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São aproximadamente doze anos de vida escolar e pelo menos mais outros quatro
anos caso você decida fazer algum curso de ensino superior, e um dos elementos
fundamentais nesse período é a construção de um agradável círculo social escolar, sim,
os amigos. É no ambiente escolar que acontecem as primeiras interações sociais com
indivíduos que não fazem parte do círculo familiar das crianças, esses contatos se iniciam
aí e perduram durante toda a existência do ser. São diversos os conceitos que alicerçam
as relações aluno-aluno no ambiente educacional, assim, é necessário reconhecer a sua
importância na consolidação de um bom desenvolvimento mental no que tange aos
relacionamentos interpessoais e intrapessoais. Essas relações influenciam no bem estar
do estudante em toda e qualquer fase da vida estudantil, a indispensabilidade de se
construir vínculos nesse espaço escolar permite que o aluno se sinta pertencente ao
ambiente que ocupa visto que se reconhece no outro. Ademais, a força da união
estudantil ganha bastante relevância quando se trata de ir contra determinadas ordens
imposta pela esfera escolar.
Reconheço a importância que meus vínculos amigáveis tiveram, e ainda têm, em
todo meu percurso acadêmico, desde a pré-escola até a universidade. Entendo muito
bem e compartilho do sentimento quando é dito que o círculo acadêmico é desafiador, e
de fato o é. A pressão por parte dos professores, a competitividade entre os alunos, a
entrada no mercado de trabalho, os números e os olhos que nos avaliam deixam a
atmosfera um tanto tensa e estarrecedora, nada garante que tudo vai dar certo e que
você vai ficar totalmente bem, mas, ter alguém que de fato compreenda a situação torna
as coisas mais suportáveis.
Uso dessa apresentação com o objetivo de você, leitor, entender de onde surgiram
minhas ideias e para onde estou caminhando, apesar da estrutura e linguagem
acadêmica espero alcança-los de alguma forma, imagino e espero que você talvez se
identifique com os assuntos que aparecerão no decorrer da leitura.
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É notório que as crianças aprendem uma com as outras - assim como no ensino
fundamental I ou II e até mesmo em cursos de ensino superior em que os alunos se
ajudam nas disciplinas e assuntos que têm mais dificuldades - um exemplo largamente
explícito de uma relação aluno-aluno em questão de aprendizado é a aplicação da
cooperação que ocorre no Método Montessoriano 1 de ensino, para a educadora Maria
Montessori as classes devem ser heterogêneas, ou seja, com crianças de diferentes
idades pois isso permite que crianças mais velhas auxiliem as crianças mais novas com o
uso dos materiais e nos cumprimentos das “regras” do espaço compartilhado. Assim, as
crianças aprendem juntas e sozinhas, desenvolvem noções de companheirismo e respeito
pelo espaço e pela vontade do outro.
Utilizando uma citação de um livro sobre as vivências do autor em seu primeiro ano
de faculdade pode-se compreender a relevância dos vínculos entre os alunos que
enfrentam a mesma situação.
Essa função terapêutica da qual se refere o autor na citação está associada a tudo
aquilo que envolve os relacionamentos dos alunos dentro e, principalmente, fora do
ambiente escolar. Atividades triviais como almoçar juntos, passear num parque, visitas em
casa etc., constroem um íntimo contato de amizade, e é esse mesmo contato que permite
uma certa estabilidade emocional que ajusta na balança toda a instabilidade emocional
provocada pela pressão e competitividade do espaço acadêmico.
1
O método Montessoriano surgiu a partir dos estudos da italiana Maria Montessori (que fez parte da 2ª onda
do Movimento Escola Nova), a educadora começou suas experiências com crianças com deficiências e, a
partir de grandes resultados começou um novo projeto chamado Casa das Crianças em 1907 descrito no
seu livro A Criança lançado em 1936 em italiano. Montessori foi responsável pela idealização de objetos
cotidianos adaptados ao tamanho e necessidades das crianças, elementos que já estamos habituados
atualmente, mas que não eram vistos como importantes no desenvolvimento infantil até Montessori o criar.
Em suma o método Montessori desenvolve a educação com base na evolução de cada criança, as crianças
têm autonomia e podem escolher o que querem fazer, o papel do mestre para Montessori deve ser de um
facilitador.
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Entrar num ambiente novo como escola e faculdade é uma situação que gera
muitas expectativas e desconfortos, dentre eles, insegurança, medo, ansiedades e até um
certo desespero e tudo isso relacionado à pressão por se adaptar ou não. Sentimentos
como esses são completamente normais e todos estão sujeitos a tê-los em situações
como essa, a questão colocada é apontar como a construção de vínculos amigáveis
colaboram para a desconstrução e ressignificação dessas emoções. Quando essa relação
amistosa acontece cria-se uma situação de colaboração, estudantes ajudam uns aos
outros em situações escolares e até mesmo em situações pessoais fora do ambiente
estudantil, com isso, o aluno se sente mais confiante por ter alguém em quem se apoiar
nos momentos difíceis e por saber que também é confiável para os outros ao seu redor.
Além disso, essa relação aumenta a capacidade dos adolescentes de serem autônomos
ao perceberem que os alunos tomam atitudes por conta própria sem usar
necessariamente a ajuda de um professor ou adulto em posição de superioridade.
Alunos ajudam alunos assim como crianças ajudam crianças e a relação não é à
toa, crescemos, mas continuamos os mesmos, precisamos desse contato e dessa relação
amistosa e não que isso signifique uma situação de dependência mas sim a mais pura
noção de que, como bem formula o educador brasileiro Paulo Freire 2, “os homens se
educam entre si” (Freire, 1997, p. ). A ideia de cooperação surge também a partir da
aproximação pessoal entre os envolvidos, ser sensível à uma pessoa ou à determinada
situação facilita a troca e o compartilhamento de ideias e conhecimentos. Essa
aproximação leva à uma compreensão do mundo do outro que, para Paulo Freire, pode
ser entendida como a “leitura de mundo” do outro (significa entendimento do mundo,
análise e retorno dessa análise em forma de ideias baseada na perspectiva individual de
cada um).
Tanto quanto a educação, a investigação que a ela serve, tem de
ser uma operação simpática, no sentido etimológico da expressão. Isto é,
tem de constituir-se na comunicação, no sentir comum uma realidade que
não pode ser vista mecanicistamente compartimentada, simplistamente
bem “comportada”, mas, na complexidade de seu permanente via a ser.
(FREIRE, 1982, p. 108).
2
Paulo Freire (1921 – 1997) foi um educador que defendia que o objetivo da escola deveria ser ensinar o
aluno a ler o mundo para então transformá-lo, o educador tinha uma linha de pensamento pedagógico
político e forte influências do pensamento Marxista, para ele a escola deve conscientizar os alunos para que
eles entendam sua situação de opressão e agir para obter sua libertação. Paulo Freire contribuiu muito para
o pensamento pedagógico atual tendo diversas atuação e reconhecimentos internacionais.
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se entende hoje por educação e a função da escola dentro do movimento Escola Nova 3 é
que a escola deve ser um espaço focado no e para o aluno, a esfera acadêmica deve ser
libertadora e o educador nunca pode performar uma posição de autoridade inquestionável
(um tirano).
Essas organizações possuem autonomias diferentes dependendo da escola e do
nível escolar em que se está inserida, no Brasil é comum a criação desses grupos a partir
do Ensino Fundamental II (do 6º ano em diante), nesses primeiros anos são formados
grupos de Chapa Estudantil, que devem ser compostos por alunos de todas as séries,
com propostas para o ano em vigente e a chapa vencedora, a mais votada pelos alunos,
se torna o Grêmio da escola e é o grupo a quem os alunos podem recorrer caso tenham
algum problema relacionado à escola.
Entretanto, seria ilusório dizer que todas as demandas dos alunos são acatadas e
que os grupos estudantis exercem a autonomia que deveriam ter, nas escolas públicas do
Brasil a realidade é bastante diferente da teoria. Essas instituições estudantis são mais
uma representação do corpo discente de uma forma apenas titular sem muito papel na
prática, pode ser considerado como uma tática da escola para fazer com que os alunos se
sintam pertencentes do espaço e que suas opiniões são levadas em consideração, mas
sem fazê-lo de fato, até porque quando os alunos querem colocar alguma proposta em
prática, os caminhos são difíceis e cheios de obstáculos.
Pode se dizer que falta uma certa consciência de classe dos alunos, se os alunos
compreendessem de fato a importância que eles têm no espaço acadêmico, sendo a
maioria e como o grupo que faz a escola existir, seriam mais assertivos e enfrentariam as
autoridades com muito mais coragem, como muitos professores assumem uma posição
de autoridade máxima o sentimento que consome os alunos é de medo, assim, fica quase
impossível os alunos enxergarem uma possibilidade de questionarem e criticarem as
atitudes do corpo docente e da gestão administrativa da escola. Entretanto, quando um
aluno decide enfrentar e não obedecer às ordens impostas ele é visto como um
delinquente, rebelde, o famoso aluno problema.
Já no ensino superior a características das organizações escolares e sua
autonomia tomam rumos diferentes. Nas universidades públicas essas instituições são
chamadas de Centros ou Diretórios Acadêmicos, obviamente o papel exercido pelo grupo
3
O movimento Escola Nova se iniciou em 1880 ganhando força a partir de 1920, o fundamento norteador
dos pedagogistas escolanovistas era que a escola deveria dar ênfase nos processos de crescimento e
desenvolvimento ou adaptação do indivíduo no espaço que ocupa, além disso, cada criança tem que ser
enxergada como única e suas necessidades e vontades devem ser o ponto de partida dentro dos projetos
escolares.
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depende da faculdade em que está inserido, e em geral são formados também por alunos
de todos os anos e cada curso tem o seu. Os centros acadêmicos têm uma autonomia e
liberdade de atuação muito maiores em relação aos grêmios das escolas, eles podem
realizar eventos na faculdade, levantar movimentações do corpo discente e se sentem
mais encorajados de questionarem as autoridades quando agem de forma arbitrária e
antidemocrática (quando não leva em consideração a opinião de todos os envolvidos).
Essas diferenças acontecem porque nas faculdades, especialmente públicas, os
alunos se sentem pessoalmente ameaçados pelas reformas que aos poucos vão
desmantelando o espaço público da faculdade, assim, com a união e sentimento de
revolta os alunos compreendem seu papel de grupo fundamentador da faculdade e
sabem que sem eles ela não funciona, já a maioria das escolas públicas se encontram em
situação precária há décadas, dessa forma o conformismo nos alunos de que nada vai
mudar impedem que eles se vejam como estrutura principal da escola e não acham que
têm o poder de mudança e esse sentimento não é atoa já que nunca foi lhes apontado a
importância que têm na esfera política da escola.
Entendendo isso, percebe-se que Paulo Freire está certo em pontuar que a escola
deve agir como instrumento de conscientização e libertação dos alunos e não como mais
uma ferramenta de opressão, os alunos devem, desde cedo, reconhecer a relevância que
têm no ambiente da escola e saber que fazem parte dele tanto quanto os professores,
coordenadores, funcionários, etc. A escola é também um espaço de se fazer política,
quando os alunos votam para escolher uma chapa de grêmio estudantil ou centro
acadêmico estão fazendo política e é imprescindível que os alunos aprendam a se
identificarem como força de decisão. Se a escola é feita para e pelos alunos porque então
estes não podem decidir sobre como serão ensinados e o que aprenderão?
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MONTESSORI, Maria. A criança. Tradução de Luiz Horácio a Mata, São Paulo: Nórdica,
s.d.
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