ARTIGO ORIGINAL
REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL DO
PROFESSOR: POSSIBILIDADES PARA
PROMOVER A SAÚDE DO TRABALHADOR
REFLECTIONS ON TEACHERS’ MENTAL HEALTH: POSSIBILITIES TO PROMOTE WORKERS’ HEALTH
REFLEXIONES SOBRE LA SALUD MENTAL DE LOS DOCENTES: POSIBILIDADES PARA PROMOVER LA SALUD DE LOS
TRABAJADORES
Fabiano Oliveira Antonini1 (https://orcid.org/0000-0003-2139-2245)
Ivonete Teresinha Schülter Buss Heidemann2
Michelle Kuntz Durand2 (https://orcid.org/0000-0003-3660-6859)
Jeane Barros de Souza3 In memoriam
Gisele Cristina Manfrini2 (https://orcid.org/0000-0003-0445-1610)
Carolina Gabriele Gomes da Rocha4
Leandro Martins Costa de Araújo2
Descritores
Promoção da saúde; Saúde do
trabalhador; Saúde mental;
Enfermagem; Docentes
Descriptors
Health promotion; Occupational
health; Mental health; Nursing;
Faculty
Descriptores
Promoción de la salud; Salud
laboral; Salud mental; Enfermería;
Docentes
Submetido
20 de setembro de 2021
Aceito
22 de outubro de 2021
Conflitos de interesse:
nada a declarar.
Autor Correspondente
Leandro Martins Costa de Araújo
E-mail: leandromartins19@gmail.com
Editor Associado (Avaliação pelos pares):
Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda
Cavalcanti
(https://orcid.org/0000-0003-2325-
4647)
Centro de Ciências da Saúde,
Universidade Federal da Paraíba. João
Pessoa, PB, Brasil
(https://orcid.org/0000-0001-6216-1633)
(https://orcid.org/0000-0002-0512-9765)
(https://orcid.org/0000-0003-4150-9332)
(https://orcid.org/0000-0003-2609-1724)
RESUMO
Objetivo: Compreender os fatores que influenciam a saúde mental dos professores de cursos técnicos da saúde.
Métodos: Pesquisa qualitativa do tipo ação participante, articulado com o itinerário de pesquisa de Paulo Freire que
compõem: investigação temática; codificação e descodificação; desvelamento crítico. Estas etapas foram desenvolvidas
em cinco círculos de cultura com 21 professores de um Instituto Federal de Educação.
Resultados: Emergiram como temáticas: pressão no trabalho; desvalorização do professor; relações conflituosas no
trabalho; falta de educação continuada e ações de promoção da saúde.
Conclusão: Os professores, ao promover saúde mental, podem melhorar a qualidade de vida, reduzindo o absenteísmo.
ABSTRACT
Objective: To understand the factors that influence the mental health of teachers in technical health courses.
Methods: Participatory action qualitative research, articulated with Paulo Freire’s research itinerary, which comprise:
thematic investigation; encoding and decoding; critical unveiling. These stages were developed in five culture circles with 21
teachers from a Federal Institute of Education.
Results: The following themes emerged: pressure at work; devaluation of the teacher; conflicting relationships at work; lack
of continuing education and health promotion actions. Conclusion: Teachers, by promoting mental health, can improve the
quality of life, reducing absenteeism.
RESUMEN
Objetivo: Comprender los factores que influyen en la salud mental de los docentes en los cursos técnicos de salud.
Métodos: Investigación cualitativa de acción participativa, articulada con el itinerario de investigación de Paulo Freire, que
comprende: investigación temática; codificación y decodificación; revelación crítica. Estas etapas se desarrollaron en cinco
círculos culturales con 21 profesores de un Instituto Federal de Educación.
Resultados: Surgieron los siguientes temas: presión en el trabajo; devaluación del maestro; relaciones conflictivas en el
trabajo; falta de acciones de educación continua y promoción de la salud.
Conclusión: Los docentes, al promover la salud mental, pueden mejorar la calidad de vida, reduciendo el absentismo.
1
Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
3
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, SC, Brasil.
4
Centro de Reabilitação Catarinense, Florianópolis, SC, Brasil.
Como citar:
Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al. Reflexões sobre a saúde mental do
professor: possibilidades para promover a saúde do trabalhador. Enferm Foco. 2023;14:e-202354.
DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2023.v14.e-202354
Enferm Foco. 2023;14:e-202354 1
 REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL DO PROFESSOR: POSSIBILIDADES PARA PROMOVER A SAÚDE DO TRABALHADOR
Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al.
INTRODUÇÃO
As condições de saúde e suas relações com o trabalho vêm
sendo investigadas por diferentes áreas do conhecimento.
A saúde do trabalhador envolve um campo de práticas e
de conhecimentos interdisciplinares e interinstitucionais,
com vistas a analisar e atuar nas relações de trabalho que
provocam doenças e agravos. O maior avanço da saúde do
trabalhador no Brasil foi seu reconhecimento constitucio-
nal como área contida no âmbito da saúde pública.(1)
Cabe destacar que a docência, em âmbito mundial, é
considerada a segunda categoria profissional a portar doen-
ças ocupacionais, sendo uma profissão de alto risco. O tra-
balho do professor tem se modificado ao longo dos tempos
com uma rápida transformação do contexto social, recaindo
na fragmentação do seu processo de trabalho. Isto muitas
vezes está associado a demandas complexas, ampliação de
suas responsabilidades e exigências profissionais, de modo
que eles precisam demonstrar, além das competências pe-
dagógicas, habilidades sociais e emocionais.(3)
Na Carta de Ottawa, em 1986, ficou acordado que as
ações de promoção da saúde deveriam resultar na redução
das iniquidades em saúde, com vistas a garantir oportuni-
dade aos indivíduos de fazerem escolhas mais favoráveis
ao seu bem-estar e serem protagonistas no processo de
produção da saúde, em busca de melhoria da qualidade de
vida. No entanto, não há políticas públicas e ou das pró-
(4)
prias instituições de ensino para atuar neste cenário, ca-
bendo ao professor enfrentar a situação individualmente.
Nesse contexto, ainda persistem as práticas voltadas
ao indivíduo, o que reforça o modelo biomédico pautado no
corpo doente, com escasso ou nenhum foco no ambien-
te adoecedor. (6)
A promoção da saúde pode ser realizada
em diversos locais, incluindo o ambiente de trabalho, que
deve receber atenção especial, pois influencia o bem-estar
físico, mental, econômico e social dos indivíduos, além de
ofertar infraestrutura, como no caso de escolas e universi-
dades, para o desenvolvimento de ações em prol da saúde
de um grande público. (7)
Desta forma, surgiu a questão de pesquisa: Quais fatores
influenciam a saúde mental do trabalhador, nas percepções
dos professores de cursos técnicos e quais possibilidades
para promover sua saúde mental? A partir de então, este
estudo objetivou compreender os fatores que influenciam a
saúde mental dos professores de cursos técnicos da saúde.
MÉTODOS
Estudo qualitativo, do tipo pesquisa ação participante, ar-
ticulada com o itinerário de pesquisa de Paulo Freire, que
baseia-se em três etapas, que estão interligadas entre si:
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a) investigação temática que visa à identificação dos temas
geradores extraídos da realidade dos participantes; b) co-
dificação e descodificação, em que ocorre a contextualiza-
ção e problematização dos temas geradores, tomando as-
sim consciência do mundo vivido; c) desvelamento crítico,
com a tomada de consciência da realidade, partindo para a
transformação do contexto vivido em círculos de cultura.(9)
O estudo ocorreu em uma instituição federal de educa-
ção profissional do sul do Brasil, que possui 391 professo-
res em diversas áreas de conhecimento.
Participaram do estudo os professores em pleno exer-
(2)
cício da docência, entre efetivos e contratados tempora-
riamente, com no mínimo dois anos de experiência no ma-
gistério, com atuação nos cursos na área da saúde (técnico
em enfermagem, tecnólogo em radiologia, mestrado em
proteção radiológica e cuidadores de idosos) e que aceita-
ram participar da pesquisa, sendo excluídos os professores
afastados por férias ou licença de qualquer natureza.
Foram realizados cinco círculos de cultura organiza-
dos quinzenalmente, com duração em torno de uma hora
e meia, no período de abril a junho de 2018, com a partici-
pação de 21 professores, que foram convidados a se envol-
ver na pesquisa em uma reunião agendada para tal fim nas
dependências da instituição de ensino, sendo os encontros
agendados ao término de cada um deles, conforme a dis-
ponibilidade dos participantes do estudo.
O ambiente foi disposto em roda e foram gravados em
(5)
vídeo com uso de tripé e aparelho celular, com a ciência e
autorização dos participantes, para posteriormente serem
transcritos. Também foram realizados registros dos temas
por meio de um diário de campo.
Os círculos de cultura foram o cenário para a investiga-
ção temática, que consiste de uma reflexão crítica na qual
a consciência emerge do mundo vivido e assim o problema-
tiza e o compreende como projeto humano. Os participan-
tes, por meio do diálogo, reelaboram o mundo e, ao recons-
trui-lo, percebem que este é construído também por eles.(8)
Para a investigação temática o grupo foi dividido em
duas turmas, para discutir sobre promoção da saúde e
saúde mental do trabalhador, tendo um dos pesquisadores
como facilitador do processo. As discussões foram sociali-
zadas e as temáticas registradas em uma lousa, classifica-
das e agrupadas por proximidades e semelhanças. Assim,
emergiram 36 temas geradores que estavam relacionados
a dois eixos pré-determinados, com o propósito de atender
ao objetivo do estudo, os quais são: promoção da saúde e
saúde mental do trabalhador.
(8)
A codificação e descodificação, que consistem na bus-
ca dos significados e compreensão dos temas levantados
 REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL DO PROFESSOR: POSSIBILIDADES PARA PROMOVER A SAÚDE DO TRABALHADOR
pelo grupo, foram evidenciadas a partir do segundo círculo
de cultura, quando o referencial teórico da promoção da
saúde e de saúde do trabalhador foram compartilhados. As
discussões foram guiadas com dinamicidade ao desenhar
na lousa duas nuvens, sendo uma para cada eixo. Em um
envelope foram confeccionadas tarjetas de papel conten-
do os temas geradores identificados no primeiro círculo de
cultura.
Os participantes foram convidados a sortear um tema
e expor sua opinião com a discussão do grupo, procurando
destacar as práticas para promover a saúde. Em seguida,
os participantes fixaram as tarjetas dentro da nuvem cor-
respondente ou na intersecção entre as duas nuvens, para
melhor visualização. Tal ação teve continuidade nos demais
círculos de cultura.
Nesta etapa do itinerário de pesquisa foi realizada uma
síntese dos temas geradores codificados e descodificados,
num processo de ação-reflexão-ação e tomada de consci-
ência da realidade vivenciada, para que finalmente os pro-
fessores pudessem compreender e verificar as possibilida-
des para promover saúde no contexto da sua instituição.
O desvelamento crítico ocorreu quando os participan-
tes foram tomando consciência de sua realidade e expres-
saram práticas para transformar sua realidade e promover
sua saúde. A análise dos temas aconteceu concomitante
ao desenvolvimento dos círculos de cultura, num processo
analítico contínuo, sob o olhar dos participantes, de acordo
com o referencial teórico da promoção da saúde e da saú-
de do trabalhador.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal
de Santa Catarina, por meio do número de Certificado de
Apresentação e Apreciação Ética: 80121317.4.0000.0121.
RESULTADOS
Dos 21 professores que participaram do estudo, a maioria
era do sexo feminino (72%), casados (62%), com idade va-
riando entre 25 a 50 anos. Quanto às áreas de formação,
destacou-se a enfermagem com 52% dos participantes,
seguidos por 33% de tecnólogos em radiologia, 10% de fí-
sicos e 05% de engenheiros. A titulação dos professores
variou de especialistas (09%), doutores (48%) e mestres
(43%). O tempo de exercício na docência variou de 2 a 28
anos, mas a maioria (53%) apresentou mais de 10 anos de
experiência, sendo todos servidores públicos federais.
No primeiro eixo, saúde do trabalhador, despontaram
quatro temáticas: pressão do trabalho; desvalorização do
professor; relações de trabalho entre estudantes, colegas
e chefia; falta de formação continuada. No segundo eixo,
Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al.
promoção da saúde, surgiram seis temáticas: equilíbrio en-
tre trabalho e vida pessoal; formação de grupos de ajuda
mútua; atividade física; organizar tempo para fazer o que
aprecia; manter relacionamentos saudáveis; sensibilização
para promover saúde.
O diálogo entre os participantes propiciou o debate
sobre as condições que poderiam interferir na saúde pela
realização do trabalho do professor, ficando evidente prin-
cipalmente a relação com as condições psicossociais. Os
professores revelaram que se sentem pressionados pelo seu
trabalho, principalmente com as cobranças de produtivida-
de exigidas pelos gestores institucionais, estas com origem
nas políticas educacionais impostas pelo governo federal,
que interferem diretamente no seu processo laboral:
Na nossa profissão a gente é cobrado [...] é uma
pressão no processo de trabalho. (Azul)
O impacto dos novos modelos de produtividade,
das novas políticas implantadas e o docente muitas
vezes não está preparado para isso. (Mandala)
Há uma pressão psicológica dos gestores querendo
produção, dizendo que a gente não trabalha. (Mórbio)
Isso é uma máquina de fazer louco. (Esperança)
Os professores abordaram que o cenário político bra-
sileiro tem interferido na autoestima enquanto servidores
públicos federais, o que gera o sentimento de desvaloriza-
ção. Acreditam que há uma visão da comunidade de que a
educação pública eleva os gastos para o governo, com a
ideia de desmonte das instituições públicas, e como conse-
quência, suscita insegurança profissional:
Há uma diminuição de recurso para educação [...]
hoje educação é um custo para o governo e deve ser
cortado [...] e nós como vilões gerando custo para o
Estado. (Trinca Ferro)
Quanto à desvalorização do professor, os participantes
expressaram que também está relacionado com os condi-
cionantes psicossociais:
Há uma sobrecarga de trabalho, uma desvaloriza-
ção cada vez maior, tanto pelas instituições como pe-
las pessoas, sociedade. Isso vai dando um desgosto.
(Mandala)
Os participantes dialogaram que as relações de trabalho
entre estudantes, colegas e chefia, muitas vezes, emergem
de maneira conflituosa, sendo evidenciado em diversos
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Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al.
momentos durante os círculos de cultura. Destacaram que
as relações de trabalho podem intervir no seu processo
saúde e doença, impulsionados por conflitos. Relataram a
dificuldade de atender as necessidades dos estudantes, a
falta de respeito ao professor e de apoio do setor pedagó-
gico da instituição.
Com relação aos colegas de trabalho, os participantes
revelaram inúmeros conflitos e dificuldades de entrosa-
mento nas relações interpessoais. Por vezes, estas situa-
ções no ambiente laboral são interpretadas como sendo de
cunho pessoal, podendo trazer adoecimento e afastamen-
to do trabalho. Isso proporciona uma sobrecarga aos pro-
fessores que devem substituir as atividades dos trabalha-
dores afastados para tratamento médico, criando um ciclo
de adoecimento entre eles:
O professor na instituição é o mais frágil, devería-
mos ter um arcabouço para o professor ter uma prá-
tica mais segura, pois estamos no meio da sociedade,
alunos e direção. Ter um ambiente de trabalho que te
abrace mais, entenda suas necessidades [...] que possa
empoderar o professor. (Grama)
Outro tema dialogado foi a ausência de formação con-
tinuada na instituição, como um processo permanente de
aperfeiçoamento, e do apoio do setor pedagógico da insti-
tuição. Desta forma, identificaram que estes fatores pro-
porcionam um ambiente de trabalho conflituoso e gerador
de insatisfação:
Nós não temos preparo, isso angustia porque eu
quero fazer o melhor para aquele aluno que apresen-
ta alguma dificuldade, como portador de necessidades
especiais, e eu como professor tenho que dar um jeito.
(Esperança)
É um trabalho muito subjetivo, uma das dificuldades
é saber individualizar o aluno, mas ao mesmo tempo ele
faz parte de um geral que não posso tratar diferente (...)
e como atender as necessidades dele? (Grama)
Frente às condições psicossociais que afetam a saúde
mental dos professores, os participantes puderam identifi-
car e sugerir algumas práticas de promoção da saúde men-
tal. O tema equilíbrio entre trabalho e vida pessoal foi o mais
evidenciado para promover a saúde mental dos professores:
A gente não tem sábado nem domingo, eu estava
de atestado e os alunos mandando mensagem no do-
mingo [...] hoje eu consigo perceber que eu levo trabalho
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para casa, você não consegue separar, isso faz mal,
mas eu tento desligar. (Coração)
Para eles, saber separar a vida pessoal e profissional é
uma tarefa difícil em virtude da característica de sua pro-
fissão. Relataram que por diversas vezes levam trabalho
para fazer em casa e isto pode prejudicar o convívio com
seus familiares e amigos. Desvelaram que os professores
necessitam de momentos de descanso diário e semanal
para garantir sua saúde mental.
Outra prática para promover a saúde mental desta-
cada é por meio da formação de grupos de ajuda mútua.
Por meio do diálogo nos círculos de cultura, os professo-
res conseguiram expressar suas angustias com relação
à saúde mental, se reconhecendo nas falas dos colegas.
Relataram o quanto foi positivo este processo de socializa-
ção de informações:
Podemos fazer questionamentos no grupo, fazer
discussão para ter um apoio na questão pedagógica,
mas também psicológica, pois a pressão mental traz as
doenças. (Azul)
Quanto ao tema prática de atividades físicas, os partici-
pantes associaram como sendo promotora da saúde men-
tal, pois por meio dela é possível proporcionar momentos
de descontração e cuidado do corpo. Ressaltaram que a
instituição incentiva que seus servidores pratiquem ativi-
dades físicas, pois oferecem meditação, pilates, dança, fu-
tebol no campus no horário e local de trabalho, e fizeram
uma referência de que estas seriam uma forma de redução
de danos por meio de válvulas de escape:
Se permitir, você pode, tire algum tempo para fazer o
que gosta, ir à praia, fazer uma caminhada, ficar até tar-
de na cama, eu me permito no meu tempo livre. (Tulipa)
Também identificaram que ter um preparo emocional
para relações interpessoais, conhecer, entender e respei-
tar o outro e assim manter o relacionamento social, com
um convívio mais harmonioso, são práticas que podem
contribuir na promoção da saúde mental. Dialogaram so-
bre o quanto é positivo ter relacionamentos pessoais sau-
dáveis para que o ambiente de trabalho seja mais agradável
e produtivo, e o quanto a sensibilização é necessária para a
promoção da saúde:
Ter um bom relacionamento social com os colegas
é importante para promover a saúde [...] fazer uma
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reunião administrativa em um barzinho fora da esco-
la [...] conversas diferentes uns com os outros [...] isso
fortalece o relacionamento que reflete diretamente no
trabalho [...] fica melhor para trabalhar. (Mandala)
Eu me lembro de um projeto de dança [...] as pes-
soas se sentiam constrangidas em participar [...] mas
você pode, se permita, tire algum tempo para fazer o
que gosta [...] eu me permito. (Tulipa)
A gente se sente culpada em realizar algumas ati-
vidades de lazer [...] eu me permito sem culpa, pois eu
tenho consciência que preciso disso. (Hortência)
Dentre as condições psicossociais, o tema pressão do
trabalho foi o mais evidenciado, destacando as cobranças
de produtividade, pressão psicológica sobre servidores
federais, o impacto das políticas educacionais, processos
pedagógicos e burocráticos, bem como a mídia de desva-
lorização e desmonte do serviço público. Foi possível iden-
tificar que os professores procuram realizar práticas de
promoção da saúde mental.
DISCUSSÃO
A incidência de transtornos mentais é comum em profes-
sores, assim como as queixas inespecíficas, como exaustão,
fadiga, dor de cabeça, tensão, stress, síndrome de Burnout,
problemas vocais e doenças osteomusculares como sendo
os principais motivos de afastamento do trabalho e redu-
ção da qualidade de ensino público e particular de todos
os níveis.(10) O perfil dos professores identificado nesta pes-
quisa se aproxima com os encontrados em estudos sobre a
mesma temática, o que reforça as características dos indi-
víduos que optaram por esta profissão. (7-11)
Diante das demandas educacionais atuais, os profes-
sores necessitam de competência pedagógica, social e
emocional, a fim de estimularem a construção crítica dos
indivíduos para que aprendam a ser e a conviver na socie-
dade como sujeitos conscientes, reflexivos e participativos.
Mas para isto, é fundamental que também estejam física e
mentalmente saudáveis.(2) Os professores estão na linha de
frente do trabalho educacional, portanto, para promover
a saúde mental nas instituições de ensino, deve-se iniciar
com ações voltadas para eles. (6)
No cenário das exigências educacionais contempo-
râneas, o professor se envolve com uma necessidade de
produção acadêmica, de inspiração capitalista nos servi-
ços públicos, que inclui também uma política da desregu-
lação das relações de trabalho, com contratos precários e
a avaliação por resultados em curto prazo. Assim, soma-
dos a falta de autonomia, infraestrutura e baixos salários,
Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al.
os professores estão expostos aos ambientes de conflito,
ansiedade, stress e de alta exigência, interferindo na saúde
física e mental e no seu desempenho profissional, enquan-
to servidores públicos federais.( 2,3,13,14)
As relações de trabalho entre estudantes, colegas e
chefia interferem na saúde mental dos professores, pois
são resultantes da constante e repetitiva pressão emocio-
nal associada ao intenso envolvimento com indivíduos por
longo período.(15)
O despreparo dos professores para atuação na docên-
cia também impacta a saúde mental, pois com a falta de
formação continuada torna-se difícil romper com o modelo
tradicional. Portanto, é necessário que as instituições de
ensino repensem acerca da qualidade da formação peda-
gógica de seus professores, promovendo e estimulando-os
ao aperfeiçoamento continuado através de uma aborda-
gem interdisciplinar,(16,17) que envolva o conhecimento teó-
rico e prático, considerando que suas atividades pedagógi-
cas não estão limitadas ao espaço da instituição.(18)
A falta de reconhecimento do trabalho docente pela
sociedade, que é um reflexo das transformações sociais,
reformas educacionais, implantação de novos modelos pe-
dagógicos e pelo cenário político atual, pode levar ao ado-
ecimento dos professores.(2) Os participantes revelaram
que a figura idealizada do professor está associada a vários
papéis como educador, parceiro, conselheiro, mediador,
assistente social, gestor profissional e pensador político.
Nesse contexto, os professores do estudo, que são ser-
vidores públicos, estão sujeitos à deterioração das con-
dições de trabalho e da sua imagem na sociedade, bem
como a responsabilização pelas deficiências dos serviços
por possíveis crises das instituições públicas, o acúmulo de
funções e a má gerência na organização do trabalho.(19)
Um estudo, em um cenário parecido ao desta pesquisa,
evidenciou os transtornos mentais como causa frequente
de absenteísmo entre os servidores públicos federais, o
que impõe pesado encargo não só ao trabalhador e à insti-
tuição, mas à toda a sociedade. Dados como esse, mostram
a necessidade do desenvolvimento de ações referentes à
reorganização do trabalho, e a implantação de medidas de
promoção e prevenção da saúde, através do empodera-
mento dos professores para realizarem escolhas de forma
autônoma, visando à melhoria da sua qualidade de vida, e a
construção de mudanças sociais e políticas para que exer-
çam seu trabalho de maneira a preservar e valorizar sua
dignidade e seu protagonismo.(12,19,20)
As práticas de promoção da saúde identificadas estão
alinhadas às estratégias propostas na Carta de Ottawa,(21)
tais como criação de ambientes favoráveis, reforço da ação
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Antonini FO, Heidemann IT, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CG, et al.
comunitária e desenvolvimento das habilidades pessoais.
Também estão em consonância com os temas prioritá-
rios definidos na Política Nacional de Promoção da Saúde
(PNPS), como a formação e educação permanente e práti-
cas corporais e atividades físicas.(22)
Nessa perspectiva, as ações de promoção da saúde nas
instituições de ensino devem ser direcionadas aos estu-
dantes e professores, com atenção para a organização do
trabalho docente e para as relações sociais.(12,23,24)
Os transtornos mentais têm sido um dos maiores res-
ponsáveis pelo afastamento de professores devido a pro-
blemas de saúde. O fato é que quando o professor adoece a
instituição de ensino também se torna adoecida e sua fun-
ção social pode não se concretizar na formação de cida-
dãos.(4) Portanto, é imprescindível a continuidade de estu-
dos para discussão e cooperação em busca da superação
do quadro de adoecimento dos professores. O trabalho do
professor é um campo de estudo que deve ser explorado
devido às amplas e profundas mudanças na educação, tra-
zendo novos significados às relações entre os indivíduos
que integram o processo ensino-aprendizagem.
Limitações do estudo
Como limitações do estudo cita-se a restrição do local de
pesquisa, sendo realizado em apenas um campus da insti-
tuição devido aos custos e operacionalização do método
escolhido, além da dificuldade de reunir os professores nos
círculos de cultura, em decorrência das características da
atividade docente. No entanto, foi possível contornar os
desafios das agendas e conciliar horários por meio da con-
tribuição de todos os envolvidos na pesquisa, participantes
e pesquisadores.
Contribuições para a prática
O uso do itinerário de pesquisa de Paulo Freire, como es-
tratégia metodológica de pesquisa, possibilitou espaços de
discussões e reflexões entre os participantes, colaboran-
do para a transformação de suas práticas para promover a
saúde mental. A pesquisa contribuiu nesse âmbito pois os
professores desvelaram a sua realidade, trazendo formas de
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promover a saúde mental desse público, através da reflexão.
O diálogo em grupo proporcionou o desenvolvimento de
ações que se tornaram essenciais para a saúde no trabalho.
CONCLUSÃO
Os participantes do estudo identificaram que as condições
psicossociais são fatores que afetam a saúde do trabalha-
dor, sendo destacados a pressão do trabalho, desvaloriza-
ção do professor, falta de formação continuada e as rela-
ções entre estudantes, colegas e chefia.
Por meio dos diálogos nos círculos de cultura os pro-
fessores tomaram consciência da realidade vivenciada
e sugeriram práticas de promoção da saúde mental, tais
como: equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; formação
de grupos de ajuda mútua; praticar alguma atividade física;
organizar tempo para fazer o que aprecia; manter relacio-
namentos saudáveis e sensibilização para promover saúde.
Os professores acreditam que as práticas que possibi-
litam a promoção da saúde mental podem trazer benefí-
cios para melhoria da qualidade de vida e do seu trabalho,
bem como reduzir o absenteísmo. Outrossim, as práticas
de promoção da saúde mental sugeridas pelos professores
podem ser alinhadas às estratégias de promoção da saúde
propostas na Carta de Ottawa, e aos temas prioritários de-
finidos na PNPS.
Agradecimentos
Aos professores que participaram dos Círculos de Cultura.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Contribuições
Concepção e/ou desenho do estudo: Antonini FO,
Heidemann ITSB; Coleta, análise e interpretação dos da-
dos: Antonini FO, Heidemann ITSB; Redação e/ou revi-
são crítica do manuscrito: Antonini FO, Heidemann ITSB,
Durand MK, Souza JB, Manfrini GC, Rocha CGG, Araújo
LMC; Aprovação da versão final a ser publicada: Antonini
FO, Heidemann ITSB, Durand MK, Souza JB, Manfrini GC,
Rocha CGG, Araújo LMC.
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