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A PERSPECTIVA AMBIENTAL NO ENSINO DE FÍSICA

Marcos Pires Leodoro1 [leodoro@power.ufscar.br]


Rodrigo Corrêa dos Santos 2 [rodrigocs_eu@yahoo.com.br]

R ESUMO
É discutido, nesse trabalho, a abordagem da perspectiva ambiental no ensino da física. Para a discussão é
focalizada a ruptura metodológica ocorrida na física entre o tratamento mecanicista e a análise sistêmica da
realidade. Como exemplificação dessa última, é caracterizado o conceito de entropia. Aponta-se para uma
educação ambiental no ensino de física associada à noção freireana do “ad-mirar” como reflexão crítica que
supera a mera aderência à realidade. Os desafios propostos pela perspectiva ambiental ao ensino da física
implicam na problematização do papel que a ciência desempenhou na constituição da crise ambiental
contemporânea. Faz-se necessário, portanto, "despotencializar" a apreensão da ciência desumanizada. Nesse
sentido, uma perspectiva ambiental associada ao tratamento da sustentabilidade no ensino de física não pode
estar baseada apenas no tratamento conceitual dos conteúdos. É necessário sensibilizar os alunos por meio da
problematização da realidade tecnocientífica. Como o trabalho tem um caráter preliminar, analisa-se,
brevemente, a abordagem da educação ambiental num livro didático de física voltado ao ensino médio. O
conteúdo dessa referência bibliográfica é confrontado com os pressupostos apresentados. Verifica-se o
centramento na abordagem conceitual da física. No entanto, há aberturas para tratamentos temáticos e
metodológicos que confluem para os ideais da educação ambiental propostos nesse trabalho.

1. INTRODUÇÃO

Pois se nesta época foi conseguida a vitória sobre a natureza, então a natureza sobre a qual o homem
moderno impera é muito diferente daquela em que o homem viveu antes da revolução científica. Com efeito, a
habilidade de o homem ter modificado e permitido o aparecimento da ciência moderna não foi senão a
modificação da natureza e da percepção que ele tem da realidade

Joseph Weizenbaum

Para efeito de ações significativas de educação ambiental, convêm considerar e refletir


acerca da afirmação de Leff (2004):
As aplicações do conhecimento fragmentado, do pensamento unidimensional, da tecnologia
produtivista aceleraram a degradação entrópica do planeta, fazendo brotar a complexidade
ambiental pelo efeito acumulado de suas sinergias negativas. A crise ambiental é a primeira crise
do mundo real produzida pelo desconhecimento do conhecimento. O conhecimento já não
representa a realidade; pelo contrário, constrói uma hiper-realidade na qual se vê refletido.

Assim, podemos pensar na contribuição histórica e conceitual da física na construção


da hiper-realidade citada por Leff e, conseqüentemente, numa abordagem da educação
ambiental no ensino da física que possa reconstruir o real segundo um conhecimento que,
em continuidade com o passado científico, sinaliza uma necessária ruptura com ele. Na

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UFSCar.
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1
efetivação dessa abordagem pretendida, se considera que a ação educacional não se encerra
num conjunto de conhecimentos conceituais devidamente apresentados mas, senão, na
busca de um processo de conscientização mais profundo. Conforme Ruscheinsky e Costa
(2002, p. 82):
A educação ambiental que queira problematizar as condições de existência necessariamente
penetrará no terreno das representações sociais. Na leitura do real os indivíduos consolidam
representações que se ancoram no contexto em que vivem e podem possuir a performance da
autonomia ou da dominação ideológica.

Assim, considerando a natureza dual da ciência enquanto instituição concreta e,


portanto, inserida permanentemente num jogo de múltiplos interesses, o desafio da
educação ambiental no ensino de física implica em promover a problematização da ciência
enquanto agente de contribuição ao estado crítico do ambiente contemporâneo.
Neste trabalho, faz-se uma contextualização conceitual do mecanicismo e da
abordagem sistêmica na física, em particular, enfocando a noção de entropia , visando a
abordagem de uma perspectiva ambiental no ensino de física. Em seguida , é apresentada
breve análise de tópicos sobre energia e entropia extraídos de um livro didático com vistas
à futura estruturação de atividades de ensino de física compatíveis com a perspectiva
apresentada.

2. RUPTURAS METODOLÓGICAS DA FÍSICA: MECANICISMO E VISÃO SISTÊMICA

O que em geral se considera um vertiginoso desenvolvimento da ciência clássica,


particularmente da física, durante os séculos XVI ao XIX, deveu-se em boa parte à
consolidação da filosofia mecânica ou mecanicismo. Mais que um método de estudo da
natureza, o mecanicismo pretendeu demarcar as fronteiras do conhecimento científico
elegendo os problemas de pesquisa legítimos e, consequentemente, estabelecendo os
domínios de validade do saber. Suas premissas se contrapunham à perspectiva
antropomórfica e re presentavam uma reação ao animismo e suas referências às “forças
vitais” ou às “causas finais” da filosofia aristotélica. No lugar das mesmas, postulava que a
natureza é um sistema de matéria em movimento regido por um número reduzido de leis
matemáticas. D’Espagnat e Klein (1994) destacam três idéias constitutivas da filosofia
mecânica: 1) tudo pode ser descrito a partir de conceitos familiares ou segundo cadeias de
abstrações e generalizações dos mesmos; 2) um sistema pode ser analisado, ou seja, o

2
conhecimento, de forma exata, do conjunto das partes leva ao entendimento de todo o
sistema (“o todo, em última instância, não é mais do que a soma das partes”); 3) Os
enunciados científicos são objetivos, ou seja, dizem respeito às coisas em si,
independentemente do conhecimento que possamos ter delas.
Alguns desdobramentos da pesquisa científica durante o século XX representaram
fortes reveses aos pressupostos mecanicistas. Na física, os estudos relativos à estrutura
atômica da matéria (mecânica quântica) levaram à reconsideração da objetividade científica
a partir de um novo enfoque sobre o papel do observador no ato da medida. Na biologia, a
tentativa de se formular leis sobre os diversos níveis da organização nos sistemas vivos,
segundo investigações que visam captar a coordenação de suas partes e processos, implicou
na superação da perspectiva metodológica do reducionismo como elemento chave da
pesquisa científica. Bertalanffy apud Bertalanffy (1992, p. 140) assim colocou a nova
problemática da pesquisa segundo a Teoria Geral dos Sistemas por ele preconizada:
As propriedades e modos de ação dos níveis superiores não podem explicar-se pela soma das
propriedades e modos de ação que correspondem aos seus componentes considerados
isoladamente. Não obstante, é possível chegar aos níveis mais elevados partindo-se dos
componentes, se conhecemos o conjunto de componentes e das relações que existem entre os
mesmos.

Na atualidade, os rumos do desenvolvimento científico e tecnológico e a


consolidação de uma sociedade que se produziu ao lado dos mesmos têm levado a uma
necessidade do diagnóstico e do gerenciamento dos dilemas oriundos da manipulação
ambiental que se intensificou consideravelmente nos últimos séculos ao redor de todo o
planeta. À medida que a dualidade natureza e cultura é progressivamente superada e que a
organização da vida social humana torna-se cada vez mais complexa, faz-se necessário a
consolidação de uma perspectiva ambiental considerando, de acordo com Leff (2001, p.
17):
O ambiente não é ecologia, mas a complexidade do mundo; é saber sobre as formas de
apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram nas
formas dominantes do conhecimento3 .

3
Ao se contrapor a uma perspectiva tecnocrática de abordagem do meio ambiente natural, Guattari (2002)
elabora o conceito de ecosofia próximo à idéia de ambiente de Leff. Ecosofia refere-se à articulação de
natureza ética, política e estética entre meio ambiente (ecologia ambiental), as relações sociais (ecologia
social) e a subjetividade humana (ecologia mental).

3
O enfoque sistêmico articulado ao estudo da termodinâmica dos sistemas abertos
representa uma contribuição da física para a perspectiva ambiental assim como à noção de
sustentabilidade segundo uma reconciliação entre conhecimento e natureza.

3. A L EI DE MÁXIMA ENTROPIA : ORDEM /DESORDEM

A termodinâmica do equilíbrio e a formulação clássica da Lei de Máxima Entropia


(Segunda Lei da Termodinâmica) de acordo com a qual “a entropia, S, de um sistema
isolado aumenta até um máximo” (P RIGOGINE e STENGER, 1991, p. 96) 4 representaram
um avanço crucial da física em direção à abordagem da complexidade da natureza. A
entropia é uma função de estado do sistema e que pode ser descrita apenas em termos de
parâmetros extensivos 5 : energia interna, volume e número de moles dos componentes
químicos. O isolamento do sistema pressupõe nenhuma troca de energia ou matéria entre o
mesmo e o ambiente. A entropia máxima dos sistemas isolados corresponde a um estado de
equilíbrio que permanece temporalmente inalterado, sendo independente da história
passada do sistema6 . A evolução do sistema é descrita por dS/dt > 0 e o seu estado de
equilíbrio por dS/dt = 0.
Para o caso de um sistema que não está em equilíbrio mas interagindo com o
ambiente (sistema aberto), o aumento de entropia dS é dado pela soma do “fluxo” de
entropia deS entre o ambiente e o sistema e a geração de entropia diS devido a processos
irreversíveis dentro do sistema. Nesse caso, temos que deS + diS ≥ 0. Uma vez que diS é
sempre positivo, conforme a Lei de Máxima Entropia, enquanto deS pode ser negativo ou
positivo 7, a variação de entropia num sistema aberto pode ser negativa ou positiva. Logo, a

4
Ainda de acordo com Prigogine e Stengers (1991, p. 96), o conceito de entropia introduz na física uma
“flecha do tempo”: “Para todo sistema isolado, o futuro é a direção na qual a entropia aumenta”.
5
Os parâmetros extensivos são aditivos, ou seja, para um sistema composto o valor que cada um deles assume
é igual a soma dos valores que caracterizam os subsistemas.
6
Deve ser observado que a formulação clássica da Lei de Máxima Entropia não faz nenhuma referência ao
sistema em estado de não equilíbrio.
7
O fato de d eS ser negativo significa que um sistema aberto pode extrair “entropia negativa” do ambiente (e,
portanto, aumentar a entropia ambiental) para manter sua estabilidade. Essa é uma característica fundamental
dos organismos vivos (das células aos ecossistemas) assinalada por Schrödinger (1989, p. 74):
Um organismo vivo pode manter -se afastado da morte, isto é, vivo, extraindo, incessantemente, do respectivo meio ambiente
entropia negativa (...), o aspecto essencial do metabolismo reside no fato de o organismo conseguir liberar-se de toda a
entropia, que não pode deixar de produzir enquanto vivo.

4
variação total de entropia num sistema aberto pode adotar valores positivos ou negativos 8 .
Os estados de estabilidade nos sistemas abertos fora do equilíbrio não se definem pela
entropia máxima, como no caso do equilíbrio de sistemas fechados, mas pela tendência em
direção a um mínimo de entropia produzida (BERTALANFFY, 1992).
A Lei de Máxima entropia também pode ser formulada em termos de um aumento
progressivo da desordem universal. De fato, foi Boltzmann quem interpretou o crescimento
irreversível da entropia como crescimento da desordem molecular da matéria (PRIGOGINE
e STENGERS, 1991). Consideremos, por exemplo, o caso de um sistema isolado
constituído por uma caixa adiabática dividida ao meio por uma parede diatérmica. Numa
metade da caixa encontramos um gás A com energia interna EA e na outra metade um gás B
com energia interna EB . A energia térmica total do sistema ET , um parâmetro extensivo, é
igual a EA + EB e, de acordo com a Primeira Le i da Termodinâmica, permanece constante.
Consideremos distintas distribuições da energia total ET entre os gases A e B e nos
perguntemos: Qual é a configuração mais provável para EA e EB 9 associada à evolução
natural do sistema? O cálculo de probabilidades mostra que tal configuração será a
equipartição da energia total, ou seja, EA = EB . Nesse sentido, a desordem está relacionada a
uma configuração com um grande número de estados possíveis ou, de acordo com
Prigogine e Stengers (1991, p. 99) ao “esquecimento progressivo de toda a dissimetria
inicial”.
Por outro lado, é possível relacionar o aumento de entropia com a degradação da
energia. Ainda que, no sistema isolado, a energia total ET permaneça constante, a evolução
espontânea do sistema leva a uma perda da qualidade ou capacidade da energia de realizar
trabalho. Desse modo, uma formulação equivalente à Lei de Máxima entropia é: A
capacidade de um sistema isolado de converter calor em trabalho decresce
constantemente.

8
Tal conclusão não viola a Lei de Máxima Entropia, desde que consideremos o sistema aberto mais o
ambiente como constituindo um sistema fechado para o qual continua válido dS/dt ≥ 0.
9
Se Ω A representa o número de estados possíveis de distribuição da energia EA entre as moléculas do gás A e
Ω B o número de estados possíveis de distribuição da energia EB entre as moléculas do gás B, então, o número
de estados possíveis de todo o sistema Ω T será dado por ΩT = ΩA x ΩB. Para um intervalo temporal
suficientemente grande, a fim de que ocorra inúmeras interações das moléculas entre si e destas com as
paredes do recipiente, teremos que a probabilidade de uma configuração particular referente a uma certa
divisão da energia total ET entre os gases A e B é dada por (ΩA x ΩB)/ ΩT. Verifica-se que a configuração
mais provável é aquela em que EA=E B .

5
Enquanto os sistemas isolados evoluem no sentido da ordem para a desordem
(máximo aumento de entropia), os sistemas abertos, por sua vez, podem produzir uma
ordem local a partir de um aumento da desordem global. Tal é o caso de um ecossistema.
Nele, há um constante fluxo de energia e matéria que o afasta do estado de equilíbrio. Mas
a natureza resiste aos afastamentos do equilíbrio (SCHNEIDER e KAY, 1997). O
ecossistema tende a se auto-organizar consumindo mais energia a fim de manter sua auto-
organização. Desse modo, ele reage ao aumento do fluxo de energia que o desloca do
equilíbrio, ou seja, dissipa gradientes de energia para realizar os processos de auto-
organização. Por outro lado, o aumento de complexidade dos sistemas abertos os torna
muito sensíveis às variações dos fluxos de energia e/ou matéria.
Os processos de auto-organização em certos sistemas abertos (sistemas dissipativos)
exemplifica um dos princípios mais importantes da abordagem sistêmica. De acordo com
Frontier (2001, p. 15-16)
Do conjunto das unidades funcionais e do conjunto das suas interações emerge uma nova
entidade, mostrando uma estrutura, propriedades e uma dinâmica novas em relação às das
componentes. As dinâmicas elementares são ditas integradas numa dinâmica global diferente
de uma simples “soma” das primeiras (é a antiga máxima “o conjunto é mais do que a soma
das partes) (FRONTIER, 2001, p. 15-16).

4. CONTRIBUIÇÃO À PERSPECTIVA AMBIENTAL NO ENSINO DE FÍSICA

O desenvolvimento de uma civilização científica e tecnológica e seus dilemas foi


resultado de articula ções práticas e conceituais do paradigma da ciência clássica e sua
filosofia mecânica. Por outro lado, o desenvolvimento científico recente tem propiciado
uma abordagem mais eficaz da complexidade ambiental e um entendimento mais sistêmico
dos impactos ambientais das ações humanas. A utilização potencializada dos instrumentos
intelectuais à disposição, pressupõe uma visão alargada do conceito de ambiente e uma
reflexão no campo teórico que subsidie a formulação de estratégias de ação devidamente
embasadas. Por exemplo, a idéia de um progresso tecnológico tautológico, segundo o qual
“o progresso é medido pela velocidade com que se produz” (TIEZZI , 1988, p. 32) é cada
vez mais insustentável.
O estudo da termodinâmica dos sistemas abertos nos leva a uma perspectiva
ambiental, segundo a qual a velocidade de consumo dos recursos naturais e da energia

6
disponível é inversamente proporcional ao tempo de sobrevivência da civilização humana.
Tal problemática põe no cenário da educação ambiental as noções de sustentabilidade e de
desenvolvimento sustentável.
Braga et al (2005) questionam o modelo de desenvolvimento social vigente
considerando-o inviável, visto se tratar de um sistema aberto baseado nas premissas dos
suprimentos inesgotáveis de matéria e energia e na capacidade infinita do ambiente de
reciclar matéria e absorver resíduos.
O desenvolvimento sustentável e, em conseqüência, a sustentabilidade, envolvem a
consideração de um suprimento externo contínuo de energia (solar) mas, no entanto, no seu
uso racionalizado, assim como a reciclagem e o reuso dos materiais. Nesse sentido,
pressupõem um sistema fechado caracterizado pela recuperação dos recursos, minimização
do impacto dos resíduos e, desse modo, contribuindo para o melhor processamento da
restauração ambiental.
O desafio do desenvolvimento sustentável remete ao dilema relativo à nossa condição
de pertencentes ao panorama tecnocientífico contemporâneo e, portanto, a ele
condicionados, no momento em que se faz necessário a ruptura com certas concepções que
o sustentam. Freire (1987) se refere a uma aderência à realidade que, ao constituir obstáculo
à apreensão práxica10 do real, demanda uma atitude crítica para com a própria realidade ou
a representação que fazemos dela. Para tanto, Freire fala da necessidade de “ad-mirar” o
mundo, ou seja, não apenas adaptação, mas uma cisão com ele por meio do logos que é,
senão, surpresa , êxtase propiciadoras da reflexão.
Como uma primeira análise da tentativa de abordagem da perspectiva ambiental no
ensino de física , consideramos o exemplo do livro didático “Física: ciência e tecnologia”
de Torres et al (2001). Num dos capítulos do livro11 , os autores apresentam estimativas do
grande consumo de energia no futuro e o esgotamento dos combustíveis fósseis. Mais
adiante, lançam a problemática da necessidade de se aumentar a disponibilidade de energia
sem por em risco reservas e sem prejudicar o meio ambiente, bem como melhorar a
eficiência dos processos de geração de energia e utilizá-la de forma racional. Mostram
como através do esclarecimento técnico e do bom uso da tecnologia (alfabetização

10
No sentido da práxis ou da ação articulada à reflexão.
11
Capítulo 16: Energia hoje e amanhã – poluição.

7
tecnológica), pode -se economizar energia , principalmente aquela obtida do petróleo e da
eletricidade. É pontuado itens sobre como utilizar essas formas de energia , de modo
racional, no automóvel, nas instalações residenciais de gás, na iluminação e
eletrodomésticos. Nesse ponto, os autores nos fornecem formas de diminuir o consumo de
energia, sendo uma contribuição para a solução do problema colocado no começo do
capítulo.
É descrito, ainda, fontes alternativas de energia e a tecnologia envolvida no
processo de captação, suas vantagens e desvantagens ambientais e sociais. Nesse ponto,
temos a indicação da possível solução para o problema da sustentabilidade ambiental: as
fontes renováveis de energia. São apontados, ainda, alguns tipos de poluição ambiental. O
capítulo finaliza com o tópico da reciclagem.
No livro, ao longo dos capítulos , há sessões de Ciência, Tecnologia e Sociedade
(CT&S) que motivam os alunos a questionar, discutir, pesquisar e pensar a respeito de
certas questões, ponto fundamental para nossa proposta de ensino de física.
Um instrumento didático importante que não é usado no livro é a abordagem
histórica e filosófica da ciência. Ela é essencial para a constituição de uma consciência
crítica sobre a realidade tecnocientífica contemporânea e seus dilemas. Contribui, ainda, na
percepção dos avanços científicos e tecnológicos envolvidos na produção, transformação e
consumo da energia e seus impactos na degradação ambiental ao longo desse
desenvolvimento.
Diante da ruptura metodológica da física apresentada nesse trabalho, observa-se que
a mesma não é focalizada no livro e não há um tratamento sistêmico da problemática
ambiental. Por outro lado, num capítulo anterior dedicado ao estudo da termodinâmica12 ,
cito-se um quadro de Salvador Dali, o qual foi descrito do seguinte modo:
(...) há maçãs que voam, água que sobe saindo do gargalo de uma garrafa, um pássaro
estático, pairando no ar. (...) A realidade é bem diferente dos devaneios oníricos do grande
mestre catalão. Os fenômenos naturais ocorrem sempre no mesmo sentido, de modo que a
entropia do Universo aumente. (TORRES et al, 2001, p. 264).

Ao ser melhor explorada esta citação, teríamos uma proposta genuína da abordagem
da perspectiva ambiental no ensino de física promovendo a “ad-miração” proposta por

12
Capítulo 10: Termodinâmica – conversão entre calor e trabalho.

8
Freire (1987), ao fazer uso do caráter epifânico da arte, nos remetendo a uma subversão do
real para que possamos, então, melhor “ad-mirá-lo”, ou seja, enxergá-lo criticamente.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9
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