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Manual de Saude e Tecnica Vocal Teoria e
Manual de Saude e Tecnica Vocal Teoria e
Rita Fucci-Amato
2ª edição
São Carlos
J. A. Consultores
2017
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
® J. A. Consultores Associados
ISBN: 978-85-94490-00-1
CDD-808.5
-805.5
CDU 612
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Ao Lucas e ao João
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Sobre a autora
Cantora lírica, preparadora vocal e maestrina, foi também pesquisadora na área de Pneumologia
na UNIFESP e professora em nível de extensão, graduação ou pós-graduação na Universidade
Estadual Paulista (UNESP), na Universidade Federal do ABC (UFABC), na Faculdade de Música
Carlos Gomes (FMCG), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na USP e
na UFSCar.
Autora de diversos livros, nas áreas de gestão, voz, música e educação, tais como A voz do
líder: arte e comunicação nos palcos da gestão (com prefácio do filósofo Mario Sergio Cortella),
Do gesto à gestão: um diálogo sobre maestros e liderança (com prefácio do maestro Isaac
Karabtchevsky), Santo Agostinho: Deus e Música (prefácio do escritor Deonísio da Silva), Escola
e educação musical: (des)caminhos históricos e horizontes e Memória musical: retratos de um
conservatório.
Em São Paulo, dirige o grupo Nós com Voz, música vocal a cappella, e ministra cursos de
atualização na Fundação Vanzolini/USP, nas áreas de liderança e comunicação.
http://ritafucciamato.blogspot.com.br/
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Agradecimentos
A Deus, por tanta generosidade em me fazer trilhar caminhos tão luminosos na companhia de
seres humanos sábios e amorosos.
À minha querida mãe, Emma, e ao meu saudoso pai, Miguel, que me ensinaram que a vida é
plena e bela quando trabalhamos com seriedade e honestidade.
Ao meu amado companheiro João, generoso e compassivo, que faz minha caminhada ser
esplendorosa até mesmo nas dificuldades.
Ao meu amadíssimo filho, Lucas, minha inspiração e fonte de tantas alegrias, que com sua
inteligência privilegiada faz meus dias serem repletos de desafios e conquistas.
Aos professores Raymundo Manno Vieira e Ana Maria Schiefer, pela generosidade e acolhida na
minha caminhada na Escola Paulista de Medicina/ UNIFESP.
Aos meus mestres em várias épocas da vida: Leilah Farah, Mara Behlau e José Roberto de Brito
Jardim.
Aos professores Marcos Rojo Rodrigues e Daisy Rodrigues, por conduzirem tão bem as minhas
experiências de autoconhecimento na ioga.
Aos meus caríssimos coralistas e estimados alunos de todas as épocas, que me ensinaram a
compreender suas necessidades e a satisfazê-las com a busca de novos conhecimentos.
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Sumário
Prefácio
Introdução
1. A voz do professor,
1.3.2. Estudos sobre a saúde vocal de indivíduos que utilizam a voz em atividades
não profissionais,
2.2.2. A laringe
2.3.1. A inspiração
2.3.2. A expiração
2.3.3. A apneia
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3. Saúde vocal
3.4.5. Bioenergética
3.4.7. Sono
3.5.2. Cigarro
3.5.7. Ar condicionado
3.5.9. Pó e poeira
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3.5.14. Automedicação
4. Técnica vocal
4.3.2. Os pranaiamas
4.4. Vocalizes
Considerações finais
Bibliografia
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Prefácio
Um longo aprendizado que realizo há muitos anos acerca da voz culminou com esta
obra.
Tive o privilégio de nascer em uma família que apreciava a música: minha mãe tocava
acordeom e tinha uma linda voz de mezzo soprano; minha irmã mais velha, além do acordeom,
tocava piano. Na minha adolescência, participei de um grupo de jovens que cantavam nas
missas aos domingos. Foi nessa época que comecei a estudar piano com uma jovem que tocava
órgão para nós. Depois, tive a oportunidade de me desenvolver pianisticamente com grandes
mestres, como o ilustre professor Antonio Munhoz.
A paixão pelo estudo da música enraizou-se em meu cotidiano nos anos que se
seguiram. Fiz minha graduação na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em Música,
na modalidade Regência, um curso de vanguarda no Brasil, à época, e durante os 6 anos, em
período integral, que estudei naquela universidade, fui sendo seduzida de uma maneira
implacável para o canto coral, e depois para o canto lírico.
Trabalhei muitos anos como regente, em grupos vocais como o Coral Municipal de São
Carlos, nos quais tive a oportunidade de conviver com os mais variados cantores, desde
pessoas que nunca haviam cantado e desconheciam por completo seus potenciais vocais até
cantores mais experientes e com lindíssimas vozes. Em todos os coros, pude constatar que a
esmagadora maioria dos cantores não entendia quase nada a respeito de suas condições e
possibilidades vocais, o que me motivou a buscar conhecimentos para melhorar a minha
condição vocal e também a de meus coralistas. Por isso, segui com as aulas particulares de
canto lírico e encontrei uma excepcional professora, Leilah Farah, que durante 10 anos burilou
minha voz com extremada dedicação e competência.
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Nesse meio tempo, apesar de estar cantando relativamente bem, senti a necessidade de
adquirir conhecimento científico sobre a voz, o que seria muito valioso para minha atuação como
regente de grupos vocais, como o Coral Metal Leve, e como professora de técnica vocal em
cursos para regentes corais promovidos pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Fui
aceita em uma das instituições mais conceituadas do país na área de ciências da saúde, a
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)/ Escola Paulista de Medicina, e lá cursei a
Especialização em Distúrbios da Comunicação Humana, área da Fonoaudiologia. A minha
orientadora foi a Profa. Dra. Mara Behlau, que me encaminhou para os fundamentos científicos
da voz. Em minha monografia, pude desenvolver uma pesquisa com 23 cantores líricos
brasileiros profissionais, sobre o tema Análise aerodinâmica do fluxo expiratório durante a
emissão de vogais do português para a voz cantada e falada.
Esta pesquisa levou-me a conhecer o Prof. Dr. José Roberto de Brito Jardim,
pneumologista renomado da UNIFESP, que contribuiu generosamente na minha monografia e foi
o propulsor de outra pesquisa que realizei com cantoras líricas brasileiras sobre a Configuração
tóraco-abdominal durante o canto lírico. Esta pesquisa interdisciplinar, envolvendo áreas como o
canto, a pneumologia, a fonoaudiologia e a fisioterapia respiratória, transformou o meu
entendimento acerca das manobras respiratórias que utilizamos ao cantar e também contribuiu
de maneira relevante para o trabalho que desenvolvi como regente coral, cantora lírica,
professora de técnica vocal e preparadora vocal de grupos como o Coral de Universitários da
Católica (CUCA, da PUC-SP) e o Coral do Clube Alto dos Pinheiros. Posteriormente, após a
conclusão de meu mestrado e doutorado em Educação, na Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), o conhecimento adquirido na UNIFESP sobre fisiologia e propriocepção respiratória
também viria a ser essencial para as aulas de fisiologia da voz, técnica vocal, canto coral e
regência coral que tive a oportunidade de ministrar para alunos de licenciatura e bacharelado em
Música na Faculdade de Música Carlos Gomes (FMCG) e no Instituto de Artes da Universidade
Estadual Paulista (UNESP).
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Uma grande motivação para escrever este livro foi a oportunidade de ministrar um
Programa de Orientação Vocal para Professores, destinado a docentes da Universidade Federal
do ABC (UFABC), no primeiro semestre de 2009, no qual pude perceber as demandas destes
profissionais da voz falada.
A Autora.
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Introdução
Santo Agostinho de Hipona (354-430) escreveu em suas Confissões: “[...] amo uma luz,
uma voz, [...]. quando amo meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha
para a minha alma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não
arrebata [...]. Eis o que amo, quando amo meu Deus” (AGOSTINHO, 1973, p. 198). Se para
Agostinho a voz se identificava com a Beleza Suprema de Deus, a voz também é símbolo de
liberdade (“solto a voz nas estradas”, Milton Nascimento, Travessia), de autodeterminação
política e social (“a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar”, Chico Buarque, Roda
Viva), da força legitimadora da opinião popular (Vox populi, vox Dei). A voz é choro, riso, grito e
canto. É a fala que ensina, debate, dialoga. É meio de expressão de emoções, de comunicação
de saberes e sentimentos.
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A voz nasce com a vida: sua primeira manifestação é o choro. Para o filósofo francês
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), depois do choro vem a linguagem inteligível, a fala
concatenada.
Quando as crianças começam a falar, passam a chorar menos. Esse progresso é natural,
uma linguagem é substituída pela outra. Quando podem dizer com palavras que estão
sofrendo, por que o diriam com gritos, a não ser quando a dor for forte demais para que a
palavra possa exprimi-la? Se então continuarem a chorar, a culpa será das pessoas que
estão ao seu redor. (ROUSSEAU, 1995, p. 66)
O homem tem três tipos de voz, quais sejam, a voz falante ou articulada, a voz cantante ou
melodiosa, e a voz patética ou acentuada, que serve de linguagem para as paixões e
anima o canto e a fala. A criança tem esses três tipos de voz, assim como o homem, sem
saber combiná-las igualmente. Ela, como nós, tem o riso, os gritos, as queixas, a
exclamação, os gemidos, mas não sabe misturar suas inflexões [voz patética] com as duas
outras vozes [voz falante e cantante]. (ROUSSEAU, 1995, p. 177-8)
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A produção vocal cantada é, por sua vez, a expressão artística do ser humano em sua
totalidade corporal e musical, revelando as riquezas e sutilezas melódicas historicamente
datadas de um povo ou etnia. Neste sentido, “a música, concebida como função social, é
inalienável a toda organização humana, a todo agrupamento social” (SALAZAR, 1989, p. 47). O
canto é considerado, “dentro da expressão musical, o mais completo, simples e refinado dos
instrumentos, pois alcança uma riqueza, variedade e elasticidade a que não podem chegar os
aparatos mais ou menos complicados, que genericamente chamamos de instrumentos musicais”
(PERELLÓ; CABALLÉ; GUITART, 1982, p. XI). Ademais, “nenhum outro meio de comunicação
oral pode, como o canto, alcançar uma gama tão completa de matizes e inflexões” (PERELLÓ;
CABALLÉ; GUITART, 1982, p. XI). A complexa arte de cantar é resultado de treino baseado na
produção de um som musical agradável, sustentado adequadamente e de qualidade
correspondente ao estilo empregado. O canto exige um controle muscular excepcional, sendo o
resultado de um sinergismo altamente elaborado.
Vários estudos revelam que cantar é essencialmente diferente de falar, uma vez que o
controle central está em um local distinto no cérebro e a musculatura do trato vocal move-se de
maneira dessemelhante. O canto deve ser entendido como uma forma de comunicação e de
expressão dos sentimentos, tanto quanto a fala, sem dicotomizar a racionalidade que está mais
presente na voz falada e a emoção inserida profundamente na voz cantada (COSTA; ANDRADA
e SILVA, 1998, p. 141).
O estudo da emissão vocal configura uma área nitidamente interdisciplinar, que envolve
as ciências exatas, biológicas e humanas (incluindo a arte). Tradicionalmente, a fonoaudiologia é
a ciência que se ocupa, com ênfase primordial, do estudo da voz, como ferramenta de linguagem
e comunicação humana. Em seu cerne, a própria fonoaudiologia tem origem em um campo
multidisciplinar, tendo relações, segundo Amorim (1982), com as seguintes ciências: biologia,
fonética, linguística, física, filosofia, sociologia e psicologia.
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Notadamente, estudos realizados em várias áreas das ciências da saúde, tais como a
fonoaudiologia, a otorrinolaringologia, a fisiologia, a pneumologia, etc., têm implementado, de
uma forma ou de outra, o estudo e a prática vocal e, dada sua importância para a compreensão
do funcionamento do corpo como um todo, e da voz, em particular, não podem ser colocados
como secundários na prática vocal de profissionais da voz, como os professores. É justamente
sobre essa base de conhecimentos interdisciplinares (ou multidisciplinares) que se procurou
fundar os aspectos teóricos e práticos da voz desenvolvidos neste livro.
Com base nesse entendimento, estruturou-se a presente obra em quatro capítulos, cujas
abordagens se complementam mutuamente, culminando em uma visão ampla sobre a teoria e a
prática vocal, visando a permitir ao leitor uma fundamentação segura para alcançar e/ ou manter
sua saúde vocal, desenvolvendo suas potencialidades vocais. O esquema abaixo ilustra as
abordagens correlacionadas de educação vocal contidas neste livro.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Conhecimento da
saúde vocal dos
profissionais da
voz
Prática
Conhecimento da
anatomia e (exercícios de
fisiologia vocal técnica vocal)
Orientações de
saúde vocal
Inicia-se o livro com o capítulo A voz do professor, que procura apresentar uma visão
panorâmica sobre os profissionais da voz, com especial ênfase na voz docente. Primeiramente,
caracterizam-se os profissionais da voz, destacam-se as especificidades do trabalho docente em
relação à voz deste profissional, apresentando-se em seguida uma ampla revisão de pesquisas
recentes sobre a situação vocal de alguns profissionais da voz e de não profissionais da voz que
a utilizam com grande intensidade, com especial ênfase nos estudos sobre a saúde vocal de
professores.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
O capítulo que se segue é destinado ao que se costuma compreender como saúde vocal
(em sentido mais estrito), ou higiene vocal. Destaca a inter-relação corpo-voz, alguns métodos
de avaliação vocal e, finalmente, prescrições para se manter a saúde vocal, apresentando
sistemática e esquematicamente, com as respectivas explicações fisiológicas, os hábitos e
práticas favoráveis e desfavoráveis à manutenção da saúde vocal.
https://www.youtube.com/playlist?list=PL6B76D26D4E39D9D7.
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1. A voz do professor
Neste capítulo, visa-se a: (1) caracterizar a situação dos profissionais da voz, em geral,
apontando sinteticamente o que as pesquisas mais recentes sobre o tema têm revelado; (2)
caracterizar a situação profissional específica do docente, enquanto profissional da voz, bem
como salientar os resultados das pesquisas relevantes que investiguem a realidade desse
profissional sob o enfoque de sua voz.
Corretor de imóveis;
Educador físico;
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Educador musical;
Palestrante;
Político;
Profissional do Direito;
Telefonista;
Garçom;
Embora não sejam necessariamente profissionais da voz, também são pessoas que a
utilizam intensamente os coralistas amadores (cantores de corais não-profissionais, tais como
aqueles de clubes, igrejas, escolas, etc.), os cantores e atores amadores; enfim, qualquer um
que, apesar de exercer uma profissão para a qual a voz não é constantemente utilizada,
participe de outras atividades nas quais a fala e/ ou o canto são fundamentais e intensamente
requisitados.
Outra classificação que se pode destacar para a visualização das categorias a que
pertencem os profissionais da voz é a proposta por Jardim (2006, p. 75):
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Destaca-se que manter a saúde vocal é de fundamental relevância, seja para qualquer
pessoa que utiliza a voz cotidianamente, seja para aqueles que desempenham alguma atividade
não-profissional ligada à voz, seja para os profissionais da voz, especialmente. O foco nessa
categoria, os profissionais da voz, justifica-se pela importância e pelo impacto econômico que a
voz pode ter, sendo ferramenta essencial para o trabalho de boa parte da população
economicamente ativa (PEA) e podendo afetar, por exemplo, a produtividade (caso das faltas no
trabalho advindas de problemas vocais), a efetividade no desempenho de uma função (p.ex.: um
profissional da voz falada, como um professor, jornalista ou político, em estado de rouquidão) ou,
ainda, a qualidade estética de determinado trabalho artístico (p.ex.: quando um ator ou um
cantor está com problemas vocais).
Com relação aos professores, cometem grande abuso vocal principalmente aqueles que
lidam com faixas etárias mais baixas e acabam tendo de gritar mais frequentemente, por terem
mais dificuldade em manter a disciplina dos discentes.
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A respeito dos docentes, diversos estudos têm sido realizados no Brasil, mostrando a
necessidade de estes desenvolverem uma maior habilidade na percepção e no cuidado de sua
voz, tendo em vista o papel crucial desse instrumento em sua qualidade de vida e desempenho
profissional – a orientação vocal para os professores é processo essencial e tem sido inclusive
objeto de leis que obrigam as escolas públicas a oferecerem essa informação a seus docentes.
Berretin et al. (2001) colocam que a voz falada é importante para estabelecer contato
com o outro e com o mundo, por meio da exteriorização de pensamentos e sentimentos, gerando
impactos nas relações intersubjetivas e na qualidade de vida, principalmente no caso de
profissionais da voz. No que se refere ao ofício docente, a voz é um dos mais relevantes
condicionantes da performance didática: a intensidade da voz, as pausas, a respiração
adequada são essenciais para manter a atenção do alunado e garantir a eficaz transmissão de
conteúdos, tarefa que faz com que cada docente adote diferentes estratégias de emissão vocal,
criando uma identidade vocal própria. Por isso, Louzada (1982, p. 186) considera ser a docência
uma atividade que exige produção vocal de alto rendimento – ou, nos termos do autor, uma
forma de “locução de grande intensidade”.
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a uma rua de intenso movimento). Esse ruído traz ao professor a necessidade de se elevar a
intensidade (volume) da voz, a fim de tornar sua fala inteligível e de se fazer ouvir no ambiente
ruidoso, o que ocorre tanto no caso dos ruídos externos ao ambiente (controláveis apenas nos
casos em que fechar portas e janelas resolva a questão) quanto no caso dos ruídos internos,
gerados na própria classe. Neste último caso, o professor tem de procurar manter a disciplina
dos alunos, processo este que é paradoxal, muitas vezes, pois para obter o silêncio da classe o
professor pode ter de gritar, prejudicando ainda mais a sua voz e se predispondo a transtornos
vocais.
De acordo com o tipo de ruído de que trata (interno ou externo), pode-se dividir a
acústica arquitetônica em duas áreas:
b) Controle dos sons nos recintos: Sua função é melhorar as condições de cada sala,
considerando-a isenta do barulho externo. Estuda a forma e tratamento dos ambientes de
modo a torná-lo acusticamente satisfatório. (OITICICA; GOMES, 2004, p. 2541)
Nesse sentido, Oiticica e Gomes (2004) afirmam que algumas escolas que foram
construídas, no passado, em áreas com condições urbanísticas aceitáveis, mantendo a
refrigeração natural das salas de aula, principalmente, hoje vêm sofrendo condições de
insalubridade, devido principalmente aos ruídos de tráfego intenso na circunvizinhança. Nesse
sentido, as autoras informam que
o nível de ruído em uma sala de aula deve ser de até 45 db(A) [db = decibel], o nível da voz
humana é de 65 db(A) e uma voz alta (sem gritar) chega a 75 db(A), essa diferença entre o
nível da fala e o ruído da sala é responsável pela inteligibilidade das palavras em sala de
aula. Quanto maior esta diferença, melhor a compreensão do aluno e menor o nível de
estresse do professor, uma vez que sua preocupação e esforço físico em transmitir seu
conhecimento também é reduzida. Esta relação que é chamada de relação Sinal/Ruído
deve ter valores mínimos entre 10 e 15 db(A) [condições estas em que a condição acústica
já pode ser considerada não tão satisfatória, já podendo prejudicar sensivelmente
compreensão da fala do docente por parte dos alunos]. (OITICICA; GOMES, 2004, p. 2541)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Outro estudo, realizado por Pereira et al. (2004) em uma sala de aula climatizada de
uma universidade, encontrou má qualidade sonora, sendo que os níveis de ruído estavam acima
daqueles considerados adequados para garantir a inteligibilidade (compreensão) da fala do
docente pelos alunos, prejudicando assim a qualidade do ensino.
45/ 55 decibéis, nas zonas de circulação. (NBR 10.152, citada por WILHELM; MERINO,
2006).
Cabe considerar que, na relação entre ergonomia e trabalho docente, outros fatores (cf.
WILHELM; MERINO, 2006), além dos acústicos, devem ser considerados no ambiente escolar:
iluminação (cujo índice técnico para salas de aula é de 300 Lux), cores, temperatura (entre 20 e
23ºC.), móveis e layout (seguros e adequados à compleição física e às atividades realizadas
pelos docentes e discentes).
Além dos ruídos, alguns outros fatores prejudiciais à manutenção da saúde vocal do
professor e que podem lhe causar disfonia – alterações na voz falada – devem ser destacados:
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– uso incorreto ou abusivo da voz: falar com forte intensidade, falar muito durante quadros
gripais, falar em ambientes ruidosos por muito tempo, falar com tensão ou esforço, num
tom inadequado de voz, com má postura, entre outros;
– fatores físicos e ambientais: ar condicionado [principalmente se estiver com sua tela suja],
[ventiladores, principalmente se empoeirados], pó de giz, poluição, ventilação inadequada,
[temperatura extremada (muito quente ou muito frio)], poeira, ruído [externo e interno], sala
de aula muito grande e com acústica ruim, disposição das classes, número de alunos,
escassez de recursos materiais, etc.;
– fatores intrínsecos: resistência vocal, idade, estado geral de saúde, alergias, gripes,
problemas posturais, respiração bucal, etc.;
Segundo Vilkman (2004, p. 220), o professor também pode vir a sofrer de uma
sobrecarga vocal, advinda da combinação do uso prolongado da voz com outros fatores
adicionais, como o barulho de fundo, questões acústicas e a qualidade do ar, elementos estes
que podem induzir uma fala em volume exageradamente elevado e/ ou alterações fisiológicas
que reduzem a eficiência da emissão vocal, além de tornar a voz mais grave ou mais aguda que
o normal.
A ingestão de pouca água durante o dia letivo, a utilização de pastilhas para a garganta,
a fala mais aguda e em volume maior, para superar ruídos da classe, além de postura e padrões
respiratórios inadequados, também são comuns no dia a dia do professor, podendo gerar
alterações na sua voz e causar diversos outros problemas.
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Para Vilkman (2000), professores da educação infantil e básica podem ser considerados
representantes de profissões com pesada carga vocal, isto é, estão no grupo de risco em termos
de manutenção da saúde vocal; destaca-se ainda o agravante de que o cuidado ocupacional e a
saúde vocal são áreas pobremente desenvolvidas no que tange aos docentes, em comparação a
outras profissões.
Nota-se que 30,0% dos sujeitos nunca têm dificuldades em falar forte (alto) ou ser ouvidos
em ambientes ruidosos [...], enquanto que, para 40% deles, esse quesito é considerado um
problema de moderado a ruim. A situação de docência envolve, em geral, o uso da voz em
ambientes ruidosos, o que leva o professor à elevação da intensidade vocal pela
competição sonora e necessidade de superar o ruído ambiente [...].
Desta maneira, o fato de que 40% dos sujeitos enfrentam problemas com o uso da voz em
forte intensidade indica uma necessidade de desenvolvimento vocal dessa categoria
profissional, uma demanda para a ação fonoaudiológica voltada à promoção da saúde e
aprimoramento vocal docente.
Nota-se que a saúde vocal tem sido considerada uma área relevante do ponto de vista
da ergonomia e da sociotécnica, definidas como conjuntos de conhecimentos que permitem a
concepção de meios de trabalho confortáveis, seguros e eficazes. Amplamente consideradas, a
ergonomia e a sociotécnica não se referem apenas a máquinas e ferramentas e ao trabalho
industrial, mas se interessam também pelas condições de trabalho nas mais diversas ocupações
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– incluindo a de professor –, considerando-se trabalho como “um ato orientado para um objetivo
de produção incluindo os pensamentos que são indissociáveis dele” (DEJOURS, 2008, p. 38); no
caso do professor, portanto, seu trabalho é a produção e a difusão de saberes, uma atividade de
natureza cognitiva e simbólica. A saúde vocal docente também interessa à psicopatologia do
trabalho (estudo de doenças advindas da atividade laboral) e à psicodinâmica do trabalho, que
estuda o aspecto psíquico envolvido no trabalho, focando o sofrimento e o prazer “como
conceitos que permitem entender a relação dialética dos sujeitos com o seu trabalhar”
(SZNELWAR, 2007, p. 49). Por isso, estudos sobre a voz do professor também podem ser
incluídos, sob o prisma da ergonomia, da sociotécnica, da psicopatologia do trabalho e da
psicodinâmica do trabalho, no campo da engenharia de produção.
Trata-se não apenas do posto de trabalho e seu ambiente como também das relações
entre produção e salário; da duração da jornada, da semana, do ano (férias), da vida de
trabalho (aposentadoria); dos horários de trabalho (trabalho em turno, pausas etc.); do
repouso e alimentação (refeitórios, salas de repouso na empresa [no caso, na escola] [...];
do serviço médico, social, escolar, cultural; das modalidades de transporte. (WISNER,
1987, p. 12)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Nota-se que não apenas a atividade didática presencial pode levar a problemas físicos e
psíquicos no docente, mas também o ensino à distância, conforme destacou Ferreira (2007, p.
128), que estudou o trabalho de professores em ambiente virtual, concluindo:
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Dejours (1987) divide a luta dos trabalhadores em três períodos fundamentais: no século
XIX, havia uma luta por sobrevivência; entre a 1ª Guerra Mundial (1914-18) e 1968, luta-se pela
manutenção da saúde física e “a proteção do corpo é a preocupação dominante” (Dejours, 1987,
p. 18); desde 1968, ganha força a luta pelo cuidado com a saúde mental do trabalhador. Se
analisarmos tais considerações à luz do trabalho docente, podemos apontar que pelo menos as
duas últimas fases ainda têm muito a transcorrer. Nesse cenário, a preocupação com a saúde
vocal dos docentes deve inserir-se na preocupação com a saúde física e emocional desse
trabalhador, para quem a voz é instrumento primordial, via de regra. Nesse sentido, cursos
voltados à preservação da saúde vocal de docentes devem inserir-se, nas escolas e
universidades, em amplos programas de qualidade de vida no trabalho, definida como “o
conjunto de ações, incluindo diagnóstico, implantação de melhorias e inovações gerenciais,
tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho, alinhada e construída na cultura
organizacional, com prioridade absoluta para o bem-estar das pessoas da organização”
(LIMONGI FRANÇA, 2007, p. 167). Cabe lembrar que muitas vezes o professor pode sofrer de
uma sobrecarga de trabalho, um volume de atividades “que extrapola a capacidade humana. As
ideologias da excelência e do desempenho – fortalecidas no contexto de precarização do
emprego – reforçam essa patologia” (FERREIRA, 2007, p. 96). Ademais:
Somos envolvidos pelo trabalho, bem além do tempo de trabalho. Temos insônia à noite,
aborrecemos nosso cônjuge e nossos filhos com nossas preocupações de trabalho.
Sonhamos com o trabalho. Pois bem, isso é necessário para nos tornarmos hábeis em
nossas atividades. É facilmente demonstrável que o envolvimento com o trabalho,
infelizmente, não se reduz simplesmente a um segmento de tempo, isto é, à mera
repartição de tempo em que permanecemos no trabalho. É toda a subjetividade que é
arrebatada nesse movimento, até o mais íntimo do ser. É uma das razões pelas quais
pode-se ficar doente, ou, ao contrário, ser transformado com alegria pela relação com o
trabalho. (DEJOURS, 2007, p. 19)
O professor mobiliza-se, portanto, de corpo, voz e alma para a sua atividade. Destarte, a
prática docente urge que esses profissionais sejam alvo de um treinamento que os capacite
vocalmente para o desempenho de sua atividade didática e que, também, pode se tornar em
instrumento de motivação, expressando o reconhecimento das atividades e necessidades dessa
categoria profissional.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Parece-nos que, com o passar dos anos de profissão aumentam as chances de problemas
com o uso da voz e de comprometimento da saúde vocal e geral do professor. Isso indica
que a ação fonoaudiológica para a promoção da saúde vocal deve iniciar-se na formação
do(a) professor(a) e se estender ao longo da sua carreira, integrando as propostas de
formação continuada e de promoção da saúde desse trabalhador. (GRILLO; PENTEADO,
2005, p. 330)
Brum (2004, p. 14) destaca as características desse treinamento vocal que deve ser
promovido pelas escolas e universidades, que têm responsabilidade pela saúde de seus
colaboradores e que devem promover ações de aperfeiçoamento da voz docente a fim de
aperfeiçoar o próprio desempenho destes profissionais.
O treinamento vocal tem por objetivo capacitar o professor a ter o domínio da produção da
sua voz, de maneira que ele consiga utilizar uma voz saudável, clara e harmoniosa,
melhorando com isto o desempenho vocal em sala de aula. Aspectos como projeção e
impostação da voz no espaço, resistência vocal, coordenação entre respiração, voz e
articulação (coordenação pneumofonoarticulatória) e utilização de tons de voz agradáveis
são os pontos principais do treinamento vocal. Ter o conhecimento e o domínio da
produção vocal e saber da importância de certos cuidados para preservar a voz evitando
abusos, posturas e hábitos inadequados facilitará e evitará o surgimento de problemas
vocais nesta categoria. (BRUM, 2004, p. 14)
Dado o relevo da orientação vocal para os professores, tal atividade tem sido objeto de
leis que obrigam as escolas públicas a oferecerem cursos sobre o tema para seus docentes. Em
nível estadual, cabe destacar, como exemplo, a Lei nº 10.893, de 28 de setembro de 2001,
aprovada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, dispôs sobre a criação do
Programa Estadual de Saúde Vocal do Professor da Rede Estadual de Ensino de São Paulo1.
Recentemente, entretanto, a citada norma foi contestada pelo governo do estado de São Paulo,
que ingressou com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal,
1 A Lei baseia-se no Projeto de lei nº 497, de 1998, da deputada Maria Lúcia Prandi (PT-SP).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
questionando a competência da assembleia legislativa estadual para decidir sobre o tema (cf.
JUSBRASIL NOTÍCIAS, 2009a). O texto da lei é o seguinte:
Artigo 3º - Vetado.
Artigo 7º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições
em contrário. Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, aos 28 de setembro de
2001. (JUSBRASIL NOTÍCIAS, 2009b, s/p.)
2 Os autores dos projetos de lei foram os seguintes deputados: PL 4580/ 2001: Djalma Paes (PSB-PE); PL 1128/
2003: Carlos Abicalil (PT-MT); PL 5377/ 2005: Carlos Nader (PL-RJ) e Lobbe Neto (PSDB-SP). Veja detalhes em:
http://www2.camara.gov.br/internet/proposicoes/chamadaExterna.html?link=http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Lis
ta.asp?ass1=vocal&co1=&Ass2=&co2=Ass3=
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Abordaremos neste tópico algumas investigações que vêm sendo realizadas acerca da
condição vocal de uma grande faixa da população brasileira que faz uso intenso da emissão
vocal. Destacaremos, então, pesquisas relacionadas: (1) aos mais diversos profissionais da voz,
tais como atores, cantores, regentes corais e educadores físicos; (2) a indivíduos que usam a
voz intensamente em atividades não profissionais; (3) aos docentes.
Abordaremos agora alguns estudos sobre profissionais da voz como atores e cantores.
O professor de educação física, o regente coral e o educador musical serão também inseridos,
apenas para finalidade didática, nesta categoria, pois, apesar de também serem docentes,
possuem particularidades no seu trabalho (p.ex.: uso reiterado da voz cantada, no caso dos
músicos; dinâmica de ensino diferente da tradicional, havendo ênfase na prática, e não na teoria,
no caso do educador físico).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
aguda) e volume, a fadiga vocal afetou a dinâmica da voz e a percepção dos movimentos
(propriocepção cinestésica).
Quanto ao canto lírico, destacamos que seu estudo é realizado, desde séculos, em
pequenas salas, com atendimento pessoal, em que informações nem sempre adequadas são
veiculadas por professores, em sua grande maioria, sem formação universitária em canto,
música, ou sequer em áreas afins, podendo danificar o aparato vocal do aluno. O professor de
canto tradicional muitas vezes mostra-se pouco interessado pela interdisciplinaridade inerente ao
estudo e à prática vocal e, geralmente, não tem interesse nem qualquer fundamentação em
estudos da fonoaudiologia, da otorrinolaringologia e de outras áreas (FUCCI AMATO, 2008a);
além de deficientes, seus conhecimentos também tendem a não acompanhar os avanços nas
pesquisas científicas (CALLAGHAN, 1998). Muitas vezes, o docente não tem qualquer
qualificação também na área pedagógico-musical e somente ministra aulas de canto como
complementação de sua carreira de intérprete musical. Sob a perspectiva da fisiologia e da
saúde vocal do cantor, coloca-se a questão de que as técnicas trabalhadas em aula podem
prejudicar seu aparato pneumofonoarticulatório (mecanismos de controle de fluxos inspiratórios
ou expiratórios e de produção da voz falada e cantada), podendo causar lesões por esforço de
emissão na própria prega vocal. Atualmente, o ensino de canto nas universidades, com
exceções de professores que tenham uma formação mais sólida, vem mantendo muitos
aspectos que caracterizam o ensino particular de canto, como o desprezo ao conhecimento
fisiológico-vocal.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Nunca soube nomes e funções do aparelho fonador, sempre aprendi com a sensação. Isso
fez com que minha exposição fosse pobre neste sentido, eu não consegui explicar as
coisas como acontecem durante meu estudo, porque não podia fazer com que as pessoas
sentissem o que eu sinto. Tudo o que eu pude mostrar para os meus colegas foi a maneira
como eu estudo canto. (aluna de fisiologia da voz e cantora lírica, apud FUCCI AMATO,
2006a, p. 103)
Quanto aos regentes corais, apesar de fazerem uso constante de voz falada e cantada
durante os ensaios, poucos conhecem em profundidade minimamente aceitável os mecanismos
anatomofisiológicos da voz. Em estudo realizado junto a um coro profissional ligado ao Theatro
Municipal de São Paulo, foram detectadas atitudes vocais inadequadas por parte do próprio
regente do grupo (p.ex.: cantar fora de sua tessitura, aumentando o desgaste de sua voz), o que
decerto há que refletir no trabalho do regente como educador e no seu papel de agente na
conscientização dos coristas a respeito do uso adequado da voz, conscientização esta que se
inicia pela atuação do próprio condutor do coral, refletindo o seu papel de educador (BEHLAU et
al., 1991). Já nos coros amadores, cabe ressaltar que o regente é quase sempre o único
professor de canto – e, via de regra, o único profissional presumivelmente competente na área
vocal – com que o coralista terá contato. Essa constatação torna-se um alerta quando conjugada
ao fato, notado por diversos autores brasileiros (FUCCI AMATO, 2007, p. 84-87; 2008a, p. 106-
110; FERNANDES, 2009, pp. 197-201; HERR, 1998, p. 51), de que os regentes corais, em geral,
conhecem pouco ou nada sobre fisiologia da voz e técnica vocal. Estudo recente sobre a saúde
vocal dos regentes corais do estado de São Paulo revelou que estes profissionais da voz e
educadores músico-vocais costumam ter pigarro, rouquidão, garganta seca, acúmulo de
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
secreção na garganta, cansaço após a fala, cansaço após o canto e tensão na garganta. A
maioria não fuma, não bebe, não costumam gritar, não pigarreia, mas fala muito e come tarde da
noite (REHDER; BEHLAU, 2008). Essa atitude por parte dos regentes acaba afetando sua voz
cantada e, podemos inferir, sua atividade pedagógica durante os ensaios.
Na já citada pesquisa que realizada por Behlau et al. (1991) junto a integrantes de um
coro profissional da cidade de São Paulo-SP, foi possível concluir que os cantores necessitavam
de orientação fonoaudiológica e possuíam atitudes de desrespeito às práticas de higiene e
saúde vocal. Destacou-se:
- 89,6% dos cantores referiram cantar respeitando sempre sua tessitura vocal; 14,28%
referiram beber com frequência; 7,2% referiram tabagismo (não houve referências de
associação de etilismo e tabagismo); 7,2% referiram frequente exposição ao ar
condicionado; 42,2% referiram apresentar outras atividades que exigem muito da voz;
17,6% das mulheres referiram ingestão de contraceptivos;
Braga e Pederiva (2007) realizaram uma pesquisa com membros de um coro lírico,
concluindo que estes não consideravam seu corpo como uma unidade (mente-físico-emoção) e
possuíam pouca consciência a respeito da corporeidade, isto é, da relevância da saúde do corpo
para a qualidade vocal. Tal desconsideração relativa aos cuidados com o corpo acaba por
provocar inclusive problemas na interpretação realizada pelo cantor, nos âmbitos físico (por
exemplo, a postura inadequada influi no esforço realizado para a emissão e projeção vocal) e
psicológico – o cantor acaba por desprezar seu principal instrumento, a voz, não se importando
em cometer abusos que a prejudiquem.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Por outro lado, Sapir, Mathers-Schimidt e Larson (1996) realizaram uma pesquisa com
cantores e não-cantores em três localidades dos Estados Unidos sobre saúde vocal, sentimentos
acerca da voz, hábitos abusivos de fala e atitudes tomadas com relação ao canto e à fala. Os
resultados da investigação mostraram que os cantores possuíam hábitos totalmente opostos aos
de indivíduos normais, dando uma grande atenção à sua sensibilidade com relação à voz e às
boas práticas de preservação da integridade vocal. Esta constatação nos leva a concluir que
estes cantores, provavelmente, foram educados em um sistema de ensino que não privilegiou
somente a prática vocal, em uma visão tecnicista de educação, porém também foram
privilegiados com uma formação, no mínimo, básica quanto à constituição fisiológica do aparato
vocal, podendo, por conseguinte, conscientizar-se com relação a hábitos condicionantes de
saúde vocal.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Com relação aos educadores físicos, estudo realizado junto a 20 professores atuantes
em atividades como ginástica localizada, ciclismo indoor, step, natação e hidroginástica revelou
que 60% possuíam alterações vocais significativas, todos sentiam desconforto na garganta ao
final do dia de trabalho e todos concordavam quanto à necessidade de se utilizar microfone
durante a aula, embora apenas 40% adotasse, na prática, o aparelho. Não obstante nenhum
profissional tenha manifestado preocupação quanto à relação entre seu ambiente laboral e sua
voz, destacaram-se como obstáculos à saúde vocal a elevada carga horária diária por professor,
o ambiente ruidoso das aulas, a necessidade de repetição das orientações e a necessidade de
fazer-se ouvir no meio líquido, no caso dos professores de natação (FARIAS; NOEL, 2004).
Cabe notar que é comum aparelhos de rádio e/ ou televisão permanecerem ligados nas
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
1.3.2. Estudos sobre a saúde vocal de indivíduos que utilizam a voz em atividades não
profissionais
Dentre as pessoas que não são profissionais da voz mas que a demandam em grande
intensidade estão os participantes de grupos de teatro e canto coral amadores. A situação vocal
do ator amador já foi destacada, no tópico anterior, comparativamente ao ator profissional.
Destacaremos agora, portanto, pesquisas realizadas com coralistas amadores.
Em uma pesquisa realizada junto a 89 coralistas e 142 não coralistas de quatro igrejas
da cidade de São Paulo (das religiões metodista, católica apostólica romana, presbiteriana e
evangélica), destacou-se que a maioria dos indivíduos estava satisfeita em cantar na igreja,
como coralista ou não; quando questionados se haviam recebido orientação vocal para cantar na
igreja, mais da metade dos coralistas das igrejas Assembleia de Deus, presbiteriana e católica
respondeu afirmativamente, tendo sido os índices, respectivamente, de 95%, 87% e 71,4%. Já
na igreja metodista, verificou-se que apenas a metade dos coralistas recebeu orientação vocal,
sendo poucos os não coralistas que a receberam. Como conclusão do estudo, destacou-se não
haver ocorrência significativa de queixas vocais dentre os coralistas e não coralistas
pesquisados, não havendo também uma consciência do uso vocal por parte dos entrevistados.
Ainda foi destacado: “Nos resultados, notamos que, em todas as igrejas, um maior número de
coralistas recebeu orientação vocal, comparado com os não coralistas; porém, de forma geral, as
orientações citadas ocorreram superficialmente” (LEITE et al., 2004, p. 239).
Tepe et al. (2002) realizaram um estudo com jovens coralistas (de até 25 anos) e
destacaram que mais da metade dos investigados reclamaram de já terem sofrido problemas de
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
saúde vocal, como rouquidão matutina advinda de refluxo gastresofágico, fadiga crônica, insônia
e tensão emocional. Foi concluído que deveria haver um trabalho cooperativo em corais entre
laringologistas e regentes, para que se desenvolvessem estratégias educacionais para
conscientização sobre os fatores indutores de saúde vocal nos cantores.
Tais estudos costumam analisar o ambiente laboral dos docentes, suas principais
queixas, os abusos vocais mais cometidos e suas respectivas consequências, enumerando
também as dificuldades encontradas no dia-a-dia do trabalho docente e possíveis diretrizes a
serem implementadas nas escolas e universidades para a manutenção da saúde dos
professores em termos vocais. Visando a conferir ao leitor uma visão abrangente dos principais
resultados de algumas dessas pesquisas realizadas no Brasil, destacá-las-emos a seguir.
Gonçalves (2004) mostrou que era frequente a hipersolicitação vocal por parte dos
docentes investigados – professores da rede municipal de ensino de Belo Horizonte (MG).
Registrou que os docentes estudados costumavam ter estratégias de preservação vocal, como:
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
a atitude de falar para a sala toda (e não apenas para partes, implicando
repetição por parte do docente e, portando, mais desgaste à sua voz);
Também cabe citar a pesquisa de Simões e Latorre (2006), que investigaram a saúde
vocal de educadoras em creches da cidade de São Paulo, registrando em 80% das profissionais
a presença de alterações na voz. Porém, apesar de 39% declarar que o problema vocal está
presente há quatro anos ou mais, essas alterações, em grande parte, têm caráter moderado e se
manifestam intermitentemente, o que faz com que somente um quarto das educadoras tenham
procurado algum tipo de tratamento. Ademais, quatro quintos das professoras atribuem os
problemas vocais aos abusos cometidos na produção falada. As autoras ainda notaram a boa
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
correlação entre a percepção dos educadores e a real detecção de alterações vocais por
avaliação clínica especializada, considerando que “seria importante que esse profissional fosse
capaz de identificar a presença de alterações em sua voz, aumentando a chance de busca por
tratamentos específicos e impedindo o desenvolvimento de ajustes inadequados ao falar na
presença dessas alterações, o que é bastante comum” (SIMÕES; LATTORE, 2006, p. 2).
Contudo, o que se nota na realidade atual é que muitas vezes os docentes não fazem
idéia de que abusos simples, cometidos durante o dia a dia, podem ocasionar um problema mais
sério em um futuro não muito distante. De acordo com a pesquisa das citadas autoras, muitos
professores tiram licença médica por problemas vocais, porém tendem a não procurar
tratamento que resolva diretamente o problema.
Em sua pesquisa, Penteado (2007) mostrou que os professores até sabem noções
básicas sobre higiene e saúde vocal, tais como: o pigarro é prejudicial e deve ser evitado; os
gritos também colaboram para um processo de disfonia; a competição com ruídos externos
colabora para o cansaço e o abuso vocal; há a necessidade de hidratação da laríngea durante a
produção vocal falada. Porém, na rotina diária, essas noções e ideais não se concretizam, o que
coloca em xeque a hipótese de que esses profissionais não cuidam da voz por falta de
informação mais bem trabalhada; ou seja, talvez faltem programas de incentivo aos cuidados
pessoais com a voz, os quais possam suprir as iniciativas individuais isoladas e constituam
esforços coletivos, levados a efeito, por exemplo, por parte das escolas. Penteado (2007, p. 21)
ainda concluiu:
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
frequentes apontados pelos professores foram rouquidão, cansaço ao falar, garganta seca e
pigarro. Dentre os professores que relataram alterações vocais, 79,3% eram do sexo feminino,
62,3% não estavam satisfeitos com suas vozes e 83,5% declararam não haver recebido durante
sua formação profissional nenhum tipo de informação sobre cuidados com a voz. Os fatores que
mais afetavam sua saúde vocal no ambiente de trabalho, segundo os entrevistados, eram o
ruído, vindo principalmente do pátio e das salas de aula vizinhas, e a poeira. Ansiedade, dores
de cabeça, dores no corpo e incômodo a sons e ruídos foram destacados também como fatores
interferindo negativamente na voz dos docentes. Apesar dos dados relatados, Quintanilha (2006)
informou que os entrevistados, em sua maioria, não fumavam nem bebiam, hidratavam-se em
sala de aula e alimentavam-se adequada e periodicamente.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Ferreira et al. (2003) estudaram a voz de 422 professores da rede municipal de ensino
de São Paulo-SP, por meio de um questionário contendo 87 questões, sendo a maioria dos
entrevistados mulheres, com mais de nove anos de docência e idade entre 29 e 49 anos, em
média. Concluíram que os entrevistados, em sua maioria, falavam muito e não possuíam
orientação vocal, sendo que 60% declararam ter ou já haver tido alguma alteração vocal. As
autoras destacaram ainda que os docentes demonstraram desconhecimento do processo de
produção vocal, sendo alvo de uma sobrecarga de trabalho em situações adversas e ambiente
físico inadequado.
Siqueira Aoki (2003) elegeu como sujeitos de sua pesquisa seis professoras das séries
iniciais do ensino fundamental (1º grau) participantes de um curso fonoaudiológico de saúde
vocal oferecido a professores da rede municipal de educação e cultura de São Carlos-SP, em
parceria com o Programa de Pós-Graduação em Educação (área de Metodologia de Ensino) da
Universidade Federal de São Carlos (PPGE-UFSCar). Após um ano do término do curso, a
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Grillo (2001) focou sua pesquisa na análise de três dos seis participantes de um curso
de aperfeiçoamento vocal ministrado em uma universidade do interior do estado de São Paulo,
tendo como público professores universitários de diferentes áreas profissionais, aos quais dirigiu
a observação de que ainda não desenvolveram a consciência da necessidade do esforço
individual na preservação vocal e do papel desempenhado pela voz na relação professor-aluno e
no processo de ensino-aprendizagem. A autora constatou que, no contexto da curta duração e
da grande carga de informações trabalhadas no curso, os alunos valorizaram os saberes e as
estratégias de ensino adotadas, revelando, porém, uma visão pragmática, ao dar preferência aos
exercícios de execução fácil, rápida e com impacto mais instantaneamente visível na qualidade
vocal. Tal interesse nas orientações recebidas também esteve vinculado ao conhecimento prévio
dos docentes, ao seu contexto sociocultural, a interesses e motivações individuais e à
adequação e utilidade das informações e práticas para o trabalho cotidiano em sala de aula.
Destacou-se ainda a necessidade de se promoverem futuros encontros com os docentes, a fim
de se fortalecer a aprendizagem e verificar a evolução do alunado docente (eventual melhora de
hábitos vocais e aumento da frequência da prática dos exercícios indicados).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Antes, sempre terminava a aula com dores na garganta, às vezes mais e às vezes menos.
Agora, tenho tido menos dores ou quase nada.
Com isso, estou me policiando mais para fazer um aquecimento vocal pouco antes de cada
aula, o que é a melhor coisa. Nem sempre consigo devido a situações urgentes que ora
aparecem, mas sempre deixo reservado esse tempo de aquecimento. E estou percebendo
resultados.
[...] me lembro de praticamente todos exercícios. Vou tentar praticar todos eles sempre,
para não esquecê-los. [...]
Passei a analisar mais vezes a voz das outras pessoas em conversas, mas de maneira
natural, sem intenção nenhuma. Acho que principalmente se a voz do outro é baixa, ou
grave, ou segue num ritmo constante.
Bom, acho que depois do curso, passei a gostar mais de ouvir musicas cantadas,
principalmente de cantores líricos como Andrea Boceli e Sarah Brightman. Além disso,
fiquei interessado em buscar musicas de conjuntos corais devido a influencia do King’s
Singers [grupo vocal britânico]. A mostra desse grupo foi o ponto alto do curso, na minha
opinião. [...]
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Acredito que meus atributos vocais não mudaram quando falo com as pessoas sem me
preocupar com a voz.
Quando falo em aula, procuro falar em tom um pouco mais agudo em geral, colocar
variações tipo alto-baixo ou rápido-lento na leitura de texto, e até arrisco um pouco de
emoção interior quando falo sem ler (mas muito pouco ainda). [...]
Minha avaliação geral do curso é mais do que excelente, excedendo minhas expectativas.
Sem duvida me marcou bastante, aprendi bastante, e melhorou o estilo de minhas aulas.
(Prof. 1)
Tomei ciência de muitos erros que eu cometia no dia-a-dia e durante as aulas. A partir do
curso, comecei a ser mais cuidadoso com relação a minha postura e utilização da voz.[...]
Lembro e executo os exercícios de lábios e língua, porém não me recordo com precisão e,
portanto, não efetuo, os exercícios de respiração... [...]
Identifico e valorizo muito mais as pessoas com boa qualidade de voz. (Prof. 2)
Acredito que este curso, da forma que foi ministrado, supriu uma lacuna típica dos cursos
de graduação em licenciaturas: a nossa falta de conhecimento sobre o aparelho vocal,
apesar do mesmo ser uma ferramenta primordial no exercício da função de professor. A
professora ensinou-nos diversos exercícios práticos com relação à respiração e intensidade
da voz falada e cantada. O conteúdo teórico apresentado facilitou-nos o entendimento e
percepção de nosso corpo e do aparelho vocal e das formas possíveis de controle e
aprimoramento da voz. (Prof. 3)
Finalizando este capítulo, espera-se que sua leitura possa ter contribuído para que o
leitor formasse uma visão ampla da situação vocal dos profissionais da voz, especialmente dos
professores, e que tenha podido se identificar com o que foi descrito, desenvolvendo uma melhor
percepção de seu próprio status vocal e da situação de seus colegas de profissão. O que foi aqui
descrito também visa a motivar os profissionais da voz a requisitarem uma maior diligência com
relação a sua saúde vocal por parte dos ambientes em que trabalham.
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Sites na Internet
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Nesse sentido, diversas funções fisiológicas têm uma interferência mediata ou imediata
na produção da voz. Destacam-se a seguir as relações que existem entre alguns sistemas
fisiológicos e a emissão vocal, sendo que o sistema respiratório, que influi mais diretamente na
fonação, será detalhado em seção específica, ainda neste capítulo.
3 Entende-se anatomia como o estudo morfológico das estruturas do organismo. A partir da compreensão das partes
de um organismo, podem-se determinar as posições, relações, estruturas e funções de cada uma desses
componentes do corpo. (MEDICAL DICTIONARY, 2009)
4 Entende-se fisiologia como o estudo dos processos e fenômenos biológicos, isto é, do funcionamento do corpo e
das estruturas vivas (células, órgãos, tecidos) e dos fenômenos de natureza física ou química envolvidos no
funcionamento do organismo. (MEDICAL DICTIONARY, 2009)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Por sua vez, o sistema digestório decompõe os alimentos e líquidos que ingerimos em
substâncias básicas, usadas para a manutenção de nossas estruturas fisiológicas, para a
reserva de gordura e para a produção de energia. A digestão inicia-se já na boca, onde há uma
digestão química por meio da insalivação, contendo a saliva uma enzima chamada amilase
salivar, que decompõe o amido (um polissacarídeo, composto por várias moléculas de açúcares)
em dissacarídeos (a maltose, composta por duas moléculas de glicose). Além disso, realiza-se
também uma digestão mecânica do alimento, por meio da mastigação, da deglutição (ato de
engolir) e pelos peristaltismos – ondas de movimentos involuntários que se dão ao longo da
“tubulação” digestória. Após passar pela faringe, o alimento segue pelo esôfago (ao contrário do
ar, que da faringe vai à laringe, onde estão as pregas vocais) e chega ao estômago, onde, em
um ambiente altamente ácido, continua a digestão física do bolo alimentar pelo peristaltismo.
Neste ambiente ácido, o ácido clorídrico (HCl) ativa a enzima pepsinogênio, transformando-a em
pepsina, enzima que atua na digestão de proteínas, transformando suas longas cadeias de
aminoácidos (polipeptídeos) em cadeias menores. Do estômago, o bolo alimentar segue pelo
intestino delgado, em que continuam o peristaltismo e a digestão química, realizada: (a) pela
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ação da bile (produzida pela vesícula biliar), emulsificante com ação de detergente biológico, que
atua na transformação de grandes “gotas” de gordura em “gotículas”; (b) pela ação do suco
pancreático, em que a enzima lipase atua na digestão das “gotículas” de gordura (transformando
os lipídios em ácido graxo e glicerol), a enzima amilase pancreática transforma o amido (um
polissacarídeo) em maltose (dissacarídeo), e a enzima protease (ou tripsina) quebra as proteínas
em peptídeos; (c) pela ação do suco entérico (ou intestinal), o qual contém as enzimas: maltase,
que digere a maltose (dissacarídeo) em moléculas de glicose (monossacarídeo); peptidase, que
transforma os peptídeos (pedaços de proteínas) em aminoácidos; sacarase, que quebra a
sacarose (açúcar branco comum) em moléculas de carboidratos simples (glicose e frutose);
lactase, que quebra a molécula da lactose (dissacarídeo presente no leite) em moléculas de
carboidratos simples (glicose e galactose). Ainda fazendo parte da digestão, o intestino grosso
atua na reabsorção de água, sais e vitamina K (importante para a coagulação sanguínea),
restando as fezes a serem eliminadas (MACEY, 1974; FURNEAUX, 1999).
Cabe notar que uma má digestão pode ocasionar a subida de gases ácidos, que podem
atingir a laringe, inchando as pregas vocais. Além disso, ocasiona dificuldades de movimentação
dos músculos respiratórios.
O sistema nervoso também deve ser destacado, dada sua função essencial na
coordenação neural da fala e do canto. Tal sistema fisiológico tem como estrutura básica os
neurônios, células especializadas que apresentam um corpo celular central e estruturas de
ligação (dendritos e axônios), por meio das quais se transmitem os impulsos nervosos de
natureza eletroquímica (MACEY, 1974). O sistema nervoso apresenta a seguinte divisão:
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Sistema nervoso central (SNC): que contém a maior parte dos corpos
celulares dos neurônios
o Encéfalo
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terço. Nos homens é mais fácil notar a transição de uma voz mais fina e infantil para uma voz
mais grave. Já nas mulheres, a mudança de voz é menos acentuada e se processa mais de
maneira mais rápida e silenciosa. Não há consenso se durante a muda vocal pode-se
desenvolver a atividade de canto: autores como Mársico (1979) acreditam que a criança pode
cantar, pois se deixar de desenvolver essa atividade artística durante todo o período da muda
vocal, poderá perder o gosto e o interesse; já Behlau e Pontes (1995) acreditam que o canto
nesse período é difícil e deve ser evitado, já que há um crescimento desproporcionado dos
mecanismos envolvidos na fonação, o que poderia configurar o canto como um abuso vocal,
com a possibilidade de afetar a saúde das pregas vocais.
Considera-se que a voz adulta, aquela que resulta da muda vocal, mantém-se estável
até o envelhecimento da pessoa. Behlau e Pontes (1995, p. 49) apontam que a melhor qualidade
vocal nos falantes costuma ser atingida entre os 18 e 39 anos de idade.
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Não devemos esquecer ainda da audição, que é essencial para produzirmos nossa voz.
É por meio da audição que aprendemos a emitir os sons e desenvolvemos corretamente a
capacidade de fonação.
Portanto, o corpo todo trabalha para podermos falar e cantar. Mantê-lo saudável é a
base para termos uma saúde vocal.
O aparelho fonador é o conjunto de órgãos do nosso corpo que atuam mais diretamente
na produção da voz. Constitui-se essencialmente de:
Na laringe, estão as pregas vocais, dois músculos que ficam na posição horizontal, lado
a lado. Quando elas vibram, produzem um som básico (buzz laríngeo). Esse som produzido
pelas pregas vocais passa da laringe à faringe e chega a outras cavidades de ressonância, como
a boca, o nariz e os seios paranasais. Nessas cavidades, o som é amplificado e assim chega
àquela qualidade que percebemos como sendo a voz. Na boca existe a úvula, em forma de U,
que é um apêndice do véu palatino que recobre o céu da boca. A úvula ajuda a diminuir a
passagem da vibração das pregas para o nariz, fazendo o som da voz sair mais pela boca e
diminuindo, assim, a nasalidade de nossa voz.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Na laringe só passa ar, porque, depois de ar, líquidos e alimentos passarem junto pela
faringe, estes são divididos: os alimentos e bebidas que ingerimos seguem pelo esôfago, que vai
dar no estômago, e o ar passa sozinho pela laringe, de onde vai para a traqueia, para os
brônquios e para os bronquíolos, chegando aos alvéolos pulmonares.
Parte da estrutura básica de fonação pode ser comparada ao formato da letra F, em que
o primeiro traço horizontal são as cavidades nasais, o segundo traço horizontal é a cavidade
bucal e o traço vertical é a faringe.
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Lábios, língua, palato mole, palato duro, Articulam e dão sentido ao som,
Articulador
mandíbula transformando sons em orais e nasais
Traquéia Via de passagem do ar - defesa a via aérea Suporte para vibração das cordas vocais
Musculatura
Desencadeia o processo respiratório Produção de pressão no ar que sai
respiratória
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Figura 2.2.1.1. Diagrama representativo das cavidades, estruturas e regiões do trato vocal
(em perfil) e sua relação com o esôfago, a traqueia e os seios paranasais.
Temos dois tipos de fontes sonoras para a emissão da voz: a fonte glótica e as fontes
friccionais.
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Por meio da fonte glótica, localizada na glote (espaço entre as pregas vocais), as pregas
vocais vibram e o trato vocal apresenta-se aberto, produzindo-se assim os sons vocálicos
(vogais). As frequências5 de ressonância ou formantes6 dos sons vocálicos são bem definidas –
mais altas à medida que o trato diminui (sons mais agudos), e mais baixas, à medida que este
aumenta (sons mais graves).
É essencial destacar que existem os sons surdos e sonoros. As consoantes surdas são
assim denominadas por não utilizarem a fonte glótica: o /s/ é um exemplo. Para essa produção
apenas estreitamos a saída de ar na região anterior da boca, com o auxílio da ponta da língua.
Já as consoantes sonoras utilizam a fonte glótica e a friccional. Essa categorização pode ser
ilustrada na pronúncia do /s/ longo e do /z/ também longo: sssssszzzzz.
A produção vocal é resultado do equilíbrio entre duas forças: a força mioelástica (força
muscular das pregas vocais) e a força aerodinâmica (força que sai dos pulmões). Há duas
teorias que explicam tal fenômeno: a mioelástica e a neurocronáxica-cerebral. A primeira, a
mais antiga, assegura que as pregas vibram sob a ação do ar expirado. A segunda, mais
recente, defendida por Husson (1965), afirma que as vibrações das pregas vocais devem-se a
estímulos cerebrais, à incitação do sistema nervoso central (SNC). Ambas as teorias são aceitas
por estudiosos (COSTA, 2001, p. 38). A intensidade vocal (mais forte/ mais fraca, ou maior
volume/ menor volume sonoro) depende de três fatores: pressão de ar subglótica, quantidade do
fluxo aéreo e resistência glótica, isto é, resistência provocada no lapso espacial entre as pregas
vocais.
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2.2.2. A laringe
Até a puberdade, as laringes masculinas e femininas pouco diferem entre si. A partir
desse período, apenas a do homem apresenta crescimento considerável, tornando-se a
cartilagem tireóidea proeminente na linha mediana do pescoço, no chamado pomo-de-adão.
Após a puberdade, a laringe apresenta um lento crescimento até os 20-25 anos. Após os 30
anos, acontece a substituição do tecido cartilaginoso por ósseo (DEDIVITIS, 2002a).
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Quanto às camadas das pregas vocais, o músculo vocal e o ligamento vocal são
relativamente rígidos, enquanto a cobertura é flexível. Quando produzimos sons de frequência
elevada (agudos) alongamos as pregas vocais, e a diminuição das frequências (sons mais
graves) as torna aparentemente mais grossas. Abaixo, ilustração relativa às pregas vocais.
A: Pregas vocais em posição de repouso (abdução); B) Pregas vocais durante atividade (adução).
7 Histologia: disciplina biomédica que realiza estudos da estrutura microscópica, composição e função dos tecidos
vivos. As camadas histológicas das pregas vocais são: 1) mucosa de epitélio pavimentoso estratificado; 2) lâmina
própria superficial ou espaço de Reinke; 3) lâmina própria média e profunda que corresponde ao ligamento vocal; 4)
músculo vocal (DEDIVITIS, 2002a).
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A respiração tem duas características que ainda não chamaram suficientemente a atenção
dos estudiosos: ela é urgentemente necessária SEMPRE, e qualquer comprometimento
(inibição) respiratório é imediatamente angustioso no sentido literal da palavra: estreito,
apertado, sufocado, asfixiante. Tudo o que há de urgente na crise de ansiedade é a inibição
respiratória, como Reich mostrou em seus termos, e como pude ampliar sob outros
aspectos.
A falta de alimento e a própria falta de afeto não tem este caráter; podemos ficar sem
comer (ou sem amor) durante muitas horas sem sofrer de angústia em função da fome – e
SEM RISCO IMEDIATO DE MORTE.
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[A] segunda característica da respiração que a coloca em posição central como fenômeno
da Personalidade, é o fato dela ser a única função visceral do organismo realizada e
regulada por inteiro pela musculatura estriada e pelo eixo Cérebro-Espinal; é pois uma
função voluntária desde o começo (!) [...]
O controle respiratório é, pois, um dado primário do ser humano; aliás, não fosse assim e
não poderíamos falar. [...]
Algum controle respiratório permitiu ao homem falar e o falar desenvolveu muito o controle
respiratório do homem. (GAIARSA, 1984, pp. 186-7)
O principal objetivo da respiração é nutrir o organismo com oxigênio, matéria prima para
as atividades metabólicas, e expelir o dióxido de carbono, que é produzido pelas atividades das
células de nosso corpo. Entretanto, a respiração é fundamental também para acompanhar o
ímpeto de um movimento ou de um prazer, para modificar as emoções e o tônus muscular, para
mobilizar vísceras, para abrir ou fechar o gradil costal, para sustentar a voz falada ou cantada.
O ato respiratório: é aquele que nós fazemos para respirar... Sob essa evidência oculta-se
um ato furtivo, tão intimamente ligado à nossa vida que nós raramente o reconhecemos.
Sobretudo quando ele se mistura a outro – aquele que nós fazemos para andar, falar,
comer etc.
Assim, ritmos orgânicos de todos os gêneros percorrem nosso corpo, mais freqüentemente
sem percebermos: digestão, estado de alerta e sono, circulação sangüínea e linfática... A
respiração é um deles. No entanto, ao contrário dos batimentos cardíacos, por exemplo, ela
ocorre nas vísceras, mas também envolve músculos, regiões do esqueleto, articulações.
Ela é indissociável. Por essa razão, o ato respiratório é como uma interface entre dois
domínios: o visceral e o locomotor (CALAIS-GERMAIN, 2005, p. 13).
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O ar que inspiramos vai das narinas e/ ou da boca até a faringe, que é um canal por
onde passam ar e alimentos. Da faringe, o ar vai para a laringe. A epiglote localiza-se
dorsalmente à base da língua e tampa a laringe, quando comemos, impedindo a passagem dos
alimentos e líquidos para a laringe (estes, da faringe, irão para o esôfago, depois para o
estômago e o intestino).
Na laringe estão as pregas vocais, que são estruturas musculares. Quando expiramos, o
ar passa por elas e as faz vibrar, produzindo as ondas sonoras de nossa voz. Depois da laringe,
o ar vai para a traquéia, para os brônquios, os bronquíolos e, finalmente, chega aos alvéolos
pulmonares, espécie de saquinhos com ar. Ao lado da fina parede dos alvéolos estão finíssimos
vasos sanguíneos, os capilares. O sangue que por lá passa difunde o gás carbônico para os
alvéolos, para que esse gás seja expelido pela expiração, e recebe o suprimento de oxigênio,
que adquirimos pela inspiração. O oxigênio corre pelo nosso corpo, atingindo as células e
participando da produção da energia que estas precisam para funcionar. As células liberam gás
carbônico, que pelo sangue chega aos capilares próximos aos alvéolos pulmonares, seguindo
para os alvéolos e sendo expelido na expiração. Essa troca de gases entre os capilares (com
gás carbônico) e os alvéolos (ricos em gás oxigênio) denomina-se hematose.
8Esterno: osso do esqueleto, ímpar, localizado na parte anterior do tórax, no meio do peito, com o qual se articulam
as clavículas e as cartilagens costais das sete primeiras costelas.
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A caixa torácica, em grande parte, contém os pulmões, que estão cheios de ar. Como o
ar é deformável, nós podemos comprimi-la ou descomprimi-la, sendo que ela está alojada em
uma estrutura óssea, semi-rígida, deformável (sobretudo embaixo) e elástica. Quando
modificamos o posicionamento dessa estrutura óssea, alterando as curvaturas costais, a caixa
torácica tende a retornar à sua forma original, pois seus músculos são contráteis e elásticos
(CALAIS-GERMAIN, 2005).
11Peritônio: membrana serosa que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos.
12Pelve (ou bacia): cavidade no extremo inferior do tronco, formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e
cóccix.
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2.3.1. A inspiração
2.3.2. A expiração
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2.3.3. A apneia
A apneia (do grego, a: privação; pnein: respirar) é todo o movimento de parada do fluxo
respiratório, podendo ocorrer a qualquer momento da respiração. Manifesta-se particularmente
no tronco, por uma suspensão de movimento, que pode ocorrer após a inspiração ou a
expiração. A duração das apneias fisiológicas varia de acordo com as necessidades de
reposição de oxigênio e eliminação de gás carbônico (CALAIS-GERMAIN, 2005).
O Volume de Reserva Inspiratório (V.R.I.) dá-se quando realizamos uma inspiração com
maior amplitude. Essa tomada de ar pode variar de 2 a 3,5 litros de ar, de acordo com a
compleição física da pessoa, principalmente.
Denota-se que todos os volumes e suas variações também estão ligados à saúde das
pessoas. A prática de exercícios respiratórios pode propiciar, por exemplo, uma boa flexibilidade
da caixa torácica, permitindo um aumento no V. R. I. e um aumento de força muscular nos
músculos abdominais, com o consequente aumento no V. R. E..
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Sites na Internet
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3. Saúde vocal
A saúde vocal, em sentido estrito, refere-se aos hábitos e cuidados que devem ser
praticados pelas pessoas, em especial por todos os profissionais da voz, em um processo de
autopercepção eficaz, que permita evitar prejuízos e fomentar condições favoráveis à integridade
vocal. Algumas orientações gerais para uma boa produção de voz podem ser elaboradas,
sempre com a ressalva de que é o próprio indivíduo que estabelecerá suas prioridades, se
possuidor de consciência corporal, psíquica e emocional efetiva.
Você convive bem com seu corpo? Está satisfeito(a) com as respostas corporais que
você se dá a si mesmo(a) e aos outros? Seu corpo realiza movimentos com graça e
flexibilidade? Faça uma flexão e verifique se suas mãos tocam o chão. Sente-se com coluna
ereta e perceba por quantos minutos você consegue permanecer nessa posição.
Com o passar dos anos, nosso corpo acumulou tensões e criamos uma couraça que vai
limitando nossas energias e minando nossos prazeres corporais. Para restabelecer nossa
energia vital, podemos praticar sessões de alongamentos como as que são amplamente
realizadas nas aulas de ioga ou em práticas similares. Os exercícios que flexibilizam nosso corpo
nos trazem um relaxamento que imediatamente é refletido na nossa fala. Perceba, depois deste
tipo de atividade, como sua voz é alterada para um padrão de maior agradabilidade, transmitindo
calma e docilidade.
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Dessarte, o corpo registra e comunica uma história de vida, com emoções, vitórias,
decepções e ilusões. Os mecanismos da expressão psicocorporal humana têm como
instrumentos os músculos, que formam cadeias musculares atuantes concomitantemente para a
efetuação de uma determinada função. Qualquer variação muscular compromete toda a cadeia e
desorganiza nossa harmonização corporal. Para que a mensagem unívoca corpo-voz seja
transmitida é primordial que o corpo libere-se de seus entraves e passe por um processo de
recuperação de sua boa fisiologia e, ainda mais, que se livre de seus antigos hábitos prejudiciais
e flua com maior naturalidade e vigor nos padrões saudáveis de funcionamento.
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Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa
inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência
do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro... pois corpo e espírito, psíquico e físico, e até
força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua unidade (BERTHERAT;
BERNSTEIN, 1982, p. 14).
O entendimento do ser humano com sua vocação unívoca – apesar de complexa – tem
vital relevância para o desabrochar das experiências que envolvem alegria, felicidade, prazer e
tantas outras. A relação de estreiteza entre intelecto e corpo deve ser elaborada nas motivações
conscientes dos estados corporais de parada ou movimento e na memória de prazer
conquistada individualmente pela atividade corporal. Lowen (1984, p.21) adverte que “subjacente
a qualquer experiência de alegria ou felicidade existe uma sensação corporal de prazer”. Nessa
relação afetiva de trocas vocais que se estabelece na comunicação, a univocidade das
mensagens emitidas pode ser mensurada pela capacidade una de o corpo e a mente
estabelecerem harmoniosa conexão entre si.
Para Lowen (1984), dois sistemas nervosos integram nosso organismo humano e
regulam as nossas reações. O sistema cerebrospinal coordena a ação dos músculos voluntários
(esqueléticos) e a energia dos nervos proprioceptivos (ativados por estímulos internos) e
exteroceptivos (ativados por estímulos externos), regulando a tonicidade muscular e mantendo a
postura. O sistema vegetativo ou autônomo (duas subdivisões: simpático e parassimpático)
regula os processos corporais básicos – respiração, circulação, pulsação cardíaca, digestão,
excreção, atividade glandular e reação das pupilas (LOWEN, 1984, p. 62).
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glândulas adrenais (acima dos rins), mobiliza o corpo para enfrentar as emergências advindas da
dor e do perigo. A ação simpática produz contração e recolhimento, em oposição à
parassimpática, que tem efeitos opostos sobre a direção do fluxo sanguíneo.
Não há estado neutro. A pessoa sente-se bem ou mal, de acordo com o estado de
funcionamento de seu físico. Se suas sensações forem suprimidas, tornar-se-á deprimida.
O prazer define-se, portanto, como a sensação que se desenvolve da suave operação do
processo contínuo da vida (LOWEN, 1984, p. 56).
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de forma desigual entre as classes e grupos sociais, e a transmissão destas pela família implica
uma conservação das desigualdades socialmente determinadas.
Assim como a linguagem varia entre os indivíduos, dependendo de seu ambiente físico e
social, de sua condição socioeconômica e cultural, de sua formação escolar, a configuração das
qualidades vocais dos indivíduos é intensamente influenciada por seu capital cultural, social,
econômico, escolar, assim como são por estes fatores influenciadas aquelas qualidades que se
costuma definir como saberes, estilo, bom gosto e o talento (BOURDIEU, 1998a; 1998b); um
determinado modus vivendi, enfim.
O sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) definiu os fatos sociais como toda maneira de
agir, pensar e sentir que existe coletivamente, independentemente de suas manifestações
individuais, e que têm existência externa à consciência dos indivíduos, exercendo sobre estes
coerção (DURKHEIM, 2007, p. 13). Nessa ótica sociológica, poder-se-ia dizer que a voz é
produto de fatos sociais, internalizados pelo indivíduo e refletidos na sua voz, que novamente
expressará para o meio social o que foi internalizado pela pessoa – a relação entre voz e
sociedade, portanto, é encarada como sendo circular, pois sociedade e voz influenciam-se
mutuamente.
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Cada indivíduo carrega sua história pessoal em todas as suas manifestações: na voz, na maneira de
falar, na postura e nos gestos. De modo geral, o estado corporal é fruto das pressões externas (meio
ambiente) e das pressões internas (vontade), que, entrando em choque, provocam conflitos que se
traduzem em contrações musculares, alterando a forma do corpo. (BEHLAU; PONTES, 1995, p.
124)
13 A voz, bem característico de cada pessoa, é protegida como direito pela Constituição Federal de 1988 (art. 5º, inc.
XXVIII, alínea a), em seus usos econômicos – por exemplo, nos meio de comunicação de massa. “Trata-se de
direito que incide sobre a emanação sonora natural da pessoa, proveniente do aparelho fonador e exercitada em
toda a sua evolução [...]. Envolvendo o som, por via de tonalidades diferentes – que, por técnicas adequadas de
treinamento, podem ser aprimoradas, ou direcionadas – acaba por adquirir contornos próprios, suscetíveis de
individualizar a pessoa no meio social. Daí, a proteção jurídica recebida no âmbito da teoria em análise [teoria dos
“direitos da personalidade”], na defesa desse bem jurídico, que, no uso nos veículos de comunicação (rádio,
televisão e outros aparelhos de representação e de reprodução), apresenta decisiva importância nos dias atuais,
para o exercício das atividades da informação, de ensino e de entretenimento.” (BITTAR, 1999, p. 99)
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Ademais, do ponto de vista pragmático, situacional, quando ego (eu) transmite uma
mensagem a alter (outro), esta mensagem traz dois níveis de “informação” (WATZLAWICK;
BAVELAS; JACKSON, 2011, p. 32-5). No nível do relato (conteúdo), vão as informações
claramente expressas por uma comunicação oral. No nível do comando (mensagem sobre o
vínculo relacional entre os sujeitos em comunicação), alter emana uma mensagem “subliminar”,
“nas entrelinhas”, que se constitui em informações implícitas sobre a mensagem explicitamente
transmitida. Somente com essas informações do comando, que informam sobre a relação entre
alter e ego (relações de subordinação ou coordenação), é que o ego poderá interpretar
adequadamente a mensagem. É interessante notar que os indivíduos se revezam
constantemente nos papéis de emissão e recepção de mensagens quando travam uma relação
comunicativa.
Nesse sentido, estabelece-se uma dupla contingência (LUHMANN, 1995, p. 390): alter
não sabe a mensagem que ego emitirá e ego não sabe qual mensagem alter espera que ele
emita. Entre estes há apenas expectativas, formadas pelo conhecimento que um tem do outro a
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partir das relações e comunicações travadas entre estes anteriormente àquele determinado
momento. A mensagem emitida pode ser confirmada, rejeitada ou desconfirmada, o que é
expresso no nível do cometimento (mensagem implícita sobre a relação entre os sujeitos em
comunicação). A mensagem confirmada é aceita por alter (aquele que a recebe) em seu
conteúdo e este reconhece a relação existente entre ele e ego (aquele que a emite). A
mensagem rejeitada é negada em seu conteúdo, mas alter reconhece a relação que há entre ele
e ego. A mensagem desconfirmada é aquela desconsiderada por quem a recebe, pois este
sequer reconhece aquela relação que existe entre ele e quem a emitiu (LUHMANN, 1983).
É interessante notar, sob essa perspectiva, o papel da voz no nível do comando de uma
comunicação. Este, como mensagem implícita sobre a relação entre os sujeitos comunicantes, é,
em uma comunicação oral, revelado em grande parte pela voz. A dinâmica fonatória dos
sujeitos, isto é, sua maneira de falar, revela boa parte de suas intenções, do que um pensa a
respeito do outro sujeito e das mensagens que explicitam. Uma voz mais grave e emitida em
volume mais elevado pode sugerir mais autoridade, revelando a relação de subordinação entre
os seres que se comunicam. Uma fala mais acelerada, com voz tremulante, pode indicar a
emissão de uma mensagem por parte de um subordinado ao seu superior.
Agostinho: – Reparas, creio eu, que tudo quanto, com algum significado, se profere pela
articulação da voz fere o ouvido de forma a ser percebido, e é enviado à memória para ficar
conhecido.
Agostinho: – Acontecem, portanto, duas coisas quando algo emitimos com a voz.
Adeodato: – Assim é.
Agostinho: – Que dirias tu se por uma destas qualidades fossem chamadas palavras
(“verba”, de “verberare”: percutir, bater) e pela outra nomes (“nomina”, de “nosco”,
conhecer)? E o primeiro termo assim se denominasse por causa dos ouvidos e o segundo
do espírito.
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Adeodato: – Concordarei [...]. [...] Vimos, durante a discussão, com bastante probabilidade,
que uma é a razão por que se diz “verba” (palavras) e outra por que “nomina” (nomes). A
primeira refere-se à percussão (verberatio) do ouvido, a segunda ao conhecimento
(commemoratio: notio, noscere) do espírito; por isso dizemos muito bem, quando falamos
qual é o “nome” desta coisa desejando gravá-la na memória, e não dizemos, ao contrário,
“palavra”. (AGOSTINHO, 1984, pp. 301-8)
Todos nós somos capazes de produzir várias vozes. Na realidade, mudar o padrão vocal
de acordo com o interlocutor e com o contexto da comunicação é um bom sinal de saúde
vocal, tanto do ponto anatomofuncional – por se conseguir organizar diferentes ajustes
motores, como do ponto de psicoemocional, por se considerar a mensagem vocal que
revelará a intenção do discurso (BEHLAU; PONTES, 1995, p. 55).
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evolução de um distúrbio até a sua primeira avaliação clínica. É por meio da anamnese, muitas
vezes, que, “quando um paciente apresenta-se para tratar de um distúrbio da voz, o médico
tenta diagnosticar o problema, quantificar o grau de disfonia e prescrever o tratamento
adequado” (HOGIKYAN; SETHURAMAN, 1999, p. 557). Segundo Barros e Carrara-De Angelis
(2002, pp. 185-188), a anamnese estabelece um roteiro do indivíduo e de seus transtornos,
sendo, por diversas vezes, o fundamento do sucesso de um tratamento.
Qual a ajuda trazida pelo paciente ao médico? Sua memória. O médico antigo praticava
com o paciente a anamnese, isto é, a reminiscência. Por meio de perguntas, o médico fazia
o paciente lembrar-se de todas as circunstâncias que antecederam o momento em que
ficara doente e as circunstâncias em que adoecera, pois essas lembranças auxiliavam o
médico a fazer o diagnóstico e a receitar remédios, cirurgias e dietas que correspondiam à
necessidade específica da cura do paciente. (CHAUÍ, 2006, p. 139)
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Um exame clínico que pode ser indicado é a laringoscopia direta, por meio de fibras
óticas, inseridas pela boca (aparelho rígido) ou pelo nariz (nasofibrolaringoscopia). Por meio
desses exames, é possível verificar – e gravar em vídeo – o funcionamento das pregas em
repouso e em vibração, verificando também se estas estão com alguma patologia, tais como:
Pólipos vocais: “lesão unilateral em 90% dos casos [...], com grande associação
ao tabagismo” (DEDIVITIS, 2002b, p. 62);
A emissão da voz é uma atividade física, muscular e racional com gasto energético real,
o que pressupõe um corpo equilibrado, bem nutrido e descansado. Algumas orientações gerais
para a manutenção de uma boa produção vocal podem ser elaboradas, sempre com a ressalva
de que é a própria pessoa que deverá desenvolver e nutrir uma consciência vocal, isto é, o
entendimento de sua própria voz, do cuidado que esta demanda e do seu uso eficiente e
saudável.
Ao destacar os fatores condicionantes de boa ou má saúde vocal, não se garante que ter
certo hábito evitará ou provocará, de maneira determinante e inexorável, problemas vocais.
Apenas destacam-se as atitudes que, uma vez tomadas com relação à voz, tendem a criar
condições para a permanência de sua saúde ou para seu desgaste. Assim, as orientações
visando à manutenção da saúde vocal não têm um efeito instantâneo e sequer produzirão
resultados se não forem incorporadas à prática cotidiana individual, como hábito, ao lado
também da prática de exercícios de técnica vocal, como os que veremos no capítulo 4. O
autocuidado para a manutenção da boa qualidade de produção da voz é especialmente salutar
para os profissionais da voz, visto que fazem parte do grupo de alto risco vocal.
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Um relevante tópico que tem sido destacado em investigações sobre saúde vocal é o
cuidado com a alimentação. Apesar de parte dos profissionais da voz ter esse cuidado, há uma
notável parcela dos mesmos e de indivíduos em geral que negligencia a alimentação, tomando-a
simplesmente como condicionante estético, e não como determinante de saúde física – e,
portanto, vocal. Por isso, é preciso desenvolver a consciência de que a alimentação é uma parte
essencial do autocuidado de uma pessoa.
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No grupo dos lipídios estão os óleos e as gorduras, que também têm uma importância
biológica para nosso corpo:
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Os alimentos fritos ou ricos em gorduras, assim como outras comidas pesadas e muito
condimentadas, retardam a digestão. Essa digestão lenta dificulta a respiração, pois interfere na
movimentação do diafragma, músculo essencial do sistema respiratório, principalmente no
controle do fluxo expiratório. Essa dificuldade digestiva também favorece o refluxo
gastresofágico, causado pela subida de ácido clorídrico do estômago em direção à boca, o qual
leva a um inchaço nas pregas vocais.
As vitaminas hidrossolúveis devem ser repostas diariamente, pois seu excesso é sempre
excretado pela urina. Já as vitaminas lipossolúveis, obtidas nos alimentos gordurosos, são
armazenadas no tecido adiposo e, portanto, não urgem reposição tão constante. São elas:
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vitamina K, obtida pelo consumo de folhas verdes e óleos vegetais e que tem
uma ação anti-hemorrágica, facilitando a coagulação sanguínea (SILVA
JÚNIOR; SASSON, 2005).
Behlau e Pontes (2001) afirmam que a produção da voz é um processo de alto gasto
energético e, portanto, se o indivíduo usa a voz profissionalmente e/ ou de forma intensa – para
lecionar, ministrar palestras, fazer discursos ou comentários, vender produtos, etc. –, deve
consumir carboidratos e proteínas em grande proporção.
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Fonte: Philippi et al. apud Philippi et al. (1999, p. 69). Ilustração de Graziela Mantoanelli.
14Trata-se do artigo “Development of the food guide pyramid”, publicado na revista Nutrition Today, v. 27, n. 6, pp.
12-23.
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Esses alimentos provocam a densificação do muco que recobre a mucosa das vias
aéreas, ou seja, a saliva e o muco preso às paredes de nosso sistema respiratório podem acabar
ficando muito grossos. Esse muco fica mais denso inclusive na laringe, prejudicando a correta
vibração das pregas vocais. Assim, quando comemos chocolate, por exemplo, temos a sensação
de há um corpo estranho, algo que incomoda a garganta, e, assim, pigarreamos para tentar
limpá-la. Porém, pigarrear acaba lesando ainda mais as pregas vocais, causando um
extressamento dessas estruturas musculares. É importante lembrar que, quando há vontade de
pigarrear, a melhor atitude é ingerir calmamente um copo d’água.
A higiene vocal é essencial para mantermos uma voz saudável. Diante de todas as
agressões que nosso aparelho fonador e nosso sistema respiratório sofrem diariamente, como a
presença das inúmeras partículas que existem no ar poluído que inspiramos, é ainda mais
essencial higienizarmos nosso trato vocal – ou seja, a região que compreende a glote, a laringe,
a faringe, a cavidade oral e a cavidade nasal. Ademais, as atividades metabólicas e o próprio ar
seco que respiramos implicam a necessidade de hidratação constante.
A prega vocal adulta é formada por várias camadas e a sua mucosa é recoberta por uma
camada de muco (secreção mucosserosa) produzido pelas glândulas laríngeas, o qual é
imprescindível para a vibração das pregas vocais (DEDIVITIS; BARROS, 2002, p. 40-1). A
viscosidade desse muco afeta a onda mucosa e pode levar à disfonia (alteração na voz falada),
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pois o fluxo do muco da traqueia em direção às pregas vocais ocorre até durante o sono e,
quanto maior a viscosidade do fluido que recobre as pregas vocais, menor a amplitude de
vibração das pregas vocais. As propriedades físicas do muco alteram-se, assim, em resposta às
várias condições fisiológicas e sua densidade é controlada pela hidratação.
A água não passa pelas pregas vocais; portanto, a hidratação se realiza indiretamente.
Em termos da produção vocal, a água a influencia de três formas:
a água líquida que ingerimos será incorporada pelo organismo como matéria
prima para a produção do muco que recobre as pregas vocais, cuja qualidade
de vibração dependerá da densidade do muco;
a água líquida que passa da cavidade oral e a água gasosa – vapor – inalada
pelas cavidades nasal e oral, que seguem pela orofaringe e faringe em direção
ao esôfago e ao estômago umedecem e higienizam o trato digestivo e as vias
aéreas, facilitando a respiração e a ressonância da voz;
Cabe ressaltar que a lubridificação das pregas deve se dar especialmente pela ingestão
de água à temperatura ambiente, pois a água gelada ou aquecida – bem como as demais
bebidas, quando em temperaturas extremadas – pode provocar um choque térmico interno, que
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Bebidas gaseificadas devem ser evitadas, principalmente logo antes de uma produção
vocal de grande intensidade, como um concerto (no caso de um cantor), uma palestra, aula ou
discurso. Uma séria restrição a estas bebidas se refere ao fato de estimularem o refluxo
gastresofágico (subida do ácido clorídrico do estômago em direção ao esôfago e à faringe, que
atinge indiretamente a laringe, provocando o inchaço das pregas vocais).
Além da ingestão de água e demais bebidas por via oral, outras formas indiretas de
hidratação da laringe podem ser realizadas, como a inalação de vapor d’água pelo nariz ou pela
boca, proporcionando lenitivo rápido aos sintomas de muco pegajoso e ressecamento. Essa
inalação pode ser feita com a ajuda de aparelhos especiais (inaladores), que dispõem de uma
máscara facial pela qual é liberado vapor, ou pelo aquecimento de água em uma panela comum,
da qual se aproxime o rosto para inspirar o vapor.
Existem ainda outros dois hábitos muito interessantes para mantermos a hidratação de
nossas vias aéreas.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
é o Rinosoro®, porém este contém mais um componente (benzalcônio) e tende a ser mais
irritativo à mucosa nasal.
Também para hidratar e higienizar as vias nasais, pode-se usar uma canequinha de
cerâmica com a extremidade adequada ao orifício nasal. Essa canequinha, chamada “lota”, é
muito usada por praticantes da ioga para a execução de um exercício chamado Jala-neti e é
especialmente recomendada para quem tem alergias respiratórias e/ ou vive em ambientes
muito poluídos.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Este processo faz parte das técnicas de purificação do yoga, conhecidas como
kryias.
Além das citadas formas de hidratação (ingestão de líquidos por via oral, higienização e
hidratação por via nasal), a manutenção do muco das vias aéreas na densidade adequada pode
ser lograda com o consumo da maçã, muito recomendada para a higienização e hidratação
vocal, já que esta fruta tem propriedades químicas (poder adstringente) que a permitem absorver
o excesso de secreção e estimular a salivação. Também têm efeito semelhante as frutas cítricas,
como a laranja e o limão. Se ingeridas em excesso, todavia, podem ocasionar um ressecamento
excessivo das vias respiratórias, dificultando a boa emissão vocal.
fortalecimento muscular;
combate da hipertensão;
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Visto que uma boa saúde vocal é condicionada por uma boa saúde física, a prática
regular de exercícios é altamente recomendável, principalmente a de atividades de baixo
impacto, tais como caminhadas, ciclismo e dança. Caminhadas, natação e ioga são
particularmente relevantes sob o ponto de vista da prática respiratória, enquanto a ginástica e os
alongamentos corporais determinam uma boa flexibilidade muscular, também importante para a
respiração. Massagens e exercícios de relaxamento são contributivos para uma boa saúde
vocal, a ponto de serem extremamente recomendados, notavelmente técnicas como a
massoterapia e a ginástica facial (COELHO, 2005), princípios da antiginástica (BERTHERAT;
BERNSTEIN, 1982) e da ioga (HERMÓGENES, 1976)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
O t’ai-chi ch’uan (literalmente “luta suprema final”) é uma arte marcial chinesa utilizada
para a saúde, o esporte e a autodefesa, servindo como prática de meditação, por meio de
movimentos lentos e harmoniosos, que geram paz de espírito, tranquilidade e equilíbrio
emocional, aliviando as tensões do nosso corpo e da nossa mente. “T’ai-chi é conhecido como
um sistema de ‘energia intrínseca’. Um dos maiores objetivos da prática é desenvolver a ch’i, ou
energia vital, no corpo. O estudante de t’ai-chi deve aprender a relaxar por completo durante o
treinamento. O propósito é eliminar toda tensão do corpo de forma que ch’i flua sem obstáculos”
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 118). Alguns dos exercícios de t’ai-chi ch’uan consistem em
relaxar os ombros e soltar os cotovelos; usar a mente, e não o esforço muscular, como princípio
dos movimentos; expirar e alongar as costas.
Por fim, a prática da ioga é um caminho seguro para o entendimento do nosso corpo e o
eficaz relaxamento de nossas tensões, proporcionando repouso e recuperação diários. A atitude
que essa prática nos leva a adquirir é uma relaxação com efeitos psicossomáticos: em cada
postura trabalhamos um grupo muscular e, assim, vamos aquietando nossa mente. Dentre as
várias linhas de prática da ioga destaca-se a hatha ioga, que compreende um “grande números
de práticas e disciplinas destinadas a controlar o corpo e as pranas ou energias vitais do corpo”
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 116) e é um “sistema de saúde e higiene que envolve tanto o
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corpo quanto a mente. Visa o homem inteiro para seu pleno desenvolvimento e auto-realização.
Leva em conta não apenas o crescimento propriamente dito, a fora e o tono nos diferentes
músculos do corpo, mas também a eficiência e a função dos fatores básicos da saúde
constitucional, a saber, os órgãos internos e as glândulas” (MAJUMDAR apud FADIMAN;
FRAGER, 1986, p. 116). A ioga é especialmente relevante para a saúde vocal por suas práticas
respiratórias, contribuindo eficazmente no controle de fluxo expiratório e, portanto, para a
produção vocal.
3.4.5. Bioenergética
As funções básicas da vida estão ligadas aos processos energéticos que envolvem a
respiração, o metabolismo básico do corpo e as descargas de energia nos movimentos. A
quantidade de energia que produzimos e retemos em nosso corpo determina a maneira de
darmos respostas frente às situações de nossa vida. A bioenergética, segundo seu criador,
Alexander Lowen (1979; 1983; 1984), também é uma forma de terapia, que combina o trabalho
do corpo com o da mente para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas emocionais e a
melhor perceberem o seu potencial para o prazer e a alegria de viver. “A bioenergética enfatiza a
necessidade de fundamentar-se, de basear-se em seus próprios processos físicos, emocionais e
intelectuais” (FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 107). É também conhecida como terapia neo-
rechiana, por ser inspirada nos ensinamentos de Wilhelm Reich (1897-1957).
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Em corais, alguns cantores têm o costume de cantar com a cabeça abaixada, pois
precisam ler a partitura que está na pasta que seguram; porém, colocam essa pasta muito baixo
e, assim, ficam com o rosto coberto. Eis dois fatores que afetam a projeção da voz: o obstáculo
físico (pasta à frente da boca) e a inclinação da cabeça.
No caso da fala, a inclinação do rosto e a postura corporal são os fatores que mais
importam. Por causa da timidez ou de desconforto diante da platéia, alguns professores e
palestrantes mantêm uma postura corporal ruim, com a coluna encurvada e a cabeça voltada
para baixo, sempre fitando o chão e evitando olhar para os alunos e ouvintes. Essa postura
ensimesmada, no entanto, prejudica a comunicação entre o expositor e os ouvintes, pois a
emissão vocal é dificultada; assim, ou a platéia não consegue ouvir o expositor, ou este tem de
realizar um esforço desnecessário de emitir a voz em maior volume sonoro (intensidade).
A boa postura é aquela em que mantemos os pés separados (na largura dos ombros),
atingindo um bom equilíbrio físico para nosso corpo e uma correta distribuição do peso para o
apoio em ambas as pernas. Devemos manter os ombros relaxados – mais baixos – e elevarmos
a cabeça, que fica levemente para trás, apoiando-se na coluna vertebral. É importante
mantermos os braços, mãos e dedos relaxados, para que tenhamos a sensação de que a voz sai
apenas com muito pouco esforço.
A correta postura corporal, além de nos manter mais relaxados, é essencial para a boa
projeção vocal. Mantendo a cabeça alinhada horizontalmente, com o queixo levemente elevado,
podemos emitir a voz mais em volume baixo e teremos o mesmo efeito – ou até melhor –
daquele que teríamos se falássemos mais alto, porém com a cabeça menos erguida. Mas
também é importante não elevar a cabeça exageradamente, esticando o pescoço, pois essa
posição causa maior tensão na musculatura da laringe e da faringe.
Portanto, a tomada de consciência corporal aliada à emissão vocal, seja falada, seja
cantada, é de extrema relevância para o profissional da voz. Reitera-se que os aspectos
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3.4.7. Sono
O sono não é um estado que ocorre passivamente, mas sim, um estado que é ativamente
gerado por regiões específicas do cérebro. Todas as funções do cérebro e do organismo
em geral estão influenciadas pela alternância da vigília com o sono, sendo que este
restaura as condições que existiam no princípio da vigília precedente. O objetivo final do
sono não é prover um período de repouso; ao contrário do que acontece durante a
anestesia geral, no sono, aumenta-se de forma notável a freqüência de descargas dos
neurônios, maiores do que os observados em vigília tranquila. (UNIFESP VIRTUAL, 2009,
s/p.)
O sono é dividido em dois períodos: sono REM (Rapid Eye Movements) e sono NREM
(Non-Rapid Eye Movements), sendo que este último constitui cerca de três quartos do período
total de sono. No sono NREM, subdividido em quatro estágios, o individuo primeiramente
começa a sentir sonolência e passa a um sono leve, que pode ser interrompido por qualquer
barulho ou perturbação; em seguida, a atividade cardíaca reduz-se, os músculos relaxam-se e a
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
temperatura corporal diminui; depois o sono vai tornando-se progressivamente mais profundo. É
no sono NREM que a pressão arterial atinge sua marca mais baixa.
Após cumprir esse ciclo, o sono volta os estágios do sono NREM, retornando à fase
REM e reiniciando o ciclo. No sono REM há intensa atividade do sistema nervoso, a respiração é
acelerada e há movimentos oculares rápidos (explica-se, assim, o nome da fase). É nessa fase
que ocorrem mais intensamente os sonhos e, embora não proporcione um descanso profundo, o
sono REM permite a recuperação emocional.
Pela variação da nossa exposição à luz, a glândula pineal ou epífise neural, localizada
próximo ao centro do cérebro, produz o hormônio melatonina. Segundo Poyares et al. (2005, p.
5), a “via principal para a síntese da melatonina parte da retina” e “os níveis de melatonina sérica
são baixos durante o dia e altos durante a noite, atingindo os maiores picos entre 2:00 e 4:00
horas, permanecendo elevados durante a noite e caindo antes do clarear pela manhã”.
Fisiologicamente, o aumento dos níveis de melatonina durante a noite tende a provocar
consequências como redução da temperatura corporal e sonolência. Para portadores de alguns
distúrbios do sono, a melatonina pode ser administrada terapeuticamente.
Cabe considerar que, além de afetar o processo cognitivo do indivíduo, o sono também
interfere na sua voz. A qualidade vocal de um falante ou cantor pode ser otimizada por uma
quantidade suficiente de sono, inclusive porque o sono é um momento de repouso vocal. Um
estudo envolvendo 100 pacientes disfônicos (com alterações na voz) e 100 pacientes não
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
disfônicos revelou que ambos percebem sua voz diferente após uma noite maldormida, sendo
que as mulheres disfônicas percebem mais as alterações vocais do que as não disfônicas.
Ademais, destacou que os disfônicos, em geral, acreditam que precisariam de mais horas de
sono do que as que normalmente têm (GUIMARÃES; ANDRADE e SILVA, 2007).
A falta de repouso determina menos energia para o organismo e, sendo a emissão vocal
uma atividade de alto gasto energético, o déficit de sono pode ocasionar dificuldades, como voz
cansada e alterações no ritmo, no tom e na clareza da fala. Após dormir mal, sua voz pode
acordar mais rouca, fraca e soprosa.
Esse exemplo dos cantores líricos é ilustrativo para quaisquer outros indivíduos que
usem a voz em atividades de lazer ou profissionais, como no ensino. O professor, que, mesmo
não sendo cantor, é obrigado a falar muito alto e durante muito tempo, deve procurar momentos
do dia para repousar a sua voz. Para este e qualquer outro profissional da voz, o silêncio pode
ser o fator de maior preservação do seu instrumento de trabalho.
Frequentar cinemas, shows e concertos, por exemplo, são momentos em que se pode
desfrutar de um repouso vocal, essencial para a saúde vocal. Também o sono é um momento
propício – talvez o principal, via de regra – para o repouso vocal absoluto.
Ademais, não só para a preservação da saúde vocal, mas também da saúde mental, o
silêncio é altamente recomendável. Em meio à poluição sonora do trânsito, de aviões, de rádios
ligados em volume altíssimo, das trilhas sonoras da televisão e do cinema, cada vez mais
agressivas aos nossos ouvidos, é essencial buscarmos um momento do dia, ou da semana, ao
menos, para podermos apreciar o silêncio, repousando nossa mente.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Além das considerações já realizadas acerca de hábitos indutores de saúde vocal, hão
de ser destacados outros quatro fatores condicionantes de uma boa produção vocal, quais
sejam: realização de treinamento vocal, conhecimento do trabalho fonoaudiológico,
conhecimento de fisiologia vocal e frequência ao fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista, quando
necessário. Tais fatores não constituem diretamente hábitos de higiene vocal, mas condicionam
a saúde da voz, constituindo vias indiretas para se avaliar esta.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
trata de temas como a comunicação oral e escrita, a voz, a audição e a acústica, além das
funções de mastigação, deglutição e respiração, que influem na produção vocal. O enfoque
tradicional da pesquisa fonoaudiológica era o tratamento de doenças, ou seja, de pessoas que
possuíam distúrbios de comunicação. No Brasil, a pesquisa sobre indivíduos sem esses
distúrbios foi iniciada apenas nas últimas décadas.
As disodias (do grego dys, difícil, e odes, cantar) são as alterações que se apresentam
na prática do canto e suas causas são classificadas em: físicas (que se referem aos problemas
nos ressoadores e nas vibrações e aos transtornos na configuração tóraco-abdominal),
fisiológicas (classificação vocal inadequada, repertório inadequado, método imperfeito, escrita
musical, respiração inapropriada, senilidade vocal, etc.) e patológicas (orgânicas, digestivas,
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
sensoriais, psíquicas), como bem comentam Perelló, Caballé e Guitart (1982, p. 181-192).
Entretanto, o que mais interessa no presente manual, cujo foco é a voz falada, são as
disfonias, alterações na voz falada ou “alterações do comportamento fonatório que
correspondem a um defeito de adaptação e coordenação dos diversos órgãos que intervêm na
produção da voz”, conforme definem Behlau e Pontes (1995, p. 18), baseados em Le Huche. As
disfonias – ou, mais precisamente, disfonias funcionais – apresentam diversas causas, tais
como: (a) uso incorreto da voz; (b) inadaptações vocais (falta de coordenação e eficiência dos
diversos órgãos que participam da fonação); (c) alterações psicoemocionais (influências
negativas do estado psíquico/ emocional na emissão da voz). São considerados problemas
fisiológicos na emissão vocal, isto é, disfunções na fonação. Para Behlau e Pontes (1995, p. 19):
[...] entende-se a disfonia como um distúrbio de comunicação, no qual a voz não consegue
cumprir o seu papel básico de transmissão da mensagem verbal e emocional de um
indivíduo. Uma disfonia representa qualquer dificuldade na emissão vocal que impeça a
produção natural [isto é, normal] da voz; essa dificuldade pode se manifestar através de
uma série ilimitada de alterações, como: esforço à emissão, dificuldade em manter a voz,
cansaço ao falar, variações na frequência fundamental habitual, rouquidão, falta de volume
e projeção, perda da eficiência vocal, pouca resistência ao falar, entre outras.
Destarte, hábitos vocais inadequados, que obstam a manutenção da saúde vocal, são
relevantes causadores de disodias e disfonias. As imprudências e agressões mais comumente
cometidas contra o aparelho fonador e que colocam em risco a produção falada e cantada são:
ingestão de bebidas alcoólicas, fumo, automedicação, mudanças de temperatura, ar
condicionado, poluição, alergias e drogas. Agregam-se a esses fatores, entre outros, a má
alimentação e o descanso inapropriado, maus hábitos vocais (pigarrear, tossir com força,
competir com os sons de fundo, etc.), posturas corporais inadequadas e vestuário impróprio –
facilitador de alergias, inadequado à temperatura ambiente e dificultador da boa postura (caso,
p.ex., dos sapatos de salto alto).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Comer e, logo em seguida, deitar-se é a atitude mais comum para se provocar o refluxo
gastresofágico, que é ainda mais estimulado se os alimentos ingeridos foram muito pesados e
condimentados, pois estes dificultam e retardam o processo digestivo. O refluxo ainda é
estimulado se a pessoa se deita e mantém a cabeça em posição muito baixa, sem apoio ou
apenas sobre um travesseiro fino.
Dessa forma, é favorecida a subida do suco gástrico, pelo esôfago, passando pela
faringe, até a boca. No suco digestivo que fica no estômago (suco gástrico), está presente o
ácido clorídrico ou muriático (HCl), que lá facilita a degradação química dos alimentos. O fato de
o suco gástrico ser muito ácido (pH = 2) o permite ter uma propriedade bactericida (matar as
bactérias) e, ao envolver o bolo alimentar (chamado no estômago de quimo ácido), facilitar-lhe a
degradação. A enzima presente no estômago, o pepsinogênio, permanece na forma inativa e
não realiza a digestão se não entrar em contato com o ácido clorídrico. Este ácido tem o poder
de ativá-la, transformando-a em pepsina, enzima que transforma as proteínas (polipeptídeos) em
peptídeos (“pedaços de proteína”). Ou seja, a presença de ácido clorídrico é, no estômago,
condição sine qua non para a digestão das proteínas.
Porém, quando o HCl sobe em direção à cavidade bucal, uma parte, em forma gasosa,
pode atingir a laringe, provocando edemaciamento (inchaço, geralmente por acúmulo de
líquidos) das pregas vocais e outros sintomas, como azia, pigarro constante, saliva viscosa e
mau hálito. Esse problema é agravado ainda pela ingestão habitual de cafeína. Doenças
estomacais, como a gastrite e a úlcera podem eventualmente influenciar na produção do ácido
clorídrico do estômago, afetando o processo do refluxo gastresofágico.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
evitar o fumo.
3.5.2. Cigarro
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Quanto à voz, o fumo também é severamente nocivo. A fumaça quente por este
produzida agride todo o sistema respiratório e fonador, afetando o muco que lubrifica as paredes
desses sistemas. O pulmão perde sua elasticidade e adquire o aspecto de uma esponja escura e
rígida, o que certamente diminui drasticamente a capacidade respiratória. A fumaça do tabaco
afeta em especial as pregas vocais, causando irritação, edema (inchaço), tosse, alterações no
muco, aumento de secreção e infecções (BEHLAU; PONTES, 1995). Também é um dos
principais fatores desencadeantes do câncer de laringe e de pulmão.
Figueiredo et al. (2003), por exemplo, ao efetuarem uma análise comparativa entre as
vozes de indivíduos fumantes e não-fumantes, concluíram que o tabagismo ocasiona uma
discreta diminuição da frequência fundamental da voz dos indivíduos fumantes de ambos os
sexos – isto é, a fala dos fumantes tende a ficar mais grave. Há também maior incidência de
rouquidão e de alterações laríngeas entre os tabagistas.
O cigarro libera em sua fumaça mais de 4000 componentes, alguns gasosos (como o
gás carbônico, CO2) e outros particulados, como a nicotina e o alcatrão. O fumante passivo fica
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exposto a uma dupla liberação de fumaça: a exalada pelo fumante e a liberada diretamente pela
queima final do cigarro. Aquela parte expelida pelo fumante é mais úmida e concentrada, porém
contém mais substâncias voláteis, sendo menos tóxica. Já a fumaça produzida pela queima final
do cigarro libera componentes mais tóxicos.
Quanto à voz, pode-se inferir que os fumantes passivos terão no mínimo problemas
semelhantes aos dos tabagistas. A gravidade dessa situação, portanto, exige que se evitem os
ambientes para fumantes e que se exija respeito por parte de quem fuma. Estes devem evitar
acender cigarros diante de não-fumantes e devem buscar ambientes mais ventilados para fumar,
permitindo que a fumaça que produzem se disperse mais facilmente.
Cabe destacar uma pesquisa realizada em restaurantes com mais de 50 mesas ou 100
lugares da cidade de São Paulo-SP, junto a 100 garçons não fumantes, na qual Laranjeira, Pillon
e Dunn (2000) delinearam a situação desses profissionais como fumantes passivos em seus
ambientes de trabalho. 94% dos profissionais entrevistados declararam que a exposição à
fumaça de cigarro no ambiente doméstico era nula, baixa ou muito baixa; já no ambiente de
trabalho, após um período de nove horas de exposição a essa fumaça, as taxas de monóxido de
carbono expirado pelos garçons não fumantes mais que dobraram. Apesar das outras fontes de
monóxido de carbono, como a fumaça advinda da cozinha, das churrasqueiras e dos carros que
passam na rua, a principal origem do monóxido de carbono inspirado pelos garçons foi a fumaça
do cigarro dos clientes. Os autores ainda pontuaram que: “Embora muitos restaurantes tenham
tanto áreas para fumantes quanto para não fumantes, essa divisão apenas fornece alguma
proteção ao cliente. Aqueles que trabalham em restaurantes continuam expostos aos perigosos
efeitos da fumaça do tabaco” (LARANJEIRA; PILLON; DUNN, 2000, p.91).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
A maconha, em um curto período de uso, provoca tosse seca e perda do brilho na voz
de seu usuário. Assim como a fumaça do tabaco, a da maconha pode resultar em inchaço ou
câncer de laringe; porém a fumaça da maconha é muito mais quente e menos filtrada.
Por sua vez, a heroína tem uma forte ação como anestésico, fazendo o usuário perder o
controle de sua mente e, em decorrência, do uso de sua voz.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
aponta o custo econômico anual do abuso de álcool nos Estados Unidos em torno de 48
bilhões de dólares, incluindo US$ 19 bilhões de gastos com cuidados médicos.
Acidentes devidos à condução de veículos sob o efeito do álcool constituem sério problema
mundial. No Brasil, dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que
50% dos acidentes automobilísticos fatais são relacionados ao consumo de álcool.
(DUAILIBI; LARANJEIRA, 2007, p. 840-3)
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O álcool contido nas bebidas (etanol ou álcool etílico) é obtido a partir da fermentação de
carboidratos contidos em vegetais como a cana de açúcar, processo este realizado por
microorganismos (leveduras). Já as bebidas destiladas são aquelas que, após a fermentação,
passam pelo processo de destilação, no qual se purifica o líquido pela sua evaporação e
posterior condensação, obtendo-se uma bebida com maior teor alcoólico.
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Se não for possível tomar as atitudes supracitadas, isto é, se o alimento ou líquido já foi
colocado na cavidade bucal, pode-se diminuir os efeitos desse choque térmico sobre as pregas
vogais se, antes de engolirmos esses alimentos ou bebidas extremamente quentes ou gelados,
os mantivermos, por algum lapso de tempo, na cavidade bucal.
3.5.7. Ar condicionado
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Sendo a poluição atmosférica, em geral, uma questão de saúde pública, com grandes
implicações socioeconômicas e a ser resolvida somente em longo prazo, o que se pode fazer, de
imediato, é não permanecer em ambientes fechados poluídos, como locais onde há pessoas
fumando ou garagens, onde costuma haver grande concentração de gás carbônico/ dióxido de
carbono (CO2) ou, pior ainda, de monóxido de carbono (CO).
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3.5.9. Pó e poeira
O contato com o pólen das plantas, com restos da descamação de peles de animais,
com o ácaro e com outros micro-organismos ou partículas estranhas presentes na poeira
domiciliar agrava em muito os sintomas de quem já tem alguma alergia respiratória e, em quem
não as têm, provocam no organismo reações semelhantes a alergias.
Manter a higiene doméstica é indispensável para se ter uma boa saúde, em geral e em
termos do sistema respiratório e do aparelho fonador. Nesse sentido, algumas orientações
podem ser elaboradas:
evitar tapetes e carpetes muito grossos, que tendem a acumular mais pó e são mais
difíceis de se limpar; optar, quando possível, pelos pisos frios (cerâmica, granito, etc.) ou
de madeira;
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tirar o pó dos móveis (incluindo sofás e cadeiras), dos enfeites e do chão com um pano
molhado, e não com flanelas, panos secos ou espanadores, que espalham o pó e tem
eficiência reduzida na higiene do lar;
Também é útil nessas situações amarrar um pano úmido sobre o nariz e a boca,
obviamente deixando espaço para que o ar também entre por debaixo do pano. No tecido
molhado e levemente torcido forma-se praticamente uma película de água, que protege a
entrada de ar, filtrando-o. O ar que passa pelo pano tem muitas de suas partículas retidas pela
água. Ademais, quando se respira através de um pano umedecido, também se inspira mais
umidade, pois, como o pano está próximo das narinas, boa parte da água que é evaporada do
tecido entra na forma gasosa pelas vias respiratórias. Outra orientação útil consiste em manter
uma bacia com água nos locais empoeirados; dessa forma, o ar também fica menos seco, o que
diminui a probabilidade de desidratação.
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Existe uma grande correlação entre alergias/ distúrbios respiratórios (rinite, asma,
bronquite, sinusite, faringite e laringite) e alterações vocais, devido principalmente a alterações
na respiração do indivíduo e em sua produção de muco nas vias aéreas. Há um crescimento na
ocorrência de tais distúrbios nas últimas décadas, devido principalmente a problemas na
qualidade do ar das grandes cidades e a constantes mudanças térmicas, mas também ao
convívio com indivíduos fumantes e com poeira domiciliar. Entretanto, há também um grande
desconhecimento das reais etiologias (causas) e sintomas relacionados a esses distúrbios: Silva,
Mello Jr. e Mion (2005), por exemplo, mostraram que existem grandes deficiências de conteúdo,
transparência e honestidade em informações divulgadas por boa parcela dos sites de Internet
que tratam de rinite alérgica.
Já a asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, considerada incurável,
mas que pode ser controlada (ZHANG et al., 2005). Relaciona-se ao edema da mucosa
brônquica, à produção de muco em excesso e à contração muscular e diminuição do diâmetro de
vias aéreas superiores.
Cabe considerar que a rinite alérgica predispõe o indivíduo à asma; assim, a maioria dos
pacientes asmáticos possui também rinite. Para Branco, Ferrari e Weber (2007, p. 267), “a
relação mais importante entre asma e rinite é a presença de inflamação nas mucosas nasal e da
via aérea inferior [p.ex.: dos brônquios], decorrente do contato com o antígeno na via aérea
superior, o que provoca, portanto, inflamação em toda a via aérea”. Por outro lado: “Na rinite
alérgica, o epitélio [tecido] pode ser preservado ou há descamação sem espessamento da
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membrana basal [de base], diferente do observado na asma” (BRANCO; FERRARI; WEBER,
2007, p. 267). A correlação entre tais doenças varia, entretanto, dependendo do indivíduo, de
sua predisposição genética, da estação do ano, da exposição aos alérgenos e da idade do
paciente. Para Annesi-Maesano (citado por BRANCO; FERRARI; WEBER, 2007), há alguns
determinantes e fatores de risco quanto à inter-relação entre asma e rinite: fatores genéticos,
história familiar de alergia, atopia15, fatores imunológicos, tabagismo passivo e ativo e poluição;
entretanto, hiper-responsividade brônquica16, ar frio, umidade, variações sazonais, nutrição,
hábitos de vida, condições socioeconômicas e infecções podem ou não estar evidentemente
relacionados.
A sinusite é a inflamação das mucosas dos seios da face, região craniana composta de
cavidades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos, com mucosa semelhante à nasal. A
sinusite é causada por alterações anatômico-fisiológicas e processos infecciosos ou alérgicos,
responsáveis, respectivamente, por dificuldades na drenagem de secreção e pela inflamação
das mucosas. A sinusite aguda apresenta sintomas (tosse, coriza, pressão no crânio, etc.)
semelhantes à crônica, porém em maior intensidade.
A faringite é uma inflamação comum que pode ser ocasionada por vírus (95% dos
casos) ou por bactérias (5% dos casos). A modalidade crônica da faringite pode ser causada por
uma infecção permanente dos seios paranasais, dos pulmões ou da boca, por irritação constante
produzida por tabagismo, por respirar permanentemente ar muito poluído, por consumir
excessivas quantidades de álcool ou por engolir substâncias corrosivas que gerem lesões na
camada mucosa que recobre a faringe.
15 Atopia: distúrbio orgânico, nem sempre hereditário, em que ocorre hipersensibilidade genética a diversos fatores
ambientais.
16 Hiper-responsividade brônquica: reação exagerada das vias aéreas inferiores quando expostas a determinados
estímulos. Devido a inflamação, as vias aéreas tornam-se irritadas e excessivamente estreitadas, dificultando a
entrada e a saída de ar pelos pulmões.
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Nessas situações tão comuns, estamos imersos em uma conturbada “paisagem sonora”,
para usar o conceito criado pelo teórico da educação musical Robert Murray Schafer (n. 1933).
Todo esse caos sonoro compõe um “ambiente sônico” conturbado, uma “ecologia acústica” em
desequilíbrio, à qual temos dificuldade de reagir. Se quando sentimos alguma irritação visual,
como movimentos muitos rápidos ou ventos de poeira, nossos olhos se fecham instantânea e
instintivamente, na nossa audição é diferente: não temos pálpebras no ouvido, por isso é difícil
protegê-los.
Ao contrário dos outros órgãos dos sentidos, os ouvidos são expostos e vulneráveis. Os
olhos podem ser fechados, se quisermos; os ouvidos, não, estão sempre abertos. Os olhos
podem focalizar e apontar nossa vontade, enquanto os ouvidos captam todos os sons do
horizonte acústico, em todas as direções. (SCHAFER, 1991, p. 67)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
É muito comum encontrarmos pessoas que pigarreiam com frequência. Esse ato
provoca um intenso atrito nas pregas vocais, chegando mesmo a feri-las. Entretanto, o
organismo reage a tal agressão alterando a produção de muco (aumentando-a) para proteger as
pregas: cria-se, assim, círculo vicioso, pois o muco produzido pode dar uma nova sensação de
presença de um corpo fisiológico estranho às pregas e, para eliminá-lo, pigarreia-se novamente.
Para evitar o pigarro e seus efeitos danosos sobre as pregas vocais, devem ser tomadas
algumas atitudes. A primeira delas é hidratar-se para manter o muco fluído, menos denso: a
hidratação oral é a maneira mais eficiente de se manter a necessária quantidade e qualidade de
muco nas pregas vocais. Em segundo lugar, é recomendável que se façam exercícios de
vibração de língua (“RRRRRRR”), imitando a aceleração de um motor de automóvel. Estes sons
podem ser surdos ou sonoros, isto é, usando ou não a voz propriamente dita.
Já gritar consiste em emitir a voz falada em alta intensidade, ou seja, com um volume
sonoro acima do normal. Muitos também gritam de forma mais aguda do que falam, isto é,
produzindo um som de maior altura (um som grave é de menor altura e um som agudo é de
maior altura, independentemente da intensidade, que é o que vulgarmente chamamos de
volume). Quando gritamos, a vibração das pregas vocais torna-se praticamente uma “colisão”,
que sobrecarrega a musculatura da laringe, contraindo excessivamente os músculos laríngeos e
estressando-os. Há também um estresse dessa musculatura quando sussurramos; ou seja, falar
baixo não é sempre sinônimo de poupar a voz. O que se deve buscar é o volume ideal de
conversação, aquele em que a emissão vocal se dá sem excessivo esforço.
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Mas, por que cantores e atores podem emitir sons de alta intensidade (ou seja, de
volume muito alto) sem prejudicar seu aparelho fonador? Em primeiro lugar, pelos exercícios de
aquecimento vocal que estes realizam, mas também graças ao seu preparo respiratório. Mesmo
quando gritam, esses profissionais da voz podem conscientemente associar seu esforço
muscular laríngeo a um bom controle de fluxo expiratório, produzindo, portanto, um “grito
empostado”, que não fere as pregas vocais. Antes de “gritar”, já se prepara o apoio respiratório
necessário para a vibração de forma que haja menor esforço das pregas vocais. Isso acontece
graças ao condicionamento respiratório e muscular adquirido durante anos de treinamento vocal.
Segundo Vieira (2004, p. 72), “as pregas vocais [...], dependendo da frequência e
intensidade do som a ser produzido, têm ajustes pré-fonatórios adequados de pressão
subglótica, tensão longitudinal, aproximação da parte posterior das pregas e força de
compressão na parte medial”. Ou seja, antes mesmo de emitirmos o som de nossa voz, o
aparelho fonador já se ajusta em termos da pressão que a coluna de ar (fluxo expiratório) tem de
fazer sobre as pregas vocais para estas vibrarem, e em termos da tensão e do posicionamento
em que estas têm que estar para produzirem o som adequado.
A fala em tom/ frequência e intensidade adequados permite que não seja efetuado um
desgaste desnecessário ao trato vocal. A variação do tom/ frequência e da intensidade da
dinâmica fonatória é possível de diversas formas, como no:
falsete: cantar em uma altura que a voz da pessoa normalmente não atingiria, ou seja,
cantar de forma mais aguda que a natural;
cochicho: falar em intensidade menor que a normal, isto é, emitir a voz em volume muito
baixo;
grito: falar em intensidade maior que a normal, isto é, emitir a voz em volume muito alto.
Tal variação é resultado de diferentes ajustes laríngeos, que se dão por diversos níveis e
tipos de tensão e compressão das pregas vocais (VIEIRA, 2004), o que determina maior ou
menor desgaste destas.
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A altura em que emitimos nossa voz pode ser mais grave ou mais aguda. Essa altura
depende diretamente da frequência da vibração das pregas vocais. A frequência natural de
nossa voz recebe o nome de frequência fundamental (Fo). Essa frequência possui diferenças
conforme o sexo e varia do adulto para a criança. A frequência fundamental em homens é cerca
113 Hz (podendo variar de 80 a 150 Hz); já nas mulheres, a frequência de vibração das pregas é
maior – cerca de 205 Hz (variando de 150 a 250 Hz) – por isso, sua voz é mais aguda. Nas
crianças, que têm a voz ainda mais aguda, a frequência fundamental média é, normalmente,
acima de 250 Hz (hertz).
Para se verificar a frequência fundamental de alguém, pode-se pedir que a pessoa emita
a vogal /a/ continuamente durante um tempo, em uma altura (frequência) que seja a mais
confortável para a sua voz. Essa altura natural da voz, mais grave ou mais aguda, é a frequência
fundamental, basicamente. Caso haja disponibilidade, pode-se verificá-la utilizando um diapasão,
um teclado ou até mesmo analisadores computadorizados.
Além da altura/ frequência do som de nossa voz (mais alta/ mais baixa, ou mais aguda/
mais grave) e da intensidade/ volume (maior/ menor, ou “mais alto”/ “mais baixo”, ou forte/ fraco,
ou forte/ piano), há que se destacar outras duas características das ondas sonoras vocais: (a) a
duração, isto é, o tempo da vibração sonora das pregas vocais, geralmente mensurado em
segundos; (b) o timbre, qualidade que depende da fonte produtora das ondas sonoras. É pelo
timbre que se diferenciam os instrumentos musicais e que se diferencia uma voz da outra.
Portanto, o timbre é a característica físico-acústica da voz mais pessoal; é por essa qualidade
que se pode, apenas pela voz, diferenciar uma pessoa da outra e identificá-las.
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Segundo Russo (1999, p. 184), “o atributo da sensação auditiva, em termos de que sons
podem ser ordenados em uma escala musical ou de tonalidade, variando de graves a agudos, é
denominado de sensação subjetiva de frequência ou ‘pitch’”. A autora ainda informa que “a ‘pitch’
está relacionada à taxa de repetição da forma da onda de um som”.
vozes masculinas: baixo (voz grave), barítono (voz média) e tenor (voz aguda);
Associado a este procedimento, a classificação pode ser feita pelo tom da voz falada,
pela constituição corporal, pelo volume da cavidade faringobucal e pelo exame laringoscópico,
que define o tamanho das pregas vocais. Veja a tabela a seguir, que destaca a medida das
pregas vogais, aproximadamente, para cada naipe vocal.
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Classificação vocal (por Medida aproximada das Classificação vocal Medida aproximada das
naipe) pregas vocais pregas vocais
(por naipe)
Fonte: elaborado pela autora, com base em Perelló, Caballé e Guitart (1982).
3.5.14. Automedicação
A automedicação não deve fazer parte do repertório diário do indivíduo, já que vários
medicamentos, para doenças diversas, possuem efeitos colaterais sobre as pregas vocais, como
ressecamento ou hiperlubrificação, vasoconstrição ou vasodilatação – ou seja, podem afetar a
circulação sanguínea e a hidratação dos tecidos.
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Alguns efeitos na automedicação na voz foram advertidos por Behlau e Pontes (2001):
Cabe notar que a homeopatia, nos muitos casos em que pode ser utilizada, tende a ser
menos prejudicial ao organismo que os tratamentos alopáticos. Enquanto a alopatia (de alo,
contrário, e pathia, doença) – isto é, a medicina convencional – baseia-se em tratamentos nos
quais os remédios agem provocando efeitos contrários aos das doenças, a fim de combatê-las,
na homeopatia (de homeo, semelhante, e pathia, doença), o doente ingere, de forma diluída e
dinamizada, substância capaz de produzir efeitos semelhantes aos que o indivíduo já apresenta,
induzindo seu organismo a uma resposta fisiológica por seu próprio sistema imunológico
(seguem também este princípio as vacinas). Por isso, define a Associação Paulista de
Homeopatia (APH, 2004, s/p.): “Homeopatia é uma especialidade médica que trata os pacientes
visando à sua totalidade sintomática e que usa a energia dos medicamentos homeopáticos pela
Lei dos Semelhantes, para reequilibrar a energia vital dos indivíduos”. Os medicamentos
homeopáticos não têm contraindicações e não provocam grandes efeitos colaterais,
característicos dos medicamentos alopáticos. A homeopatia cuida tanto da saúde como da
doença, enquanto a medicina tradicional foca-se geralmente em remediar, mas não em prevenir.
“A homeopatia visa à cura tanto das doenças agudas como das doenças crônicas. Sendo uma
proposta terapêutica que visa manter o indivíduo num estado de saúde estável, dessa forma é
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Por ser uma forma terapêutica em que o paciente tem uma co-responsabilidade
em seu tratamento, tornando-se necessário haver uma parceria entre médico e
paciente, os resultados do tratamento podem demorar mais ou menos tempo para
se efetivarem.
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uma sobrecarga nas condições emocionais e físicas, que passam de um limite de atividade
saudável para chegarem ao esgotamento do corpo e da mente.
O que esse tipo de substância provoca é uma dificuldade de articulação das palavras e
uma falta de energia para emitir a voz “em alto e bom tom”, isto é na intensidade (volume
sonoro) adequada para a situação e na frequência (altura) confortável para a voz do falante.
Assim, a emissão vocal fica arrastada e as palavras ficam imprecisamente ditas e dificilmente
identificáveis pelos ouvintes, obstando assim a comunicação e o processo de ensino-
aprendizagem.
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Muitas vezes, encontramos pessoas que dizem ter achado a solução para seus
problemas vocais: foram à farmácia mais próxima e lá encontraram uma abundante oferta de
sprays, balinhas, pastilhas de hortelã ou menta, que, além de provocar a rápida cura de
quaisquer problemas vocais, ainda dão um hálito muito fresco e agradável.
Como os alimentos não passam pela laringe, onde estão as pregas vocais, a utilidade
dessas pastilhas e sprays normalmente não é devida à ação de suas substâncias componentes
sobre as pregas vocais. O que ocorre é que pastilhas e balas mastigáveis ajudam a exercitar a
musculatura da região bucal e da faringe, permitindo um relaxamento dessas estruturas e
facilitando, assim, a emissão vocal. Balas e pastilhas, no geral, também estimulam a salivação e,
assim, contribuem para mantermos certa hidratação em nossas vias aéreas e na cavidade bucal.
Cita-se que o mel pode ser usado como um lubrificante que auxilia a ressonância da voz.
Por outro lado, a ingestão de sal, alimentos apimentados ou vinagre para melhorar sua
performance vocal é infundada: o que ocorre nesses casos é um grande ressecamento das
paredes das vias aéreas, o que dificulta a emissão vocal.
Sprays nasais não devem ser usados por mais de cinco dias subsequentes, podendo
provocar, além de dependência, edema da mucosa, quando param de ser utilizados, levando a
uma obstrução nasal mais intensa que aquela que levou ao tratamento (BEHLAU; PONTES,
2001).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
mucosas (BEHLAU; PONTES, 2001), sendo a melhor opção uma boa hidratação, o emprego de
uma técnica vocal corretamente orientada e, na ocasião de problemas de saúde, a busca de um
profissional que conduza um tratamento eficiente a partir de um diagnóstico adequado –
fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas.
Os perfumes são fluidos altamente voláteis – isto é, que se vaporizam com facilidade –
compostos por óleos essenciais extraídos de vegetais, diluídos em álcool etílico (etanol) e/ ou
em água. Muitas fragrâncias são excessivamente fortes e podem provocar uma reação alérgica
em quem as aspira. A sensibilidade a cada fragrância varia de pessoa para pessoa, mas quem
tem alguma alergia respiratória, como a rinite alérgica, normalmente apresenta os sintomas
desse problema agravado tanto por perfumes quanto por aromatizantes de ambiente.
Assim como nos casos do uso de perfumes muito fortes e com tendência a agravar
alergias respiratórias, a mesma irritação do sistema respiratório ocorre com os aromatizantes de
ambiente (aerossóis). Toda essa irritação das vias aéreas acaba afetando o muco que as
recobre e, consequentemente, a vibração das pregas vocais; algumas vezes, também, fazem-
nos tossir ou pigarrear, lesando diretamente as pregas vocais.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Após inspirarmos o ar, o oxigênio chega aos alvéolos pulmonares, de onde é difundido
para os vasos sanguíneos, que irrigam as células, fornecendo a estas o combustível necessário
para sua atividade.
Vários fatores podem fazer uma pessoa inspirar constantemente pela boca, dentre os
quais: desvio do septo nasal17, hipertrofia de cornetos18, hipertrofia de tonsila faríngea e/ ou
palatinas19, rinite, sinusite, malformações nasais, trauma nasal, tumores da cavidade nasal e
rinofaríngea, polipose nasal20, malformações craniofaciais e hipotonia da musculatura elevadora
da mandíbula21, além hábitos de respiração errôneos (RIBEIRO et al., 2002).
17 Desvio de septo nasal é uma alteração na estrutura que divide o nariz em duas narinas. O septo é formado por
ossos (na sua parte posterior) e cartilagem (na porção anterior) e revestido pelo mesmo tipo de tecido que forra
internamente o nariz, conhecido por mucosa nasal. O desvio é provocado por traumas na parte óssea, cartilaginosa
ou em ambas.
18 Os cornetos são estruturas que se posicionam paralelamente ao septo nasal, dois a cada lado (mais um terceiro,
menor). A hipertrofia dos cornetos pode ser corrigida com tratamentos utilizando remédios e medidas ambientais.
Em um menor número de casos está indicada a realização da turbinectomia, cirurgia para redução dos cornetos.
19A tonsila faríngea (ou adenóides) é a extensão superior do anel linfático de Waldeyer e está l ocalizada na
porção alta da cavidade nasofaríngea, próxima à tuba auditiva e à coana. Ela desempenha um papel
relevante nas otites médias recorrentes e frequentemente sua hipertrofia é responsável pela obstrução das
vias aéreas superiores. A tonsilectomia é um tratamento comumente realizado para doenças crônicas das
tonsilas e ainda é o procedimento cirúrgico mais frequente e mais antigo realizado em crianças e adultos
jovens.
20 A polipose nasal é uma doença inflamatória crônica da mucosa nasal, com formação de pólipos benignos e
múltiplos bilaterais.
21 A hipotonia (perda de tônus) desta musculatura é provocada pela respiração oral. O respirador bucal assume
nova postura, como forma compensatória para tornar possível a respiração. Como consequência, sofre alterações
esqueléticas e miofuncionais importantes durante o seu crescimento facial.
22 Pesquisa recentemente realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que “um terço dos
moradores da cidade de São Paulo – mais precisamente 32,9% - convive com um problema respiratório crônico que
prejudica o sono e piora a qualidade de vida. Esse problema é a chamada síndrome da apneia obstrutiva do sono,
uma série de breves interrupções na respiração que geralmente levam a um despertar momentâneo. Por acordar,
ainda que sem perceber, toda vez que falta o ar, quem tem apneia e sobre ao menos cinco pausas de até dez
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
pacientes respiradores orais é portador de má oclusão, sendo a “mordida aberta anterior” o efeito
mais frequente (RIBEIRO et al., 2002). Ou seja, quem é respirador oral normalmente têm
problemas na sua constituição anatômica dentária e facial.
Com relação à voz, um dos principais problemas da respiração oral é a menor proteção
à entrada de microorganismos e poluentes proporcionada pela oralidade, em comparação à
respiração nasal. Ao contrário da respiração nasal, em que os pêlos e o muco da cavidade nasal
retêm esses detritos, evitando que entrem no organismo, a oralidade não oferece essa proteção,
pois a cavidade bucal não tem essas “ferramentas” eficientes de purificação do ar que
inspiramos. Além disso, a respiração oral também leva a um maior ressecamento das vias
aéreas superiores (boca, faringe, laringe, etc.) e do trato vocal, pois o ar inspirado é de baixa
umidade e a boca não tem o poder de umidificá-lo adequadamente.
Entretanto, se adotada apenas uma vez ou outra, a respiração oral não constitui um
grande problema. No canto, por exemplo, a respiração indicada é predominantemente a oral,
que proporciona maior rapidez na inspiração entre as frases da música e um menor ruído,
diminuindo assim o prejuízo estético da respiração à performance músico-vocal. Também
durante o sono, pode-se utilizar a respiração oral. Dormir com os lábios entreabertos pode
permitir um relaxamento do maxilar, inclusive evitando o ranger de dentes durante o sono
(bruxismo).
Primeiro, para prevenir um desconforto térmico que se pode sentir, por muito frio ou
muito calor, o que pode desconcentrar a pessoa e prejudicar sua emissão vocal. Por isso, deve-
segundos na respiração a cada hora não descansa como deveria. As consequências aparecem já no dia seguinte:
sonolência, cochilos fora de hora, irritação e queda do rendimento. Se não for tratada, a apneia aumenta o risco de
problemas cardiovasculares”. (FIORAVANTI, 2009, p. 59)
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Calçados também influem na emissão vocal. Sapatos de salto extremamente alto podem
gerar desequilíbrio e ocasionar má postura corporal. Além do desconforto, isso pode implicar a
má projeção de sua voz, fazendo necessária uma fala em volume mais elevado e, portanto, um
maior desgaste. Uma má postura, com ombros extremamente abertos, tórax projetado para a
frente e cabeça muito erguida também pode tensionar excessivamente o pescoço – e, portanto,
a laringe –, impedindo uma emissão vocal de qualidade.
Finalmente, porém não menos importante, é evitar o uso de roupas apertadas. Blusas e
camisetas muito justas e calças jeans inflexíveis comprimem a musculatura respiratória e, assim,
geram mais cansaço e perda de fôlego. Roupas apertadas dificultam sobremaneira a ação do
diafragma, principal músculo respiratório; portanto, fazem a pessoa gastar mais energia que o
necessário para respirar – e a respiração ainda continua ineficiente.
No frio, pode ser útil usar cachecóis e camisetas de gola alta, que protegem a região do
pescoço. Ao sair de um ambiente aquecido para um ambiente refrigerado ou um ambiente
externo em baixa temperatura, recomenda-se fechar a boca e respirar apenas pelo nariz,
diminuindo assim o choque térmico pela entrada de ar nas vias respiratórias.
Com relação aos professores, como já destacamos, dentre os diversos fatores que
afetam negativamente sua produção vocal e os induzem a cometer abusos vocais, estão: as
conversas “paralelas” (entre os alunos), cuja intensidade está diretamente ligada ao número de
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
alunos por sala de aula; o uso de ar condicionado (muitas vezes com a tela suja); ruídos do
ambiente externo (falta de isolamento acústico da sala); a má acústica interna da própria sala; o
ruído, a poeira e o vento excessivo de ventiladores; a temperatura inadequada do ambiente; o
uso de giz; a falta de ventilação da sala de aula; a falta de limpeza da sala (incluindo a limpeza
do ventilador ou do ar condicionado), que fica repleta de micro-organismos.
Grande parte das escolas ainda mantém lousas de giz. Sempre que possível, com
relação à voz do docente, é melhor substituí-las por quadros que utilizem pincéis atômicos.
Quando o professor tiver que trabalhar com a lousa de giz, porém, é útil que tome algumas
atitudes. O giz utilizado nas lousas é composto pela substância química carbonato de cálcio
(CaCO3), e o pó do giz, que se desprende e se dispersa principalmente quando se apaga a
lousa – e ainda mais quando se bate o apagador para limpá-lo –, pode provocar alergias e
irritações na pele e nas vias respiratórias.
Portanto, quando não é possível usar lousas com pincéis atômicos, nem lousas
eletrônicas, nem data-show ou retroprojetores, a melhor forma de o professor prevenir alterações
em sua voz é pedir para que alunos apaguem a lousa, revezadamente. De preferência, seria
interessante apagá-la não com um apagador comum, que dissipa o pó, mas com um pano
molhado, que pode reter melhor as partículas do giz.
Falar durante muito tempo, em um bom volume, para uma platéia grande e/ ou em um
ambiente muito amplo e de acústica ruim é muito desgastante. Os professores sabem disso:
muitas vezes, ao final do dia não “têm” mais voz. Em alguns casos, o professor pode ter até de
deixar de lado sua profissão, buscando outros trabalhos, pois as lesões às suas pregas vocais
foram tão graves que o impossibilitam de ministrar aulas regularmente. A título de exemplo, cita-
se que, segundo a secretaria estadual da educação do Rio de Janeiro, dos cerca de oito mil
professores que estavam afastados do serviço por licença médica em dezembro de 2008, 53%
deles tiveram de deixar as salas de aula por problemas vocais. O citado estado, que vem
tomando providências quanto à saúde vocal docente, registrou ainda o caso de uma professora
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
que após três anos de docência teve de deixar as atividades didáticas em sala de aula por
apresentar três nódulos nas pregas vocais (MENDONÇA, 2008).
É evidente que, dependendo das condições de trabalho, muito pouco se pode fazer para
evitar os abusos vocais por atividade profissional. Essa é a situação de muitos palestrantes e,
principalmente, de professores que trabalham em escolas com infraestrutura muito deficiente.
Mas, quando possível, é importante buscar ambientes sem ar condicionado, com acústica e
sistema de som adequados, temperatura amena e recursos audiovisuais que possam ser
utilizados para os alunos ou para a platéia da palestra, em momentos de repouso vocal para o
professor ou palestrante.
Vale lembrar que a potência vocal varia de professor para professor, depende do
treinamento vocal que este realiza ou não, do controle de fluxo aéreo que ele desenvolveu (se
sabe utilizar melhor esse fluxo e, portanto, tem maior controle para vibrar suas pregas) e de
outros fatores, relacionados com as características e alterações vocais específicas de cada
idade, sexo e classificação vocal – vozes mais agudas (sopranos, para mulheres, e tenores, para
homens) ou mais graves (contraltos ou mezzo-sopranos, para mulheres, baixos e barítonos, para
os homens).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
A fala em tom, frequência e intensidade adequados permite que não seja efetuado um
desgaste desnecessário das pregas vocais. A variação da dinâmica vocal pode provocar,
quando utilizada comedidamente, menor desgaste das pregas vocais – é essa variação vocal
que permite aos radialistas transmitirem um jogo de futebol durante toda a partida e ainda
“terem” voz ao final da atividade. Porém, quando se exagera em falar fora de seu tom natural, ou
em volume muito alto, é quase certo que as pregas se desgastarão mais que o necessário. Cabe
considerar que a variação da dinâmica vocal tem um importante aspecto didático: evita uma fala
monótona, que pode levar os ouvintes à sonolência, à baixa concentração e, consequentemente,
a dificuldades na retenção dos conteúdos transmitidos.
Uma estratégia de ensino muito relevante para poupar sua voz é fazer audições ou
projeções de materiais sonoros ou audiovisuais, que, quando bem selecionados e utilizados na
medida certa, também motivam o aluno, melhoram sua aprendizagem e ampliam os conteúdos
trabalhados.
É, também, muitíssimo importante, quando possível, propor aos alunos pesquisas que
sejam apresentadas em seminários internos e debates durante a aula. Além de poupar a voz do
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
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Nas escolas (que no caso serão exemplos) – é fácil identificar – sempre há um lugar específico para
a teoria e um outro (generalizadamente é um outro) que se reserva para a prática. [...] em alguns
momentos, “estuda-se”, em outros, “pratica-se”. [...] o primeiro é o das salas de aula, o segundo é o
dos laboratórios, oficinas, o dos estágios supervisionados... O importante é que, via de regra, eles
são distintos, como se fossem opostos, quase antagônicos. Dicotômicos, certamente. (BOCHNIAK,
1992, p. 21)
Todavia, deve-se prestar atenção para que tais atividades práticas não causem ainda
maior estresse vocal ao docente, pelas dificuldades de se manter a organização da aula.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Nesse sentido, Behlau (1987, pp. 4-7) destaca cinco aspectos a serem desenvolvidos no
falante para aperfeiçoar o processo comunicativo de que este é agente. Primeiramente, há que
se buscar a sintonia com a audiência, uma ressonância humana que permita à fala adaptar-se “à
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Terminamos com uma reflexão sobre a atividade de ensino: o pensador tcheco Comênio
(1592-1670), em sua Didática Magna, apresentou uma definição de educação corrente no seu
tempo: uma “arte de plantar nos espíritos” (COMÊNIO, 1985, p. 206). Epstein (apud LOWMAN,
2004, p. 21) notou: “O que todos os grandes professores parecem ter em comum é o amor por
sua matéria, uma satisfação óbvia em despertar esse amor em seus alunos, e uma capacidade
de convencê-los de que o que lhes está sendo ensinado é terrivelmente sério”. Lowman (2004,
p. 29) ainda considerou:
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
A qualidade de nosso ensino é mais bem avaliada, não somente em termos de que todos
os estudantes aprendem, mas em termos da probabilidade de que todos os estudantes
sejam motivados a fazer o melhor trabalho em nosso curso e saiam transformados para
melhor – muitas vezes do ponto de vista pessoal, de maneira que vai bem além do
conteúdo do curso.
Sites na Internet
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4. Técnica vocal
A técnica vocal, em sentido estrito, faz referência aos exercícios práticos (físicos)
realizados visando-se diretamente à preparação para a produção vocal, falada ou cantada. A
técnica vocal é basicamente realizada com exercícios de relaxamento da região da nuca,
pescoço, rosto, cintura escapular e também de postura corporal. Em seguida são trabalhados
exercícios respiratórios para controle de fluxo expiratório, especialmente. Após essa preparação,
são realizados os vocalizes, exercícios utilizando as escalas musicais com as vogais.
https://www.youtube.com/playlist?list=PL6B76D26D4E39D9D7
Pense a respeito de sua voz... Você está satisfeito(a) com ela? Você só se lembra de
sua voz quando fica disfônico(a) – isto é, quando tem alterações na voz? O que o(a) incomoda
quando você conversa com os outros? Como você percebe a voz das outras pessoas? A sua
expressividade corporal é refletida pela sua fala? Existe uma harmonia corpo-voz em você?
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Quantas vezes você ouviu a voz de alguém e pensou: “Que voz estranha para esse corpo.
Alguma coisa está errada.”
Você pode notar sua psicodinâmica vocal – ou seja, o reflexo das influências psíquicas e
emocionais na sua fala – percebendo alguns de seus atributos vocais. Perceba sua voz: como
ela é, mais grave ou mais aguda? Como você e os outros percebem sua fala; ela é autoritária e
convincente, antipática e arrogante ou doce e confortável? É áspera ou macia? É infantilizada,
fina, irritante, masculinizada, trêmula? Você fala como se cantasse, harmoniosamente, ou fala de
forma excessivamente fraca ou muito forte e violenta? Quando você está irritado(a) ou
angustiado(a), como ela revela esses seus estados emocionais? Sua fala torna-se mais lenta e
monótona ou mais agitada? Você fala mais, grita ou fica mais calado? Mas quando sua vida está
bem e seu corpo está equilibrado, sua voz não transmite mais harmonia, não é mais agradável e
amena?
É importante também perceber a dinâmica fonatória dos outros: a voz da pessoa que
você está ouvindo é mais rouca ou mais delicada? Da voz do outro saem símbolos que
expressam se sua vida foi mais sofrida ou mais calma; se naquele momento a pessoa está
equilibrada; se sua rotina está estafante.
Mas é importante perceber não só a voz falada dos outros: ouça também a emissão
cantada dos cantores que você aprecia. O que a voz destes, em conjunto com as letras, as
harmonias e as melodias musicais expressam: raiva, agitação, crítica, descontentamento,
docilidade? Que emoções são despertadas por essas vozes?
Ao tomar consciência da imensidão de vozes que cerca sua vida a todo momento, você
aprenderá a identificar a postura vocal mais adequada para cada situação; saberá expressar-se
melhor pela sua voz, dizendo muito mais apenas pelos sons que seu corpo emite através das
pregas vocais.
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Você conseguiria descrever sua voz? Quais são seus atributos positivos? E os
negativos? O que você gostaria de melhorar em sua produção vocal falada? Você pode analisar
sua voz com relação a três conjuntos de parâmetros: biológicos, sociais e psicológicos.
Avalie sua constituição biológica: qual é sua idade e qual é seu sexo? Sua voz é fiel a
essa sua realidade fisiológica? Pense como está sua saúde geral – você sofre de alguma
doença que possa interferir na sua voz? Perceba que, quando estamos doentes, nosso padrão
vocal é imediatamente alterado: falamos vagarosamente, sem energia, o que demonstra
claramente nossa debilidade física.
Por outro lado, nosso meio social, nossa vida escolar, nossa profissão, as pessoas com
quem convivemos, tudo isso também define um tipo de comportamento vocal, pelo qual
podemos ser identificados pelas outras pessoas. Assim como o vocabulário que usamos e as
idéias que manifestamos, nossa voz nos insere em uma densa rede de configurações sociais,
econômicas e culturais. Procure relacionar seus padrões fonatórios – tipos de produção vocal – e
o padrão fonatório das pessoas ao seu redor a aspectos socioculturais, à condição social sua e
dessas pessoas, à sua escolaridade, etc.
Por fim, procure relacionar características de sua personalidade e das pessoas com
quem convive à emissão vocal que você e estas pessoas costumam desenvolver. Para isso,
note na tabela a seguir alguns parâmetros (atributos) pelos quais você pode fazer uma análise
perceptivo-auditiva da psicodinâmica vocal sua e das outras pessoas. Procure notar quais
atributos lhe cabem, segundo sua visão e a visão de pessoas com quem convive. Por outro lado,
note como poderia ser qualificada a voz das pessoas ao seu redor.
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Alegre Sério
Persistente Amigável
Barulhento Maduro
Responsável Artístico
Distraído Inteligente
Inquieto Bem-humorado
Exigente Idealista
Esnobe Compreensivo
Franco Caloroso
Honesto Relaxado
Excitável Sensível
Imaturo Sensual
Corajoso Ativo
Autocompassivo Simpático
Ambicioso Egoísta
Calmo Esperto
Individualista Afetuoso
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Note a seguir como o ouvinte costuma interpretar alguns tipos de fala e procure avaliar
quais são seus padrões de fala mais comuns em casa e no desempenho de sua atividade
profissional.
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4.1.2. A percepção de nossa voz falada pode ser trabalhada com exercícios que
envolvam formas de expressão vocal que não façam parte de nosso cotidiano. O exercício de
leitura em voz alta de trechos de poesia, de crônicas, contos e outros gêneros de textos poderá
contribuir para a dinamização da fala e a flexibilidade vocal.
Estudo e preparação;
Como primeira sugestão você poderá escolher entre seus livros, ou até mesmo na
Internet, trechos de poesias de alguns autores brasileiros conhecidos, como Cecília Meireles,
Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e tantos outros.
Depois de ter o texto em suas mãos, coloque-se em pé, com a coluna ereta, com a
elevação adequada do texto à sua frente, na altura dos olhos, deixando que os movimentos
respiratórios se realizem sem dificuldades.
Realize a leitura do texto em voz alta, imaginando que algumas pessoas estão ouvindo
sua declamação e que a sua missão será entretê-las e comovê-las com essa poesia.
23Consideram-se interferências fatos que provocam desvios na atenção do intérprete (p.ex.: ruídos). Para maiores
considerações, confira Ray (2005).
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Sua voz é o instrumento que musicalizará este texto e, para isso, é imprescindível tocar
notas de diferentes alturas para criar uma melodia agradável aos ouvidos de sua platéia. Sua
voz falada é capaz de produzir todas essas notas, com nuances e cores vocais diferentes, e
criará a atmosfera adequada ao texto escolhido e à sua leitura poética.
Perceba que a eficiência respiratória é essencial para você fazer a programação de cada
frase, de cada vírgula e cada mudança de entonação. Todos os ajustes de respiração devem ser
pensados. A preocupação com a articulação clara (dicção) das consoantes e vogais também
ajudará na percepção de seus ouvintes. Para isso, não se esqueça de realizar os exercícios de
propriocepção e relaxamento facial (indicados nos próximos tópicos).
4.1.3. Outra proposta de percepção da voz falada pode ser feita com três textos que
foram trabalhados musicalmente. O primeiro é a letra da canção Minha Namorada, de Vinicius
de Moraes e Carlos Lyra.
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4.1.4. Outra proposta de audição e leitura em voz alta pode ser feita com o texto de
Carlos Drummond de Andrade O boi, musicalizado na obra Uníssono, do compositor Osvaldo
Lacerda, e executado pelo Coral Municipal de São Carlos (acesse
https://www.youtube.com/watch?v=_YBRNQKeAgE ).
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Essa proposta tem um diferencial: a execução falada deverá levar em conta a dinâmica
vocal, ou seja, trechos com baixa intensidade (pouco volume) e com alta intensidade (muito
volume). Ouça a proposta do compositor, isto é, quando o coral canta suave (piano) e quando
canta forte. Tente realizar com essa mesma intenção. Depois faça variações e crie a sua
proposta para declamar este texto. O poema é:
Já a canção Beatriz, de Edu Lobo e Chico Buarque, com arranjo de Alexandre Zilahi,
provoca outra dinâmica fonatória. Perceba, na interpretação do Coral Municipal de São Carlos
(acesse https://www.youtube.com/watch?v=tbxxKR6Djtc ), os diálogos que as vozes fazem e as
variações de timbres femininos e masculinos. Tente realizar a leitura do texto com falas
delicadas que se avolumam e ficam mais densas e fortes. Escolha outros momentos em que sua
fala executará o movimento oposto: do som forte irá diminuindo para falas mais suaves: em
linguagem musical, nos referimos à essa dinâmica sonora como crescendos e diminuendos da
frase musical. Essa passagem das diversas dinâmicas deve ser gradativa e lenta. Podemos
realizá-las cantando ou falando, mas para isso precisamos fazer uma programação cuidadosa da
respiração, conforme a frase que iremos proferir. O texto da canção é:
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Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Olha
Será que é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva para sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ai, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida
(Chico Buarque)
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4.1.5. Outra proposta interessante, que demanda um pouco mais de tempo e disposição,
é você realizar gravações em vídeo, registrando sua produção vocal. A idéia é você realizar duas
gravações: a primeira, numa conversa informal em que você faz comentários sobre algum filme
ou show que você assistiu recentemente ou ainda sobre um livro, por exemplo (por volta de
cinco minutos de gravação). Você necessita ter um interlocutor para esse diálogo, que pode ser
algum amigo ou mesmo um professor que trabalhe com você e também tenha interesse em
trocar de papéis na gravação. Essa conversação deve transcorrer da maneira mais informal
possível, na tentativa de captar todas as nuances da produção falada rotineira de vocês dois.
A segunda gravação deve ser feita em outro dia e, se possível, em alguma sala de aula
similar àquela em que trabalha (ou, para quem não seja professor, na sua situação e ambiente
de trabalho comuns). Programe uma aula de cinco a dez minutos e grave sua performance: tente
agir nos moldes de sua aula convencional. Troque de papéis com o companheiro(a) de gravação
e realize o mesmo procedimento.
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Perceba as diferenças vocais que você promoveu nas duas situações. Sua fala
informal era mais relaxada e tranquila que aquela quando você dava aula? Você
articulava melhor as palavras quando dava aula? Em que ambiente você se
mostrou mais dinâmico e fluente?
Siga adiante e assista a segunda gravação também sem som, analisando essas
dimensões visuais.
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Lowman (2004) reitera que, mesmo que outra pessoa ouça sua gravação, é você quem
deve tomar a decisão final sobre aquelas condutas que você gostaria de alterar. Destaca ainda
que as mudanças na sua voz podem ocorrer a partir de dois momentos: o primeiro momento é
quando você começa a prestar atenção seriamente no modo como as outras pessoas falam e no
segundo momento é quando você começa a perceber como as diferenças vocais dos outros
afetam você.
Na realização de todos estes exercícios, é relevante que você aprimore sua projeção
vocal, que é a combinação de volume e energia que faz sua voz ser ouvida em um espaço
relativamente grande, uma sala de aula ou um auditório. Essa projeção está vinculada a uma
respiração mais profunda e controlada, a uma abertura de boca maior, a uma velocidade de fala
ligeiramente diminuída.
Quanto à respiração, você pode solicitar uma maior eficiência da musculatura abdominal
(ver os exercícios de propriocepção respiratória, ainda neste capítulo) e um maior controle de
fluxo aéreo, que será treinado nos exercícios de saída de ar em /s/, por exemplo (neste capítulo).
Quanto ao controle muscular da boca e sua abertura, é importante que você baixe o
maxilar tanto quanto possível, em vez de esboçar um sorriso (que gera tensão na boca e na
garganta). A prática do bocejo pode ajudar a ver o quanto é possível abrir a boca. Não é o
exagero que o fará ser melhor vocalmente, e sim o relaxamento da mandíbula e da articulação
temporomandibular (ATM)24.
Outra observação que deve permear sua prática é a articulação. Uma fala bem
articulada é o resultado de como você produz as consoantes, especialmente as que começam e
terminam as palavras. Esses sons derivam do movimento dos lábios e também da língua,
quando toca o céu da boca ou os dentes. Observe o grau de movimentação que você realiza ao
falar. Dedique-se mais a prestar atenção na formação das consoantes e colabore consigo
próprio para ter uma maior consciência articulatória e produzir uma fala nítida, clara, distinta e
energética (LOWMAN, 2004).
24 Essa articulação situa-se logo à frente do ouvido e é responsável pelos movimentos executados pela mandibula.
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4.1.6. Grave uma aula. “Concentre-se na audição de sons que você não teve a
intenção de gravar. Que outros sons (ruídos) você nota?” (SCHAFER, 1991, p. 69);
4.1.8. “Experimente passar uma folha de papel pela classe, silenciosamente. Todos
ouvindo os sons do papel sendo passado” (SCHAFER, 1991, p. 72);
4.1.9. “Suponha que você ficou mudo por muito tempo. Experimente sentir a
vibração de cortar o ar com o som [vocal] mais primitivo”. (SCHAFER, 1991, p. 74).
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Para falar ou cantar sem muito desgaste físico e com mais equilíbrio e conforto é
altamente recomendável que você faça alguns exercícios de relaxamento e de alongamento
muscular.
4.2.1.2. Coloque-se em pé, com os pés paralelos, levante o braço direito e estique.
Estique um pouco mais e flexione levemente seu tronco para o lado esquerdo.
Mantenha o braço bem esticado e sinta o alongamento que você está realizando em
toda a musculatura lateral direita. O importante deste exercício não é quanto você
gira o tronco, e sim a permanência do braço bem esticado nesta posição. Volte
lentamente, compare a diferença do lado que você alongou com o lado esquerdo.
Aproveite para sentir sua respiração do lado direito do tronco. Repita o mesmo
exercício do lado esquerdo.
4.2.1.3. Ainda em pé, com o pé esquerdo no chão, eleve seu pé direito até a ponta
(dobrando os dedos) e retorne todo o pé ao chão. Troque de pé e realize os mesmos
movimentos. Realize essas idas e vindas lentamente, com os pés alternados. Faça
várias repetições. Descanse soltando suavemente suas pernas.
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com os pés ligeiramente voltados para dentro, separados a cerca de 25 cm; essa
postura deve oferecer um bom equilíbrio para seu corpo. Em seguida, solte de uma
só vez todo o seu corpo, inclinando-se para a frente e tocando o chão com os dedos
das duas mãos. Os joelhos podem ficar levemente dobrados. O peso do seu corpo
deve ficar somente sobre seus pés, e sua cabeça deve ficar totalmente relaxada e
solta, virada para baixo. Se você se sentir bem, feche os olhos. Continue respirando
livre e naturalmente. Saia dessa posição devagar, gradualmente, sentindo sua
coluna voltar à posição vertical, vértebra por vértebra. Se quiser, repita o exercício.
4.2.1.5. Deite-se no chão e relaxe. Feche os olhos. Apenas perceba seu corpo. Você
pode estar consciente da “pressão” do chão em partes do seu corpo, sentir-se livre
em algumas delas e preso em outras. Uma pessoa pode sentir-se leve, outra,
pesada. Alguns se sentirão descansados e outros, muito cansados. Comece a
comandar seu relaxamento pelos pés. Relaxe os dedos dos pés, a sola, o dorso, os
tornozelos, as pernas, os joelhos, atrás dos joelhos, as coxas, o quadril, os glúteos,
o abdome, a cintura, atrás da cintura, o tórax, os ombros, as articulações dos
ombros com os braços, os braços, as mãos, os dedos das mãos, o rosto, o maxilar,
a testa, os olhos... Pense em cada uma dessas partes e lentamente vá se soltando.
Sinta-se abandonando completamente seu corpo... Se entregue ao chão... Observe
sua inspiração e expiração. Apenas observe e não interfira... Fique por alguns
minutos assim. Aproveite! Para retornar, comece a mexer os pés e as mãos
suavemente. Espreguice, girando seu corpo de um lado para o outro. Vá sentando
lentamente com os joelhos dobrados e com a cabeça abaixada. Lentamente, abra os
olhos e sente-se. Espere alguns segundos para realizar quaisquer outros
movimentos.
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A cada tipo de postura podem ser associadas algumas atitudes, por exemplo:
A atitude em propulsão para a frente esta associada à necessidade de ser útil, de ação e
de desempenho (performance) [...]
A atitude enrolada e inclinada para trás está associada à afetividade, à necessidade de ser
amado. [...]
Você pode realizar observações acerca de sua postura corporal. As imagens acima
sugerem tipificações posturais com suas características psicoemocionais. Faça este exercício
com outra pessoa. Observe seu parceiro em pé: um ombro está mais alto que o outro? A cabeça
está equilibrada sobre o pescoço ou está inclinada para frente ou para trás? O peito é afundado
ou saliente? Um quadril é mais alto que o outro? A pélvis é projetada para trás? Os joelhos estão
mais salientes que os pés? Os pés estão retos ou seus dedos apontam para dentro ou para
fora? Olhe para a pessoa de frente, de lado e de trás. Então, faça-a andar devagar e observe-a
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sob todos os ângulos. Finalmente, você pode querer que ele fique em frente a uma linha reta
horizontal (batente de uma porta) para observar seu alinhamento com maior acuidade. Discuta
com seu parceiro de exercício suas observações. Tente imitar a postura e o andar dele, a fim de
ilustrar seus pontos de vista. Os comentários devem ser objetivos e positivos. Ao final, troquem
de papéis (FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 109). A finalidade deste exercício é fazer com que
consigamos aprender mais sobre posturas e, se preciso, alterarmos nosso padrão postural com
a prática de exercícios específicos para o fortalecimento e/ ou relaxamento musculares.
4.2.2.1. Em pé, com os pés paralelos e afastados mais ou menos na largura dos
quadris, cabeça ereta e confortavelmente alinhada aos ombros, comece a fazer
círculos com os ombros. Inspire e leve os ombros para trás. Expire e traga-os
para frente. Os círculos devem ser amplos e confortáveis. Faça 10 círculos.
Depois comece os movimentos para frente, inspirando e expirando para trás.
Faça mais 10 círculos (FORGHIERI, 2009a).
4.2.2.3. Encoste na parede, fique bem acomodado e faça círculos com a cabeça.
Comece olhando por sobre seu ombro direito e desça a cabeça como se
estivesse riscando a parte anterior de seu tórax até chegar ao ombro esquerdo.
Retome sua posição com a cabeça no meio. Faça mais 2 ou 3 vezes estas
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4.2.2.4. Estique os braços e abra as mãos. Abra muito as mãos e agora as feche.
Aperte bem os dedos. Relaxe soltando os braços ao lado do corpo
(FORGHIERI, 2009a).
4.2.2.5. Estique o braço direito estendido com a palma da mão virada para a esquerda,
apóie sua mão esquerda no cotovelo e venha trazendo o braço direito para o
seu tórax. Mantenha por alguns segundos (12 a 15 s) esta posição. Realize a
mesma movimentação e relaxamento com o braço esquerdo.
4.2.2.6. Pince com a mão direita o feixe de músculos (trapézio) do ombro esquerdo;
mantendo-o pressionado, gire seu braço esquerdo para frente, mantendo-o
completamente esticado, com o cotovelo reto; repita os giros pelo menos 10
vezes para frente e depois faça o mesmo girando o braço para a trás (10 vezes).
Você perceberá que seu ombro esquerdo está mais relaxado (caído), em
relação ao direito. Perceba as diferenças em todo o seu lado esquerdo: olhos,
face, mãos e pés. Em seguida, repita o exercício no ombro direito.
4.2.2.7. Gire seu pescoço, lentamente, para o lado direito como se você fosse olhar por
sobre os ombros. Estabilize esse movimento e relaxe o lado esquerdo. Cuide
para que seus ombros permaneçam relaxados. Tire quaisquer tensões de seu
rosto e maxilar. Faça o mesmo procedimento para o outro lado. Depois faça o
movimento para trás e para frente. Para que você desfrute deste exercício,
repita-o mais uma vez, no seu ritmo.
4.2.2.8. Faça um círculo com a sua cabeça, lentamente, chegando aos extremos dos
lados direito e esquerdo, levando a cabeça bem para trás e encostando o queixo
no tórax quando esta passar pela frente. Relaxe seu rosto e descontraia a
mandíbula, deixando os lábios entreabertos. Faça o exercício nos dois sentidos
(horário e anti-horário).
4.2.2.9. Incline sua cabeça para o lado direito, relaxando a musculatura do lado
esquerdo e os ombros. Permaneça assim durante alguns segundos. Coloque a
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mão direita em cima da sua cabeça, na sua orelha e, com peso da mão, incline
mais um pouco. Permaneça assim por mais alguns segundos. Relaxe e compare
os efeitos deste exercício no lado direito. Faça o mesmo procedimento no lado
esquerdo. Descanse e sinta os efeitos do alongamento no pescoço, ombros e
cervical.
Promover o relaxamento das estruturas musculares de nosso rosto é muito importante para
a emissão vocal mais tranquila, com menor esforço, com menor gasto energético e mais
eficiente (porque a voz sai mais clara e demanda menos ar).
4.2.3.2. Passe a língua sobre a parte externa e interna dos dentes superiores e inferiores,
como se os estivesse limpando;
4.2.3.3. Mova sua boca como se estivesse mascando uma bala ou chiclete, de um modo
meio exagerado, com a boca fechada.
4.2.3.4. Inspire profundamente e solte o ar de uma vez com a boca muito aberta e com a
língua para fora. Exagere na abertura da boca e na exposição da língua. Faça de
olhos fechados, porque assim você se sentirá liberado para a realização deste
exercício.
4.2.3.5. Comece a fazer exercícios de vibração surda de lábios (sem emitir som pelas
pregas vocais). Este exercício auxilia as percepções vibratórias da face e do
pescoço (PINHO; PONTES, 2008).
4.2.3.6. Realize também a vibração surda de língua (sem som). Este exercício causa soltura
da musculatura lingual e ativa a circulação sanguínea periférica. É possível que
ocorra drenagem linfática dos tecidos ao redor do pescoço (PINHO; PONTES,
2008).
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4.2.3.7. Em seguida passe para a vibração sonora de língua, variando ou não a altura do
som, isto é, do grave para o agudo, como se estivesse acelerando um carro, e
também do agudo para o grave.
4.2.3.8. Faça agora a vibração sonora de lábios. Brinque com os sons, perceba as suas
dificuldades. Realize a vibração começando de um som bem grave deslizando para
um som bem agudo. Faça o contrário: do agudo para o grave. Peça para que seus
amigos(as) realizem esses exercícios e compare suas facilidades e dificuldades.
Peça a seus alunos que os realizem e divirtam-se um pouco!
Veja a seguir um mapa dos pés, com suas zonas de reflexo definidas pela técnica de
automassagem chamada Do-in.
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Foi no Japão que a técnica de automassagem nos pontos dos meridianos energéticos
recebeu a denominação de Do-in, que significa caminho de casa. Casa é o corpo, morada do
espírito e do Ki, a energia da vida (CANÇADO, 1976). O Do-in utiliza os mesmos pontos da
acupuntura – os meridianos – para tratar e prevenir enfermidades. Basicamente utilizam-se duas
maneiras de realizar a automassagem:
1. Em caso de distúrbios por excesso de energia é necessário sedar o ponto. Para isso
basta pressionar profunda e continuamente o ponto indicado de um a cinco minutos.
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A massagem nos pés produz estímulos em quase todas as partes do corpo, pois
segundo Cançado (1977), existem 72.000 terminações nervosas nos pés. Essas zonas de
reflexo ficam espontaneamente doloridas quando os respectivos órgãos estão em desarmonia.
As técnicas de sedação e tonificação são as mesmas usadas para todos os pontos do corpo.
As mãos são os “instrumentos” do Do-in e devem ser preparadas para serem usadas:
friccionando-as uma na outra ativamente, para frente e para trás, fazemos circular o sangue e
trazemos a energia eletromagnética Ki para a ponta dos dedos, segundo Langre (1987).
4.2.4.1. Inicie sua massagem com uma fricção vigorosa de um minuto, com ambas as
mãos em cada pé, para aquecê-los e ativar a circulação. Em seguida, com uma mão segurando
o tornozelo, faça a rotação do mesmo num movimento lento e suave, no sentido horário e anti-
horário. Execute a mesma rotação em cada dedo do pé, flexionando-os para frente e para trás,
no sentido horário e anti-horário. Com o calcanhar na palma da mão, penetre profundamente os
quatro dedos da mão, belisque repetidamente o tendão de aquiles. Finalmente, exerça pressão
moderada em todos os pontos de reflexo, especialmente nas regiões-problema. Termine com
pequenos tapas na sola dos pés para um estímulo geral. Agora, passe a realizar os mesmos
procedimentos com o outro pé. Ao terminar a massagem é aconselhável esfregar vigorosamente
as mãos e lavá-las com água quente e depois fria, para eliminar os resíduos e toxinas
provenientes dos pés (CANÇADO, 1976).
Os atos respiratórios podem ser percebidos em várias regiões do nosso corpo: na região
anterior e posterior das costelas; na região da cintura, na frente do abdome; na região da pelve,
para frente e para trás; na região do períneo. Todas essas percepções em nosso corpo não
alteram a fisiologia respiratória, pois o ar vai apenas para os pulmões. Convém ressaltar que
uma respiração mais alta, mobilizando as primeiras costelas, realiza uma ventilação
principalmente nos ápices do pulmão. Já uma respiração abdominal leva ar especialmente para
as bases do pulmão.
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Agora perceba sua respiração e nutra uma consciência respiratória. A interferência que
podemos realizar na nossa respiração é essencial para elevarmos nossa qualidade de vida e
nossa percepção do mundo. Como você respira? Você tem consciência das alterações que
acontecem no seu corpo por meio da respiração?
Faça experiências: antes de entrar para tomar banho, pare um pouco na frente do
espelho e veja seu corpo respirando... Quais são os movimentos respiratórios que você percebe:
no tórax, no abdome ou uma sincronia de movimentos? Quais são os movimentos de expiração
e inspiração do seu corpo, quando você está deitado? E sentado? Existem diferenças? Quais
são elas? E as apneias? Você as percebe de forma nítida?
Depois dessas observações, podemos constatar que nosso corpo possui uma grande
diversidade de gestos respiratórios, além da necessidade imediata de oxigênio. A ioga, por
exemplo, entende que a respiração necessita de um processo de controle e aprendizagem.
O ato respiratório muda constantemente: pode ser mínimo, quase imperceptível ou ser
vigoroso e audível; pode ser alterado no ritmo e velocidade; ativo ou passivo... A fisiologia do
ato respiratório, com suas inspirações, expirações e apneias, é que não sofre alterações.
O canto lírico, por exemplo, exige uma respiração mais sustentada e complexa,
adaptada às necessidades performáticas musicais, como os fraseados e as alterações de
dinâmica. De acordo com seu nível de treino vocal, os cantores utilizam diferentes métodos de
respiração a fim de vencer as dificuldades da interpretação (LASSALLE et al., 2002). Durante o
canto, a respiração deve utilizar o diafragma e os músculos intercostais e abdominais, sendo a
respiração torácica superior um prejuízo à boa projeção vocal e a uma dinâmica fonatória
adequada às nuances da produção musical cantada, que prevê uma adequação às exigências
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Você pode realizar alguns exercícios que o ajudarão a perceber sua respiração e a
melhorar a eficiência dos gestos respiratórios:
4.3.1.1. Sente-se confortavelmente em uma cadeira, apóie suas pernas no chão e feche os
olhos; inspire profundamente e solte o ar lentamente, pelo nariz. Repita o exercício
por várias vezes e passe a realizar a inspiração longa e a expiração mais longa.
Descanse e perceba como seu corpo reagiu a essa interferência.
4.3.1.2. Continue bem sentado e comece a contar em segundos a sua inspiração. Realize a
expiração no dobro de tempo da inspiração. Repita várias vezes esse exercício.
Descanse por alguns segundos e perceba-se.
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4.3.1.3. Repita o mesmo exercício anterior, soltando o ar em /s/, pela boca, no dobro de
tempo da inspiração;
4.3.1.4. Agora inspire em 3 segundos e solte o ar, pela boca e com o som de /s/, em 6
segundos, depois em 9 segundos, em 12 segundos e em 15 segundos (repita pelo
menos 6 vezes em cada tipo e, em seguida, passe para o outro; ou seja depois de
fazer o “3X6” pelo menos seis vezes, vá para o “3X9”, e assim por diante). Você
pode realizar esse exercício com múltiplos de 4 ou até de 5 (inspirando em 4
segundos e soltando o ar em 8, 12, 16, 20 segundos, etc.). Imagine que um fio está
saindo de sua boca e, assim, você conseguirá manter a estabilidade do fluxo
expiratório. A constância sonora da consoante fricativa /s/ é fundamental para o
sucesso deste exercício. Perceba que no início da prática seu som é débil e
oscilante. Com o passar do tempo, adquirirá uma pressão constante e este será o
momento adequado para praticar as saídas mais demoradas (por exemplo, os
múltiplos de 5);
O ideal é fazer esses exercícios pelo menos 3 vezes por dia, nas posições em pé, sentada e
deitada. Aproveite para praticá-los quando está à espera de alguém, quando está no trânsito ou
em outras situações em que você não está sendo solicitado.
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4.3.2. Os pranaiamas
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A inspiração no V.C.
A expiração no V.C.
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4.3.3.2.2. O V. R. I. sem esforço: pode-se utilizar esse volume para tonificar os músculos
inspiratórios, para aumentar a caixa torácica e flexibilizar os intercostais. Alterne sempre uma ou
duas inspirações de V.R.I. com algumas respirações de volume corrente, para evitar a
hiperoxigenação, que causa, algumas vezes, sensações desagradáveis de vertigem.
4.3.3.2.6. Expiração no V.R.I.: realize uma grande inspiração e observe a expiração que
se segue: ela assemelha-se a um grande relaxamento e ocorre com uma certa velocidade,
sobretudo no início. Se a inspiração tiver sido de grande amplitude, sente-se espontaneamente,
na expiração seguinte, a glote fechar um pouco para “reter” essa velocidade. Retenha a
expiração de V.R.I. Tente alentecer ao máximo a expiração de V.R.I., mantendo a glote bem
aberta. Sinta a presença dos dois grandes meios para conseguir tal configuração: você procura
separar as costelas enquanto expira (o que pode causar uma pequena retração do ventre) e/ ou
você mantém o ventre um pouco abaulado.
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força muscular nas costelas ou no alto do abdome, com o diafragma permanecendo então
contraído, para frear sua própria subida.
V.R.E. no abdome;
apneia no V.R.E.;
inspiração no V.R.E.;
inspiração no V.R.E.;
4.4. Vocalizes
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Como vimos anteriormente, as vogais são produzidas pela fonte glótica e são realizadas
com a passagem livre do ar pela glote, sendo, portanto, ideais para uma boa vocalização.
Quando cantamos qualquer melodia de nosso agrado encontramos algumas dificuldades:
afinação, notas agudas que não alcançamos, falta de ar para completarmos uma frase, timidez,
falta de segurança para cantarmos na frente de outras pessoas, etc. Os vocalizes são ótimos
para o desenvolvimento de nossa propriocepção vocal e ajudam sobremaneira também a voz
falada.
Prepare seu corpo para o canto, realizando alguns exercícios de relaxamento e práticas
respiratórias comentados anteriormente.
4.4.1. Pronuncie a vogal /i/ em várias alturas por um tempo prolongado. Agora faça o /i/
mais grave que puder. Tente uma região média e depois uma região aguda. Existe diferença de
esforço para isso? Agora emita o /i/ mais grave e vá deslizando para a região média e depois
para a aguda. Escorregue sua voz de um som para outro. Este procedimento vocal é chamado
de glissando, escorregando.
Vamos vocalizar, de acordo com a voz de cada um! Primeiro, veja os vídeos no site
https://www.youtube.com/playlist?list=PL6B76D26D4E39D9D7
178
Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
4.4.2. Vocalize 1: este primeiro vocalize, realizado por grau conjunto, é eficiente para aquecer
gradativamente sua voz e para que você perceba até onde consegue chegar (altura) sem
esforço.
Fonte: a autora
4.4.3. Vocalize 2: com este vocalize, você realizará saltos de terça maior e menor,
respectivamente, ampliando seu espectro vocal e percebendo outros ajustes laríngeos.
Fonte: a autora
4.4.4. Vocalize 3: o ataque vocal será treinado a partir deste vocalize. A coordenação da
respiração silenciosa e a “audição interior” da nota que inicia o vocalize será primordial para uma
boa execução deste exercício.
Fonte: a autora
179
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4.4.5. Vocalize 4: este vocalize, em arpejos, é excelente para ampliar sua tessitura vocal, para
adquirir confiança nos agudos e para trabalhar a afinação.
Fonte: a autora
Alguns tipos de treinamento vocal, como aulas de canto lírico ou popular e participação
em coros, desde que bem orientados, podem ser excelentes atividades para ajudar você a
desenvolver maior consciência acerca dos procedimentos e cuidados necessários para manter a
saúde de seu aparelho fonador, para aperfeiçoar sua respiração, sua propriocepção, sua dicção,
a potência e a qualidade de sua voz. O canto exige um controle muscular excepcional, sendo o
resultado de um sinergismo altamente elaborado. Para a emissão dos sons durante o canto, o
aparelho fonador de cada cantor se ajusta a manobras precisas, condicionadas por meio de um
estudo minucioso, que harmoniza conhecimento e produção sonora com beleza, frutos de um
ouvido treinado, de inteligência e de uma dose altíssima de perseverança.
180
Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Há ainda estudos que afirmam ser o canto, individual ou coletivo, um fator muito
relevante para fortalecer o sistema imunológico, repor endorfinas essenciais para a produção de
energia no corpo, melhorar a circulação, incrementar a capacidade respiratória, melhorar sua
condição física, emocional, intelectual e espiritual, desenvolver habilidades de relacionamento
interpessoal, de comunicação, de concentração e memória e de apreciação artística. Chega a
funcionar até como terapia, inclusive para doenças graves como o mal de Alzheimer (BHS,
2007)26.
Especial destaque cabe aos coros amadores, que constituem uma excelente atividade
de lazer e (re)criação cultural, são espaços de motivação, integração interpessoal, educação
musical, educação vocal e desenvolvimento de colaboração intersubjetiva, pois o resultado final
do grupo depende do empenho e da cooperação de cada um. O coral desvela-se como uma
extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações socioculturais, com
os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do outro e do respeito das
relações interpessoais, em um comprometimento de solidariedade e cooperação (FUCCI
AMATO, 2007).
26 Aliás, a própria audição musical pode ser terapêutica. Leão e Silva (2004), ao estudarem a relação entre audição
musical e dor crônica musculoesquelética, concluíram que as estruturas musicais se relacionaram à produção de
imagens mentais no paciente, tendo um efeito terapêutico. Destacaram que obras da música erudita, com estruturas
formais bem definidas, apresentam maior potencial para evocar imagens mentais nos pacientes do que material
sonoro não estruturado musicalmente.
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O canto coral chega a ter uma influência psicológica sobre o corista e o ouvinte. Kreutz
et al. (2005) estudaram os efeitos da música coral nos estados emocionais de membros de um
coro misto amador, analisando a secreção da imunoglobina A (S-IgA) – um tipo de anticorpo – e
do cortisol, hormônio ligado ao estresse. Os coralistas participaram da pesquisa em duas
condições, durante dois ensaios semanais separados, nas situações de canto e audição de
música coral, sendo que foram realizadas análises de amostras de saliva e medições subjetivas
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dos efeitos, antes de cada sessão e 60 minutos depois. Os resultados indicaram que a prática do
canto coral, em particular, leva ao incremento dos efeitos emocionais positivos e do anticorpo S-
IgA, enquanto efeitos emocionais negativos são reduzidos. Esses resultados sugeriram que o
canto coral influencia positivamente tanto o aspecto emocional do indivíduo quanto sua
competência imunológica.
Sites na Internet
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Considerações finais
Nesse sentido, a abordagem que se propôs nesta obra focalizou-se nas oportunidades
de ação que sejam possíveis de se promover individualmente visando à manutenção ou à
promoção da saúde vocal, mas procurou não descuidar de apresentar as limitações que existem
à ação individual. Em outras palavras, não é possível se desprezar o contexto em que atuam os
profissionais da voz e não se pode deixar de propor que estes sejam contemplados com
reorganizações em sua situação de trabalho, com melhores condições de atuação, com uma
melhor qualidade de vida e, especificamente, com cursos e atividades de motivação ao cuidado
com a saúde vocal. A saúde vocal é nitidamente uma questão de saúde pública e saúde laboral,
devendo ser assim tratada pelo Estado, pela sociedade e pelas organizações do setor privado
que empregam profissionais da voz.
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Destarte, como notou Almeida (2000), faz-se necessário inserir no cotidiano escolar
referências constantes quanto à conscientização e à prática dos hábitos de saúde vocal, como a
promoção de exames laringoscópicos anuais, palestras informativas e, também, iniciativas
socioculturais, como o canto coral, que ofereçam uma maior inserção e debate acerca do tema
voz no ambiente educacional. Essa inserção do diálogo e da informação sobre saúde vocal nas
práticas escolares é essencial tanto do ponto de vista dos professores, quanto pela perspectiva
do alunado, que deve ser motivado o quanto antes a práticas vocais saudáveis, que são reflexo
de práticas corporais saudáveis. Como destacaram Gonçalves, Penteado e Silvério (2005, pp.
47-8), o professor deve ser “visto como o mediador ou parceiro dos profissionais da saúde no
desenvolvimento de ações de promoção da saúde na escola (ações tradicionalmente voltadas
para os alunos, familiares e comunidade)”.
A participação nos encontros de vivência de voz reduziu a tensão vocal dos professores e
auxiliou a compreensão por parte deles nas causas destas tensões.
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Gonçalves (2004; 2009) propõe ainda que sejam desenvolvidas sessões de formação
para professores compartilharem experiências de autopreservação vocal, principalmente durante
cursos de saúde vocal para docentes. “Sugere-se, também, propiciar momentos de discussão
em cursos de formação para professores, para que estratégias de autopreservação individual
possam ser compartilhadas, e sirvam de inspiração para professores iniciantes, e estratégias
coletivas possam ser traçadas coletivamente” (GONÇALVES, 2004, p. 205).
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Pode-se, por um lado, entender que de maior eficácia em relação a cursos de curta
duração sobre saúde vocal para docentes seria a implantação de programas continuados de
orientação vocal docente. Poderia haver aulas a que estes assistiriam permanentemente durante
o tempo de desempenho de sua atividade profissional, nas quais desenvolveriam sua técnica
vocal, sempre realizando os exercícios básicos (como em um ensaio coral) e progredindo de
nível na teoria e da prática vocal. Quanto à teoria (fisiologia da voz, fonoaudiologia), obviamente,
não há que se aprofundar a formação do docente de maneira exagerada, muito além do que seja
realmente fundamental para a sua atividade, bem como uma atividade de orientação vocal muito
superficial ficará aquém de suas necessidades. Quanto à prática, pode-se aumentar
progressivamente o nível dos exercícios realizados, até um nível determinado, a partir do qual o
docente interessado poderá buscar treinamento vocal para outras atividades vocais que o
motivem, como o teatro ou o canto coral amador. Não se deve deixar de realizar, porém, os
exercícios básicos, necessários ao condicionamento físico para o trabalho em sala de aula.
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Manual de Saúde e Técnica Vocal® – Fucci-Amato
Outra estratégia interessante – que pode ser paralela ou substitutiva aos programas de
orientação vocal (cursos de saúde vocal) – é a instituição de ensino (escola, faculdade,
universidade) manter um grupo de teatro e/ ou coral que seja aberto aos docentes, em que estes
possam desenvolver suas habilidades de expressão artística pela voz, desenvolvendo também a
teoria e a prática vocal. Esses grupos podem ser abertos também a alunos, funcionários e
interessados externos, de modo que se integre toda a comunidade educativa.
A promoção dessas atividades de orientação vocal, no setor público, não deve fugir à
responsabilidade do ministério da educação e das secretarias estaduais e municipais da
educação. No setor privado, não deve ser subestimada pelas instituições responsáveis.
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uma sustentabilidade vocal, entendida como um processo de emissão vocal que permita manter
as condições necessárias para perpetuar a boa capacidade fonatória. Assim, com base em uma
saúde plena e constante, logra-se a manutenção de seu patrimônio vocal – único e imensurável
– inabalado por toda a vida.
Se você fuma, bebe ou grita, está prejudicando muito um bem que só você tem, pois a
voz é uma para cada um. E só você pode cuidar de sua voz, apesar de este cuidado poder ser –
e dever ser – incentivado no seu ambiente de trabalho, estudo e convivência. Manter uma saúde
vocal em um corpo saudável – vox sana in corpore sano – é uma atitude de inteligência vocal,
pois, como diz Chico Buarque, na canção A voz do dono e o dono da voz (agora sem ironias), “o
que é bom para o dono é bom para a voz” – e, pode-se acrescentar – vice-versa. Sua voz
pertence unicamente a você e também apenas você, diretamente, pode preservá-la, desenvolvê-
la e aperfeiçoá-la. A esse entendimento corresponde uma atitude de inteligência vocal.
Tudo o que foi transmitido por este livro visa a motivar você a manter seu corpo
saudável, seja para comunicar-se melhor, através da voz falada, seja para cantar e, assim,
desfrutar de integração, motivação e lazer. A essência de todas estas reflexões e considerações
aqui elaboradas encontra-se no profundo desejo de convidar todos os leitores a fazerem uso de
suas vozes, desfrutando plenamente deste admirável instrumento que possuímos.
190
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