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Estado da Paraíba

CÂMARA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA


Gabinete do Vereador Marmuthe Cavalcanti

PROJETO DE LEI ORDINÁRIA

AUTORIA: VEREADOR MARMUTHE CAVALCANTI


PLO N° 034. 2021

EMENTA: CRIA, NO ÂMBITO DO MUNICÍPIO DE


JOÃO PESSOA, A LEI LUCAS SANTOS, E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.

A CÂMARA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA DECRETA:

Art. 1º A Lei Lucas Santos visa incluir, no âmbito da rede de ensino, assistência social e saúde básica
do Município de João Pessoa que lide com crianças e adolescentes, um calendário psicossocial
atualizado mês a mês, voltado ao acompanhamento da saúde mental desse grupo, desenvolvido por
uma equipe multiprofissional competente composta por psicólogo, psiquiatra, assistente social,
pedagogo, educador físico, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta, a fim de melhorar a qualidade de
vida, auxiliar na superação de traumas ou entraves psicológicos, facilitar a interação social e convívio
coletivo, fortalecer os vínculos familiares e comunitários, fomentar o autoconhecimento e controle e
evitar o possível desenvolvimento de doenças da psiquê.

Parágrafo Único. O calendário de que trata o caput deste artigo deverá ser implementado de modo
coordenado entre a direção do equipamento público ou privado ofertante, e as Secretarias
Municipais de Educação, Saúde e Direitos Humanos e Cidadania, com vistas a promover rodadas
mensais de atendimento e acompanhamento as crianças e adolescentes que serão atendidas por tais
serviços, promovendo sempre que necessário o encaminhamento do caso, por meio de notificação
oficial ‐ quando mais grave na ocorrência de possíveis crimes contra a honra ou a integridade mental
‐ aos conselhos tutelares da região, Ministério Público Estadual e Delegacia de Repressão aos Crimes
Contra a Infância e a Juventude.

Art. 2º O calendário psicossocial deverá ser publicizado e conter dias destinados ao atendimento,
horários e serviços disponíveis para as crianças e adolescentes organizados em faixas etárias –
primeira infância (até 6 anos), infância (até os 12 anos), adolescência (até os 18 anos), e também,
caso haja necessidade a depender de avaliação in loco da equipe multiprofissional, a integração,
enquanto colaboradores/ouvintes, de seus pais ou responsáveis.

§1º O equipamento, público ou privado, que recepcione crianças e adolescentes em suas


dependências sem a presença dos pais ou responsáveis, é diretamente responsável pela vigilância da
integridade física e mental do menor, devendo zelar por um ambiente sempre saudável, equilibrado
e livre de perturbações, preconceitos e atos de violência, inclusive psicológica.

Rua das Trincheiras, nº 43, Centro, João Pessoa/PB – CEP: 58.011‐000


E‐mail: gabinetemarmuthe@gmail.com
Telefone: (83) 3218‐6359
Paulo Leandro Oliveira – Coord. de Prod. Legislativa
§2º Quando da identificação de alguma situação adversa que possa gerar futuros transtornos de
comportamento, traumas ou doenças psicológicas, seja ela ocorrida nas dependências ou não do
equipamento, deve a criança ou adolescente ser imediatamente encaminhada a equipe
multiprofissional responsável para que se faça o acompanhamento do caso e a identificação de quais
medidas e atividades deverão ser desenvolvidas no sentido de resguardar a saúde do atendido, e
ainda, seus pais ou responsáveis comunicados.

§3º Constatada a necessidade do jovem em ter acesso aos serviços ofertadas pelo calendário
psicossocial, este acompanhamento deverá ser realizado mês a mês por prazo indeterminado, com a
produção de relatórios mensais que apontem a evolução das atividades feitas.

Art. 3º O poder público municipal fiscalizará o cumprimento efetivo deste calendário por parte dos
equipamentos que estão vinculados em sua estrutura e também os privados, podendo, caso entenda
conveniente, adotar de modo suplementar sanções administrativas àqueles que não observarem os
ditames desta Lei.

§1º Notificação do estabelecimento, concedendo prazo de 30 (trinta) dias a implementação da


estrutura profissional necessária ao cumprimento do calendário psicosocial.

§2º Superado o prazo notificado, sem resolução, aplicar‐se‐á multa de 100 (cem) UFIR/JP, e nova
notificação para adequação, em prazo de 30 (trinta) dias.

§3º Mantido o descumprimento após o novo prazo, o estabelecimento poderá ser multado em dobro
do artigo anterior, e/ou ter seu alvará de funcionamento cassado até que regularize a situação.

Art. 4º O poder executivo municipal poderá regulamentar esta lei no que couber, no prazo de até 60
(sessenta) dias.

Art. 5º Esta lei entra em vigor após a data de sua publicação.

Sala das Sessões da Câmara Municipal de João Pessoa, em 04 de agosto de 2021.

MARMUTHE CAVALCANTI
VEREADOR EM JOÃO PESSOA

Rua das Trincheiras, nº 43, Centro, João Pessoa/PB – CEP: 58.011‐000


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JUSTIFICATIVA
A propositura em apreço visa implementar, no âmbito do Município de João Pessoa, a Lei Lucas
Santos, que visa incluir, no âmbito da rede de ensino, assistência social e saúde básica da Capital que
lide com crianças e adolescentes, um calendário psicossocial atualizado mês a mês, voltado ao
acompanhamento da saúde mental desse grupo, desenvolvido por uma equipe multiprofissional
competente composta por psicólogo, psiquiatra, assistente social, pedagogo, educador físico,
terapeuta ocupacional e fisioterapeuta, a fim de melhorar a qualidade de vida, auxiliar na superação
de traumas ou entraves psicológicos, facilitar a interação social e convívio coletivo, fomentar o
autoconhecimento e controle e evitar o possível desenvolvimento de doenças da psiquê.

Lucas Santos, jovem de 16 (dezesseis) anos, filho da querida e respeitada paraibana vocalista
de forró Walkiria Santos, faleceu no último dia 03 (três) de agosto de 2021, deixando a todos
desolados e comovidos com sua prematura partida. Irreverente e ativo nas redes sociais, Lucas se
envolveu nos últimos dias em uma polêmica criada por pessoas maldosas e criminosas que
deturparam um vídeo postado por ele no aplicativo tik tok, em uma brincadeira entre amigos. Lucas,
que já dava sinais de que não estava em plena saúde psicológica, era acompanhado diuturnamente
por sua família e profissionais gabaritados que, desde então, passaram a aconselhá‐lo e acolhê‐lo em
suas necessidades, não sendo porém suficiente para conter a tristeza que se abateu sobre ele
quando da enxurrada de críticas odiosas que vinha recebendo nos últimos dias em decorrência da
postagem feita. Não suportando tamanha desumanidade e falta de empatia, Lucas, infelizmente,
entrou em estado de descontrole emocional e ceifou a própria vida, chocando todo o País e trazendo
à tona um debate acerca da saúde mental e da importância de política públicas voltadas ao
acolhimento social, especialmente, na fase da juventude.

Na atualidade, todos vivemos em um ambiente virtual absolutamente hostil. É comum


observarmos linchamentos digitais a pessoas, grupos e ideais, feitos por uma milícia organizada e
muitas vezes anônima, que destila ódio, preconceito e julgamentos desenfreados àqueles que
minimamente destoam de suas expectativas. A família tem importante papel na decisão de filtrar o
conteúdo acessado pelos jovens nas redes, mas nem sempre é suficiente para evitar ou impedir que
uma simples postagem, compartilhamento ou brincadeira viralize negativamente, trazendo graves
consequências a saúde mental, autoestima e convívio social dos atacados. Na situação em comento,
o jovem Lucas Santos foi taxativamente atacado de modo gratuito e injustificado, fato que
demonstra as armadilhas da exposição digital e escancara o quanto nossa sociedade ainda tem traços
de perversidade, perseguição as diferenças e intolerância cultural, regional, religiosa, de orientação
sexual e tantas outras que, apesar de já combatidas, teimam em reaparecer na ignorância de alguns.

É essencial que o bem‐estar das crianças e dos adolescentes seja preservado e que, de uma vez
por todas, situações de ridicularização como essa cessem, sob pena de outras vidas serem perdidas.
A padronização do comportamento é reflexo da disseminação da futilidade, vaidade e estereótipos
de modelos inalcançáveis criadas intencionalmente com o objetivo de segregar, e, vale salientar, se
não abordados por todos nós, inclusive no âmbito escolar e assistencial de formação social e humana
dessa geração, trará enormes prejuízos ao desenvolvimento das crianças e adolescentes. O projeto
de lei proposto sugere a criação de um calendário psicossocial organizado a ser aplicado nos
equipamentos públicos e privados do Município que recepcionem ou lidem com as crianças e
adolescentes em formação, instituindo uma equipe multiprofissional de psicólogos, psiquiatras,
assistentes sociais, pedagogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos e fisioterapeutas que
acompanharão, mensalmente, sua saúde mental, emocional e física, atuando junto as famílias e
observando o desenvolvimento e evolução das atividades
Rua das Trincheiras, nº 43, Centro, João Pessoa/PB – CEP: 58.011‐000
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desenvolvidas, buscando evitar doenças, transtornos ou síndromes psicológicas graves, que podem
levar a desestruturação de personalidade, familiar, ou até mesmo, em casos graves, ao suicídio.

Ainda, deve‐se destacar que tal medida, a nível local, é a pertinente a se ter, haja vista a
limitação de competência constitucional dos Municípios, tendo a vedação para legislar sobre
temáticas de Direito Penal, tema privativo do Congresso Nacional. Entretanto, se registra que o
Parlamento brasileiro tem o dever e a obrigação de aprimorar os mecanismos de controle e punição
as pessoas que fazem da internet terra sem lei, dando as reprimendas suficientes e justas diante de
condutas criminosas dessa natureza, que são responsáveis por promover a destruição de pessoas,
imagens e vidas. Não podemos relativizar a importância do respeito a dignidade das pessoas, sempre
tendo claro que o direito a liberdade de expressão não é absoluto e deve coexistir harmonicamente
com as liberdades e garantias individuais, não podendo ser extrapolado a ponto de constranger ou
desonrar. Desse modo, com o avanço da legislação penal, que certamente virá, atrelada as ações de
políticas públicas incisivas e firmes no sentido de resguardar a saúde mental por meio da
universalização do acesso a um calendário de acompanhamento psicossocial, conseguiremos
minimizar a incidência de episódios como esse e proteger as crianças e adolescentes desse desgaste.

Lucas Santos, como tantos outros que já se foram, é símbolo de luta e marco para o início das
mudanças que precisam ser implementadas. A justa homenagem desta propositura faz referência a
memória do jovem como forma de homenageá‐lo e a sua família, para que em definitivo o poder
público também se atente e tenha a sensibilidade necessária a resguardar, de modo isonômico e
universal, a todos os jovens – inclusive os que em geral, não tem condições se quer financeiras de
arcar com os custos de um acompanhamento psicossocial – que precisam de apoio e
acompanhamento emocional por parte de profissionais habilitados. A saúde da mente é
imprescindível a uma vida saudável e um desenvolvimento digno, devendo a sociedade alertar para
os novos perigos e armadilhas que, com o advento das relações digitais, emergem e devem ser
neutralizados.

Por todos estes motivos, conto com o apoio dos nobres pares para aprovação da proposição, a
fim de que possamos promover esse avanço na legislação municipal e chamar atenção para a
importância da saúde mental, emocional e psicológica na formação das nossas crianças e
adolescentes. Ciente da sensibilidade desta Casa, propusemos o projeto de lei, certo de seu
acolhimento.

Sala das Sessões da Câmara Municipal de João Pessoa, em 04 de agosto de 2021.

MARMUTHE CAVALCANTI
VEREADOR EM JOÃO PESSOA

Rua das Trincheiras, nº 43, Centro, João Pessoa/PB – CEP: 58.011‐000


E‐mail: gabinetemarmuthe@gmail.com
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