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Recensão crítica do livro

Por um Populismo de Esquerda

De Chantal Mouffe

Sebastião Manjua de Lima (2021224332)

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

A autora inicia a sua obra através de uma longa introdução onde evidencia os
termos chave que serão utilizados e explicados com o decorrer da sua análise, como
momento populista, classe, social-democracia, neoliberalismo e democracia,
juntamente com uma contextualização histórica do principal período que será estudado
em capítulos posteriores, o governo de Margaret Thatcher.

A cientista política inicia o seu primeiro capítulo, O momento populista,


afirmando de que o seu objetivo não é acrescentar outra contribuição ao já pletórico
campo dos “estudos do populismo” (…) Este livro é uma intervenção política e
reconhece abertamente a sua natureza partidária. Desta forma, a autora entrega-nos
abertamente a sua parcialidade em relação aos assuntos posteriormente debatidos, sendo
visível ao longo de toda a leitura a conotação negativa entregue ao neoliberalismo e às
políticas de direita, enquanto realça indiretamente as ideologias políticas de esquerda,
destacando o Neomarxismo. É após o assumir desta natureza partidária que Mouffe
revela a tese que procurará defender com esta obra: como o populismo foi brutalmente
utilizado pelo neoliberalismo inglês, resultando na grave desvalorização da Democracia,
e como o populismo de esquerda é o necessário para a reviver.

É após a definição de diversos conceitos fundamentais para a leitura da sua obra,


como populismo, momento populista, pós-democracia e pós-política, que a autora inicia
o seu processo de argumentação em defesa da sua tese. Esta ideia de que a Democracia,
intrinsecamente ligada aos conceitos de igualdade e soberania popular, está em declínio

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devido à investida neoliberal, é aquilo que Mouffe procurará justificar, evidenciando os
motivos pela qual este regime político precisa ser salvo, e os meios de como este será
salvo, recorrendo à mais variada gama de figuras históricas, políticas adotadas e
momentos específicos no espaço-tempo. No segundo capítulo, Aprender com
Thatcherismo, a cientista política limita o seu estudo e compreensão da ideologia
neoliberal à Inglaterra governada por Margaret Thatcher, denunciando que esta
ideologia apenas cresceu sob a pretensão de modernização, acompanhada pelo slogan
político There is no alternative (TINA). A autora refere este momento histórico como
um abuso do populismo, resultando num período de crise da Democracia igualitária,
para uma alternativa focada no individualismo capitalista. Este período neoliberal só
terminaria com a crise de 2008, onde os ideais neoliberais foram colocados em causa,
gerando o designado por Mouffe de momento populista – Esta conjuntura seria
caracterizada pela falta contínua de capacidade dos governos de saciar as novas
demandas ambientais, sociais e políticas da sociedade, resultando em um período de
descontentamento e destabilização do paradigma. Aqui entraria o Populismo de
Esquerda, um populismo que proporciona a estratégia necessária para restabelecer o
domínio da Democracia sob o individualismo, para responder às principais questões
sociais e ambientais que assolam o sistema internacional, como as alterações climáticas,
o sexismo e o racismo, e para contribuir para uma sociedade justa e igualitária, algo que
o Populismo de Direita, utilizado por Thatcher, falhou em cumprir.

É no terceiro e quarto capítulo, Radicalizar a Democracia e A Construção de um


Povo, que Mouffe busca desenvolver teoricamente o processo pelo qual o populismo de
esquerda seria implementado e responsável pela radicalização da democracia, no
sentido de haver um retorno da sua importância nas sociedades ocidentais, aproveitando
o aparente descrédito que o consenso neoliberal instalado por Thatcher sofreu após
2008. É no quarto capítulo que ocorre por fim o apelo final da autora para a construção
de um povo constituído por uma causa, responsável por demandar às suas figuras
representativas, as elites, presidentes e primeiros-ministros, a resolução dos problemas
que estes tanto desejam ver resolvidos.

Chantal Mouffe não falha em transmitir a sua mensagem e visão do paradigma


em que vivemos, oferecendo-nos uma revisão do conceito de populismo,
maioritariamente associado à conotação negativa, enquanto nos proporciona uma

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imagem clara do processo de desenvolvimento e implementação do seu projeto teórico,
através de contexto histórico e explicitação de conceitos, permitindo ainda ao leitor
desenvolver um sentimento de representação e simpatia por este projeto, pois vê nele
uma solução prática e possível para os problemas quotidianos que confronta, que
seriam, na teoria de Chantal Mouffe, solucionados por um populismo de esquerda.

Referências Bibliográficas

- Mouffe, Chantal. (2018). Por um Populismo de Esquerda. Tradução por Daniel


de Mendonça. Autonomia Literária.

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