sinais de grandes, uniformes, pouco anaplásicos e com raras mitoses; as
transformação maligna. células não apresentam pontes intercelulares.
São características e frequentes as lacunas contíguas às massas
tumorais (retração justatumoral) → uma teoria mais recente relaciona
a existência de actina no estroma tumoral, que é um marcador de
miofibroblastos que secretam estromalisina-3, uma metaloproteinase
capaz de degradar a matriz tumoral.
O tumor pode apresentar diferenciação ou não → quando é
indiferenciado, é dito sólido e é a apresentação mais frequente, sem
relação com a agressividade do tumor; a diferenciação ocorre no
sentido dos anexos: pelo (ceratótico), glândulas sudoríparas
(adenoide) e glândula sebácea (cístico).
É interessante notar que a neoplasia é estroma-dependente, ou seja,
necessita de tecido conjuntivo para seu crescimento → a cultura de
células tumorais, na ausência do tecido conjuntivo, mostra a
Tratamento: pode ser realizado com terapia fotodinâmica, 5- conversão dessas células em células basais normais, inclusive com
fluorouracil, excisão cirúrgica, laser de Erbium ou laser de CO2. capacidade de ceratinização. Tal fato talvez explique a raridade de
metástase e, quando esta ocorre, é provável que o estroma tenha
migrado com as células tumorais.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
A velocidade de crescimento do tumor é lenta, mas a multiplicação O CBC PIGMENTADO tem forma nódulo-ulcerativa com variável
das células neoplásicas é rápida, bem como é elevada a velocidade de pigmentação melânica (de marrom a azulado ou preto) e assemelha-
morte dessas células, o que explicaria o achado frequente de amiloide se ao melanoma maligno, do qual deve ser diferenciado
intratumoral e/ou no estroma.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A localização preferencial das lesões é nos dois terços superiores da
face, acima de uma linha passando pelos lóbulos das orelhas e
comissuras labiais, com 30% das lesões localizando-se no nariz → é
menos comum em outras áreas do rosto, tronco e extremidades; não
ocorre nas palmas, nas plantas e nas mucosas.
O tipo clínico mais comum é o chamado CBC NÓDULO-ULCERATIVO,
que se inicia com uma pápula rósea, perolada, que evolui
progressivamente a nódulo, com posterior ulceração central,
recoberta por crosta que, quando retirada, determina sangramento.
- apresenta bordas cilíndricas, translúcidas, mostrando formações
peroláceas e, às vezes, finas telangiectasias.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
DIAGNÓSTICO PROFILAXIA
É realizado com base na idade adulta do paciente e na morfologia da É necessário educar a população no sentido de evitar superexposição
lesão, que é de crescimento lento, em geral na face e com aspecto solar desde o início da vida; o uso de protetores solares adequados é
perolado. útil, sobretudo nas pessoas que frequentam praia, mas elas não devem
entender esse uso como um passaporte para a exposição ao sol. Evitar
- devemos suspeitar quando qualquer lesão passa a sangrar
o uso de arsênico e alcatrão.
espontaneamente ou por mínimos traumas, crescimento súbito ou
sintomatologia local. Quem já apresentou uma vez este tumor tem maior chance de
A biópsia com exame histopatologico confirma o diagnóstico. apresentar um segundo, sendo necessário acompanhamento anual.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
TRATAMENTO
A escolha terapêutica deve ser baseada no tamanho, tempo de
evolução e localização da lesão, assim como na idade e estado
imunológico do paciente.
O CEC localizado na mucosa, pode iniciar-se em placa de leucoplasia, Nas lesões de pele recentes e < 1 cm, pode-se tratar com
por área de infiltração ou lesão vegetante. eletrocoagulação e curetagem, enquanto as lesões maiores (> 1 cm)
devem ser excisadas com suficiente margem de garantia em superfície
- no lábio inferior, ocorre em área de leucoplasia que se infiltra ou é
e profundidade. Também pode-se utilizar a criocirurgia por nitrogênio
lesão nodular;
líquido.
- nos genitais, pode surgir sobre área de eritroplasia.
Nas lesões extensas ou de longa duração, com ou sem invasão
ganglionar, é indicada a exérese ampla.
No caso de tumores recidivantes pré-tratados, tumores de limites mal
definidos ou quando há invasão de osso ou cartilagem, a melhor
terapêutica é a cirurgia micrográfica de Mohs.
A radioterapia está indicada para áreas de difícil acesso cirúrgico ou
como adjuvante no caso de metástases em linfonodos (além de
linfadenectomia).
Outra característica importante das lesões do CEC é o sangramento Em carcinomas espinocelulares muito avançados, não passíveis de
discreto, porém frequente. tratamento cirúrgico ou radioterápico, utiliza-se a quimioterapia, e,
Variante particular do carcinoma espinocelular é o carcinoma eventualmente, de acordo com a topografia do tumor, particularmente
verrucoso, de evolução lenta, aspecto anatomopatológico em tumores de cabeça, pescoço e língua, poderá ser usada a
relativamente benigno e comportamento biológico menos agressivo, quimioterapia regional intra-arterial, que permite grandes
sendo difícil de diferenciar-se de hiperplasias pseudoepiteliomatosas, concentrações dos quimioterápicos na área tumoral, minimizando-se
exigindo, às vezes, várias biópsias para esclarecimento diagnóstico os efeitos colaterais decorrentes de concentrações elevadas das
definitivo → se apresenta drogas no sangue.
clinicamente como uma - os quimioterápicos mais empregados são: cisplatina, metotrexato,
tumoração exofítica verrucosa. ciclofosfamida, 5-fluorouracila e bleomicina.
- quando localiza-se na região
plantar, corresponde ao
epitelioma cuniculatum; na região PROGNÓSTICO
genital, constitui o condiloma A evolução do CEC é lenta, no entanto, bem mais rápida que a do
acuminado gigante de Buschke- CBC. Seu prognóstico é mais grave que o do CBC, em virtude de
Löwenstein; e, na cavidade bucal, possibilidade, mais cedo ou mais tarde, de metastatização.
é representado pela chamada
papilomatose oral florida. Entretanto, o prognóstico é favorável em casos recentes e
adequadamente tratados.
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Melanoma
Mais recentemente, a associação do melanoma com a infecção pelo
vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem sido relatada, sendo as
É originado nos melanócitos e geralmente tem a pele como local lesões frequentemente descritas como atípicas, múltiplas ou
primário (apesar de poder acometer outros tecidos), sendo metastáticas.
considerado o mais maligno e agressivo dos tumores cutâneos devido - nessa situação, torna-se razoável supor que as alterações
ao seu alto potencial de produzir metástases. provocadas tanto no braço celular como no humoral do sistema
Sua incidência é relativamente baixa (representa apenas 4% das imunológico propiciem o surgimento de lesões neoplásicas, em
neoplasias cutâneas), apesar da alta letalidade. Acomete geralmente decorrência da falta de um sistema de supervisão específico, mediado
adultos entre 30 e 60 anos, sendo ligeiramente mais frequente no sexo por linfócitos T, no controle da proliferação de clones de células
masculino e na raça branca. malignas.
- localiza-se predominantemente no tronco, em homens, já nas O xeroderma pigmentoso,doença autossômica recessiva caracterizada
mulheres ocorre mais nas pernas e quadril. pela deficiência no mecanismo de reparo do DNA, apresenta risco até
2.000 vezes maior que a população normal. O albinismo também
Pode originar-se de um nevo melanocítico (1/4 dos casos) ainda que, aumenta a chance de desenvolvimento da neoplasia.
em cerca de 70% dos casos, não seja relatada a existência prévia da
lesão. A história pessoal de melanoma, por sua vez, aumenta a chance de ter
outro melanoma em até 9x e o paciente deve ser mantido sob
- a síndrome do nevo displásico representa um fator de risco de 10x vigilância ao longo de toda a vida. Outro fator, a história familiar, tem
para melanoma, geralmente mais precoces e menos espessos. um risco 5x maior, ainda que apenas 5-10% destas neoplasias sejam
verdadeiramente familiares.
ETIOPATOGENIA
O risco de desenvolvimento do melanoma está associado a fatores
HISTOPATOLOGIA
genéticos, ambientais e individuais → entre os fatores, a exposição Nem sempre é fácil fazer o diagnóstico diferencial histopatológico
solar é um dos principais. entre nevo e melanoma; há casos borderline que dificultam uma
Um dado para auxiliar o paciente com os cuidados com o sol é o decisão. Tal fato tem sido ainda mais observado a partir do advento
Índice Ultravioleta (IUV) que mede o nível de radiação solar na da dermatoscopia, tendo-se em vista que as biopsias das lesões são
superfície da Terra → quanto mais alto, maior o risco de danos à pele feitas em momentos cada vez mais precoces de sua evolução. Alguns
e de aparecimento de câncer. autores têm demonstrado que o aumento da incidência do melanoma
pode estar representado, em parte, por uma mudança nos critérios de
- o índice UV é calculado com base em vários fatores: a espessura da diagnóstico. Eles reavaliaram casos que há 20 anos foram
camada de ozônio; a cobertura de nuvens; a época do ano e a altitude diagnosticados como lesões com atipia grave, e o diagnóstico foi
da cidade. mudado para melanoma em 15% dos casos.
Categoria Índice Ultravioleta No melanoma, as principais características histopatológicas são
Baixo <2 assimetria da arquitetura, margens mal definidas e perda da
Moderado 3a5 arquitetura névica, com variação no tamanho e na forma dos ninhos;
Alto 6a7 alguns tornam-se confluentes e as células no interior dos ninhos
Muito alto 8 a 10 mostram-se menos coesas.
Extremo > 11
Há também migração de melanócitos atípicos para as camadas
A idade na qual o indivíduo inicia o hábito de se expor ao sol parece superiores da epiderme → essas células são DOPA-positivas e
ser fundamental na determinação da chance de se desenvolver a apresentam abundante atividade tirosinásica.
doença → exposição desde a infância, de forma intermitente ou com
Em uma fase inicial, limitam-se à epiderme e, eventualmente, a seus
aparecimento de queimaduras, causa maior risco de melanoma na
anexos, a não ser nos casos metastáticos ou que tenham origem em
idade adulta.
NMC, ou no nevo azul (origem dérmica). Em uma fase posterior,
Acredita-se que a transformação maligna do melanócito ocorra por ocorre perda de maturação dos melanócitos quando estes penetram
acúmulo sequencial de alterações genéticas e moleculares, algumas na derme.
vezes induzidas pelo UV.
As células são volumosas, com núcleos atípicos, hipercromáticos e
Apesar dos mecanismos patogênicos envolvidos no desenvolvimento nucléolos proeminentes → dependendo da forma e da fase, as células
do melanoma ainda não serem completamente conhecidos, vários são chamadas de pagetoides, pois lembram as células da doença de
genes e vias de sinalização já foram identificados como locais de Paget. Um infiltrado inflamatório composto por linfócitos costuma
alterações. estar presente.
- as alterações mais frequentes estão no locus CDKN2A (relacionado Na fase de crescimento
a dois genes de supressão tumoral, p16 e p14ARF), locus CSK4, via vertical, as alterações
RAS e gene MITF. citológicas são mais intensas,
O sistema imunológico também influencia a patogênese do melanoma, diminuindo inclusive a síntese
principalmente por meio da nevogênese e da modificação do do pigmento melânico que
comportamento biológico das lesões malignas → dessa forma, pode estar ausente (melanoma
imunodeficiências congênitas, adquiridas e imunossupressão em amelanótico) → nesse caso, a
transplantados ou por quimioterapia para outras neoplasias confirmação é feita por imuno-
constituem fatores facilitadores e agravantes do melanoma. histoquímica.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
As lesões do melanoma costumam ser únicas e predominam em áreas Representa de 15 a 30% dos melanomas mais comuns, acometendo
fotoexpostas, especialmente aquelas com exposição intermitente (ex.: a faixa etária de 45 anos.
dorso nos homens, porção inferior dos membros inferiores nas Esse tipo de melanoma origina-se na junção dermoepidérmica e
mulheres). estende-se verticalmente na derme (fase de crescimento vertical).
É importante o relato do paciente se o nevo cresceu, se tem prurido e
se sangra → modificações indicadoras de malignização.
De acordo com as características clínicas e histológicas e com o modo
de progressão tumoral, os melanomas são classificados em quatro
tipos: melanoma extensivo superficial, nodular, lentiginoso acral e
lentigo maligno-melanoma.
Há ainda as formas mais raras de melanoma: melanomas primários de
mucosa, amelanóticos, melanoma de órgãos internos (raríssimos), e
os excepcionais congênitos.
Qualquer uma das formas clínicas pode se transformar em
amelanótico. É uma lesão nodular ou em placa ou até polipoide, de coloração
negro-azulada ou amelanótico, de evolução rápida (meses) →
localizações preferenciais incluem dorso, cabeça e pescoço.
MELANOMA EXTE NSIVO SUPERFICIAL (MES)
O prognóstico é ruim.
É o tipo mais comum de melanoma (70%), surgindo mais
frequentemente na parte superior do dorso (homens) ou nos
membros inferiores (mulheres) como uma lesão de crescimento
moderadamente lento, no decorrer de um período de até 2 anos → é
a lesão que mais frequentemente está associada a lesões névicas
precursoras.
Surge com maior frequência entre a 4ª e 5ª décadas de vida.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
MELANOMA METASTÁTICO
É caracterizado por uma lesão maculosa de bordas irregulares de
crescimento radial prolongado e grandes diâmetros → as principais Ocorre em 15-26% dos melanomas em estágios I e II, sendo que a
localizações incluem cabeça, pescoço, dorso e mãos. disseminação da doença ocorre normalmente de acordo com uma
sequência progressiva: melanoma primário → metástase regional →
- as lesões iniciais são castanhas, enquanto as lesões avançadas metástase à distância, porém, em 20% dos casos as primeiras
exibem variações notáveis de tonalidades marrom e preto (salpicado) metástases são sistêmicas.
e aparecem como uma “mancha”.
A primeiras metástases (locais) surgem até 2 cm da cicatriz excisional
Não é uma lesão precursora, mas sim evolutiva do lentigo maligno, (satelitose) e não devem ser confundidas com recidiva local ou
uma lesão causada pela ação da luz solar sobre os melanócitos recorrência por ressecção insuficiente.
epidérmicos de idosos, com surgimento da melanose solar que evolui
para a melanose maligna (lentigo maligno), que pode ser considerada As metástases em trânsito aparecem além de 2 cm do local da lesão
um melanoma in situ. primaria, em direção aos linfonodos regionais, que são a sede das
metástases regionais.
As metástases à distancia (sistêmicas) ocorrem por disseminação
hematogênica e atingem a própria pele, subcutâneo ou vísceras
(pulmão, SNC, fígado e ossos, em ordem decrescente de frequência).
DIAGNÓSTICO
No diagnóstico clínico é importante lembrar a regra do ABCDE, para
lesões pigmentadas nas quais as variáveis a serem analisadas são:
Assimetria: perda da simetria;
Bordas irregulares: presença de reentrâncias e saliências;
Coloração heterogênea: maior ou igual a duas cores (preto, azul,
marrom, cinza, vermelho, branco) na mesma lesão;
Diâmetro: maior que 6 mm;
Evolução: qualquer alteração que tenha ocorrido na lesão – tamanho,
formato, novos sintomas (prurido, sinais inflamatórios, secreção,
sangramento).
A dermatoscopia têm sido de grande ajuda nos últimos anos, para
MELANOMA DE MUCOSA observação de determinados padrões de pigmentação e morfologia,
aumentando a acuidade diagnóstica, porém o diagnóstico de certeza
Representa cerca de 5% dos melanomas, podendo ocorrer na mucosa
é feito pelo exame histopatológico.
bucal, nasal, genital ou retal.
- é mais indicado realizar a exérese total da lesão suspeita (geralmente
O processo pode ter crescimento
com margens de 1 a 2 mm), incluindo tecido celular subcutâneo; a
lentiginoso ou nodular.
biópsia parcial deve ser limitada aos casos de lesões muito grandes;
Os melanomas da cavidade oral
O melanoma possui dois tipos de crescimento: radial (cresce para os
geralmente ocorrem de forma
lados, portanto tem melhor prognóstico) e vertical (cresce para baixo,
bilateral nas mucosas da boca e
tendo pior prognóstico, maior chance de enviar metástase, temos
gengiva. Na genitália, desenvolvem-
como ex. o melanoma nodular) → por isso, é fundamental que a
se principalmente na glande,
amostra de pele seja retirada até o tecido celular subcutâneo, já que a
prepúcio ou lábios menores do
espessura vertical do tumor é o valor preditivo mais importante para
pudendo.
o prognóstico, tratamento e seguimento.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Segundo as recomendações do GBM (Grupo Brasileiro de Melanoma), Em geral, há uma certa concordância entre os níveis de Breslow e
o laudo deve conter: tipo histológico do melanoma, fase de Clark, porém há possibilidade de melanomas com níveis II ou III de
crescimento (radial ou vertical), níveis de invasão (Classificação de Clark terem, conforme localização, espessura de 0,75 mm ou menor,
Clark), profundidade (Índice de Breslow), número de mitoses por nesses casos deve-se considerar em primeiro lugar a espessura do
milímetro quadrado, infiltrado inflamatório linfocitário peritumoral ou tumor.
intratumoral, invasão vascular (linfática e sanguínea), invasão
Classificação da espessura do melanoma maligno primário
perineural, ulceração, regressão, satelitose microscópica e margens
cutâneo (Breslow)
cirúrgicas.
≤ 1 mm
> 1-2 mm
EVOLUÇÃO > 2-4 mm
> 4 mm
Os melanomas são tumores com grande potencial de metastatização,
em função direta da fase evolutiva, da espessura, do nível de invasão
Classificação da localização do tumor (Clark)
e da presença ou não de ulceração → a espessura do tumor,
determinada pelo método de Breslow, é o fator mais importante para Nível I In situ (intraepidérmico)
a classificação do MM, a conduta terapêutica, o risco de recidiva e a Nível II Invasão da derme papilar superior
prognose. Nível III Invasão da derme papilar
Nível IV Invasão da derme reticular
Na classificação de Clark, a avaliação é feita de acordo com a Nível V Invasão da hipoderme
localização do tumor, tendo valor prognóstico menor que os índices
de Breslow.
ESTADIAMENTO
A principal forma de estadiamento se dá pelo sistema TNM (tamanho do tumor, número de linfonodos metastáticos e metástase à distância).
Estágios do melanoma
Estágio 0 (melanoma in situ) Tumor está contido na epiderme (Tis), não se espalhou para linfonodos próximos (N0) ou outro órgão (M0)
Tumor não tem mais do que 2 mm de espessura e pode (ou não) ter ulceração (T1 ou T2a), não se espalhou para
Estágio I
linfonodos próximos (N0) ou outros órgãos (M0)
Tumor tem entre 1 e 4 mm de espessura (T2b, T3 e T4) e pode (ou não) ter ulceração, não se espalhou para
Estágio II
linfonodos próximos (N0) ou outros órgãos (M0)
Tumor tem até 2 mm de espessura e pode (ou não) ter ulceração (T1 ou T2a), se espalhou para 3 ou menos
Estágio IIIa
linfonodos (só é visto sob o microscópio – N1a ou N2a) e não se espalhou para outros órgãos
Não existe sinal do tumor primário (T0) e está disseminado para apenas um linfonodo (N1b) ou para áreas muito
pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos ao redor do tumor (N1c) e não se
espalhou para outros órgãos; OU
Estágio IIIb Tumor tem até 4 mm de espessura e pode (ou não) ter ulceração (T1, T2 ou T3a), se espalhou para apenas um
linfonodo (N1a/b) ou para áreas muito pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos
ao redor do tumor (N1c) ou se espalhou para 2 ou 3 nódulos linfáticos (N2a ou N2b) e não se espalhou para
outros órgãos (M0)
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
Não existe sinal do tumor primário (T0) e está disseminado para 2 ou mais linfonodos (N2b ou N3b) ou se espalhou
para áreas muito pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos da pele ao redor do
tumor e atingiu os gânglios linfáticos próximos (N2c ou N3c) ou se espalhou para os linfonodos do grupo (N3b
ou N3c) e não se espalhou para outros órgãos (M0); OU
Tumor tem até 4 mm de espessura e pode (ou não) ter ulceração (T1, T2 ou T3a), se espalhou para os para áreas
muito pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos da pele ao redor do tumor e atingiu
os linfonodos próximos (N2c ou N3c) ou se espalhou para 4 ou mais linfonodos próximos (N3a ou N3b) ou se
espalhou para os linfonodos do grupo (N3b ou N3c) e não de espalhou para outros órgãos (M0); OU
Estágio IIIc
Tumor tem entre 2 e 4 mm de espessura ou pode ser mais espesso que 4,0 mm e tem ulceração (T3b) ou não
(T4a), se espalhou para um ou mais linfonodos ou se espalhou para áreas muito pequenas da pele próxima
(tumores satélites) ou para os canais linfáticos da pele ao redor do tumor (N1 ou superior) e não se espalhou para
outros órgãos; OU
Tumor tem mais do que 4 mm de espessura e tem ulceração (T4b), se espalhou para até 3 linfonodos (N1a/b ou
N2a/b) ou para áreas muito pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos da pele ao
redor do tumor e pode (N2c) ou não (N1c) ter atingido os linfonodos próximos e não se espalhou para outros
órgãos (M0)
Tumor tem mais do que 4 mm de espessura e tem ulceração (T4b), se espalhou para 4 ou mais linfonodos (N3a
ou N3b) ou se espalhou para áreas muito pequenas da pele próxima (tumores satélites) ou para os canais linfáticos
Estágio IIId
da pele ao redor do tumor (sem atingir os nódulos linfáticos) ou se espalhou para os linfonodos do grupo (N3c)
e não se espalhou para outros órgãos (M0)
Tumor pode ser de qualquer espessura e pode (ou não) ter ulceração (qualquer T), pode (ou não) ter se espalhado
Estágio IV para os linfonodos próximos (qualquer N) e se espalhou para os linfonodos distantes ou outros órgãos, como
pulmões, fígado ou cérebro (M1)
TRATAMENTO
A terapia do melanoma está baseada na ressecção da lesão com - até pouco tempo, a única possibilidade disponível era o interferon
margem de segurança adequada à espessura da lesão → assim, alfa em altas doses, mas seu uso tem sido desencorajada em prol do
depois de diagnosticado e estadiado pela biópsia, se o tumor não for uso de opções melhores, como a imunoterapia com os inibidores de
metastático, é realizada a excisão local para ampliação das margens. checkpoints imunológicos, representados pela classe dos inibidores
da PD1 (nivolumabe e pembrolizumabe); outra opção é o anticorpo
Espessura da lesão Margens recomendadas
monoclonal contra o receptor CTLA4 do linfócito (ipilimumabe) e a
In situ 0,5 a 1,0 cm
terapia direcionada contra a proteína quinase ativadora mitogênica
≤ 1,0 mm 1,0 cm
(MAPK) com uso do daprafenibe, trametinibe e vemurafenibe.
> 1-2 mm 1,0 a 2,0 cm
> 2,0 mm 2,0 cm Nos pacientes com melanoma metastático (estágio IV), o tempo
mediano de sobrevida estimado é em torno de 8 meses → a
A maioria dos pacientes apresenta-se em estágios iniciais I e IIA no quimioterapia não mostrou, até o momento, aumentar a sobrevida
momento do diagnóstico, quando a cirurgia é curativa em 70-90% dos global, mas se justifica pela paliação de sintomas nos pacientes que
casos. não obtiveram resposta com a terapia adjuvante com as opções
A cirurgia é o tratamento mais efetivo, sendo que, de acordo com o anteriores.
estadiamento, poderá ser acompanhada de algum procedimento - a dacarbazina, temozolomida e carboplatina/paclitaxel são exemplos
adjuvante, como linfadenectomia, quimioterapia, radioterapia ou de esquemas já avaliados.
imunoterapia.
A radioterapia fica indicada para os casos de metástases ósseas e
A investigação de envolvimento linfonodal regional deve ser feita com cerebrais.
linfocintilografia pré-operatória e biópsia do primeiro linfonodo de
drenagem (Linfonodo Sentinela – LS ou LNS) que quase sempre
corresponde ao primeiro local de implantação tumoral, pois a ACOMPANHAMENTO
disseminação ocorre tipicamente de forma ordenada e sequencial.
O acompanhamento deve incluir a história clínica e exame físico,
- a pesquisa do LS está indicada principalmente para pacientes sem principalmente no local primário, linfonodos regionais, fígado, baço,
acometimento linfonodal clinicamente detectado com espessura pulmão, cérebro (o melanoma é a 3ª causa de metástase cerebral).
tumoral > 0,8 mm ou < 0,8 mm e ulceração.
Nos pacientes sem metástases, o seguimento é feito a cada 3 meses
Pacientes com linfonodos palpáveis ou com biópsia (+) para LS devem por 1 ano e depois a cada 6 a 12 meses nos casos de melanoma com
ser submetidos à dissecção de todos os linfonodos da respectiva espessura menor de 1 mm.
cadeia de drenagens, não exatamente por aumentar a sobrevida (este
benefício ainda não está esclarecido), mas pelo fato de melhorar a - para os mais profundos, a cada 3 meses por 2 anos, a cada 6 meses
qualidade de vida do paciente. por 3 anos e depois anualmente.
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Gabriela M. N. Feitosa | Turma 73 – Pele e tecidos moles
REFERÊNCIAS
MEDCURSO. 2019
AZULAY. Dermatologia. 7 ed. 2017
RIVITTI. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2014
WOLFF. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. 2014
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