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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
O saneamento ................................................................................................................................... 22
Liquidação ........................................................................................................................................ 23
Pagamento ........................................................................................................................................ 23
O encerramento da instância ............................................................................................................ 24
Casos Práticos I, II e III ..................................................................................................................... 24
Tema II –Injunção
Introdução e Noção de Injunção ....................................................................................................... 28
Tramitação Processual ....................................................................................................................... 28
O BNI – Balção Nacional de Injunções ............................................................................................ 29
Os elementos do requerimento – artigo 10º/2 ................................................................................... 30
Casos de Indeferimento – artigo 11º/1 .............................................................................................. 30
Da notificação .................................................................................................................................. 30
Elementos da notificação – artigo 13º .......................................................................................... 30
Modos de atuação do Requerido ...................................................................................................... 31
Audiência de Julgamento ................................................................................................................. 31
Sumário Jurisprudência .................................................................................................................... 31
Injunção Europeia .............................................................................................................................. 34
Tema III – PEPEX
Introdução .......................................................................................................................................... 35
A Ação Executiva............................................................................................................................. 35
O Agente de Execução ..................................................................................................................... 35
Tramitação.......................................................................................................................................... 36
Requisitos – Artigo 3º ...................................................................................................................... 36
O Título Executivo – A Legitimidade e os Pressupostos .............................................................. 36
O Requerimento Inicial – Artigos 4º a 8º ......................................................................................... 37
Distribuição – Artigo 6º................................................................................................................ 37
Recusa e consulta de bases de dados – Artigos 8º e 9º ..................................................................... 37
A notificação do Requerido – Artigos 12º a 14º ............................................................................... 38
A Oposição ....................................................................................................................................... 38
A Certidão de Incobrabilidade – Artigo 25º ..................................................................................... 38
A Convolação – Artigo 18º .............................................................................................................. 38
Novas Consultas após a Extinção – Artigo 19º................................................................................. 39
Sumário de Prazos.............................................................................................................................. 40
Tema IV – PED
Introdução .......................................................................................................................................... 41
O Contrato de Locação ..................................................................................................................... 41
Modos de Extinção do Contrato de Locação .................................................................................... 42
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O Início do PER
Como indica o nº1 do artigo 17º-A o PER destina-se à empresa que se encontre em situação
economicamente difícil, ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que ainda seja
suscetível de recuperação, de estabelecer negociações com os respetivos credores de modo a concluir
com estes um acordo conducente à sua revitalização.
A noção de situação económica difícil esta prevista no artigo 17º-B sendo o “devedor que enfrentar
dificuldade séria para cumprir pontualmente as suas obrigações, designadamente por ter falta de liquidez
1
Exposição de motivos da proposta de lei 39/2011;
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Este facto mostra-se relevante em termos práticos, no ponto em que um dos requisitos para aceder ao PER é a
empresa ser “suscetível de recuperação” – Artigo 17º-A CIRE.
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III - Neste pressuposto, as normas que regem o PER devem ser interpretadas restritivamente, no sentido de que
esse processo especial não é aplicável às pessoas singulares que não sejam comerciantes, empresários ou que
não desenvolvam uma atividade económica por conta própria” in: Revista n.º 2603/13.4T2AVR.P1.S1 - 6.ª
Secção Pinto de Almeida (Relator)
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ou por não conseguir obter crédito”, já a situação de insolvência meramente iminente pode ser
caracterizada pela “convicção de não ser possível cumprir as suas obrigações”.
O PER inicia-se desde que o devedor obtenha acordo escrito com, pelo menos, um dos seus credores,
tendo este que deter 10% dos créditos não subordinados – 17º-C/1 -, valor que, por força do artigo 17º-
C/6 pode ser reduzido aos 5% mediante requerimento fundamentado da empresa.
Na declaração escrita e assinada pelo devedor e por um dos seus credores, deve constar a comunicação
do devedor ao tribunal competente para declarar a sua insolvência que pretende dar início ao
processo, juntando ao mesmo tempo, cópia dos documentos elencados no artigo 24º, por força do
artigo 17º-C/3.
Para além disto, será necessário que a declaração seja subscrita, não há mais de 30 dias, por um CC
ou ROC – Contabilista Certificado ou Revisor Oficial de Contas – para que este ateste se efetivamente
a empresa detém ou não capacidade de recuperação – 17º-A/2. Só assim se prova que está preenchido
o requisito da “suscetibilidade de recuperação” presente no artigo 17º-A/1.
Em relação ao Tribunal, por força do artigo 7º, é competente “o tribunal da sede ou domicilio do
devedor” (nº1) ou o “lugar onde o devedor tenha o centro dos seus principais interesses” (nº2).
Embora o artigo 17º-C/3/b apenas refira a junção dos documentos elencados no artigo 24º, toma-se como
necessário a igual remissão do disposto no artigo 23º.
Cumpridos todos os requisitos de acesso ao PER, o Juiz, por despacho – 17º-C/4 – nomeia o
Administrador Judicial Provisório. A este aplicam-se as regras constantes dos artigos 32º a 34º por
remissão do artigo 17º-C/4. Este despacho é objeto da notificação ao devedor e da publicidade referidas
nos termos do artigo 37º e 38º, por força do artigo 17º-C/4.
Nota de aula: É “controverso” se o juiz tem a possibilidade, nesta fase, de indeferir liminarmente o
PER, nomeadamente por falta dos seus pressupostos legais, por exemplo, se o devedor já se encontrar
em situação de insolvência atual.
A jurisprudência tem se pronunciado contrariamente sobre esta questão:
Acórdão da Relação do Porto 15/11/2012 (Cardoso Amaral), processo 1457/12.2TJPRT-A.P1 dispõe
que “o processo especial de revitalização criado pela Lei n.º 16/2012, de 20 de Abril, o juiz, ao proferir
o despacho a que se refere a segunda parte da alínea a) do n.º 3 do art.º 17.º-C do CIRE, não tem que
verificar a existência dos requisitos materiais de que depende o recurso a tal procedimento, nem o seu
eventual abuso” in www.dgsi.pt
Vem Contrariamente o Acórdão de 14.06.2016, Processo n.º 4023/15.7T8LRA.C1 citar que:
“O tribunal deverá indeferir liminarmente o requerimento inicial do PER se o devedor não demonstrar
os necessários requisitos adjetivos (designadamente, em matéria de legitimidade) e/ou se se revelar que
se encontra numa situação de insolvência, recorrendo a tal procedimento de forma abusiva”.
Já a doutrina (p. ex. Menezes Leitão) tem “defendido que o juiz deverá fazer uma apreciação liminar,
ainda que restrita, nesta fase, apenas nomeando o administrador judicial provisório se o pedido
cumprir os requisitos legais” (p.341), sendo esse o nosso entendimento.
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credores com um prazo de 20 dias contados a partir deste momento para reclamar os seus créditos
perante o AJP. – Prazo de Reclamação.
Questão de aula: será que o direito de reclamar os créditos prescreve? A resposta é não! Os credores
não predem o direito ao seu crédito, este apenas caduca, podendo, após o fim do processo estes serem
reclamados, por exemplo no processo de insolvência. Posto isto, conclui-se que não existe, no PER, a
Verificação Ulterior de Créditos, assim como acontece no PI.
Acerca deste assunto:
Ac. TRC de 13.10.2016 –
I - A prescrição é uma causa extintiva de um direito decorrente da inércia do seu titular
durante um determinado período e existe para garantir a segurança jurídica.
II - O artigo 17º-E, nº 1 do CIRE, apesar de obstar a instauração de quaisquer ações para cobrança
de dívidas contra o devedor, viabiliza, em relação aos credores, a garantia do acesso ao direito e a
tutela jurisdicional, através dos mecanismos da impugnação e reclamação de créditos previstos nos
nºs 2 e 3 do artigo 17º-D do mesmo código.
III - Uma trabalhadora que se arroga titular de créditos emergentes do contrato de trabalho, mas que
não impugnou o seu crédito apresentado pela empregadora/devedora em processo especial de
revitalização, nem reclamou outros créditos já vencidos, neste processo, tendo tido tal possibilidade,
nem se manifestou por qualquer ato considerado meio adequado a interromper a prescrição, vindo
a intentar uma ação judicial quando já havia decorrido o prazo previsto no artigo 337º do Código do
Trabalho, manteve uma atitude de inércia que lhe é imputável e que originou a prescrição de outros
seus eventuais créditos sobre a sua empregadora.
E ainda o Ac. STJ de 22.02.2017 -
I - O prazo indicado no n.º 5 do artigo 17.º- D do CIRE é um prazo de caducidade, tendo
natureza perentória/preclusiva, sendo assim improrrogável (para além do que se mostra
estatuído nesse nº5).
II - No caso de tal prazo ter oportunamente transcorrido, não pode ser homologado o plano de
recuperação que, mediante certos votos produzidos posteriormente, tenha obtido votação
suficiente para a sua aprovação.
Após o termino deste prazo o AJP tem um prazo de 5 dias para elaborar a lista provisória de créditos.
– 17º-D/2. Deste ponto surgem duas hipóteses, ou nenhum credor reclama, tornando-se a lista definitiva
– 17º-D/4 ou os credores, num prazo de 5 dias para impugnar a lista – Prazo de impugnação – sendo
impugnada a lista é remetida para o Juiz que terá o mesmo prazo (5 dias) para decidir sobre as mesmas
– 17º-D/3.
A obrigatoriedade de informar todos os credores prende-se com a natureza do PER, a qual importa que
sejam chamados ao processo todos aqueles que detenham direitos sobre o credor.
Embora não identificado na lei, o credor deve, no seu requerimento, esclarecer todos os seus créditos,
indicando vencimento, proveniência, valor de capital e juros e, se existem garantias sobre os
mesmos. Esta presunção pode ser feita, desde logo, pelo facto de, no requerimento inicial, ser necessário
a assinatura de um dos credores não subordinados, para que o juiz possa verificar a natureza do crédito
toma-se como essencial que o credor proceda do modo que referimos.
Após o envio dos requerimentos, o AJP tem o prazo de 5 dias para elaborar a lista provisória de
créditos, devendo analisar os requerimentos e elaborar a lista de credores reconhecidos e não
reconhecidos – 129º/2 – as listas devem conter todas as informações acerca dos respetivos créditos,
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existindo também a fundamentação da sua aceitação ou não. Este facto pode ser justificado pelo próprio
prazo de impugnação da lista de créditos, que, caso não existissem as listas elaboradas como referimos
era impossível que os credores detivessem argumentos e bases para a sua impugnação.
A impugnação é dirigida ao Juiz, através de um requerimento expositivo de todas as razões de
indevida inclusão ou exclusão de créditos, assim como erros sobre os montantes ou sobre a
qualificação ou graduação dos mesmos.
As negociações
Após a lista de créditos tornar-se definitiva, detém os credores de um prazo de 2 meses para
concluir negociações. Este prazo pode ser prorrogado 1 só vez, por um prazo de 1 mês, mediante acordo
escrito entre o AJP e o devedor, devendo o mesmo ser junto aos autos e publicado no Citius – 17º-D/5.
Os credores que assim o queriam podem participar a todo o tempo nas negociações mediante o envio de
Cartas Registadas, que são juntas ao processo – 17º-D/7. As negociações são dirigidas pelo AJP - 17º-
D/9 a quem cabe fixar as regras das mesmas, caso não se obtenha um acordo entre todos os intervenientes
– 17º-D/8.
Durante todo o tempo de negociações os intervenientes devem atuar em conformidade com os princípios
constantes da Resolução 43/2011, de 25 de Outubro – artigo 17ºD-5. O devedor fica então vinculado a
deveres especiais de informação, quer perante o AJP, como para com os seus credores – 17º-D/6 -,
podendo incorrerem responsabilidade em caso de falta ou incorreção das informações - 17º-D/11.
Efeitos
Os efeitos da nomeação do AJP recaem sobre duas óticas, os efeitos sobre o Devedor em si, e os efeitos
sobre os processos que estejam a correr no momento da instauração do PER.
Efeitos sobre o Devedor
A nomeação do AJP implica a inibição do devedor para a prática de atos de especial relevo, sendo estes
definidos no artigo 161º. Esta inibição pode ser afastada por autorização prévia do AJP por força do
artigo 17º-E/2. Esta (autorização) tem de ser requerida por escrito, e terá de ser concedida da mesma
maneira, como indica o artigo 17º-D/3. Não podem decorrer mais de 5 dias entre o pedido e a reposta,
daí se justifica que, sempre que possível se recorra a comunicações eletrónicas – 17º-E/4. A falta de
resposta do AJP toma-se como recusa de autorização à realização do negócio pretendido – 17º-E/5.
O AJP é nomeado pelo Juiz ou então pode o Devedor indicar um AJP, caso se trate de um processo que
requeira especiais conhecimentos na área da Gestão. O AJP manter-se-á em funções até que a sentença
seja proferida – artigo 32º/1 e 2 - podendo continuar o seu
trabalho, caso o PER seja convertido em Insolvência, ou então, com o fim do PER cessa as suas funções.
O papel do AJP limita-se apenas a autorizar a prática de determinados atos especiais, conforme previsto
no artigo 161º, onde, de entre os quais, se destaca a alienação de imóveis. Compete-lhe também
fiscalizar, orientar e participar nas negociações, sendo o responsável pela elaboração da lista provisória
de créditos e, caso não haja acordo com vista à revitalização, emite um parecer sobre a situação do
devedor, e, caso assim entenda, pode requerer a insolvência do mesmo.
Efeitos Processuais
Um dos maiores efeitos da nomeação do AJP é que este “obsta à instauração de quaisquer ações para
cobrança de dividas contra a empresa” – 17º-E/1 – e “durante todo o tempo que durarem as negociações
(ou seja 3 meses = 2 meses com possibilidade de prorrogação por 1 mês) suspende (…) as ações em
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curso com idêntica finalidade”. Este efeito tem duração idêntica ao processo, sendo as ações extintas
com a homologação e aprovação do plano.
Da mesma forma, os processos de insolvência suspendem-se à data da publicação do despacho no Citius,
desde que ainda não tenha sido proferida a sentença declaratória de insolvência – 17º-E/6.
Para um melhor entendimento:
Hipóteses
1 Se o PER for Indeferido pelo Juiz, todos os processos seguem o seu rumo normalmente;
2 Se o PER for Diferido todos os processos suspendem-se;
3 Se já existir Sentença Homologatória de Insolvência, o requerimento do PER é
indeferido;
4 Se o PER for aprovado e homologado, todos os processos extinguem-se;
Se do PER não resultar um acordo, temos duas hipóteses:
1. Todos os processos voltam ao seu curso normal, podendo dizer-se que ficaram
suspensos;
5 2. Caso o AJP declare no seu parecer que a Empresa está numa situação de
Insolvência e se esta for declarada por sentença, todos os processos de
insolvência que estavam a correr consideram-se extintos com o trânsito em
julgado da nova sentença de insolvência.
Sobre este assunto existe Jurisprudência Obrigatória - Ac. do STJ uniformizador de jurisprudência
n.º 1/2014, de 08.05.2013:
Transitada em julgado a sentença que declara a insolvência, fica impossibilitada de alcançar o seu
efeito útil normal a ação declarativa proposta pelo credor contra o devedor, destinada a obter o
reconhecimento do crédito peticionado, pelo que cumpre decretar a extinção da instância, por
inutilidade superveniente da lide, nos termos da alínea e) do artigo 287.º do C.P.C.
Outros efeitos
Para além dos efeitos supre descritos salve mencionar:
• Todos os prazos de prescrição e caducidade ficam suspensos durante o prazo das negociações,
e só retomam o seu curso com a sentença de homologação, ou não, do plano de recuperação-
17º-E/7;
• Os serviços públicos essências – água, energia elétrica, gás natural, comunicações, correio,
gestão de resíduos sólidos e recolha e tratamento de águas residuais – não podem ser suspensos,
sendo que, no prazo de dois anos, caso não sejam objeto de pagamento, constituirão um divida
da massa insolvente, em caso de insolvência futura – 17º-E/8 e 9.
Este aspeto pode ser justificado pelo facto de, no PER, o objetivo é que a empresa seja
revitalizada, ou seja, que produza crédito suficiente para conseguir suportar ou compensar o seu
débito, para o caso, toma-se como essencial que a produção continue, logo os serviços descritos
tomam-se como essenciais para a prossecução desse mesmo fim.
O Desenvolvimento do Plano
Convertida a lista definitiva, os declarantes dispõem de dois meses para concluir as negociações. Como
também já foi estudado, durante o prazo das negociações não poderão ser instauradas ações contra o
devedor, bem como a eficácia dos demais efeitos no mesmo prazo.
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Para que a negociação seja transparente e equitativa, o devedor deve manter sempre informado tanto o
AJP e os seus Credores, sobre a evolução das negociações e da sua situação. O AJP desempenha, nesta
fase, um papel fundamental de fiscalização e orientação das negociações, como consta no artigo 17º-
D/10.
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Jurisprudência aconselhada
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As garantias convencionadas entre o devedor e os seus credores durante o PEAP, com a finalidade de
proporcionar àquele os necessários meios financeiros para o desenvolvimento da sua atividade, mantêm-
se mesmo que, findo o processo, venha a ser declarada, no prazo de dois anos, a insolvência do devedor
(art.º 222-H, n.º 1).
Os credores que, no decurso do processo, financiem a atividade do devedor tendo em vista o
cumprimento do acordo de pagamento, gozam de privilégio creditório mobiliário geral, graduado antes
do privilégio creditório mobiliário geral concedido aos trabalhadores (art.º 222-H, n.º 2).
O PEAP considera-se encerrado: (art.º 222.º-J, n.º 1)
▪ Após o trânsito em julgado da decisão de homologação do plano de pagamento;
▪ Após o cumprimento do disposto nos números 1 a 6 do artigo 222.º-G nos casos em que não
tenha sido aprovado ou homologado plano de pagamento.
O administrador judicial provisório manter-se-á em funções, sem prejuízo da sua substituição ou
remoção: (art.º 222.º-J, n.º 2)
▪ Até ser proferida decisão de homologação do plano de pagamento;
▪ Até ao encerramento do processo nos termos previstos na alínea b) do número anterior nos
demais casos.»
PER PEAP
Processo destinado a Empresas; Processo destinado a Singulares;
É necessário que a empresa seja “suscetível de Não é necessário.
recuperação”.
O credor que subscreva a declaração de inicio de Qualquer credor pode subscrever a declaração de
PER tem de ser detentor de 10% de créditos não inicio de PEAP.
subordinados.
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O Processo de Insolvência
Significado de Insolvência
A palavra insolvência provém do latim “solvo” significando desatar, livrar, pagar ou resolver.
O Direito da Insolvência é setor jurídico-normativo relativo às situações de insolvência,
correspondendo à sistematização de normas e princípios, sendo uma disciplina cientifico jurídica,
abrangendo essencialmente, a situação do devedor que se encontra impossibilitado de cumprir as
suas obrigações, mas também medidas de conservação ou liquidação do património do insolvente, ou
até da recuperação do mesmo, reconhecimento e graduação de créditos, execução de património,
liquidação do mesmo e a consequente satisfação dos direitos de credores – Artigo 1º.
Não só o CIRE – “Código de Insolvência e Recuperação de Empresas” – contém disposições relativas
ao Processo de Insolvência, também o Regulamento 1346/2000 do Conselho, com a sua recente
atualização (2014), define o âmbito de aplicação aos:
“processos coletivos em matéria de insolvência do devedor que determinem a inibição parcial ou total
desse devedor da administração ou disposição de bens e a designação de um sindico.”
Síndico é definido no mesmo regulamento como qualquer pessoa ou órgão cuja função seja a de
administrar ou liquidar os bens do devedor e, é em Portugal, definido pelo Anexo C, de mais recente
alteração 663/2014, como o Administrador de Insolvência ou o Administrador judicial Provisório.
O Direito da insolvência revela uma enorme carga jurídica sendo possível destacar enumeras vezes
que se encontram normas de insolvência em outros diplomas legais, como CT ou CP, que remetem
para o CIRE que conterá o processo por completo.
Esta forte carga processual pode ser justificada pela necessidade da tutela jurídica para com o devedor
assim como para com os seus credores. Esta tutela é assegurada pelo Tribunal.
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comercial, visto que as dividas privadas são, em principio, diminutas face às de um comerciante, ou
seja, não afetarão, diretamente, o giro comercial que se pretende proteger.
Do ponto de vista da vertente económica, a insolvência envolve conceitos de comercio como, crédito,
comercialidade ou fraude. A insolvência, devido ao seu caracter público, poderá gerar desconfiança
face em sede de agentes económicos, afetando o equilíbrio das relações económicas, levando que
diversos agentes, devido à desconfiança descrita, vejam diminuído o seu acesso ao crédito. Por esta
questão económica a insolvência tornou-se um processo de maior relevância.
Desenvolvimento e Tramites
Nos termos do artigo 1º, o Processo de Insolvência caracteriza-se por ser um Processo de Execução
de cariz Universal, tendo por finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano
de insolvência, baseado nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente
ou, quando tal não se configure possível, e no fundo sendo a regra geral, na apreensão e liquidação do
património insolvente e respetiva distribuição do produto daí resultante pelos Credores.
O Processo de Insolvência pode ser caracterizado como um Processo Misto. Por um lado, pode ser
considerado como um Processo Declarativo, uma vez que um dos seus objetivos começa por ser a
declaração de insolvência e seguinte verificação de créditos.
Por outro lado, podemos verificar que o Processo de Insolvência pode ser caracterizado, devido ao seu
principal objetivo, como Processo Executivo, visto que o seu principal objetivo se prende com a
obtenção das providencias necessárias à satisfação de um direito violado, através da apreensão e
liquidação de ativos para a satisfação de passivos.
Caracteriza-se também por ser um processo de Execução Coletiva uma vez que engloba todos os
credores do devedor, pretendendo compensá-los na proporção dos seus créditos – 176º.
Também se caracteriza também por ser uma Execução Universal, ma vez que abrange a totalidade do
património do devedor. Isto é, é passível a apreensão de todos os bens do insolvente para liquidação e
satisfação dos credores. Esta norma aplica-se apenas aos bens penhoráveis ou parcialmente
impenhoráveis – 737º CPC e 46º/2.
Podemos ainda qualificar o P.I como um Processo Especial, uma vez que está regulado autonomamente
num diploma próprio.
Por fim, o P.I é qualificado como um Processo Urgente gozando de precedência sobre o serviço
ordinário do tribunal, nos termos do artigo 9º, não se suspendendo no decorrer das férias judiciais.
O P.I caracteriza-se por ser um processo abrangido pelo movimento de Desjudicialização, correndo na
sua maioria autonomamente ao tribunal, isto é, em sede de insolvência o tribunal e o juiz apenas figuram-
se necessários aquando da sentença, e levantamento de questões processuais, tendo o Administrador
ampla abrangência no processo, tal como sucede na Ação Executiva e o AE.
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Da Insolvência em especial
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do devedor, assim como regime de bens, e proceder à junção de certidão do Registo Civil, Comercial
ou qualquer outro registo a que o devedor se encontre vinculado.
Se o próprio devedor submeter o pedido, este deve ainda indicar a situação da sua insolvência –
atual ou eminente – e anexar os documentos previstos no artigo 24º.
Sendo o pedido efetuado por um credor ou responsável legal este deverá indicar na petição a
natureza e montante do seu crédito, ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre os quais recai a
insolvência, assim como apresentar elementos do ativo e do passivo que o devedor possua – artigo 25º.
Em suma:
Citação e oposição
Da citação devem constar os elementos presentes do artigo 29º/2 sendo que se tratam especificamente
da junção de documentos presentes no artigo 24º e a fixação do prazo para o devedor apresentar a
sua oposição à execução – 10 dias – e a advertência presente no nº 5 do artigo 30º, ou seja, o Devedor
contem na sua esfera o ónus da prova, ou seja, se o devedor não apresentar a sua oposição (revelia)
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Medidas cautelares
O Juiz pode ainda ordenar a implementação de medidas cautelares com o objetivo de prevenir atos
de má-gestão que obstem ao fundamental cumprimento da insolvência e consequente agravação da
situação do devedor, como por exemplo a deturpação de bens. Uma das medidas que deve ser enunciada
com especial enfase é a nomeação de um administrador judicial provisório, com poderes para auxiliar e
administrar o património do devedor, encontrando competências expressas no disposto do artigo 33º.
A Sentença
Após todos os despachos identificados, e no caso de não existir oposição ao pedido de insolvência por
parte do devedor, cabe ao tribunal verificar se se encontram preenchidos os requisitos do artigo 20º e
proceder à respetiva Sentença de Declaração de Insolvência, presente no artigo 36º.
Dos muitos pontos e dados que a sentença deve conter, por força do artigo 36º, realça-se a nomeação
do Administrador da Insolvência, cujos efeitos iremos avaliar. Determina também a apreensão dos
bens e materiais contabilísticos do devedor, e a respetiva entrega para o A.I que fica efetivamente na
posse de fiel depositário dos mesmos. Determina também o prazo de 30 dias para a reclamação de
créditos.
Importa também realçar que a sentença e respetiva nomeação do A.I são de cariz público por força do
artigo 38º, de onde se destaca a comunicação da mesma ao Banco de Portugal, para que se proceda à
inscrição na central de riscos de crédito – proteção do giro e mercado jurídico-comercial.
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Efeitos da sentença
Os principais efeitos da declaração de insolvência encontram-se nos artigos 81º e seguintes, destacando-
se:
▪ A transferência dos poderes de administração e disposição, os quais passam de imediato para a
esfera do A.I – 81º;
▪ A obrigação de Colaboração e Apresentação, ficando o devedor obrigado a prestar todas as
informações solicitadas pelo A.I, Juiz, Comissão e Assembleia – 83º;
▪ Já os Efeitos Processuais, onde se destacam: todas as ações onde se apreciem questões sobre os
bens incluídos na massa são apensados (85º) assim como se suspendem todos os processos
executivos – 88º - e a proibição de, nos 3 meses seguintes à data da declaração de insolvência
não ser possível instaurar execuções para pagamentos de dividas compreendidas na Massa;
▪ Já os efeitos sobre os negócios em curso, caracterizam-se pela regra geral da suspensão dos
mesmo, salvo as seguintes exceções:
▪ Venda com reserva de propriedade – 104º;
▪ Venda sem entrega – 105º;
▪ Promessa de Contrato com Eficácia real – 106º;
▪ Operações a Prazo – 107º;
▪ Contrato de Locação, sendo o insolvente o Locatário – 108º;
▪ Contrato de prestação duradoura de serviços – 111º;
▪ O Contrato de Trabalho – 113º;
Em suma:
Apreciação Liminar
Declaração imediata Despacho de
Indeferimento de insolvência aperfeiçoamento Despacho de Citação
liminar apresentação
voluntária
O Juiz não cré que Trata-se, desde logo, O Juiz considera existe Quando a
existe uma situação da sentença de situação de apresentação é feita
de Insolvência declaração de insolvência, mas que por 3º, e segundo o
insolvência não estão verificados Princípio do
todos os factos Contraditório deve o
relevantes. devedor ser chamado
a defender-se
Apenas o devedor - - -
pode impugnar
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Partes no Processo
No CIRE, entre os artigos 25º e 80º, podemos encontrar a regulamentação de diversos órgãos que
constituem a insolvência. Estes órgãos podem ser classificados como obrigatórios: sendo o
administrador da insolvência e a assembleia de credores e, como órgãos eventuais: sendo a
comissão de credores. Podemos ainda classificar o Tribunal como um órgão da insolvência, deve,
porém, ter se em conta o forte processo de desjudicialização presente neste processo.
Administrador da insolvência
O Administrador da Insolvência para além de seguir as regras estipulas em seção própria do CIRE tem
também de se fazer guiar pelos seus estatutos próprios, regulados no DL nº32/2004.
O AI é nomeado pelo Juiz de entre os inscritos em lista oficial para o efeito, ou, atendendo a indicações
feitas pelo próprio devedor ou pela comissão de credores, caso esta exista.
É possível destacar que o Administrador possui essencialmente a responsabilidade de assumir o
controlo da massa insolvente e procedendo à sua administração e liquidação, repartindo pelos
credores o respetivo produto final, sob a fiscalização do juiz e da comissão de credores caso esta exista,
como ensina ML e ao respeito fundamentado com o as disposições legais 55º/1 e 58º CIRE.
O AI pode cessar as suas funções por 3 vias. Ou pelo encerramento do processo, como dispõe o
artigo 233º/1/B, pode também renunciar ao cargo, nos termos do artigo 60º/3 e, por fim, o AI pode ser
destituído do seu cargo como estipula o artigo 56º.
Assembleia de Credores
No artigo 72º e ss., podemos encontrar as disposições que regulamentam a assembleia de credores. Esta
tem como objetivo a reunião de todos os credores de forma a facilitar-se a coordenação entre estes,
podendo todos votar, com base no montante dos seus créditos, conforme estipula o artigo 73º.
A assembleia de credores é convocada pelo juiz, por iniciativa própria ou a pedido do AI, da
comissão de credores (caso exista) ou de um credor ou grupo de credores cujos créditos representem
pelo menos 1/5 do total dos créditos não subordinados.
O artigo 74º estabelece ainda que é de a responsabilidade do juiz presidir a assembleia de credores.
Importa ainda aqui diferenciar a assembleia ordinária, definida nos parágrafos anterior de assembleia
extraordinária. Sendo que a assembleia extraordinária existe exclusivamente para a aprovação do
plano de insolvência previsto no artigo 209º.
Comissão de credores
A comissão de credores é um órgão do processo que surge para representar as várias classes de credores
existentes num processo de insolvência. Porém, a sua constituição não é obrigatória. Isto é, o Juiz com
base na dimensão da massa insolvente, na simplicidade do processo de liquidação do ativo ou o
reduzido nº de credores, pode não convocar a comissão conforme estipulado no nº 1 do artigo 67º.
Nos termos do artigo 66º a assembleia de credores pode constitui a comissão de credores. Porem, se
for o juiz a nomear a comissão, esta deve ser composta por 3 ou 5 membros e 2 suplentes, sendo a
presidência delegada ao maior credor da empresa. O nº3 do respetivo artigo obriga ainda a que um
dos membros da comissão represente os trabalhadores que detenham créditos sobre a empresa.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Nesta fase do processo, ocorrem em simultâneo dois momentos importantes, a verificação dos créditos
e a liquidação do ativo.
Nesta fase, a verificação do passivo é um processo que corre por apenso ao processo de insolvência,
tendo por finalidade a verificação e graduação dos créditos sobre a insolvência. O desenrolar da
verificação do passivo ocorre faseadamente, estando regulada nos artigos 128º a 140º.
Tipos de créditos
• Créditos sobre a massa insolvente – 46º - a massa insolvente destina-se à satisfação dos
credores da insolvência, depois de pagas as próprias dividas e, salvo disposição em contrário,
abrange todo o património do insolvente à data da insolvência.
46º e 172º - Os créditos sobre a massa insolvente são pagos numa fase anterior ao pagamento
dos créditos sobre a insolvência, surgindo da própria situação de insolvência. Estes créditos,
entre outros, incluem as custas do processo de insolvência, as remunerações e despesas do
processo de insolvência, assim como as despesas com a comissão de credores, as dividas
resultantes de atos de administração, liquidação e partilha da massa, as dividas
emergentes da atuação do AI e do administrador provisório da insolvência – em suma todas
as expostas no artigo 51º.
• Créditos sobre a insolvência – 47º/1 – correspondem aos créditos que se constituíram antes
da data da declaração da insolvência, encontrando-se divididos em 4 subcategorias:
1. Créditos garantidos
2. Créditos privilegiados
3. Créditos subordinados
4. Créditos comuns
Reclamação de créditos
O artigo 128º, estipula que os credores da insolvência, nomeadamente o MP e o Requerente devem
apresentar ao AI o requerimento a solicitar a verificação seus créditos. Este processo denomina-se
reclamação, e tem por objeto todos os créditos sobre a insolvência, independentemente da sua natureza
e fundamento.
Importa salientar que, a reclamação de créditos não é um Requisito fundamental para o
reconhecimento de créditos, uma vez que o AI deve também reconhecer os créditos que constem
dos elementos da contabilidade devedor ou que conheça por outras formas, como ensina Menezes
Leitão.
No seguimento do artigo 129º o AI deve preparar e apresentar uma lista de todos os credores
reconhecidos assim como uma lista de todos os credores não reconhecidos sendo que desta última
devem constar os motivos que justificam o seu não reconhecimento. Devem também constar os
créditos reconhecidos que não forem reclamadas, nomeadamente através de pré-análise aos documentos
contabilísticos.
A mesma lista pode ser impugnada no prazo de 10 dias, sendo que após o fim deste prazo o A.I despõe
de outros 10 dias para responder às impugnações – 130º e 131º.
A Verificação Ulterior
Após o prazo de reclamação de créditos, é ainda possível que se reconheçam créditos.
O saneamento
A fase de saneamento inicia-se com a marcação do juiz de uma tentativa de conciliação. A esta
reunião devem comparecer todos aqueles que tenham apresentado impugnações e respostas, a
comissão de credores e o administrador de insolvência, tal como dispõe o artigo 136º do CIRE no
seu nº 1. Esta reunião, dá-se com o propósito de reconhecer os créditos impugnados.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
O juiz deve proferir o despacho saneador, tal como é estabelecido no artigo 136º do CIRE nos seus
números 3 e 8. O despacho saneador, deve reconhecer os créditos incluídos na respetiva lista e não
impugnados, os créditos que, embora impugnados, tenham sido aprovados na tentativa de
conciliação, assim como os demais créditos que possam ser reconhecidos face a outros elementos
Liquidação
Ocorre por apenso ao Processo de Insolvência e, encontra-se regulados entre os artigos 156º e 171º do
CIRE. Este procedimento é da responsabilidade do administrador de insolvência, destinando-se à
satisfação dos credores do devedor, através da conversão da massa insolvente numa quantia
pecuniária, como explicito no artigo 55º.
O início da venda dos bens do devedor dá-se, após a verificação dos seguintes requisitos:
Pagamento
Encontra-se regulada entre os artigos 172º e 184º do CIRE e, segundo as suas regras, o administrador
de insolvência deve, descontar da massa insolvente os bens ou direitos necessários à satisfação das
dividas da massa, atuais ou que previsivelmente se constituirão até ao encerramento do processo, sendo
que o pagamento destas dividas acontece nas datas do seu respetivo vencimento.
A satisfação das dívidas dos credores da insolvência, deve ainda respeitar as regras estabelecidas no
artigo 173º do CIRE onde, apenas os créditos verificados por sentença de verificação e graduação de
créditos transitada em julgado podem ser pagos. Ainda no que diz respeito a este tópico, o pagamento
dos créditos sobre a insolvência deve ocorrer sobre a seguinte ordem:
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Nos termos do nº1 do artigo 183º do CIRE, a liquidação de créditos reconhecidos não necessita de
requerimento.
É ainda importante salientar que o credor que não solicite, no prazo de um ano a partir da data em que
foi notificado, o cheque que saldará o direito que detém, vê o seu crédito prescrever e o montante
a reverter para o Cofre Geral dos Tribunais. Caso haja, no fim do processo, valores excedentes,
estabelece o artigo 184º do CIRE que estes devem ser entregues ao devedor pelo administrador de
insolvência.
O encerramento da instância
Seus artigos 230º e 234º, o encerramento do processo de insolvência, surgindo este após a sentença
declarativa de insolvência. Nos termos do nº1 do artigo 230º do CIRE, este momento surge quando o
juiz assim o declara nas seguintes circunstâncias para o devedor singular:
Caso Pratico I
Manuel, que presta serviços informáticos, emitiu a fatura nº 540/2018, por conta da reparação do
computador de João. Contudo, João não procedeu ao pagamento da fatura devida. Manuel, está muito
chateado e quer pedir a insolvência de João.
Resolução: Segundo os dados apresentados no caso concreto, o pedido de insolvência deve ser feito
pelo próprio, com um prazo de 30 dias a contar do conhecimento da sua situação de insolvência.
Também, por força do artigo 20º demais entes têm legitimidade para requer a insolvência, para tal efeito,
é necessário que estejam verificados os pressupostos do artigo 20º, que, aplicado ao caso concreto, não
se encontram preenchidos os requisitos do suprarreferido artigo, nomeadamente por não se verificar
uma suspensão generalizada do cumprimento das obrigações vencidas, nem por o incumprimento da
obrigação referida significar a impossibilidade de João fazer face à generalidade das suas obrigações.
Mais se adianta que, por força do artigo 3º para se considerar uma situação de insolvência é necessário
que o devedor se encontre impossibilidade de fazer face às suas obrigações.
Por fim, aconselharia Manuel a recorrer a outras vias de recuperação do seu crédito, visto que,
apresentando um pedido de declaração de insolvência relativo a João, seria este, em principio e face aos
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
dados apresentados, indeferido, podendo incorrer em responsabilidade civil, por via de uma dedução
infundada de pedido de declaração de insolvência presente no artigo 22º.
Caso prático II
Hélder tem vários salários em atraso. Conta-lhe que ouviu dizer que os restantes trabalhadores se
encontram na mesma situação e depois de se deslocar à Segurança Social ficou a saber que Daniel, dono
da fábrica de sapatos onde trabalha, também não procedeu à contribuição da Segurança Social
obrigatória relativamente a si nos últimos 8 meses.
Ficou também a saber que Daniel tem uma namorada, também funcionária da fábrica, que tem contando
às amigas que tem ganho muitas prendas do namorado.
Resolução: Por força do artigo 18º/1 e 3 aquando o devedor seja uma empresa, definida pelo artigo 5º,
deve apresentar-se à insolvência aquando, pela duração mínima de 3 meses ocorra nalgum dos requisitos
do artigo 20º alínea g), tornando-se assim Inilidível a presunção da mesma.
Posto isto, Hélder é credor de Daniel tendo, por isso, legitimidade nos termos do artigo 20º/1 para
declarar Daniel à insolvência. Mais se adianta que, a fundamentação legal, da suscetibilidade de Hélder
declarar Daniel à Insolvência, encontra-se no artigo 20º/1 alínea g), por Daniel incumprir em divididas
de contribuição para a segurança social (ii) e em dividas emergentes de contrato de trabalho (iii).
Para tal efeito Hélder deve formular o seu pedido de forma escrita, onde identifique, nomeadamente: i)
os administradores de direito e facto; ii) a natureza e montante do seu crédito; iii) indicar os 5 maiores
credores de Daniel, excluindo-se; iv) oferecer todos os meios de prova de que disponha.
A segunda parte do caso concreto será importante pois trata-se de uma dissipação patrimonial, sendo
um fundamento necessário à situação de insolvência – artigo 20º/1/d. – bem como, poderá servir de
fundamento à instauração de medidas cautelares – por força do artigo 31º - bem como, poderão esses
atos de dissipação patrimonial ser resolvidos por força das regras contidas nos artigos 120º e 121º.
Joana é gerente e administradora da Sociedade RP – Relações Publicas, Lda. Estes têm tido alguns
problemas de caixa e têm falhado algumas das suas obrigações. Contudo, Joana tem ideia que conseguirá
fechar um contrato no final do ano para ficarem responsáveis pela imagem da discoteca ABC. Ela está
muito entusiasmada e com fé que vai conseguir fazer face às obrigações da sociedade. Na sua vida
pessoal, pelo contrário, Joana encontra-se numa situação cada vez mais difícil. Tem tido muitos
problemas com o seu filho e tem pago várias dividas de jogo deste.
Resolução: O caso apresentado deve ser avaliado de duas vertentes.
Numa vertente empresarial, ou seja, Joana enquanto gerente da RP, Joana encontra-se numa situação de
Insolvência Meramente Iminente, pois, segundo os factos apresentados, ainda não se encontra uma
situação de incumprimento generalizado. Devido a esse facto abrem-se duas possibilidades, a primeira
será recorrer ao Processo de Insolvência, facto que se desaconselha, devido ao impacto jurídico-
económico que este processo pode ter. Posto isto, aconselharia Joana a, antes, recorrer a um PER.
Numa vertente Pessoal, e devido à má situação de Joana, aconselharia a duas hipóteses, ou a proceder a
um PEAP, ou a um Processo de Insolvência, sendo que neste ultimo, seria indispensável que, juntamente
com a PI se efetuasse o pedido de Exoneração do Passivo Restante.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Caso Prático IV
Em janeiro de 2015, foi constituída a sociedade comercial “ABCDE, Lda.”. O capital social é de
50.000,00€, constituído por 5 quotas de 10.000,00€. “B” é o gerente da sociedade. O último balanço
aprovado é respeitante a 2017 e apresenta um passivo acumulado de 200.000,00€. Em fevereiro de 2018
a sociedade suspendeu o cumprimento de todas as obrigações vencidas, designadamente a fornecedores
e trabalhadores.
a) Pode considerar-se “ABCDE, Lda.”, em situação de insolvência?
b) Se a sociedade estiver em situação de insolvência, quais os deveres de administração da
sociedade? Que consequências existem se falharem com estes deveres?
c) Poderá um fornecedor solicitar a insolvência da sociedade, apesar de não ter qualquer valor em
divida, mas porque se encontra com receio de que a sociedade não possa cumprir com a próxima
fatura que irá ser emitida (próxima semana)?
d) Se a sociedade vier a ser declarada insolvente, quais as consequências face aos processos de
execução que já se encontram em curso? E aos novos?
e) A “ABCDE, Lda.” Poderia ter lançado mão de algum meio preventivo da sua declaração de
insolvência?
f) Imagine que:
a. A “ABCDE, Lda.”, vem a ser declarada insolvente em 01.08.2018;
b. Em 01.01.2018 o sócio “A” fez um empréstimo de 100.000,00€ à sociedade;
c. Um dos estabelecimentos de que a sociedade era titular foi trespassado, por valor
inferior a 50% ao valor de mercado, no dia 01.04.2018, a um dos fornecedores da
sociedade, credor desta por 100.000,00€;
d. Em 15.06.2018 a sociedade prometeu vender o único imóvel de que era proprietária por
um preço superior, em cerca de 15%, ao valor de mercado, a um estranho que, a título
de sinal, entregou 30% do preço.
e. Ana tem um “voucher” no valor de 100,00€ de serviços da sociedade, que lhe foi
oferecido pelo seu irmão em virtude do seu aniversário e que ainda está no período de
validade. Com a declaração da insolvência, Ana perde o direito ao mesmo? O que
deverá fazer?
Resolução:
a) Sim. por força do artigo 3º, números 1 e 2, a sociedade pode considerar-se em situação de
insolvência. Complementa-se esta afirmação com o disposto no artigo 18º/1 e 3, que nos remete
para a alínea g) do artigo 20º, que nos indica que caso a sociedade tenha o incumprimento
generalizado, por 3 meses, de dividas emergentes do Contrato de Trabalho, torna-se inilidível a
presunção do conhecimento da situação de insolvência.
b) Por via da situação decorrente na sociedade, esta fica obrigada ao dever de apresentação à
insolvência presente no artigo 18º, tendo um prazo de 1 mês após o conhecimento da sua
situação para o fazer. Mais se acrescenta que, como já referido, segundo a alínea g) do artigo
20º, que nos indica que caso a sociedade tenha o incumprimento generalizado, por 3 meses, de
dividas emergentes do Contrato de Trabalho, torna-se inilidível a presunção do conhecimento
da situação de insolvência.
Por fim, o não cumprimento deste dever não preclude o direito de se apresentar à insolvência,
podendo, como consequência da falta ou atraso na apresentação à insolvência, acarretar que, no
âmbito do incidente de qualificação da insolvência – 185º - a mesma seja considerada culposa,
sendo presumida a existência de culpa grave quanto à não apresentação, mais especificamente
por força do artigo 186º/3/a)
c) Não. Este sujeito não tem legitimidade para apresentar a empresa à insolvência pois na verdade,
ele ainda nem sequer é credor, pois, segundo o artigo 20º/1/b, somente quando preclude o prazo
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
do cumprimento daquela obrigação referida, é que o sujeito se pode considerar credor, cabendo
no âmbito do artigo 20º.
d) Na possibilidade de a empresa vir a ser declarada insolvente, todos os processos executivos que
afetem ou venham a afetar os bens constituintes da massa da insolvência são suspensos, por
força dos artigos 85º e 88º. Relativamente a novas ações, a sentença de declaração de insolvência
– artigo 36º - obsta a que estas sejam instauradas. Por fim, por força tanto do artigo 88º/1 (parte
final) e 36º/1/g, todos os bens que tenham sido penhorados em virtude desses mesmos processos
devem ser restituídos à massa insolvente.
e) Caso a empresa cumprisse os requisitos do PER, dos quais se destaca a suscetibilidade de
recuperação, esta poderia ter recorrido ao PER, de modo a que se estabelecessem negociações
com os respetivos credores de modo a melhorar a situação económica da mesma. Facto que não
obsta a que, no final do PER sem entendimento, ou no caso do AJP concluir que a empresa já
não era suscetível de recuperação que o PER fosse convertido em Processo de Insolvência -17º-
G/3.
f)
2- “A” deve, no prazo indicado na sentença (128/1), sendo este no máximo até 30 dias (36º/1/j),
reclamar o seu crédito, devendo fazê-lo junto ao AI por E-mail ou Carta Registada com Aviso
de Receção. Após este termo, o AI terá 15 dias para elaborar a Lista de créditos reconhecidos,
bem como a Lista de Créditos não reconhecidos, nos termos do artigo 129º, sendo esta
acompanhada da devida fundamentação do AI. Após este prazo os credores têm um prazo de 10
dias para impugnar as listas por requerimento endereçado ao juiz, sendo que o AI justificará a
sua escolha – 130º e 131º. Importa adiantar que, segundo os termos do artigo 47º e 48º, este
crédito será um “Crédito subordinado” por preencher a alínea f) do referido artigo. Sendo que,
segundo as regras do capítulo VII o pagamento destes créditos é o último a ocorrer – 177º.
3- Por força do artigo 121º/1/h este ato é resolvível incondicionalmente, ou seja, não será
necessário constituir prova da Má-fé do 3º. Posto isto, o negócio descrito será resolvido,
voltando os bens a integrar a massa.
4- Por força do artigo 106º este contrato não poderá ser resolvido. Mais se acrescenta que o mesmo
não faria sentido, pois ao contrário do que se passava com o problema anteriormente descrito,
este negócio, segundo os dados apresentados, é um ponto benéfico à recuperação da empresa,
nunca esquecendo que o principal objetivo do PI é a melhoria da condição empresarial, fazendo
com que a mesma continue no giro comercial.
5- Ana é credora, posto isto deve, assim como já referido para o sócio “A” reclamar o seu crédito.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Tramitação Processual
As pessoas ou entidades que não tiverem possibilidade de aceder ao sistema CITIUS podem proceder à
entrega do ficheiro informático do requerimento de injunção na secretária judicial competente, valendo
como data da prática do ato processual a da respetiva entrega – 16º/3 Portaria 220ª/2008, 43).
Consideram-se secretarias judicias competentes: à escolha do credor, a secretária do tribunal do lugar
do cumprimento das obrigações ou a secretária do tribunal do domicilio do devedor. Advogados e
Solicitadores devem entregar o requerimento via CITIUS.
O requerimento de injunção é apresentado, num único exemplar, na secretaria judicial. O modelo de
injunção é aprovado por portaria do Ministro da Justiça – Portaria nº 808/2005, de 09.09.2005.
“O procedimento de injunção tem algumas características que traduzem esse caráter expedito e
flexível. Desde logo, prevê-se que existam apenas duas peças processuais: a petição inicial e a
contestação. Por outro lado, o material probatório é necessariamente exibido na audiência de
julgamento, podendo apenas ser apresentados três a cinco depoimentos independentemente do valor da
ação, que como já vimos, não pode exceder os 15.000,00 Euros.
Sempre que, no procedimento de injunção, a testemunha souber de algum acontecimento por causa das
tarefas que realiza (cargo, trabalho, profissão) prevê-se que o respetivo depoimento possa
4
In: https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/procedimento-de-injuncao visitado em: 05/11/2019
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
ser deduzido por escrito. Se for necessário recorrer a prova pericial recorrer-se-á a um só
especialista.”
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Da notificação
Após a receção do requerimento, o secretário do BNI tem que dar uma ordem eletrónica para que seja
efetuada a notificação do devedor. As notificações seguem eletronicamente para os CTT, sendo por estes
impressas e envelopadas, sendo o controlo dos prazos feito eletronicamente, a partir da informação
enviada pelos CTT. Aa notificação conterá a informação de o requerido, no prazo de 15 dias, pagar –
Capital + Taxa de Justiça – ou para deduzir oposição.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Audiência de Julgamento
“A audiência de julgamento tem lugar em trinta dias. Após a observação do conteúdo probatório, os
Advogados estão autorizados a fazer uma exposição verbal sumária. No final do procedimento de
injunção, é decretada a sentença, a qual será aposta em ata, e que deve ser resumidamente
fundamentada.”
“Hoje, o período médio de duração e decisão de um processo de injunção é inferior a três meses. De
facto, atualmente cerca de 80% das injunções findam num contexto extrajudicial, sem necessidade de
intervenção do Tribunal, obtendo o requerente logo, a partir dessa altura, um título executivo.”
Sumário Jurisprudência
O acórdão 99/2019 resume bem este procedimento:
“A consagração do procedimento de injunção, pelo Decreto-Lei n.º 404/93, de 10 de dezembro, fez
parte dum movimento de desburocratização e simplificação de atos processuais, com o objetivo
de obter maior celeridade e eficácia na resposta da justiça à multiplicação de litígios, que
constituía - e ainda constitui - uma das principais causas de congestionamentos no sistema de
justiça.
Pesem embora as inegáveis virtualidades do regime, nos primeiros anos da sua vigência o instituto não
mereceu a aceitação esperada, constatando-se que o recurso ao procedimento de injunção não
acompanhava o aumento exponencial que registavam as ações de reconhecimento e cobrança de dívidas,
intentadas sobretudo por grandes empresas comerciais, com padrões de contratualização abrangendo
múltiplos consumidores.
Foi com vista a incentivar o recurso ao procedimento de injunção, que foi publicado o Decreto-Lei n.º
269/98, de 1 de setembro, que introduziu alterações substanciais ao regime, revogando aquele
5
In: https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/procedimento-de-injuncao visitado em: 05/11/2019
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Só no último caso, quando «depois de notificado, o requerido não deduzir oposição», o credor
conseguirá obter o título executivo, cuja formação célere e simplificada constitui a finalidade última
do procedimento de injunção.
Uma análise simplista podia levar a pensar que o que é fulcral para a obtenção do título de forma célere
e simplificada é o silêncio do devedor. Porém, a legitimidade para extrair efeito jurídico deste silêncio
assenta na presunção de que ele traduz uma aceitação - ou, pelo menos, o reconhecimento tácito - da
ausência de litígio. Na expressão de Salvador da Costa (in A Injunção e as Conexas Ação e Execução,
6ª edição Atualizada e Ampliada, Coimbra, Almedina, 2008, p. 232), «A falta de oposição do
requerido releva como razão indireta de certeza, em termos de se extrair de um elemento negativo
de ordem formal um conteúdo material positivo envolvido pela aposição da fórmula executória».
Nesta medida, ele só poderá relevar, para o efeito de legitimar a formação de um título executivo contra
o devedor, naquelas situações em que houver certeza de que este ficou ciente do teor do requerimento
de injunção e das cominações associadas à sua eventual falta de reação. Donde, a notificação do
requerimento de injunção é tão (ou mais) fulcral para a formação do título do que aquele silêncio.
É aliás por isso que no caso de frustração da notificação do requerimento de injunção, a lei diz que o
processo passará a seguir os termos da ação declarativa especial para cumprimento de obrigações
pecuniárias emergentes de contratos, que configura um processo declarativo que terminará com a
decisão de manter a ordem de pagamento ou de a declarar sem efeito, em conformidade com as provas
produzidas e os debates havidos (artigos 16.º e 17.º do diploma que contém o Regime Anexo). Note-se
que este procedimento, apesar de simplificado e mais célere, além de decorrer em contraditório, é
conduzido pelo juiz.
Importa centrar a nossa análise na modalidade específica de notificação prevista para os casos em que
não existe domicílio convencionado entre as partes do contrato, constante do artigo 12.º do Regime
anexo.
[…]
Como acima referimos, o preceito contém um conjunto de normativos que funcionam numa lógica
sequencial. Em primeiro lugar a notificação é feita por carta registada com aviso de receção, aplicando-
se-lhe, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 231.º e 232.º, nos n.os 2 a 5 do artigo 236.º e
no artigo 237.º do Código de Processo Civil, a que correspondem, na versão atualmente em vigor, os
artigos 223.º, 224.º e 228.º (cfr. n.ºs 1 e 2 do artigo 12.º do Regime Anexo).
Frustrando-se esta via, há que atender ao disposto nos n.ºs 3 e 5 do artigo 12.º do Regime Anexo, normas
que o tribunal a quo recusou aplicar com fundamento em inconstitucionalidade.
Caberá, em primeiro lugar, à secretaria judicial, obter, oficiosamente, informação sobre a residência ou
local de trabalho (ou da sede ou local onde funciona a administração, no caso de pessoa coletiva), nas
bases de dados dos serviços de identificação civil, da segurança social, da Direção-Geral dos Impostos
e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP (IMT). Obtida tal informação, a notificação será
enviada para esse local, por via postal simples, caso coincida com o local para o qual se endereçou a
notificação por via postal registada, ou para cada um dos locais apurados nas bases, se a informação
obtida não coincidir com aquele primeiro local.
A notificação considera-se feita com o simples depósito da carta, atestado pelo distribuidor do serviço
postal, que certificará também a data e o local exato em que efetuou o depósito, na caixa do correio do
local (ou locais) obtido pela informação colhida nas bases de dados.
A partir deste depósito começa a correr o prazo para oposição.
São estas as normas a que obedeceu a notificação do requerimento de injunção posta em crise na
oposição à execução mediante embargos, em causa nos autos. [...]».
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Injunção Europeia
Regulamento sobre o Procedimento Europeu de Injunção de Pagamento – Regulamento (CE) n.º
1896/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2006.
▪ Casos transfronteiriços de créditos pecuniários não contestados
▪ Livre circulação das injunções de pagamento europeias em todos os EM, através do
estabelecimento de normas mínimas
▪ Aplicação à matéria civil e comercial
▪ “Casos transfronteiriços” – art.º 3.º
▪ Art.º 12.º: Na injunção de pagamento europeia, o requerido é avisado de que pode optar
entre:
▪ Pagar ao requerente o montante indicado na injunção; ou
▪ Deduzir oposição à injunção de pagamento mediante a apresentação de uma
declaração de oposição, que deve ser enviada ao tribunal de origem no prazo de 30
dias a contar da citação ou notificação da injunção.
Artigo 17.º: Se for apresentada declaração de oposição no prazo previsto no número 2 do artigo 16.º, a
ação prossegue nos tribunais competentes do Estado-Membro de origem, de acordo com as normas do
processo civil comum, a menos que o requerente tenha expressamente solicitado que, nesse caso, se
ponha termo ao processo.
Regime decisivo para determinar a ratio do Regulamento é o Artigo 19.º (Abolição do exequatur):
A injunção de pagamento europeia que tenha adquirido força executiva no Estado-Membro de
origem é reconhecida e executada nos outros Estados-Membros sem que seja necessária uma
declaração de executoriedade e sem que seja possível contestar o seu reconhecimento.
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A Ação Executiva
A noção de Ação Executiva encontra-se presente no artigo 10º/4 CPC e tem por “finalidade a reparação
efetiva de um direito violado, não se trata de declarar a existência ou inexistência de um direito, mas
sim de providenciar pela realização coativa de uma prestação devida”.
No fundo, são aquelas em que o exequente (credor) requer as providencias necessárias e adequadas
à reparação efetiva de um direito violado. Até no CC é feita uma previa definição de execução no
ponto em que o artigo 817º CC cita:
Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de exigir judicialmente o
seu cumprimento e de executar o património do devedor, nos termos declarados neste código e
nas leis de processo.
O sistema português ou acolhido pela lei portuguesa, quanto à execução comum poderia, como certa
doutrina intitula como uma sistema de execução singular, por a ação ter como partes as mesmas que
estiverem presentes no titulo executivo como credor e devedor, sendo simultaneamente apreendidos
apenas os bens necessários à satisfação do o interesse do credor assim como custas processuais relativas
ao processo, existem, porem, em sede de execução comum, alguns credores chamados à execução para
procederem à reclamação dos deus créditos, como por exemplo os credores detentores de direitos reais
ou os credores públicos, sendo o Fisco e o Social, podendo intitular-se assim como Sistema Misto.
O Agente de Execução
O papel fundamental do processo de execução está a cargo do AE, um profissional liberal que
desempenha um conjunto de tarefas, exercidas em nome do tribunal, sem prejuízo da possibilidade de
reclamação para o juiz de atos ou omissões por ele praticados.
Tal como o hussier francês, o AE é um misto de profissional liberal e de funcionário publico, cujo
estatuto de auxiliar da justiça implica a detenção de poderes de autoridade no processo executivo. A sua
existência implica a sua larga desjudicialização, entendida como a menor intervenção do juiz nos atos
6
Nota de Aula: um dos motivos que levou à criação deste procedimento foi o facto de os tribunais se encontrarem
congestionados de processos executivos cujos exequentes sabiam deste logo que não iam recuperar o seu crédito
mas necessitavam de uma certidão de incobrabilidade para que lhes fosse devolvido o montante pago de IVA
inerente àquela dívida.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
processuais, e também a diminuição de atos praticados pela secretária. Não impede, porém, a
responsabilidade do Estado pelos atos ilícitos que o AE pratique no exercício da função nos termos
gerais da responsabilidade do estado, pelos atos ou omissões dos seus funcionários e agentes, decorrente
da Lei 67/2007 de 31 de dezembro.
Tramitação
Requisitos – Artigo 3º
O requerente tem de estar munido de Título Executivo que reúna as condições para aplicação da
forma sumária do processo comum de execução para pagamento de quantia certa – 550º/2 CPC. E que
a dívida seja certa, liquida e exigível. Tem ainda o requerente que indicar o seu NIF/NIPC em Portugal
assim como do requerido.
7
Vide “acertamento” – sebentas de Processo Executivo. Em suma o acertamento – tornar-se certo o direito é, em
sede processual declarativa o ponto final da ação, enquanto que, na Ação Executiva e PEPEX é apenas o ponto de
partida.
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Vem o artigo 703º “enumerar taxativamente”, enumerar taxativamente deverá ser entendido como “só são aceites
e veros Títulos Executivos aqueles aos quais a lei dotar de especial força executória, enumerar taxativamente não
deve ser considerado como “numerus clausus” pois existem outros artigos que enumeram títulos executivos como
o caso da nota discriminativa de honorários do AE acompanhada de notificação, ou até, existem títulos executivos
em outros documentos legais, como, exemplificando, o artigo 2º do DL nº269/98 DE 1 DE SETEMBRO
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
alem daqueles que se encontrem expressamente previstos em lei, e os quais cumpram os requisitos
por ela estipulados.
Para mais, e antes de detalhar os vários tipos de Título executivo, cumpre mencionar que existem títulos
executivos judiciais ou extrajudiciais. Os judiciais são aqueles que consubstanciam uma decisão
judicial que impõe a alguém uma prestação, e da qual a espécie mais importante será a sentença
condenatória. Também se incluem neste tipo os títulos de formação judicial que são, não decisões
proferidas pelo juiz, mas sim documentos ao qual o mesmo confere força executiva.
Já os títulos extrajudiciais são todos os outros que não são emanados por nenhum órgão
jurisdicional.
Dir-se-á que a obrigação é incerta quando não se encontra qualitativamente determinada sendo
necessário tornar certa a prestação identificando com rigor o objeto em que consiste. A incerteza da
obrigação pode verificar-se tanto quanto ao seu objeto, como acontece nas obrigações alternativas ou
genéricas, estes tipos de Títulos Executivos nunca podem ser fundamento ao PEPEX pois seguem
a forma Ordinária.
A obrigação é exigível quando se encontre vencida. Por fim, são ilíquidas as obrigações que tem por
objeto uma prestação que não esteja quantitativamente determinada, ou, por outras palavras, que
o seu valor ainda não está, ou ainda não pode ser, determinado.
Distribuição – Artigo 6º
Após a entrega irá ser atribuído ao interveniente um número provisório no SISAAE e gerar-se-á um
indentificador único de pagamento – IUP – referente aos valores devidos pelo inicio do procedimento.
O pagamento deste deve ser efetuado até ao 5º dia útil seguinte ao da disponibilização do IUP, sob pena
de o requerimento ficar automaticamente sem efeito.
Efetuado o pagamento, o requerimento considera-se entregue e é automaticamente distribuído a um dos
agentes de execução que conste da lista dos agentes de execução que participam no PEPEX, através do
SISAAE, sendo disponibilizados ao requerente os elementos de identificação e o contacto do agente de
execução designado.
O requerente pode substituir o AE originalmente designado decorridos que sejam 15 dias após o termo
do prazo de que este dispõe para a prática dos atos. Sendo requerida a substituição é designado
automaticamente novo AE, sendo esta uma das diferenças entre o PEPEX e o Processo Executivo, o
requerente não pode escolher/designar AE.
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A Oposição
Esta é apresentada preferencialmente via CITIUS, sendo tramitada como “processo especial de oposição
a PEPEX”, os fundamentos admitidos são os da oposição à execução previsto no CPC de acordo com o
titulo executivo em causa – 729º a 731º e 857º CPC.
O regime processual é o da oposição à execução previsto no CPC e no RCP com especialidade – taxa
de justiça de 1.5 a 3 UC consoante o valor do procedimento seja até à alçada do TR ou superior. O não
pagamento da Taxa de Justiça, ou a não apresentação do comprovativo do pedido de Apoio Judiciário
são motivo de recusa da Oposição.
O requerente pode responder à oposição através da contestação. Caso apresentada ela obsta à
apresentação de uma ação executiva, e caso seja apresentada o AE extingue esse processo, se a oposição
for julgada procedente. Informa-se também que apenas é necessária a constituição de advogado nas
Oposições de valor superior à alçada do Tribunal de 1ª Instância – 5.000,00€.
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Sumário de Prazos
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Introdução
O Contrato de Locação
O contrato de locação trata-se de uma figura remota, já conhecida no Direito Romano como o: Locatio
Conductio Rei”, sendo definido no artigo 1022º CC como: o contrato pelo qua uma das partes se obriga
a proporcionar a outra o gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição”.
Desta definição é possível empreender as seguintes características: é um contrato de prestação
especifica: a prestação de gozo; tem um carácter transitório (em regra) – é feita por um período de tempo;
desempenha uma importante função económica; e importa realçar que nem sempre a locação deriva de
uma relação contratual, podendo derivar, por exemplo, de uma decisão judicial, como por exemplo o
arrendamento da casa morada de família em sede de rutura conjugal coligada com a falta de meios
económicos de um dos (ex)cônjuges.
O Tempo de Pagamento – a renda nunca constitui uma obrigação pura – 777º/1 CC uma vez que sendo
uma obrigação periódica haver-se-á de estipular o momento do seu vencimento, podendo socorrer-se do
disposto no artigo 1075º/2 e 1039º/1 CC, sendo que deve realçar-se o artigo 1076º visto que a
antecipação de rendas (vulgo caução) não pode ser superior a 3 meses.
Consequências da Mora – o artigo 1041º estabelece um regime especifico para a mora do
locatário/arrendatário, prevendo que o locador/senhorio tem o direito de exigir para além das rendas em
atraso uma indeminização de 20% do que for devido, salvo se o contrato for resolvido, aspeto que o
legislador concluir suportar a mora. Também a lei, no nº 2 do suprarreferido artigo estabelece que existe
uma “tolerância” de 8 dias. Nada impede a que as partes estipulem uma cláusula penal moratória para
cobrir o atraso, mesmo no caso em que haja a resolução do contrato.
Para além disto existem as Garantias do Contrato, sendo que a mais comum, segundo Menezes Leitão,
é a fiança com a renuncia do fiador do beneficio da excussão prévia, importa referir que, o artigo 655º
CC indicava que o fiador era apenas responsável pelo período inicial do contrato, acontece que o artigo
2º do NRAU revogou este mesmo, sendo a regra geral a de que a fiança mantém-se durante todo o
período de vigência do arrendamento, como ensina Menezes Leitão.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
▪ Revogação – situação em que as partes põem fim ao contrato celebrando um distrate – contrato
extintivo – o que é admissível, nos termos gerais por mútuo consentimento.
No caso especifico do arrendamento urbano “as partes podem a todo o tempo, revogar o
contrato, mediante acordo a tanto dirigido” – 1082º/1 – “estando sujeito a forma escrita –
1082º/2.
▪ Resolução –
Pelo Locador – pode resolver o contrato com fundamento no incumprimento das
obrigações do locatário – 801º CC – devido a este ser um contrato sinalagmático –
sinalagma funcional – tendo, no caso do arrendamento urbano, a resolução ter por base
um dos fundamentos elencados no artigo 1083º CC.
Pelo Locatário – pode resolver segundo as razões do artigo 1050º obedecendo aos
formalismos do artigo 9º NRAU.
▪ Caducidade – 1051º CC
▪ Denúncia – especifico para contrato por tempo indeterminado – 1099º CC – e pelas razões
estipuladas nos artigos 1100º - denúncia pelo arrendatário – e 1101 – denúncia pelo senhorio.
▪ Oposição à renovação – especifico para contrato com termo – 1095º CC – sendo que nos
termos do artigo 1054º e 1096º CC o contrato renova-se salvo estipulação em contrário ou
oposição de uma das partes. A Oposição segue os prazos previstos nos artigos 1097º e 1098º
CC.
Do PED em Especial
O procedimento especial de despejo – artigos 15º a 15º-S do NRAU – passa a constituir o meio
processual mais expedito para efetivar a cessação do contrato de arrendamento, independentemente
do fim a que se destina quando arrendatário não desocupe o locado na data prevista em lei ou em data
prevista fixada na convenção entre as partes – 15º/1.
Em cada PED só pode ser requerida a desocupação de um imóvel, salvo se se encontrarem no mesmo
conselho e se existir uma dependência funcional entre eles.
Os títulos para a interposição do procedimento especial de despejo variam consoante as diversas causas
de despejo, a saber: Art.º 15.º/2
▪ Em caso de revogação, o contrato de arrendamento, acompanhado de acordo previsto no
n.º 2 do art.º 1082.º do CC;
▪ Em caso de caducidade do contrato de arrendamento pelo decurso do prazo, não sendo
este razoável, o contrato escrito donde conste a fixação desse prazo;
▪ Em caso de cessação por oposição à renovação, o contrato de arrendamento acompanhado
do comprovativo de comunicação pelo senhorio, prevista no art.º 1097.º, n.º 1 do CC,
acompanhado do comprovativo de comunicação pelo arrendatário, prevista no art.º 1098.º,
n.º 1 do CC;
▪ Em caso de denúncia por comunicação pelo senhorio, o contrato de arrendamento,
acompanhado do comprovativo da comunicação prevista no art.º 1101.º, al. c) ou art.º
1103.º, n.º 1 do CC ou da comunicação a que se refere a al. a), do n.º 5 do art.º 33.º da
RNRAU. Para estes efeitos, o comprovativo da comunicação prevista no art.º 1103.º, n.º 1
CC é acompanhado dos documentos referidos nos n.º 2 e 3 do mesmo artigo ou, sendo caso
disso, de cópia da certidão a que se refere o n.º 7 do art.º 8.º do DL 157/2006 de 8 de agosto,
que aprova o regime jurídico das obras em prédios arrendados.
▪ Em caso de resolução por comunicação, o contrato de arrendamento, acompanhado da
comunicação do senhorio, prevista no n.º 2 do art.º 1084.º do CC, bem como, quando
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
O BNA expede imediatamente notificação para o requerido, por carta registada com AR, para em
15 dias: art.º 15.ºD/1/al. a e b NRAU
▪ Desocupar o locado + pagar a quantia pedida acrescida da taxa de justiça;
▪ Deduzir oposição à pretensão
As comunicações e notificações no âmbito do procedimento especial de despejo encontram-se
regulamentadas nos artigos 15.º e 16.º Portaria n.º 9/2013, de 10 de Janeiro
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
O BNA converte o requerimento de despejo em título para desocupação do locado se - Art.º 15.ºE/1
NRAU:
▪ Depois de notificado, o requerido não deduzir oposição no respetivo prazo;
▪ A oposição se tiver por não deduzida;
▪ Na pendência do procedimento especial de despejo, o requerido não proceder ao pagamento ou
depósito das rendas que se forem vencendo.
O requerido pode opor-se à pretensão no prazo de 15 dias a contar da sua notificação; art.º 15.ºF/1
NRAU
▪ A oposição não carece de forma articulada; art.º 15.ºF/2 NRAU
▪ É obrigatória a constituição de advogado para a dedução de oposição ao requerimento de
despejo, devendo igualmente as partes representar-se por advogado nos atos subsequentes à
distribuição. art.º 15.ºS, n.º 3 e 4 NRAU.
O procedimento especial de despejo extingue-se pela desocupação do locado, por desistência e por
morte do requerente ou do requerido; art.º 15.ºG/1 NRAU. E requerente pode desistir do procedimento
até à dedução da oposição ou, na sua falta, até ao termo do prazo de oposição; art.º 15.ºG/2 NRAU
Estão sujeitas a distribuição:
▪ A oposição do requerido (art.º 15.ºH/1)
▪ A autorização judicial para entrada imediata no domicílio (art.º 15.ºL, n.º1 e 15.ºS, n.º 6 NRAU)
▪ A suspensão da desocupação do locado (art.º 15.ºM, n.º 3 e 15.ºS, n.º 6 NRAU)
▪ O diferimento da desocupação do imóvel arrendado para habitação (art.º 15.ºN, n.º 1 e 15.ºS,
n.º 6)
▪ Todos os demais atos que careçam de despacho judicial (art.º 15.ºS, n.º6)
A audiência de julgamento realiza-se no prazo de 20 dias a contar da distribuição. (art.º 15.ºI/1 NRAU).
Havendo título ou decisão judicial para desocupação d locado, o agente de execução, o notário ou, na
falta destes ou sempre que lei lhe atribua essa competência, o oficial de justiça desloca-se imediatamente
ao locado para tomar a posse do imóvel, lavrando auto de diligência. (art.º 15.ºJ/1 NRAU). O título para
desocupação do locado, quando tenha sido efetuado o pedido de pagamento das rendas, encargos ou
despesas em atraso, e a decisão judicial que condene o requerido no pagamento daqueles constituem
título executivo para pagamento de quantia certa. (art.º 15.ºJ/5 NRAU)
Caso o arrendatário não desocupe o domicílio de livre vontade ou incumpra o acordo previsto no n.º 2
do art.º 15.ºJ e o procedimento especial de despejo não tenha sido distribuído a juiz, o agente de
execução, o notário ou o oficial de justiça apresenta requerimento no tribunal judicial da situação do
locado para, no prazo de 5 dias, ser autorizada a entrada imediata no domicílio. (art.º 15.ºL/1 NRAU)
Aquele que fizer uso indevido do procedimento especial de despejo do locado incorre em
responsabilidade nos termos da lei. (art.º 15.ºR/1 NRAU)
Incorre na prática do crime de desobediência qualificada quem infrinja a decisão judicial de desocupação
do locado. (art.º 15.ºR/4 NRAU)
O Tribunal competente para todas as questões suscitadas no âmbito do procedimento especial de
despejo é o da situação do locado. (art.º 15.ºS/7 NRAU)
Os atos a praticar pelo juiz no âmbito do procedimento especial de despejo assumem carácter urgente.
(art.º 15.ºS/ 8 NRAU)
O valor do procedimento especial de despejo é o correspondente a 2 anos e ½ de renda, acrescido do
valor das rendas em dívida – art.º 26.º DL 1/2013, de 7 Janeiro
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Aos prazos do procedimento especial de despejo aplicam-se as regras do CPC, não havendo lugar à
suspensão durante as férias judiciais, nem a qualquer dilação (art.º 15.ºS, n.º 5 NRAU).
Caso Prático …
F é proprietário de um imóvel sitona Avenida Getúlio Vargas, nº0000, 2º piso, em Lisboa, o qual foi
locado para S. Tal locação, segundo o contrato, se destinava para fins unicamente residenciais, tendo
uma vigência de dois anos, a contar de dia 17/1/17.
Pela locação ficou acordado entre as partes o pagamento de rendas mensal no valor de 500€ acrescido
de despesas de água, luz e eletricidade. Ocorre que a locatária ocupa o referido imóvel até à presente
data – 17/11/19 – recusando a desocupá-lo e a pagar as rendas em atraso, encontrando-se em situação
de inadimplência em relação aos últimos 4 meses.
Todas as tentativas amigáveis empregadas por F para que S desocupasse o imóvel e saldasse os seus
débitos pendentes se resultaram frustradas.
1. Em face de esta situação hipotética, na qualidade de solicitador contratado por F, diga quais os
passos deverá seguir e qual o meio processual mais célere para fazer valer o direito.
2. Imagine que a arrendatária paga as rendas, mas não procede aos valores devidos a titulo de
água e eletricidade à 5 meses.
3. Imagine que a locatária decide opor-se à ação e, para tal, envia para o tribunal apenas o texto
da oposição e o comprovativo de taxa de justiça respetiva.
4. Suponha que S tem uma incapacidade comprovada de 30%, como seu mandatário aconselhava-
a a solicitar um pedido de diferimento de desocupação? Se sim, em que altura deve este pedido
ser realizado?
5. O cônjuge de S está com uma gripe aguda e diz-lhe que a sua saúde será muito afetada caso o
despejo ocorra imediatamente. Existe alguma forma de “ganhar tempo” para a realização do
despejo?
6. S decide.se opor ao despejo, mas não pretende constituir mandatário.
7. F não pagou o IS, nem declarou a renda no IRS.
8. Imagine que F não tem fundamento para despejar S porque ela tem a renda paga.
Resolução:
1. No caso descrito é nos apresentado, em primeiro lugar, um contrato de locação, que no âmbito
se estipula ser um Arrendamento Urbano para Fins Habitacionais. Ainda introduzindo a renda
nunca constitui uma obrigação pura – 777º CC – sendo que deve estipular-se o momento do seu
vencimento, sendo que, caso não haja estipulação contratual – 405º CC – existe um prazo
supletivo dado por lei, no âmbito 1075º/2 e 1039º/1 CC.
Na lei são apresentados 5 modos de extinção deste contrato sendo: Caducidade, Revogação,
Resolução, Denuncia ou Oposição. No caso concreto, trata-se de uma extinção por Resolução
pelo Senhorio, visto que a Locatária ou Arrendatária não cumpriu com uma das obrigações
elencadas em lei – 1083º CC. Também poderia argumentar-se que se trata de uma extinção por
Caducidade, temo, porém, não concordar, pois não existe informação acerca da não renovação
do contrato que sustente essa mesma teoria.
Finda a resolução, para o caso concreto aconselharia F a prosseguir com um Procedimento
Especial de Despejo – doravante designado PED – que se encontra estipulado nos artigos 15º a
15º-S. Este caracteriza-se por ser um modo expedito para efetivar a cessação do contrato de
arrendamento – 15º/1.
Para o âmbito o requerente detém dois modos
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Negociação
É um meio de resolução de conflitos através do qual as partes interessadas modificam as suas exigências
até alcançarem um compromisso que satisfaça ambas – Pedro Cunha.
Neste sentido, há quem argumente que a negociação é apenas uma componente essencial de qualquer
meio de resolução alternativa de conflitos, diferentemente da mediação, não há um terceiro a intervir,
daí que se considere a negociação como uma primeira abordagem para depois se passar especificamente
aos MARC. E que, por isso, não deveria ser autonomizada. Ou seja, a negociação é o diálogo inicial
entre as partes para escolher a melhor forma de resolver o seu conflito cedendo por muitas vezes
uma parte perante a outra até chegarem a um consenso. Na Negociação são as partes a argumentar,
9
Cardona Ferreira, “Justiça de Paz – Julgados de Paz”, 2005, p. 52
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
e não um 3º, são elas que dialogam até alcançarem um consenso. O acordo obtido através de negociação,
à partida, não é obrigatório, só será se lhe for atribuída juridicidade.
Mediação
De acordo com o artigo 2º/a da Lei nº 29/2013 – Lei da Mediação – a mediação é “a forma de resolução
alternativa de litígios, realizada por entidades públicas ou privadas, através do qual duas ou mais partes
em litigio procuram voluntariamente alcançar um acordo com assistência de um mediador de conflitos”.
Ou seja, na mediação, as partes são auxiliadas por um mediador, que é um 3º imparcial, que estará
presente para ouvir e esclarecer as partes do litígio e, acima de tudo, para as ajudar a comunicar uma
com a outra para que consigam chegar a um acordo, resolvendo assim o conflito.
Ao longo do procedimento de mediação têm de ser observados os seguintes princípios:
▪ Princípio da Voluntariedade – Artigo 4º - Só existe se as partes a iniciarem e termina quando
estas pretenderem, sendo as partes responsáveis por todo o processo de mediação;
▪ Princípio da Confidencialidade – Artigo 5º - este princípio vincula o mediador ao dever de
sigilo sobre todas as informações obtidas no âmbito do procedimento de mediação, só podendo
cessar este dever por motivos de ordem púbica. Acrescente-se que o facto de os mediadores
não poderem vir a ser arrolados como testemunhas está também salvaguardado por este
princípio.
▪ Princípio da Igualdade e da Imparcialidade – Artigo 6º - o P. da Imparcialidade obriga a
que o mediador revele todas as circunstancias que possam suscitar dúvidas sobre a sua
imparcialidade, também presente no Artigo 27º - Obrigação de disclosure. As razões estão
presentes no Artigo 27º/4. O Mediador não deve proferir opiniões que influenciem as partes;
já o P. da Igualdade obriga a que seja concedido tratamento idêntico a ambas as partes;
▪ Princípio da Independência – Artigo 7º - Impõe a obrigação de o mediador agir livremente,
sem pressões;
▪ Princípio da Competência e da Responsabilidade – Artigo 8º - segundo o P. da Competência,
o mediador deve ter as competências necessárias ao exercício da sua atividade; já o P. da
Responsabilidade consagra a possibilidade civil do Mediador quando incumpra os deveres a
que fica vinculado no exercício da sua função.
▪ Princípio da Executoriedade – Artigo 9º - A própria Diretiva 2008/52/CE estabelece no seu
artigo 6.º, que os Estados-Membros devem assegurar às partes a possibilidade de estas
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requererem “que o conteúdo de um acordo escrito, obtido por via de mediação, seja declarado
executório”, desde que seja obtido o consentimento de ambos os lados. Assim, o acordo final
poderá ser executado como uma sentença executada por um tribunal e não dependerá apenas
da boa vontade das partes para o seu cumprimento. O nosso CPC respeitou a disposição da
Diretiva através da introdução do artigo 249.º-B que tinha justamente por epígrafe
“Homologação de acordo obtido em mediação pré-judicial”; no entanto, este artigo foi
recentemente revogado pela Lei n.º 29/2013, que por sua vez passou a prever esta matéria no
seu artigo 14.º, com epígrafe “Homologação de acordo obtido em mediação”, assunto a ser
analisado a posteriori.
Nota de aula: Postura do mediador – o mediador auxilia, o mediador assiste: não dirige, não impõe
qualquer acordo. A sua função é simplesmente a de ajudar as partes, primeiro, a restabelecer a
comunicação, e, segundo, a encontrar a solução adequada. A doutrina tem debatido se a mediação deve
ser meramente facilitadora ou se deve também ser interventora. A noção assistencial ou facilitadora da
mediação é a atualmente estabelecida no ordenamento jurídico português.
O mediador de conflitos tem o dever de:
▪ Abster-se de impor qualquer acordo aos mediados, bem como fazer promessas ou dar garantias
acerca dos resultados do procedimento, devendo adotar um comportamento responsável e de franca
colaboração com as partes; art.º 26.º, al. b) LM.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
A mediação pode ser integrada no sistema de justiça de várias maneiras. Pode estabelecer-se a
obrigatoriedade da mediação ou criar sistemas de mediação facultativos – como em Portugal.
Contudo, nos últimos anos têm surgido algumas regras que sancionam a não utilização dos sistemas de
mediação.
O autor que, podendo recorrer a estruturas de resolução alternativa de litígios, opte pelo recurso ao
processo judicial, suporta as suas custas de parte independentemente do resultado da ação, salvo quando
a parte contrária tenha inviabilizado a utilização desse meio de resolução alternativa do litígio. Art.º
533.º/4 CPC.
Os sistemas de mediação instituídos no nosso país são, em regra, voluntários:
▪ Art.º 3.º/5 Lei da Mediação Penal
▪ Art.º 2.º SMF
▪ No procedimento dos Julgados de Paz, a mediação constitui uma fase do processo, entre
as alegações e o julgamento – art.º 49.º/1 LJP.
Fases da Mediação
Uma das consequências da informalidade do processo de mediação é precisamente a dificuldade em
conseguir tipificar as suas fases, já que estas podem variar em função das especificidades de cada caso
concreto. Contudo, deverão existir sempre alguns momentos obrigatórios, independentemente da fase
do processo onde se verifiquem.
CHRISTOPHER MOORE identifica cinco fases anteriores ao início da sessão da mediação:
constituição de um relacionamento com as partes; escolha da estratégia da mediação; recolha de
informação sobre as partes e o conflito; programação detalhada da mediação; estabelecimento de
confiança e cooperação.
No modelo de BROWN e MARRIOTT as fases são apenas três: introdução das partes na mediação;
compromisso e acordo sobre as regras da mediação; comunicação preliminar e preparação da sessão.
Por regra, algumas destas funções, em Portugal, correspondem à fase de pré-mediação -16º/1 - e, se
as partes concordarem com a mediação, passa-se à mediação propriamente dita, servindo o tempo
entre uma e outra para amenizar os sentimentos adversarias entre os litigantes. A pré-mediação é, então,
a fase ideal para o mediador ganhar a confiança das partes, uma vez que corresponde ao momento
em que elas têm um primeiro contacto com ele. Ainda nesta fase, devem ser esclarecidas algumas
questões, tais como em que consiste a mediação, como funciona, quais as suas fases, os seus objetivos,
as suas regras e se será ou não o meio adequado para resolverem o seu conflito.
As partes, por sua vez, devem manifestar concordância ou não em resolver esse problema recorrendo à
mediação, escolher o(s) mediador(es) e, por fim, manifestar a sua predisposição para colaborar no
processo de maneira a alcançar um possível acordo. Torna-se ainda necessário acertar determinados
aspetos relativos ao processo como o local, a data e a duração das sessões, tendo em conta que todas as
informações necessárias devem ser prestadas de forma clara e suficientemente completas.
O acordo das partes para prosseguir o procedimento de mediação manifesta-se na assinatura de um
protocolo de mediação. Art.º 16.º/2 LM.
▪ Recurso à mediação suspende prazos de caducidade e prescrição a partir do momento em que é
assinado protocolo de mediação – Artigo 13.º.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Na fase da mediação propriamente dita, as partes trabalham em conjunto com o mediador, falam sobre
o conflito, das necessidades e interesses que visam alcançar, ou seja, verifica-se um envolvimento dos
participantes em todos os momentos do seu procedimento.
Devem ainda ser observados os vários modelos de mediação, considerados formas específicas de agir
tecnicamente ou metodologias de boa prática, salientando-se que usualmente é adotado o Modelo
Tradicional de Harvard ou mediação avaliativa. Este modelo dá preferência ao uso de critérios objetivos
e é essencialmente orientado por princípios como a separação das pessoas em relação ao problema, que
ao centrar-se nos seus interesses e não nas suas posições permite criar opções para benefício mútuo.
Convenção de Mediação – Artigo 12º
Conciliação
De todos os MARL a conciliação é o meio mais parecido com a mediação. A grande diferença é que o
mediador é mais ativo no processo, intervém com sugestões, alerta as partes se achar que aquela solução
as vai prejudicar, já o conciliador apenas esclarece as duvidas que as partes possam ter e incentiva o
dialogo entre as mesmas.
Como é obvio o conciliador tal como o mediador tem de ser um 3º imparcial.
A conciliação poderá ser realizada dentro ou fora de um processo em curso, sendo, no 1º caso,
obrigatória ou facultativa, sendo, no 2º sempre voluntária.
Nota de Aula: É há muito utilizada nos tribunais judiciais (conciliação jurisdicional):
▪ Art.º 594.º /3 CPC – Em qualquer momento;
▪ Art.º 604.º/2 CPC – Audiência Final;
▪ Art.º 26.º /1 LJP – Prévio à Decisão.
A conciliação jurisdicional comporta em si uma característica que faz toda a diferença: as partes estão
perante quem decide
Para além disso, não há confidencialidade na conciliação, uma característica essencial da mediação.
Litígios conciliáveis:
▪ Até 2012, data da entrada em vigor da nova LAV, o critério que determinava que litígios
podiam ser objeto de arbitragem, de mediação e de conciliação era o mesmo: o critério da
disponibilidade do direito em litígio
▪ Em 2011, o critério foi alterado na arbitragem para o da patrimonialidade; em 2013 o mesmo
foi feito para a mediação.
▪ Porém, quanto à conciliação manteve-se o requisito – a disponibilidade do direito (art.º
289.º CPC)
Julgados de Paz
Os julgados de paz não são um MARC, mas sim Verdadeiros Tribunais onde se reúnem os MARC numa
única instituição. Ou seja, um processo que decorra num Julgado de Paz pode ser resolvido por
mediação, conciliação ou por Julgamento.
Os Julgados são verdadeiros Tribunais, previstos na CRP 209º/2, e foram criados pela Lei nº 78/2001.
São tribunais diferentes dos normais: praticam uma justiça alternativa, onde se procura resolver conflitos
através da obtenção de acordos, através de fases mediação e conciliação. Por estes factos, nestes
tribunais há uma maior proximidade com a justiça.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
São tribunais extrajudiciais que tem competência exclusiva em ações declarativas cíveis – exceto ações
que envolvam o Direito da Família, Direito das Sucessões ou Direito do Trabalho, como refere o artigo
9º - cujo valor não ultrapasse os 15.000€ - Artigo 8º.
Como podemos retirar do artigo 2º da LJP, os Julgados de Paz no decorrer da sua atividade devem
permitir e incentivar a participação cívica dos interessados, criando assim condições para que o conflito
se resolva através de um acordo entre as partes. Estes tribunais Extrajudiciais têm também que obedecer
a certos princípios tais com: P. da simplicidade, Adequação, Oralidade, Informalidade e Economia
Processual.
Princípios
▪ Princípio da Participação – as partes vão ser ativas naquele processo, ao contrário do que
acontece com o procedimento judicial, onde raramente as partes falam.
▪ Princípio do Estimulo ao acordo – está relacionado com o P. da participação, tanto os juízes
como as partes vão fazer os possíveis para obter um acordo, mas não pode haver exageros, o
juiz deve ter sensibilidade para perceber quando um acordo não será possível.
▪ Principio da Simplicidade – para o processo ser mais célere é essencial eliminar tudo o que
seja apenas um formalismo, que não seja verdadeiramente útil.
▪ Principio da Adequação – o modo como os atos decorrem devem ter sempre em vista o fim
do processo;
▪ Princípio da Informalidade – o que deve prevalecer é o conteúdo dos atos e não a sua forma,
este principio diz respeito à relação entre as partes e os servidores daquele tribunal,
▪ Princípio da Oralidade – está relacionado com a proximidade das partes que caracteriza os
julgados de paz;
▪ Principio da Economia Processual – os atos processuais devem ser reduzidos ao
especificamente necessário.
Tramitação Processual
Quanto à tramitação processual nos julgados de paz – se as partes estiverem de acordo, primeiro há uma
tentativa de resolução do conflito através de mediação, as partes têm a possibilidade de resolver o seu
litígio de uma forma amigável e com a ajuda de um mediador. Se chegarem a uma conclusão, ou seja,
se tomarem uma decisão para a resolução do seu conflito, são apenas elas as responsáveis e não o
mediador. Caso a mediação não resulte, o processo continua e o juiz de paz marca uma data para a
audiência de julgamento. Contudo, no momento do julgamento, o juiz pode ainda tentar a conciliação,
dando sugestões, auxiliando as partes a chegar a um acordo. Se não chegarem a uma solução através da
conciliação, prossegue o julgamento e o juiz de paz profere uma decisão justa, imparcial e independente.
Para esse efeito é necessário que oiça as partes, que sejam produzidas provas, para depois se tomar essa
decisão.
Para terminar, é importante referir também que as decisões proferidas pelos julgados de paz têm o valor
das sentenças proferidas pelos tribunais de 1ª instância – artigo 61º da LJP.
Nota de aula:
Nos Julgados de Paz a tramitação processual tem uma forma própria e simplificada, podendo,
inclusive, as partes apresentarem as peças processuais oralmente.
Os litígios que dão entrada nestes Tribunais podem ser resolvidos na decorrência de mediação,
conciliação, transação ou por meio de julgamento e consequente sentença.
A mediação só tem lugar quando as partes estejam de acordo e visa proporcionar às partes a
possibilidade de resolverem as suas divergências através de uma forma amigável que conta com a
intervenção do mediador, que é um terceiro imparcial.
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Caso a mediação não resulte em acordo, o processo segue os seus trâmites e o Juiz tenta a
conciliação.
▪ Caso não se alcance conciliação há lugar ao julgamento, presidido pelo juiz de paz, sendo
ouvidas as partes, produzida a restante prova e, finalmente, proferida a sentença pelo juiz de
paz. Naturalmente, pode haver transação entre as partes sozinhas, por sua exclusiva iniciativa.
O processo nos julgados de paz inicia-se pela apresentação do requerimento na secretaria do
julgado de paz, verbalmente ou por escrito, e pode ser apresentado pelo próprio demandante ou
por procurador com procuração forense com poderes gerais.
▪ Citação do demandado e convite para
resolver o litígio através da mediação.
▪ Se o processo for resolvido na base da
mediação, termina com a homologação do
acordo, por sentença do Juiz de Paz.
▪ Se o processo não for resolvido na base
da mediação, o mesmo é concluído com a
intervenção do juiz de paz por uma de duas
vias:
▪ Conciliação, em momento prévio ao
julgamento e consequente sentença de
homologação.
▪ Sentença, em sede de audiência de
julgamento.
Recurso:
As decisões proferidas nos processos cujo valor exceda metade do valor da alçada do tribunal judicial
de 1.ª instância (a partir de € 2.500) podem ser impugnadas por meio de recurso a interpor para o tribunal
judicial de comarca em que esteja sediado o julgado de paz. As partes devem comparecer pessoalmente,
podendo, se o desejarem, fazer-se acompanhar por advogado, advogado estagiário ou solicitador.
Todavia, a constituição de advogado é obrigatória nos casos especialmente previstos na lei e quando
seja interposto recurso da Sentença.
Taxas:
A utilização dos Julgados de Paz está sujeita a uma taxa única no valor de € 70, que pode ser repartida
entre o demandante e o demandado, se tal se justificar, conforme o resultado do processo. Se houver
acordo durante a mediação, o valor a pagar é de € 50, dividido por ambas as partes. Caso o litígio esteja
excluído da competência do Julgado de Paz e seja utilizado o serviço de mediação é devida uma taxa de
€ 25 por cada um dos intervenientes. Nos casos previstos na lei, pode haver lugar a Apoio Judiciário nos
processos que corram os seus termos nos Julgado de Paz.
Vantagens:
▪ Rapidez, porque nos Julgados de Paz o processo termina, normalmente, em média, em 3 meses;
▪ Custo reduzido;
▪ Resolver mais litígios por acordo entre as partes, através da mediação, da conciliação e da
transação;
▪ Resolver litígios de forma mais próxima do cidadão, pois os cidadãos participam ativamente no
processo, percebendo e contribuindo para a resolução do seu litígio, visto que o Julgado de Paz
deve elucidar os interessados sobre a tramitação dos processos.
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Arbitragem
Arbitragem Voluntária
A Arbitragem Voluntária é regulada pela Lei nº 63/2011. Nestas partes confiam a resolução do seu
litigio a um Tribunal Arbitral, para tal, celebram uma convecção de arbitragem que serve para expor
essa vontade, esse acordo entre as partes. Esta convenção arbitral reveste duas modalidades: o
compromisso arbitral – quando o litigio já existe e a atribuição à arbitragem seja posterior – ou a
cláusula compromissória – quando o litígio ainda não existe, mas fica regulado que se ele existir será
resolvido pela Arbitragem.
Para resolver o conflito existente, as partes atribuem a um 3º, denominado de árbitro, o poder de tomar
uma decisão com força idêntica à de uma sentença de um Tribunal Judicial. Alem deste poder, as partes
podem também conferir os poderes de rever, atualizar ou completar os contratos ou as relações jurídicas
que originam aquela convenção de arbitragem.
De todos os meios extrajudiciais de resolução de conflitos é a arbitragem que mais se assemelha ao
sistema judicial tradicional: na arbitragem existe um poder adjudicatório, um poder decisório, as
decisões tomadas pelo árbitro têm a mesma força que as decisões proferidas pelos magistrados judiciais,
as funções do árbitro são iguais às do Juiz – julgar com o objetivo de resolver o litigio mantendo
assim a paz.
A arbitragem decorre em 3 fases: convenção de arbitragem – tem origem contratual e a sua natureza é
mista (contratual e processual); Aceitação da Arbitragem – tem também origem contratual e natureza
mista; o Processo e a Decisão Arbitral – Natureza inteiramente Jurisdicional.
A convenção de arbitragem gera um direito potestativo de constituição do tribunal arbitral para resolver
o conflito – Efeito positivo da convenção de arbitragem – e consequentemente provoca a falta de
jurisdição dos Tribunais Judiciais para julgar este litígio – Efeito Negativo da Convenção.
Esta tem assim origem privada, mas natureza jurisdicional, o que gera muitas dificuldades quando à sua
caracterização jurídica. As Opiniões variam em 3 teses:
▪ Teoria Contratual – afirma que a sentença arbitral é um contrato celebrado pelos árbitros como
mandatários das partes. Segundo esta teoria, apenas a homologação judicial permite que exista
uma verdadeira sentença.
▪ Teoria Jurisdicional – defende que as decisões arbitrais são verdadeiros atos jurisdicionais e,
consequentemente, assume que os árbitros, tal como os juízes, exercem uma função
jurisdicional;
▪ Teoria Mista – defende que o arbitro tem o poder de julgar, mas não tem o poder de exercer as
funções públicas de um juiz. Sendo esta última a adotada por maioria da doutrina.
Convenção – Validade
A validade da Convenção deve ser analisada sob alguns paramentos tais como:
▪ Acordo das Partes -O único problema a analisar relaciona-se com 2 normas do regime das
cláusulas contratuais gerais
Consumidores – Art.º 21.º h) LCCG: “São em absoluto proibidas as cláusulas
contratuais gerais que (...) prevejam modalidades de arbitragem que não assegurem as
garantias de procedimento estabelecidas na lei.”
▪ Caso PT (Ac. STJ 4-10-2005) - Cláusula compromissória inserta em contrato
de corretagem
Ao contrato é aplicável LCCG
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
Arbitragem Necessária
Já na Arbitragem Necessária o legislador, por força de determinada circunstancias, remete a resolução
de certas matérias a um tribunal arbitral. Não existe convenção, mas antes uma imposição do legislador
nesse sentido.
Grande parte da doutrina opõem-se à arbitragem necessária, pois defendem que o Estado não se deve
intrometer nas relações privadas, nem deve interferir na escolha das partes de resolver o conflito judicial
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Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT
ou extrajudicial. Segundo o Professor Pedro Gonçalves e o Acórdão nº 230/2013 TC: “só é pensável
admitir a imposição da composição arbitral quando não se encontre vedado o acesso aos tribunais
estaduais, hipótese que só se verifica se não estiver excluída a possibilidade de recurso da decisão
arbitral para aqueles tribunais”.
Contudo a regra de irrecorribilidade já pode vigorar na Arbitragem Voluntária – 39º/4. Ou seja, só haverá
possibilidade de recurso na Arbitragem Voluntária, se as partes o acordarem expressamente na
convenção de arbitragem. Caso não o façam a sentença arbitral será irrecorrível. E claro, se atribuírem
poderes ao tribunal para decidir sobre equidade, a decisão é sempre irrecorrível.
Tanto a arbitragem voluntária quando a necessária estão consagradas no artigo 1º da LAV. Ao falar
deste artigo, compete também esclarecer que nem todos os litígios podem ser resolvidos através de
tribunais arbitrais. Ora vejamos, artigo 1º/1 da LAV – “Desde que por lei especial não esteja submetido
exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a
interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem,
à decisão de árbitros”. Como podemos retirar deste artigo, o critério principal da arbitrabilidade do
conflito reside na natureza patrimonial do interesse controvertido. Contudo, este não é o único critério.
Relativamente a interesses morais ou de natureza não patrimonial, o critério que vigora é o da
transigibilidade do litígio, o que pressupõe a disponibilidade do direito. São patrimoniais os interesses
suscetíveis de avaliação pecuniária. São insuscetíveis de transação os direitos não disponíveis, aqueles
que são irrenunciáveis.
Sendo o litígio abrangido por estes critérios de arbitrabilidade, e se as partes tiverem essa vontade, então
o seu conflito pode ser submetido a um tribunal arbitral.
Mas para tal, o tribunal arbitral tem que ser constituído, isto se as partes optarem, pela arbitragem ad
hoc (tribunal é constituído especificamente e apenas para aquele conflito), se quiserem evitar a
constituição do tribunal, têm a possibilidade de escolher a arbitragem institucional - onde existem
centros de arbitragem institucionalizados ou câmaras, ou seja, já existe um tribunal arbitral com carácter
de permanência, com regulamento próprio.
Para constituir um tribunal arbitral é essencial que cada parte nomeie o seu árbitro, a parte que pretende
iniciar a ação envia uma carta à outra parte com os seguintes documentos: convenção de arbitragem,
indicação do árbitro escolhido e o convite para que esta escolha o seu. A escolha do árbitro é um
procedimento que tem que ser muito rigoroso e que vai definir o sucesso ou não da arbitragem em
questão, como disse Selma Lemes – “a arbitragem vale o que vale o árbitro”.
Podemos concluir assim que o árbitro é, sem dúvida, o elemento fulcral da arbitragem.
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2 - Não obstante o disposto no n.º 1 do presente artigo, o tribunal arbitral pode, salvo convenção das
partes em contrário, reunir em qualquer local que julgue apropriado para se realizar uma ou mais
audiências, permitir a realização de qualquer diligência probatória ou tomar quaisquer deliberações.
Língua do Processo (art.º 32.º LAV)
1 - As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral.
Na falta desse acordo, o tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo.
2 - O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer documento seja acompanhado de uma tradução na
língua ou línguas convencionadas pelas partes ou escolhidas pelo tribunal arbitral.
Sumário Processual
Tramitação
Requerimento dirigido à outra parte com:
▪ Indicação da convenção de arbitragem;
Inicio do processo ▪ Identificação do objeto do litigio;
Petição e Contestação ▪ Indicação do arbitro
Artigo 33º/1 LAV Resposta ao Requerimento de Arbitragem:
Artigo 33º/2 LAV ▪ Aceitação do objeto do litígio ou sua
ampliação;
▪ Indicação do Árbitro
Os Árbitros designados escolhem o 3º que
Designação de Árbitros presidirá;
Artigo 10º LAV Se ele não puder ser designado, cabe ao
Presidente do TR do local fixado para arbitragem;
Fase Intermédia Findos os articulados, o tribunal arbitral conhece
Artigos 34º a 38º LAV das exceções sobre as quais puder decidir,
nomeadamente da sua competência
Como se disse acima, o tribunal arbitral terá
regulado, no início do processo, o modo como se
Sentença Arbitral fará a “condensação” deste (identificação das
Artigo 39º e seguintes questões litigiosas ou base instrutória sumária)
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