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AULA 2 – RAIVA URBANA

Aspectos Gerais
-A raiva é uma zoonose de grande importância no ponto de vista da saúde
pública, uma vez que é altamente letal para animais e seres humanos.

Antropozoonose: O agente etiológico da raiva possui origem primária nos


animais, sendo os morcegos os principais reservatórios do vírus e possui uma
ampla gama de suscetíveis (todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus da
raiva).

Perfil epidemiológico:
-Baixa mortalidade (óbitos/total da população)
-Baixa morbidade (incidente – novos casos e prevalente – casos existentes da
doença)
-Alta letalidade (óbitos entre os infectados).

Sinônimos:
-Encefalite rábica: A afecção leva a um quadro de encefalite fatal, porque o
agente etiológico é neurotrófico. O objetivo do vírus quando ele se instala no
organismo é alcançar o Sistema Nervoso Central para realizar a sua replicação

-Hidrofobia: Nome vulgar da Raiva. É conhecida por hidrofobia porque os


indivíduos infectados desenvolvem paralisia da musculatura da deglutição o
que também explica a sialorréia.
*O vírus também afeta as glândulas salivares que é por onde ele será
eliminado pela fonte de infecção.
*Além disso, o indivíduo infectado pela raiva apresenta espasmos musculares
intensos e dolorosos quando fica excitado. Levando a associação da ingestão
líquido com dor.

*Quando o morcego realiza a espoliação em um paciente não há dor, porque a


saliva do morcego possui uma substância com potencial anestésico e anti-
coagulante.

*Todos os morcegos mesmo que não hematófagos são reservatórios do vírus


da raiva.

*A eliminação do vírus rábico acontece entre 2-5 dias antes das manifestações
clínicas, sendo assim o período de transmissibilidade do vírus acontece no
período de incubação da história natural da doença.

Vírus Rábico
Família: Rhabdoviridae / Gênero: Lyssavirus
-É um RNA vírus de núcleo helicoidal com alto potencial mutagênico, método
de replicação é intracitoplasmático, possui 8 genótipos com várias variantes,
envelopado (possui baixa resistência ambiental) e com formato de projétil de
revólver.
-Sua porta de entrada é transcutânea.
-Neurotrópico, ele não circula na corrente sanguínea inicialmente, ele alcança o
Sistema Nervoso Central através da células nervosas e terminações nervosas.

-Possui 2 antígenos principais:


Superfície: Glicoproteína  responsável pela ação imunogênica que é
estimuladora para a produção de anticorpos neutralizantes (imunoglobulinas –
linfócitos B diferenciados) e induzindo assim a resposta humoral e de adsorção
do vírus na célula.

-No momento que o vírus é inoculado, ele realiza uma replicação primária no
tecido muscular

Interno: Nucleoproteína  Grupo específico, ou seja, o que determina a


variante viral. É de suma importância reconhecer a variante viral já que deste
modo é possível determinar a provável fonte de infecção e com isso realizar
medidas de controle.

-As fosfoproteínas ficam inativadas no vírus até ele fazer a adsorção celular
quando o vírus penetra na célula, este envelope fica dissolvido na membrana,
deste modo o que realmente entra na célula hospedeira é o núcleocapsídeo
ativando assim as fosfoproteínas que irão “dissolver” o capsídeo e
consequentemente expõe o RNA para que ocorra a replicação. O resultado da
ativação da fosfoproteína é o Corpúsculo de Negri.

-O Corpúsculo de Negri é achado laboratorial patognomônico da Raiva.


Características do Vírus Rábico
Lyssavirus: Possui 8 genótipos
-Genótipo 1 – Rabies vírus (RABV)  Único na América Latina e no Brasil
-RABDV – 12 variantes antigênicas  Hospedeiros naturais

No Brasil existem 7 variantes antigênicas, sendo:


-1 e 2: Cães  Determina Raiva Furiosa
-3: Morcegos hematófagos Desmodus rotundus  Raiva Paralítica
-4 e 6: Morcegos insetívoros Tadarida brasiliensis e Lasiurus cinereus  Raiva
Paralítica.

*O que determina as manifestações clínicas é variante viral!

*Outras duas variantes encontradas em um cachorro do mato e sagui de tufos


brancos  Incompatível com o painel do CDC nas Américas.
Período Patogênico da Raiva

-Há relatos em que o período de incubação pode ocorrer por 2-5 anos.
-O período prodrômico dura em torno de 2 dias, o indivíduo irá apresentar um
quadro antissocial devido a fotofobia.
-Os animais infectados não entram no período de convalescença.
-O nível sérico de anticorpos neutralizantes só é alcançado de 12 a 24 horas
chegando até 48 horas antes do óbito do paciente.
-É multissistêmico ocasionando insuficiência em diversos órgãos, já que se
dissemina no organismos por filetes e fibras nervosas.
-O indivíduo só é considerado curado da raiva quando não existe mais carga
viral, ou seja, ela é igual a zero.
-Antigamente os animais eram sacrificados em câmaras de gás.

Ciclo no organismo
Ponto de inoculação  Replicação em fibras musculares  Alcança  Células
nervosas e nervos periféricos  Trajeto centrípeto célula a célula, ou seja não
será exposto ao sistema imunológico  Junções sinápticas  SNC  Trajeto
centrífugo (breve exposição ao sistema imune, pode romper célula – resposta
humoral)  Órgãos (olhos, rins) e glândulas salivares.
-Quanto mais terminações nervosas existirem neste ponto de inoculação mais
rápido o vírus alcançará o SNC.

-O morcego hematófago gosta de se alimentar na extremidades.


Manifestações clínicas
-Depende da variante viral!
-Período Prodrômico: Manifestações clínicas inespecíficas

-Período de doença propriamente dito: Angústia respiratória, sialorréia intensa


devido a paralisia e a replicação viral nas glândulas salivares!
Se variante 1 ou 2: Agressividade. “Cachorro louco”.
-A variante 2 não acontece no estado de São Paulo desde a década de 80,
porém ainda ocorre ainda no Norte, Nordeste e também em países vizinhos
como a Bolívia.
Se variante 3, 4 ou 6: Geralmente acomete animais de produção, porém pode
acometer cães e gatos em área urbana. “Rastro” de sangue oriundo do local da
espoliação.
Diagnóstico
Difícil diagnóstico, principalmente no caso da raiva paralítica que pode ser
confundida com intoxicação e botulismo.

-Imunofluorescência direta  Identificação do Corpúsculo de Negri.

Ante-Mortem: Apenas em seres humanos!


-Decalque de células da córnea (Cornea Test)
-Biópsia da pele da região da nuca (folículo piloso com bulbo)
-Saliva

*O exame só é realizado quando a manifestações clínicas (período prodrômico)


com histórico compatível.

Pós-Mortem: Para humanos e animais (OMS e OIE)


-Fragmentos do hipocampo, tronco cerebral, tálamo, córtex e cerebelo.

*Encaminhar o cérebro inteiro ou até mesmo o animal inteiro para evitar erros
na colheita do material!

Controle e Profilaxia
-Imunização: Vacinação proveniente do Ministério da Saúde
-Controle da Fonte de Infecção:
-Controle de cães errantes  Surto – animais errantes são retirados da rua.
-Controle de morcegos  Vampiricida (Hematófagos) ou Rede de malha
finíssima.
-Controle de silvestes

Quirópteros
-Baixa acuidade visual, porém se guiam por sensores sonoros.
-Realiza a manutenção do ciclo aéreo da doença.
-São animais noturnos e por isso se forem vistos voando durante o dia é o
indicativo de mudança de comportamento.

*Centro de SP  Manutenção e sobrevivência destes animais.


*Em um estudo foi evidenciado que os animais mais infectados pela raiva são
os bovinos e os morcegos não hematófagos.
**Animais que foram expostos ao vírus ficam sob observação em domicilio
durante 180 dias e realizar terapia pós exposição.

Raiva nos Humanos – Manifestações Clínicas


-Angústia, cefaleia, perturbações sensoriais, excitação, hiperestesia, fotofobia,
sialorréia, hidrofobia (espasmos dos músculos da deglutição).

Tratamento
EUA-Jeanna (2004)  Protocolo de Milwaukee – Consiste em indução do
coma e terapia antiviral agressiva sem o uso do protocolo de pós exposição.
Brasil (2008)  Protocolo de Recife – Consiste no mesmo que o Milwaukee
(coma + antiviral), porém ganhou este novo porque foi realizado antes a terapia
de pós exposição.
-Foi essa terapia realizada no Marciano.

*Coma – Diminui metabolismo basal do indivíduo.

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