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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – 2023.2


Discentes: Danilo Cassio Souza Santos e Islane Andrade Oliveira.

CASO CLÍNICO
- Asma -

Charleston Ribeiro Pinto1

Paciente com asma grave, 57 anos, sexo feminino, queixa-se de dispneia e tosse ao amanhecer, afirma
sintomas noturnos 2 x/ semana e uso de salbutamol 100 mcg spray 3x/dia. Apresentou escore do
Teste de Controle da Asma (ACT, Asthma Control Test) igual a 9. Nega outras comorbidades. O mesmo
vem em uso de formoterol + budesonida 12/400 mcg (1 inalação VO 12/12h). Realiza manejo
correto do dispositivo inalatório e controle ambiental. Recentemente chegou ao serviço farmácia com
prescrição contendo o medicamento salmeterol 50 mcg (4 inalações VO 12/12h). Afirma que seu
médico assistente resolveu adicionar um novo medicamento para alcançar um melhor controle da
asma.

QUESTÕES

1. Quais são os objetivos do tratamento do paciente? (2,0)


● Adesão ao tratamento e técnica inalatória adequadas devem ser verificadas em todas as
consultas
● Comorbidades e exposições ambientais/ocupacionais que possam piorar o controle da
asma devem ser investigadas e, se presentes, devem ser eliminadas ou minimizadas
● Identificar a fenotipagem utilizando dos biomarcadores que podem auxiliar na
identificação dos diferentes fenótipos e endotipos, bem como predizer a resposta ao tratamento
da asma grave. A natureza heterogênea e complexa da asma grave, com processos fisiopatológicos
díspares, sinaliza diferentes fenótipos, cuja identificação pode representar uma oportunidade de
terapia-alvo bem sucedida
● Com exacerbações da doença sinalizadas pela dispnéia e tosse, o objetivo do tratamento é
manejar esses sintomas com novas medidas acompanhadas do médico especialista e
farmacêutico.
● Torná-lo funcional e apto para fazer atividade física: uma revisão sistemática (263)
comparou estudos que avaliaram asmáticos participantes de um programa de treinamento e um
grupo que não realizou atividades físicas. O grupo de asmáticos que realizou exercícios
apresentou melhora significativa da capacidade aeróbia, mas não foi observada melhora nos
parâmetros de função pulmonar avaliados no repouso.
● Identificar, reduzir ou eliminar exposições que pioram o controle da asma: tabagismo,
exposição ambiental e/ou ocupacional, alérgenos, drogas, etc.
● O Corticóide Oral como budesonida, é uma opção alternativa devendo ser usado na menor
dose possível, pois embora seja eficaz para atingir e manter o controle da asma, seu uso regular
ou em cursos repetidos está associado a efeitos adversos graves. Os principais efeitos adversos
são a perda de massa óssea com maior risco de fratura, ganho de peso, síndrome metabólica,
diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência adrenal e imunossupressão. Esses
efeitos indesejáveis são dose-dependentes.
● Como o diagnóstico é asma grave, o tratamento recomendado para o manejo da asma
grave da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2021 é Corticóide Inalatório em dose
alta (≥ 1.600 µg de budesonida) + LABA + LAMA e/ou cursos frequentes de CO ou CO diário.
● Manter a saturação de oxigênio > 92%.
● Nos últimos anos, ocorreram mudanças importantes no manejo da asma grave em
paralelo ao melhor entendimento da fisiopatologia e fenotipagem da doença. As recomendações
atuais(2,14,151) de tratamento da asma grave incluem como tratamento preferencial doses altas
de CI + LABA. No caso de paciente não controlado pode-se associar LAMA e/ou imunobiológico.

Fontes:

1. Recomendações para o manejo da asma grave da Sociedade Brasileira de Pneumologia e


Tisiologia – 2021.
2. KATZUNG, Bertram G.; VANDERAH, Todd W. Farmacologia básica e clínica. Artmed Editora,
2022.

2. O manejo do tratamento farmacológico realizado pelo médico assistente da paciente está


adequado?

Explique. (2,0)
Não, existe duplicidade (entre salbutamol, formoterol e salmeterol) que viola a preconização da
1º linha de tratamento: ao invés do último medicamento prescrito ser salmeterol 50 mcg (4
inalações VO 12/12h), deveria ser antagonistas muscarínicos de longa duração (LAMA), pois
Salmeterol é da mesma classe do Formoterol e possui farmacocinética e indicação clínica
semelhante. O paciente grave deve escalar gradualmente na quantidade de medicamento
prescrito e resposta terapêutica, caso não for desejável, adiciona-se mais medicamentos
clinicamente viáveis. Para isso, a existe recomendação da Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia sobre paciente asmático grave: necessita tratamento com corticóide inalatório em
dose alta (budesonida ≥ 1.600 µg ou equivalente) associado a uma segunda droga de controle —
(LABA), β2 agonistas de longa duração como Salbutamol, se não obter respostas terapêuticas
desejáveis, adicionar long-acting muscarinic antagonists LAMA como Brometo de Tiotrópio e/ou
antileucotrienos — ou corticoide oral (CO) ≥ 50% dos dias no ano anterior para manter o
controle da doença, ou que, apesar desse tratamento, permanece não controlada devido a sua
gravidade intrínseca. Considerando que a adição de brometo de tiotrópio ao tratamento da asma
grave está indicada preferencialmente antes do uso de imunobiológicos Nos casos mais graves, o
tratamento com um controlador de longo prazo, como um corticóides inalatório, faz-se
necessário para aliviar os sintomas e restaurar a função.

Na prescrição médica do enunciado existem riscos iminentes de eventos futuros, como crises, ou
de perda progressiva da função pulmonar. A satisfação com a capacidade de controlar sintomas e
manter a função respiratória com o uso frequente de um β2-agonista inalatório não significa que
se tenha controlado também o risco de eventos futuros. De fato, o uso de dois ou mais frascos de
β-agonista inalatório por mês é um marcador de maior risco de fatalidade causada por asma.

O início rápido da ação do formoterol permite o uso da combinação de um CSI com esse
β-agonista de longa ação. Diversos trabalhos confirmaram que a administração fixa duas vezes ao
dia associada à inalação de acordo com a necessidade de budesonida e formoterol é tão efetiva
para a prevenção de crises de asma quanto doses quatro vezes maiores de budesonida
administradas duas vezes ao dia usando apenas salbutamol para alívio dos sintomas.

Fontes:

1. CARVALHO-PINTO, Regina Maria de et al. Recomendações para o manejo da asma grave da


Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia-2021. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 47, p.
e20210273, 2021.
2. KATZUNG, Bertram G.; VANDERAH, Todd W. Farmacologia básica e clínica. Artmed Editora,
2022.

3. O medicamento salmeterol 50 mcg é indicado para tratamento da asma? A dose e posologia


estão corretas? Cite as referências utilizadas. (2,0)
Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Asma (Portaria nº 1.317, de 25
de novembro de 2013) (15), dentro dos medicamentos atualmente recomendados para asma
contém salmeterol 50mcg ,mas em relação a posologia é indicado 50mcg com duas inalações
duas vezes ao dia.
Fonte:
1. Proprionato de fluticasona/xinafoato de salmeterol para tratamento da asma em
paciente a partir de 4 anos. 2021,n° 676

4. Qual o antiasmático é apropriado como tratamento de primeira linha do paciente? Cite a


evidência científica utilizada. (2,0)
Corticosteróides inalatórios são considerados a primeira linha de tratamento e são mais
efetivos para pacientes com asma persistente. A ciclesonida, por sua alta capacidade de ligação à
proteína plasmática, reduz seus efeitos adversos, mesmo em doses altas.
Segundo (FONSECA, BOTELHO, 2006), ”Os corticosteróides são uma classe de hormônios
esteróides produzidos naturalmente pelas glândulas supra-renais do nosso corpo. Seus mecanismos
de ação envolvem a ligação a receptores específicos dentro das células, chamados de receptores de
glicocorticóides, que estão presentes em muitos tipos diferentes de células no corpo (apud
PEREIRA,et.al., 2023). Então, após penetrar na célula, o corticosteroide une-se a um receptor, na qual
é transportado ao núcleo se ligando a sequências do DNA, levando vários série de efeitos biológicos.
E segundo (SOUZA, et.al., 2023) ”O primeiro estudo sobre corticoide em asma aguda foi publicado em
1900 por Solis-Cohen, que utilizou um extrato bruto de glândula adrenal (apud PEREIRA,et.al., 2023).
Então os corticosteróides diminuem a produção de mediadores inflamatórios, têm efeito
imunossupressor. Os corticosteroides inalatórios não agravam a condição, mas suprimem, controlam
e revertem a inflamação ,e são considerados a primeira linha de tratamento para o controle da asma,
pois atuam diretamente nos pulmões, reduzindo a inflamação e prevenindo os sintomas. Eles são
geralmente prescritos para uso diário a longo prazo (MCKEEVER T, et.al., 2020).
Fontes:
1. MCKEEVER T, MORTIMER K, WILSON A. Quadrupling inhaled glucocorticoid dose to abort
asthma exacerbations. N Engl J Med. 2018;378(10):902-910. doi:10.1056/NEJMoa1714257
2. MOREIRA, Raquel; LIMA, Rafaela; PEIXOTO, Winicius. Corticoides na Asma. 2023.
3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA et al. III Consenso Brasileiro no manejo da
Asma 2002. In: III Consenso brasileiro no manejo da asma 2002.

5. Na perspectiva do cuidado farmacêutico, quais as responsabilidades do farmacêutico assistente


do paciente? (2,0)
Segundo a RDC 585 e 586 que diz respeito ao regulamento de atribuições clínicas tais como
elaboração do plano de cuidado farmacêutico; determinação de parâmetros bioquímicos e
fisiológicos; consulta farmacêutica; avaliação da prescrição; avaliação e acompanhamento da
adesão ao tratamento; anamnese farmacêutica junto a resolução do Conselho Federal de
Farmácia com a Resolução 720/2022 regulamento o registro de Consultório Farmacêutico que
garante ao farmacêutico analisar a prescrição de medicamentos quanto aos parâmetros legais e
técnicos, tais como: dose, frequência, horário, via de administração, posologia, tempo de
tratamento, compatibilidade, interações medicamentosas potenciais, reações adversas,
duplicidade, formas farmacêuticas adaptadas à condição clínica do paciente, entre outros
aspectos relevantes como buscar evidências de adesão ao tratamento, assegurar o uso correto
dos inaladores, investigar e controlar comorbidades e otimizar o tratamento farmacológico e
medidas complementares não farmacológicas como atividade física regular. Nesse sentido,
existem evidências que o cuidado farmacêutico tem grande importância no paciente que convive
com asma usando de suas atribuições na orientação de como inalar corretamente
demonstrando a técnica correta. Atualmente, a polifarmácia pode surtir altos níveis de
satisfação entre os pacientes. Bem como, a educação do paciente provido por farmacêuticos,
mediante vídeo compactado interativo pode ser superior à educação municiada através de
instruções escritas na bula do inalador. Outra questão importante incide no fato de que,
programas de cuidados com a asma municiados por farmacêuticos com base em diretrizes
nacionais contribuem efetivamente para melhorar o controle da asma.

Fontes
1. DE LIMA, Cristiele Nunes; VIEIRA, Adriele Laurinda Silva. ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO
MANEJO DO TRATAMENTO DE PACIENTES ASMÁTICOS: uma revisão integrativa. Scientia Generalis,
v. 2, n. 2, p. 177-197, 2021.
2. DE FARMÁCIA, Conselho Federal. Resolução CFF nº 586, de 29 de Agosto de 2013. Regula a
prescrição farmacêutica e dá outras Providências. Diário Oficial da União, v. 29, 2013.
3. DE FARMÁCIA, CONSELHO FEDERAL. Nota Técnica: perguntas e respostas referentes às
Resoluções do CFF nº 585 e nº 586, de 29 de agosto de 2013. 2013.

1
Prof. Charleston Ribeiro Pinto preparou este caso. Os casos da disciplina servirão exclusivamente como base para discussão em classe. A
situação neste caso é fictício.

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