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Disponibilização: Soryu
Tradução – Susana
Revisão Inicial: S.
Revisão Final: Argay Muriel
Leitura Final e Formatação: Sofia

A série é boa, lembra uma versão mais leve do


seriado de TV Andrômeda, com o ator Kevin
Sorbo. Os personagens deste livro são
interessantes. O mocinho é um cientista nerd, e
a mocinha vai firme em cima dele, é
determinada. Sabe o que quer. Vale a pena ler.

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Sinopse

Quando a inteligência Cyborg reúne dois robôs sensuais, as


placas de seus circuitos chispam. Einstein era provavelmente o
único Cyborg existente sem nenhum interesse no sexo oposto, até
que descobriu B-785. Com sua natureza sensual e peculiar senso
de humor, ela tira este ser cibernético da carapaça científica e o
ensina a única coisa que nunca teve interesse de compreender... A
paixão.

Cansada de ser prisioneira das forças armadas, Bonnie foi


dormir um dia com a intenção de não voltar a acordar, mas não
contava com um príncipe cibernético tão encantador trazendo-a de
volta à vida. Fazer as pazes com o passado não é fácil, porém mais
difícil ainda é a constatação que mesmo uma princesa biônica pode
se apaixonar perdidamente.

Entretanto, todos sabem que nos contos de fadas sempre têm


um malvado, e apesar de serem considerados defeituosos pelos
militares, logo descobrirão que precisarão lutar para alcançar o,
"felizes para sempre".

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Prólogo

— Onde está minha irmã? — Bonnie repetiu a pergunta, não


que ela esperasse uma resposta diferente. Mas não custava tentar,
já que ela possuía a capacidade de desligar os receptores de dor
sempre e quando quisesse.

Seu rosto bruscamente foi para o lado com o soco destinado a


sua face. Ela não se preocupou em esfregar o local machucado, os
nanorrobôs em seu sangue já estavam se encarregando de curar a
carne ferida. Girando a cabeça e avançando a mandíbula com uma
batida barulhenta, ela enfrentou a ruína de sua existência com um
sorriso malicioso e um olhar fixo, porque sabia como isso o irritava,
mas não tanto quanto sua boca atrevida.

— Mais uma vez, o seu método de agradar quando se trata do


sexo oposto não me impressionou. Onde já se viu... Batendo em
uma menina? Sério? Não admira que você não consiga um único
encontro.

— Pare de falar — O General rosnou a ordem, demonstrando


o ímpeto de esbofeteá-la novamente e ela em uma provocação
infantil e sabendo que o deixaria maluco, o mostrou a língua.

Se possível, o vinco em sua testa se aprofundou.

— Eu não sei como você consegue isso, mas você é, de longe,


o cyborg mais irritante que criamos até hoje.

Jogando os cabelos para trás, ela levantou o quadril e

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tombou a mão em um gesto de vaidade.

— Única, certamente sou. Fico encantada que um reles


humano como você reconheça. Maldito — Com alegria ofendeu o
homem sisudo que nunca apareceu com o cabelo cinza fora do
lugar ou uma ruga no uniforme. — E eu ainda estou esperando por
uma resposta. Onde está Chloe? E você pode parar de me enrolar,
porque eu não arredo o pé daqui até que você me diga onde ela
está. Eu não a vejo há dois dias — Dois dias cheios de preocupação.

Desde a sua captura e prisão pelos militares, nunca ficara


mais de dois dias sem ver sua irmã, a única coisa boa em sua
maldita existência. Quem imaginaria que ficar bêbada e chamar a
irmã para que lhe desse uma carona até em casa, tantos meses
atrás, as levaria a isso? Um acidente de carro estúpido, no lugar e
hora errada, as fez acordar neste inferno.

Se elas escapassem; algo que nunca perdeu a esperança em


conseguir, certamente prometeria nunca beber uma gota de álcool.
Na verdade, ela prometeria qualquer coisa para tirá-las deste
pesadelo. Qualquer coisa, ao menos para poupar sua irmã, que não
merecia nada daquilo.

— Quem pensa que é para me questionar ou fazer exigências,


B-785? Preciso lembrá-la das consequências de tanta
desobediência? Você precisa de outra visita ao fosso?

Ah, o bom e velho fosso; o mais novo método militar de lidar


com cyborgs difíceis, aqueles que se negavam a desistir da
humanidade que os restava. O lugar destinado aos cyborgs que não
queriam seguir o programa e diretrizes dos militares.

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Onde nos tornam máquinas sem vontade ou
discernimento do certo e errado. 1

Bonnie visitara o fosso torturante algumas vezes, mas devido


à capacidade de desligar qualquer nível de dor à vontade; uma falha
na programação que não fora repetida nos modelos posteriores, pois
não teve o efeito que os militares esperavam. Bonnie conseguira
manter sua sanidade e seu livre arbítrio. Mas, não sentir dor física
não significava estar livre de danos. Sua última visita ao poço a
levou a perder os olhos orgânicos. Tolice. Foram substituídos por
globos oculares, não importando o quanto Chloe assegurasse que
lhe caiam bem.

Parecem esmeraldas. Afirmava a irmã. Bonnie ainda preferia


os diamantes.

— Não precisa se borrar nas calças, General. Serei uma boa


menina e farei o que quiserem desde que me diga onde está Chloe.
Eu só quero saber se ela está segura.

Farei o que quiser, mas deixe minha irmã em paz.

Bonnie andaria através do fogo, se isso significasse poupar


Chloe, e o bastardo sabia. Usava e abusava de seu ponto fraco.

Deus, como o odeio.

O sorriso cruel cruzou seus lábios provocou um arrepio na


espinha dela que não tinha nada a ver com a temperatura.

— Más notícias, B785. A Unidade C-791 se foi.

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Frases e orações escritas desta forma se referem a reflexões do personagens

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O general e suas nomenclaturas. Ele parecia pensar que os
nomear com letras e números, poderia apagar o fato de que os
cyborgs nasceram com identidades. Mas quem se importava com
isso, agora? Suas palavras a atingiram com mais força do que seu
soco.

— O que você quer dizer com, se foi?

— Quero dizer que a desgraçada morreu, você nunca mais a


verá novamente. Está absolutamente sozinha agora, B-785.

Não.

— Ela não está morta — Bonnie declarou como um fato, mas


não conseguiu evitar o frio se espalhando através de seus membros,
sentido que talvez desta vez, ele estivesse dizendo a verdade.

O General arreganhou o sorriso cruel.

— Se você insiste em pensar assim, fique a vontade, entenda,


nas circunstâncias atuais e com as sanções orçamentárias que este
projeto vem sofrendo, tornou C-791 um programa inviável. Ela
sempre foi cheia de defeitos um modelo inútil. Na verdade, manter
algumas de vocês vem dando mais problemas do que o esperado. E
com os cães de guarda do governo respirando no meu pescoço,
tomei uma decisão recentemente. Todas as unidades femininas
serão desligadas.

Dar um fim a nossa existência desgraçada? E ele disse


como se fosse uma coisa ruim. Ha... Mas que piada.

— Vá em frente. Mate-me. É melhor do que servir a humanos


como você — Além do mais, sem Chloe, ela não tinha nenhuma

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razão para viver.

— Você não me deixou terminar. Todas as unidades


femininas estão sendo desligadas, exceto você. Tenho planos que a
incluem. Fiquei sabendo que os prisioneiros de Gamma 31 andam
criando tumultos desde que o sexdroid se quebrou.

O general, com prazer sádico, entrou em detalhes sobre o que


ela teria de suportar estando em meio dos prisioneiros, mas Bonnie
já não ouvia nada mais após o anúncio de que sua irmã, não
sobrevivera.

Morta. Ela se fora. E lá se fora o que a restara de sua


humanidade. A única pessoa que a mantinha inteira e acima da
merda que jogavam em seu caminho, sua pobre irmã, desligada,
morta.

B-785, que já fora Bonnie, intrépida, teimosa, uma humana,


finalmente desabou. Esqueceu a tortura e os abusos, o ódio de ser
arrancada de seu confortável modo de vida humana, agora
entranhada na cibernética que adulterara seu corpo. Aquele ser
hediondo, com um ato simples, finalmente quebrou sua vontade.

Eu desisto.

Ela perdeu a vontade de viver. Perdeu todo o interesse no que


havia ao seu redor. Ruídos, comandos, ordens e um zumbido de
fundo que ela ignorou. Cutucando, empurrando, e outras coisas
que tentaram para furar a concha que trancara em sua consciência,
não a tocariam ali. Os militares fizeram todo o possível para acordá-
la, mas não chegaram a matá-la. Uma pena, porque ela queria
morrer. No entanto, o suicídio não era uma opção para uma

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máquina destinada a viver para sempre. Prender a respiração não
adiantou nada. Recusar sustento por via oral apenas fez seus
nanobots buscarem nutrientes nos objetos ao seu redor. Como ela
poderia se matar quando seu corpo a traia?

Sem outra opção disponível, fez a única coisa que a restava.


Fechou sua mente. Ela se recolheu para dentro de seus sentidos,
imaginando suas sinapses e a escuridão, fechou os olhos para um
mundo que há muito tempo perdeu toda cor. Imaginou-se
transformada em pedra, uma estátua robótica, que não responde a
estímulos.

E para desgosto de quem tinha gasto milhões para criar a


entidade cyborg B-785, ou Bonnie também a viu se transformar em
lixo inútil.

Se a situação lhe importasse um pouco, poderia ter se


perguntado por que eles tentaram com tanto afinco reanimá-la,
especialmente depois do discurso do General Maldito de se livrar de
todas as unidades cyborgs femininas. Mas, mesmo que eles
pudessem alterar as partes mecânicas e eletrônicas de seu corpo,
jamais conseguiriam consertar um coração partido, ou trazer de
volta uma alma perdida.

Somente sua irmã conseguiria tirá-la da escuridão, mas


Chloe, a ligação de sua humanidade e vida anterior, se fora, estava
sozinha e perdida em meio à dor. E não havia nenhum príncipe
para acordá-la com um beijo.

Não haveria final feliz para a menina que uma vez


tivera tudo, mesmo não percebendo isso na época, e perdeu
tudo em um momento de loucura.

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E, assim, Bonnie caiu em um sono profundo, de coração
partido e determinada a nunca mais acordar.

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Capítulo Um

— Por que estamos aqui novamente? — Einstein perguntou


enquanto cuidadosamente atracava a nave espacial, usando uma
ínfima parte de seus inúmeros recursos cerebrais unidos à sua
poderosa BCI2, uma nave militar que os cyborgs haviam roubado e
que agora atracavam em um bordel espacial. Agora sem outros
clientes no deque de atracagem.

Levando a mão ao peito e cambaleando para trás, Seth fingiu


uma careta de horror.

— Você realmente não me perguntou isso? Nós viemos ao


bordel mais famoso do quadrante para transar e você me pergunta
por quê? Por que! Onde está a sua tão falada inteligência? Estamos
aqui para pegar umas gatas, é claro.

— Temos gatos em nosso planeta e a bordo.

Seth bufou.

— Não estou falando do tipo que come ratos, meu amigo


literal. Gatinhas, mulheres. Se ainda não entendeu, queremos sexo.
Você sabe o que os machos gostam de fazer com as fêmeas, não?
Posição horizontal, um pouco de estimulação. E ohhhh...

— É o bastante — Um sorriso puxou os lábios de Einstein. —


Eu sei o que querem fazer.

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Abreviação de Brain Computer Interface: coordena a interfase entre o computador e o cérebro humano dos cybogs.

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Seth parou suas analogias e um sorriso em resposta
iluminou seu rosto.

— Einstein, meu velho, você acabou de entender uma piada?


Estou tão orgulhoso de você.

Seth levantou uma mão e Einstein, tendo estudado os


maneirismos da Terra, mesmo não entendendo muitas deles,
respondeu dando um tapa na mão do amigo. Se ele lembrou-se
corretamente e dado seu nível de inteligência, ele fez o movimento
esperado, um tal de (Toca aqui mano), um dos muitos maneirismos
estranhos que os humanos usavam para se expressar. Embora, não
entendesse por que seu irmão cyborg pensava que ele era
merecedor deste cumprimento. Assim, por que resistir ao
entusiasmo de Seth?

Mais uma vez, Einstein desejava possuir essa capacidade de


interação que parecia tão natural em seu irmão cyborg, mas
Einstein não fora criado para interagir com seres orgânicos. Como
um modelo de inteligência artificial, ele servira a um propósito, ou
até ser resgatado por seu povo. Sua principal função fora a de um
pensador. Na verdade, chamar a si mesmo de Pensador simplificou
o papel que seus criadores o designaram.

Como a única unidade sobrevivente conhecida de seu gênero


(modelo de inteligência especializada em operações, estratégia,
programação eletrônica, quebra de vírus, resolução de problemas
matemáticos e criador de dezenas de aparelhos eletrônicos e
armas), Einstein, anteriormente conhecido como unidade IQ221, foi
projetado para ser mais inteligente que qualquer computador. Seu
cérebro continha uma CPU que processava dados mais rapidamente

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que qualquer máquina conhecida, mais do que isso, a combinação
de circuitos entrelaçados ao seu cérebro orgânico, (enquanto vivo,
um cientista e matemático famoso no planeta Terra), fez dele um
cyborg único. Inestimável para o serviço de Inteligência Militar. E
também um grande perigo.

Um ser extremamente inteligente e capaz de pensar por si


próprio era uma perspectiva arriscada. Um cyborg inteligente capaz
de pensar com livre arbítrio e ser escravizado? Isso o tornou uma
grande ameaça aos militares humanos, uma ameaça que não
poderiam tolerar. Se eles o tivessem capturado.

Ao descobrir o que tinham feito a ele, imediatamente


contornou a programação de seus criadores sem que suspeitassem
de nada. No entanto, libertar-se não fora o suficiente. Ele também
cuidadosamente começou a libertar os outros, começando pelos
outros dois modelos de QI designados a outras bases. Em um
levante conjunto e planejado sob o nariz dos militares, eles
libertaram seus irmãos das rédeas da escravidão. Mas eles não
contavam com a fúria das unidades soldados cibernéticos quando
descobriram a perfídia feita a eles.

Enfurecidos, algumas das unidades cyborgs libertadas


imediatamente se viraram contra seus criadores. A situação se
tornou violenta e sangrenta. IQ279 não sobreviveu ao expurgo
cyborg, enquanto IQ300 desapareceu sem deixar pistas.

Einstein, que havia interceptado a ordem militar para


erradicá-los da face da Terra, escapou com um punhado de seus
irmãos. Mas ele não faria o papel de covarde, esconder-se como
uma das unidades de serviço menos valentes. Apesar de não ser um

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modelo de soldado, Einstein; um nome que escolhera para si
mesmo como parte de sua libertação, não ficou só observando como
outros cyborgs sofreram condenados à morte. Com seu acesso a
arquivos secretos e sua capacidade de invadir sistemas de
segurança, ele ajudou dezenas de seus irmãos a recuperar a
consciência e escapar.

Alguns de seus amigos cibernéticos o agradeceram. Outros


lamentaram a perda de suas vidas humanas e familiares. E muitos
se enfureceram contra a injustiça feita a eles. Einstein invejava
essas emoções porque ele e várias outras unidades infelizes foram
tão bem programadas que os detalhes de sua antiga vida foram
erradicados permanentemente, e não importava quantas vezes
ativara o programa de reiniciação, para poder trazer as memórias
de volta. Uma bênção ou uma maldição? Seu processador ainda
trabalhava na resposta.

Na maioria das vezes, Einstein não deixou que a falta de


memórias ou a incapacidade de recordar o humano que fora, o
incomoda-se, mas ultimamente, vinha notando as diferenças entre
ele e aqueles que tinham assimilado os dois lados de sua
personalidade, o homem e a máquina. Uma parte dele desejava ser
como eles, capaz de brincar e conversar, rir e encontrar prazer no
ambiente ao seu redor sem precisar analisar cada palavra ou
expressão. Ele queria sentir os mesmos desejos carnais que seus
irmãos pareciam compreender e perdoar. Mas a esse respeito seu
defeito crescia cada vez mais.

Onde seus irmãos encontravam prazer nos alimentos e na


carne, Einstein só se alimentava se fosse estritamente necessário e
sobre o desejo sexual, bem, ele simplesmente não via necessidade

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disso. A inserir uma parte de si mesmo em um orifício lubrificado
por alguns minutos de atrito? Para quê? Não conseguia entender,
assim como não entendia o entusiasmo de uma visita a um bordel
de robôs femininos programados para ajudar na ejaculação.
Novamente, ele não conseguia descobrir onde estava o prazer nisso.
Mesmo não compreendendo o porque de seus irmãos necessitarem
de sexo, não significava que ele estragaria a diversão deles. Pelo
menos, não muito.

— Não se esqueça de executar os protocolos de


descontaminação quando terminar a ejaculação do sêmen de seus
testículos.

Einstein os lembrou que a atracagem transcorreu sem


contratempos e que não esperava nenhum problema durante a
visita.

Seth, com sua capacidade de parecer e agir como humano,


pois fora programado para ser um espião e assassino, torceu o
nariz.

— Ei, mas que maneira de arruinar a excitação de um


homem. Por que sempre tão prático?

— Enquanto nossos nanobots podem curar a maioria das


doenças, nunca devemos esquecer que os militares estão de olho
em nossas atividades e podem criar algo para nos incapacitar ou
prejudicar se souberem que frequentamos esses lugares. Na troca
de fluidos pode existir uma infecção fatal.

— Mas que tolice. Não me diga que estaria pensando em


germes quando está deslizando entre doces coxas biônicas? — Seth

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imitou alguma dança de fertilidade primitiva que envolvia balançar
os quadris para frente e para trás.

— Você parece esquecer que alguns de nós não sentimos a


necessidade de deslizar em qualquer lugar — Einstein comentou
secamente.

— Não sente necessidade? Não me diga que está pensando


em não participar? Então para que veio nesta missão de orgia
coletiva, se não veio para transar? — A expressão horrorizada de
Seth era quase cômica, como os bancos de dados de Einstein sobre
expressões faciais indicava.

— Eu vim a essa missão porque era parte do acordo feito


antecipadamente com o dono do bordel.

— Quer dizer que não foi o meu charme que finalizou a


redução no preço? — Seth ficou cabisbaixo e Einstein não podia
ajudar, mas riu, sentindo realmente um breve momento de alegria
verdadeira.

— Desculpe, seu charme nada teve a ver com isso. Foi minha
ajuda no departamento de assistência técnica do bordel, reduzindo
o gasto de energia a causa. Você pode me agradecer depois.

— Mais tarde — Seth disse, esfregando as mãos, seu desgosto


esquecido com a despressurizacão entre a nave e o bordel flutuante
sendo finalizada. — Eu passei muito tempo no espaço com vocês,
arruaceiros e apenas só tive meus 10 dedos para me divertir. Estou
precisando de alguns SCE.

— SCE? — Einstein procurou em seus bancos de dados uma


tradução.

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— Sexo, cura e ejaculação.

Einstein balançou a cabeça quando seu amigo saltou em


direção às portas do hangar de atracagem, apenas uma dúzia de
cyborgs estavam a bordo para esta missão. Não era bem uma
missão, era mais uma recarga mental. Parecia estranho que
máquinas capazes de sobreviver sem oxigênio ou comida por
semanas, até meses, no final precisassem de sexo para funcionar
corretamente, e ainda por cima os cyborgs descobrirem que depois
da recuperação de seus sentidos humanos, que a gratificação
sexual era uma força poderosa, e falta de ejaculação tornava as
tropas cibernéticas mal-humoradas e mais agressivas. Toda a
testosterona que os militares valorizaram tanto em suas
características agressivas provou ser prejudicial quando negadas.
No entanto, dada a necessidade de sigilo e a falta de fêmeas em seu
novo mundo, a ejaculação provou ser um desafio. Aparentemente, a
masturbação não dava o mesmo resultado, portanto, viagens a
bordéis tornou-se um fato da vida.

Einstein, provavelmente era o único cyborg vivo sem um


desejo de ejacular, encarregou-se desta missão mais por praticidade
do que qualquer interesse em introduzir seu pênis dentro de um
recipiente artificial. Sim, sabia que era o cyborg mais inteligente
atualmente, mas a inteligência não faria a diferença sem as
ferramentas adequadas ou suprimentos para apoiá-la. Coisas que
ele poderia facilmente ter obtido na Terra provou-se ser quase
impossível de obter no espaço. Piratas e opções disponíveis no
mercado negro a disposição dos cyborgs, eram poucas, distantes e
complicadas, especialmente aqueles que estão dispostos a lidar com
os malditos robôs assassinos.

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A propaganda contra os cyborgs corriam soltas pela galáxia.
Manchetes falsas como:

“Droide Psicopata destrói uma colônia inteira,” ou, “Cyborgs,


Máquinas de destruição de mundos.”

Os militares usavam os cyborgs para encobrir crimes


militares. Verdade ou não, estas histórias falsas se espalharam
como fogo. Os seres humanos tinham pavor deles, mesmo aqueles
que viviam a beira da ilegalidade.

Com os piratas nada dispostos a negociar, eles tinham que


recorrer a outros métodos para obter o que precisavam. O problema
era que nem sempre os ataques a naves militares forneciam
ferramentas ou matérias-primas. Sem mencionar, dinheiro – ouro -,
a única moeda que o mercado negro aceitava, não foi fácil de obter.
Caindo nos velhos costumes da Terra, o comércio, neste caso, a
troca de seu serviço especializado, Einstein se prontificara a reparar
o sistema de energia robótico, serviria de moeda para esta
transação.

Deixando seu posto no centro de comando, mas mantendo


uma ligação com o computador de bordo no caso de surgir algum
problema, Einstein entrou no palácio do prazer flutuante.
Conhecido como o espaço Pussi Emporium, a estação espacial era
luxuosa e percorria a galáxia suavemente, enquanto seus
administradores se vangloriavam de possuir os robôs sexuais mais
avançados da atualidade. Ele não se impressionou.

Após ter tentado esvaziar seus testículos com uma droide


apenas uma vez, Einstein poderia pensar em uma dúzia de
maneiras de afirmar que poderia ser melhorado, se ele se

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importasse. Ele não o fez. Seu cérebro evoluído tinha coisas mais
importantes a fazer, como criar um dispositivo mais eficiente para
camuflar as naves cyborgs. Ou melhorar a nanotecnologia correndo
em suas veias não tão humanas. Quem se importava se o
movimento muscular de um robô sexual faria exatamente como a
sucção oral de uma fêmea, ou se as cordas vocais de um droide
proviam de um alto-falante em sua orelha, em vez da boca? Diabos,
ele não se importava.

Ficando atrás de seus companheiros ansiosos, sua visão


aprimorada deu apenas uma breve atenção à decoração
exuberante, tapetes espessos, cadeiras acolchoadas na cor bordo,
música e iluminação suave. Todos os elementos destinados a
acalmar e transmitir uma aura de grandeza e suntuosidade. Um
desperdício, pensou.

Enquanto seus irmãos, de forma ordenada, entravam na área


de entretenimento, Einstein, aproximou-se da mesa de recepção
ocupada por uma pequena droide fêmea que o lembrou das
imagens de uma boneca da Terra, conhecida como Barbie.
Supostamente, ela representava o ápice da feminilidade com suas
curvas, cabelos loiros, e lábios rosados. Pessoalmente, ele pensou
que a proporção dos seios para os quadris, com a cintura muito
fina a fazia parecer uma ampulheta com cabelo sintético,
novamente seu lado crítico aflorou, ele preferia objetos com uma
simetria mais equilibrada.

— Estou procurando o macho responsável pela manutenção


de robôs. Ele me disse para encontrá-lo aqui.

— Senhor, um momento, por favor — Piscando, a

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recepcionista droide enviou uma mensagem não criptografada, sem
fio que ele facilmente captou. Não demorou muito para que um
humano corpulento surgisse.

— Perdão por deixá-lo esperando. Tivemos um problema com


o encanamento em um dos quartos. Maldita fraternidade de garotos
ricos, sempre pregando peças. Meu nome é Bob. Se precisar de
alguma coisa enquanto estiver aqui, converse comigo e verei o que
posso fazer.

— Meu nome é Einstein.

— Porque é inteligente?

Adotando o comportamento de Seth, Einstein colocou no


rosto um sorriso que esperava parecer simpático.

— Não, foi por causa do cabelo mesmo — Sempre que se


envolvia em um projeto ficava tão absorto na coisa que coçava a
cabeça até os fios se tornarem uma juba selvagem, e estranhamente
isso o ajudava a resolver as coisas.

Bob riu.

— Rapaz, acho muito difícil acreditar nisso. Você parece o


tipo todo arrumadinho e tenso. Uma vez mais ofereço nossos
serviços. Alguns minutos com uma das garotas, aposto...

— Agradeço, mas dispenso esse tipo de entretenimento.

— Bem, se acaso mudar de ideia, fale comigo. Eu tenho uma


droide nerd, com óculos e tudo, você pode gostar.

Muito duvidoso. Einstein arqueou uma sobrancelha.

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— Não é melhor atendermos às unidades que necessitam de
reparos?

— Ansioso para começar, hein? Eu gosto disso em um


homem, é... Cyborg. Siga-me, os droides que estão mostrando
problemas estão no nível mais baixo da estação.

Einstein não respondeu, apenas acenou com a cabeça, antes


de seguir o humano até o elevador de serviço e entraram. Desceram
vários níveis, antes que a porta novamente se abrisse e entraram no
corredor cinzento, sem qualquer luxo ou opulência dos níveis
superiores. Seus passos ecoavam alto no espaço estéril, quase
abafando a respiração ofegante do humano tentando acompanhar
seus passos. Chegaram a uma sala grande, obviamente, nunca
vista pelos clientes. Einstein balançou a cabeça ao ver o caos. Ele
se perguntou quantos machos estariam dispostos a voltar a esse
estabelecimento, se pudessem ver as suas (beldades) em vários
estágios de deterioração.

Enquanto avançava pela sala, mal podia acreditar na


situação, Einstein não pode evitar o olhar de desgosto quando viu a
confusão em que alguns robôs do sexo feminino estavam.

— Mas o que fizeram a elas? — Ele murmurou.

— Entenda, aqui não há regras, só quebrou, pagou —


Respondeu Bob, correndo as mãos quase amorosamente sobre um
braço intacto de uma droide cuja cabeça pendia torta. — É por isso
que não temos humanas aqui. É mais fácil recolocar um braço robô
do que um de carne e osso, e menos confuso e barulhento também.

Einstein não perguntou por que alguém haveria de querer

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arrancar um membro durante o sexo. Bem, algumas coisas, um
cyborg realmente não precisava saber.

Retomou a contagem dos corpos, e franziu a testa.

— Há mais droides do que eu esperava — Ele baixou os olhos


sobre o humano.

Bob se remexeu meio desconfortável.

— Como eu disse antes, não esperávamos os malditos garotos


da fraternidade. Vou pagar em ouro a diferença com os gastos de
sua tripulação.

Aramus gostaria disso.

— Ok. Vou começar.

Einstein não perdeu tempo. Descarregou seu equipamento, e


passou os dias seguintes, ocupado em consertar os sistemas
operacionais danificados, recolocar membros soltos, reparando a
programação e corrigindo os alto-falantes para permitir aos droides
de sexo simular pequenas conversas. Ele não percebeu a nudez das
máquinas. Ou os seios que precisou manipular, ou os órgãos
sexuais que precisavam ser inspecionados e testados para exercer
sua função, nem os lábios que testou para a sucção, nada daquilo o
interessou. Eram apenas objetos para ele. Ele achava as droides tão
atraentes quanto um aspirador doméstico. Apenas mais um item
mecânico que necessitava reparos.

No final de alguns dias, já com o trabalho quase terminado,


ele deu uma boa olhada na sala quase vazia. Todos os droides
femininos foram colocados em circulação e desempenhavam suas

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funções perfeitamente. Além de alguns modelos que não tinham
mais utilidade, a sala estava praticamente vazia, só restara um
grande engradado. Einstein se aproximou, perguntando-se o que
conteria. Talvez peças que ele poderia usar em alguns dos modelos
que ele deixara de lado?

— O que há nesta caixa? — Perguntou a Bob quando o


humano chegou para um relatório final.

Bob resmungou.

— Ahh!... Há um droide feminino sem utilidade. Eu a


consegui com um pirata, em troca de um brinde. Achei que ela só
precisasse de uma nova bateria ou algo assim. Mas não consegui
ativar essa coisa, nem encontrei sua unidade de energia, é uma
merda. Eu tentei de tudo, de eletrochoque a tentar abrir sua placa
de circuito, e nada. Um lixo. Vou despachá-la na próxima vez que
passarmos ao lado de uma nova, não vai sobrar nada.

— Se importa que eu de uma olhada?

— Esteja à vontade.

Einstein arrancou a tampa e deu um passo atrás para ver o


conteúdo. O humano estava chamando isso de lixo? Olhando as
características perfeitas do pequeno droide feminino largado dentro
da caixa, Einstein não podia acreditar, franziu a testa. Quem
poderia pensar em jogar um modelo tão perfeito, quase real? Claro,
sua pele não tinha os tons vibrantes das outras droides sexuais, a
palidez cinzenta provavelmente era resultado do pó e de muito
tempo em desuso, mas Einstein achou a unidade interessante,
afinal os cabelos escuros caindo sobre os ombros nus dava uma

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aparência tão realista ao corpo repleto de folículos pilosos nas
pernas.

— Eu nunca vi um modelo como este — Einstein meditou em


voz alta.

— Você e eu. Ela deve ter sido uma espécie de protótipo,


provavelmente por isso não consegui fazê-la funcionar.

— Você não tem um nome de fabricante?

— Nada. Confie em mim, eu verifiquei. É uma pena, imagine


os clientes enlouquecendo e fazendo fila para pegar essa coisinha.
Hein? Tal como está, ela é apenas um peso de papel de um metro e
sessenta.

— Se está pensando em jogá-la no espaço como refugo, se


importa se der uma olhada?

— Olhada? Por mim você pode levá-la. Considere isso como


um bônus pelo trabalho que você fez. Você me poupou e me fará
ganhar muitos créditos em ter colocado as garotas de volta ao
trabalho. Odeio esses caras de empresas que fazem a manutenção.
Ladrões malditos. Isso sem mencionar que os cyborgs tratam
minhas meninas melhor que a maioria dos homens que vemos por
aqui.

— Posso levá-la? — Por alguma razão, a ideia animou


Einstein, no plano científico, é claro.

— Pode. Leve, golpeie, coloque na frente de tua nave como


enfeite. Transe com ela. Faça como quiser. Eu não me importo. Mas
se algum dia conseguir fazê-la funcionar, me avise, para o caso de

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encontrar um pitelzinho como esse novamente.

— Negócio fechado.

Levando-a para cima, Einstein mandou um funcionário


droide que carregasse seu equipamento de volta à nave enquanto
limpava suas ferramentas e se preparava para sua própria partida.
Ao sair pela primeira vez em vários dias e chegando a baía de
serviço, ele encontrou Seth com um grande sorriso estampado no
rosto.

— Finalmente saiu da toca, hein? Será que ao menos você


encontrou algum tempo para se aliviar entre suas
responsabilidades?

— Se você se refere a copular, então não, mas eu suponho


que conseguiu baixar seus níveis de testosterona, certo?

— Gozei como nunca. Eu poderia facilmente bater o recorde


de orgasmos consecutivos — Seth balançou os quadris para frente e
para trás e Einstein balançou a cabeça.

— Você e sua necessidade de sexo. Eu acho que jamais o


entenderei.

— Sinto pena de você, amigo — Seth o bateu nas costas. —


Mas, sinto uma pena danada da androide com a qual você um dia
vai transar, porque quando você finalmente descobrir seu pênis, vai
abrir um tremendo buraco nela com o seu primeiro jato.

Einstein não entendeu a piada, mas Seth achou divertido o


suficiente para rir todo o caminho de volta a nave. Einstein enviou
uma única mensagem chamando os outros cyborgs na estação, que

28
vieram de várias áreas do bordel. Mais relaxados do que quando
chegaram, exceto Astro, que tinha uma expressão pensativa, O
cyborg não explicou o motivo, embarcaram e Einstein se dirigiu a
ponte de comando para traçar um curso errático para casa e partir.

Os cyborgs sabiam que não podiam sair em uma linha direta


para o seu mundo. Por um lado, Talvez estivessem sendo
espionados pelos humanos que havia ali, e outro, precisavam fazer
varreduras na tripulação e na nave para garantir que nada nem
ninguém tivesse sido inadvertidamente contaminado com algum
vírus eletrônico ou algum chip de rastreamento.

Os militares humanos estavam ficando mais espertos em


suas tentativas de recapturar seu projeto de bilhões de dólares. Sua
tecnologia ficava mais sofisticada e chegava a passar sem ser
detectada pelos sensores mais evoluídos desenvolvidos pelos
cyborgs. Se Einstein tivesse dúvidas sobre o potencial humano,
diria que alguns dos mais novos hardwares tinham origem
alienígena. Ilógico, é claro. Se existisse vida inteligente no universo,
já teria sido descoberta pelas missões de exploração avançadas de
seu povo que procurava, outros meios de suprir sua população
estabelecendo um possível comércio, bem longe dos humanos.

Executando diagnósticos a partir do centro de controle


principal da nave, Einstein leu os relatórios do computador
principal, cuidadosamente procurando qualquer sinal de baixa
frequência ou anomalias. Nada, mas Einstein sabia melhor que
ninguém que não se podia confiar nas primeiras análises. Então
repetiu os testes várias vezes antes de declarar que estavam limpos
para voltar ao seu mundo.

29
Aramus, o líder desta missão e comandante da nave,
caminhou pela área de comando e se esparramou na cadeira,
tamborilando os dedos.

— Então encontrou alguma coisa?

— Nada até agora.

— Esplendido! E você se divertiu um pouco com os droides


sexuais enquanto estávamos na estação, ou apenas se escondeu no
setor de manutenção?

— Eu não estava me escondendo, estava trabalhando.

— Claro — Aramus pareceu pensar na resposta —, e eu de


repente entendi que nem todos os humanos são ruins.

— Realmente, e quando você chegou a essa conclusão? —


Einstein brincou, sabendo muito bem Aramus estava sendo
sarcástico.

— Oh. Não acredito. Meu amigo nerd mostrando senso de


humor? Por favor, não. Isso o faz parecer muito humano e você
sabe como eu os abomino. Já é ruim ter de suportar Seth a bordo.
Quanto mais ter de aguentar mais um cyborg desmiolado e cheio de
maneirismos humanos.

— Eu ouvi o meu nome? — Seth entrou, camisa para fora da


calça, cabelo despenteado e ostentando um largo sorriso. — Bom
dia, senhores. Que dia excelente para explorarmos esse universo
maravilhoso.

— A única coisa a ser explorada aqui será o casco exterior da


nave a procura de algum chip de localização assim que chegarmos

30
a Via Láctea.

— Aramus, vejo que a enorme quantidade de vezes em que


você ejaculou não fez nada para melhorar o seu humor. Uma pena
— Seth escarneceu.

— Eu devia ter ejaculado no seu...

— Seth! Aramus! — Einstein girou em seu assento e os fitou


com seriedade na voz. — Controlem seus ânimos. Ou já esqueceram
o que aconteceu da última vez?

Na última vez em que Seth e Aramus começaram a discutir,


acabaram se engalfinhando na sala de máquinas, a luta foi tão
feroz que causaram sérios danos às máquinas, os reparos duraram
semanas que os deixou quase sem suprimentos, não que cyborgs
precisassem se alimentar e tomar água frequentemente, mas a água
quente, um luxo, embora fosse desnecessário, Einstein adorava.

— Sim, papai sabe tudo — Seth murmurou girando os olhos.


— E eu pensando que Solus fosse mandão.

— Não desde que ele se uniu a uma fêmea cyborg — Aramus


resmungou. — Agora ele é tão manso quanto um carneirinho.

— Solus, manso? Ah!... Eu o desafio a dizer isso na cara dele


— Seth provocou.

Aramus o fulminou com o olhar.

— Não, obrigado.

Unido a uma fêmea ou não, Solus ainda possuía uma atitude


enérgica e um gancho de direita ainda mais poderoso. Solus, que

31
sempre fora o mais controlado e enérgico entre os cyborgs sobre a
posição das fêmeas em sua sociedade, na verdade, considerando-as
um flagelo à sua espécie. Assim que conheceu Fiona; uma fêmea
cyborg de temperamento difícil, confinada em um asteroide de
mineração abandonado. Transformara o cyborg sisudo e controlado
em alguém quase simpático, não que alguém ousasse dizer isso a
ele pessoalmente. Às vezes, Einstein se perguntava se não
aconteceria o mesmo a Aramus, se acaso ele conhecesse uma
fêmea. Não que estivesse propenso a presenciar tal situação. Por
um lado, Aramus odiava as fêmeas humanas, de modo que ele só
seria suscetível se encontrasse uma fêmea cyborg, e as chances de
ele cair por uma cyborg seriam astronômicas já que não tinham
encontrado nenhuma pista que levasse a localização de qualquer
outra fêmea de sua espécie, pelo menos desde que encontraram F-
814, Fiona, por mero acaso. Se não caísse uma fêmea cyborg no
colo de Aramus ou eles viessem a tropeçar em alguma informação
secreta sobre a localização de outras fêmeas cyborg, ele estaria
condenado à solidão.

Mas cyborgs não desistiam facilmente. Só de saber que havia


mais de sua espécie na escravidão, sendo abusadas, sem saber
quem e o que eram, foi o suficiente para acirrar os ânimos, sem
mencionar a necessidade de vingança. Com ou sem pistas, pelo
menos 10 fêmeas cyborg precisavam ser resgatadas. Um grande
desafio, e Einstein gostava de desafios. Falando nisso...

— O computador central continuará a executar as análises de


busca e como não veremos a Via Láctea tão cedo, você se importaria
que eu fosse ao meu laboratório?

— Seu interesse está no laboratório ou na caixa

32
contrabandeada que trouxeram a bordo?

— Não é contrabando — Einstein respondeu indignado. — Me


foi dada pelo proprietário da estação.

— Quer dizer que trouxe um droide sexual a bordo? — As


sobrancelhas de Seth se arquearam. — Einstein, seu cachorro.

— Eu não possuo DNA canino.

— Diabos, você entende tudo ao pé da letra. Eu quis dizer


que é um cão, horas, você sabe, esqueça. Eu não posso acreditar
que você conseguiu negociar um droide sexual. Quanto custou? E o
mais importante, você vai compartilhar?

— Em primeiro lugar, eu não negociei ou paguei nada. A


unidade está desativada, não responde a comandos. O proprietário
a jogaria no espaço como refugo, então me ofereceu como um
presente. Vou ver se consigo retirar algumas peças que possamos
usar.

Porque apesar da nanotecnologia correndo pelos seus


sistemas, os cyborgs não eram imunes a danos permanentes. Sem
mencionar as visitas violentas feitas a algumas colônias de seres
humanos, a escória da sociedade, os rejeitados pelo sistema judicial
da Terra, condenados a trabalhar nos postos avançados, destinados
a serem úteis de uma forma ou outra. Era uma maneira humana de
obter mais mão de obra escrava e ainda mantê-los longe dos olhos
do público e fora da folha de pagamento. Na verdade, banidos.
Longe da vista, longe do coração.

Quando os cyborgs atacavam em busca de recursos, muitos


humanos pediam para acompanhá-los, qualquer coisa serviria para

33
tirá-los da existência árida e cruel na colônia.

Os pseudos cyborgs sem coração, achavam difícil deixá-los


vivendo daquela maneira. Cyborgs sabiam muito bem o que era ser
tratado como pária, mas, ao mesmo tempo, as unidades
cibernéticas precisavam ser práticas. Alguns humanos passaram a
fazer parte e contribuir a florescente sociedade cyborg, enquanto a
injeção de nanobots ajudou a melhorar a saúde de alguns, muitos
outros componentes, como pulmões, coração, rins e muitas outras
peças eram ainda necessárias para tornar os humanos um
instrumento útil a sua sociedade. No entanto, estavam arcando com
mais e mais humanos, e as peças de reposição já estavam em falta.

Mas foi Seth, que apontou a falha em sua lógica quanto ao


droide fêmea adquirido.

— Vai usar as partes dela? Hum, longe de mim criticar um


cara tão altruísta quanto você, mas não acha que os caras podem
ter algum problema? Quer dizer, sou totalmente a favor de direitos
iguais, mas eu posso afirmar que não gostaria de acabar usando
uma mão feminina. Embora, eu não me importaria de ver como
Aramus ficaria com tetas. Quem sabe, ele poderia entrar em contato
com seu lado feminino e ser mais agradável com os outros.

— Vou mostrar a você o meu lado feminino com os punhos,


volte aqui seu...

Einstein ignorou a ameaça.

Rindo alto, Seth saiu correndo, Aramus em seus calcanhares.


Einstein escondeu um sorriso. Algumas coisas nunca mudam.

Depois de designar dois irmãos para o centro de comando,

34
apesar de seu BCI manter uma conexão com o computador central,
ele se dirigiu ao seu laboratório, que era um anexo de seus
aposentos particulares. Entrando, ele mal olhou seus aposentos.
Por que se preocupar quando já sabia onde estava até o último
parafuso armazenado e rotulado em sua bancada limpa?

A grande caixa ocupava o meio do quarto apertado e tentou


manter seus olhos longe de seu conteúdo. Ainda tentava ignorar
enquanto arrumava suas ferramentas, ansioso, contornou a caixa e
se dirigiu ao lugar em que guardava seus pertences e tomou um
banho bem merecido. Mas, como se magnetizado, a caixa misteriosa
atraiu novamente seu olhar, então cedeu à tentação, e, finalmente,
agarrou uma barra de ferro e arrancou a tampa da caixa.

E lá estava ela. Ainda inerte, de olhos fechados, na mesma


posição que a tinha visto pela última vez, como se estivesse em
sono profundo. No entanto, a sós com ela seu espaço particular,
Einstein começou a notar detalhes no droide sexual que antes
passaram despercebidas, por exemplo:

Era pequena, provavelmente mal lhe chegaria ao queixo.


Delgada e com o ventre plano, analisando em todos os sentidos,
então ele dirigiu seu olhar à protuberância dos seios, maiores do
que um tronco tão frágil quanto o dela conseguiria suportar, no
entanto menores do que ele observara na maioria dos droides
sexuais. Os mamilos eram escuros, um deles um pouco maior, tal
imperfeição o fascinou. Pegou-se imaginando o quanto aqueles
seios pesariam envolvidos em suas mãos. Também ficou intrigado
com o fato de que ela realmente possuía pelos entre as pernas. A
maioria dos droides sexuais não tinha pelo algum no corpo. Pernas,
braços, virilha, não costumavam ter pelos, porque a maioria dos

35
clientes preferia assim e era mais fácil manter limpo. Mas esta
droide não. Uma faixa espessa cobriu área ao redor da fissura e
quando ele se agachou para examinar melhor, ele observou os
folículos pilosos nas panturrilhas e as unhas sem pintura. Muito
realista e inesperado.

É quase como se ela fosse humana, mas ficou congelada


no tempo.

O pensamento o surpreendeu. Não era possível, ou seria? Não


Certamente que não. No entanto, aquele modelo de droide era uma
raridade que o fez pensar da navalha de Occam 3, afirmando, que às
vezes, a hipótese mais simples era o mais provável. Neste caso,
dadas todas as características humanas, ele poderia ter tropeçado,
sem saber, em uma fêmea cyborg? Parecia impossível. Como um
bordel conseguira colocar as mãos em uma? Então se lembrou do
proprietário admitindo que a comprara de um pirata. Mas como um
pirata conseguira uma delas? Ele roubou, é claro. Não importava de
onde.

Empolgado com a possibilidade, Einstein esfregou o queixo


pensativo. Tudo era só uma teoria no momento, mas como
comprová-la? Não que pudesse perguntar a ela.

Bem, posso pegar algumas amostras?

Ele rejeitou a ideia de imediato. Tocar em seu interior poderia


danificá-la irrevogavelmente. Se fosse uma fêmea cyborg isto estaria
fora de questão. Por outro lado, dada a sua palidez, fragilidade e o
relato do antigo proprietário de como tentara reanimá-la sem obter
3
Navalha de Occam. Metodológica e filosófica atribuída a William de Ockham (1280-1349) princípio, de acordo com que «na
igualdade de condições, a explicação mais simples geralmente é a certa."

36
êxito, era mais que provável que estivesse com seu cérebro humano
morto.

Por alguma razão, o pensamento o entristeceu.

— Você já foi um humano como eu? — Ele perguntou em voz


alta. — Ou é apenas uma ilusão?

Ele teria de descobrir mais tarde. O computador central


emitiu um alarme silencioso quando pegou um sinal de baixa
frequência, e Einstein teria que se ocupar deste assunto e deixou a
anomalia fêmea para trás.

E dentro do robô, no lugar mais profundo e oculto de uma


mente, envolvido em um escudo impenetrável de titânio, as
sinapses criaram vida e o cérebro despertou, como se em resposta.

37
Capítulo Dois

A primeira coisa que Einstein fez ao cogitar na possibilidade


de ter encontrado uma fêmea cyborg, foi vesti-la. Após começar a
pensar nela como pessoa, mesmo estando com a mente inerte, sua
nudez o incomodava e distraia por razões que ele não conseguia
entender. Pegou uma de suas camisas e a cobriu, para não distraí-
lo de seus testes.

A camisa ficara grande no corpo pequeno, chegava até o meio


das coxas, ajeitou-a em uma cadeira e voltou a seu laboratório,
então passou a falar com ela.

— Não é um vestido ou algo assim, mas pelo menos suas


partes íntimas estão apropriadamente cobertas. Agora, se você não
se importa, farei alguns testes.

Por que dizer a ela o que faria soou como uma desculpa,
totalmente inexplicável, mas se sentiu melhor ao fazê-lo. Na
verdade, ele simplesmente se habituou a conversar com sua nova
companheira de quarto, sem vida, ao que ela nada respondeu. A
única vez em que foi procurado, Aramus os encontrou, e declarou
que ela era a mulher perfeita, porque permanecia calada.
Curiosamente, Einstein não concordou. Ele queria saber o que ela
pensava. Será que a voz dela era suave ou alta? Grave ou
estridente? Sua fascinação quase fanática deveria ter tocado os
alarmes de alerta em seu BCI, mas não aconteceu.

Entre suas tarefas habituais, estava vistoriar os sistemas de

38
segurança e navegação, e remendar seus irmãos ocasionalmente,
ele observava o droide a distância, mantendo contato visual e físico
ao mínimo.

Quanto mais ele analisava os sensores que a escaneavam,


mais acreditava que encontrara uma fêmea cyborg. Mas quem
seria? Estando morta a todos os estímulos, ela não poderia
responder e Einstein se via cada vez mais fascinado. Ele odiava
quebra-cabeças e ali estava o maior de todos.

Sua obsessão não passou despercebida. Seth vagava ao redor


deles enquanto Einstein sentado no chão observava a pele das
pernas e pés com sua visão apurada, ampliando cada milímetro, à
procura de um número de série, uma cicatriz, qualquer coisa que
poderia elucidar o mistério de sua identidade e origem.

— Einstein, eu sei que você é inocente quando se trata de


assuntos do coração, mas ninguém te disse que deveria começar
com a boca e não com os dedos dos pés?

Einstein se levantou perguntando-se por que seu sangue


sintético congestionou sua face, aquecendo-a estranhamente.

— Eu só estava observando.

— Por quê? Ela não é uma arma e nem algum aparelho


doméstico. Ela é só um droide sexual. Quebrada é verdade, mas
ainda um droide. Se você precisa de instruções de como usá-la,
diga-me. Ou melhor, deixe-me mostrar a você como funciona.

Seth estendeu a mão para tocá-la e Einstein bateu nela. O


silêncio pairou tenso, o choque quase palpável no ar.

39
— Desculpe — Einstein resmungou.

— Cara, o que está acontecendo com você? Não me diga que


está com ciúmes? Entendo que você nunca tenha tido uma
namorada, mas você sabe que ela é somente um robô?

Einstein se virou e caminhou até sua bancada, onde pousou


as duas mãos cabisbaixo.

— Talvez sim. Talvez não.

— Qual o problema?

— Eu não tenho cem por cento de certeza de que ela seja um


robô.

— Hei, eu ouvi mesmo você dizendo que não tem certeza


sobre alguma coisa? Você, o cara que sabe tudo.

— Sim.

— Você se reiniciou recentemente?

— Sim. Por quê?

— Porque eu nunca ouvi você admitir isso antes. Desde


quando deixou de lidar com resultados absolutos?

Einstein encolheu os ombros.

— Não posso admitir ter a certeza absoluta de que ela é um


droide sexual.

— Cara, você sabe que eu te amo como um irmão, mas acho


que está no espaço tempo demais. Quero dizer, o que mais ela
poderá ser?

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Com as mãos remexendo em um comportamento inquieto tão
diferente dele, Einstein hesitou em responder.

Seth o incentivou.

— Vamos lá. Diga-me.

Era tempo de revelar sua teoria em voz alta, e ouvir o quanto


estava sendo ridículo.

— Eu acho que ela pode ter sido um cyborg.

Para sua surpresa, Seth não rejeitou imediatamente sua


teoria.

— De jeito nenhum, porra. Por quê?

— Por quê?

— É cara, por que você acha que ela é ou foi um cyborg?

Virando-se para suas anotações, Einstein revelou algumas de


suas descobertas.

— A começar por ela, já que não tem um painel de acesso em


qualquer parte do corpo.

— Aposto que você procurou muito bem, hein? — Seth


arqueou as sobrancelhas.

Mais uma vez, Einstein sentiu aquele calor estranho subindo


pelo pescoço.

— Sim. Ela não contém nenhum ponto de acesso exterior. As


amostras de tecido não detectaram compostos de látex ou outro
produto sintético nas camadas exteriores. Toda pele parece ser de

41
natureza orgânica.

— Você verificou seus órgãos internos?

— Eu tentei, mas... — Einstein deu de ombros. — Esta nave


não está devidamente equipada para esse tipo de análise médica.
Eu não tenho quaisquer aparelhos de ressonância magnética ou
ultrassonografia que possa usar, não vou abri-la e correr o risco de
causar um dano fatal a ela, não até que eu tenha certeza.

— Mas ela está morta, cara. Quem se importaria?

Por um momento, sua raiva veio à tona.

— Eu, eu me importo.

— Nossa, cara, se não o conhecesse bem, diria que tem uma


queda pela menina morta aqui. Isso é loucura. Pelo menos é o que
acho. Por favor, não me diga que está gostando dessa garota. Você
sabe que isso é impossível?

— Claro que sei. Mas o caso é fascinante.

— Claro que sabe e o fato de que seja linda não tem nada a
ver com isso.

— Ela é um mistério. Nada mais.

— Se você diz isso — Seth andava ao redor da fêmea,


pensativo. — Vamos apenas supor por um momento que esteja
certo, que ela seja um cyborg. Este é um assunto sério. Temos que
informar Aramus.

— Temos? — Por alguma razão, Einstein preferia manter este


segredo para si mesmo.

42
— Por que não? Aramus não fará mal a ela. Só estará a par
de suas descobertas.

— Minha hipótese, você quer dizer.

— Que seja. Olhando para ela, eu preciso concordar, ela é


real demais para ser um droide — Seth estalou os dedos. — Você
sabe que há uma solução rápida que podemos tentar. Por que não
tirar uma foto e enviar a imagem criptografada a nosso planeta?
Talvez Chloe ou Fiona saiba que é ou foi.

Einstein fez uma careta.

— Eu não tinha pensado nisso — Outra deficiência racional


que o assola desde que se deparara com a fêmea. Ele fez uma nota
mental para executar um diagnóstico mais completo em si mesmo,
quando chegasse ao seu laboratório principal. — Tenho uma
câmera em algum lugar por aqui — Einstein poderia fotografá-la
com seus orbes biônicos, mas a qualidade da imagem ficaria melhor
com uma câmera, encontrou a máquina, e tirou várias fotos
enquanto conversava com Seth. Logo após criptografou as imagens
e um breve relato de suas suspeitas e encaminhou tudo a Aramus.

Seth saiu logo a seguir e Einstein passeava inquieto à frente


do corpo inerte.

— Acho que descobriremos alguma coisa em breve,


saberemos então se de fato você é uma das fêmeas cyborgs.

Quem ela seria? Einstein esperava sinceramente que não


fosse à irmã biológica de Chloe, sua mente clínica sabia que poderia
causar um desequilíbrio emocional sobre a delicada e bem
humorada Chloe. Mas ao observar mais atentamente sua

43
companheira de quarto rígida, mais encontrava semelhanças entre
as duas. Mesmo tom de cabelo escuro, construção facial
semelhante.

A confirmação demorou horas a chegar, afinal o sinal, para


não ser detectado pelos militares humanos, deveria correr em um
padrão aparentemente errático antes de chegar a sua terra natal e
depois voltar.

Einstein recebeu a mensagem criptografada direto em seu


BCI. Tristemente e com os ombros caídos. Viu suas suspeitas serem
confirmadas. Ele encontrara uma fêmea cyborg. Com os pés se
arrastando, se dirigiu e ficou em frente à beleza inerte até então
desconhecida. Com os dedos tremendo um pouco com as emoções
que não poderia nomear, dominando-o, ele roçou seu rosto frio.

— Olá, B-785, ou devo chamá-la de Bonnie? — Ele disse


suavemente. — Eu sinto tanto não termos a encontrado antes. Eu
gostaria de poder ter te ajudado — Então, em um impulso, que não
entendeu, ele se inclinou para frente e pressionou seus lábios nos
dela em um beijo suave.

Uma leve descarga passou entre eles, quase uma centelha.


No entanto, esse choque não foi nada comparado ao que ele sentiu
quando viu seus olhos se abrirem.

44
Capítulo Três

Trevas. Ela flutuava em meio à escuridão, um oceano de


tranquilidade. Em meio às ondas suaves, ela descansava relaxada
no abraço confortador. Protegida. Esquecida da dor e injustiça. Ela
gostava da sensação de tranquilidade. Nunca quis deixar sua
segurança reconfortante. Mas algo incomodava seu descanso
eterno. Uma voz, sussurros suaves, murmúrios insistentes
penetravam nas profundezas onde tinha se escondido, algo que
despertou sua consciência... E acordou sua curiosidade.

Ela lutou por continuar no oceano escuro, trancada no transe


mortal, em busca de seu descanso final. No entanto, os sussurros
voltavam. Borboletas a tocavam e provocavam cócegas.

Como uma flor desabrochando a luz do sol, ou, mais


apropriadamente, como uma princesa despertada pelo beijo de seu
príncipe, seus olhos se abriram e ela acordou.

A consternação no rosto que observava era quase cômica,


mas não tão hilariante quanto o constrangimento do macho, que
rapidamente se levantou e cambaleou para trás. Ela inclinou a
cabeça, e viu com curiosidade quando seu Príncipe Misterioso, ao
recuar, bateu a parte posterior das pernas na beirada da cama e
desabou sobre esta. Rapidamente se sentou, abrindo e fechando a
boca sem emitir nenhum som, e ainda assim, ela podia ouvir o som
de aparelhos eletrônicos e outros ruídos perfeitamente bem. Então
a culpa não estava em seus sentidos auditivos. O macho parecia

45
estar em choque, perdendo sua capacidade de falar. Talvez se ela o
colocasse à vontade, ele diria algo mais significativo.

— Olá, bonito. Em resposta a sua pergunta, B-785 é o nome


que me deram. Mas prefiro ser chamada de Bonnie — Respondeu
com uma voz suave que saiu um pouco mais grave do que o
habitual para ela, provavelmente pela falta de uso e de umidade.
Sentia um pouco de secura na boca.

— Você... Mas, como...

Seu salvador parecia incapaz de formar uma frase coerente,


sentado desajeitadamente na cama a olhava com a surpresa
estampada em seus brilhantes olhos azuis, robóticos. Belos olhos
delineados por cílios longos e espessos. Então observou
atentamente o resto de suas características faciais, nariz reto, rosto
angular e lábios sensuais, lábios que se moviam com estranhas
sílabas indecifráveis.

Curiosa ou não, ela decidiu não esperar para ver se ele


conseguiria encontrar sua capacidade de se expressar. Executando
uma analise interna de seu estado geral, ela detectou sua
necessidade mais urgente.

— Posso beber água? — Perguntou, seus sistemas internos,


detectando sua necessidade mais imediata.

— Água! — Ele chiou. — É claro. Sinto muito...


Imediatamente... Só um segundo — Correu para uma pequena pia
no canto e voltou rapidamente com um copo, derramando a metade
do conteúdo em sua ansiedade de chegar a ela e a oferecer. Sua
primeira tentativa de pegar a bebida não funcionou, seus membros

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rígidos não se dispuseram a cooperar. O recipiente caiu no chão,
molhando seus pés nus. Sua pele absorveu o líquido precioso como
uma esponja.

— Posso beber um pouco mais?

Ele correu de novo, novamente enchendo o copo, mas desta


vez, quando o trouxe, ele o levou a seus lábios e ela os separou, ele
derramou aos poucos o conteúdo em sua boca. Ela engoliu o líquido
rapidamente processando o líquido, ele trouxe mais copos cheios de
água até que ela disse: — Basta, foi o suficiente.

— Você precisa de mais alguma coisa? Não temos muito


alimentos a bordo, mas temos alguns minerais e outras matérias-
primas para você digerir.

Aquilo não soou muito apetitoso, mas como era necessário.


Ela torceu o nariz e assentiu.

— Se você pudesse fazer essa gentileza. Meus recursos estão


em baixa.

O ato de sair para buscar alguns alimentos para que ela


ingerisse o ajudou a recuperar a compostura... Einstein, sim, esse é
seu nome, seu BCI forneceu vagas lembranças em que ele
conversava com ela, era mais como um sonho. Ou quase isso. Ele
ainda parecia bastante agitado e corria os dedos pelos cabelos
claros, despenteando-os. Ela achou seu nervosismo estranhamente
singular e adorável, obscurecendo suas memórias finais onde os
soldados não encontrando nada melhor do que um objeto para seu
uso.

Ugh. Agora vinham a ela memórias que preferia esquecer.

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Não podia voltar a pensar nas coisas que queria esquecer,
principalmente na tristeza que sentia pela morte de Chloe. Ela
precisava se concentrar no presente.

Sob seus pés um leve tremor, ao que parecia ela estava em


algum tipo de nave. E definitivamente em algum laboratório, os
computadores e aparelhos à sua volta eram uma visão familiar a
alguém acostumada a testes quase que diariamente. Enquanto ela
observava o ambiente, ele reuniu os itens e os trouxe para ela,
procurando por seu olhar e não o encontrando, passou a observá-lo
quando ele a ofereceu o alimento em suas mãos mais estáveis.

Ela se alimentou com as substâncias de sabor nada


agradável, mas seu corpo as absorvia avidamente, seus sistemas
internos querendo restabelecer todas as funções e trazendo-a de
volta à vida, literalmente.

— Humm!... Agora me sinto melhor — Ela finalmente


ronronou quando seus sistemas voltaram à normalidade. —
Obrigado.

— Você é bem-vinda. Se eu soubesse que você estava


morrendo de fome. Eu teria te alimentado. Mas preciso perguntar,
como isso é possível? Eu pensei que você estivesse morta. Todos os
testes e observações confirmavam essa conclusão.

Mas estava morta. Eu acho.

Bonnie não compreendia o que acontecera a si mesma. Um


momento ela vivia em um limbo escuro, em meio a uma existência
pacífica sem estresse, dor ou drama, depois... Uma voz a tirou da
escuridão. Formulando perguntas que não teriam respostas. Um

48
toque suave. Lábios que pressionaram os dela, lábios que
produziam uma espécie de energia faiscante, lábios com algo que
ela não sentia há anos. Algo que a acordou de seu sono, apesar de
sua decisão de acabar com a própria existência.

— O que fez para me acordar?

Inquieto, Einstein não conseguia fitá-la nos olhos.

— Sobre isso... Eu, hum!... Acho que eu deveria pedir


desculpas por ter tomado a liberdade de beijar você. Eu nunca teria
feito isso se soubesse que ainda estava viva. Quando descobri que
você era...

— Pensou em bancar o Príncipe Encantado? — Ele estreitou


os lábios, uma vez mais por ter o roubado as palavras. — Não me
diga que não conhece esse conto de fadas? — Ela perguntou.

— Não. Quero dizer, conheço a história, só nunca esperei que


você acordasse, não quando tudo o que tentamos antes falhou. Isso
não é lógico.

— Como pode saber se tem lógica ou não? Você costuma sair


por aí beijando garotas adormecidas para ver o que acontece?

— Não. Nunca. Que eu me lembre, nunca beijei uma fêmea


de fato.

— Nunca? — Mais uma vez, ela brincou, ele meio perturbado


baixou o olhar envergonhado.

Oh, que ironia. Ela, uma mestra em namoros da escola


secundária, e finalmente transformada em uma prostituta militar,
despertada por um nerd inexperiente.

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Bonnie soltou um riso sem alegria, se espreguiçou, membros
e músculos se alongando, como se eles não tivessem ficado inativos
por precisamente, e de acordo com seu BCI, 339 dias, 16 horas e
sete minutos.

— Você está me provocando? — Ele perguntou isso com


sincera perplexidade, como se o próprio conceito o fosse estranho.

— Sim. Por quê? Isso é um problema?

— Não. É que, considerando que há uma hora atrás você


estava morta para o mundo, apenas me sinto surpreso.

— Ah, então gostaria que eu fosse mais melodramática?


Talvez algumas lágrimas? Acho que eu poderia encenar um colapso
e acabar chorando, se você preferir, ainda que me pareça um
desperdício de água e de tempo, se você quiser saber.

Ela nunca achara que se sentir depressiva ou histeria faria


alguma diferença em relação ao que teria de enfrentar para
sobreviver. Mesmo quando sua vida dera uma guinada total, para
pior, ela se decidira a dar o melhor de si, e em qualquer situação.
Ela não podia afirmar que fizera o melhor, mas pelo menos, se
sentia no controle, mesmo se esse controle viesse de sua própria
imaginação. Ela só desistiu quando... Pare. Não prossiga nesse
caminho. Ela não iria pensar em seus motivos para se colocar em
coma mortal.

— Acho que tem razão.

Seu tom duvidoso, a fez sorrir.

— Ai, você é muito fofo. Agora chega de falar de mim. Quem é

50
você?

— Meu nome é Einstein.

— Não me diga que é tão excêntrico e inteligente quanto o


cientista?

— Mais ou menos. É o nome que escolhi para mim quando


me libertei da programação militar imposta a minha mente. Eu
costumava ser conhecido como unidade IQ221.

— Ah, parece haver uma história fascinante por trás disso,


mas quero que a conte mais tarde. Primeiramente, Einstein,
anteriormente conhecido como IQ221, gostaria de saber onde
estamos? E se acaso me disser que estou sob custódia militar,
tenha em mente que eu sei mil maneiras de matar você — Ela
piscou, mas sua mão se dirigiu a cabeça dele e penteou com os
dedos seus cabelos ligeiramente desarrumados.

Ele se afastou, incapaz de esconder a surpresa com sua


provocação.

— Estamos em uma nave em missão militar, mas não


estamos sob controle humano.

— Você quer dizer que você e todos a bordo são cyborgs?


Fascinante — E inesperado. Sua última lembrança era de ter
ouvido ordens para que todos os cyborgs fossem destruídos. — Mas
como? Os militares finalmente libertaram os cyborgs? Eu nunca
pensei que o General Maldito fosse concordar com isso. No que me
concerne, ele parecia determinado a matar ou esconder seus
projetos preciosos.

51
— Você se lembra de seu tempo coma prisioneira?

Infelizmente. Foi sua vez de franzir a testa.

— Claro que me lembro. Era o que mais parecia afligir aquele


bastardo desgraçado, por mais que ele fizesse para me arrancar
minhas lembranças, eu me recusei a esquecer. Embora fingisse por
certo tempo. Bastaram algumas sessões no poço para perceber que
é mais produtivo guardar a própria opinião — Na verdade, foi
preciso perder a visão e ser conspurcada com os orbes robóticos
para ela perceber que sua postura obstinada necessitava de uma
revisão.

A porta da sala se abriu sem aviso e os dois se viraram para


ver o intruso.

— Hey, Einstein velho amigo, tenho uma triste notícia — O


recém-chegado parou na porta e seus olhos se arregalaram quando
os viu.

Bonnie o observou atenta. Mais alto que seu príncipe, o


cyborg tinha os cabelos espessos e cortados à altura do queixo, um
físico esplêndido, e um sorriso branco. Em outras palavras, ele a
lembrava de um certo boneco muito popular entre as garotas. Ela
logo entendeu esse tipo de homem. Se ele fosse humano, ele seria o
tipo de cara manipulador, especialmente no que se referia ao sexo
frágil. Se ele fosse humano. Será que esse cyborg compartilharia os
mesmos traços de personalidade quanto os seus semelhantes
orgânicos? Só havia uma maneira de descobrir.

— Oi, bonitão. Que bom você estar aqui para participar da


festa de boas-vindas.

52
Para seu crédito, o cara não se impressionou imediatamente
por seu charme. Nem se dirigiu a ela.

— Ela está viva?

Por Deus. Parecia que quando os militares criaram os cyborgs


masculinos, deixaram de fora alguns ingredientes-chave, tais como
a inteligência. Mas ao menos os deixaram com a capacidade de
dizer o óbvio. Bonnie entrelaçou seu braço ao de Einstein.

— Estou bem viva graças ao meu príncipe encantado aqui.


Ele me acordou com um doce beijo. Ele é tão romântico.

— Einstein? Beijo? Cara, do que diabos ela está falando?

Pobre Einstein, seu BCI parecia ter travado por não conseguir
responder. Ela teve pena de seu salvador sem palavras.

— Ela tem um nome, Bonnie, e eu já disse o que aconteceu.


Meu nerd adorável me deu uma beijoca nos lábios e acordou-me do
meu longo sono. Admito ter ficado surpresa também, mas, que
merda, aconteceu. Agora, já que meu príncipe parece ter perdido as
palavras, posso saber quem é você, onde estamos, e que diabos está
acontecendo? — Ela terminou a frase com um tom interrogatório.

— Sou Seth, chefe de operações secretas, e este é Einstein,


médico-chefe e chefe de comunicações. Você está no Biteme SS sob
o comando de Aramus, o bastardo mais rude conhecido no mundo
do cyborg. Mas um cara decente. Só não diga a ele que me ouviu
dizendo isso.

— Seth! — Einstein o repreendeu, não que o outro parecesse


se importar, não se o sorriso largo servisse de indicador.

53
— O quê? Eu só estou respondendo as perguntas dela. E ela
vai conhecer nosso amado comandante a qualquer instante. Melhor
se preparar.

— Se preparar para o que? — Gritou uma voz rouca. —


Recebi uma ligação mental para trazer minha bunda de metal aqui
imediatamente. É melhor que seja importante, Seth, ou vou
derramar água em seus circuitos apenas para ver você balançar...
— O macho grande empurrou o jovem cyborg de seu caminho, e
amaldiçoou. — Mas que merda é essa?

Bonnie acenou com um sorriso largo.

— Oi, você deve ser o comandante. Meu nome é Bonnie, ou


fui conhecida como B785, ou como o General gostava de me
chamar carinhosamente, Cadela Irritante. Mas você pode me
chamar de seu Mais Novo Pé no Saco — Então, gargalhou.

54
Capítulo Quatro

Ver o grande macho, Aramus, sem palavras, de olhos


estreitados e a mandíbula subitamente ficar rígida. Deixou claro
que o capitão da nave não deixaria que um mero droide sexual
presumivelmente voltando dos mortos à vida e deliberadamente o
insultando, o manteria calado por muito tempo.

— O que diabos está acontecendo?

— Einstein nos fez acreditar que essa coisinha não passava


de um droide desativado, no entanto eis que a desperta com o poder
de sua super língua.

— Na verdade, ele só usou os lábios — Bonnie interrompeu.


— Na verdade ele nem sequer tentou com empenho.

— Bem nosso Príncipe Encantado acordou a bela adormecida


que para surpresa geral é uma das fêmeas cyborgs que estamos
procurando — Seth resumiu alegremente.

Aramus olhou de Bonnie para Seth, depois Einstein, em


seguida, de volta a ela, e resmungou: — Mas que merda. Por que eu
não consigo manter as missões dentro dos parâmetros pré-
designados pelo comando? Por que não posso ter uma viagem
tranquila, onde a única emoção consiste em explodir algumas naves
de reconhecimento militar e invadir alguns depósitos de
suprimentos?

Seth bateu nas costas de Aramus, como consolo.

55
— Se você me perguntar, eu acho que os cientistas devem ter
empurrado uma ferradura da sorte no seu cu apertado. Aventurar-
se com você nunca é chato.

— Se você não calar a boca, eu vou é enfiar alguma coisa no


seu cu — Aramus rosnou.

Vendo a cabeça de Bonnie virar de um lado ao outro


enquanto ela ouvia a troca de palavras entre seus dois amigos,
Einstein se perguntou se ela reconheceria o humor ácido entre bons
amigos ou a levaria a pensar sobre os atos violentos de que os
cyborgs eram frequentemente acusados?

Usando a sua capacidade de comunicação sem fio, Einstein


enviou aos irmãos uma mensagem mental.

— Ei, vocês dois, parem com isso? Ela acabou de acordar


e eu não preciso que vocês a deixem mais assustada e volte a
dormir.

Seth respondeu imediatamente.

— Mas ele quem começou.

— E eu estou pedindo para que vocês pararem com isso.

— Ou então o quê? — Aramus rosnou mentalmente e tornou


a rosnar.

— Ei, alguém notou que como Chloe e Fiona, ela não


parece ser capaz de se comunicar mentalmente?

Três pares de olhos subitamente se viraram para ela, e


Bonnie os fitou cautelosa.

56
— Qual é o problema? Por que estão me olhando assim?

— Você ouviu alguma coisa?

— Como o quê?

— Seu Príncipe nerd gostaria de saber se você é capaz de se


comunicar sem fio?

— Não. Nenhuma fêmea cyborg é capaz. O general disse mais


de uma vez que já éramos ameaça suficiente sem termos tal
habilidade.

— Finalmente, algo inteligente dito por um humano que eu


sem sombra de dúvidas posso concordar — Aramus respondeu.

Einstein deu uma cotovelada nele antes que Seth o fizesse,


forçando uma resposta irritada.

— O que? Mas é verdade.

— Pare. O que disse é absurdo — Einstein disparou,


chegando a defesa do sexo oposto.

— Ah!... Então espere para ver, rapaz. Você logo perceberá


que estou certo.

— E diz o macho que nunca conseguiu conversar com o sexo


oposto sem que não as tenha assustado e feito correr em outra
direção.

— E é aí que se engana, em primeiro lugar, não me dou ao


trabalho de conversar com elas — Aramus disse com orgulho.

— Um dia... — Seth ameaçou.

57
— Um dia o quê?

— Espero sinceramente estar presente no dia em que uma


mulher o faça comer suas palavras.

— Isso jamais acontecerá.

— Ah, mas isso vai acontecer. A cada estrela cadente que vejo
desejo que isso aconteça.

— Eu vou bater em você.

— Chega, eu é quem vou bater em vocês se não acabarem


com isso — Einstein disse já irritado com as brigas constantes, e
principalmente em frente a hóspede inusitada. — Desculpe — Ele
disse a Bonnie. — Gostaria de dizer que eles não costumam se
comportar dessa maneira, mas eu odeio mentir.

— Oh, não se desculpe por eles. Qualquer um pode ver que


eles discutem e vão as vias de fato, mas é tudo um disfarce, aposto
que se amam.

Seth engasgou. Os olhos de Aramus se arregalaram. Então os


dois explodiram em um rosário de negações, enquanto Bonnie os
observava com ávido interesse e um sorriso nos lábios. Einstein
esfregou o rosto.

Como seu mundo cuidadosamente organizado se


transformara em caos? Na verdade, Einstein sabia quem era a
responsável, desde o momento em que Bonnie recuperou seus
sentidos e o fitou com os belos olhos, cor de esmeralda.

Lógico ou não, o simples toque de carne contra carne não


devia ter a despertado. Ele sentira um leve choque elétrico ao ter o

58
contato físico com ela, mas o fato dificilmente explicaria como de
repente ela voltara à vida. Quanto à sua comparação relativa ao
fato, como um conto de fadas, era ridículo, magia não existia. Um
beijo não poderia acordar pessoas mortas, nem mesmo um cyborg.

Então devo dizer isso a Bonnie. Pensou.

Como afirmaria tal coisa quando lá estava ela, antagonizando


Aramus com sorrisos doces e provocações. Lá estava ela brincando
com Seth, desfiando insinuações sutis que realmente deixara o
cyborg em geral brincalhão, perturbado. Lá estava ela viva
exuberante, seu tom de pele já perdendo a palidez para uma
tonalidade rosada, todos os minerais e fluidos ingeridos dando vida
aos músculos tornando-a menos robô e mais humana.

Feminina. Sexy. Problemática. Intrigante...

— Eu creio que preciso me senta. — Einstein anunciou a


ninguém em particular.

E o fez, pesadamente. Os joelhos fracos, sua mente confusa


em guerra contra a lógica e as evidências a sua frente. Einstein
sentou-se sobre o colchão e tentou processar os eventos. Ele falhou,
e não era algo que estivesse acostumado, e não gostou nem um
pouco. Incapaz de lidar com a série de eventos ilógicos, então forçou
todas as coisas que se recusavam a se alinhar em matrizes puras e
as direcionou a um canto de sua mente para leitura, quando tivesse
mais tempo analisaria tudo. Com a mente organizada, concentrou-
se no assunto mais importante a mão. Bonnie, e o que fazer com
ela.

Devo beijá-la novamente, em nome da ciência. E ver o

59
que aconteceria a seguir. Bzzzt!... Resposta errada!

Ele empurrou o pensamento ruim à distância, e vasculhou na


mente o que poderia fazer; a maioria imprópria... Surpreendente.
Tais conclusões foram relegadas a um canto de sua mente, agora
lotado. Finalmente, veio a ele o pensamento que fez mais sentido e o
causou menor angústia.

— Alguém precisa informar Chloe de que encontramos sua


irmã e que não está morta.

O silêncio foi tão abrupto que Einstein fez rapidamente uma


verificação interna para ver se suas funções auditivas ainda
funcionavam.

Bonnie limpou a garganta.

— Está dizendo que Chloe... Que minha irmã Chloe está viva?
— Sua voz progressivamente se tornava mais alta, mas não foi tão
assustador quanto o fato de ela avançar na direção dele com os
olhos a fulminá-lo.

— Se eu disser que sim, você vai me bater? — Porque ela


parecia estar pronta para agir com violência, e Einstein duvidou
que ele pudesse detê-la. Não porque ele não tinha a força ou
habilidade, ele só não desejava machucá-la de forma alguma, nem
mesmo em nome da autodefesa.

Com as sobrancelhas arqueadas e ela parou.

— Sim? Mas não o farei se me disser a verdade. Minha irmã


está viva?

— Sim, está viva.

60
Por um segundo, Einstein se perguntou se sua resposta a
teria levado ao seu estado catatônico outra vez, ficou ali estática na
frente dele. Bonnie estremeceu, inspirou profundamente e soltou a
respiração. Ninguém disse uma palavra enquanto esperavam que
ela dissesse algo lógico ou surtasse.

Alegria iluminou seu rosto por um breve momento antes das


sobrancelhas se unirem formado uma carranca feroz.

— Eu vou matar o filho da puta — Ela finalmente sussurrou.

Ela ergueu a cabeça, o olhar fixo nele, e apesar do fato de


serem biônicos, ele podia ver a dor refletida neles, e se detestou pelo
fato de que ele colocara aquela dor ali.

— Ele me disse que ela estava morta... Que nunca mais a


veria novamente. E riu quando disse isso. O miserável zombou de
minha dor. O cretino mentiu. Eu deveria ter imaginado isso, não
devia ter acreditado em qualquer coisa que saia daquela boca
desgraçada. Quando colocar minhas mãos nele, eu vou alimentá-lo
com as próprias bolas. Não, isso seria muito bom para ele. Vou
arrancar suas entranhas e enforcá-lo com elas. Derramarei ácido
em sua garganta. Vou esfolá-lo vivo...

— Quem? — Einstein ousou perguntar.

— O general, é claro, o chefe do programa cyborg, pelo menos


o chefe da divisão encarregado das fêmeas cyborgs. Bastardo
sádico, nunca deveria ter se metido comigo.

Ela andava e resmungava de modo ameaçador, uma ameaça


incongruente vestida apenas com uma camisa masculina, de
cabelos despenteados e pés descalços. Se Einstein tivesse senso de

61
humor, ele acharia a imagem divertida.

— Finalmente, ela fala uma língua que eu posso entender —


Aramus declarou satisfeito.

— O miserável tem um nome? — Seth indagou.

— Ou melhor, ainda, tem ideia de onde ele está? — Aramus


perguntou enquanto batia o punho na palma da mão. — Eu poderia
usar a informação e dar algum alívio ao meu estresse.

— Bem, eu pessoalmente gostava de chamá-lo de crápula,


mas seu nome era General Vaughn. O filho da puta comandava o
programa de fêmeas cyborgs.

— Nunca ouvi esse nome.

Einstein fez uma careta. O nome não estava em seus bancos


de dados também.

— O que mais você pode nos dizer sobre ele?

— Dizer? Bem, ele é velho, provavelmente na casa dos


sessenta, mas ao contrário de seus companheiros, ele não se
afastou da ativa. O humano também é mais frio que qualquer
máquina que ele ou seus amigos tenham criado. Eu juro; o conceito
de emoção não existe para ele. E ele nos chamava de monstros.

— Talvez fosse amigo do General Boulder.

— Provavelmente. Esses militares bastardos estão todos em


conluio.

— Você tem ideia de onde ele está?

62
— Não, duvido que ainda esteja na base usada na Terra.
Quando fui despachada como refugo, eles estavam em processo de
desmantelamento do local. Parece que o projeto perdeu
financiamento particular. Aparentemente, eles não estavam
trabalhando nos canais legais do governo e foram apanhados
arrecadando fundos particulares. Eles tiveram que fechar as
instalações e rápido. Não faço ideia de para onde foram ou se estão
agindo às escondidas, sei apenas rumores de que estavam
destruindo as evidências de nossa existência e realocando os
cientistas que trabalhavam no projeto.

— Joe vai querer saber sobre isso — Seth afirmou.

— Joe? Quem é Joe? — Ela perguntou, interrompendo-o.

Einstein a respondeu agora que já não temia a ira dela.

— Joe é o líder do movimento de libertação cyborg. Ele


também é o parceiro de sua irmã. Eles vivem juntos no mundo em
que nós vivemos.

— Minha irmã está casada? — A nota de incredulidade a fazia


parecer demasiado humana.

— Bem, de certa forma, sim. Joe e sua irmã sentem afeto


profundo um pelo outro e vivem juntos.

— Estão apaixonados — Seth cantou, acompanhado por um


pseudo beijo ruidoso.

— Minha nossa! — Bonnie disse em tom baixo, não


parecendo chateada com a notícia, mais surpresa. — Já era tempo
de que ela encontrasse sua cara metade. Ela sempre foi tão tímida.

63
Quero saber tudo sobre esse cara, Joe, que conseguiu roubar seu
coração. Na verdade, quero saber tudo o que sabe sobre ela
enquanto eu estava dormindo. Melhor ainda, quero saber quanto
tempo levaremos para chegar a esse planeta e conhecer Joe? —
Então exibiu um sorriso esperançoso nos lábios, cativando
Einstein.

— Três semanas, sete dias, 14 horas, mais ou menos —


Aramus respondeu.

— Tanto tempo! — Com o rosto cabisbaixo e ombros caídos,


Bonnie fitou Einstein, ele quase estendeu a mão para confortá-la,
um gesto ilógico, especialmente vindo dele. Então puxou sua mão
para trás antes de fazer contato. Ela deve ter visto sua ação
abortada, porém, e em um movimento surpresa, caiu em seu colo e
deitou a cabeça em seu ombro. Einstein ficou imóvel e em choque.
— Você não pode nos levar mais rápido, querido?

— Não, ele não pode — Aramus resmungou. — Um protocolo


deve ser seguido. Temos de garantir que não sejamos seguidos
pelos militares e ainda precisamos pegar alguns suprimentos antes
de voltar.

— Qual será a missão? Atacaremos uma base militar?


Invadiremos um depósito de suprimentos? Algum lugar em que
causaremos mais danos?

— Não exatamente — Einstein não deu mais detalhes.

Mas Seth o fez.

— Acabamos de sair de um palácio do prazer, um bordel


flutuante, para ser mais preciso, sabe onde precisamos de algum

64
alívio do estresse, se é que me entende. Foi onde a encontramos,
princesa.

Bonnie ficou tensa e inclinou seu rosto, fitando Einstein, com


um brilho de acusação no olhar.

— Você me encontrou em um bordel?

Ele acenou com a cabeça.

— Porco. E eu pensei que você fosse diferente — Ela saiu de


seu colo, deixando Einstein sentindo-se perdido diante de sua
irritação súbita. Ele não tinha feito nada de errado. Na verdade, se
ela examinasse a situação, deveria se sentir grata por terem
frequentado o bordel porque, se não estivessem ali, ela teria
terminado como lixo espacial. Claro, ele não disse nada disso em
voz alta. Ele não precisa justificar suas ações. Ela estava sendo
irracional.

Como que para compensar seu erro, Seth falou em sua


defesa.

— Ei, antes de começar a colocar os circuitos em um nó, você


precisa saber que Einstein foi o único que não se aliviou. O que,
diga-se de passagem, é completamente natural a ele. Ele passou
todo seu tempo no centro de manutenção, consertando os droides
sexuais quebrados.

— Sério? — Ela se virou para ele.

Einstein fez um aceno de cabeça.

Sua resposta simples a fez sorrir, uma expressão de curta


duração. Uma carranca logo marcou seu semblante.

65
— Mas eu não entendo. Como fui parar em um bordel? Por
favor, não me diga que eu estava sendo usada como uma espécie de
boneca sexual inanimada. Quer dizer, gosto de sexo. Caramba, até
tive minha quota de brincadeiras sexuais em grupo, mas prefiro
participar. Ou, pelo menos saber quem está sobre mim.

O calor abrasador voltou a seu rosto. Einstein olhou para


seus pés antes de responder: — Até onde sei você não foi usada
desta forma. Te encontrei em uma caixa no depósito. O proprietário
teria jogado você como lixo espacial, porque não conseguiu ativá-la.
Ele me deu você como parte do pagamento pelo meu serviço.

Ela colocou as mãos nos quadris e olhou-o severamente.

— E o que exatamente pretende fazer comigo?

— Jamais a usaria para fazer sexo — Ele se apressou a dizer.

Ela riu.

— Por que não? Não sou bonita o suficiente? E antes de


responder, não se esqueça, eu já sei quem me beijou, meu querido.

— Oh, acho que vou vomitar — Aramus resmungou. — Eu


não estou ouvindo isso. Vou dar o fora daqui. Tenho certeza de que
há algo mais importante que necessite minha atenção. Como contar
os rebites no exterior da nave.

— Mas eu vou te dizer o que é mais importante, que tal


procurarmos algum pornô decente para assistir. Você sabia que
tudo o que temos a bordo são vídeos educacionais? — Seth
espicaçou Aramus enquanto o seguiu até a porta, e Einstein
suspirou quando ouviu Aramus grunhindo.

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— Eu vou arrancar sua perna e bater em você com ela.

— Só se me pegar primeiro, o que, como bem sabe, é


improvável, dado que sou um modelo de primeira geração. Você
parece praticamente meu avô.

A porta se fechou, cortando o som, deixando-os sozinhos.


Algo que tornou Einstein mais consciente, especialmente tendo em
conta que ele ainda estava sentado, enquanto ela estava de pé em
frente a ele. Vestida apenas com uma camisa fina. Uma barreira de
tecido que mal escondia as curvas dos seios ou suas coxas. Ele
desviou o olhar, não tendo certeza do porque daquela vestimenta o
fazia sentir tão desconfortavelmente ciente. Ele não tivera problema
antes em ignorar seus atributos.

Claro que, antes, ela era apenas um objeto inanimado.


Agora... Agora era cem por cento fêmea, e parece que sou mais
humano e do sexo masculino do que poderia suspeitar.

— Estou esperando? — Disse ela no silêncio repentino.

— Esperando o quê?

— Uma resposta, meu Príncipe. Você não respondeu a minha


pergunta. Por que me trouxe com você? Por que me salvou de uma
destruição ignóbil por compactador de lixo se não tinha planos de
usar meu corpo, sem vida, mas ainda delicioso? — Ela voltou para
o seu colo, desta vez se escarranchou em sua cintura de frente para
ele.

Ele se moveu inquieto, especialmente quando sentiu uma


contração inadequada de suas partes mais baixas. Uma ereção?

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Acalme-se. Seu comando mental não fez nada para reduzir o
inchaço. Ele só podia esperar que ela não percebesse.

Ela segurou seu rosto e obrigou-o a encará-la.

— Olhe para mim, meu querido. Não tente mentir. Eu ainda


estou esperando por uma resposta, por que você me trouxe para
seu laboratório.

Ele usou uma verdade parcial.

— Eu pensei que poderia usar algumas de suas peças.

Como se pudesse admitir que a curiosidade exercesse um


papel mais importante.

— Peças? — Os dedos brincavam com as pontas de seu


cabelo. — Você me desmontaria por minhas peças e as colocaria em
outros cyborgs? Tem certeza de que seu nome não é Frankenstein?

— Se você está se referindo ao médico na história de ficção,


na verdade seu nome era... — Ele parou de falar ao notar sua
sobrancelha arqueada. — Acho que isso não é pertinente a sua
consulta. Eu a trouxe na esperança de poder ativá-la, ou foi esse
meu plano no início, sem mencionar que não conseguiria abri-la e
usar suas peças.

— E... — Ela enrugou o nariz, isso deveria torná-la menos


atraente. Mas ao contrário... Envergonhado, inchou um pouco
mais. Ele realmente esperava que ela não notasse, mas ela passou
a se contorcer em seu colo e o sorriso malicioso nos lábios
indicavam o contrário.

— Você não me deixou explicar. Nada desonroso aconteceu.

68
Quanto mais eu te estudava, mais me convencia de que você não
era um droide como eu pensava. Você possuía muitas anomalias.
Então, tentei executar alguns diagnósticos para testar uma teoria
de que talvez você fosse um cyborg, Nada que causasse danos a seu
exterior físico e interno, eu precisava de um equipamento melhor,
mas isso levaria semanas até que voltássemos ao nosso planeta.

— Então, como você descobriu quem eu era?

— Na verdade foi Seth, que veio com uma solução simples.


Enviamos sua imagem ao nosso planeta, Fiona e Chloe a
reconheceram. Assim que sua irmã confirmou sua identidade... —
Ele encolheu os ombros. — Bem, você sabe todo resto.

Ela suspirou.

— Você realmente sabe como falar com uma garota, hein


querido?

— Não consigo seguir seu raciocínio.

— Estou começando a perceber — Ela saiu de seu colo e


passou a andar pelo laboratório. Por um momento ilógico, ele quase
a puxou de volta, sentiu a falta de seu peso e proximidade. — Para
onde vamos?

— Primeiramente a um cinturão de asteroides no quadrante


Beta.

— Espere um segundo. Você disse asteroide, um asteroide no


espaço?

— É claro. Como Seth disse, você está a bordo do SS Morda-


me, quero que saiba que a escolha desse nome não foi minha, mas

69
eu fui minoria.

— Nós realmente estamos em uma nave espacial? — Ela


praticamente gritou a pergunta.

— Sim — Por que ela insistia na pergunta, ele não conseguia


entender a menos que ela tenha sofrido algum dano em seus
bancos de dados da memória de curto prazo.

— Puta merda. Eu pensando que estávamos em um navio,


sabe um navio do tipo que flutua no oceano.

— Que suposição mais estranha.

Ela colocou as mãos nos quadris.

— Ei, sabia que está me ofendendo. Quero dizer, como é que


eu ia saber que estávamos no espaço? A última coisa de que me
lembro, é que estava em uma base militar há quilômetros abaixo do
solo.

— Bem agora está em um lugar bem diferente.

— Uau... — Ela disse arrastando as palavras. — Espaço,


hein? A fronteira final... Deve ser incrível. Posso ver?

— Ver o quê? — Ela mudou de assunto tão rapidamente,


Einstein encontrava dificuldade em seguir suas ideias.

— As estrelas, é claro. A galáxia. Coisas do espaço. Eu


sempre quis ser uma exploradora espacial, sair da Terra, mas dado
os meus problemas comportamentais — Ela sacudiu os dedos para
simular giros no ar —. o General sempre me impediu de tripular
uma nave, avião ou qualquer coisa que pudesse me ajudar a fugir.

70
— Eu não tenho uma tela de visualização nesta sala, como
você pode ver, no entanto, outras áreas na nave possuem vigias e
áreas de visualização. Eu vou mostrar a você.

— Fabuloso! Ei, isso me torna uma astronauta?

— Suponho que sim — Ele achou melhor seguir a corrente,


especialmente se isso trazia tanto prazer a ela, ou assim ele
conjecturou quando ela começou a cantarolar a música tema de
uma antiga série de televisão da Terra, intitulado Star Trek.

— Estou no espaço. Talvez encontremos alguns alienígenas.


Conheceremos novos mundos — Ela cantou as palavras e dançou
ao redor, estranhamente eufórica. Ele não a interromperia de forma
alguma, seu humor oscilava frequentemente, o mais seguro era
concordar. Quando ela parou de girar, o encarou novamente. —
Bem, pelo menos entendi a razão de tanto protocolo de segurança.
Não é um simples avião que me levará a minha irmã. Também
suponho que ela não esteja na Terra, certo?

— Bem distante.

— Ela vive em um planeta alienígena? Oh isto está parecendo


genial.

— Eu não definiria nosso planeta como alienígena. Em


muitos aspectos é semelhante a Terra, vida orgânica é simples,
atmosfera limpa e extremamente adequada aos nossos padrões.

— Mas não é a Terra.

— Não, não é.

— Posso ver o planeta?

71
— Não temos imagens armazenadas na nave, para o caso de
sermos abordado por inimigos, mas posso descrevê-lo a você —
Uma pena que ela não tivesse uma ligação sem fios, ele poderia a
enviar algumas das imagens do planeta Cyborg armazenadas em
seus bancos de memória.

— Que pena. Poderei viver lá também?

— É claro.

— Maravilha — Seu sorriso foi largo e ele não pode resistir a


retribuir com outro, seu entusiasmo era contagioso.

— Ok, então voltemos à minha pergunta anterior antes de me


distrair. Agora que acordei, qual será o próximo passo?

— De acordo com nosso cronograma, a nave entrará no


quadrante Beta, que é rico em minérios. Em alguns já extraímos
minérios, voltaremos a eles e extrairemos mais, depois...

— Eu não quero saber qual o itinerário da nave e o objetivo


da tripulação — Ela riu. — Alguém precisa ensiná-lo a não levar
tudo tão literalmente.

Uma careta repuxou seus lábios enquanto ela apontava sua


falha.

— Eu sei. Seth está tentando me educar, mas ao contrário de


alguns que encontraram a sua humanidade, a minha foi
completamente apagada — Um fato que geralmente não lamentava,
exceto agora.

Ele sentia uma ligação estranha entre ele e a fêmea cyborg.


Algo que alterava seus sentidos acelerava seu batimento cardíaco,

72
uma agitação de seu pênis normalmente bem comportado. Ele
desejou saber o que significava. Ao contrário de Joe, Solus, e alguns
de seus outros irmãos, Einstein não se acreditava capaz de sentir
afeto ou amor. Os militares arrancaram quase toda humanidade e
deixando apenas sua mente analítica, sabia que as emoções eram
apenas o resultado de hormônios e feromônio que dependiam de
equilíbrio. Apesar de seu mau funcionamento atual, ele logo se
ajustaria e voltaria a ser racional, um observador e um cientista em
perfeito controle das funções do corpo e mente.

Aparentemente, Bonnie nutria planos diferentes.

— Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso. Eu acho que


bem no fundo há mais humanidade ai dentro do que imagina. Você
só precisa da pessoa certa e de incentivo para trazer a superfície.

Se Einstein não a conhecesse, suspeitaria de que ela se


achava a pessoa com as habilidades para fazer isso. E, no entanto,
ele tinha a impressão de que ela não era um médico ou técnico. De
que modo ela planejava reprogramá-lo, era um mistério, que ele não
se atrevia a perguntar, não dada a forma como o seu humor
balançava de um extremo ao outro.

Como que para provar seu ponto de vista sobre sua natureza
irracional, ela mudou de assunto.

— Onde fica o banheiro? Sinto-me desconfortável com toda


essa sujeira presa ao meu corpo, sem falar que começo a feder.

— No canto da sala. Mas, se você me der um momento, vou


transferir alguns de meus irmãos e destinar a você acomodações
próprias.

73
— Vai desalojar os cyborgs a bordo para outras
acomodações?

— Sim.

— Para onde?

— Dois tripulantes dividiriam uma cabine.

— Oh, não. Não faça isso. Não há nada pior do que forçar
dois caras grandes a dividirem um espaço pequeno para dar lugar a
uma garota. E no momento o que não preciso é ter membros da
tripulação zangados comigo.

— Não se preocupe, as cabines são espaçosas, se houver


necessidade colocaremos as unidades em turnos rotativos.

— Você realmente não entendeu o que eu tinha em mente,


não é? — Ela balançou a cabeça, sorrindo como se ele estivesse
contando uma piada, ainda que uma análise não mostrasse
nenhum humor no que acabara de dizer. — Está dividindo seu
quarto com alguém?

— Não neste momento.

— Então, por que não posso ficar aqui?

— Aqui? Em meu laboratório? — Pensou Einstein. — Acho


que poderia dormir em outro lugar, no entanto, eu teria que invadir
sua privacidade para trabalhar, todos meus equipamentos estão
neste local.

— Você está sendo literal novamente. Quero dizer, por que


não posso ficar aqui com você? Não ficarei em seu caminho ou

74
ocuparei muito espaço. E eu confio em você. Qualquer cara que vai
a um bordel concertar bocetas e se abster de foder com elas,
certamente é confiável, assim posso dormir ou tomar banho
sossegada.

— Eu nunca toquei em você de maneira inapropriada — Seth


teria ficado orgulhoso de sua réplica indignada.

— Isso diz o cara que me beijou.

— Uma anomalia que ainda não consigo explicar. Mas não vai
acontecer de novo.

— Que vergonha!... Mas não se preocupe, eu não pretendo


fazer promessas desse tipo — Ela piscou.

Mas antes que Einstein pudesse responder ou pedir detalhes


sobre o que quisera dizer, ela se virou. Einstein observou com mais
interesse do que devia quando a viu despir a camisa e o balanço
suave de seus quadris, enquanto se dirigia ao banheiro no canto.
Por que as suas nádegas nuas faziam seu membro inchar? Ele
nunca dera atenção alguma a qualquer fêmea antes. Mas isso foi
antes, antes de encontrar aquela fêmea cyborg em coma, tudo se
modificara nada mais fazia sentido.

Ele já vira B-785 nua.

Ela prefere ser chamada de Bonnie.

Vira cada centímetro dela durante suas tentativas de


reanimá-la, mas agora... Agora parecia diferente. Ele não sabia o
que. Seria por sua pele, estava macia e exalava sensualidade? Ou
porque seus membros se moviam com graça? Por ela lhe lançar um

75
sorriso tímido sobre o ombro e deslizar a língua rosada sobre os
lábios? Ou seria uma combinação de todos esses fatores que
trouxeram o rubor a suas bochechas?

A resposta o escapava, mas a única coisa que podia afirmar


com certeza era a ereção de seu pênis, uma ereção que não
obedecia aos comandos de sua BCI, que o mandou fugir de seus
aposentos, o som de seu riso ecoando atrás de si.

Infelizmente ele só poderia escapar de sua presença física, e


nada podia fazer para apagá-la da mente. Pelo contrário, ela invadia
seus pensamentos como um vírus de ação rápida que o consumia
com ideias repletas de luxúria e imagens. Uma praga viral em sua
mente geralmente equilibrada e organizada, uma praga que ele não
queria extirpar.

76
Capítulo Cinco

Sozinha no chuveiro, um pequeno cubículo com espaço


apenas o suficiente para se lavar, Bonnie ponderava a estranheza
das circunstâncias em que fora despertada. Apesar das
brincadeiras leves, a surpresa não chegava nem perto de descrever
suas emoções em turbilhão quando acordou com um beijo suave. E
a surpresa não parou por ali.

Cyborgs livres do controle militar. Se autogovernando.


Formando uma sociedade. Encontraram sua irmã e Fiona, uma
fêmea cyborg forte e determinada, alguém que pelo que se lembrava
sempre se levantou contra os militares. Bonnie pensara que a
fêmea cyborg fora destruída. Estava feliz em saber que ela
sobreviveu. Mas sua felicidade com a notícia nem se comparava ao
júbilo de descobrir que Chloe estava viva e livre.

Minha irmã está viva!

Viva e apaixonada. Ela poderia ter chorado de alívio e alegria,


mas os malditos olhos robóticos não lacrimejavam. No entanto,
apesar da falta de lágrimas, ela chorara por dentro por muito tempo
carregou o peso da culpa de ter levado sua irmã à atenção do
general. Foi culpa dela, por acabarem naquele hospital.

— Obrigado por ter vindo me buscar — Bonnie se arrastara até


o banco do passageiro do carro da irmã.

— Você não me deixou muita escolha — Chloe respondeu

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laconicamente, mantendo os olhos na estrada.

— Não é culpa minha ter perdido o meu dinheiro do táxi. Eu o


guardei em meu sutiã. Deve ter caído — Ou fora roubado por um dos
caras que a bolinaram em um canto escuro. Quem se importava?

Aparentemente, Chloe se importava.

— Bonnie, você não pode continuar agindo desta forma. Você é


uma mulher adulta.

— E? Não há nada de errado em ter um pouco de diversão.

— Não, quando está prestes a perder seu emprego de novo, ou


você acha que ficar bêbada e não ir trabalhar pela terceira vez este
mês a livrará do desemprego.

— Você é uma desmancha prazeres, isso sim — As malditas


palavras saiam com dificuldade.

— Você está sendo uma irresponsável.

Bonnie fulminou sua irmã com o olhar.

— Bah. Somos jovens. Há tempo de sobra para ser uma


pessoa chata depois. Eu quero me divertir — Ela levantou as pernas
e bateu o dedão do pé no painel. — Ai!

Chloe soltou um suspiro.

— E com quantos caras pretender se divertir enquanto isso?

Bonnie não responderia. Seria dar munição demais para sua


irmã desmancha prazeres argumentar.

— Ah, quanto mais melhor. Você devia tentar isso algum dia.

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Uma boa foda pode ajudá-la a se soltar — Bonnie a olhou de lado, os
lábios de Chloe se estreitaram.

— Não, obrigado. Algumas pessoas como eu preferem


selecionar melhor seus parceiros.

— Hipócrita.

— Vagabunda — A palavra vulgar foi dita de modo bruto e


inesperado e pairou no ar. Dolorosa mais verdadeira, como uma
bofetada. A raiva corroeu Bonnie, raiva e... Vergonha.

— Deus, eu odeio você quando começa toda essa merda


hipócrita. Quem é você para me julgar? Eu não estou machucando
ninguém.

— Só você mesma.

— O que esperava de mim? É a minha escolha.

— Ah, então é assim, por quanto tempo acha que vai me fazer
correr atrás de você — Chloe trincou os dentes. — Sabia que são três
da madrugada e eu deveria estar dormindo. Ao contrário de você,
tenho a intenção de continuar trabalhando e comparecendo às
minhas aulas. Por sua causa perco o pouco de sono que me resta
simplesmente porque não pode controlar a si mesma.

— Eu não preciso ouvir isso. Pare, vou descer — Bonnie lutou


com o trinco da porta, apenas para perceber que sua irmã a tinha
travado.

— Fique quieta. Você não vai a lugar nenhum além de para


casa.

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— Bem, eu não quero ir para casa agora. Não com você — Uma
parte de Bonnie reconheceu que estava agindo de modo infantil, mas
o álcool incentivava sua petulância. — Deixe-me sair.

— Não.

— Sim — Bonnie se lançou ao volante. Ela sabia que era


errado e perigoso, mas não se conteve. Pobre Chloe, tentou se
defender, mantendo o carro na estrada, tentou evitar o poste de
telefone e...

Bonnie sacudia os ombros enquanto soluçava no chuveiro,


revivendo, como fizera centenas de vezes, as ações que custaram a
vida normal de sua irmã. Se ela tivesse dito não ao convite para ir
ao bar. Se ao menos tivesse pedido dinheiro emprestado e chamado
um táxi em vez de obrigar Chloe a ir buscá-la. Se apenas... Tivesse
agido de maneira diferente.

Acordar no hospital, semanas ou meses mais tarde, como


algo diferente, já não completamente humana, ela se enfurecera
contra o que fizeram a elas. Mesmo enquanto alegavam que haviam
salvado suas vidas, as tinham arruinado também. Torná-las
parcialmente máquinas, tornaram impossível para Chloe ter a
felicidade que merecia. Mas o pior de tudo foi ao que as
submeteram depois.

Bonnie sabia lidar com os homens e com suas expectativas


sexuais. Claro, ela não tinha a desculpa do álcool e drogas para
suavizar os comentários e atos, mas ela era forte o suficiente para
lidar com o estupro físico e emocional. Mas Chloe... Ela não merecia
isso.

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Mas Chloe encontrou a felicidade, apesar de tudo.

Ou isso afirmava Einstein. Estranhamente, apesar das


experiências ruins nas mãos dos homens, ela acreditava nele. Ele
possuía honestidade demais para mentir. Muita ingenuidade para
encenar tal situação. No entanto, apesar do que afirmava, Bonnie
só realmente acreditaria quando visse Chloe e ouvir de seus lábios
que ela estava feliz.

E se ela não for, cuidarei disso. Porque devo a ela.

Secou-se com uma toalha no banheiro e entrou no quarto


começando a vasculhar as gavetas de Einstein, sorrindo ao ver as
camisas e calças perfeitamente dobradas. Com sua altura, ela não
se incomodou em dispensar as calças dele, nenhuma serviria nela.
Então optou por uma camiseta sem mangas, uma camisa de linho
que a chegava aos joelhos, e por baixo, um par de boxers. Para
arrematar, passou um cinto em torno da cintura. Nos pés, meias,
não porque o chão frio a incomodasse, mas porque se sentiria
menos vulnerável dessa forma. Afinal pelo que sabia, ela era a
única fêmea em uma nave cheia de machos.

Uma garota inteligente provavelmente permaneceria


escondida no quarto. No entanto, Bonnie nunca gostou de fazer a
coisa certa. Então passou a explorar os corredores e, como de
costume, não demorou muito para encontrar problemas.

*******
Einstein planejara inicialmente ir à ponte de comando, mas
em posse de uma energia estranha, irritado e tenso, desviou-se

81
para o caminho que levava ao ginásio onde encontrou Seth
treinando com outro cyborg chamado Aphélion.

O treinamento mais se parecia com limpar o chão com o


oponente. Ninguém sabia muito bem que tipo de programação Seth
possuía. De todas as unidades cibernéticas, ele provara ser o mais
impenetrável para realizar testes, mas apesar do fato de não ter
acesso a sua programação ou aprofundar suas opções cibernéticas
incorporadas a ele, Seth provara várias vezes que era um cyborg
acima de tudo, apesar do exterior humano.

— Einstein? O que você está fazendo aqui? Pensei que estaria


se ocupando de nossa convidada tão atraente. E sabe bem o que
quero dizer por ocupando, certo? — Os quadris de Seth balançaram
para frente e para trás e Einstein não poderia evitar o calor subindo
pelo rosto. Ele realmente precisava fazer um diagnóstico em seus
sistemas, ou um programa de sub-rotina para acabar com a
imperfeição em seu BCI que o fazia sucumbir ao constrangimento.

— Bonnie queria tomar um banho.

— Não acredito! Você tem uma fêmea nua e molhada no seu


quarto e saiu de lá?

— Sim.

— Cara, o que há de errado em você?

— Isto é chamado de ser cortês. Você deveria tentar isso


algum dia.

— Ai!

Einstein não saberia dizer se o gemido dele fora causado pelo

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golpe desferido por Aphelion ou fora por seu comentário.

— Já que ela não me deixou designar um quarto próprio a ela


e insistiu em ficar comigo, eu pensei que seria educado sair e dar a
ela um pouco de privacidade para tomar banho.

— Mas que cachorrão você está me saindo! — Seth achatara


seu adversário no chão e o endereçou um sorriso largo. — Então ela
vai ficar com você? Mas que cara esperto.

— Por que sou esperto?

— Não é parte de seu plano para seduzi-la e viverem o “felizes


para sempre”? Ela não o chama de seu Príncipe Encantado.

— Sua contínua referência ao conto de fadas é, obviamente,


um sinal de trauma em seu núcleo central. Eu já apresentei um
relatório mental para executar uma avaliação completa em sua
programação e extirpar os defeitos óbvios. Quanto à permanência
em meus aposentos, como já mencionei, eu tentei. Ela não aceitou.

— Por que não? — Seth perguntou enquanto esmurrava o


saco de pancadas em um ritmo que ninguém poderia igualar.

— Ela diz que não deseja causar ressentimento entre a


tripulação e que confia mais em mim para compartilhar os
aposentos com ela.

Os golpes rítmicos cessaram e Seth se virou para encará-lo.

— Cara, isso é péssimo.

— Por quê? Eu não me importo de dividir o espaço com ela. É


mais do que suficiente para nós dois.

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— Não é isso. É o “eu confio em você”. Você tem ideia do que
isso significa.

— Você acha que é algo que vai além de suas próprias


palavras?

— Sim. Isso significa que ela pensa em você como um amigo,


que não ultrapassará os limites dela — Seth fez uma careta.

— E isso é ruim?

— Mas é claro, como pensa em entrar em suas calças, se ela


o vê como amigo e nada mais?

Einstein sabiamente não apontou o óbvio. Um, ela não tinha


nenhuma calça, e dois, por que ele iria querer entrar nelas? Não
seria um tanto desconfortável? Às vezes, era mais fácil fingir que
entendia Seth.

— Se tê-la como colega de quarto for muito perturbador,


então basta transferi-la para outros aposentos. Tenho certeza de
que posso inventar uma desculpa, se necessário para tirá-la de lá.

— Ou ela talvez se interesse por outro cyborg.

Familiarizado com o modo particular de Seth se expressar,


Einstein, em meio a flexões, perdeu o ritmo e bateu o rosto no
tapete. Ele esperou pelo riso e quando ninguém se pronunciou,
ergueu o rosto para ver Seth ainda de costas trabalhando em outro
aparelho de exercício.

Poupado do constrangimento, ele rolou de costas e começou a


se esticar e trabalhar os músculos abdominais.

84
— Se Bonnie escolher se juntar a outra unidade de bordo,
então devo respeitar sua escolha.

— E vai conseguir?

— De certo. Por que não?

— Porque foi você quem a encontrou. Foi você que a


despertou com um beijo.

Porque ela é minha.

De onde surgira o pensamento aleatório? Isso se Einstein


pudesse considerar outro cyborg como propriedade. Como
entidades de pensamentos livres, pertenciam a si mesmos.

— Eu não tenho necessidade de uma fêmea em minha vida.

— Diz o virgem — Zombou Seth.

— Eu não sou virgem. Experimentei o coito. Eu simplesmente


não consigo ver nada de grandioso nisso.

— Então você não fez a coisa de modo certo.

— Eu ejaculei.

— Mas não gozou.

— Qual é a diferença?

— Se você realmente tivesse feito sexo, eu não teria de


explicar nada. Sorte sua, agora terá a oportunidade de finalmente
livrar-se de sua inexperiência. Bonnie é material de primeira. E se
não fizer alguma coisa para despertar o interesse por você nela,
certamente vai procurar alguém.

85
Usando a displicência de Seth, Einstein respondeu: — Que
seja.

Uma resposta simples, mas fechou a boca de Seth.

Eles continuaram a se exercitar, levando a conversa para


outros tópicos. No entanto, as palavras de Seth se repetiam
incessantemente em sua mente. Por alguma razão, irritavam
Einstein. Ele não saberia dizer o por que. Sua existência não exigia
sessões de sexo, nem sequer uma fêmea para completar ou
enriquecer sua vida. Estava satisfeito com sua situação atual. Se
fosse esse o caso, porém, por que uma voz insistente dizia não toda
vez que pensava nela com outro?

A resposta a essa pergunta permanecia fora de seu alcance,


não importava o quanto exercitasse seu corpo e tentasse remover o
excesso de adrenalina do seu sistema. Optando por usar o chuveiro
na academia, depois vestiu as roupas de reposição encontradas lá,
ele adiou a volta para seus aposentos o máximo possível,
aparentemente para dar a ela um pouco de privacidade, mesmo que
a definição de covardia o insultasse com insistência.

Vestido, extenuado pelo exercício físico, e incapaz de


permanecer na academia por mais tempo, Einstein só precisou virar
o corredor e já estaria em seu quarto.

Eu devo verificar a ponte.

Não importando que tivesse o acesso direto ao computador de


bordo, uma visita em pessoa parecera ideal.

Ele ouviu os berros de Aramus antes de chegar à ponte.

86
— Esta área está fora de seus limites.

Por que não estava surpreso ao ouvir a voz doce de seu


dilema.

— Por quê? Somente garotinhos podem brincar aqui? Estão


todos por aí de cueca contando piadas e peidando? Eu posso peidar
também. Posso até arrotar o alfabeto. Quer ouvir?

— Não!

Uma pequena risada escapou na réplica de nojo proferida por


Aramus. Virando a esquina, ele se deparou com a dupla discutindo.
Bonnie o viu antes de seu capitão e sorriu.

— Oi bonitão. Estive procurando por você. A calça apertada


aqui não queria me dizer onde você estava.

— Não é minha função saber onde se esconde cada


tripulante. Em outras palavras, se Einstein queria deixá-la saber
onde está a cada momento, teria dito a você.

Bonnie colocou a língua para fora fazendo uma careta para


Aramus e Einstein se colocou entre os dois, para o caso de Aramus
esquecer que estava lidando com uma fêmea, parecia querer
estrangulá-la.

— Eu estava no ginásio. Peço desculpas. Esqueci que não


está ligada a nós com nível neural e ainda não tive a oportunidade
de instruí-la para acessar a comunicação a bordo — Outra
deficiência a adicionar à sua crescente lista.

— Você não dará a ela acesso as nossas comunicações —


Aramus cruzou os braços sobre o peito e olhou furioso para a

87
pequena fêmea.

—Por que não? — Einstein perguntou.

— Porque ainda não temos certeza de que ela não seja uma
espiã militar.

— Uma espiã? — Ela riu. — Que parte você não entendeu


quando eu disse que odeio aqueles bastardos e o quanto ficaram
felizes por se livrar de mim?

— Isso é você quem está dizendo.

— Fala sério! Se você pudesse acessar meus arquivos, saberia


que o general me odiava. Ele nunca me usaria para espionagem,
sabia muito bem que eu provavelmente lhe daria informações
falsas, que adoraria ferrá-lo muito mais do que dar qualquer coisa
que ele pudesse usar para prejudicar alguém.

— Mais uma vez, isso é você quem diz. Além disso, mesmo se
estiver dizendo a verdade, isso não significa que não seja uma
espiã. Como podemos saber se não há algum dispositivo
implantado em seu corpo, talvez um chip de rastreamento?

— Agora você está abusando — Disse ela rolando os olhos,


um movimento desconcertantemente humano dado o seu brilho
robótico. — Francamente, fui encontrada em uma caixa coberta de
poeira em um depósito de bordel. Eu diria que as chances de sua
teoria ser acerta é quase nula.

— Mas possível.

Einstein os assistia discutindo um com o outro,


permanecendo fora do debate acalorado, até que ambos se viraram

88
para Einstein e disseram quase em uníssono:

— O que você pensa?

Teimosos, dois teimosos. E infeliz dele por ter sido escolhido


para mediar.

— Eu ainda não detectei qualquer coisa fora do comum.

— No entanto, é possível, certo? — Aramus pressionou.

— Talvez...

— Oh, você tinha que ficar do lado dele — Ela bufou,


cruzando os braços. — Homens sempre se unem quando as coisas
não correm como esperam.

— Eu disse talvez, mas em minha opinião, pouco provável —


Acrescentou, matando o sorriso escancarado de Aramus. Só para
plantar uma expressão cheia de satisfação em Bonnie.

— Então, como vamos resolver isso? Eu não quero essa


fêmea zanzando por aqui — Aramus zombou —, tendo acesso aos
nossos segredos até que saibamos com certeza se está do nosso
lado.

— Estive monitorando se havia algum sinal desde que a


trouxe a bordo. Fiz todos os exames que pude enquanto ela estava
inerte.

— Mas nenhum desde que ela acordou.

— Não.

— Então faça os testes — Ela ofereceu, abrindo os braços. —

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Tire minha roupa e faça a sondagem, bonitão. Eu não tenho nada a
esconder.

— Aqui? Agora? — O grito agudo não se assemelhava a sua


voz habitual.

— É claro que não aqui, bobinho. Vamos voltar ao seu


laboratório. Como se eu deixaria o “Sr. Sou Tão Poderoso” dar uma
olhada neste corpinho depois da maneira como ele me tratou.

— Como a tratei? Você tem uma sorte dos Infernos por eu


não trancá-la naquela caixa. Se só dependesse de mim, você estaria
acorrentada e submetida a um interrogatório, mas, aparentemente,
isso pareceria cruel.

—Aramus!

— O quê? Eu disse que se fosse por mim, ela está solta e


passeando em minha ponte, não?

Por que Einstein tinha o desejo de bater com a cabeça em


uma parede? Violência contra seu crânio não resolveria nada.

— Que pervertido, capitão? Aposto que as damas amam isso.

— Como se você soubesse alguma coisa sobre ser uma dama


— Aramus retrucou.

— Touché. Mas, voltemos à questão de espionagem. Você tem


perguntas. Então pergunte. Eu não tenho nada a esconder.

— Eu duvido disso — Aramus afirmou, fiel a seu hábito de


não confiar em ninguém.

Einstein muitas vezes se perguntou por quê. O que teria

90
sofrido o grande cyborg em seu passado para deixá-lo tão
desconfiado, até mesmo desconfiava de sua própria espécie. E,
especialmente, fêmeas.

— Uau, eu não sei onde você estava quando distribuíram os


microchips de boa vontade, mas, aparentemente, você ter ficado na
fila dois. Você é um cara que suspeita de tudo.

— Apenas sigo o protocolo, UPNS.

— UPNS? — Seu nariz enrugou. — Meu nome é Bonnie.

— Pois para mim você é UPNS ou seja, Um Pé No Saco.

Com isso, Aramus girou nos calcanhares e saiu, deixando


Einstein sozinho com Bonnie, que ria.

— Nossa, ele é sempre tão fácil de irritar.

— Ele tem seus motivos. Nem todos os cyborgs fizeram a


transição de droide irracional à consciência com facilidade. Alguns
acordaram com memórias que seria melhor esquecer. Aramus é um
deles — Por mais que o cyborg mal-humorado tenha negado. Assim
que Aramus recobrou sua integridade mental, sua atitude
transpirava rancor. No entanto, Einstein tinha respeitado seu
direito à privacidade. Todos o fizeram.

— Eu sofri muito. Mas isso não significa que tenha me


tornado uma cadela.

— Então você deveria estar grata. Alguns acharam as


memórias de seu passado e a doutrinação feita pelos militares
terríveis demais para suportar. Muitos enlouqueceram quando se
lembravam do que foi feito a eles — A taxa de suicídio no primeiro

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ano em liberdade e as missões kamikaze foi elevada na sociedade
Cyborg, mas nos anos posteriores felizmente estabilizou. No entanto
alguns cyborgs deixavam vir à tona, ocasionalmente, um
temperamento explosivo, mas a maioria tinha algum controle e
seguiam em frente.

— Pobres cyborgs — Ela murmurou. — Acho que posso


compreendê-los. Fiona e algumas de nossas companheiras
passaram por tantas coisas ruins, que talvez o esquecimento fosse
uma bênção. Mesmo Chloe começou a apagar no final.

— E você?

Bonnie suspirou, um som triste tão diferente de sua natureza


borbulhante.

— Maldita com a memória de um elefante. Defeituosa, como o


médico costumava dizer cada vez que tentava me reprogramar,
insistindo em fazer de mim um soldado perfeito.

— Como eles conseguiam acessar sua programação? Eu não


vi nenhum sinal de uma porta exterior e você não apresenta sinal
sem fio.

— Eu já disse. Nenhuma das fêmeas tinha wireless. O


General Maldito alegou que não cometeriam esse erro novamente.
Quando os cientistas achavam necessidade de atualizar meu
software, eles me cortavam bem atrás da orelha. Eu tenho uma
micro conexão que dá aceso ao meu BCI.

— Quando chegarmos ao nosso planeta, se você não se


importar, gostaria de conectar nosso computador central a você.
Nós estamos tentando reunir toda informação possível sobre as

92
unidades cyborgs. Enquanto os machos são praticamente
semelhantes, as unidades femininas parecem ter características
diferentes.

— Éramos o mais diferente possível — Ela brincou. — Fomos


criadas para sermos protótipos. Não há duas fêmeas cyborgs
criadas da mesma forma.

— Por quê?

Ela encolheu os ombros.

— Nem faço ideia.

Enquanto caminhavam de volta ao laboratório, ele a


questionou, em nome da ciência, é claro.

— Como você caiu nas mãos dos militares?

— Estava embriagada e causei um acidente enquanto minha


irmã estava dirigindo. Eles disseram que foi terrível. Eu não sei.
Não me lembro de nada. Mantiveram-me drogada por muito tempo.
Quando acordei, era parte máquina, estava puta da vida, e
prisioneira dos militares. E você?

— Não tenho lembranças de meu passado humano, mas pelo


que descobri em alguns arquivos acessados, eu era um delinquente
juvenil em um orfanato que chamou a atenção por ter hackeado um
site secreto das Forças Armadas.

— Um hacker.

— Aparentemente, a CIA se irritou com um garoto de 14 anos


por ter acessado e desfragmentado seus dados de segurança.

93
Ela assobiou.

— Puta merda. Pegaram você tão jovem. Quantos anos você


tem agora?

— De acordo com os registros? Vinte e cinco anos.


Aparentemente, eles me mantiveram preso por um bom tempo
antes de me colocarem no programa cyborg.

— Não é à toa que você parece tão inocente. Você nunca teve
uma chance de viver.

Seu tom triste o deixou desconfortável, nunca tinham sentido


pena dele antes. Sempre enalteciam sua inteligência.

Desconfortável com o rumo da conversa, ele mudou de


assunto.

— Você disse que os militares deram às fêmeas diferentes


aspectos. Que habilidades você tem?

— Sou uma miscelânea. Curo-me rápido. Sou insensível à


dor. Uma estrutura esquelética de algum mineral estranho
formando uma armadura em volta do meu peito.

— Eles colocaram um escudo ao redor dos órgãos em seu


tronco? — Einstein não conseguia esconder sua curiosidade
científica por um conceito tão estranho.

— Sim. Eles me envolveram em algum tipo de metal que foi


moldado para parecer com uma caixa torácica e outras coisas,
depois me cobriram com minha pele e tecido muscular. Legal, não
é? E você pensa que seria o inferno nos detectores de metal, está
enganado, não sei o que e como fizeram isso, e o mais interessante,

94
e o mais incrível, não aparece em raios-x.

Um inferno de fato, ela poderia esconder qualquer coisa


dentro do casulo metálico. Algo de seu desânimo deve ter
transparecido em seu rosto.

Seu sorriso desapareceu.

— Merda. Isso pode provar que o Capitão Carrancudo pode


estar certo, não é? Eu poderia ter algum rastreador ou algo bem
pior dentro de mim escondido e esperando para explodir todos nós.

— Certamente você teria notado já que parece ter mantido


todas as suas memórias.

— As memórias de quando ainda estava acordada. Quem


sabe o que o Maldito General fez ao meu corpo depois que perdi
minha vontade de viver?

Einstein tentou tranquilizá-la.

— Colocar um explosivo, ou qualquer dispositivo de


rastreamento dentro de você parece ser um desperdício de
tecnologia, se você estava destinada à destruição. Também se ele
tinha uma maneira de localizá-la, por que esperaria até agora para
usá-lo? Sem mencionar que foi sequestrada por piratas e vendida a
um bordel como mercadoria roubada, certamente o general gostaria
de ter seu investimento de volta e teria ativado o rastreador e a
recuperado.

Ou a destruído para que não caísse em mãos erradas.

— Chega de suposições — Em seu olhar vazio, ela balançou a


cabeça. — Eu vou pensar nisso mais tarde. Por enquanto teremos

95
de lidar com o que sabemos. E isso é muito pouco desde que
apaguei. Enquanto dormia, como posso saber o que se passou
comigo? Aramus tem razão para suspeitar. Diabos, eu também não
posso confiar completamente em vocês. Pelo que eu sei, você pode
estar me enganando com uma falsa sensação de segurança para
depois me jogar aos leões.

— Nunca — Uma resposta veemente, que caiu sem hesitar de


seus lábios.

— Quem sabe a bombas programadas dentro de mim,


escondidas em meu BCI e esperando o momento certo para
explodir.

— Eu te asseguro, sua mente não guarda sub-rotinas


escondidas. Eu as encontraria.

— Alguém já disse como você fica lindo quando fala como um


nerd? — Ela sorriu para ele e Einstein abaixou a cabeça,
envergonhado e satisfeito com o elogio. — Mas chega de bate-papo,
bonitão. Você prometeu ao Capitão uma sondagem em mim.

— Não há necessidade.

— Ah, mas eu insisto.

— Vou ser o mais discreto possível — Prometeu.

— Ai, assim não vai ser divertido — Ela fez beicinho, pulando
ao lado dele.

Não era nada divertido vê-la como fêmea. Viva, cheia de


energia, e intrigante, de muitas formas, Einstein se perguntou como
seria executar um exame intenso nela, pois só em pensar na

96
situação seu pênis com mau funcionamento já estava semi ereto.

Talvez quem deveria ser submetido a um exame fosse ele e


Bonnie o assistiria.

Aposto que ela daria uma enfermeira bem sensual.

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Capítulo Seis

Ao entrar no laboratório médico, Bonnie não perdeu tempo,


subiu na mesa de metal colocada a um lado da sala. Ela se divertia
por ver Einstein parecer tão nervoso e como evitou fitá-la nos olhos
enquanto recolhia rapidamente algumas ferramentas, e foi se
dirigindo à sua bancada de equipamentos, tentando esconder o fato
de que estava com uma tremenda ereção.

Bonitão não chegava nem perto de descrever o jovem cyborg.


Ela amou os cabelos castanhos claros bem cortados e arrumados, a
aparência desinteressada que demonstrava dava indícios de sua
agitação.

Eu o deixo ansioso.

Sua reação a ela era tão diferente dos homens que ela
conhecera. A maioria dos médicos em seu passado não se
preocupava em esconder seus olhares, nem moderar seus
comentários sexuais. Eles fizeram exames médicos e testes
parecerem algo sujo, tocando-a mais do que o necessário,
acariciando e beliscando para uma reação. Einstein, por outro lado,
tentava evitar tocá-la fisicamente.

E falando em arruinar sua diversão. Einstein dera até uma


bata médica para ela usar assim que começou a se despir, estava
com a face vermelha; corar de vergonha era algo inesperado em um
cyborg, só por ter sido pego dando uma olhada em seus bens.

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Por que ela queria que ele a visse como sendo mais do que
um objeto de teste, ela não saberia explicar. Talvez fosse uma
espécie de desafio que ele representava. Ou o fato de que ela sabia o
que ele queria, mas relutava com veemência.

Ou talvez sejam apenas meus hormônios voltando à


vida.

Afinal, quando foi a última vez em que fez sexo, mas será que
era somente a falta de sexo? Estranho, mas o cara que colocara seu
motor funcionando, e não apenas a parte cyborg parecia imune às
vibrações sexuais que estava lançando sobre ele.

Acho que terei que me esforçar um pouco mais.

Mas, falando sério, como ele não estava ciente de seu


interesse? Pulso acelerado, temperatura em alta, e seus mamilos
apertados, as indicações físicas estavam todas lá para ele ver. E,
aparentemente, ignorava.

Ao mesmo tempo, em que lamentava sua falta de interesse


sexual, ela também não podia esquecer a razão para o exame. O
Maldito General teria plantado alguma surpresa desagradável em
seu corpo? Seria uma bomba relógio ambulante? Uma espiã
inconsciente? Ela precisava descobrir e antes de se encontrar com a
irmã. Sabendo que ela estava viva e amando trouxe uma sensação
de alívio. Apesar de sua cagada, Chloe estava tendo seu “felizes
para sempre” e Bonnie não iria arruinar isso. Portanto, apesar de
seu desejo de tornar o teste em algo mais sensual, ela se segurou e
deixou Einstein fazer o seu trabalho. Haveria muito tempo para
seduzir seu cientista nerd, uma vez que eliminasse a possibilidade
de explodir ou levar os militares até sua irmã.

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Deitada de bruços sobre a mesa, com as pernas ligeiramente
afastadas, ela o deixou escaneá-la durante longos minutos
entediantes e em silêncio, consciente de que as vibrações de sua voz
poderiam deturpar alguns dos equipamentos mais delicados. Mas
quando ele finalmente chegou a parte física do exame...

— Desculpe, meus dedos estão frios.

Ela não pode deixar de provocá-lo.

— Eu sei um jeito de aquecê-los.

— Vou colocá-los sob a água quente.

— Não era bem nisso que estava pensando. Estou bem


quente e não me importo de partilhar meu calor — Ela respondeu
com uma piscadela.

— Está com dificuldade em controlar sua temperatura? — Ele


perguntou, com um semblante sério. — Eu não tenho como
controlar minha temperatura corporal, os militares não acharam
isso necessário a alguém com minhas habilidades, mas andei
consertando algumas das outras unidades.

Bonnie quase bateu nele por novamente tê-la interpretado


mal. Certamente ele não podia ser tão sem noção? Olhando para a
sua expressão paciente, ela percebeu que realmente ele era. Mas
como? Claro, os militares o pegaram muito jovem, mas ainda assim,
Einstein era um macho adulto, e muito atraente. Certamente ele
teria sido notado por uma enfermeira ou duas.

— Tenho a impressão de que você não é muito experiente no


que diz respeito a garotas?

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Os dedos que examinavam sua caixa torácica hesitaram.

— Meu trabalho me mantém ocupado e eu nunca vi


necessidade de me relacionar com o sexo oposto. Eu tenho algumas
necessidades biológicas.

— Você é virgem?

Opa! Terreno minado, o comentário pareceu incomodá-lo.

— Não exatamente. Eu tenho alguma experiência.

— É claro, mas não pareceu muito boa, dada a sua falta de


entusiasmo por uma repetição.

— Sexo não é uma necessidade real. Já a luxuria é uma


necessidade hormonal, que pode ser controlada.

— Seus amigos não parecem controlá-la muito bem.

— Eles são cyborgs soldados.

— É mesmo? E que diferença isso faz?

— Seus níveis de testosterona são muito mais elevados. Pelas


informações que tenho recolhido ao longo dos anos, os
pesquisadores humanos observaram que soldados com níveis mais
altos de hormônios eram mais eficientes no combate. Digamos,
assassinos mais violentos. A fim de explorar este aspecto,
programaram as unidades cyborgs soldados a criar mais do que o
triplo da quantidade normal de testosterona em um humano.

— Por que não me surpreendo com os militares fazendo


coisas assim? Vocês não conseguiram resolver o problema?

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— Se você quer dizer reduzir a quantidade, nós tentamos.
Mas, não podemos eliminar essa programação completamente. Nem
a maioria dos cyborgs quer se submeter a isso. Enquanto eles
puderem controlar seus ânimos e canalizar a violência, poderão
escolher como viver.

— Escolher? — Ela revirou a palavra na boca, ponderando. —


Parece um conceito interessante.

— É mais do que um conceito para nós. É nossa maneira de


viver. Pelo que lutamos. Queremos escolher como viver, não
seremos máquinas irracionais ou ferramentas para os outros.

— E vocês conseguiram isso neste novo mundo em que


vivem?

— Mais ou menos. Nós, naturalmente, temos leis, como você


não deve matar um irmão cyborg, ou roubar.

— Estão usando os dez mandamentos.

— De certa maneira. Adotamos princípios, que todos


respeitam, para que possamos viver em harmonia. Mas além dessas
regras básicas, nós traçamos nosso próprio destino.

— Traçar o próprio destino. Eu gosto disso. Mas, se esse é o


caso, então por que você está no espaço e ainda fazendo o papel de
cientista e médico?

Ele sorriu, um sorriso genuíno que a aqueceu interiormente.

— Porque é disto o que eu gosto. No que sou bom. Só porque


tenho minha liberdade não significa deixar de gostar disto. Todos
trabalhamos. Precisamos fazê-lo, se quisermos sobreviver. Estou

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bem ciente da minha limitação. Não sou bom em construir coisas
ou entrar em combate. Sou o primeiro a admitir que sou
socialmente desajeitado. No entanto, tenho um talento incomum
quando se trata de consertar coisas e desvendar tecnologias,
mesmo tendo de me adaptar para atender às necessidades em
evolução.

— Então gosta de brincar de médico e cientista, e Aramus é


obviamente bom em dar ordens — Respondeu ela secamente.

— Isso mesmo — Respondeu Einstein, encontrando seu olhar


com um sorriso cúmplice.

— E Seth? No que é bom?

— Em arranjar confusão.

Ela riu.

— Isso parece algo que ele diria.

— Não estou brincando. Seth é um modelo espião, criado


para parecer e interagir com os humanos. Ele esconde habilidades e
hardwares que só podemos imaginar.

— Então ele esconde coisas de vocês, e no entanto, todos


parecem confiar nele.

— Eu, como muitos outros. Devemos a minha vida a ele. Seth


nos salvou de situações perigosas. Ele, na verdade, resgatou muitos
cyborgs, até mesmo os considerados impossíveis de alcançar. Ele
gosta de parecer um cara sem compromisso e de bem com a vida,
mas realmente é muito mortal, e dedica-se à libertação cyborg.

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— Uma cebola.

A confusão vincou a testa do cyborg.

— Sinto muito? Você acabou de compará-lo a um vegetal de


raiz?

— Eu fiz uma comparação. Uma cebola, como um homem de


muitas camadas.

Einstein bufou.

— E que faz machos adultos chorarem. De fato uma


comparação que vale a pena anotar.

Deixando de lado suas costelas, e apenas tocando próximo a


seus seios; globos que ele sofria e ansiava para por suas mãos.
Einstein se limitou a apalpar a pele atrás das orelhas.

— Interessante — Ele murmurou.

— O que? — Além do fato de que ele evitara tatear seus seios,


agora parecia intrigado com suas orelhas chatas, mas que irritante.

— Eu não consigo ver ou sentir a entrada que você


mencionou. Nenhum sinal visível ou ao tato. Se você não tivesse me
contado de sua existência, eu nunca teria desconfiado que
houvesse alguma entrada.

— Isso mesmo. Você pode abrir atrás da orelha e dar uma


olhada se quiser.

— Não é necessário. Eu acredito em você. Além do mais para


que invadir seu sistema sem nenhum fim pratico. Eu não tenho um
computador que possa conectá-la com segurança até chegarmos em

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casa. Mesmo eu não acreditando que haja bombas de tempo ocultas
em seu corpo, prefiro ser cauteloso. Vou esperar até tivermos
acesso ao meu laboratório principal. Eu tenho um computador que
não possui conexão sem fio. Uma máquina segura, que poderei
usar para acesso direto sem correr o risco de ser contaminado com
um vírus no computador principal. — Einstein deu um passo atrás
dela. — Pode se levantar agora.

— Então, estou limpa, bonitão?

— Sim. Pode se vestir.

— É só isso? Você mal me tocou.

— Visualmente, não detectei anomalias ou nódulos sob sua


pele.

— Mas você nem verificou meus seios — Ela os segurou,


apreciando seu olhar que não conseguia se desviar deles.

— Humm!... Bem o escaner analisou essa área, nada foi


encontrado nos tecidos adiposos de suas glândulas mamárias. Não
há necessidade de verificar manualmente.

Não havia necessidade, exceto pelo fato de que ela teria


gostado. Ela sentou-se, abraçando a bata sobre o topo de seus seios
e deixando os ombros nus.

— Você não fez qualquer sondagem física.

Sua observação o deixou nervoso. Ele virou-se rapidamente,


esbarrando nas ferramentas em sua bandeja.

— Isso parece desnecessariamente invasivo.

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— Então se não quer fazê-lo pela ciência. Faça isso por
diversão.

— Como? — Ele se virou para ela com uma expressão


confusa no rosto.

— Vamos lá, não me diga que não gostaria de me tocar lá —


Ela o fitou timidamente através de seus cílios.

— Não seria apropriado.

— Dane-se o que é apropriado. Eu acho que você deveria ser


mais desinibido, bonitão — Ela subiu a bata até a coxa, expondo a
pele e maravilhada com seu olhar fascinado, o desejo evidente
vibrando através dele e alimentando a própria excitação. Como ela
gostaria que ele esquecesse o comportamento distante e a
acariciasse. — Toque-me — Exigiu em voz rouca. — Eu não ficarei
zangada. E sei que você vai gostar.

Ele balançou a cabeça.

— Não, obrigado.

— Vamos lá. Devo muito a você por me acordar.

Por alguma razão, suas palavras o deixaram muito irritado.

— Você não me deve nada. Você é livre agora, Bonnie. Você


não está nas mãos dos militares, não tem que se oferecer a mim
nem a ninguém. Seu corpo é seu.

Bom saber. Mas isso não mudava o fato de que ela estava
estranhamente atraída por este macho tão tímido.

— Bem, já que a escolha é minha, porque não posso escolhê-

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lo para fazer sexo?

— Por que...

— Sim, por quê? Gostosão.

Ela caminhou na direção dele, os quadris ondulando,


Einstein estava fascinado com seus movimentos, engoliu em seco,
mantendo-se imóvel e tenso. Antes que ela o alcançasse para tocar,
ele cambaleou para trás.

— Sou necessário na ponte. Por que você não descansa um


pouco e quando acordar, posso arranjar alguém para te mostrar a
nave — Ele disse atropeladamente as palavras enquanto
praticamente corria para fora da sala. Por Deus, ele quase bateu no
batente da porta na pressa de deixar o local.

Bela maneira de fazer uma garota se sentir bem.

Deixou-me com tesão.

Mas ele teria de voltar. Afinal, este era seu quarto. E quando
ele voltasse, ela estaria esperando.

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Capítulo Sete

Convidado ou não, Einstein não poderia fazê-lo. Não poderia


tocar a pele que ela tão tentadoramente exibira. Mas, oh... Como ele
queria.

Lógica alguma poderia convencê-lo de que não gostaria da


experiência. Seu membro parecia especialmente interessado em ver
o que se escondia entre suas coxas. O fato de saber todos os
detalhes biológicos do corpo feminino, não parecia influenciar sua
certeza absurda de que, com Bonnie, seu órgão sexual sentiria algo
bem diferente do que experimentara tendo relação sexual com um
robô sexual.

Foi apenas seu rígido código de moral irracional que o salvou


de descobrir aquilo em primeira mão. Evitá-la a partir de agora
parecia o melhor plano de ação, e ele faria o possível para se manter
neste curso, o que não seria uma tarefa fácil, já que dividia o quarto
com ela. Ao longo dos próximos dias, ele se esforçou para sufocar a
necessidade que ela o despertara. O desejo.

Ele tentou se esconder no ginásio enquanto ela descansava,


mas Bonnie o encontrou lá e insistiu em se exercitar em um
combate corpo a corpo, prendendo-o mais de uma vez sobre o
tapete com um sorriso triunfante e malicioso quando ele não
tentava se livrar do corpo agarrado ao seu, ele quase desistiu de
lutar contra seus impulsos humanos.

Ele tentou se esconder na sala de máquinas, mas os cyborgs

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ali faziam piadas por ele fugir da namorada, e o deixaram sozinho
quando ela veio a sua procura. Até mesmo Seth começou a
ridicularizá-lo, usando seu comunicador mental para chamá-lo de
“galinha”, e um imbecil por não comer o bolo.

Mas o que alimentos tinham a ver com isso?

Pior de tudo, não importa o quanto ele tentasse evitar, se


esconder ou ignorá-la, Bonnie não se sentia ofendida, apenas sorria
e brincava:

— Você não pode correr para sempre, Gostosão.

E como ele odiava o fato de que ela estava certa. Rapidamente


se esgotaram os locais para se esconder da mulher determinada a
tentá-lo. A força de vontade para resistir era corroída diariamente
enquanto ela continuava a se atirar em seu caminho. Provocando-o.
Insultando sua lógica. Deixando-o sem pensamentos coesos e
lógicos, até que tudo em que podia pensar fosse ela. Bonnie, um
nome que para ele agora tinha sinônimo de sedutora.

Partilhar o quarto com ela significava lutar contra a sua base


humana persistente e faminta em cada turno. Ele tentou controlar
o tempo, o computador sempre lhe notificando quando ela saia para
se entreter em outro lugar. Ele se esgueirava até o chuveiro para
um banho, e sai para encontrá-la descansando em sua cama
sorridente. Outro turno ele se estabeleceu para um cochilo de
rejuvenescimento e acabou despertando para encontrá-la
aconchegada contra ele, de alguma forma, não ativando seus
alarmes internos, o que devia tê-lo apavorado, mas em vez disso
arquivou o incidente como apenas outro defeito dentro de si mesmo
que ele precisava verificar.

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Onde quer que estivesse, lá estava ela, e ele sabia que era
apenas uma questão de tempo antes de perder a batalha e se
entregar a ela. Como ela exigia. Honestamente, quanto tempo
poderia lutar contra o fascínio e o desejo de ceder aos impulsos
sexuais que pareciam estar controlando suas faculdades mentais?

Depois de poucos dias, já extenuado com as fugas, ele mal


conseguia se lembrar das razões pelas quais não devia ceder e se
entregar ao prazer que ela prometia. Mas a última coisa que
esperava, era o quão forte reagira quando se deparou com alguém
que queria a mesma coisa que ele se negava. O ciúme, uma emoção
que sabia a definição, sem nunca ter entendido se tornara muito
clara para ele alguns dias depois de sua chegada.

*******
Caçando seu belo Príncipe nerd, pois provocá-lo ficava cada
vez mais divertido, Bonnie se viu abordada no corredor por um
cyborg enorme.

— Ei linda, não gostaria de se juntar a nós para um pouco de


diversão?

Bonnie soltou um suspiro impaciente ao se deparar com o


macho cyborg. Astro era seu nome. Ele trabalhava na sala de
máquinas com o seu companheiro de quarto Ralph. Ela o vira uma
ou duas vezes enquanto caçava Einstein pela nave, mas nunca dera
atenção a ele, apenas o tratara cordialmente, assim como aos
demais tripulantes. Ele, por outro lado, se mostrara interessado
nela. Pela forma como a bloqueou no corredor, parecia que tinha se
decidido a agir.

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Ocorreu a ela colocá-lo em seu lugar, afinal era mestre em
artes marciais, facilmente derrubaria o cyborg inconveniente, mas,
aborrecida e frustrada sexualmente, ela decidiu ver até onde o
sujeito iria.

— Nós? Está sugerindo um ménage à trois?

A unidade cibernética, um cyborg bonito e de músculos


avantajados, sorriu enquanto a olhava de cima a baixo. Ele lambeu
os lábios e assentiu.

— Ralph e eu temos um quarto e podemos juntar as camas,


haverá muito espaço para brincarmos.

Que romântico. Pensou com ironia.

— Eu prefiro algo um pouco mais tradicional.

— Então, vamos revezar. Bem, se você é a cyborg de quem os


soldados humanos comentavam na base, segundo o que eu ouvi,
você costumava lidar com vários no dia.

Maravilha, mesmo depois de anos e no espaço, sua reputação


a precedia. Engraçado como nunca ocorreu a nenhum desses
idiotas que talvez ela não tivesse escolha. Que talvez tivesse
escolhido alguns caminhos por autopreservação ou para proteger
alguém, proteger as que eram mentalmente mais frágeis e que
acabariam por enlouquecer. Os humanos pensavam que por ela não
opor resistência, desejava sexo com eles. Na época, ela não tivera
escolha, agora era diferente.

Ela sabia que poderia chamar Seth ou mesmo o irascível


Aramus, fora dado a ela acesso mental ao computador de bordo, e

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eles ensinariam àqueles cyborgs tolos uma boa lição por a
desrespeitarem daquele modo. Ou ela poderia ensiná-los
pessoalmente.

Então se preparou para mostrar ao soldado bruto como uma


fêmea cyborg merecia ser tratada, mas Einstein surgiu de súbito no
corredor, o rosto com uma máscara de fúria. Emoção tão incomum
quanto sexy nele. Mas nada a preparou para a cena violenta que se
desenrolou a sua frente antes que alguém pudesse dizer uma
palavra.

Crack!!!!

O cyborg que tinha a chamado de vagabunda se chocou na


parede com a força do golpe. Com habilidade espantosa para ela,
quase inacreditável, o seu Príncipe nerd desferira em Astro vários
socos e pontapés destinados a mantê-lo estatelado no chão. Ficou
ali, espantada e excitada, incapaz de intervir diante da fúria em seu
rosto e da luz brilhando em seus olhos.

— Como... — Soco. — Se... — Chute. — Atreve. — Murro. —


A falar com ela dessa maneira — Einstein gritava, pronunciando
cada palavra com distinção. — Não importa o que houve no
passado ou o que ela foi obrigada a fazer para sobreviver, Bonnie é
uma de nós, uma fêmea cyborg, e como tal, deve ser tratada com
respeito!

— Sim, senhor — O cyborg devidamente castigado falou


através dos lábios arrebentados e tentou uma saudação.

Ela mordeu o lábio para não rir. Bem, ela esperara muitas
coisas de Einstein, mas violência e ciúmes...

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Dando as costas ao cyborg, seu Príncipe a estendeu a mão.

— Venha, Bonnie.

Antes que ela pudesse perguntar onde, Einstein agarrou sua


mão e a puxou, seu físico poderoso exalando masculinidade a
provocava um calor na parte inferior do ventre. Cavalheirismo tal,
até então desconhecido para ela, a incendiou de desejo.

— Obrigada — Ela disse quando ele não parecia inclinado a


falar.

— Não me agradeça. Primeiramente você jamais deveria ter


sido submetida a um tratamento tão ofensivo.

— Não é totalmente culpa dele. Eu nunca fiz segredo do uso


militar destinado a mim.

— Isso não é desculpa para tal comportamento. Tal atitude é


indigna de um cyborg. Somos melhores que os humanos. Estamos
acima de tais impulsos.

— Principalmente você.

— O que quer dizer com isso? — Einstein parou


abruptamente e a fitou atento.

Ah pelo amor de Deus. Estava cansada da pretensa inocência


e obtusidade, ela agiu com agressividade. Ele não resistiu quando
ela o empurrou contra a parede do corredor e invadiu seu espaço,
no entanto, ela notou seu ritmo cardíaco acelerado.

— Entenda de uma vez por todas, a atração pelo sexo oposto


é uma coisa natural, não se deve lutar contra isso.

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Seus lábios se estreitaram, a raiva transpareceu em sua
expressão.

— Você está perdoando o comportamento acintoso daquele


imbecil?

— Nada disso. Devo admitir que a proposta dele não foi nada
sutil.

— Sutil? Ele quase a arrastou para se juntar a ele e ao amigo


em uma orgia — A raiva dele era quase palpável.

Ela absorveu a emoção, alimentou-se dela, a indignação pelo


tratamento dado a ela e o cavalheirismo, novo para ela, e
principalmente, o ciúme, apesar de suas alegações, ele defendeu
sua honra, ela reconhecia que sua atitude fora nobre.

Meu Príncipe nerd está um pouco confuso, sem se decidir


se reclama ou não o seu direito sobre mim.

Ok, ela não tomaria a iniciativa.

— Tudo bem, o idiota precisa ter algumas dicas de Seth sobre


como abordar uma garota, mas isso não significa que você tenha
que se bater com cada tripulante a bordo.

— Fiz e farei de novo.

Sua afirmativa decidida provocou um arrepio em sua espinha


que nada tinha a ver com o frio e sim com desejo.

— Certo, talvez você deva fazer de vez em quando, mas, só se


eu não for capaz de lidar com isso sozinha. E antes que você diga
que uma fêmea não pode enfrentar um macho adulto. lembre-se,

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ele não será o primeiro e nem o último macho a sentir o poder do
meu joelho. Qualquer coisa que tenha as joias da família entre as
pernas corre o risco. Creia-me, posso fazê-los se dobrar rapidinho.

— Até mesmo Seth.

Bonnie levantou uma sobrancelha.

— Sim, até mesmo Seth.

— Mas ele sabe como elogiar e agradar uma fêmea.

— Bem, ele tem seu estilo. Quanto a você...

Ela se perguntou se Einstein tinha ideia do quão humano ele


parecia neste momento com as sobrancelhas arqueando em
espanto.

— Eu? Acho que está enganada. Eu sou o último macho a


quem você poderia acusar de flertar.

— Isso diz o macho que me trata tão bem. Quem faz flores de
metal e as deixa sobre meu travesseiro quando acordo. Quem me
deu os próprios aposentos e me ofereceu privacidade. Quem tenta
esconder sua atração por mim, mesmo ela sendo óbvia a todos a
bordo.

— Eu...

— Quem começa a gaguejar deliciosamente quando fica


envergonhado — Ela riu enquanto ele se calava. — Eu sei que você
gosta de mim, Einstein.

— Mas é claro que gosto, assim como gosto de todos os meus


companheiros cyborgs.

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— Bobinho, quero dizer que gosta de mim como um macho
gosta e deseja uma garota — Para provar seu ponto, ela o tocou
intimamente, segurando seu pênis duro e o acariciando por cima da
calça.

Ele ofegou ruidosamente.

— Estou simplesmente reagindo de forma biologicamente


normal por estar sendo tocado por um membro atraente do sexo
oposto.

OH... Mas que tolo, ele ainda tentava negar. Ela sabia
exatamente qual o caminho ideal para calá-lo, ou pelo menos,
torrar alguns de seus circuitos.

— Alguém já disse a você que você analisa demais as coisas?


Tente analisar isso — Ela aproximou a boca da dele, e calmamente
saboreou seus lábios. Oh... Que delicia, foi melhor do que tinha
imaginado. Calor, desejo e excitação corriam em seu corpo de
maneira tumultuada, trazendo vida a todas as suas terminações
nervosas, sentia-se viva, viva como nunca se imaginou sentir
novamente.

Com o assalto sensual de sua boca, os lábios dele se


separaram, e ela aproveitou, deslizando a língua para acariciar a
borda de seus dentes. Ele a acariciou com a língua, timidamente.
Quando ela gemeu, ele se tornou mais ousado, as mãos se
moveram hesitantes da sua cintura e deslizaram para suas
nádegas, agarrando-as e a puxando contra o corpo, a ereção rígida
contra seu ventre.

Ela enterrou os dedos em seus ombros, levantando-se na

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ponta dos pés para obter um ângulo melhor, querendo e precisando
dele para se aproximar. Querendo mais dele. Querendo...

Um assovio e gritos penetraram no doce enlevo do momento.

— Muito bem, Einstein.

O som viera do fim do corredor, Einstein se afastou dela meio


cambaleante. Com os lábios inchados e os cabelos deliciosamente
desgrenhados, ele a olhava com excitação e pânico.

— Eu sinto muito.

— Pelo quê? Sabe, você não foi o único a beijar.

— Eu não tinha o direito de expô-la em público.

— Então, Gostoso, leve-me a algum lugar discreto. Caso não


tenha notado, eu gostei um bocado.

— Mas...

Bonnie não mais ouviria suas desculpas. Estava mais que


disposta a cair na cama com seu Príncipe. Ela sabia muito bem que
não era boa o suficiente para Einstein a longo prazo. Sabia que um
relacionamento entre eles não teria futuro, não com um passado
tão vergonhoso quanto o dela. Mas caramba, ela o queria. Queria,
mesmo que fosse por apenas algumas horas, o que fora obrigada a
fazer, que jamais haveria um “felizes para sempre”. Egoísta ou não,
ela queria Einstein. Agora.

— Basta. Eu juro que se você não voltar comigo para o seu


quarto agora mesmo e me foder, eu vou gritar.

— Por quê?

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— Porque eu estou com um puta tesão. Excitada. Só consigo
pensar nessa necessidade.

— Eu tenho certeza que há outras unidades mais adequadas


e qualificadas para cuidar dessa sua necessidade biológica.

Seus olhos se arregalaram com espanto.

— Você está seriamente sugerindo que eu vá procurar outro?

Ela podia ver a luta dentro dele e isso a fez desejar ser maior
que ele para poder sacudi-lo. Será que ele realmente não
compreendia o fato de que ela queria somente ele e mais ninguém?
Seria inacreditavelmente tão estúpido?

Ele suspirou e os ombros caíram.

— Não. Eu não quero que você procure qualquer outro.

Então, por que ele continuava se recusando, a menos que...

— Seria por causa da minha reputação?

— Do que está falando?

— Oh... Por favor. Você ouviu, Astro. Tenho certeza que já


ouviu os rumores também. Não é que tenho feito disso um segredo.
Eu fui a prostituta dos militares. B-785, a puta cyborg por um bom
tempo.

— Não por escolha própria.

— Mas eu não relutei em aceitar meu destino. Eu não vou


culpá-lo por me rejeitar. Quem haveria de querer uma puta em sua
cama? Você merece alguém bem melhor — Baixou os ombros,

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derrotada pela vergonha e o desânimo, algo que ela, em geral,
mantinha muito enterrada em consciência.

— Eu não me importo com o seu passado. Todo cyborg fez


algo que nos causou ou causará vergonha. Fizemos coisas que
fomos obrigados a fazer. Coisas que queremos e devemos esquecer,
é passado, nada que podemos mudar.

— Então por que não me quer? — Ela o fitou nos olhos e o


viu esfregando a cabeça com a mão.

— Porque estou com medo. Não sou bom quando se trata de


interagir com as pessoas. Eu não sou um sujeito experiente. Eu não
quero desapontá-la.

Que belo par faziam.

— Você jamais poderia me decepcionar.

— Mas...

— Oh, por favor, pare de analisar e apenas venha comigo —


Quando parecia que ele começaria a discutir novamente, ela pegou
sua mão e puxou. — Agora, bonitão.

— Sim, sim, senhora.

Ela olhou para trás para ver um sorriso pálido curvando seus
lábios.

— Você acabou de me chamar de senhora?

— Bem, você é muito mandona.

— Mas uma mandona bonita, certo?

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Seu sorriso se alargou.

—Muito.

Seu sorriso radiante aqueceu-a da cabeça aos pés.

— Bem, então, já que você gosta de receber ordens, bonitão,


de mulheres mandonas, eu exijo que você me leve ao quarto para
fazer sexo comigo — Quando pensou que ele iria argumentar, ela o
cortou. — Nem pense em discutir ou eu vou atacá-lo aqui mesmo
no corredor.

Ele fechou a boca, e não se afastou dela quando o puxou na


direção de seu quarto. Ao contrário, acelerou seus passos, até
praticamente correr até alcançarem a privacidade de seus
aposentos.

Assim que a porta se fechou voltou seu nervosismo. Mas ela


sabia como resolver isso. Abraçou-o, pressionando seu corpo ao
dele, o tomou a boca em um beijo agressivo, que não deixava
espaço para conversas, pensamentos, ou dúvidas. Ela só deu a ele
uma escolha, paixão. A necessidade explosiva. Uma tensão que logo
os deixou ofegantes e se esfregando um ao outro. Suas mãos
agarrando e acariciando através das roupas até que de repente os
irritou.

— Dispa-me — Ela murmurou contra sua boca.

— Você tem certeza?

— Agora, gostosão — Ela imprimira um pouco mais de


persuasão em suas palavras.

— Sim, senhora.

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Oh, como sua voz soava tão sensual. Com mãos um pouco
trêmulas, ele tirou o macacão que ela havia modificado para se
ajustar ao seu corpo até ficar nua, isto sem interromper o beijo. Ela
não perdeu tempo pressionando seu corpo quente contra o dele
ainda vestido.

— Toque-me, gostosão.

Hesitante a princípio, seus dedos frios deslizaram pela pele


de suas costas até alcançar a parte superior de suas nádegas, em
seguida, com uma rapidez que arrancou um suspiro dela, ele
espalmou as curvas carnudas, puxando-a com força contra ele. De
um momento ao outro, passou de uma fêmea agressiva e atrevida,
para um feixe de nervos gritando de necessidade.

Ela libertou seu macho interior, apaixonado e faminto, que de


repente deslizava as mãos em todos os lugares, acariciando sua
pele de uma maneira que nunca imaginou sentir novamente.
Quando ele segurou seus seios, pela primeira vez, ela arrancou sua
boca da dele, sua cabeça pendeu para trás e um longo gemido
escapou dela.

— Sim — Assobiou. — Isso. Toque-os. Chupe-os...

Ele obedeceu com uma fome voraz, sua boca travou sobre os
mamilos, mordiscando-os. O puxão voraz nos seios latejantes
provocou uma nova onda de prazer em sua vulva já úmida.

Porra, como ela ansiava por ele. Ela alcançou o cinto de suas
calças entre seus corpos, ansiosa por tocá-lo intimamente. Seu
membro pulou em sua mão, o pênis duro e grosso. Os quadris se
sacudiram enquanto acariciava o comprimento e seu peito soltou

121
um gemido incoerente.

— Você gosta disso? — Ela perguntou em voz rouca.

Ele não conseguiu responder, se escorou a parede, enquanto


seu quadril balançava para frente e para trás entre os dedos que o
apertavam. Uma onda quente o engolfou, depois outra. Com um
grito rouco, ele gozou, o sêmen quente derramando em sua mão e
batendo com força em seu ventre.

Bonnie soltou um risinho satisfeito, mas ele congelou, ela


levantou o rosto e o viu fitá-la horrorizado.

— O que há de errado, bonitão? — Assim que disse isso, ela


entendeu a situação. Ele era um macho, e gozou antes dela. Não
importando o fato de quanto tempo se abstivera do alívio
necessário, para machos; humanos ou cyborgs havia essa noção de
que a fêmea sempre devia gozar primeiro.

Ela, por outro lado, estava feliz que ele tivesse encontrado
alívio. Assim duraria mais tempo o interlúdio principal.

— Eu sinto muito — Ele sussurrou, confirmando sua


suposição.

— Pelo quê? Por me mostrar o quanto eu te excito? — Ela deu


um sorriu largo. — Sinto-me tremendamente lisonjeada, meu
gostosão.

— Mas eu não dei prazer a você. Eu falhei.

— Hei! Você está achando que já terminamos, meu amor...


Esse é só o começo.

122
Ele a olhou incisivamente.

Um riso feliz lhe escapou.

— Ah, bonitão! Vou me divertir um bocado dando a você


algumas lições. — A começar de agora. Ajoelhando-se em frente a
ele, fitou seu pênis. Ele ofegou ao sentir primeira lambida da ponta
do membro.

— O que está fazendo? — Disse ele em um sussurro.

Abstendo-se de responder, ela o mostrou, e sorte a dele, que


aprendia rápido.

*******
Einstein não conteve a ejaculação. Ele tentou se segurar, mas
por estar a tanto tempo reprimido sexualmente, e ter Bonnie ali tão
quente e ofegante se pressionando contra ele, com a mão pequena
segurando-o tão deliciosamente, perdeu a batalha.

Oh, a vergonha. O horror, e o prazer mais intenso que já


experimentara rapidamente se transformando em humilhação. Até
mesmo ele sabia que um macho devia dar prazer à fêmea antes de
si. E ele falhou. Falhou miseravelmente. Foi o suficiente para fazê-lo
querer a autodestruição. Ou pelo menos se desligar para não ter de
enfrentá-la.

Mas Bonnie, sua doce Princesa, ou assim ele pensava nela


agora, não que ele fizesse a loucura de dizer isso em voz alta, o
perdoou, até parecia satisfeita com sua falta de controle. Para sua
surpresa, ela encarou seu ato egoísta como um elogio e depois

123
passou a agradecer a ele, caindo de joelhos e mostrando
exatamente a razão dos demais cyborgs reverenciarem as alegrias
até instantes atrás e mistérios de um boquete.

Por todos os circuitos em sua cabeça, quase todos os nanobot


em seu corpo entraram em curto, quando sua boca quente segurou
seu pênis em uma sucção apertada. Ilógico ou não, a sensação da
boca trabalhando de cima para baixo o comprimento do seu
membro, foi incrivelmente boa. Melhor do que bom, era...
Indescritível. Perfeita. Deliciosa.

E como tinha prometido, eles estavam longe de terminar. Seu


pênis voltou maior e mais difícil do que antes. Seu desejo rugia
através dele como uma corrente elétrica que tornava todos os seus
sentidos orgânicos vivos, mas desta vez, ele manteve mais controle
e se lembrou de algumas das coisas que tinha aprendido sobre
sexo.

No entanto, nada o preparara para algo tão fantástico. Ah,


mas precisava ampliar a experiência, ir mais a fundo. Colocar em
prática o que ouvira e lera nos arquivos. Em outras palavras,
Einstein queria experimentar por si mesmo, em nome de pesquisa,
é claro.

Oh, a quem queria enganar? Ele tinha fome, uma fome nada
lógica, estava faminto por ela.

Bem, agora saciaria sua fome de uma maneira ou outra,


soltou seu pênis da boca quente e úmida, e puxou Bonnie para
cima. Seus olhos brilhantes o questionaram e seus lábios carnudos
abertos para falar, mas ele não esperou para ouvir. Caiu de joelhos,
como ela tinha feito, espalhou seus lábios vaginais com os dedos

124
quentes para expor o cerne escondido ali. Então passou a usar seu
conhecimento no assunto para dar a ela prazer.

— Ai, gostosão — Ela suspirou a primeira lambida, mas foi à


última coisa coerente que ele ouvia dela. Einstein se banqueteou
nela. Lamber, chupar e explorar sua vulva era alucinante, ele não
podia acreditar que tinha se negado esse prazer por tanto tempo.
Seu gosto era tão requintado. Suas reações às carícias o
fascinavam. Quão incrivelmente erótico e estimulante se provou a
acariciar sua carne com a boca. Ela puxava o cabelo dele,
encorajando-o, e ele se fez mais ousado, sondando seu sexo com a
língua. Mas não foi o suficiente. Ele inseriu um dedo e ficou
chocado com o calor dela. A umidade. A força com que os músculos
de seu canal o agarraram. Ele se perguntou qual seria a sensação
de afundar seu membro no refúgio de seu sexo, para tê-lo apertado.

Parecia que ela também queria saber, quando disse


suspirando: — Possua-me. Penetre-me com seu pênis grande,
gostosão. Eu quero sentir você todo dentro de mim.

Isso o fez agir sem hesitar. Levantou-se, e só precisou alinhar


seu membro rígido em sua entrada. Ela passou as pernas em volta
de sua cintura, puxando seu membro inchado para seu interior, a
ponta dura forçando a entrada. Einstein se conteve, desejava
penetrá-la com voracidade e ímpeto, mas receava a causar
desconforto. Quisera levar as coisas mais devagar, no entanto, ao
envolvê-lo com as pernas e obrigá-lo a penetrá-la de uma vez em
toda sua longitude, fora divino.

Oh... Meu... Deus...

Ele nunca acreditou em uma divindade ou paraíso até aquele

125
momento. Mil sensações explodiram bombardeando seus sentidos,
já sobrecarregados. Absorvido pelo prazer, seu corpo, no entanto,
entendia o que precisava e o que ela queria. Para dentro e para fora,
cada impulso fazendo seus músculos se apertar em torno dele,
aumentando a felicidade, construindo a escada que levaria ao
prazer absoluto.

Ela começou a gemer: — Sim! Sim! Mais forte, gostosão. Mais


rápido.

Ele a obedecia, aumentando seu ritmo, bombeamento fundo


quando ela se agarrou a seus ombros até soluçar seu nome e
explodiu com um grito de vários decibéis.

A onda convulsiva que atravessou seu corpo quando ela


gozou o carregou em seu rastro. Seu pênis ainda pulsava depois de
explodir dentro dela, juntando-se a ela em êxtase.

Os dois estavam ofegantes e suando, seus corpos


intimamente ligados. Pela primeira vez desde que tomou
consciência do que o transformaram, Einstein sentiu-se realmente
vivo. Ele abraçou Bonnie e descansou a cabeça no topo da cabeça
dela. Ele fechou os olhos enquanto se deleitava com a sensação.

Agora ele entendia por que tantos de seus irmãos gostavam


de sexo. Por que alguns de seus irmãos optaram por se relacionar
permanentemente com uma fêmea, mesmo sendo humana. Agora
entendia por que canções e histórias de amor e romance existiam.

Ele nem sequer encontrava palavras para explicar ou


expressar os sentimentos tumultuados que passavam em sua
mente. E como sempre, Bonnie, resumiu bem.

126
— Uau, isso foi muito divertido.

Einstein riu e em poucas palavras concordou.

— Sim, foi.

— Quer fazer isso de novo?

Sem hesitar e mais do que disposto. Repetiu o ato várias


vezes.

127
Capítulo Oito

Depois de passar uma noite nos braços de Bonnie, Einstein


revisou sua posição sobre sexo. Na verdade, ele praticamente
apagou todas as suas suposições errôneas anteriores. O sexo era
fantástico. Incrível. Totalmente necessário e viciante. Ele tinha
perdido a conta do número de vezes que ele e Bonnie repetiram o
espetáculo.

Ok, não foi bem assim, ele tinha ejaculado quatro vezes
enquanto ela chegou ao orgasmo seis vezes, tendo a vantagem de
rápida regeneração.

E agora com a abstinência resolvida, ele finalmente se sentia


à vontade consigo mesmo novamente. Mais no controle. Relaxado.
Só não contava que seus amigos notariam.

Olhando para cima de seu console, Seth disse um breve Olá,


antes de olhar para baixo novamente. Quase um segundo se passou
antes que levantasse a cabeça e seus olhos se arregalaram.

— Puta merda. Eu não acredito. Einstein, você finalmente


conseguiu.

— Conseguiu o quê? — Aramus perguntou distraidamente


enquanto se debruçou sobre alguns dados.

— Veja a expressão dele, parece um gato que finalmente


comeu o pássaro. Muito bem, cara — Seth levantou a mão para
uma saudação, que Einstein ignorou totalmente, mas não pode

128
controlar o rubor em suas bochechas.

Sua satisfação era assim tão evidente?

Aparentemente sim, Aramus o olhou e resmungou: — Já era


tempo. Talvez agora você possa se concentrar um pouco no
trabalho.

Será que Aramus estava acusando-o de trabalhar mal?

— O que quer dizer com isso? — Indignado, Einstein deslizou


em seu assento e leu os dados nos quais Aramus se concentrava.
Ele notou o erro de imediato e quis gemer por sua incapacidade
mental nos últimos dias. — Eu sinto muito. Eu deveria ter notado
isso.

— Tenho certeza de que isso não ocorreria se você colocasse a


cabeça em seu trabalho em vez de enterrá-la entre as pernas de
uma fêmea.

— Não deveríamos estar falando sobre minha privacidade —


Einstein gaguejou. — Há coisas mais importantes a tratar.

— Tudo bem, cara. Você pode me dar os detalhes mais tarde,


a menos que tenha gravado a brincadeira? — Ao ver o brilho
perigoso no olhar de Einstein, Seth suspirou. — Você ainda é um
sujeito sem graça. Então, além de satisfazê-lo sexualmente, ela terá
de mudar esse seu mau humor — Seth declarou, inclinando-se
para olhar a tela.

— De acordo com estas leituras, há alguma atividade no


sétimo asteroide circulando o sol deste sistema planetário.

— É o mesmo asteroide em que estamos extraindo minérios

129
nesse setor?

— Não. Mas estamos perto dele.

— Acha que detectou atividades de alguma de nossas equipes


de exploração?

— Nenhuma que esteja autorizada e não havia atividade


alguma na última vez em que passamos por aqui — Aramus
acrescentou.

— O que você acha? — Seth perguntou.

— Podem ser piratas — Einstein refletiu. — Eles estão


sempre mudando suas bases para se manter fora do alcance das
autoridades espaciais. E a fonte destes minerais na superfície do
asteroide pode tentá-los se estão dispostos há trabalhar um pouco.

— Muito improvável. Os contrabandistas que conheço


preferem roubar a ter de trabalhar para conseguir algo. Talvez
alguma empresa de mineração humana tenha decidido explorá-lo?

— Ou pode ser uma base militar secreta — Anunciou Aramus


com um brilho predatório nos olhos. — Seja o que for, devemos dar
uma olhada.

— Você está esquecendo-se de algo — Einstein disse.

Um gemido raivoso saiu de Aramus.

— Mas que merda, novamente uma fêmea estúpida vem


arruinar minha diversão.

— Temos ordens e objetivos a cumprir — Einstein o lembrou,


as ordens de Joe eram claras. Nada de correr riscos ao ter fêmeas

130
cyborgs a bordo.

— Seja lá o que for, teremos de checar na próxima vez que


passarmos por este quadrante.

— Deveremos checar o quê? — O surgimento súbito de


Bonnie trouxe um sorriso aos lábios de Einstein.

Parecia ter saído do banho e estava mais bela do que nunca,


ela passeava pela ponte de comando bem à vontade e estatelou-se
em seu colo como se ele lhe pertencesse. E depois da noite de
ontem, no que dizia respeito a Einstein, estava totalmente correta.
É claro que sua exibição pública significava ter que ignorar o
rosnado feroz de Aramus e a gargalhada de Seth, mas seu corpo
curvilíneo tornou a tarefa fácil.

— Bom dia, Bonnie.

Um sorriso curvou seus lábios.

— É definitivamente um lindo dia, bonitão. Espero que não se


importe com minha visitinha.

— E temos uma escolha? — Aramus resmungou. — Não é


como se alguém escutasse o que eu digo.

— Vamos, Aramus! Admita, você adora me ter por perto.

— Sim, como um parafuso enferrujado sob a minha pele.

Einstein escondeu um sorriso enquanto ouvia a discussão


dos dois. Nos últimos dias, Bonnie parecia gostar de provocar
Aramus e levá-lo a loucura. Seth também pareceu notar isso e se
juntava a ela na brincadeira, e por mais incrível que parecesse,

131
apesar dos berros e resmungos, Einstein suspeitava de que Aramus
apreciava as provocações.

— Hei crianças, vamos parar com isso — Seth os repreendeu,


seu tom carregado de bom humor. — Este não é o momento para
provocações infantis. Guardem para mais tarde. Temos um assunto
sério a resolver.

— Sério! Aconteceu alguma coisa? — Bonnie perguntou, a


expressão se tornando séria.

Einstein respondeu: — Captamos algumas leituras suspeitas


em um asteroide perto de nosso destino. Mas arranjaremos outra
nave para verificar isso.

— Mas parece divertido. Por que esperar?

— Temos ordens de evitar qualquer complicação.

— Então vão ignorar? E se não houver mais nada lá quando


outra nave cyborg for investigar? E se for algo importante, vital para
nossa sobrevivência?

— Ela pode ter razão — Aramus resmungou.

— Pode ser perigoso — Einstein apontou.

— Por quê? Talvez não haja necessidade de um confronto.

— Não sabemos o que pode acontecer. Pode não ser nada.

— Então, por que ignorar? — Einstein deu a ela um olhar


penetrante. — Ah... — Bonnie entendeu a relutância dele e franziu
a testa. — Bem, isso é tolice. Você pode ir até lá e fingir que ainda
não estou a bordo. Certamente não haveria nada de errado se

132
déssemos uma olhada mais de perto.

— Isso me dá dor nas juntas, mas ela está certa — Aramus


respondeu lentamente. — Se formos cuidadosos, podemos chegar
mais perto e ter uma ideia do que está acontecendo lá. Nossa nave
está equipada com a mais avançada tecnologia no que se refere à
camuflagem, certamente não seremos detectados.

— Sem contar que Einstein finalmente poderá testar sua


própria versão de um sistema de camuflagem — Seth os
interrompeu. — Esse cara é um gênio.

— Não é verdade — Einstein só gostava de mexer com as


coisas, até que saísse o que ele queria.

— Ele é tão modesto.

— É, já deu para notar — Bonnie respondeu com uma


pequena risada. — Se não corremos o risco de sermos descobertos,
qual o problema? Eu digo que devemos dar uma olhada.

— Joe não vai gostar.

— Joe não está aqui.

— E nós poderíamos confiscar esses minerais.

Bonnie bateu palmas.

— Está decidido então. O que posso fazer para ajudar?

— Você? Ajudar? — Aramus riu, o desprezo por suas


habilidades bélicas, mais que evidente.

Einstein lançou ao amigo um olhar irritado.

133
— Por que você não a deixa nos dizer o que pode fazer antes
de fazer troça dela?

— Será que o Senhor Cérebro ficou irritado?

— Vamos ver quem vai ficar irritado quando eu reprogramar


um certo cyborg para fazer a dança da galinha. Ouvi dizer que foi
muito popular na terra.

Os olhos do cyborg enorme se estreitaram.

— Você não ousaria.

— Continue a tratá-la dessa maneira e você verá — Einstein


retrucou.

Por alguma razão, Seth achou a ameaça imensamente


engraçada e não conseguia parar de rir.

Para seu crédito, Bonnie não riu, mas se contorceu inquieta.

— Rapazes, não há necessidade de serem desagradáveis um


com o outro. Aramus, com a sua delicadeza usual apenas fez uma
pergunta válida. Eu realmente nunca disse a vocês o que sou capaz
de fazer.

— Além de distrair minha tripulação.

— Isso, meu caro, é um talento natural — Ela respondeu. —


Mas tenho a capacidade de analisar e decodificar sistemas de
comunicações. Nenhuma mensagem codificada passará por mim
sem que eu descubra seu conteúdo.

— Merda!

134
Einstein levantou o dedo médio ao seu comandante
dispensando o palavrão, Seth agora gargalhava, provavelmente por
não ser o alvo do gracejo. No entanto, capitão ou não da nave,
Einstein não gostou da forma como Aramus depreciara as
habilidades de Bonnie, mesmo sendo encorajado pelo humor
cáustico dela. Como seu Príncipe, ele estava ali para protegê-la.

Nossa, desde quando ele sucumbira à ideia do conto de fadas


que ela inventara? Provavelmente desde o momento que apreciara
ser o Príncipe idealizado por ela. Ele jamais pretendera bancar o
herói de alguém antes.

— Viu só, Senhor Mal Humorado. É verdade. Dentro deste


corpinho bonito esconde-se o maior decifrador de códigos que os
militares puderam criar. Eles programaram meu córtex interno
antes de perceber o efeito que teria em minha programação. Os
cientistas não contaram com o efeito dominó desta programação,
suas tentativas de me controlar reprogramando meu BCI falharam
repetidamente. Minha mente desvendava os códigos e ignorava a
reprogramação.

— Uauuu! — Seth pronunciou a exclamação com reverência.


— Gostaria de ter tido tal programação. Isso viria bem a calhar em
algumas missões ou quando tento fazer as palavras cruzadas do
Times de domingo.

— E eu aqui pensando que você baixava o jornal para ver os


desenhos em quadrinhos.

— Ai! — Seth respondeu, rindo ainda mais.

— Qual é a sua taxa de sucesso com as codificações de longo

135
alcance?

— Não sei. Nunca me deram acesso aos satélites mais


avançados. Eu não era confiável, me consideravam uma possível
ameaça à segurança. E estavam certos.

Einstein não pode deixar de sorrir ao ver sua expressão de


prazer.

— Bem, não sabemos ainda se teremos de interceptar


qualquer comunicação. No entanto, sabendo que temos essa
vantagem, isso pode vir a calhar. Eu tenho um pouco de
conhecimento nessa área, mas admito que meu interesse seja mais
científico.

— Se vocês acabarão com a troca de elogios, que tal


voltarmos ao asteroide? — Aramus os interrompeu. — Se forem
piratas, então será mais interessante atacarmos.

— Opa! Vamos nos divertir — Seth praticamente saltou em


seu assento.

— Ou pode não ser nada — Einstein os avisou. — Não seria a


primeira vez que pegamos sinais ricocheteando em sistemas
planetários, fazendo parecer como se algo estranho estivesse lá.

— Por que ninguém menciona a possibilidade de alienígenas?


— Bonnie perguntou com inocência, Einstein achou tão
engraçadinho, mas ilógico.

— A chance de encontrarmos vida inteligente é astronômica.


Considerando o quão longe já exploramos essa parte da Galáxia e a
tecnologia que temos acesso, se houvesse outras formas de vida,

136
teríamos detectado algum sinal.

Ela fez uma careta de decepção.

— Que pena. Então estamos limitados a piratas, mineiros, ou


vibração espacial.

— Poderia ser os militares também. Por que você não sai e dá


uma voltinha por ai enquanto tratamos disso?

— Mas Gostosão...

— Perdão, pombinhos, mas como capitão, eu decido o que


faremos — Aramus interrompeu.

— Então o que faremos, Oh Poderoso Comandante? —


Bonnie se virou no colo de Einstein e bateu os cílios para Aramus.
Einstein abafou um riso, assim como Seth. — Se forem os
desgraçados podem mandar um pacote com todo tipo de explosivos
saborosos dentro embrulhados em papel de presente e amarrado
com um grande laço vermelho?

Mesmo seu líder rude não poderia dizer não a ideia.

— Tudo bem. Você pode ficar. Mas não fique no caminho. E


nada de beijos e abraços escandalosos na minha ponte, não é seu
quarto, fui claro?

— Obrigado — Ela gritou, pulando para cima e dando a


Aramus uma saudação atrevida. — Vou ser boazinha. Prometo.
Além disso, eu preciso me recuperar da noite passada. Quem diria
que dividiria a cama com um macho insaciável.

Einstein baixou a testa, batendo-a no console e gemendo ao

137
ouvir suas palavras, fez o possível para ignorar o riso e se
concentrar em suas tarefas, mas por dentro, ele sorriu. Cyborg ou
não, a parte humana dele adorou o elogio e mal podia esperar para
repetir o desempenho. Mas primeiro, tinham um asteroide para
verificar.

Diminuindo a velocidade, a fim de ter energia suficiente para


a camuflagem e encobrir os sinais de aproximação do asteroide, a
nave oscilou ao se aproximar. A grande rocha, com menos de dois
quilômetros de diâmetro, girava em uma órbita estável ao redor da
estrela de grandes proporções. Análises iniciais não mostraram
nada interessante. Os metais sob a superfície de baixa densidade,
não valia o esforço. Descartou a ideia de uma instalação de
mineração. E ele também vetou a teoria dos sinais ricocheteando,
um sinal de baixo nível emana do interior do asteroide e tornava-se
mais distinto.

— É definitivamente comunicação humana — Einstein


anunciou quando conseguiu limpar a estática que abafava a
frequência. — As análises mostram menos de um ponto zero, zero,
três chances de que seja de natureza militar, parece uma conversa
pessoal...

— Piratas — Seth se animou. — Por favor, diga que podemos


atacar. Eu adoraria um pouco de diversão.

Tamborilando os dedos no braço da cadeira, Aramus não


respondeu de imediato. Suas sobrancelhas se uniram.

— Eu não sei. Isso não faz parte do itinerário da nossa


missão.

138
— Mas poderia render um saque legal.

— Pode haver complicações — Aramus riu e se explicou. —


Ok, Eles é que estariam em uma situação complicada. Mas você
sabe o que Joe dirá quando souber que uma das fêmeas estava a
bordo.

Einstein sabia e concordava. Fêmea cyborg era uma raridade,


não deviam fazer nada que comprometesse a segurança delas.
Ainda assim, um punhado de piratas não teriam chances contra
um esquadrão de cyborgs.

— O quê? Você está pensando em cancelar a brincadeira por


minha causa? Isso é ridículo — Bonnie não se preocupou em
amenizar suas palavras.

— Eu sei. Especialmente se você estiver longe da ação.

— Mas isso não é justo. Se você vai brincar, eu também


quero —Seu lábio inferior sobressaía.

Einstein foi mais veemente:

— Não!

Mas ele não estava sozinho. Aramus balançou a cabeça.

— Desculpe, UPNS. Se eu concordar com um ataque, então


você vai ficar aqui onde é seguro. Não serei eu a dizer a Chloe que
deixei sua irmã morrer por não ter sido consciente de minhas
responsabilidades.

— Sem mencionar o que Joe fará a nós se fizermos Chloe


chorar — Seth estremeceu. — O cara fica irracional quando se trata

139
de sua companheira.

Um sentimento que agora Einstein podia entender melhor.


Até que ponto chegaria para mantê-la segura?

— Vocês não são nada divertidos — Ela fez beicinho.

— Ajudaria se nós dissemos que traremos um presentinho na


volta? — Seth ofereceu.

— É melhor que seja uma barra de chocolate. Estou


morrendo de vontade de comer desde que acordei.

— Verei o que posso fazer — eEe prometeu.

Einstein lançou a Seth um olhar sombrio, mas se controlou


antes que ele dissesse algo ilógico e ciumento, tal como: Se alguém
a trará um presente, serei eu. Ou melhor. Encontrarei
chocolate ou qualquer doce primeiro. E se preciso fosse
roubaria de Seth e o apresentaria como prova de afeto.

Os preparativos para o ataque não demandou muito tempo.


Eles haviam estado em tantas missões que conheciam os
procedimentos de cor. Porém, para Bonnie era a primeira vez.
Pouco antes de embarcar na pequena nave de transporte que os
levaria a superfície do asteroide, juntamente com outros membros
da tripulação, ela jogou os braços ao redor de seu pescoço e o
abraçou apertado.

Em seu ouvido, ela sussurrou: — Por favor, tome cuidado e


volte para mim são e salvo. Eu não poderia suportar perder você
agora.

O que devo dizer a uma fêmea se quer mantê-la

140
tranquila e despreocupada?

— Nossa probabilidade de sucesso é de 97%.

Sua estatística a fez sua rir nervosa.

— Oh, Gostosão. Você diz as coisas mais sem sentido, mas


gosto tanto de você.

Ela selou a declaração com um beijo que deixou seus lábios


formigando. Confuso, ele assumiu seu lugar na pequena nave e
ignorou as piadas de sua unidade.

Ela disse que gosta de mim.

E, apesar de sua teoria de que as emoções são apenas um


desequilíbrio biológico, ele não podia negar:

Maravilhoso, porque também gosto dela.

141
Capítulo Nove

Foi banida da ação. Entediada, Bonnie passou as pernas


sobre o braço da cadeira de comando e ignorou o olhar malicioso de
Aphelion que fora deixado para trás para cuidar da nave e
monitorar a pequena refrega... E também bancar a baba dela.

— Eles já saíram de lá? — Perguntou, enrolando uma mecha


de cabelo.

— Não.

— Você nem mesmo verificou.

— Por que você perguntou a mesma coisa há três minutos e


quinze segundos atrás. E a resposta é a mesma.

— Você sabe, para um cara com um nome legal, você é um


bocado grosso.

— Exercícios constantes no ginásio ajudam a manter a


musculatura posterior.

Grande. Outro cyborg que levou tudo ao pé da letra. No


entanto, ao contrário de Einstein, ela não achou nada encantador
no brutamonte. Estava longe apenas por uma hora e já sentia falta
de Einstein, aquilo não parecia nada bom. Sim, ela foi atrás dele,
determinada a levá-lo para a cama. Principalmente por ter
apreciado o desafio que ele representava. Quanto mais ele resistia,
mais ela queria tê-lo.

142
Por alguma razão, ele a atraia. Algo nele a excitava ao
máximo. Os sorrisos tímidos. A maneira cortês. Inteligência.
Aparência. Seu corpo forte e seu jeito carinhoso. Não havia uma
maldita coisa nele da qual não gostava. E quando ela finalmente o
conseguiu bem onde queria... Entre suas coxas, fazendo-a gritar e
explodir de prazer. Ah... O arrebatamento, puro orgasmo. Um
desastre absoluto.

Já podia dizer que ele estava se apegando a ela. Gostava dela.


Ah... Como ela gostava dele. Muito. Mas apesar de dizer que seu
passado não o importava, ela entendia. Claro, dissera que o fato de
ter sido a puta dos militares não o incomodava, mas um cara como
ele merecia algo melhor que ela. Ele era muito bom e gentil para
acabar com uma puta com uma reputação que jamais esqueceriam
muito menos ela. No entanto, Bonnie, sentia-se egoísta, ainda
queria “o felizes para sempre”.

Não posso deixar de querer o meu Príncipe Encantado.

E, por enquanto, ela o teria. Ao menos teria mais algumas


semanas para aproveitar antes que chegassem ao Planeta Cyborg e
tinha a intenção de tirar o máximo da oportunidade. Para passar
mais algum tempo com seu príncipe nerd. Para lhe despertar a
confiança que sabia existir em seu interior, para que quando tudo
terminasse, e finalmente se afastasse, ele pudesse encontrar a
garota certa para sossegar. Alguém que não o constrangesse com o
seu passado. Quanto a ela... Bem, ela agiria como sempre. Engoliria
sua dor e seguiria em frente. Pelo menos não estaria sozinha. Chloe
estaria lá. Não que ela pretende se apoiar muito em sua irmã. Chloe
não precisava dela para complicar as coisas, não quando finalmente
encontrou o amor que merecia.

143
Doeu ao pensar em fazer a coisa certa. Não é de admirar que
a maioria das pessoas tomasse o caminho mais fácil. Ser boazinha,
como todos esperam.

Ela suspirou e tamborilou com os dedos no braço, sacudindo


interruptores e para frente e para trás.

— Aramus não gosta que toquem os controles — Afirmou


Aphelion pela milionésima vez.

— Aramus pode beijar minha bunda. Você e eu sabemos que


ele bloqueou os controles em seu assento antes de sair. O grandão
sabia que eu estaria sentada aqui. E quem não gostaria? Esses
assentos são confortáveis.

— Conforto não é um requisito quando estamos em missão.

A careta de aborrecimento enrolou seus lábios.

— Talvez não, mas com certeza ajudaria os que ficam para


trás. Eu não entendo. Por que está levando tanto tempo? Eu pensei
que seria um ataque rápido.

— Sossegue, estão fora há menos de uma hora. Não é como


se eles pudessem entrar pelas portas da frente. De acordo com o
plano, devem entrar pelo lado mais distante do asteroide há trinta
minutos atrás.

— Então deve ter acontecido algo errado. Não podemos


executar uma varredura na superfície e sabermos sua posição? —
Especialmente a posição de seu Príncipe.

— O protocolo...

144
— Ah você pode enfiar seu protocolo no rabo Estou
preocupada. Você morreria se tivesse um pouco de compaixão?
Sabe, aquela emoção humana, que permite que se sinta empatia
por outro ser ciente que esta ansioso, quando alguém que o
interessa está fazendo algo perigoso.

Sem mim.

Aphelion pareceu ponderar suas palavras, porque sua


resposta surgiu em um tom mais suave, menos formal.

— Tenho certeza de que estão bem. Tomaram todas as


precauções. Eles até estão usando vestes antigravidade para reduzir
o estresse em seus corpos.

— Você realmente acha que está tudo bem?

— Eu sei que estão — Afirmou com certeza. — Só


precisamos...

— Eu sei — Ela suspirou. Paciência, era algo que tinha muito


pouco enquanto fora completamente humana e agora como cyborg
se tornara inexistente. — Sabe que eu sempre pensei que uma
missão fosse bem mais emocionante do que isso. Nos filmes, os
heróis atravessavam a porta principal, explodiam tudo em seu
caminho, matavam todos os bandidos, pegavam o tesouro e davam
o fora com a mocinha.

Aphelion bufou, suas palavras finalmente desencadeando


uma reação humana.

— Na vida real, as chances de sucesso em um plano desse


tipo são pequenas. Sem mencionar o dano desnecessário que

145
causariam. Missões executadas corretamente causam menos danos
e vítimas. Empregar violência desnecessária é inaceitável para
cyborgs.

— Eu ainda não sei por que levaram Einstein com eles. Eu


pensei que ele fosse o cérebro da operação. Ele não deveria estar
aqui, sabe, fazendo coisas inteligentes com os computadores como
burlar o sistema de vigilância e alterar o funcionamento dos
computadores, tais como travar as armas, portas ou elevadores,
algo assim?

— Seu conhecimento prático de missões é terrível. Sugiro a


você que pare de ver filmes humanos que apenas enaltecem a
violência e analise algo como o livro A Arte da Guerra.

— Alguém já te disse que você é um desmancha prazeres?

— Mas você é incrivelmente desinformada considerando o


fato de que é uma cyborg.

— Acho que acabou de me insultar, Aphelion.

— Peço desculpas. Não foi minha intenção.

— Não se desculpe. Eu perguntei a ele, e adivinhe a resposta?


Afundando na lama ou não, acho que estou querendo te
impressionar.

— Ele gosta de você. Vi isso enquanto ele batia em mim,


nunca o vi tão zangado quanto naquele momento.

Ela suspirou feliz.

Sim, acho que ele gosta um pouquinho de mim.

146
— Ele estava tão bonito... Tão fofo enquanto batia em você.

A única resposta que recebeu mais parecia um grunhido, ele


merecera a surra por ter sido tão desagradável.

Vencido, Aphelion voltou a observar seu console e ela


continuou a esperar por qualquer ação.

Apesar de seu tédio, Bonnie não se afastou da área principal


de controle, não querendo perder nada, especialmente alguma ação
que trouxesse risco aos cyborgs na superfície do asteroide.

Ela cochilou, seu BCI se desligou para economizar energia,


mas seus sentidos permaneceram em alerta, quando ouviu
Aphelion se remexer em seu assento e murmurar: — Bem, isso é
estranho.

Ela se endireitou, e perguntou: — O que foi?

— Toda a comunicação de superfície no asteroide cessou.

— Você tem certeza, verificou todas as frequências?

— Foi à primeira coisa que verifiquei. Não há nada em


qualquer uma das faixas.

— Deixe-me ver — Bonnie pulou e olhou por cima do ombro


do cyborg, franzindo a testa. — Isso é estranho. Você acha que os
piratas descobriram nossa equipe de superfície?

— Se isso tivesse ocorrido haveria um aumento significativo


nas comunicações e não esse silêncio súbito.

Enquanto Aphelion ampliava o alcance de monitoramento,


Bonnie se dirigiu a outro console levantando mais dados,

147
ampliando as frequências e incluindo não apenas os sinais que
emanavam ao redor do asteroide, mas analisando as frequências de
outros asteroides próximos. Nada surgiu, no entanto, uma
sensação inquietante e totalmente humana a dominou e não pode
ignorar, algo ali não fazia sentido. Ilógico, seu BCI alertou.

Talvez os piratas estivessem com problemas nas


comunicações, um gerador pode ter pifado. Aquilo parecia uma
explicação válida. Mas seus instintos gritavam que havia algo
errado.

Einstein está em perigo.

— Você pode me passar à gravação das conversas das


últimas horas — Perguntou sentando-se no assento ao lado de
Aphelion.

— Claro. Mas não há nada lá. Apenas conversa maçante


sobre o café da manhã e a troca de favores sexuais entre eles. Tudo
normal.

— Não faz mal dar uma olhada novamente — Colocou os


fones nos ouvidos, fechou os olhos para se concentrar melhor na
conversa em modo acelerado. Dividindo-as em correntes distintas,
ela ordenou a seu BCI que analisasse a comunicação
aparentemente inócua. Na terceira passagem, ela pegou o padrão.
Abrindo os olhos, ela gritou: — Puta merda. É uma armadilha!

— O quê? Como pode dizer isso? Não há nada indicando uma


situação como essa — Aphelion não se preocupou em esconder seu
ceticismo.

— Não há nada acontecendo na superfície do asteroide e

148
abaixo dela? E nos túneis, eles estão lá.

— Eles quem?

— Não são piratas, deve haver uma base militar escondida e


muito bem camuflada.

— Ora, nossas unidades terão de lutar um pouco mais.

— Como pode ser tão estúpido? — Uma risada amarga a


escapou. — Os militares lá embaixo estão equipados com a mais
recente tecnologia em armamentos. Decifrei seu código. Eles já
sabem que não somos piratas, eles simplesmente não tem certeza
se somos humanos ou não. Estão usando armas de choque elétrico,
as novas que Seth andou mencionando, elas podem derrubar um
macho cyborg tempo suficiente para nos desativar. Merda vão é nos
matar, os militares não tratam cyborgs como prisioneiros de guerra.

Uma expressão aflita atravessou o rosto de Aphelion.

— Talvez esteja enganada.

— Inferno! Temos que fazer alguma coisa.

— Não podemos. Temos nossas ordens. Devemos manter a


órbita ao redor dessa lua e ficar fora de vista até o encontro.

— Mas isso foi antes de sabermos que é uma emboscada. Nós


não podemos apenas sentar aqui e deixá-los morrer.

— E o que espera que eu faça?

— Alerte-os.

— Vou tentar.

149
Ela tentou se acalmar quando ele fechou os olhos e usou a
mente para se comunicar com os cyborgs no asteroide. Sua testa
enrugou.

— Não estão respondendo. Acho que desligaram seus


comunicadores.

— Ou algo está interferindo nas comunicações! — Declarou


irritada.

— Vamos ter que esperar que entrem em contado assim que


descobrirem a cilada.

— Isso é piada?

— O que mais você espera que eu faça? Eu não posso


contatá-los.

— Mas temos outra opção.

— Qual?

— Vamos resgatá-los, é claro.

— Claro, porque pensa que será tão fácil? — Ele declarou


com sarcasmo. — Caso não tenha notado, nossas unidades levaram
mais de uma hora para chegar à instalação.

— Porque planejavam chegar por trás e de surpresa. Não


faremos isso, entraremos na marra, levaremos 20, 15 minutos se
realmente forçarmos a barra.

— Está sugerindo que ataquemos a instalação?

— Sim.

150
Ele a fitou boquiaberto por um momento.

— Você precisa fechar e executar uma reinicialização


completa em seu sistema.

— Está me chamando de louca?

— De fato. Essa é a coisa mais louca que já ouvi de um


cyborg até agora.

— Não estou louca. Nem preciso reiniciar meus sistemas. No


entanto, você precisa de um ajuste urgente em seu BCI, se você
consegue deixar seus amigos e irmãos cyborgs caírem em uma
armadilha e não fazer nada para salvá-los. Como conseguirá viver
consigo mesmo sabendo que os sentenciou à morte, eu não posso e
não deixarei. Com ordens ou não, farei alguma coisa para ajudá-
los.

— Isto é um motim.

— Não, isso é apenas fazer o que é certo, salvar meus amigos.

E principalmente salvar meu Príncipe Encantado.

— Aramus não vai gostar.

— Aramus vai beijar minha bunda em forma de coração logo


depois que eu salvar a dele. Agora você vai ajudar ou não?

Aphelion suspirou.

— Por mais que uma parte de mim esteja argumentando com


a lógica, por mais incrível que pareça, também estou de acordo.
Então, o que propõe?

151
— Usar nossa presença surpresa e distraí-los por tempo
suficiente para que os nossos possam sair.

— Eu preciso de um minuto para desbloquear os controles da


nave.

Sorrindo, Bonnie se estatelou no assento de Aramus e deixou


seus dedos voarem sobre os comandos.

— Feito, você realmente acha que pode lançar um ataque


surpresa e aleatório?

Como se as senhas de Aramus pudessem me negar


acesso ao controle da nave e das armas.

— Segure-se Aphelion. Estamos prestes a fazer uma festinha


surpresa aos militares.

E salvar meu Príncipe Encantado.

152
Capítulo Dez

— Se rendam agora e serão poupados — A ordem veio através


dos alto-falantes embutidos em intervalos na parede enquanto os
cyborgs se esgueiravam pelo corredor vazio.

— Estão falando com a gente, o que você acha? — Seth


sussurrou. Eles não ousaram se comunicar mentalmente para que
o sinal não os delatasse.

— Eu desliguei todos os alarmes — Respondeu Einstein.

— Então, o que está havendo? — Aramus retumbou.

— Não sei. Estive monitorando o sistema de segurança e não


há nada sinalizando nossa presença aqui — Einstein argumentou.

— Nada? Sério? Então, como diabos sabem onde estamos?


Achei que o local fosse equipado com um sistema simples de
vigilância? —Aramus rosnou.

Einstein digitava rapidamente em seu tablet portátil e franziu


a testa.

— Está certo. Quero dizer, estamos falando de um sistema


simples de segurança. Eu não entendo...

— Talvez estejam blefando, alguém deve ter nos visto. Você


acha que o grupo B foi detectado? — Seth interrompeu.

— Improvável — Einstein tinha enviado o segundo grupo de

153
cyborgs através de uma fissura natural na rocha, que descobriu
enquanto analisava o relevo rochoso do lado oposto. Segundo seus
cálculos, eles não devem ainda ter atingido o ponto em que
precisariam usar o laser para abrir caminho, nem devem ter
encontrado quaisquer câmeras de segurança.

— Então talvez seja outro grupo de piratas a fim de roubá-


los.

Tanto Einstein quanto Aramus lançaram a Seth um olhar


incrédulo. Como se dois grupos de ataque escolhesse o mesmo alvo
e momento para atacar.

O próximo anúncio deixou os pensamentos teóricos para os


práticos.

— Cyborgs, vocês estão cercados. Se entreguem


pacificamente e terão a oportunidade de servir novamente com uma
programação nova e melhorada.

Mas que merda era aquela!

Não era próprio de Einstein usar e muito menos pensar em


usar linguagem chula, mesmo o palavrão não passando por seus
lábios. Einstein e seus amigos trocaram olhares atordoados.

— Hum, eu diria que isso responde à nossa dúvida se sabem


ou não que estamos aqui — Seth declarou com sarcasmo, o rei de
afirmar o óbvio.

— Sim, e é impressão minha e de alguém mais que notou que


não soam como piratas sanguinários?

— São militares — Uma afirmação perturbadora.

154
Como perdi esse fato importante enquanto fazia o
reconhecimento e monitorava este posto aparentemente
inofensivo?

— Armaram uma cilada para nós. E não percebi. Sinto muito.

— Que merda. Reles humanos enganando nossa inteligência


cyborg — Aramus gemeu. — Onde esse universo vai parar quando
humanos se tornam mais inteligentes que as máquinas?

— Ei, que tal tirar de cena “a rainha do drama”? — Seth deu


uma cotovelada nas costelas de seu líder. — Quem podia esperar
uma coisa destas, especialmente nesta situação? Sabia que
militares não são conhecidos por sua sutileza.

— Vamos analisar essa mudança de tática mais tarde.

E mudar os planos aproveitando esta nova artimanha


humana nas futuras missões. No momento, eles tinham questões
mais prementes.

— O que faremos? Se os militares planejaram esta


emboscada, então não haverá muita chance de sucesso.

— Não exatamente. Eles estão armados. Talvez haja uma


nave ou duas lá fora. E talvez isso não tenha sido uma armadilha,
mas um posto secreto avançado no qual tropeçamos. Não
saberemos o que planejam a menos que continuemos a avançar.

— Eles não aceitarão a nossa presença sem uma luta.

— Então o que você sugere? Por o rabo entre as pernas e sair


correndo como covardes? — Aramus bufou.

155
As probabilidades de uma retirada e volta à nave de
transporte parecia pequena, já que a presença deles fora
descoberta. Einstein passou alguns cenários em sua cabeça e não
podia chegar a qualquer solução que não envolvesse uma batalha
com os humanos. Isso sem mencionar que uma retirada e fuga até
a nave camuflada e escondida atrás da Lua significaria levá-los até
Bonnie. Colocá-la em perigo ou morrer ali? Einstein sabia o que
escolheria.

Aramus chegou à mesma conclusão.

— Eu digo que vamos lutar — Ele estalou os dedos e


balançou a cabeça sobre o pescoço, liberando sua musculatura
reforçada. Uma luz predatória iluminou seus olhos. — Não podemos
recuar. Portanto, a nossa melhor opção é ir em frente e causar o
maior dano possível.

— Excelente. Estava esperando que dissesse isso — Seth


puxou um par de lâminas finas de suas luvas. — Finalmente um
pouco de exercício.

— Aposto que vou derrubar mais soldados que você —


Aramus provocou.

— Vai sonhando, você é um modelo inferior.

Einstein gemeu.

— Por que nenhuma das missões em que estive com vocês


dois nunca corre como o planejado?

— Porque atraímos diversão, cara. Derramamento de sangue


é divertido de serem contados.

156
— Devemos alertar as unidades que se aproximam do outro
lado?

Aramus balançou a cabeça.

— Não sabemos ainda qual dos nossos grupos foi detectado.


Podemos ter uma chance de surpreendê-los.

— E nossa nave? — E Bonnie? Estaria segura ou naves


militares a cercavam neste momento e exigiam rendição? Ele quase
quebrou o silêncio de rádio para descobrir.

— Parece que não sairemos desta, vamos enviar um sinal


para que saia do quadrante.

— Mas vamos vencer — Disse Seth com tranquila segurança.

— Por que tem tanta certeza? — Einstein perguntou. A


preocupação toldando seu raciocínio, pela primeira vez ele
reconhecia a sua própria mortalidade, provavelmente porque agora
tinha alguém para manter viva.

— Nós vamos ganhar porque sou muito jovem e bonito para


morrer — Seth riu. — Oh, vamos lá. Anime-se, Senhor Cérebro. Foi
para isso que fomos criados. Somos os melhores, somos soldados
mortais. Os humanos não têm a menor chance contra nós.

— Diz o homem equipado com duas armas e facas. Nem


todos nós somos tão bem treinados — Einstein comentou
secamente.

— Você está me chamando de um professor de merda? —


Seth adotou uma expressão magoada.

157
— Não. Mas você sabe que eu sou mais apto com um teclado
do que com meus punhos.

— A prática leva à perfeição. Pense o seguinte, quando


voltarmos vitoriosos a nave, aposto que vai ter alguém ansiosa para
bajulá-lo beijar e outras coisinhas! O que acha?

De fato. Einstein se endireitou. Bonnie odiava militares. Ela


provavelmente veria sua luta como algo heroíco.

— Eu gosto de sua lógica. O que estamos esperando?

Na distância, ouviram o crepitar do fogo. Ninguém precisava


dizer o óbvio em voz alta. O grupo B encontrara resistência.

Esqueceram a sutileza. Com um sorriso largo e feroz, Aramus


puxou a arma e, com a outra mão segurando uma faca mortal,
apontando-a para frente.

— Pronto? Cyborgs ao ataque!

E com esse grito selvagem se lançou em uma corrida de


euforia, e nanos imbuídos em sangue correndo em suas veias. Pela
primeira vez, Seth estava certo. Para isso os cyborgs foram criados.
Máquinas perfeitas para matar. Insensível à dor. Quase
indestrutíveis. E tão mortais.

A maior conquista da humanidade, e seu maior fracasso,


prontos para executar a justiça a seus criadores.

158
Capítulo Onze

Bonnie não tinha ideia do que os esperava depois de ter


convencido Aphelion a resgatar os outros cyborgs. Ela nunca
pilotara realmente uma nave espacial antes ou participara de uma
batalha real. Todo seu conhecimento se resume aos programadas
em seu BCI e dos filmes, ela lembrou. No entanto, ela não deixaria
que a inexperiência os detivesse.

Einstein e os outros precisavam de ajuda, e por Deus, ela os


salvaria. Felizmente, Aphelion parecia ter algum conhecimento do
que precisavam fazer. A nave vibrou assim que se colocaram em
movimento, uma olhada nas telas dos computadores mostrou a ela
que estavam na direção do asteroide e tudo se passava
rapidamente. Com metade da tripulação invadindo a instalação, e a
outra metade ainda a bordo, eles teriam de trabalhar em conjunto
para conseguir resgatá-los. Ainda bem que os cyborgs sabiam
trabalhar em equipe. Os poucos ainda a bordo não questionaram o
que diabos estava acontecendo, embora ela pudesse ver na
expressão alterada de Aphelion que se comunicavam a nível neural.
Ela não podia ouvir a conversa, mas quando viu seus ombros
relaxarem, ela presumiu que todos haviam concordado com o plano
louco dela.

E qual era o plano mesmo? Ah, sim, de alguma forma chegar


perto o suficiente do asteroide para chamar a atenção dos militares
e darem um aviso a Einstein e o grupo de cyborgs prestes a entrar
em uma armadilha. O que ela furiosamente pensava é como faria

159
isso sem explodir o lugar em milhões de pedaços e ainda ajudar seu
Príncipe a escapar.

— Aphelion?

— Sim.

— Você tem alguma ideia sobre o que devemos fazer, assim


que chegarmos ao asteroide?

Os dedos do cyborg sem cessar sua batida furiosa no painel


de controle, girou a cabeça e olhou para ela, os primeiros sinais de
alegria ondulando os cantos de seus lábios.

— Quem, eu? Este é o seu motim. Eu pensei que o plano


fosse disparar as armas e contar os corpos mais tarde.

— Sim, sobre as armas e a contagem dos corpos, mas creio


que talvez minha experiência com filmes não seja ideal como eu
imaginava. Talvez você tenha uma estratégia mais produtiva?

— Quem, eu?

— Sim, você.

— Você quer a minha ajuda?

Ela reprimiu um grunhido de aborrecimento por ele provocá-


la daquela maneira. Deus! Por que justamente agora ele mostraria
que tinha senso de humor?

— Diabos, sim!

— Ok.

— Só ok?

160
— Ah, você quer detalhes?

— Mas que merda. Sim!

Ele riu.

— Você tem certeza? Você pode ficar decepcionada, pois não


envolve colidir ou explodir o asteroide. Embora, eu esteja pensando
em tornar o ambiente bem desagradável para qualquer um que
respire oxigênio.

— Você quer dizer os seres humanos?

— Nossos inimigos — Ele disse isso tão severamente que ela


decidiu não mencionar que ela era tecnicamente muito humana, ou
pelo menos nasceu como uma. Apesar de seu exterior, a relação do
homem com a máquina balançou o pêndulo, não necessariamente
na direção certa. Aphelion não a fitava enquanto falava, sua
atenção concentrada na tela enquanto as mãos voavam sobre o
painel de controle. — Eu creio que usando os lasers posso abrir um
buraco aqui e ali — Ele apontou para imagem na tela principal. —
Isso vai despressurizar toda a instalação e sugar o oxigênio para
fora. Isso não vai matar todos os soldados, mas aqueles que estão
sem máscaras ou trajes ambientais não vão escapar, assim
reduziremos o número de inimigos que enfrentam nossas tropas.
Sem mencionar que o restante dos humanos entrará em pânico
quando começarem a ver cadáveres com os olhos esbugalhados e
pedaços de cérebros flutuando por lá.

— Isso vai ser realmente nojento — Ela fez uma careta.

— Só estou tentando fazer a coisa de acordo com sua


expectativa cinematográfica.

161
Oh sujeito sarcástico!

— Aphelion, tenha cuidado com as minhas expectativas...

— Estou morrendo de medo. Agora, se não se importa,


estamos próximos ao alcance de tiro e eu preciso me concentrar
nesta etapa. Por favor, monitore os canais de comunicação e relate
qualquer atividade militar, mas antes disso, eu gostaria que você
enviasse um pulso rápido seguido por dois longos.

— Por quê?

— Pense nisso como um código cyborg que os avisa para


prender a respiração e ancorar os pés.

— Uauuu!

— Fico feliz por ter a sua aprovação. Muito bem carregue os


sistemas de laser.

Enquanto Aphelion estabilizava a nave, ela se encarregou de


sua tarefa, usando o canal de comunicação para transmitir os
pulsos. Ela só esperava que Einstein e os outros entendessem.

Uma voz crepitou no intercomunicador.

— Detectando naves de guerra.

— De onde? — Ela perguntou tolamente, olhando ao redor. —


Não vejo nada no radar.

— Bem, então estamos encrencados — Retrucou a voz no


intercomunicador —, porque estão chegando rápido por trás.

— Quem é esse? E como é que pode ver naves se

162
aproximando quando nós não podemos?

Aphelion franziu a testa enquanto seus dedos voavam muito


rápido sobre o console.

— É Bolt, trabalha na engenharia. Ele deve estar vendo a


nave espacial se aproximando das vigias de ré. Mas por que diabos
não estão aparecendo em nosso radar?

— Não se preocupe com isso agora. Atire e faça os malditos


buracos. Temos de ajudar os rapazes no asteroide, então podemos
virar ao redor e arrancar o fôlego deles.

— Tirar o fôlego deles? Eu juro que, se você começar a cantar


Take my breath away, o tema de Top Gun, exatamente como Seth
fez em nossa última missão, fique certa de que atirarei em você
primeiro — Aphelion murmurou enquanto seus olhos se
estreitavam.

Curiosamente, com toda a tecnologia na mão, ele pegou um


joystick velho e começou a manobrar o canhão laser e atirou em
cheio no casco frontal da nave, que explodiu parcialmente, que a
seguir foi obrigada a fazer um pouso forçado. Se a situação não
fosse tão grave, ela o desafiaria a jogar. Afinal ela sempre gostou de
jogos de vídeo game.

Observando pela tela, ela observou as rápidas e mortais


rajadas de luz, então uma nuvem de poeira e gases, demarcando
duas crateras na superfície do asteroide. Mesmo não podendo ver
os resultados, podia ouvi-lo. O canal de comunicação aberto
revelava o pânico dos humanos na instalação despressurizada.

No entanto, ela não teve tempo de ouvir sobre os estragos,

163
porque o primeiro míssil atingiu sua nave.

A nave inimiga os tinha alcançado e, aparentemente, não


estavam com vontade de fazer prisioneiros.

164
Capítulo Doze

Os pulsos interromperam o silêncio de rádio.

— Preparem-se — Einstein gritou, segurando o ar e usando a


mão livre para se segurar a uma viga de metal rígido na entrada da
área de carga. Parece que os cyborgs da nave perceberam a
emboscada e vieram resgatá-los.

— Que porra é essa? Eu disse a Aphelion para ficar fora disso


— Gritou Aramus, ainda apontando a arma e enrolando seu braço
ao redor do poste em frente a ele.

— Quem se importa porque estão aqui? — Seth gritou, suas


lâminas desviando os tiros que passavam zunindo disparados pelos
soldados que guardavam a entrada do corredor. — Nós
precisávamos de uma mãozinha. Caso não tenha percebido há
soldados demais para darmos conta, e é apenas uma questão de
tempo para acabarem conosco.

Einstein suspeitava de que Bonnie desobedecera às ordens de


Aramus. Mesmo detestando que ela se colocasse em perigo, ele
agradecia sua interferência, mais tarde ele a censuraria por sua
desobediência, assim que escapassem da emboscada militar.

Eles logo descobriram que toda a instalação fora um engodo,


que o lugar era uma farsa. As portas se abriam e encontraram
paredes de pedra, exceto a centena de soldados gritando ao virarem
o corredor. A primeira onda os pegou de surpresa e Aramus levou

165
um tiro na perna antes de se adaptaram à situação e caírem em
formação. Em locais apertados era difícil usar as armas com
precisão, tornando uma necessidade crucial usar facas e força
bruta, especialmente quando perceberam que alguns dos soldados
usavam os armamentos mais recente, um taser energético potente.
Mas Einstein tinha adaptado seus corpos a receber a carga sem
causar muitos danos. Ele programara os nanos em seus corpos, a
protegerem e restaurar seus sistemas, tais armas já não os
incapacitava mais. Claro que fora a primeira vez que tinham tido a
oportunidade de testar este novo recurso. Para seu prazer científico,
a adaptação aos milhares de volts de energia só causava um
desagradável desconforto, mas nada debilitante.

Aramus sorriu quando um soldado portando uma das armas


aprimoradas murmurou assustado: — Merda. Essa porcaria não
está derrubando os desgraçados.

Não que os soldados se preocupassem por muito tempo com


isso. Mandavam um grupo após outro para abrir caminho no
corredor que dava acesso à área de pouso detectada em suas
análises anteriores.

Eles ouviram os sinais de batalha antes de chegar à área


aberta. Seus irmãos cyborgs chegaram e se juntaram a eles
disparando sobre a horda de grunhidos militares atrás dos escudos
reflexivos. Os militares estavam preparados, o que mostrava a
Aramus não fora o assalto fácil que esperaram.

Por isso, o aviso e a chegada de sua nave, foi o bastante para


se prepararem, mesmo a ação sendo inesperada, não era
inteiramente indesejável. Não eliminavam tantos soldados quanto

166
Einstein teria gostado, as tropas se entrincheiravam atrás de seus
escudos de proteção, mas eliminaram muitos seres humanos de
surpresa. Os trajes de proteção ambiental fez pouco para ajuda-los
contra a despressurizarão ou serem sugados pela pressão externa
do espaço, sem mencionar os muitos que tiveram avarias em seus
capacetes. Dezenas morreram. Infelizmente, outras dezenas
tomaram seu lugar. No entanto, os seres humanos estavam
prejudicados pelas novas condições, ao contrário dos cyborgs. Suas
armas causavam poucos danos e o combate corpo-a-corpo não era
páreo para a velocidade e força dos cyborgs. Eles abriam caminho
através das tropas restantes sem esforço, não precisando se
preocupar em matar propriamente dizendo, bastava abrir uma
pequena fenda no traje ambiental para ser o suficiente.

Gritos enchiam o ar. Pânico. Sangue. O caos reinava e no


coração de tudo isso, os cyborgs lutavam, as duas unidades
reunidas no centro da confusão e colocando-se lado a lado e de
costas um para o outro, formavam uma parede impenetrável que
derrubava todas as probabilidades... Ganhando.

Limpando o sangue do rosto, não o seu, mas dos inimigos,


Einstein viu a carnificina e balançou a cabeça.

— Por que continuam insistindo? Por que não podem nos


deixar em paz?

— E admitir a derrota? — Seth sem um fio de cabelo fora do


lugar, embainhou as facas. — Os militares nunca desistirão, não
podem deixar todos os humanos da Terra saberem o que nos
fizeram. Não podem deixar que saibam como roubaram nossas
vidas e as experiências que fizeram conosco. O povo se revoltaria se

167
sequer suspeitasse. Afinal governos humanos já foram derrubados
por muito menos.

— Mas como explicarão isso? — Einstein fez um gesto em


torno dele. — Que desculpa darão às famílias desses soldados?

— Só darão uma — Respondeu Aramus. — Dirão as famílias


desses pobres soldados que foram atacados por centenas de robôs
assassinos. Robôs que pretendem exterminar a humanidade. Não é
que seja má ideia, se você me perguntar.

— Mais matar não é a resposta.

— Que escolha temos? — A pergunta pairava no ar, muito


carregado com o cheiro da morte.

Uma onda de choque sacudiu o asteroide, perturbando a


discussão, uma que já debatiam há muitos anos, desde que ficaram
cientes do quem eram.

— Que merda é essa?

— Acho que é nossa nave em apuros— Seth anunciou.

Bonnie! Agora que a necessidade de sutileza se foi, Einstein


tentou se contatar com sua mente a nave, mas encontrou
interferência.

— Maldição. Não consigo entrar em contato com Aphelion ou


com a nave.

— Precisamos voltar e ver o que está acontecendo.

Mas como? Sua nave de transporte estava à uma hora de


distância, mesmo que corressem a toda velocidade sobre a

168
superfície.

Por que correr quando poderiam usar veículos terrestres? Foi


Seth que encontrou os transportes escondidos, cada um grande o
suficiente para carregar dois deles.

Mas infelizmente, de acordo com Astro, que se reuniu a eles


no campo de batalha, Ralph e outro camarada cyborg caíram, tiros
certeiros no córtex os danificaram irreparavelmente. Uma grande
perda para o povo cyborg, já tão poucos. No entanto, teriam que
lamentar mais tarde. A sobrevivência vinha primeiro.

Percorreram a superfície do asteroide a toda velocidade, com


Einstein se recriminando e se esforçando em contatar a nave,
apesar das várias tentativas, mas o que acontecia no espaço do
outro lado da Lua permanecia fora de vista e sua preocupação
aumentava assustadoramente.

Por favor, que Bonnie esteja segura.

169
Capítulo Treze

Filmes idiotas, eles faziam as coisas parecerem tão


fáceis e divertidas.

Bonnie agora lamentava ter se irritado com Aphelion a


respeito do como ela via a vida. Agora se dava conta de sua
inexperiência e audácia, o pensamento de que seria uma tarefa
fácil, resgatar o amante dela e salvar o dia se transformou em um
risco a suas vidas. Como enfrentariam três cruzadores militares que
surgiram do nada e os atacara? Foi uma tremenda sorte que o
casco da nave tivesse resistido ao primeiro impacto direto e
somente a habilidade da tripulação os ajudara a escapar usando o
asteroide como escudo. Uma espécie de jogo de gato e rato onde um
movimento errado poderia significar o fim.

Assustador, porém, não era o único problema.

Quando Luke Skywalker duelava em um combate mortal com


Darth Vader, e mergulhara no vazio para escapar de um destino
que parecia pior do que a morte, Bonnie gritou de excitação. Mas na
vida real, tanta ansiedade junto aos movimentos bruscos da nave,
só a faziam querer vomitar. Ela nunca gostara passeios de
montanha-russa e mesmo sendo parcialmente uma máquina seu
desconforto não tinha mudado. Aparentemente, sua programação e
hardwares não vieram com uma cura para a vertigem e náuseas.
Ainda bem que ela não se alimentava a mais de quatro dias, caso
contrário, Aphelion teria se enojado e a expulsado da ponte. Não

170
querendo revelar seu desconforto para não perturbar o cyborg, que
se esforçava para mantê-los vivos, calou-se e rezou para que aquilo
logo acabasse.

Aphelion possuía reflexos rápidos e sua habilidade em


manobrar era tudo que os impedia de ter uma morte terrível, ela se
lembrou de todos os seus pensamentos maldosos a respeito do
cyborg sério. Se ele conseguisse salvá-los de explodir em milhão de
pedaços minúsculos, ele mereceria sua gratidão.

Depois de um giro, tipo lupin, particularmente de revirar o


estômago, a nave se endireitou, graças a Deus.

— Essa foi por pouco — Suas palavras murmuradas não


inspiram confiança, não que ela o responderia enquanto ele girava a
nave novamente, fechou os olhos contra a vertigem.

Aphelion, o cyborg certamente parecia insano quando gritou:


— Isso!

— Ooooh... — Ela gemeu.

— Qual o problema garotinha? Pensei que gostasse de filmes


com ação. E você não vai encontrar mais ação do que isso — Ele
respondeu com alegria em demasia.

E pensar que o acusei de ser muito sério.

— Eu gosto de ação desde que eu permaneça em pé, não de


cabeça para baixo e girando — Ela gemeu.

Ele riu.

— E eu achando que você tinha espírito aventureiro.

171
— E a tonta aqui imaginando que você não tinha nenhum.

— Como Seth diria, chupa essa, garotinha, mas isso não


acabou ainda.

Uma réplica mordaz sucumbiu ao seu mal estar, então


recorreu a algo que ela odiava fazer, choramingou como uma
menina.

— Você não pode simplesmente explodi-los? Meu corpo não


foi criado para permanecer de cabeça para baixo como os morcegos.
Não sou uma deles, assim que é um bocado difícil lutar contra a
gravidade.

— Sério?

Ele disse aquilo com alegria, mas, para seu alívio, a nave se
endireitou e ela caiu em sua cadeira, feliz por voltar à posição
normal Embora, suspeitasse que a sua segurança pessoal tivesse
menos importância que a ver com a preocupação dele, caso ela
batesse acidentalmente em algum console.

— Ahá!

Ela abriu um olho.

— Esse é um ahá bom ou ruim?

— Finalmente conseguimos acertar um dos motores do


cruzador a estibordo. Agora só resta um para tirar de combate.

Minutos depois, o último cruzador militar calculou mal a


manobra e se chocou contra um asteroide, Aphelion guiou a nave
tirando-a do curso de colisão no último segundo.

172
Assim que o cruzador explodiu, o canal de comunicação, que
só recebia estática desde a partida da nave de transporte, começou
a cuspir mensagens dos cyborgs deixados no asteroide.

— Aphelion! — Aramus gritou, seu grito irritado e carregado


de alívio, isso significava que alguns cyborgs sobreviveram a
emboscada. — O que diabos está acontecendo? Onde diabos você
está?

Mas Bonnie só tinha ouvidos para uma voz e ela lutou para
não se desmanchar em lágrimas assim que a ouviu.

— Bonnie, você está bem? Responda-me?

Ela precisou falar em voz alta, já que Aphelion parecia estar


conversando com Aramus, mente a mente. Bastardos sortudos com
as suas comunicações sem fio. O que ela não daria para ter uma
conversa em particular com um certo nerd.

Mas com audiência ou não, ela não se preocupou em


esconder a felicidade ao ouvir a voz querida.

— Eu estou bem, bonitão. Um pouco enjoada, mas ilesa. Mas


e você? Está ferido? E os outros? Chegamos a tempo?

— Sim, sua intervenção foi muito bem-vinda, pena que


tivemos duas baixas, Ralph e Fred. Quanto a nós, apenas alguns
buracos e escoriações. Nada que os nanos ou eu não possa
consertar.

— Graças a Deus.

— Deus, não teve nada a ver com isso. Isso foi habilidade,
sorte e principalmente desobediência, mocinha.

173
— Bem... Sobre isso. Foi tudo culpa minha, a tripulação só
cedeu a minha chantagem.

— Tenho certeza de que você os deu um bom motivo. E não


se preocupe, vamos ter uma conversinha sobre disciplina assim que
eu voltar a bordo — Disse Einstein ameaçadoramente.

Oh!...oh!... Merda. Parecia que ela estava com problemas.


Bem seja lá o que Deus, quisesse, mas ela não pediria desculpas
por suas ações. Não quando ela provavelmente as repetiria se fosse
preciso. Einstein e os outros passaram a significar muito para ela
nos últimos dias e ela se recusava a cruzar os braços enquanto eles
corriam perigo. Além disso, o que poderia acontecer de pior?

Vai me dar umas palmadas, se eu tiver sorte.

Não que seu príncipe nerd pensaria em fazer isso de fato.


Talvez ela devesse sugerir.

No entanto, vê-lo face a face não aconteceria tão rapidamente


quanto ela desejava. Minutos depois a nave transporte se acoplou a
nave principal. Rapidamente ela desafivelou o cinto de segurança e
se levantou querendo ir ao encontro dos cyborgs, mas Aphelion
balançou a cabeça negando.

— Aramus mandou você esperá-lo aqui e não mover um


músculo.

— Sério, mas ele não tem o direito de me dar ordens.

— Ele sabe disso, só não quer que você distraia Einstein.


Entenda ele é nosso médico e o maior expert em programação, ele
precisa se concentrar em ajudar os feridos e avaliar os danos nos

174
sistemas da nave. Como você bem sabe, temos muitas avarias na
nave, mesmo a maioria de nós fazendo os reparos mais aparentes,
ainda precisamos de seu cérebro para reprogramar alguns de
nossos sistemas internos para contornar as seções que estão muito
danificadas. Aramus não quer que você desvie a atenção dele.

Bem, mas que merda. Ela queria ver por si mesma se ele
estava são e salvo. Dar a ele um abraço. Um beijo. E... Hummm.
Talvez Aramus tivesse razão.

— Tudo bem. Entendi, prometo ficar aqui fora de vista e de


problemas.

— Eu não diria que está fora de problemas. O chefão vem


vindo e parece bem chateado.

— Por quê? Por salvarmos sua bunda grande? Ele devia é


estar agradecido por tê-los socorrido. Sem nós e os buracos que
você fez na estrutura, eles estariam fritos.

— Se você quer dizer em desvantagem, provavelmente, mas


quebramos suas ordens.

— Você quer dizer que não as obedeci. A culpa é toda minha,


e aceitarei qualquer punição que ele queira me infligir — Bonnie
fazia o papel de mártir bem. Além disso, o que Aramus poderia
fazer? Trancá-la na cabine até chegarem ao planeta cyborg?

— Você não é a única culpada. Eu também fiz parte disso. E


vou assumir minha parcela de responsabilidade.

— Com certeza — Aramus rugiu assim que pisou na ponte. —


Que diabos você esteve pensando, como se atreve a deixar uma

175
fêmea insuportável na minha ponte de comando, convencendo-o a
desobedecer ordens?

Aphelion se levantou e enfrentou Aramus, com sua presença


mais robusta. Como se o comandante da nave não soubesse que ela
esteve por trás da insubordinação. Ela gostou do gesto, no
entanto...

— Ela não me forçou a fazer nada que eu não quisesse. Assim


que percebemos sua situação, analisei os cenários possíveis e
cheguei à conclusão de que sem a nossa ajuda, as chances de
sucesso seriam mínimas. Estava no comando desta nave, e fiz o que
achei melhor para a missão.

— E o melhor não era somente colocar minha nave em perigo,


mas também uma das raras fêmeas?

— Ei esta fêmea tem um nome — Ela interrompeu.

— E quanto a você, fique quieta! Lidarei com você em um


minuto.

Os olhos do cyborg enorme a fulminaram, e ela engoliu em


seco. Talvez ela devesse se preocupar com sua segurança.

— Não pensei que minha ação colocaria B-785... — Bonnie


não achou que seria o momento para apontar seu nome —, em
perigo.

— Não, você não pensou. No entanto, sua programação


deveria ter advertido sobre a possibilidade de naves inimigas à
espreita. Como resultado de seu erro de cálculo, quase perdemos
minha nave e a minha tripulação, isso sem mencionar uma fêmea

176
cyborg. Você quase transformou essa merda toda em desastre.

— Tem razão, senhor. Eu fui negligente em meus deveres e


claramente sou incapaz de servir. Vou retirar-me do serviço ativo
até que possa me submeter a um diagnóstico completo e reparação.

— Negativo. Precisamos de todas as mãos que temos — Um


suspiro pesado saiu de Aramus, com passos pesados ele caminhou
em torno de Aphelion e se dirigiu a seu assento, um lugar que ela
apressadamente desocupou. De qualquer forma, ela não enfrentaria
cento e oitenta quilos de músculo e componentes de uma máquina
enorme como ele, não seria nada saudável. — Também não creio
que tenha sido inteiramente culpa sua. Pelo que ouvi, as naves
militares não foram captadas em nenhuma de nossas varreduras
ou radares.

— Não, senhor. Nenhum de nossos sensores ou radar os


detectou. Foi uma sorte as termos vistos pelas janelas e câmaras
exteriores, mas isso não desculpa o meu erro. Eu deveria ter
obedecido a suas ordens e permanecido escondido. Aceito qualquer
castigo que escolher, senhor.

Bonnie pulou em sua defesa.

— Não é culpa dele. Eu o infernizei e ameacei até que ele


decidiu fazer alguma coisa.

Olhos escuros e estreitados se lançaram a ela. Aramus


tamborilava impaciente com os dedos no braço do assento.

— Ele sabia que não deveria desobedecer a ordens diretas.

— Mesmo tendo salvado sua vida? — Ela estalou.

177
— Minha vida não tem sentido se eu não a levar intacta ao
nosso planeta. Você tem alguma ideia de quanto você é importante?
— Aramus disse acidamente. Aparentemente, ele não concordou.
Curiosamente, Bonnie podia entender e respeitar sua opinião
particular.

— Eu, importante? Mas por quê?

— Joe é o líder em nosso planeta. Chloe é sua companheira.


Assim que descobrimos que havia mais fêmeas vivas, minha
primeira e única diretiva estabelece que eu a leve ao nosso planeta
e que garanta sua segurança.

— Isso é loucura. Eu não sou tão importante. Ou especial.

— Por mais que estejamos de acordo. Nossa sociedade anseia


acolher todos os cyborgs, seu povo e meus irmãos, decidiram que o
resgate de fêmeas tem prioridade.

— Mas por quê? — Bonnie não podia seguir sua lógica. Como
ele, Einstein e os outros se consideravam menos importante que
ela?

Será que não percebem quanto falha eu sou? Uma inútil?


Além de sua habilidade de entreter no quarto, o que ela tinha a
oferecer para um planeta cheio de machos? Ou era por isso que eles
a valorizavam tanto? Será que o seu papel no planeta cyborg seria
semelhante ao que fazia no exército humano? Ela descartou o
pensamento tão logo chegou. Não. Os cyborgs eram diferentes, e ela
acreditava em Einstein quando ele disse que ela poderia escolher
seu futuro. Isso sem mencionar a relutância em um macho em
sucumbir à sua sedução, só a ver como nada mais do que um

178
objeto sexual.

Alguém entrou na área de comando, e ela se virou ansiosa,


esperando ver Einstein, mas em vez disso, um Seth desgrenhado
apareceu. Ele abriu um sorriso imenso.

— Oi, princesa. Ouvi dizer que você causou um motim e


depois arranjou uma briga daquelas com os militares? Parabéns,
geralmente eu sou o único capaz de causar tantos problemas em
tão pouco tempo. Garota, pensei que Aramus fosse explodir uma
junta assim que ouviu suas transmissões. Você deve ter acabado de
ver fumaça saindo de seus ouvidos, não?

— Eles desobedeceram minhas ordens — Aramus rosnou.

— E salvaram nossos traseiros. Sem mencionar que


destruíram três cruzadores. Naves que não pudemos detectar e, se
deixadas intactas poderiam nos seguir até nosso planeta. Se você
pedir minha opinião, sua desobediência foi a melhor coisa que
poderia ter acontecido. Ou você gostaria que os militares fossem
levados à nossa porta?

Pobre Aramus. Seu rosto mudou de cor, e ela se perguntou


por um momento se ele teria um ataque o primeiro ataque cardíaco
cyborg da história.

— Vou sair antes que eu estrangule vocês dois. Se alguém


precisar de mim, estarei avaliando os danos — Sua retirada
estratégica aliviou os níveis de tensão na ponte.

Aphelion relaxou sua postura rígida.

— Bem, não foi tão mal quanto eu esperava.

179
— Eu digo mais. Considerando que você ainda tem todas as
partes do seu corpo intactas e ele não o ejetou no espaço, eu diria
que você teve uma sorte dos Diabos, cara.

— Por enquanto. Duvido que não ouvirei mais uns desaforos.

— Não o deixe intimidar você — Bonnie defendeu. — Aramus


pode ser durão e ríspido, mas lá no fundo, acho que ele é mais mole
do que se imagina.

Dois pares de olhares incrédulos se lançaram a ela.

— O quê? Isso só pode ser piada.

Balançando a cabeça, Aphelion se dirigiu a Seth.

— Senhor, se me permite. Einstein pediu um par extra de


mãos para ajudar na reparação de nosso sistema de camuflagem.
Eu gostaria de ajudá-lo.

Mas que coisa, o que ela não daria para ter uma conversa
deste tipo com seu príncipe encantado. Imagine como seria
divertido dizer a ele o que fariam na cama está noite. Não, ela
gostaria deste tipo de conversa cara a cara, onde ela pudesse ver a
reação de seu corpo viril e o rosto dele corar deliciosamente.

— Vá, soldado. Mas você terá que enviar um relatório


completo dos acontecimentos, logo que estiver pronto. Mesmo
Aramus ignorando sua punição, ainda precisamos que Joe e os
outros saibam o que aconteceu aqui, assim que possível.

— Sim, senhor. Ah, senhor, apenas duas das três naves de


ataque foram destruídos. A terceira pousou em um asteroide.

180
— Intacta?

— Não de todo.

— Podemos detectá-la agora?

— Sim. Seja lá qual for a tecnologia usada para mantê-los


invisíveis não aguentou o impacto. De acordo com o que pudemos
avaliar, os danos foram muitos. Os sistemas de suporte de vida
parecem ter falhado, tornado a existência de sobreviventes
improvável.

— É possível que tenham usado uma câmara salva vidas ou


que um humano esteja usando um traje espacial — Seth esfregou o
queixo. — E as comunicações da nave?

— Silêncio total. A menos que tenham enviado um sinal de


antemão ou estejam usando algum novo sistema de transmissão,
não entraram em contato com ninguém.

— No entanto, não há nenhuma maneira de saber com


certeza, assim como não podemos ter certeza de que não haja
outras naves inimigas neste quadrante — Seth andava.

— Não, senhor.

— Merda! — Seth tinha a expressão mais séria que já vira


nele. Aquilo assustou Bonnie porque parecia tão inusitada em seu
rosto geralmente jovial. — Vá ajudar Einstein e diga a Aramus o
que me disse. Precisamos tomar uma decisão rápida sobre o que
fazer.

— Você acha que devemos partir antes que cheguem reforços


militares? — Disse, chamando a sua atenção.

181
— Isso mesmo, Princesa. Nossa primeira diretriz, apesar
deste pequeno incidente, ainda é sua segurança.

— Ai vem vocês com essa história novamente — Ela revirou


os olhos. — Sou uma pessoa comum, igual a vocês. Um pouco
louca, mas nada importante. Pergunte a Aramus.

— Sua opinião não conta. Ele diz que ninguém é importante


ou bonito. Você não pode dar muito crédito ao que ele diz, mas de
acordo com Chloe, Joe, e um planeta cheio de cyborgs, você é
insubstituível. Isso sem falar que acho você bem legal, e tenho
certeza de que Einstein a classifica como inestimável.

A ideia de que Einstein a tivesse em tão alta conta deixava-a


eufórica. Ela não merecia esse tipo de adoração, mesmo que ela
ansiasse por isso.

— Eu digo que podemos ser mais espertos. Você não pode me


dizer que daremos o fora enquanto aquela nave militar está ao
alcance de nós, pense que poderíamos obter algumas respostas.

— Não. Sair do quadrante antes que mais tropas militares


cheguem faz mais sentido.

— Ah, mas se eu não estivesse a bordo, aposto que vocês


investigariam. Pense bem, lá estão os discos rígidos e arquivos de
todas as operações militares e códigos, sem contar que poderíamos
descobrir e pegar o que enganou nossos sensores e radares, para
analisar.

— Talvez — Seth evitou encontrar o seu olhar enquanto


analisava as informações na tela.

182
— Pense bem. Quase fomos apanhados pelos militares.

— Mas não conseguiram.

— Outros cyborgs podem não ter essa sorte, temos que pegar
aquela coisa antes que acabem conosco.

— Não.

— Oh, vamos lá. Até meu pequeno cérebro feminino cyborg


sabe que as coisas podem ficar bem ruins. Mais que ruins, é muito
perigoso e importante, muito mais importante do que eu ou você.
Sei que minha irmã me ama, e seu planeta supostamente precisa
de mim como uma espécie de garota propaganda, os cyborgs
precisam descobrir como os militares fizeram isso. Precisamos da
tecnologia daquela nave.

— Você tem razão.

— Chega de discussões. Opa... Espere ai. Você acabou de


concordar comigo?

Finalmente, de frente para ela, Seth soltou um suspiro


cansado.

— Concordei. Apesar das ordens de Joe, você está certa. Não


podemos perder esta oportunidade. Precisamos por as mãos na
máquina que os permite se esconder de nossos sistemas de
detecção. Uma coisa é tentarem implantar chips que passavam por
nossos sensores. Mas uma nave... Ou várias. Isso coloca todo o
nosso mundo em risco.

Levantando as mãos e os olhos para o teto, ela gritou: —


Aleluia! Finalmente, alguém viu a luz.

183
— Sim, mas só nos resta agora convencer um certo alguém a
ariscar a nave e sua segurança para darmos uma olhada lá.

— Pode deixar que eu cuido de Aramus.

— Eu pagaria para ver isso. Mas, não, se expormos bem as


coisas ele verá sentido em ficar. Você terá de convencer Einstein.

Oh, por favor, como se o seu Príncipe encantador e gentil não


fosse ver a lógica.

Como ela estava errada.

184
Capítulo Catorze

Apesar da vontade urgente de abraçar Bonnie e tê-la por


perto, o que não fazia sentido, uma vez que não era um bom
método de diagnóstico para estabelecer alguma lesão, Einstein
trabalhou incansavelmente para reparar seus camaradas e os
sistemas da nave. Com a exceção de alguns dedos faltando na mão
de Astro causada por uma explosão na arma, ele foi capaz de
resolver a maioria dos problemas médicos, enquanto os nanobots
em seus corpos faziam o resto. Com seus irmãos remendados, ele
então passou a cuidar dos itens mais cruciais que estivessem
incapacitando a nave. Algumas áreas na popa seriam seladas até
que pudessem realizar uma caminhada espacial ou encontrarem
algum lugar estável para soldar os buracos deixados pelas
explosões. Depois redirecionou sub-rotinas e anulou algumas das
funções não necessárias, minimizando o dano a certos
componentes elétricos.

No final das contas, as coisas poderiam ter sido muito piores.


A maioria dos cyborgs tinha sobrevivido. E principalmente, Bonnie
estava ilesa, aparentemente. Ele ainda verificaria por si mesmo e
provavelmente não relaxaria até que o fizesse. Assim com os
motores ligados e prontos para seguir seu caminho, ele pretendia
encontrá-la e verificar seu estado, então a beijaria, entre outras
coisas. Apesar de não saber como ela se encaixara em sua vida
regrada, ou que ela esperava dele, só de uma coisa ele tinha
certeza, a queria demais.

185
Tarefas concluídas, ou pelo menos as que não exigiam mãos
físicas, ele foi procurar a mulher que ocupava seus pensamentos.
Encontrou-a no deck de observação, olhando para o espaço, a
janela de visualização tendo resistido à batalha espacial graças a
Aphelion que baixara as placas de proteção e assim bloqueando um
dano direto.

Vendo-a ali, tão pensativa, sua expressão parecia triste, o que


fez seu passo lento se acelerar. Então parou. Enquanto lutava ou
trabalhava, ela sempre pairava em sua mente, mesmo a
necessidade de cumprir seu dever guerreava contra seu desejo forte
de protegê-la. Segurá-la entre os braços. Mantê-la segura.

Desde o momento que compartilharam sexo, mais do que


nunca, ele se via em conflito entre a lógica e emoções que eram
para ele desconhecidas até então. O que ela sentia realmente por
ele? O que ele sentia por ela? Por que se sentia tão confuso? Por
que sua mente deixava de ser lógica quando ela estava por perto?
Seu coração, corpo, e mente lógica, tudo funcionava mal quando ela
se aproximava. Ele desejava entender esse fenômeno perturbador,
ou ao menos ter as respostas. Infelizmente, para ele, sempre fora o
cyborg mais inteligente em seu planeta, e não tinha a quem recorrer
em busca de ajuda.

E agora, com Bonnie parecendo ter os pensamentos tão longe


dele, se perguntou se deveria ficar ou partir. Será que ela queria
ficar sozinha? Estaria sendo importuno e indesejável como
companhia? Será que...

— Oh, Deus, Einstein. Eu tive tanto medo — Ela sussurrou


baixinho, se atirando nele e envolvendo os braços na parte superior

186
de seu tronco.

A simples admissão bateu nele e todo o seu hardware


congelou por um momento. Ele não sabia o que responder. A culpa
o assaltou. Ele havia falhado. Todos eles tinham falhado. A lógica
insistia em que a culpa não era sua, mesmo uma parte dele
acreditando que era. Não que ele admitisse em voz alta.

— A luta poderia ter sido evitada se tivessem obedecido às


ordens de Aramus e ficassem fora de vista.

— Não bonitão, não tive medo por mim — Ela pronunciou a


frase com exasperação enquanto ela levantava a cabeça para
encará-lo. — Só tive medo por você. Não entende, você poderia ter
morrido lá embaixo.

Ela tinha se preocupado com ele?

— Eu mal sofri arranhões — Para a sua surpresa. Seu


aprendizado com Seth finalmente rendia frutos.

— Mas Ralph e Fred não tiveram tanta sorte — Ela ressaltou.

— Não tiveram, e pelo que ouvi você e a tripulação também


estiveram muito perto do perigo.

Ela encolheu os ombros.

— Passamos bem perto, mas não pensei que poderia morrer.


Aphelion realmente sabe como pilotar essa coisa. Eu só gostaria
que ele não pilotasse a nave como louco. Eu quase vomitei sobre ele
em algumas de suas manobras mais arriscadas — Ela esfregou sua
barriga com um sorriso triste.

187
Ele se agarrou à única coisa que ele podia entender.

— Gostaria que eu a ajudasse com esse mal estar quando


chegarmos ao meu laboratório. Tenho certeza de que temos um
programa para isso, posso baixá-lo para o seu BCI.

— Sério? — Sua expressão se iluminou. — Eu gostaria disso.


Mas você está mudando de assunto.

— Você está certa, estou muito tentado a lançar um discurso


sobre as ações de Aphelion, principalmente por colocá-la em perigo,
isso é inaceitável. Na verdade, a decisão inteira de investigar o
asteroide foi estúpida. Nós deveríamos ter analisado a situação com
lógica, jamais deveríamos colocar em risco a sua segurança. Isso
não vai acontecer novamente. De agora em diante, nosso único
objetivo será chegar a casa, e a salvo.

— Einstein, nós não poderemos voltar ao seu planeta ainda.

— Oh sim, nós podemos. Assim como podemos ter certeza de


que não há ninguém em nosso rastro, estamos voltando para casa
agora mesmo.

— Como podemos ter certeza de que será seguro? Eu


conversei com Seth.

— Ah, não. Nada de bom vem de uma conversa com ele.

— Deixe-me terminar. Conversamos e ele concorda que não


podemos deixar a nave militar sem dar uma olhada em seu interior.

Como se Einstein se importasse com qualquer opinião de


Seth ou outra pessoa neste assunto.

188
— Nem pensar, nós podemos e faremos. Nós já a colocamos
em perigo o suficiente. Eu já enviei um pedido requisitando outra
nave e nos juntaremos a ela em poucos dias, você será transferida e
imediatamente levado ao nosso planeta.

— Você não fez isso! — Irritada, soltou-se de seus braços.

— Já que não podemos ter certeza de esta nave está limpa de


qualquer rastreador, e dado os atuais danos na nave, você vai
embarcar na outra nave e dar o fora daqui.

Bonnie plantou as mãos nos quadris, e o fitou com um olhar


feroz.

— Quem você pensa que é. Estou perfeitamente bem aqui.


Você está sendo ilógico.

— Eu nunca sou ilógico.

— Ah, sim você é, porque sei que se não fosse por mim, você
seria o primeiro a defender uma checada na nave e descobrir o que
estão usando para encobrir sua presença em nossos sistemas de
escaners e radar. Que segredos podem estar nos discos rígidos. Ou
o que poderiam saber sobre os nossos planos.

— Eu sei como sua cabecinha funciona — Em circunstâncias


normais, ela o faria engolir suas palavras, mas precisava convencê-
lo a agir de maneira lógica. — Depois voltaremos e investigaremos.

— Não, nada disso. Por que está sendo tão irracional?

— Não estou sendo irracional, só estou obedecendo a ordens.

— Essas ordens não significarão nada em vista do que

189
enfrentamos aqui. É uma oportunidade imperdível se descobrirmos
o que os militares estão desenvolvendo. Isso pode ser de vital
importância para os cyborgs, minha segurança pessoal não pode vir
em primeiro lugar. Eu sou apenas mais um cyborg. Enquanto há
naquele asteroide uma nave que poderá salvar centenas de cyborgs.
Precisamos de respostas.

Como ela poderia pensar em si mesma de maneira tão


humilde? Será que ela não entendia sua importância? Ou seu
valor?

— Teremos as respostas, mas não às suas custas.

— Não, será que não entende que me levar ao encontro de


outra nave cyborg pode colocá-los em perigo. Aposto que haverá
mais naves militares querendo saber o que aconteceu aqui.

— Precisamos deixar a área para o caso de mais tropas


chegarem.

— Não, precisamos é saber sobre o que há naquela nave.

— Isso pode esperar.

— Não, não pode! — Ela gritou. — Pare de ser tão teimoso.


Você continua sendo irracional. Pelo amor de Deus, pense. Ok!...
Estarei segura se concordar com seu plano, mas por quanto tempo?
Pense bem, por quanto tempo o Planeta Cyborg estará seguro até
que os militares sigam uma de nossas naves e nos encontrem?
Inferno eu digo que devemos pegar o que está ao nosso alcance
agora. Isso pode salvar nosso povo.

— Não.

190
— Sim.

— Não.

— Merda, que porra você tem na cabeça?

Uma parte de Einstein sabia que ela estava certa, mas algo
muito além da lógica o levou a loucura. Quente, fervendo de raiva, e
sem o comando das palavras que vomitavam de sua boca, ele
gritou:

— Eu não me importo se estou sendo irracional ou lógico.


Não a quero nesta nave enquanto verificamos aquela merda. Eu não
posso passar por isso novamente. Você não entende o que senti
durante a batalha. Principalmente ao saber que vocês
desobedeceram às ordens e enfrentaram naves inimigas contra
qualquer probabilidade de sucesso. Que porra, pensei que perderia
você!

Bonnie arregalou os olhos, mas ela não podia recuar.

— Você estava com medo?

Engraçado, como ela podia identificar facilmente o que torcia


suas entranhas. Nunca sentira medo verdadeiramente, nunca o
experimentara antes, não até tê-la conhecido. Inferno, outro defeito.
Teria de corrigir.

— Sim, tive.

— É normal. Batalhas são assustadoras.

Agora quem não estava querendo entender? Ele balançou a


cabeça.

191
— Não tive medo por mim, Bonnie. Eu temia por sua vida.

— Mas por quê? É por ter recebido ordens para cuidar de


minha segurança?

— Parcialmente.

— Por termos relações sexuais?

— Sim... Não... Talvez.

— Cuidado, está dando muitas respostas a uma simples


pergunta — Um sorriso maroto inclinou seus lábios.

E, de repente, uma torrente de emoções explodiu e o forçou a


extravasar verbalmente seus mais íntimos pensamentos.

— Você não compreendeu? Você é importante para mim. Eu


não entendo por que, quando ou como isso aconteceu, apesar de
todos os argumentos ilógicos que vem a minha mente, para mim a
sua segurança é de importância vital. Enquanto estava lutando no
asteroide pensei que não sobreviveria a emboscada, e tudo em que
eu conseguia pensar era em quanto estava grato ao destino por
você estar a salvo na nave. Depois você veio em meu socorro,
colocando-se em perigo, então pensei que o hardware que mantém
meus órgãos funcionando, falhava. Eu não conseguia pensar. Só
sentir essa dor. Eu temia. Eu temia perder você. E não vou passar
por aquela sensação horrível de novo.

Fechando a distância entre eles, ela quase correu e ele abriu


os braços, puxando-a com força para si em um abraço apertado.
Ele a via tão frágil naquele abraço. Tão pequena. Mais uma vez,
percebeu o quão perto chegou de perdê-la, sua garganta se apertou.

192
Ele fechou os olhos enquanto apoiava o queixo sobre o topo da bela
cabeça. Ficaram por um longo momento em silêncio, assim,
abraçados. Seus dedos brincando com as pontas de seu cabelo.

— Não foi um mau funcionamento, Einstein. São emoções.


Você se importa comigo. É por isso que sentiu medo. É por isso que
não é capaz de pensar racionalmente. Você sente carinho por mim e
quer me manter segura. Isso é normal. É parte de ser humano.

— Eu não sou humano. Eu sou um cyborg. Um robô. Ao


contrário dos outros, eu mudei muito. Não me sinto humano.

— No entanto ainda é em parte humano — Ela o fitou e


acariciou seu rosto, forçando-o a olhar para ela. — Parte máquina
ou não, você só pensou que era incapaz de ter emoções. Mas você
as experimenta todos os dias. Eu já vi isso. Uma máquina sem
sentimento poderia ser tão solidária com seus companheiros? Eu
vejo você conversando com Seth e os outros. Rindo e incentivando.
Um mero robô não reagiria como você. Um ser sem coração arderia
com tanta paixão? Você me trata com tanta gentileza? Cuidando de
mim como se eu fosse a coisa mais preciosa?

— Mas você é preciosa.

— Para você — Ela sorriu, um sorriso suave enquanto com os


dedos acariciava sua pele. — Se você fosse realmente apenas um
robô usando por base apenas a lógica, então veria que a segurança
de um não deve superar a de centenas. Mas, sua humanidade se
recusa a deixá-lo sucumbir ao senso comum. Seu coração está
ordenando ao seu lado máquina para calar a boca e fazer o que
sente ser certo. Você, meu querido Príncipe encantador e
inconsciente, não tem defeito. Você simplesmente se importa.

193
Importar? Será que realmente era isso? Parecia ser uma
palavra tão pequena para explicar tudo o que sentia. Talvez porque
fosse a palavra errada. Ele resumiu alguns de seus pensamentos
caóticos e os organizou na mente, examinando sua alegação. Ele se
sentia responsável por ela. Protetor. Ciumento. Atraído. Possessivo.

Sua conclusão, foi ainda mais assustadora quando surgiu a


definição adequada para suas emoções exacerbadas.

Eu a amo.

O que mais poderia explicar isso? Todas as emoções que se


imaginou incapaz de sentir, coisas que atribuiu a falhas de
funcionamento tinham agora uma explicação. Ele amava Bonnie.
Por mais surpreendente e irracional que parecesse, apesar de todas
as modificações feitas a ele, ainda sentia a capacidade de amar. Ele
estava maravilhado.

— Você está certa. Eu me importo. Muito.

— Eu não sei por que você parece tão surpreso.

— Sempre considerei as emoções como desequilíbrios


hormonais. Eu sempre controlei meus níveis hormonais. Pelo
menos até conhecer você.

Ela torceu o nariz e riu.

— Você sabe que não foi exatamente a declaração mais


romântica de todos os tempos.

— Eu não sabia que as minhas palavras seriam destinadas a


ser uma declaração romântica. Eu estava apenas declarando meu
atual estado de espírito.

194
— Deixe-me dizer a você. Estou apaixonada por você,
Einstein.

Ela o amava também? Não. Ele não poderia ter tanta sorte.
Bonnie era muito boa para ele. Muito bonita e perfeita.

— Você apenas é grata pelo fato de eu tê-la salvo da


destruição.

— Não. Ao contrário de você, eu sei o que estou sentindo. É


amor. L.O.V.E. E vou dizer mais, talvez pareça presunçoso de
minha parte, mas já que você tem um problema com o óbvio, eu
tenho certeza que você me ama também.

Ele tentou pronunciar a palavra, mas sua língua não pode


empurrar pelos seus lábios. O que ele tinha a oferecer a ela? Ele era
um nerd da ciência entre os seus irmãos. O mais fraco em batalha.
O menor cyborg entre uma horda de gigantes. Ela merecia muito
mais.

— Eu posso ver que você ainda não tem certeza. Deixe-me


fazer três perguntas, o incomoda pensar no que eu fiz no passado?

— Não. Claro que não.

Como ela podia pensar isso?

— E ao pensar em mim com outro macho?

Ele rosnou, um som primitivo que nunca se julgou capaz de


fazer.

— E quando chegarmos a seu planeta, o que você faria se eu


decidisse tomar outro rumo e quisesse começar uma nova vida sem

195
você?

Pressão esmagava o órgão que bombeava sangue as suas


extremidades. Sua mente oscilou entre raiva e a angústia. Ele não
pode deixar de sussurrar.

— Você não pode. Eu preciso de você — Mesmo que ela


merecesse alguém mais capaz de mantê-la segura.

Ela o abraçou.

— Oh, Einstein. Sinto muito. Eu não quis dizer... Só estava


tentando fazê-lo entender. Você me ama. O que mais você precisa
para provar isso, bonitão? Não creio que exista um teste que o
comprove. Você apenas sabe.

— Eu sei. Mas...

— Mas o quê?

— Você merece o melhor. Alguém maior e mais forte. Alguém


que possa lutar e protegê-la do perigo.

— Você lutou.

— Nem a metade dos outros cyborgs — Ele admitiu a sua


vergonha.

— Alguma vez te ocorreu que eu não quero um grandão que


só sabe usar os punhos? Talvez, eu prefira os mais inteligentes?

— Você diz isso agora, mas ainda terei de enfrentar os outros


em nosso planeta. Existem unidades de cyborg com um pequeno
grau de inteligência e habilidades. Cyborgs bem melhores que eu.

196
— Oh, Bonitão. Você não entendeu? Não é assim que o amor
funciona. Eu não amo você, só porque pode me proteger ou por
como me olha. Eu te amo porque você é você. Você deixaria de me
amar, se conhecesse uma garota cyborg mais bonita com um
passado mais limpo?

Ele encontrou seu olhar, com raiva por sequer ela ter
sugerido uma coisa dessas. Seu tom indignado transmitia irritação
quando respondeu.

— Claro que não.

— Então por que me acha tão superficial? Apesar do fato de


não entender o que você ama em mim, eu nunca o deixarei escapar.
Eu não posso, Einstein. Você é o meu Príncipe Encantado. A única
pessoa em todo o universo que foi capaz de atingir meu coração e
alma Eu pensei que os tinha perdido. O único que pode me fazer
sentir novamente. O único a quem realmente amo, tanto que eu
preferia morrer a ver você se machucar.

— Então por que não me deixe levá-la para longe daqui? Se


você me ama tanto e sabe o que sinto, porque eu não posso
primeiro cuidar de sua segurança?

— Porque somos cyborgs. E cyborgs fazem o que é certo para


nossa espécie, mesmo que isso signifique colocar as necessidades
dos outros acima de nós mesmos.

Coragem e convicção moral. Seria possível amá-la ainda


mais? Ele tomou emprestada uma expressão de Seth.

— Isso é péssimo.

197
— Não faça careta. Assim não fica muito bonito, e temos
coisas a fazer antes que eu possa dar uma chupada no seu lábio
inferior delicioso.

— O que temos de fazer?

— Você sabe.

Ele suspirou.

— Eu ainda prefiro colocá-la em algum lugar seguro.

— Eu sei bonitão. Mas isso vai ter que esperar. Nós


precisamos do que está escondido naquela nave. Afinal, mesmo eu
sendo mais esperta do que você quando se trata de assuntos do
coração, você ainda é o nerd mais inteligente por aqui. Você deseja
me manter segura, então o caminho é esse, você usa sua
engenhosidade para descobrir o que aqueles idiotas militares estão
aprontando, e então, não só eu, mas todos os cyborgs estarão
realmente seguros.

Posto desta forma, ela tinha razão.

— Tudo bem. Você ganhou. Vamos salvar o que pudermos da


nave militar, mas só se você prometer que vai ficar do meu lado,
aqui na nave onde é mais seguro.

— Ok.

— Sério?

— Hei. Eu sei que não fico bem em um traje espacial.

— Para mim você fica bem em qualquer roupa.

198
— Humm!... — Ela ronronou. — Lembre-se de dizer isso para
mim novamente quando estivermos em seu quarto.

— Por quê?

— Você vai gostar do resultado — Ela mordeu o lábio inferior


e ele gemeu, porque agora também poderia claramente imaginar o
resultado. E, caramba, ele já sabia que seria explosivo.

Por que esperar? Quando ela quebrou o beijo, ele pegou o


rosto dela entre as mãos e continuou dando a ela pequenos beijos.

— O que... Humm... Está... — Tentava dizer quando ele


lambeu o canto de sua boca. — Você está fazendo? — Ela
murmurou contra sua boca.

— Só me de mais alguns minutos.

— Mas...

— Ah, por favor — Ele ronronou, um som que algumas


semanas atrás, ele nunca se imaginou capaz de fazer. — Eu tenho
algo mais importante para fazer primeiro.

— Sério?

— Definitivamente. Pense nisso como uma punição por ter


me assustado tanto — Ele a mordeu o lábio antes de chupar sua
língua.

— Humm!... Pode continuar me punindo.

Rapidamente ele abriu o zíper e deslizou a mão para dentro


de seu macacão e a encontrou já molhada. Úmida, quente, e, oh,
tão pronta para ele. Ele mergulhou um dedo em seu canal e ela

199
engasgou.

Ele murmurou: — Serei muito rígido com você.

Com uma lentidão que a fez gemer, o dedo deslizava em seu


interior, engolindo seus suspiros com beijos sôfregos, Einstein a
provocava até que ela estremecia contra ele. Como ele gostaria de
prolongar este momento para sempre, mas mesmo ele sabia que o
tempo urgia. Ele puxou para baixo o resto do seu macacão.

Uma parte dele sabia que realmente não tinham tempo para
isso, que alguém poderia passar ali e pegá-los em flagrante. Inferno,
Aramus e Seth zuniam em sua mente com urgência, e ele projetou
mentalmente um par de: Fodam-se!

Ele precisava neste momento era de Bonnie. Precisava dela


antes que fosse enfrentar o desconhecido e perigo novamente.

Levantando-a, prensou-a contra a janela, as estrelas


brilhando como pano de fundo, o contraste do espaço negro fazia
sua pele parecer ainda mais luminosa e perfeita. Suas pernas em
volta de sua cintura, alinhando-a na ponta do membro dele. Ele o
manteve fora por um momento, esfregando a cabeça inchada na
fenda molhada, amando como ela gemia, observando-a de olhos
fechados e com a cabeça inclinada para trás, sua paixão por ele era
tão clara. Ele queria congelar o tempo. Mantê-los neste momento
para sempre. Mas ele era cyborg. O dever o esperava, um dever que
ela compreendia e incentivava.

— Eu amo você — Ele pronunciou em um tom baixo.

Cílios vibraram enquanto ela abria os olhos, seus olhos


verdes capturando os dele.

200
— Eu também o amo, bonitão. Agora pare de provocar e me
foda.

Sim, essa era a sua Bonnie. Direto ao ponto, nada delicada, e


sua.

Toda minha.

Um impulso e mergulhou dentro dela.

Ela gritou: — Sim!

Ah, sim. Quente, úmida e selvagem, seu corpo o convidava a


entrar, seus músculos internos apertando-o enquanto investiu
vorazmente, investindo e se retirando, maximizando o momento.
Mas ela não o queria lento.

— Foda-me — Ela resmungou. — Foda-me, gostosão. Foda-


me como só você sabe fazer.

As palavras sujas, que em qualquer outra pessoa o teria


perturbado, só o deixou mais voraz porque eram só para ele. Era ele
quem lhe provocava paixão. Somente seu corpo, o seu pênis que ela
queria. E ele entregou tudo. Penetrando-a, duro e rápido, até que os
dedos dela se cravaram em seus ombros, e sua boca arredondada
soltou um grito silencioso.

Ele também não foi comedido. Gritou seu nome enquanto


gozava, seu jorro quente provocando outro orgasmo nela, os
músculos de seu sexo apertando e ondulante ao longo de seu
comprimento.

Naquele momento, ele não era um cyborg.

201
Ou um ser humano.

Ele simplesmente se sentia vivo.

Vivo e amando.

Sentia-se absolutamente sensacional.

202
Capítulo Quinze

Ofegante e completamente saciada em seus braços, Bonnie


não se arrependeu de admitir seu amor por ele. Egoísta ou não, ela
não podia se negar a felicidade, principalmente quando ele admitiu
o que sentia. E se os dois sentiam o mesmo? E se ele era bom
demais para ela? Ela alegremente passaria o resto da vida provando
que o merecia. O resto da vida amando-o.

Lentamente, ele a baixou, sua relutância evidente. Ela


entendia muito bem. Os dois deram um salto enorme em seu
relacionamento. Este momento deveria ser lembrado e cuidado para
sempre. Ele merecia certa solenidade. No entanto, o dever chamava.
Os cyborgs aguardavam.

— Nós precisamos encontrar os outros.

Por um momento, ele não respondeu. Suas mãos vagaram


por seu corpo e seu baixo ventre, seu pênis, ainda semirrígido,
pressionava-a.

— Eles podem esperar um pouco mais.

— Eles nos esperam.

— Que se danem.

— Encantador! — Deus, ela era uma péssima influência


sobre ele.

— Diabos! Estamos prestes a enfrentar um possível perigo.

203
Quem sabe quando teremos um momento como este novamente?
Eu cumpri com meu dever por anos. Se eu quiser ser egoísta ter
alguns minutos com você, então terei.

— Você sabe Aramus vai me culpar.

— É melhor ele se segurar ou teremos um show com a dança


da galinha — Einstein rosnou.

Ela riu.

— Isso seria bem divertido.

— Oh!... Certamente todos os cyborgs poderiam ver o


grandioso espetáculo — Após falar um sorriso diabólico em seu
rosto a fez rir.

— Ah, e eu pensando que você não tinha senso de humor.

— Eu me especializei nisso depois que conheci você. Eu


posso tê-la despertado de seu sono, mas você despertou minha
humanidade.

Se ela pudesse derramar lágrimas, o faria agora, com a


garganta apertada disse: — Isso sim, foi um bocado romântico.

— Foi?

— Com certeza — Ela lhe deu um breve beijo, só em


agradecimento pelo elogio sincero, mas ele tinha outras ideias.
Fome como se não tivessem acabado de apaziguar a paixão, ele
devorou a sua boca, sua língua desafiando a dela para um duelo
quente que despertou o calor que sempre parecia ferver quando ele
estava por perto.

204
— Nós realmente...

— Nós vamos. Mas quando eu estiver pronto — Murmurou de


volta. — Eu tenho um problema que preciso cuidar primeiro.

— É difícil?

— Oh, sim.

— E urgente?

— Sim, muito. Tanto que eu nunca poderia me concentrar na


tarefa em questão.

Girando em seu abraço, ela o lançou um sorriso tímido sobre


o ombro.

— Nós não podemos permitir isso, não é?

— Não.

Bonnie se curvou, balançando a bunda para ele. Ele deu um


passo atrás dela e agarrou seu pênis com uma mão, esfregando-se
nela. Ele gemeu.

— Precisamos fazer isso rápido — Ela suspirou.

— Eu acho que isso não vai ser um problema — Segurando


por um dos ombros, ele a penetrou fundo e ela gemeu. Seu clitóris
já sensibilizado estremeceu ao redor dele, a nova posição permitia a
ele um novo ângulo para penetrá-la. Ele empurrou profundamente,
a cabeça do pênis batendo seu ponto G, mas como se isso não fosse
suficiente, os dedos também passaram a estimular seu clitóris.

— Sim, sim, sim... — Ela sussurrava enquanto balançava em

205
uníssono.

— Hei Einstein, por que não está respondendo... — A voz de


Seth sumiu aos poucos. — Hum, vejo que está ocupado, mas...
Humm!..., bem, você sabe que estamos esperando por você.

— Saia! — Einstein resmungou, não diminuindo o ritmo.

— Será que isso vai demorar muito?

Bonnie quase gritou que Einstein não sairia dela. Felizmente,


Einstein falou pelos dois.

— Saia antes que eu o programe para usar vestidos,


maquiagem e mudar o seu nome para Sally — Ele gritou.

— Não precisa ficar irritadinho. Quando estiver pronto, nos


encontre na sala de controle? Nós temos decisões a tomar.

— Foda-se!

Bonnie sabiamente não riu, Seth propositadamente levava


seu amante à loucura. A culpa foi dos dois ao escolherem um lugar
público. Mas o que a deixou maravilhada foi o fato de Einstein não
se retirar a sua timidez habitual com a interrupção.

Não.

O monstro sexual que ela criara não perdeu a ereção ou o


ritmo, embora fizesse uma mudança de posição a fim de escondê-la
de vista do amigo. E ainda diziam que o cavalheirismo estava
morto.

— Já estou saindo, cara. Mas você sabe que sexo é para


relaxar, certo? Ah, e só para você saber, esta janela não é

206
polarizada.

O que significava que alguém de fora da nave poderia estar


assistindo? Improvável, já que estavam no espaço, mas de alguma
forma excitante. Einstein deve ter pensado isso também, porque
começou a investir furiosamente, logo que ouviu o som distintivo da
porta se fechando. Achatando as palmas das mãos contra o vidro,
ela pedia mais. Pediu para fodê-la. Para reclamá-la. Para amá-la.

Apesar do que pudesse acontecer nas próximas horas, eles


pelo menos, encontraram um pequeno paraíso. A chance de um
futuro. Esperança. E o melhor de tudo, amor. E Bonnie faria tudo
ao seu alcance para segurar.

Os militares não tirarão isso de mim. Não sem muita


luta.

207
Capítulo Dezesseis

Saciados, rapidamente se limparam e se vestiram novamente,


finalmente chegando à reunião, entraram em uma sala cheia de
sorrisos e uma gigantesca carranca.

— Mas que merda, onde se enfiou — Aramus rosnou.

Considerando onde ele preferia estar; entre as coxas de


Bonnie, onde tudo no universo parecia perfeito, Einstein
calmamente levantou seu dedo médio, o gesto causou em Seth um
riso quase histérico, viu Aphelion escondendo o rosto por trás da
mão, e Aramus fumegante.

— Bonnie e eu tínhamos coisas a discutir.

— Gostaria de poder ter mais discussões desse tipo —


Declarou Seth rindo mais ainda.

O velho Einstein teria corado, mas agora... Apenas se sentou


ao lado de sua amante e sorriu.

— Vocês todos podem ficar com inveja de mim mais tarde.


Então o que sabemos sobre a nave abatida? De acordo com os
relatórios preliminares neste quadrante, não há relatos de
encontros hostis. Os canais de comunicação continuam inoperantes
e não há sinais de atividade que possamos detectar.

Seth olhou boquiaberto.

— Cara, quando você teve tempo de verificar tudo isso?

208
— Alguns de nós sabem realizar multitarefas.

— Eu posso garantir sua habilidade nessa área —


Acrescentou Bonnie, sua insinuação, finalmente, fazendo-o corar.

Limpando a garganta, Einstein voltou à questão presente.

— Depois de analisar a situação e executar alguns cenários


hipotéticos, probabilidades e estatísticas, temos a necessidade de
investigar o local do acidente e ver o que podemos salvar.

— Temos ordens expressas de Joe, devemos levar Bonnie ao


ponto de encontro o mais rápido possível — Aramus respondeu
enquanto tamborilava os dedos grossos na mesa. — Neste caso
devemos nos por a caminho o mais rápido possível.

— E perdermos a chance de descobrir a tecnologia que os


militares estão desenvolvendo. Acho que devemos pegar o que
pudermos agora, quanto antes descobrirmos o que eles têm, mais
rápido saberemos como nos defender — Seth expôs seu
pensamento claramente.

— Concordo. Minhas estatísticas dizem que a probabilidade


de acharmos qualquer coisa será muito produtiva, outra
oportunidade como essa é menos de oito por cento. Não podemos
perder essa chance — Einstein acrescentou.

— Temos ordens.

Bonnie se endireitou na cadeira.

— Ordens que me dizem respeito, o que me dá o direito de


dizer o que penso. Como disse ao meu Príncipe Encantado aqui,
digo que devemos descer e investigar, isso é mais importante do que

209
por minha bunda a salvo. Dificilmente teremos outra chance como
essa, pode significar a sobrevivência de nosso povo.

— Você está me pedindo que ignore um comando direto? —


Aramus a inquiriu com seu olhar autoritário.

— Essa situação requer medidas extremas — Einstein


afirmou, acrescentando sua voz para dar mais ênfase ao
argumento. — Joe é nosso líder, eu não discuto isso, mas neste
caso, ele fala com o coração e não com a lógica. Uma hora atrás, eu
teria concordado com ele. Bonnie é importante. Realmente
importante. Mas, ela está certa quando diz que não teremos outra
oportunidade como essa. A nova tecnologia que os militares estão
usando os torna invisíveis em nossos escaners e radares.
Precisamos descobrir o que é. Nosso mundo estará em perigo se
não o fizermos.

Bonnie, com a expressão séria em seu rosto, encontrou o


olhar de Aramus e o sustentou, não era uma façanha que muitos se
atreviam quando ele tinha a carranca.

— Isso sem mencionar que a minha vida não vai valer nada
se uma nave militar seguir sorrateiramente uma das nossas e
encontrar nosso mundo. Eu sei que Joe é nosso líder, mas ele está
agindo em nome da minha irmã. Acredite em mim, a importância
que estão me dando é lisonjeira, mas infundada, sou apenas outro
cyborg. As necessidades de todos devem vir antes da minha.

— Para um UPNS, você está fazendo sentido ao menos uma


vez — respondeu Aramus, um pouco menos mal-humorado do que
de costume.

210
— Ahnn... Um elogio. Rápido, alguém deve registrar isso no
diário de bordo.

— Retiro o que disse.

— Tarde demais. Todos ouviram. Você não é mais o Homem


de Coração de Lata de Oz. A próxima coisa que você estará fazendo
é a dança da galinha.

— Einstein, faça-a calar antes que a estrangule.

— Toque nela e você não vai só dançar, vai cantar também —


Einstein disse com uma expressão impassível que fez Aramus se
levantar. — Além disso, não terá que ouvir muito mais, já que
estamos todos de acordo, devemos agir. Quem sabe quanto tempo
temos antes que alguém venha investigar o que se passou aqui. Nós
precisamos formar uma pequena equipe e sair o mais rápido
possível.

— Tem ideia do que devemos procurar?

Não saber o que poderia ser, era o que mais o incomodava.


Einstein deu de ombros.

— Não. Esta nova tecnologia me deixou perplexo. Eu nunca vi


nada semelhante, mesmo com meu acesso às tecnologias
apreendidas em missões anteriores, nada me preparou para isso, o
que estamos procurando não vai aparecer em nossos leitores
habituais, você vai ter de confiar em seus sentidos visuais.

— Em outras palavras, tudo o que não aparecer na tela, mas


que podemos ver com nossos olhos é o que queremos.

— Exatamente.

211
— Cara. Sou voluntário para fazer parte da equipe de
embarque — Seth levantou a mão e em poucos minutos, eles
decidiram quem iria e quem ficaria para trás. Apenas os mais
atentos foram escolhidos para ir: Seth, Nova, Astro, e Bolt
vasculhariam a nave militar abatida.

Aramus não parecia feliz com a decisão de ter de ficar para


trás, mas como Seth apontou, de todos eles, sua visão era a pior.

— Vou supervisionar a operação com Einstein no centro de


comando. O resto da tripulação deve ficar nas vigias da nave para
não termos surpresas. Aphelion, quero você sentado sobre os
lasers, pronto para nos defender. UPNS, você vai monitorar no
sistema de comunicação. Se ouvir alguma coisa quero saber. A
recuperação de dados e hardware naquela maldita nave é
importante, mas não vamos nos arriscar de maneira estúpida.
Alguma pergunta? — Os olhos se encontraram, mas ninguém tinha
nada a acrescentar. — Então, vamos nos mexer. Eu não quero ficar
à toa aqui por muito tempo, se acaso a armada militar aparecer por
aqui, eu quero estar bem longe. Boa sorte a todos.

— E que a força esteja com você — Bonnie acrescentou, então


Seth começou a cantarolar uma melodia à qual Bonnie e os outros
se juntaram, e que nos bancos de memória de Einstein era
chamada de: A Marcha Imperial. Aparentemente, a canção
cativante fazia referência a um culto dos anos setenta, uma série de
filmes intitulada Star Wars. Confiou em sua amante para
transformar uma situação grave em algo leve, e a brincadeira
aliviou a tensão na sala.

E quanto às imagens que ele filtrou de uma certa princesa do

212
dito filme em trajes minúsculos? Ele certamente daria a ela
algumas sugestões assim que se encontrassem a sós mais tarde,
tão logo colocasse Bonnie em segurança.

213
Capítulo Dezessete

Mas que porcaria, os machos cyborgs são super-


protetores.

E mais uma vez, Bonnie foi deixada para trás enquanto


outros cyborgs participavam de outra aventura, mas desta vez, ela
tinha pelo menos Einstein ao seu lado já que Aramus declarou: —
Você fica. Eu preciso de alguém para manter UPNS na linha.

Ah, como se seu Príncipe Encantado pudesse impedi-la de


agir do modo que escolhesse. Na verdade, ele provavelmente seria a
única pessoa com tal poder... Mas só se ele pedisse com muito
jeitinho.

Usando o mesmo transporte que tinham utilizado para


investigar o que estava acontecendo no asteroide, os quatro
escolhidos logo partiram. Não demorou muito tempo para pousar e
se dirigirem a nave abatida, uma baleia de metal encalhada no
asteroide. Através de câmeras instaladas nos capacetes dos
escolhidos para ir, ela e os outros observavam como os cyborg
entrarem por uma brecha no casco. Depois de ter assistido muitos
filmes de alienígenas durante a sua adolescência, Bonnie mordeu o
lábio, as visões de um ataque de ETS, disparando feixes elétricos ou
de laser na tripulação humana ainda estava viva em sua mente.
Mas a realidade era muito mais chata. Na nave não havia sinal de
vida. Uma camada de pó já cobriu o interior, um interior
basicamente composto de metal retorcido e queimado, fios

214
pendurados e corpos presos aos destroços. Apesar do fato de terem
tentado matá-la, ela ainda fez uma careta com a visão. A morte
sempre era terrível.

Seth soltou um assobio longo.

— Que confusão. Não sei se poderemos encontrar algo de útil


por aqui.

— Você está na área mais afetada da nave — Observou


Einstein via comunicador para a equipe em terra. — Nosso míssil
arrebentou o casco. E também é o lado que atingiu primeiro o
asteroide. Sorte nossa termos atingido a área dos alojamentos da
tripulação e de armazenamento.

Sorte para eles, talvez, não para a tripulação. Embora, a


maioria dos soldados desse o melhor no combate desejando acabar
com a ameaça cyborg, Bonnie se esforçou em esmagar sua
simpatia. Os humanos nunca tiveram nenhuma simpatia por ela.

Einstein continuou: — A sala de máquinas está localizado um


nível abaixo, após o impacto deve estar mais ou menos intacta.
Nova e Bolt, peguem o corredor a esquerda e vejam se conseguem
chegar à sala de máquinas. O que nós queremos está
provavelmente ligado ao reator de alimentação principal. Ao menos
suponho que esteja. A lógica diz que qualquer tecnologia que oculte
uma nave desse tamanho necessitaria de muita energia. Deve estar
lá. O problema com hipóteses é que nem sempre estão certas.
Então fiquem atentos a qualquer coisa estranha ou fora de lugar na
estrutura interna da sala.

— Não os pressione — Bonnie disse baixinho. — Eles têm

215
conhecimentos de plantas e esquemas usados em naves militares,
certamente notariam algo estranho.

— E nós? — Perguntou Astro. — Aonde quer que dêmos uma


olhada?

— Seth e Astro, vocês...

— Vamos para o outro lado — Seth os interrompeu. — Eu sei,


cara. Apenas relaxe e veja através das câmeras coisas que podem
passar batidas aos nossos olhos. Sabemos o que devemos fazer.

E eles provavelmente sabiam, em circunstâncias normais. O


problema era, Einstein e os outros não sabiam o que estavam
procurando. Bonnie podia ver seu Príncipe nerd, aflito por não ter
insistido mais para ir com o grupo.

Dividindo sua atenção entre as duas equipes em terra, seu


amante tentava se concentrar nas duas enquanto as equipes
mergulhavam mais fundo em direções diferentes na estrutura semi
desmantelada, Observando-os atravessar os corredores escuros.
Bonnie podia sentir a preocupação de Einstein ao enviar tão poucos
nesta missão. Porém todos sabiam que se os militares surgissem
inesperadamente, mais cyborgs a bordo significava uma maior
chance de destruir o intruso e resgatar a pequena equipe em terra.

Apesar do que Hollywood a levava a esperar, nenhum


marciano verde, com dentes grandes e um apetite voraz por carne
humana saltou sobre algum cyborg. Uma coisa boa, ainda que um
pouco decepcionante.

Não muito tempo depois, Bolt e Nova encontraram uma porta


fechada em seu caminho, uma que se recusou a ceder diante da

216
grande força física de dois cyborgs trabalhando juntos, a porta se
dobrara entranhando nas paredes com o impacto. Já que teriam de
usar um maçarico para abrir caminho através do metal, Einstein
passou a dar mais atenção a Seth e Astro.

O par não encontrou obstáculo que não pudesse ultrapassar


rapidamente, no entanto encontraram uma divisão no corredor que
não estava nos esquemas de naves de uso militar, eles precisavam
tomar uma decisão.

— Cara, qual caminho devemos tomar primeiro? De acordo


com o esquema, a esquerda são os aposentos do capitão, a direita,
o centro de comando.

— Quarto do Capitão.

— Centro de comando.

Einstein e Aramus falaram ao mesmo tempo. Aramus bateu o


punho no braço da cadeira.

— Ei, o responsável por esta missão fodida sou eu, e digo


para ir para a área de comando.

Bonnie virou seu olhar na direção de seu Príncipe, o lábio de


Einstein se estreitara enquanto se levantava para enfrentar
Aramus.

— Eu sou oficial de inteligência e estratégia. E digo que eles


vão aos aposentos do Capitão, quero que eles acessem os arquivos e
os códigos de comunicação.

Tentando aliviar o clima tenso, Bonnie saltou de seu assento


e se colocou entre eles, quebrando seu jogo de vontades.

217
— Se acalmem, rapazes.

— Fique fora disso, UPNS.

— O nome dela é Bonnie.

— Qualquer que seja. Isso não diz respeito a ela. Eu digo que
resolvamos isso em uma queda de braço. — Aramus rosou.

— Mas que gracinha. Tenho uma ideia melhor. Por que não
resolvemos uma equação? — Einstein retrucou.

— Por que simplesmente cada um deles não segue um


corredor? — Bonnie sugeriu, incapaz de manter a calma.

— Já foi feito, Princesa — Seth disse. — Estou indo para os


aposentos do Capitão, enquanto Astro ao centro de comando.

Batendo palmas, ela sorriu.

— Solução encontrada.

Einstein quase riu com a expressão azeda de Aramus.

— Ótimo. Aramus, por que não ficar de olho em Astro


enquanto sigo Seth?

Com o grunhido de assentimento vindo de Aramus, Einstein


se virou para sua tela e Bonnie voltou a seus fones, procurando por
qualquer sinal dos inimigos, de vez em quando ela se debruçou
sobre o ombro de Einstein para dar uma espiada na tela.

— Este lugar é assustador — Seth murmurou.

— Não me diga que tem medo de fantasmas? — Bonnie


brincou.

218
— Ei, não ria. Na última vez que eu e os rapazes achávamos
ter topado com um fantasma, encontramos F-814.

— Sério?

— Isso mesmo. Ela estava se escondendo nas minas do


asteroide que planejávamos saquear. Então não ria. Quem sabe o
que podemos encontrar aqui?

— Você não acha que eles tinham uma cyborg a bordo, não
é? — Einstein perguntou.

Seth deu de ombros, ou assim presumiram, dado o balançar


da câmera.

— Nunca se sabe, rapaz. Os soldados que encontramos no


asteroide disseram algo sobre nos reprogramar, não? Quem sabe o
que esses militares vieram fazer neste quadrante. Talvez
devêssemos investigar mais. Cheguei aos aposentos do Capitão.

Parando diante de uma porta idêntica as outras, exceto pelo


emblema da frota militar, Seth arrancou o painel de controle. Sem
energia, o mecanismo não respondia ao toque. Ele puxou a
alavanca manual, liberando a trava. Um clique. Deslizando os
dedos na fresta aberta, Seth deslizou a porta abrindo-a e entrou.

O caos reinava, parecia não ter sido somente pelo acidente, o


Capitão bem poderia ser um porco. Roupas espalhadas pelo chão,
junto com pratos sujos e outros detritos.

— Criatura imunda — Seth exclamou.

— Talvez ele estivesse muito ocupado para limpar — Disse


Einstein.

219
— Muito ocupado para mandar alguém limpar essa pocilga?
Que seja, cara. Onde devo começar a olhar? Mas aviso desde já, não
chegarei nem perto da gaveta de roupas íntimas sem luvas.

Bonnie abafou uma risadinha.

— Veja sua mesa de trabalho. Deve haver um console


embutido. Mesmo sem energia, deve ser simples desacoplar o disco
rígido com os arquivos que estamos procurando.

— Mais alguma coisa?

— Coloque sua câmera em rotação enquanto você retira o


disco rígido vou dar uma olhada e ver se quero algo mais.

— O que você está procurando? — Bonnie perguntou.

— Muito Capitão tem por habito manter um diário de bordo


pessoal, geralmente um caderno de papel ou dispositivo de
armazenamento eletrônico independente do computador central.
Uma rede de segurança para o caso de algo ruim acontecer, tipo
intrigas ou boatos de motim ou desafetos entre a tripulação, nomes
são registrados e levados ao alto comando para serem investigados
a fundo.

— Como é triste. Até mesmo os próprios soldados não


confiam neles.

— E você?

Claro que não, mas ela tinha uma razão válida. Por outro
lado, depois ter visto como os militares agiam enquanto fora
prisioneira deles, não era surpresa de que os seus oficiais queriam
tirar o corpo fora no caso da merda atingir o ventilador. Ela

220
acompanhava Einstein na observação enquanto a câmera mostrava
o quarto. Roupas, botas, revistas com peitos nus, pratos sujos, e
porta-retratos, que Einstein ampliava as imagens procurando por
algo. Mostravam um homem uniformizado e emproado com um
casal de idosos. O mesmo homem agora com um monte de caras
uniformizados bebendo e brindando. Ele em uma praia.
Paraquedismo. Einstein mantinha a imagem panorâmica da sala
enquanto Seth resmungava sobre parafusos minúsculos e polegares
grandes. Bonnie quase desviou o olhar quando viu algo.

— Pare a câmera — Bonnie exigiu.

Einstein brincava com os botões.

— O que você viu?

— Volte.

Ele voltou a gravação.

— Ohh. Você viu isso?

Aparentemente, ele não notou nada estranho porque apenas


sacudiu a cabeça.

— Notou o peso de papel que parece ter sido feito por uma
criança de seis anos de idade.

— Qual o problema? Muitos caras trazem lembranças de seus


filhos.

— Mas esse cara parece não ter filhos.

— E como você descobriu isso?

221
— Nenhum dos quadros mostra uma esposa ou família. São
imagens de um único indivíduo, esse cara nunca foi pai. Aposto que
esse peso de papéis é um engodo.

— Seth, pegue essa coisa.

— Ok — Seth acabara de soltar o disco rígido e pegou o


objeto de aparência bizarra colocando-o em outro bolso.

— Mais alguma coisa?

— Nada que tenha chamado minha atenção. Mas dê uma


olhada mais detalhada. Talvez tenhamos perdido algo.

— Há muito sangue por aqui — Observou Seth. —


Especialmente em torno do computador. Quase como se alguém
tivesse morrido aqui.

— Talvez tenha sido ferido durante o acidente.

— Talvez.

Bonnie notou que Seth focalizou a imagem na grande


mancha marrom-avermelhada em volta da área de trabalho. Talvez
o Capitão tivesse conseguido alcançar o corredor, na esperança de
encontrar ajuda. A julgar pela grande mancha, ela duvidava que
tivesse encontrado.

Uma outra boa olhada da sala, e para desgosto de Seth,


consistiu em revirar as roupas sujas espalhadas e papelada, não
encontrou nada e saiu para se juntar a Astro na ponte de comando.
O outro cyborg também não estava encontrando um momento fácil,
a sala parecia ter sofrido mais danos do que o esperado, mas a cena
não poderia ter sido causada só pelo impacto no asteroide.

222
— Com certeza eles explodirão o maldito lugar, provavelmente
para que não encontrássemos nada que dissesse respeito à
máquina — Aramus rosnou, batendo com o punho no braço da
cadeira. — Bastardos. Não encontraremos nada de útil lá.

Mas Bonnie era uma fanática por filmes de conspiração, para


ela, havia um cenário diferente.

— Eu não acho que foi isso o que aconteceu. Se vocês


olharem para as marcas da explosão e a forma como os corpos
estão posicionados, mais parece que foram atacados por dentro.

— Pela própria tripulação? — Aramus não conseguia


esconder incredulidade.

— Esse não seria o primeiro motim militar. Também poderia


ter sido que um tripulante ou oficial, vendo a nave e a tripulação
sem chance de sobrevivência, tenha enlouquecido e causado essa
destruição.

— Capitão — A voz de Bolt cortou as conjecturas. —


Entramos na sala de máquinas, mas não acho que encontremos
alguma coisa útil. Parece que houve um massacre aqui.

— Outro soldado suicida? — Aramus soltou as palavras com


ceticismo.

Bonnie mordeu o lábio inferior, a cena que se desdobrava no


asteroide a incomodava, tantas evidências e hipóteses. Mas dada a
quantidade alarmante de danos e perda de pressurização, a
levavam a crer que alguém fizera tudo aquilo depois do impacto da
nave no asteroide, seria alguém da tripulação, mas e a falta de
oxigênio, como um humano sobreviveria tempo suficiente para

223
causar aquele tipo de estrago? E mais uma vez, por quê o faria?

Focando sua tela na frequência da câmera de Bolt, Einstein


esfregava o queixo, seu tic indicador para entrar no modo de
pensar. Parece que ela não era a única a calcular hipóteses de que
teria sido obra de uma única entidade.

— As probabilidades de que foram soldados amotinados


parece inviável. Fiquem em alerta máximo. Podemos ter uma
possível presença hostil.

— Pois que venham — Respondeu Nova. — Eu mais do que


estou disposto a colocar um ponto final nisto.

Mais uma vez, o sentido de que algo não estava certo a


incomodava.

Por que eles presumiam que o assassino e destruidor


fosse humano? Roupas ambientais só pode armazenar uma
quantidade limitada de oxigênio. Um humano não poderia
sobreviver por tanto tempo? Será que a nave tinha um cyborg
a bordo, um possível aliado que nos tenha ajudado naquela
situação perigosa?

Não querendo parecer tola, ela manteve a teoria para si


mesma.

Einstein inclinou-se e olhou fixamente para sua tela, como se


uma visão mais próxima pudesse mostrar o que ele queria ver.

— Bolt, você vê alguma coisa incomum próximo ao núcleo de


energia? Qualquer equipamento que você não está familiarizado?

— É difícil dizer com tanta bagunça e entulho provocados

224
pela explosão. Dê-me um segundo para dar uma olhada mais de
perto — As mãos enluvadas de Bolt surgiram à vista, puxando
fiações expostas e metal torcido. Ele resmungava quando conseguiu
soltar um grande painel do caminho. — Humm... Você pode ver
isso? É isso que você quer dizer com aparência estranha? — Bolt
levantou uma pequena caixa com uma luz verde piscando, Einstein
deixou escapar um suspiro sibilante.

— Merda — O palavrão de Einstein a provocou um frio na


espinha. — Bolt, coloque essa coisa no chão, bem devagar e saia
daí. Rápido. Todos vocês abandonem a nave agora.

Para seu crédito, Bolt fez exatamente o que o foi ordenado,


mas perguntou curioso.

— Que merda era aquela?

— Uma bomba com temporizador curto. Todo mundo precisa


sair agora e tenham cuidado. Quem plantou aquela coisa está ai e a
espreita. Eu diria que há uma probabilidade de 90 por cento de
vocês não estarem sozinhos.

Com o fim da conversa, começou a espera.

— Mas o suporte de vida está desligado. A nave


despressurizada. Trajes espaciais humanos não são projetados para
durar em uma atmosfera estéril por mais de algumas horas. De
jeito nenhum pode haver alguém ainda vivo — Aramus declarou,
seus dedos tamborilando para disfarçar o nervosismo.

— Nenhum ser humano. Mas e um cyborg? — Einstein falou


em voz alta o que Bonnie, até agora, apenas suspeitava.

225
— Impossível! Um cyborg jamais nos feriria — Nova bufou. —
Somos seus iguais.

— Não se a unidade estiver sob controle militar.

A sugestão colocou uma expressão sombria no rosto de todos.


Um humano em traje espacial, vagando por aí com uma arma,
facilmente poderia ser morto. Um cyborg no entanto... Poderia
causar sérios danos.

Em alerta máximo, Bolt e Nova corriam pelo corredor e


encontraram Seth e Astro vindo de outra direção. Como um grupo,
eles fizeram o seu caminho de volta para sua pequena nave de
transporte como Bonnie e os outros observaram e esperavam pelo
desenlace.

Tudo parecia até estranho, já que conseguiu embarcar e


levantar voo sem incidentes. Inferno, eles ainda puderam ver de
longe a nave militar explodir em uma bola de chamas, as ondas de
choque mal balançaram a pequena embarcação a toda velocidade.

Aramus desconfiou da facilidade de fuga.

— Isso foi muito fácil. E odeio coisas fáceis. Seth, escaneie o


casco no lado exterior em busca de objetos desconhecidos. Bolt e
Astro, verifiquem todos os compartimentos do interior, Nova pilote a
nave. Eu quero que cada centímetro seja inspecionado, procurem
por intrusos.

— Você acha que podemos ter trazido um clandestino a


bordo? — Seth perguntou, suas mãos já armadas com facas de aço.
Como armas era a escolha mais acertada já que sua embarcação
era apertada. Um disparo de laser poderia desestabilizar a nave

226
espacial e matar a todos.

Einstein fez uma pausa em sua digitação para responder.

— Eu tenho desenhos e diagramas da bomba encontrada por


Bolt. É claro que, quando as obtive ainda estavam em fase de
testes. Pelo que me lembro, elas têm um temporizador sequencial
curto, a explosão pode ser programada até 15 minutos. O que
significa...

— Que alguém pôs a bomba enquanto nós estávamos na


nave.

— A menos que os militares tenham adaptado o dispositivo


para esse tipo de situação.

— Possível — Respondeu Einstein —, mas improvável. Elas


foram feitas para ser como um homem-bomba. Uma vez ativada, é
preciso sair rápido antes que alguém viesse a desarmá-la.

— Casco exterior, limpo — Seth anunciando.

— Compartimento do motor, limpo — Bolt acrescentou.

— O mesmo vale para o resto da nave — Opinou Astro.

A tensão na sala diminuiu.

— Ótimo. Com alguma sorte, quem armou a bomba deve ter


morrido na explosão — Disse Aramus. — Ainda assim, apenas por
precaução, estou avisando as unidades a bordo para permanecer
em alerta máximo. E com toda a tripulação a postos, realizaremos
uma varredura completa na nave.

— Eu já estou executando as varreduras — Olhos de Einstein

227
permaneciam atentos à tela enquanto os dedos voavam rápido no
teclado. — Até agora, não detectei quaisquer violações exteriores,
acessos desconhecidos a nossos sistemas, ou outras anomalias.

— Continue procurando. Eu não quero surpresas


desagradáveis na volta ao nosso planeta. Joe arrancará minha pele
se isso acontecer.

À medida que os cyborgs trabalhavam, Bonnie ficara em


silêncio. Sua inquietação se recusando a se dissipar, mesmo
quando o grupo de desembarque voltou, supostamente livre do
inimigo. Ela não poderia dizer o porquê ou o que a incomodava. As
varreduras minuciosas nada mostraram de estranho ou fora do
lugar. A equipe de investigação voltara a salvo e trouxeram o disco
rígido do Capitão, e o peso de papel misterioso.

Então, por que ela ansiava mastigar as unhas, um hábito


nervoso que seu status biônico nunca conseguiu apagar?

Por que não podia relaxar?

Entrando no centro de comando, com o butim na mão, Seth


orgulhosamente apresentou seus tesouros a Einstein.

— Aqui estão, cara. Todo seu.

Einstein fez uma careta.

— O problema é. O que devo fazer com isso?

— Eu pensei que o ponto crucial desta porra de missão fosse


descobrir o que está acontecendo. Então acesse as malditas coisas
e diga-nos o que dizem.

228
— Eu não tenho uma máquina apropriada para trabalhar
com isso, no entanto — Einstein respondeu com uma careta —, se
ligá-los ao programa central da nossa nave, eu poderia,
inadvertidamente, lançar um vírus malicioso ou programa de
monitoramento.

— Então, retire um dos computadores de todo o sistema.


Você é o nosso nerd. Descubra alguma coisa. Ou você estava
mentindo quando me disse que precisava de mais informações?
Deve haver algo importante no disco, Talvez planos de ataque ou
desenvolvimento de armas.

Einstein suspirou.

— Estou pensando em qual procedimento devo fazer. Apenas


apontei que não vai ser fácil. Vou ao meu laboratório. Em outras
palavras, vou cortar todo o acesso interno e de comunicação com o
resto da nave, só por precaução.

— Então o que está esperando? Ponha o seu rabo de metal


em movimento.

— Você precisa de ajuda? — Bonnie perguntou.

— Sim, caso me depare com algumas coisas criptografadas,


você me será de grande ajuda.

Ela sorriu.

— Fico feliz por ajudar.

— Acho que vou vomitar — Aramus revirou os olhos. —


Podemos nos concentrar nas tarefas vitais? Deixem os encontros
românticos para outra hora, de preferência fora de minha neve.

229
Saiam logo daqui e descubram o que está havendo. Avisem-me
assim que encontrarem qualquer coisa.

— E nada de brincadeiras — Seth gritou enquanto eles


saíam. — O trabalho antes do prazer.

— Eu sei — Einstein resmungou.

Ela entrelaçou os dedos com os dele enquanto se


encaminhavam ao laboratório.

— Vamos, bonitão. Vamos mostrar a seus amigos que


formamos uma grande equipe quando encontrarmos algo de útil
nestas coisas. Então, poderemos brincar um bocado.

— Parece um bom plano — Ele apertou seus dedos e, por um


momento, ela quase pode acreditar que tudo no universo acabaria
bem. Agora, se ela pudesse dissipar a sensação de que algo poderia
estragar a felicidade que tinha encontrado.

230
Capítulo Dezoito

Assim que chegaram ao laboratório, Einstein selou o quarto.


Ele manualmente desengatou o cabo que ligava seu computador ao
resto da nave e também desativou o sistema sem fio. Bonnie,
imediatamente se empoleirou no balcão da bancada, e com as
pernas balançando, observou.

— Então, o que você pensa encontrar no disco? — Ela


perguntou.

— Uma solução para a paz entre cyborgs e humanos?

Ela bufou.

— Ha. Ha. Bonitão, você está se transformando em um


verdadeiro comediante.

Um sorriso inclinou os lábios dele.

— Eu continuo tentando. Quanto à sua pergunta, com toda a


honestidade? Provavelmente não muito no disco rígido. Eu duvido
que o Capitão mantivesse informações importantes nele.

— Então por que pediu a Seth que o trouxesse?

Ele levantou os ombros.

— Nunca se sabe. Talvez o Capitão estivesse contando com


uma autodestruição de arquivos assim que o computador central
da nave parasse de funcionar, talvez ele fosse desleixado ou do tipo

231
arrogante, bem, o tipo que pensa que nada de ruim vai acontecer a
ele.

— Então porque não verifica esse pedaço de gesso primeiro?


— Segurando o objeto disforme, ela olhou para ele.

— Porque antes quero executar uma série de testes nele. Eu


odiaria usar um martelo e descobrir que têm explosivos dentro.

O olhar de horror em seu rosto quando ela colocou a peça


cuidadosamente e fugiu para longe, o fez rir.

— Você está tirando sarro de mim! — Exclamou ela,

— Talvez um pouco. Eu duvido muito que seja uma bomba.


Mas, quero ser cuidadoso antes de abrir. Eu odiaria danificar o
interior e torná-lo inútil. Primeiro, porém, vamos ver o que podemos
encontrar no disco.

Ao ligar uma mini fonte de alimentação, Einstein conseguiu


ouvir o zumbido do disco rígido em funcionamento.

— Até agora tudo bem — Murmurou. — Agora, onde está o


monitor que eu tinha por aqui? — Foi até um armário, e retirou
dele uma tela plana e um punhado de fios. Ele os colocou ao lado
dela, em seguida, foi a um armário onde retirou um quadrado verde
com transistores e gravuras em ouro sobre ele.

— Oh meu Deus, onde você achou essa placa-mãe antiga? —


Ela exclamou, obviamente reconhecendo a pilha antiquada de
plástico.

— As colônias que visitamos ao longo desses anos não são


exatamente equipadas com a melhor que a Terra tem a oferecer. E a

232
gente nunca sabe o que pode vir a calhar em uma emergência, sem
mencionar que gosto dessas coisas.

— Humm, um acumulador de velharia — Ela tossiu a palavra


dando-o tapinhas na mão.

— Eu prefiro o termo colecionador de artefatos antigos.

Ela riu.

— Acho que eu não deveria reclamar. Sua necessidade de


recolher objetos inúteis o impulsionou a me encontrar.

— Eu não chamaria você de um Vintage. No entanto, devo


admitir, você é provavelmente o item mais valioso que eu já
encontrei.

Ele fez uma nota mental de que o elogio pareceu agradá-la,


que a temperatura de seu núcleo subiu alguns graus. Fascinante.
Distração. Ele ignorou sua vontade de explorar o tema mais a
fundo. Agora, ele precisava se concentrar. Começou a mexer nos
fios e cabos de fixação, ligando-os a placa-mãe antiga, e finalmente
fez as coisas funcionarem. Sua tela se iluminou com o sistema de
computador improvisado inicializando.

— Eu sou o cara! — Ele anunciou.

— Nem tanto, caso não tenha notado a tela está pedindo o


login de uma senha — Comentou Bonnie, deslizando de cima do
balcão para se colocar atrás dele, olhando por cima de seu ombro.

— Bah!... E acha que isso vai me parar. Você está falando


com um mestre em hackear sistemas — Estalando seus dedos, um
gesto humano que o parecia tão natural, mesmo ele não se

233
lembrando de sua vida passada, começou a trabalhar.

Com seu conhecimento e habilidade, não demorou muito


para decifrar o código de entrada simples e puxar todos os arquivos.
Filtrando informações sobre procedimentos diários, detalhes tipo:
de funcionamento e reparos de sistemas, tabelas de
armazenamento, lista de pessoal, e outras coisas sem importância,
continuou a filtrar as informações.

O que mais os interessava eram as comunicações enviadas e


recebidas pela nave. Informações que foram escondidas sob várias
camadas de segurança. Novamente, ele não esperava muito, mas
parecia que, neste caso, poderia estar errado. Várias mensagens
foram trocadas e criptografadas, é claro. Mas antes que as abrisse e
analisasse, um arquivo chamou sua atenção. Bonnie notou no
mesmo momento que ele, apontando o dedo na tela, um arquivo
datado do ataque ao asteroide.

— O que acha?

— Vamos dar uma olhada.

O vídeo começou com muita estática e ruído, o som de uma


sirene estridente gemendo ao fundo, mas não o suficiente para
esconder a maldição proferida por um homem que se sentou
pesadamente em frente câmera. A imagem borrada de um uniforme
da frota deu lugar a um rosto feio. Rugas, olhos encovados, e
calvície encheram a tela.

— Que merda, a câmera já está em funcionamento. Lixo


mecânico inútil. Apenas outra porcaria que não funciona como
deveria. De qualquer forma... Para quem receber essa mensagem,

234
notifique o Comando Central de que a emboscada falhou. Apesar do
novo dispositivo de camuflagem, que alguém me garantiu ser
infalível, os cyborgs nos detectaram e destruíram nossas naves. Na
verdade, destruíram por completo duas e avariaram seriamente a
nossa. Tanto que ordenei que a tripulação abandonasse a nave.

O humano enxugou o rosto suado com uma toalha suja.


Olhos cansados e vermelhos fitavam o nada.

— Estamos ferrados. A nave cyborg pode não ter sido capaz


de nos detectar nos escaners e radar, mas isso não os impediu de
chutar nossas bundas. A missão é um fracasso absoluto. Não
capturamos qualquer espécime cibernético. Mensagens vindas do
asteroide relatam que dois espécimes foram destruídos, mas outros
quatro sobreviveram. Que porra! Eles chutaram nossas bundas de
todas as formas. Devo advertir ao Comando que a tecnologia Taser
causa muito pouco efeito sobre os cyborgs. Meus soldados
relataram que ao primeiro disparo direto só paralisava as unidades
por pouquíssimos segundos, agora somente disparos em conjunto
pode causar danos permanentes. Mas temos algumas boas notícias.
Recebemos a confirmação de que os cyborgs estão de fato com a
unidade B-785. Ela está ativa e auxiliando os cyborgs rebeldes.
Tentativas de recuperar o controle desta unidade falharam. Ela não
sucumbiu a qualquer dos códigos de substituição.

O capitão suspirou.

— Perdemos!... Sequência de autodestruição para esta nave


foi iniciada, temos grandes danos na estrutura e a energia está
falhando de modo alarmante, só Deus sabe se a iniciação de
destruição terá êxito. Inferno, eu nem sei se temos força suficiente

235
para enviar esta mensagem. Vou para uma das cápsulas de
emergência assim que enviar esta mensagem. Apenas no caso de
não conseguirmos destruir a embarcação, estamos limpando
manualmente os discos rígidos. Eu não sei quem teve a ideia
brilhante de enfrentar esses bastardos, mas quem quer que seja,
saiba que você é um idiota. Leve-me para o Tribunal marcial se
quiser, mas é a verdade. Eu não me importo com a merda desta
tecnologia que tínhamos a bordo, esses bastardos são inteligentes e
mortais. Espero sinceramente que alguém nos pegue no ponto de
encontro. Se não, estamos todos mortos.

Com um dedo a vista sobre o teclado, o Capitão o baixou,


mas deve ter falhado, porque a câmara continuou a gravação. O
Capitão levou um frasco à boca, engolindo o conteúdo avidamente.
As sirenes de repente foram cortadas e um estranho silêncio
imperou, quebrado apenas pela respiração ruidosa do capitão. O
som da porta se abrindo fez o Capitão virar a cabeça. Ele meio que
se levantou do assento.

— O que é isso? Por que está aqui em vez de ir para as


capsulas? O que... — Um murmúrio soou e um corpo caiu para
trás, sobre a tela. Um momento depois, o vídeo parou.

Atordoado, Einstein levou um momento para absorver a cena.

— Só isso? — Bonnie perguntou.

— Sim.

— Eu diria que ele não conseguiu enviar a mensagem.

— Não. Parece que ele morreu, o que significa que os


militares podem não estar cientes do que aconteceu aqui.

236
— Você quer dizer que alguém o matou.

Isso era o que aparecia. Mas quem?

Bonnie expressou sua pergunta em voz alta.

— Alguém matou intencionalmente o Capitão, e depois


arrastou o corpo para fora de vista. Por que esconder o corpo?

— Para que não houvesse suspeita de um motim?

Ela balançou a cabeça.

— Isso não faz sentido. Em outras partes da nave não se


preocuparam em esconder as provas. Acho que alguém queria que
nós víssemos esse vídeo.

— Mas os fatos abrem espaços para novas hipóteses.

— Acha? Bem, com certeza descobrimos que os militares têm


uma nova tecnologia.

— Disso nós já sabíamos.

— Que estavam nos seguindo antes de bater no asteroide.

— O que nós suspeitávamos, dada à emboscada.

— Então temos um espião a bordo.

A referência nada sutil talvez a fosse perigosa? O espião


provavelmente seria seu mais novo integrante, Bonnie.

Não. Einstein não queria acreditar. Mas algo em sua


expressão deve tê-lo delatado, porque os lábios dela se estreitaram.

— Nem pense nisso, não sou eu. Ou você não estava

237
prestando atenção na mensagem? O Capitão falou como se alguém
tivesse confirmado minha presença aqui e que fui reativada. Isso
significa que alguém desta nave está trabalhando para o exército!

— Impossível. Conheço estes cyborgs há anos. Eles não nos


trairiam.

A porta do laboratório, neste instante foi aberta, apesar da


trava de segurança, e Astro entrou apressado.

Einstein fez uma careta.

— O que é isso? Você não deveria estar aqui... — Ele parou


de falar ao ver a arma na mão do cyborg, uma arma que estava
apontada para ele. — Astro, eu não posso acreditar que esteja
trabalhando para os humanos?

Astro era o espião? Mas como? Einstein havia esvaziado sua


BCI. Ele confiara a sua vida a Astro em várias ocasiões, ele e seus
irmãos cyborgs, nunca houvera uma mácula em sua programação.
A menos que... Mas como? Quando?

E como um flash em sua mente a oportunidade surgiu, o


bordel. Einstein queria gemer.

Somos todos uns fodidos idiotas.

Eles se preocupavam tanto com chips de rastreamento e


localização em qualquer canto da nave. Escaneavam qualquer
aparelho e carga que viessem a bordo, mas nunca pensaram em
verificar a tripulação. Einstein queria abaixar a cabeça de vergonha.
No entanto, recriminações teriam que esperar. Morte, ele viu isso no
rosto de Bonnie. Ele não precisava calcular para saber que suas

238
chances não eram boas.

— Por quê? — Ele sussurrou. Depois de tudo o que tinha


passado. — Por que trair seus irmãos?

— Eu preciso fazê-lo.

— Precisa? — Einstein não conseguia esconder o tom de


incredulidade. — Isso não faz sentido. Você tem sua liberdade.

— Mas eles tinham meu irmão. Eu o encontrei quando


estávamos no bordel.

— Por que não nos contou?

— Eu não pude.

Não pode ou não quis? Será que isso importa agora?

— Você conversou com seu irmão?

— Isso não é de sua conta. Basta dizer que, ele me fez ver as
coisas de outra forma.

— Aposto que sim — Provavelmente através de algum vírus


que ele transmitiu a Astro. — Onde está seu irmão agora?

— Está em outra nave.

Bonnie concluiu em voz baixa, o que atraiu o olhar de Astro


por apenas um segundo.

— Estava.

Einstein observou o verbo no passado, mas ignorou para


perguntar.

239
— O quanto você revelou a eles? O quanto você nos
comprometeu?

— Não muito. Eu sabia que se não os mandasse informações


contínuas, eles acabariam matando meu irmão.

— Mas você os disse para onde estávamos indo.

— Sim. E sobre B-785. O suficiente para mantê-los felizes.

— Ralph e Fred realmente morreram na emboscada, ou você


foi o autor?

Pelo próprio silêncio, Astro condenou a si mesmo.

A raiva inundou as sinapses de Einstein.

— Você revelou a localização de nosso planeta?

— Não. Eles estão seguros por enquanto — Um sorriso


torcido curvou os lábios de Astro. — Fizeram um bom trabalho de
segurança. Mesmo que eu tentasse, eu não poderia dar a
localização.

Uma sensação de alívio inundou Einstein. Como medida de


precaução, apenas um pequeno grupo de cyborgs sabia as
coordenadas exatas do planeta cyborg. Einstein havia programado
as unidades dessa forma para o caso de captura, os militares não
poderiam simplesmente recuperar as informações e montar uma
invasão. Agradecia a nano tecnologia por preservar em segurança
essa informação.

— Você deveria nos ter dito sobre seu irmão. Poderíamos tê-lo
salvado.

240
— E arriscar a sua fêmea preciosa? — O cyborg ameaçador
zombou. Um riso amargo escapou de Astro. — Assim como você,
todos a bordo estavam dispostos a fazer qualquer coisa para mantê-
la segura, assim coube a mim salvar o meu irmão. Veja, se eu não
fizer o que eles ordenarem, eles vão detonar a bomba que tem
dentro dele. Eu não posso deixar que isso aconteça.

— Então, você coloca em risco a segurança de centenas, só


para salvar um?

— Ele é meu irmão. Eu não posso me lembrar de um monte


de coisas de quando era humano, mas eu me lembro de um
conceito. Família permanece junta. Sinto muito, Einstein. Eu
realmente gosto de você e dos outros, mas... — Astro encolheu os
ombros. — Eu prometi aos meus pais que cuidaria dele.

Amaldiçoando o fato de ter isolado seu laboratório muito bem


na esperança de conter quaisquer possíveis vírus, Einstein tentou
freneticamente pensar em uma maneira de sair daquela situação.
Desarmado, apenas com sua inteligência, as coisas não pareciam
boas, mas ele não deixaria que chances ruins o impedissem de fazer
a coisa certa. Como ele viu o dedo de Astro pressionando o gatilho,
Einstein se lançou, mas um pequeno corpo se jogou em sua frente,
Bonnie. Ele ouviu seu grito de dor quando ela levou o tiro que era
destinado a ele. Estava no chão, parecendo morta.

— Bonnie! Não! — Vendo tudo vermelho e com a raiva


dominando seu córtex, Einstein mergulhou apenas com as mãos
como arma no pescoço do cyborg traiçoeiro que ousou ferir a única
coisa que o fez se sentir vivo. Antes que Astro pudesse disparar
novamente, caíram em um emaranhado de pernas, se agarrando e

241
lutando, seus corpos entrelaçados com muita força para desferir
qualquer golpe de consequência. A arma foi para o chão enquanto
Einstein o agarrava a mão, segurando-a e batendo no piso algumas
vezes.

Desarmado, Astro, no entanto, rosnou.

— Idiota. Você não sabe que é tarde demais? Mesmo agora,


meu irmão está destruindo os motores. Matando os outros. Junte-
se a nós. Não precisaremos lutar mais. Os militares vão nos levar
de volta. Deixariam nossas memórias como antes tão logo
entregarmos os outros. Nós poderíamos viver sem olhar sobre
nossos ombros o tempo todo. Eles até prometeram nos dar acesso a
nossas famílias.

Bonnie disse com mais eloquência do que ele jamais poderia


ter.

— Como você é estúpido seu Merda!... — Ela resmungou


antes de pressionar o cano da arma contra a cabeça de Astro e
puxar o gatilho. Uma forte explosão e o corpo sob ele ficou mole.
Cyborgs poderiam se curar de um monte de coisas, mas tiros
diretos na cabeça, especialmente os de tão perto, não era um deles.

Einstein rolou o corpo e ficou de pé, sua preocupação


imediatamente se concentrando em Bonnie.

— Mostre-me o ferimento. Precisamos conter o fluxo de


sangue e avaliar os danos.

— Calma, bonitão. É só um arranhão. Eu estava me fingindo


de morta.

242
Os olhos robóticos percorreram seu corpo, observando o
pequeno ferimento no braço em vez do gigantesco buraco que ele
imaginara.

— Fingiu? Por quê?

Ela sorriu para ele.

— Porque eu pensei que você adoraria uma chance de matar


o dragão e salvar a princesa.

— Deus! Mas você o matou, não eu.

— Sim, bem, você estava demorando demais. Mas não se


preocupe, com a exceção da parte em que o deixou falar, você
estava dando a ele uma boa surra. Eu já mencionei o quão gostoso
você fica quando está zangado? Na verdade, quase gozei. Pode vir
em meu socorro sempre que quiser, bonitão. No entanto, da
próxima vez, venha sem camisa, ok? — Ela piscou.

Ele realmente rosnou antes de agarrá-la pelos ombros e


chacoalhar.

— Você, está maluca! Nunca mais me assuste assim de novo


— Ele a sacudia vigorosamente.

Bonnie levantou as mãos e o acariciou o rosto.

— Desculpe bonitão. Mas não posso prometer isso. Agora, é a


minha vez de perguntar, você está bem?

— Eu não me feri.

— Eu não me referi a ferimentos. Ai... Eu acabei de matar um


de seus amigos. Tudo bem? Você está traumatizado? Triste?

243
— Ele era um traidor.

— Mas você o considerava como amigo.

Neste caso, a lógica fria rebatia qualquer emoção que poderia


ter tido pelo outro. Einstein endureceu o olhar.

— Um amigo verdadeiro não teria matado seus irmãos


cyborgs e teria confiado em mim para ajudá-lo e a seu irmão.

— Deus, Astro falou que o irmão estava a bordo. Precisamos


avisar os outros.

— As comunicações nesta sala estão desativadas. Precisamos


sair procurar um painel de comunicação.

Antes que eles pudessem agir, uma batida na porta, que se


trancara após a entrada de Astro, interrompeu a conversa. Einstein
andou a passos largos e puxou a trava, xingando enquanto se
atrapalhava com os controles manuais. Seth se apressou a entrar,
seu cabelo geralmente intocado estava despenteado.

— Cara, você não vai acreditar, mas um cara, um cyborg


parecido com Astro, que eu nunca vi antes, tentou matar Nova e
Bolt ainda por cima quis explodir nossa sala de máquinas.

— Ah, mas eu acredito.

— Como descobriu isso? E já encontrou algo interessante no


disco rígido? Será que... — A voz de Seth sumiu quando ele notou o
corpo no chão. — Merda. Vejo que descobriu da maneira mais
difícil. Vocês estão bem?

— Nada que uma boa chuveirada e uma terapia a dois não

244
resolva.

— Terapia a dois? — Bonnie arqueou as sobrancelhas. — Eu


pensei que você estava bem?

— Fisicamente, mas mentalmente, eu acho que preciso de


uma grande sessão de cura.

Imediatamente, o rosto dela expressou preocupação.

— O que posso fazer para ajudar?

— Humm!... Que tal me acompanhar na terapia.

— E como isso vai te ajudar?

Seth riu.

— Oh, Princesa, você sabe.

— Deus!... Acho que criei um monstro. O Senhor Cérebro


aqui precisa de alguma cura sexual, então acho melhor dar o fora
daqui.

— Leve isso com você — Einstein apontou para o corpo. — E


ejete-o juntamente com o corpo do irmão no espaço. E sugiro fazer
isso rapidamente. Aparentemente, o militar alegou que o irmão dele
tinha uma bomba em seu interior. Já que nossa nave permanece
intacta, presumo que era outra mentira, mas não vamos correr
nenhum risco.

— Uma bomba? Merda! E o que você vai fazer enquanto corro


o risco de explodir alguma parte crucial da minha anatomia?

— Vou executar a cura sexual que você tanto apregoa ser

245
vital.

— Agora não é o momento — Disse Bonnie afetadamente.

— Oh, é sim.

Pela primeira vez, Seth estava pensando com a cabeça, em


vez de com seu pênis.

— Ela está certa. Devemos informar Aramus.

— Você pode fazer isso tão logo despachar os corpos. Agora


saia, Seth — Einstein declarou em um tom firme. — Ou você
gostaria que eu executasse uma sub-rotina que eu programei em
sua BCI? — Ele nada programara, mas Seth não sabia disso.

Ignorando Seth resmungar sobre cyborgs de inteligência


mandona com testosterona há muito reprimido, Einstein avançou
para Bonnie.

Ela lambeu os lábios.

— Nós deveríamos avisar o chefe.

— Depois que me limpar.

— O que você tem em mente não é nada limpo, querido


Príncipe Encantado.

— Ah, discordo. Creio que merecemos bem mais que uma


limpeza — Ele ronronou a última palavra e sorriu enquanto ela
prendia a respiração. Com um grito, ela se virou e correu para o
banheiro, com ele em seus calcanhares.

Primeiro o dever podia ser o modo cyborg de ser, mas

246
Einstein era mais do que um robô. Ele tinha necessidades.
Necessidades que precisava atender. Agora.

Coberto de sangue cyborg de um ex-amigo, deveria ter


matado o seu ardor, mas seu alívio ao ver Bonnie incólume. Bem,
mudava tudo. Ele ainda sentia uma grande necessidade de se
assegurar-se de que Bonnie estava viva. Que ele estava vivo. E
apesar do que o dever o exigia, sabia o que deveria vir em primeiro
lugar. Pela primeira vez se permitiria ser egoísta, afinal era mais do
que um cyborg ou uma máquina. Ele é antes de tudo um homem.
Um homem excitado pela mulher que amava mais que tudo,
esperando por ele nua e quente com um sorriso quente.

Levou apenas alguns segundos para ele rasgar as roupas de


seu corpo e se juntar a ela. Virou-se para a parede do chuveiro,
Bonnie sorriu timidamente para ele por cima do ombro. Ele a
pressionou nas costas escorregadias, seu pênis esfregando ao longo
da fendo do traseiro, com a cabeça inclinada para que seus lábios
pudessem se fundir.

— Eu pensei que tinha te perdido — Ele sussurrou entre


lambidas e mordidas, o horror do momento ainda estava fresco em
sua memória.

— Tudo acabou bem — Ela murmurou de volta. — Assim


como nos contos de fadas, o bem triunfou sobre o mal.

— Suas histórias se esquecem de mencionar o fato de que o


herói quase morreu de um ataque cardíaco no processo.

Ela riu.

— Oh, por favor. Você tem um coração biomecânico e

247
nanobots o curam rapidamente. Além disso, seria preciso mais do
que uma bala para matar o nosso amor — Einstein gemeu. — Muito
mais — Ela brincou.

— Sim. Mas nesse momento outra parte de mim requer uma


cura bem mais agradável — Deslizou entre as coxas úmidas,
sondou seu sexo com a ponta do pênis. Ela foi ao encontro dele,
inclinando seus quadris para tomar mais do que apenas a ponta
dentro dela. Ele mergulhou sua longitude em seu canal úmido,
sentindo cada átomo em seu corpo explodir de vida.

— Humm!... — Ela gemeu deliciada. — Se for assim todas as


vezes que você terminar uma batalha, então me lembre de jamais
perder uma missão.

Ele a penetrava com força suficiente para fazê-la suspirar.

— Ah não, minha Princesa. Eu vou trancá-la no castelo, onde


ficará segura.

Ela deslizava nas paredes úmidas e quentes com sofreguidão.

— Então é melhor planejar algo para ficar ao meu lado,


porque eu não vou ficar para trás enquanto você enfrenta o perigo.

— Eu pretendo nunca mais sair de seu lado.

Seus brilhantes olhos verdes se encontraram os dela.

— Promete?

— Bonnie, eu te amo. Você me faz sentir vivo. Você me faz


querer viver. Você me faz um ser melhor. Aquele que é mais do que
a soma das partes. Tente se livrar de mim para ver o que acontece.

248
— Ah, gostosão — Ela suspirou seu apelido. — Para um
cyborg que afirmou certa vez que não tinha emoções, você sabe
agradar uma mulher. Agora fale menos e me foda mais. A Princesa
quer gozar.

O riso, um som natural que ele se achava incapaz de emitir,


escorregou de seus lábios, e logo passou a ficar ofegante. E pensar
que ele racionalizava a paixão como apenas uma necessidade
hormonal. Ainda bem que ele encontrou a mulher certa para lhe
mostrar a verdade.

Demorou um segundo turno em fazer amor antes que


Einstein se declarasse recuperado o suficiente para se unir com o
resto da tripulação. Para sua surpresa, ninguém disse nada quando
finalmente surgiu na ponte, embora Seth escondesse um sorriso
malicioso.

Dada à traição de Astro, esperava encontrar uma nuvem


sombria no ambiente, mas ela não contara com a maneira cyborg
de lidar com as coisas. Em suas mentes, as coisas eram no preto ou
no branco. Astro fizera uma escolha. Ele poderia ter pedido ajuda.
Ele a teria conseguido. Em vez disso, os traiu. E com isso, ninguém
tinha qualquer simpatia.

Os corpos dos traidores foram ejetados para o espaço e


incinerados com lasers. Aramus não queria deixar qualquer
evidência para trás, em especial, o córtex 4 . Essa não foi a única
coisa que ocorreu enquanto ela e Einstein cuidavam de outros

4
O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro dos vertebrados, sendo rico em neurônios e o local do
processamento neuronal mais sofisticado e distinto. O córtex humano tem 2-4mm de espessura, com uma área de 0,22m² (se
fosse disposto num plano) e desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como na memória, atenção,
consciência, linguagem, percepção e pensamento.

249
negócios. Uma mensagem de emergência foi enviada ao Planeta
Cyborg detalhando os acontecimentos. Joe e os outros precisavam
tomar conhecimento sobre a possibilidade dos humanos terem
descoberto sua localização e que tomassem medidas adicionais para
manter todos salvos. Einstein, no entanto, não parecia preocupado,
sua fé na programação inserida por ele nas unidades permanecia
inabalável apesar do fato dos militares conseguirem chegar tão
perto de um de seus amigos.

Quanto ao disco rígido, eles não encontraram qualquer outra


coisa de interesse, Aramus desprezou a informação e caiu da
cadeira quando ela se desmantelou sob seu peso. Bonnie não
resistiu a rir com Seth lhe fazendo companhia.

Aramus os fulminou com o olhar e Einstein apenas meneou a


cabeça prometendo a Aramus que a puniria pela brincadeira.

E quanto ao peso de papel machê e tinta. Como depois se


comprovou, foi um presente da sobrinha do Capitão. Se o Capitão
escondia segredos nele, eles explodiram juntamente com a nave
militar. No final, mesmo que Aramus e os outros cyborgs
calculassem os resultados após a tentativa dos militares de
emboscada, como em uma vitória cyborg.

Bonnie reservou suas conclusões. Ela sabia muito bem que


não se devia irritar um leão com vara curta, e apesar deste revés,
ela não duvidava que o Maldito General viesse a desistir, mas, ao
mesmo tempo, ela não se preocupava com isso. Fora dado a ela um
bem precioso, uma segunda chance. A chance de concretizar um
conto de fadas que terminava com seu Príncipe Encantado, e
caramba, ela planejava aproveitar cada segundo ao máximo.

250
Porque sou mais do que uma máquina. Mais do que uma
ferramenta para os militares. Sou Bonnie. Princesa Cyborg
cheia de falhas, uma humana melhorada, e a querida amante
do macho mais maravilhoso do universo.

Apesar do que o futuro poderia trazer, ela tinha tudo para


viver. E o melhor de tudo? Era amada.

Quanto aos seres humanos que tentassem separá-los?

Esses bastardos que tentem. Pois pretendo lutar pelo


meu direito ao amor e à felicidade. Eu não vou deixar
ninguém, e eu quero dizer ninguém mesmo, tirar o meu
“felizes para sempre” sem uma luta ferrenha.

Mesmo que isso signifique desobedecer Einstein se ele sequer


pensar em me deixar fora de perigo. Além disso, ela amara sua
suposta punição. Foi por isso que ela programou a cadeira de
Aramus para fazer uma travessura. Valeu a pena cada momento
único de castigo e a bronca.

251
Epílogo

Levou uma eternidade para chegarem ao Planeta Cyborg,


tempo suficiente para Bonnie saciar em parte sua fome por sexo.
Apesar da pesquisa que Einstein fez das fêmeas humanas e suas
reações emocionais, sua namorada, como ela gostava de se
autodenominar, não reagia ao estresse convencional. Ela não
dependia de alimentação, exercício, ou drama emocional. Não, sua
mulher era a única que usava o sexo como uma catarse. Não que
ele realmente se sentisse drenado. Tinha resistência mais do que
suficiente para saciar seu apetite sexual, eram as provocações que
o tiravam do sério. Embora, Einstein nutrisse secretamente o leve
desprazer de Seth com a nova vida dele.

— Você poderia fazer menos barulho nos turnos de descanso?


— Seth reclamou em mais de uma ocasião.

Treinado por sua namorada, Einstein se recostou na cadeira


e lançou a ele um sorriso preguiçoso.

— Inveja?

— Bem, acho que estou. Nem todos têm a sua sorte de ter
uma fêmea para chamar de sua. E estou já cansado de brincar com
meus 10 amiguinhos aqui — Seth balançou os dedos das mãos e
Einstein riu.

— Deixe-me ver, o que você diria se estivesse no meu lugar?


— Einstein bateu um dedo no queixo. — Humm... Muito ruim,

252
muito triste, chupa!

A gíria que saiu de seus lábios fez Seth fitá-lo por um


momento atordoado antes que os dois caíssem na gargalhada. Foi
outra gargalhada que Bonnie compartilhou com ele quando este lhe
contou a conversa com o amigo enquanto esperavam para atracar.
Com um baque, a nave atingiu uma área sólida e sua alegria
morreu. Ela apertou sua mão com força, tanta força que seus
nanobots correram a área para reparar o dano, mas ele não disse
uma palavra. Ele sabia como ela se sentia neste momento.
Infelizmente, a comunicação entre a nave e o Planeta Cyborg era
reservada apenas para emergências, ela não tivera oportunidade de
conversar com a irmã. Por alguma razão, a ideia de um encontro
com ela tanto a alegrava quanto e a deixava aterrada.

— Eu acho que vou vomitar — Disse Bonnie enquanto engolia


ar desnecessário.

— Você não está doente e não estamos realizando manobras.

— Sim, e ainda meu estômago está produzindo biles em


excesso e meus nervos estão tensos demais.

— Só me avise se vai vomitar antes. Eu lustrei minhas botas


hoje.

Bonnie lhe lançou um olhar fulminante com a brincadeira,


quase a fez rir, e aliviou um pouco a tensão em sua mão.

— Acho que gostava mais de você quando não sabia fazer


piadas.

— Realmente?

253
— Não bobinho. Eu te amo, Einstein.

— Eu também te amo, Princesa — Sim, ele finalmente cedera


e começou a chamá-la pelo apelido que a maioria da tripulação
tinha adotado. Parecera o certo. Afinal, eles se conheceram em
circunstâncias extraordinárias, ele descobriu o amor quando ela o
libertou dos grilhões que escondiam sua humanidade, venceu tudo
em seu caminho, e encontraram a paixão nos braços um do outro.
Agora eles só precisavam viver seu “felizes para sempre”. Ou assim
terminavam os contos de fadas.

O ronco dos motores morreu ao serem desligados. O interior


pressurizado e as portas do compartimento se abriram. A luz solar
brilhante entrou junto com o ar perfumado da floresta mais
adiante, uma mudança refrescante dos gases reciclados da nave.
Uma prancha foi estendida. Apesar do fato de que Bonnie não
precisava respirar, praticamente hiperventilava.

— Pronta? — Ele indagou em voz baixa.

— Não — Ela riu nervosa. — Que bobagem, não? Estava


morrendo de vontade de ver minha irmã e agora estou com medo e
desejando voltar ao espaço.

— Ei... Isso é apenas nervosismo, meus estudos me dizem


que é uma reação normal.

— Você e seus estudos — Ela zombou, mas sua tensão


afrouxou um pouco.

Juntos, eles caminharam para a luz do sol, dedos


entrelaçados, mas não por muito tempo.

254
Escutou um grito sonoro de: Bonnie! Arrancou sua namorada
do seu lado enquanto ela corria para se encontrar com a figura
vistosa de Chloe, que não pode esperar mais um momento para se
reunirem.

A dupla fez um espetáculo emocionante até mesmo para


cyborgs endurecidos pelas circunstâncias e programação. Aramus,
como sempre nada diplomático, sussurrou um pouco sarcástico ao
passar por elas.

— Ao menos arranjem um quarto — Ddisse contornando as


irmãs abraçadas.

Ao lado, Joe observava as irmãs com carinho, uma pitada de


umidade nos olhos.

— Obrigado por trazê-la para casa — Ele disse suavemente


quando Einstein chegou ao lado dele.

— Não me agradeça. Agradeça ao destino ou a qualquer


magia que a trouxe para mim.

— Puta merda. Não me diga que você não arranjou uma


explicação lógica para o que aconteceu?

— Não, nem tudo no universo parece ter uma resposta


científica.

Algumas coisas simplesmente aconteciam sem lógica ou


explicação científica. Ninguém podia prever a felicidade não podia
ser prevista ou criada nem dissecada em partes, e Einstein
apreciava o resultado final.

Ele pode ter começado essa missão como um cyborg focado

255
na ciência e na lógica, as únicas coisas que até então realmente o
importavam, mas ele voltou para casa sabendo que algumas coisas
simplesmente não tinham uma explicação. O amor aconteceu. Os
contos de fadas poderiam existir, até mesmo para cyborgs.
Qualquer um poderia ter seu “felizes para sempre”.

Mesmo um Príncipe nerd encantador e uma Princesa biônica.

*******
Onde está um maldito bar quando você precisa de um?

Dirigindo-se a floresta que sempre o acalmou, Seth deixou a


festa de amor para trás, antes que alguém visse as lágrimas ou
ouvisse a fungada. Às vezes, o seu lado humano era muito forte. E
muito invejoso.

Ele desejou que seu amigo Einstein fosse feliz, e realmente


seria. Ele e todos os outros cyborgs que encontraram o amor e algo
para tornar a vida digna de ser vivida. Mas às vezes, ele desejava,
por mais tolo que soasse, que ele também pudesse encontrar o
mesmo tipo de alegria e aceitação.

Talvez algum dia minha vez chegue.

Claro que ele não esperava que acontecesse tão rapidamente.

Ele congelou quando o cano de uma pistola se aninhou


contra sua nuca. Em seguida, sorriu ao sentir um cheiro familiar.

— Bem... Olá, querida. Eu sabia que não poderia resistir a


mim para sempre.

— E eu vejo que você não perdeu essa sua fanfarronice.

256
Girando, Seth levantou as mãos diante da arma apontada
agora para sua testa. Ele ficou cara a cara com a fêmea que
assombrava seus sonhos. Sua ex-companheira. A única fêmea que
ele já amou. E a única que sempre o desprezou. A humana que ele
já chamou de esposa.

Fim

257
258
Sobre a Autora

Eve Langlais nasceu na Columbia Britânica, mas por ser filha de


militar, viveu um pouco por toda parte. Quebec, New Brunswick, Lavrador,
Virginia (EUA) e por último em Ontario. Sua família e ela atualmente vivem nos
subúrbios da Ottawa, a capital de sua nação. E Eve é a primeira pessoa a
admitir que leva uma vida monótona. Sua ideia de diversão é ir às compras no
Wal-Mart, gosta dos vídeo games, cozinhar e ler. Sua inspiração é seu marido,
já que é um macho alfa total. Mas, apesar de seu ocasional mau gênio, o ama
muito. Eve diz que tem uma imaginação retorcida e um sarcástico senso de
humor, algo que gosta de refletir nos seus livros. Escreve romance a sua
maneira. Gosta dos fortes machos alfa, com o peito nu e dos homens lobo. Um
montão de homens lobo. De fato, se dará conta de que a maioria de suas
histórias giram em torno de grandes enormes licantropos, superprotetores que
só querem agradar a sua mulher. Também é muito parcial com os estrangeiros,
do tipo de sequestrar a sua mulher e logo em seguida se dirigem para fazer
alguma loucura... de prazer, é obvio. Suas heroínas são de amplos aspectos.
Tem algumas que são tímidas e de voz suave, outras que chutam a um homem
nas bolas e riem. Muitas são gordinhas, porque em seu mundo, as garotas têm
curvas – Assustador! Ah e algumas de suas heroínas são pequeninas e más,
mas em sua defesa, precisam de amor também.

http://evelanglais.com/wordpress/home

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