Você está na página 1de 56

Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema I – PER, PEAP e Insolvência


O Processo Especial de Revitalização ................................................................................................. 4
O Início do PER .................................................................................................................................4
A reclamação de créditos e a Vocação dos demais credores...........................................................5
As negociações ...................................................................................................................................7
Efeitos ............................................................................................................................................7
O Desenvolvimento do Plano .........................................................................................................8
Aprovação ou Extinção do Plano .......................................................................................................9
Cumprimento e Incumprimento do Plano ......................................................................................... 10
Homologação de acordo Extrajudicial de recuperação do Credor .................................................... 10
Jurisprudência aconselhada .......................................................................................................... 11
PEAP – Processo Especial para Acordo de Pagamento................................................................... 12
Analise distintiva entre o PER e o PEAP ......................................................................................... 14
Prazos do PEAP e do PER................................................................................................................ 14
O Processo de Insolvência .................................................................................................................. 15
Significado de Insolvência ............................................................................................................... 15
O Processo de Insolvência: Vertentes ............................................................................................... 15
Desenvolvimento e Tramites ............................................................................................................ 16
Da Insolvência em especial ................................................................................................................ 17
O Dever de Apresentação – artigo 18º.............................................................................................. 17
Forma de Apresentação do Pedido – Artigos 23º- 25º .................................................................. 17
Apreciação Liminar – Artigos 27º -35º............................................................................................. 18
Citação e oposição ........................................................................................................................ 18
Medidas cautelares ....................................................................................................................... 19
Audiência de discussão e julgamento ........................................................................................... 19
A Sentença ....................................................................................................................................... 19
Efeitos da sentença ....................................................................................................................... 20
Resolução de contratos em Beneficio da Massa ........................................................................... 20
Partes no Processo .............................................................................................................................. 21
Administrador da insolvência ........................................................................................................... 21
Assembleia de Credores ................................................................................................................... 21
Comissão de credores ....................................................................................................................... 21
O início da sua execução .................................................................................................................... 21
Tipos de créditos .......................................................................................................................... 22
Reclamação de créditos .................................................................................................................... 22
A Verificação Ulterior .................................................................................................................. 22

1
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

O saneamento ................................................................................................................................... 22
Liquidação ........................................................................................................................................ 23
Pagamento ........................................................................................................................................ 23
O encerramento da instância ............................................................................................................ 24
Casos Práticos I, II e III ..................................................................................................................... 24
Tema II –Injunção
Introdução e Noção de Injunção ....................................................................................................... 28
Tramitação Processual ....................................................................................................................... 28
O BNI – Balção Nacional de Injunções ............................................................................................ 29
Os elementos do requerimento – artigo 10º/2 ................................................................................... 30
Casos de Indeferimento – artigo 11º/1 .............................................................................................. 30
Da notificação .................................................................................................................................. 30
Elementos da notificação – artigo 13º .......................................................................................... 30
Modos de atuação do Requerido ...................................................................................................... 31
Audiência de Julgamento ................................................................................................................. 31
Sumário Jurisprudência .................................................................................................................... 31
Injunção Europeia .............................................................................................................................. 34
Tema III – PEPEX
Introdução .......................................................................................................................................... 35
A Ação Executiva............................................................................................................................. 35
O Agente de Execução ..................................................................................................................... 35
Tramitação.......................................................................................................................................... 36
Requisitos – Artigo 3º ...................................................................................................................... 36
O Título Executivo – A Legitimidade e os Pressupostos .............................................................. 36
O Requerimento Inicial – Artigos 4º a 8º ......................................................................................... 37
Distribuição – Artigo 6º................................................................................................................ 37
Recusa e consulta de bases de dados – Artigos 8º e 9º ..................................................................... 37
A notificação do Requerido – Artigos 12º a 14º ............................................................................... 38
A Oposição ....................................................................................................................................... 38
A Certidão de Incobrabilidade – Artigo 25º ..................................................................................... 38
A Convolação – Artigo 18º .............................................................................................................. 38
Novas Consultas após a Extinção – Artigo 19º................................................................................. 39
Sumário de Prazos.............................................................................................................................. 40
Tema IV – PED
Introdução .......................................................................................................................................... 41
O Contrato de Locação ..................................................................................................................... 41
Modos de Extinção do Contrato de Locação .................................................................................... 42

2
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Do PED em Especial ........................................................................................................................... 42


Caso Prático … ................................................................................................................................... 45
Tema V – Os MARC/MARL
Negociação .......................................................................................................................................... 46
Mediação ............................................................................................................................................. 47
Fases da Mediação ........................................................................................................................... 49
Conciliação.......................................................................................................................................... 50
Julgados de Paz .................................................................................................................................. 50
Princípios ......................................................................................................................................... 51
Tramitação Processual ...................................................................................................................... 51
Arbitragem ......................................................................................................................................... 53
Arbitragem Voluntária ..................................................................................................................... 53
Convenção – Validade...................................................................................................................... 53
Arbitragem Necessária ..................................................................................................................... 54
Princípios e Regras – artigos 30º e ss ............................................................................................... 55
Sumário Processual .......................................................................................................................... 56

3
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema I – O Processo de Insolvência, PER e PEAP


Nota previa: Dentro do Tema 1, todas as disposições legais que não detenham indicação de diploma
legal, estão pressentes no CIRE – Código de Insolvência e Recuperação de Empresas

O Processo Especial de Revitalização


O PER – Processo Especial de Revitalização – foi originado por força do programa de assistência
financeira celebrado entre o FMI, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e a República
Portuguesa.
O principal objetivo do PER foca-se em “reorientar o CIRE para a promoção de recuperação,
privilegiando-se sempre que possível a manutenção do devedor no giro Comercial” 1, ficando assim
para 2º Plano a Liquidação do património sempre que se mostre viável a sua recuperação. 2 Esta proposta
veio a tomar forma com a Lei nº 16/2012, de 20 de Abril, que veio “simplificar as formalidades e
procedimentos, instituindo o PER”.
Acrescenta-se ainda que o PER revela duas formas principais de atuação, sendo a primordial a
“negociação com os credores com vista à recuperação” – Artigos 17º-A/1 e 17º-C/2, e a “homologação
de um acordo posteriormente negociado e aprovado pelos credores”, encontrando-se previsto no artigo
17º-I/1.
Mais se acrescenta que, por força do artigo 17º-A o PER apenas se destina a “Empresas”, para que não
haja desentendimentos no artigo 5º afirmar que “considera-se empresa toda a organização de capital”,
por força da decisão do STJ sobre a matéria, os devedores que não sejam comerciantes não podem
recorrer ao PER. Também a Diretiva da Recuperação da EU 2016/723 recomenda que o PER seja para
empresas e empresários. A questão abre-se então por força dos Empresários em Nome Individual, por
força da jurisprudência referida, e caso as dividas geradas pertençam à esfera comercial pondera-se que
o ENI possam aceder, enquanto empresários, ao PER3. Este aspeto pode ser justificado pelo facto do
CIRE designar o que é Empresa, mas não denomina ou explica o que é Comerciante, devendo por isso,
recorrer-se à definição presente no Código Comercial. Para que não haja conflitos veio o STJ clarificar
a questão (texto presente em rodapé).
Concluímos assim que um ENI pode recorrer ao PER. Já para uma Pessoa Individual (não comerciante
no caso) esta deve recorrer ou à Insolvência ou ao PEAP. Adianta-se que ao PEAP só podem recorrer
pessoas singulares que não detenham uma empresa, logo, por força do argumento “a contrario sensu”
ao PER devem recorrer todos os outros.

O Início do PER
Como indica o nº1 do artigo 17º-A o PER destina-se à empresa que se encontre em situação
economicamente difícil, ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que ainda seja
suscetível de recuperação, de estabelecer negociações com os respetivos credores de modo a concluir
com estes um acordo conducente à sua revitalização.
A noção de situação económica difícil esta prevista no artigo 17º-B sendo o “devedor que enfrentar
dificuldade séria para cumprir pontualmente as suas obrigações, designadamente por ter falta de liquidez

1
Exposição de motivos da proposta de lei 39/2011;
2
Este facto mostra-se relevante em termos práticos, no ponto em que um dos requisitos para aceder ao PER é a
empresa ser “suscetível de recuperação” – Artigo 17º-A CIRE.
3
III - Neste pressuposto, as normas que regem o PER devem ser interpretadas restritivamente, no sentido de que
esse processo especial não é aplicável às pessoas singulares que não sejam comerciantes, empresários ou que
não desenvolvam uma atividade económica por conta própria” in: Revista n.º 2603/13.4T2AVR.P1.S1 - 6.ª
Secção Pinto de Almeida (Relator)

4
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

ou por não conseguir obter crédito”, já a situação de insolvência meramente iminente pode ser
caracterizada pela “convicção de não ser possível cumprir as suas obrigações”.
O PER inicia-se desde que o devedor obtenha acordo escrito com, pelo menos, um dos seus credores,
tendo este que deter 10% dos créditos não subordinados – 17º-C/1 -, valor que, por força do artigo 17º-
C/6 pode ser reduzido aos 5% mediante requerimento fundamentado da empresa.
Na declaração escrita e assinada pelo devedor e por um dos seus credores, deve constar a comunicação
do devedor ao tribunal competente para declarar a sua insolvência que pretende dar início ao
processo, juntando ao mesmo tempo, cópia dos documentos elencados no artigo 24º, por força do
artigo 17º-C/3.
Para além disto, será necessário que a declaração seja subscrita, não há mais de 30 dias, por um CC
ou ROC – Contabilista Certificado ou Revisor Oficial de Contas – para que este ateste se efetivamente
a empresa detém ou não capacidade de recuperação – 17º-A/2. Só assim se prova que está preenchido
o requisito da “suscetibilidade de recuperação” presente no artigo 17º-A/1.
Em relação ao Tribunal, por força do artigo 7º, é competente “o tribunal da sede ou domicilio do
devedor” (nº1) ou o “lugar onde o devedor tenha o centro dos seus principais interesses” (nº2).
Embora o artigo 17º-C/3/b apenas refira a junção dos documentos elencados no artigo 24º, toma-se como
necessário a igual remissão do disposto no artigo 23º.
Cumpridos todos os requisitos de acesso ao PER, o Juiz, por despacho – 17º-C/4 – nomeia o
Administrador Judicial Provisório. A este aplicam-se as regras constantes dos artigos 32º a 34º por
remissão do artigo 17º-C/4. Este despacho é objeto da notificação ao devedor e da publicidade referidas
nos termos do artigo 37º e 38º, por força do artigo 17º-C/4.
Nota de aula: É “controverso” se o juiz tem a possibilidade, nesta fase, de indeferir liminarmente o
PER, nomeadamente por falta dos seus pressupostos legais, por exemplo, se o devedor já se encontrar
em situação de insolvência atual.
A jurisprudência tem se pronunciado contrariamente sobre esta questão:
Acórdão da Relação do Porto 15/11/2012 (Cardoso Amaral), processo 1457/12.2TJPRT-A.P1 dispõe
que “o processo especial de revitalização criado pela Lei n.º 16/2012, de 20 de Abril, o juiz, ao proferir
o despacho a que se refere a segunda parte da alínea a) do n.º 3 do art.º 17.º-C do CIRE, não tem que
verificar a existência dos requisitos materiais de que depende o recurso a tal procedimento, nem o seu
eventual abuso” in www.dgsi.pt
Vem Contrariamente o Acórdão de 14.06.2016, Processo n.º 4023/15.7T8LRA.C1 citar que:
“O tribunal deverá indeferir liminarmente o requerimento inicial do PER se o devedor não demonstrar
os necessários requisitos adjetivos (designadamente, em matéria de legitimidade) e/ou se se revelar que
se encontra numa situação de insolvência, recorrendo a tal procedimento de forma abusiva”.
Já a doutrina (p. ex. Menezes Leitão) tem “defendido que o juiz deverá fazer uma apreciação liminar,
ainda que restrita, nesta fase, apenas nomeando o administrador judicial provisório se o pedido
cumprir os requisitos legais” (p.341), sendo esse o nosso entendimento.

A reclamação de créditos e a Vocação dos demais credores


Por força do artigo 17º-D/1, aquando do recebimento da notificação, o devedor tem a obrigação de
comunicar de imediato, por meio de Carta Registada aos credores que não tenham subscrito a
declaração que deu inicio ao processo de revitalização de modo a convidá-los a participar nas
negociações. De qualquer modo o despacho será publicado obrigatoriamente no Citius, ficando os

5
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

credores com um prazo de 20 dias contados a partir deste momento para reclamar os seus créditos
perante o AJP. – Prazo de Reclamação.
Questão de aula: será que o direito de reclamar os créditos prescreve? A resposta é não! Os credores
não predem o direito ao seu crédito, este apenas caduca, podendo, após o fim do processo estes serem
reclamados, por exemplo no processo de insolvência. Posto isto, conclui-se que não existe, no PER, a
Verificação Ulterior de Créditos, assim como acontece no PI.
Acerca deste assunto:
Ac. TRC de 13.10.2016 –
I - A prescrição é uma causa extintiva de um direito decorrente da inércia do seu titular
durante um determinado período e existe para garantir a segurança jurídica.
II - O artigo 17º-E, nº 1 do CIRE, apesar de obstar a instauração de quaisquer ações para cobrança
de dívidas contra o devedor, viabiliza, em relação aos credores, a garantia do acesso ao direito e a
tutela jurisdicional, através dos mecanismos da impugnação e reclamação de créditos previstos nos
nºs 2 e 3 do artigo 17º-D do mesmo código.
III - Uma trabalhadora que se arroga titular de créditos emergentes do contrato de trabalho, mas que
não impugnou o seu crédito apresentado pela empregadora/devedora em processo especial de
revitalização, nem reclamou outros créditos já vencidos, neste processo, tendo tido tal possibilidade,
nem se manifestou por qualquer ato considerado meio adequado a interromper a prescrição, vindo
a intentar uma ação judicial quando já havia decorrido o prazo previsto no artigo 337º do Código do
Trabalho, manteve uma atitude de inércia que lhe é imputável e que originou a prescrição de outros
seus eventuais créditos sobre a sua empregadora.
E ainda o Ac. STJ de 22.02.2017 -
I - O prazo indicado no n.º 5 do artigo 17.º- D do CIRE é um prazo de caducidade, tendo
natureza perentória/preclusiva, sendo assim improrrogável (para além do que se mostra
estatuído nesse nº5).
II - No caso de tal prazo ter oportunamente transcorrido, não pode ser homologado o plano de
recuperação que, mediante certos votos produzidos posteriormente, tenha obtido votação
suficiente para a sua aprovação.
Após o termino deste prazo o AJP tem um prazo de 5 dias para elaborar a lista provisória de créditos.
– 17º-D/2. Deste ponto surgem duas hipóteses, ou nenhum credor reclama, tornando-se a lista definitiva
– 17º-D/4 ou os credores, num prazo de 5 dias para impugnar a lista – Prazo de impugnação – sendo
impugnada a lista é remetida para o Juiz que terá o mesmo prazo (5 dias) para decidir sobre as mesmas
– 17º-D/3.
A obrigatoriedade de informar todos os credores prende-se com a natureza do PER, a qual importa que
sejam chamados ao processo todos aqueles que detenham direitos sobre o credor.
Embora não identificado na lei, o credor deve, no seu requerimento, esclarecer todos os seus créditos,
indicando vencimento, proveniência, valor de capital e juros e, se existem garantias sobre os
mesmos. Esta presunção pode ser feita, desde logo, pelo facto de, no requerimento inicial, ser necessário
a assinatura de um dos credores não subordinados, para que o juiz possa verificar a natureza do crédito
toma-se como essencial que o credor proceda do modo que referimos.
Após o envio dos requerimentos, o AJP tem o prazo de 5 dias para elaborar a lista provisória de
créditos, devendo analisar os requerimentos e elaborar a lista de credores reconhecidos e não
reconhecidos – 129º/2 – as listas devem conter todas as informações acerca dos respetivos créditos,

6
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

existindo também a fundamentação da sua aceitação ou não. Este facto pode ser justificado pelo próprio
prazo de impugnação da lista de créditos, que, caso não existissem as listas elaboradas como referimos
era impossível que os credores detivessem argumentos e bases para a sua impugnação.
A impugnação é dirigida ao Juiz, através de um requerimento expositivo de todas as razões de
indevida inclusão ou exclusão de créditos, assim como erros sobre os montantes ou sobre a
qualificação ou graduação dos mesmos.

As negociações
Após a lista de créditos tornar-se definitiva, detém os credores de um prazo de 2 meses para
concluir negociações. Este prazo pode ser prorrogado 1 só vez, por um prazo de 1 mês, mediante acordo
escrito entre o AJP e o devedor, devendo o mesmo ser junto aos autos e publicado no Citius – 17º-D/5.
Os credores que assim o queriam podem participar a todo o tempo nas negociações mediante o envio de
Cartas Registadas, que são juntas ao processo – 17º-D/7. As negociações são dirigidas pelo AJP - 17º-
D/9 a quem cabe fixar as regras das mesmas, caso não se obtenha um acordo entre todos os intervenientes
– 17º-D/8.
Durante todo o tempo de negociações os intervenientes devem atuar em conformidade com os princípios
constantes da Resolução 43/2011, de 25 de Outubro – artigo 17ºD-5. O devedor fica então vinculado a
deveres especiais de informação, quer perante o AJP, como para com os seus credores – 17º-D/6 -,
podendo incorrerem responsabilidade em caso de falta ou incorreção das informações - 17º-D/11.

Efeitos
Os efeitos da nomeação do AJP recaem sobre duas óticas, os efeitos sobre o Devedor em si, e os efeitos
sobre os processos que estejam a correr no momento da instauração do PER.
Efeitos sobre o Devedor
A nomeação do AJP implica a inibição do devedor para a prática de atos de especial relevo, sendo estes
definidos no artigo 161º. Esta inibição pode ser afastada por autorização prévia do AJP por força do
artigo 17º-E/2. Esta (autorização) tem de ser requerida por escrito, e terá de ser concedida da mesma
maneira, como indica o artigo 17º-D/3. Não podem decorrer mais de 5 dias entre o pedido e a reposta,
daí se justifica que, sempre que possível se recorra a comunicações eletrónicas – 17º-E/4. A falta de
resposta do AJP toma-se como recusa de autorização à realização do negócio pretendido – 17º-E/5.
O AJP é nomeado pelo Juiz ou então pode o Devedor indicar um AJP, caso se trate de um processo que
requeira especiais conhecimentos na área da Gestão. O AJP manter-se-á em funções até que a sentença
seja proferida – artigo 32º/1 e 2 - podendo continuar o seu

trabalho, caso o PER seja convertido em Insolvência, ou então, com o fim do PER cessa as suas funções.
O papel do AJP limita-se apenas a autorizar a prática de determinados atos especiais, conforme previsto
no artigo 161º, onde, de entre os quais, se destaca a alienação de imóveis. Compete-lhe também
fiscalizar, orientar e participar nas negociações, sendo o responsável pela elaboração da lista provisória
de créditos e, caso não haja acordo com vista à revitalização, emite um parecer sobre a situação do
devedor, e, caso assim entenda, pode requerer a insolvência do mesmo.
Efeitos Processuais
Um dos maiores efeitos da nomeação do AJP é que este “obsta à instauração de quaisquer ações para
cobrança de dividas contra a empresa” – 17º-E/1 – e “durante todo o tempo que durarem as negociações
(ou seja 3 meses = 2 meses com possibilidade de prorrogação por 1 mês) suspende (…) as ações em

7
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

curso com idêntica finalidade”. Este efeito tem duração idêntica ao processo, sendo as ações extintas
com a homologação e aprovação do plano.
Da mesma forma, os processos de insolvência suspendem-se à data da publicação do despacho no Citius,
desde que ainda não tenha sido proferida a sentença declaratória de insolvência – 17º-E/6.
Para um melhor entendimento:

Hipóteses
1 Se o PER for Indeferido pelo Juiz, todos os processos seguem o seu rumo normalmente;
2 Se o PER for Diferido todos os processos suspendem-se;
3 Se já existir Sentença Homologatória de Insolvência, o requerimento do PER é
indeferido;
4 Se o PER for aprovado e homologado, todos os processos extinguem-se;
Se do PER não resultar um acordo, temos duas hipóteses:
1. Todos os processos voltam ao seu curso normal, podendo dizer-se que ficaram
suspensos;
5 2. Caso o AJP declare no seu parecer que a Empresa está numa situação de
Insolvência e se esta for declarada por sentença, todos os processos de
insolvência que estavam a correr consideram-se extintos com o trânsito em
julgado da nova sentença de insolvência.

Sobre este assunto existe Jurisprudência Obrigatória - Ac. do STJ uniformizador de jurisprudência
n.º 1/2014, de 08.05.2013:
Transitada em julgado a sentença que declara a insolvência, fica impossibilitada de alcançar o seu
efeito útil normal a ação declarativa proposta pelo credor contra o devedor, destinada a obter o
reconhecimento do crédito peticionado, pelo que cumpre decretar a extinção da instância, por
inutilidade superveniente da lide, nos termos da alínea e) do artigo 287.º do C.P.C.

Outros efeitos
Para além dos efeitos supre descritos salve mencionar:

• Todos os prazos de prescrição e caducidade ficam suspensos durante o prazo das negociações,
e só retomam o seu curso com a sentença de homologação, ou não, do plano de recuperação-
17º-E/7;
• Os serviços públicos essências – água, energia elétrica, gás natural, comunicações, correio,
gestão de resíduos sólidos e recolha e tratamento de águas residuais – não podem ser suspensos,
sendo que, no prazo de dois anos, caso não sejam objeto de pagamento, constituirão um divida
da massa insolvente, em caso de insolvência futura – 17º-E/8 e 9.
Este aspeto pode ser justificado pelo facto de, no PER, o objetivo é que a empresa seja
revitalizada, ou seja, que produza crédito suficiente para conseguir suportar ou compensar o seu
débito, para o caso, toma-se como essencial que a produção continue, logo os serviços descritos
tomam-se como essenciais para a prossecução desse mesmo fim.

O Desenvolvimento do Plano
Convertida a lista definitiva, os declarantes dispõem de dois meses para concluir as negociações. Como
também já foi estudado, durante o prazo das negociações não poderão ser instauradas ações contra o
devedor, bem como a eficácia dos demais efeitos no mesmo prazo.

8
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Para que a negociação seja transparente e equitativa, o devedor deve manter sempre informado tanto o
AJP e os seus Credores, sobre a evolução das negociações e da sua situação. O AJP desempenha, nesta
fase, um papel fundamental de fiscalização e orientação das negociações, como consta no artigo 17º-
D/10.

Aprovação ou Extinção do Plano


Concluídas as negociações o plano pode ser aprovado ou não.
Aprovação do plano
Para o plano ser aprovado existem duas modalidades: a aprovação por Unanimidade vem prevista no
artigo 17º-F/1 e exige que todos os credores tenham votado a favor, e que subscrevam o plano, sendo
este de imediato remetido para o Juiz de modo a poder ser Homologado, produzindo de imediato efeitos.
Já a aprovação por Maioria tem um caminho mais longo, uma vez que o juiz terá de analisar quem votou
contra e a favor, tendo também de analisar o sentido de voto daqueles, para concluir se houve ou não
aprovação por maioria, e só depois poderá homologa o plano.
A votação por maioria levanta uma questão fundamental: a natureza do crédito. Para que o plano seja
aprovado por maioria – 17º-D/2 – utilizam-se as regras constantes no artigo 212º, sendo que:
▪ Os credores detentores de, pelo menos 1/3 dos créditos tem de votar;
▪ Terá de se recolhe pelo menos 2/3 dos votos;
▪ Mais de metade dos créditos tem de corresponder a créditos não subordinados, não se
considerando como tal as abstenções.
A votação faz-se por escrito, sendo enviada para o AJP, sendo abertos em conjunto pelo Devedor. Na
declaração de voto, os credores tem de aceitar ou rejeitar o plano. Caso apresentem uma modificação ao
plano, o voto conta como rejeição, por força do artigo 211º/2.
O AJP remente então para o juiz para que se proceda à homologação, com a informação do nº de votos,
informação dos credores que votaram e respetivas percentagens e resultado de votação, enviando os
votos em anexo. Após receber a documentação o Juiz detém um prazo de 10 dias – 17º-F/5 – para decidir
se homologa ou não o plano.
Sobre este assunto - Ac. do STJ de 27.10.2016:
I - O juiz pode recusar a homologação do acordo de recuperação firmado no âmbito do
PER quando os elementos factuais constantes do processo revelem inequivocamente que
o devedor se encontra numa situação de insolvência atual.
II - As negociações a desenvolver no âmbito do PER devem visar a um plano de recuperação
viável e credível, ou seja, exequível.
III - Plano que seja aprovado em desconformidade patente ou manifesta com tais pressupostos,
é um plano inatendível e insuscetível de ser homologado, nomeadamente por eivado de abuso
do direito na perspetiva do seu fim social ou económico.

Conclusão sem Aprovação


Se os credores e o devedor, chegarem a conclusão de que não é possível chegar a um acordo, ou se já se
tiver ultrapassado o prazo de negociações, o processo é encerrado, sendo este facto comunicado ao juiz
pelo AJP, podendo suceder uma de duas hipóteses:
1- Se o devedor ainda não se encontrar numa situação de insolvência, o PER encerra-se, sendo
todos os seus efeitos extintos – 17º-G

9
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

2- Se o devedor já se encontrar numa situação, compete ao AJP emitir um parecer e requerer ao


juiz a insolvência deste, sendo esta decretada num prazo máximo de 3 dias. Neste caso o PER é
apensado ao Processo de Insolvência.
Termo do Processo por Vontade do Devedor
Pode também o devedor por si só por termo às negociações, sem qualquer causa, devendo comunicar a
sua pretensão a todas as partes envolvidas – 17ºG/1 – 3. Além disto, segundo o nº6 do mesmo artigo,
fica o devedor impedido de recorrer ao PER pelo espaço temporal de 2 anos.

Cumprimento e Incumprimento do Plano


Com a aprovação e homologação do PER o processo em si termina, começa, porém, a parte mais longa
do mesmo, o Cumprimento do Plano concreto.
Não sendo o plano cumprido, os créditos ficam ameaçados, ou seja, em caso de incumprimento do plano
o devedor fica, novamente, numa situação de insolvência, o mesmo é sustentado pelo artigo 20º/f.
Sobre este assunto: Ac. TRP de 19.03.2018
I - Na medida em que atribui força vinculativa ao entendimento estabelecido entre devedor e
respetivos credores, a decisão homologatória do plano de revitalização a que se refere o artigo
17º-F do CIRE inclui-se na categoria das sentenças condenatórias.
II - Ocorrendo incumprimento do plano de recuperação em processo especial de revitalização
podem ser instauradas ações executivas, constituindo a sentença homologatória do plano de
revitalização título executivo.
III - O nº 12 do artigo 17º-F do CIRE, na redação introduzida pelo DL nº 79/2017, de 30.6, que
apenas se aplica aos processos especiais de revitalização instaurados após a sua entrada em
vigor, expressamente veio prever que é aplicável ao plano de recuperação o disposto no nº 1 do
artigo 218º.
IV - Face ao disposto no artigo 85º do C.P.C., o requerimento inicial para execução de decisão
judicial condenatória deve ser dirigido ao processo no qual foi proferida a sentença exequenda.
V - De seguida, ao tribunal em que a ação declarativa foi julgada cabe dar cumprimento ao
disposto no nº 2 do artigo 85º do C.P.C.

Homologação de acordo Extrajudicial de recuperação do Credor


Como foi dito no inicio desta exposição de factos, o PER apresenta dois modos fundamentais de atuação.
Falta apenas explicar a segunda alternativa: A homologação de um acordo posteriormente negociado e
aprovado pelos credores; que vem prevista no artigo 17º-I, caracterizando-se por ser uma forma mais
simples pois o devedor já tem a aprovação prévia dos credores para o seu Plano de Recuperação.
Este deve ser apresentado no tribunal subscrito pelo devedor e pelos seus credores, estando representada
a maioria de votos presente no artigo 212º/1, e estando preenchidos os requisitos e documentos
elencados no artigo 17º-A e 24º.
No caso de Homologação, o Juiz nomeia o AJP que notifica os credores que não tenham participado e
publica no Citius a lista provisória de créditos. Convertendo-se a lista em definitiva, o Juiz tem um prazo
de 10 dias para analisar o acordo, homologando se respeitar a votação presente no disposto no artigo
17º-F/5.

10
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Jurisprudência aconselhada

Ac. TRC de 07.03.2017


▪ I - O processo especial de revitalização (PER) funciona como um processo pré-insolvencial
(no sentido preventivo de uma potencial insolvência), cuja grande vantagem é a possibilidade
de o devedor obter um plano de recuperação sem ser declarado insolvente e através do qual se
reserva aos credores um papel fundamental: o de consentirem (pelo menos momentaneamente)
no sacrifício dos seus direitos para viabilizarem o PER ou, então, manterem-se irredutíveis.
▪ II - O PER reveste uma natureza essencialmente negocial e extrajudicial, imperando nele o
primado da vontade dos credores, restando para o tribunal um papel residual. Mas ao tribunal
sempre cabe sindicar a observância, como pressuposto do seu juízo sobre a homologação, da
regularidade dos procedimentos subjacentes e da legalidade do conteúdo do plano.
Ac. STJ, de 07.03.2017 I. – importante para o assunto falado sobre o ENI
▪ I - O regime jurídico do PER não é aplicável as pessoas singulares, que não exerçam a sua
atividade profissional como agentes económicos.
▪ III - A circunstância de o Requerente ser sócio e gestor de empresas, não lhe atribui a qualidade
de comerciante.

11
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

PEAP – Processo Especial para Acordo de Pagamento


A partir do ponto em que o PER limita o seu campo de atuação às empresas foi necessária a criação de
um outro processo destinado às pessoas singulares não titulares de empresas, falamos assim do PEAP.
Este processo destina-se a permitir ao devedor que, não sendo uma empresa e que comprovadamente se
encontre numa situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminente,
estabelecer negociações com os respetivos credores de modo a estabelecer com estes acordos de
pagamentos – 222º-A/1. Este processo, assim como o PER também goza de carácter urgente.
Este processo inicia-se pela manifestação de vontade do devedor e de, pelo menos, um dos seus credores,
por meio de declaração escrita. Para que tal aconteça, o devedor deve apresentar a declaração escrita já
referida, bem como uma lista da qual constem todas as ações de cobrança de divida pendentes contra
este, assim como a declaração comprovativa do seu rendimento, uma declaração comprovativa da sua
situação profissional (ou de desemprego), bem como os documentos a que o artigo 24º/1 se refere –
222º-C/3
Recebido este requerimento, o Juiz nomeia de imediato por via de despacho o AJP, aplicando-se o
disposto nos artigos 32º-34º com as devidas adaptações – 222º-C/4. Este despacho é de imediato
notificado ao devedor sendo-lhe aplicável o disposto nos artigos 37º e 38º - 222º-C/5.
Recebida a notificação o devedor comunica de imediato e por meio de carta registada, a todos os seus
credores que não hajam subscrito a declaração de inicio de PEAP, que eu inicio a negociações com vista
à elaboração de um plano de pagamento, convidando-os a participar, caso assim o entendam, nas
negociações em curso e informando que a documentação referida se encontra patente na secretaria do
tribunal para consulta – 222º-D/1.
Os credores dispõem de 20 dias contados da publicação no Citius do despacho de nomeação do AJP
para reclamarem os seus créditos, devendo as reclamações ser endereçadas para o AJP, que num prazo
de 5 dias elabora a lista provisória de créditos. Esta lista é de imediato apresentada na secretaria do
tribunal e publicada no Citius tendo os credores um prazo de 5 dias para impugnação da mesma, caso
não o façam esta torna-se definitiva. Caso sejam impugnadas o Juiz terá um prazo de 5 dias para decidir
sobre as mesmas – 222º-D/3 e 4.
Os declarantes dispõem então de um prazo de 2 meses para concluírem as negociações, podendo este
ser prorrogado uma só vez, pelo prazo de 1 mês, esta é feita mediante acordo prévio e escrito entre o
AJP e o devedor sendo junto aos autos e publicado no Citius – 222º-D/5.
Os credores que decidam participar nas negociações em curso declaram-no ao devedor por meio de carta
registada, podendo fazê-lo a todo o tempo em que perdurarem as negociações, sendo tais declarações
juntas ao processo – 222º-D/7.
Os efeitos da nomeação do AJP são os mesmos que os efeitos do PER.

Conclusão das negociações com aprovação do acordo de pagamento


A lei distingue consoante o acordo de pagamentos seja aprovado por unanimidade ou não. Concluindo-
se as negociações com a aprovação unânime de acordo de pagamento, em que intervenham todos os
seus credores, este deve ser assinado por todos, sendo de imediato remetido ao processo, para
homologação ou recusa do mesmo pelo juiz, acompanhado da documentação que comprova a sua
aprovação, atestada pelo administrador judicial provisório nomeado, produzindo tal acordo de
pagamento, em caso de homologação, de imediato, os seus efeitos (art.º 222.º-F, n.º1).

12
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Concluindo-se as negociações com a aprovação de acordo de pagamento, sem observância do disposto


no número anterior, o devedor remete-o ao tribunal, sendo de imediato publicado anúncio no portal
Citius advertindo da junção do plano e correndo desde a publicação o prazo de votação de 10 dias,
no decurso do qual qualquer interessado pode solicitar a não homologação do plano, nos termos e para
os efeitos previstos nos artigos 215.º e 216.º, com as devidas adaptações (art.º 222.º-F, n.º2).
O juiz decide se deve homologar o acordo de pagamento ou recusar a sua homologação, nos 10 dias
seguintes à receção da documentação mencionada nos números anteriores, aplicando, com as
necessárias adaptações, as regras vigentes em matéria de aprovação e homologação do plano de
insolvência previstas no título IX, em especial o disposto nos artigos 215.º e 216.º (art.º 222.º-F, n.º 5).
Caso o juiz não homologue o acordo aplica-se o disposto nos números 2 a 5, 7 e 8 do artigo 222.º-G
(art.º 222.º-F, n.º 6).
A decisão de homologação vincula o devedor e os credores, mesmo que não hajam reclamado os seus
créditos ou participado nas negociações, relativamente aos créditos constituídos à data em que foi
proferida a decisão prevista no n.º 4 do artigo 222.º-C, e é notificada, publicitada e registada pela
secretaria do tribunal (art.º 222.º-F, n.º 8).
Conclusão das negociações sem aprovação do acordo de pagamento
Caso o devedor ou a maioria dos credores prevista no n.º 3 do artigo anterior concluam antecipadamente
não ser possível alcançar acordo, ou caso seja ultrapassado o prazo previsto no n.º 5 do artigo 222.º-D,
o processo negocial é encerrado, devendo o administrador judicial provisório comunicar tal facto ao
processo, se possível, por meios eletrónicos e publicá-lo no portal Citius (art.º 222.º-G, n.º 1).
O devedor pode pôr termo às negociações a todo o tempo, independentemente de qualquer causa,
devendo, para o efeito, comunicar tal pretensão ao administrador judicial provisório, a todos os seus
credores e ao tribunal, por meio de carta registada, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o
disposto nos números anteriores (art.º 222.º-G, n.º 6).
Duas hipóteses:
▪ Se o devedor não se encontrar em situação de insolvência: O encerramento do processo
acarreta a extinção de todos os seus efeitos (art.º 222.º-G, n.º 2). Impede o devedor de
recorrer ao mesmo pelo prazo de 2 anos (art.º 222.º-G, n.º 7).
▪ Se o devedor se encontrar em situação de insolvência: O encerramento do processo
regulado no presente título acarreta a insolvência do devedor, devendo a mesma ser
declarada pelo juiz no prazo de três dias úteis, contados a partir do termo do prazo previsto
no n.º 5, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 255.º (art.º 222.º-G, n.º 3, 4, 5 e 8)
Homologação de acordo extrajudicial de pagamento
O processo pode igualmente iniciar-se pela apresentação pelo devedor de acordo extrajudicial de
pagamento, assinado pelo devedor e por credores que representem pelo menos a maioria de votos
prevista no n.º 3 do artigo 222.º-F, acompanhado dos documentos previstos no n.º 2 do artigo 222.º-A
(art.º 222.º-I, n.º 1). Neste caso o juiz nomeia administrador judicial provisório, aplicando-se o disposto
nos artigos 32.º a 34.º com as necessárias adaptações, devendo a secretaria: (art.º 222.º-I, n.º 2)
▪ Notificar os credores que no mesmo não intervieram e que constam da lista de créditos
relacionados pelo devedor da existência do acordo, ficando esta patente na secretaria do
tribunal para consulta;
▪ Publicar no portal Citius a lista provisória de créditos.

13
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

As garantias convencionadas entre o devedor e os seus credores durante o PEAP, com a finalidade de
proporcionar àquele os necessários meios financeiros para o desenvolvimento da sua atividade, mantêm-
se mesmo que, findo o processo, venha a ser declarada, no prazo de dois anos, a insolvência do devedor
(art.º 222-H, n.º 1).
Os credores que, no decurso do processo, financiem a atividade do devedor tendo em vista o
cumprimento do acordo de pagamento, gozam de privilégio creditório mobiliário geral, graduado antes
do privilégio creditório mobiliário geral concedido aos trabalhadores (art.º 222-H, n.º 2).
O PEAP considera-se encerrado: (art.º 222.º-J, n.º 1)
▪ Após o trânsito em julgado da decisão de homologação do plano de pagamento;
▪ Após o cumprimento do disposto nos números 1 a 6 do artigo 222.º-G nos casos em que não
tenha sido aprovado ou homologado plano de pagamento.
O administrador judicial provisório manter-se-á em funções, sem prejuízo da sua substituição ou
remoção: (art.º 222.º-J, n.º 2)
▪ Até ser proferida decisão de homologação do plano de pagamento;
▪ Até ao encerramento do processo nos termos previstos na alínea b) do número anterior nos
demais casos.»

Analise distintiva entre o PER e o PEAP


O PER e o PEAP podem parecer idênticos, destacam-se algumas diferenças, das quais:

PER PEAP
Processo destinado a Empresas; Processo destinado a Singulares;
É necessário que a empresa seja “suscetível de Não é necessário.
recuperação”.
O credor que subscreva a declaração de inicio de Qualquer credor pode subscrever a declaração de
PER tem de ser detentor de 10% de créditos não inicio de PEAP.
subordinados.

Prazos do PEAP e do PER

Os prazos são idênticos em ambos os processos


20 dias - Reclamação Feita pelos credores após a publicação do despacho que nomeia o AJP.
5 dias – Lista Provisória O AJP deve elaborar a Lista Provisória de créditos
5 dias – Impugnação Após a lista provisória os credores podem impugnar a mesma.
5 dias – Decisão do Juiz No caso de impugnação o juiz detém um prazo de 5 dias para as
apreciar.
2 meses – Negociações
1 mês – Prorrogação
10 Dias – Homologação Findas as negociações o Juiz decide se homologa ou não o plano.
TOTAL Ambos os processos têm uma duração máxima de: 4 meses e 15 dias

14
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

O Processo de Insolvência

Significado de Insolvência
A palavra insolvência provém do latim “solvo” significando desatar, livrar, pagar ou resolver.
O Direito da Insolvência é setor jurídico-normativo relativo às situações de insolvência,
correspondendo à sistematização de normas e princípios, sendo uma disciplina cientifico jurídica,
abrangendo essencialmente, a situação do devedor que se encontra impossibilitado de cumprir as
suas obrigações, mas também medidas de conservação ou liquidação do património do insolvente, ou
até da recuperação do mesmo, reconhecimento e graduação de créditos, execução de património,
liquidação do mesmo e a consequente satisfação dos direitos de credores – Artigo 1º.
Não só o CIRE – “Código de Insolvência e Recuperação de Empresas” – contém disposições relativas
ao Processo de Insolvência, também o Regulamento 1346/2000 do Conselho, com a sua recente
atualização (2014), define o âmbito de aplicação aos:
“processos coletivos em matéria de insolvência do devedor que determinem a inibição parcial ou total
desse devedor da administração ou disposição de bens e a designação de um sindico.”

Síndico é definido no mesmo regulamento como qualquer pessoa ou órgão cuja função seja a de
administrar ou liquidar os bens do devedor e, é em Portugal, definido pelo Anexo C, de mais recente
alteração 663/2014, como o Administrador de Insolvência ou o Administrador judicial Provisório.

O Direito da insolvência revela uma enorme carga jurídica sendo possível destacar enumeras vezes
que se encontram normas de insolvência em outros diplomas legais, como CT ou CP, que remetem
para o CIRE que conterá o processo por completo.
Esta forte carga processual pode ser justificada pela necessidade da tutela jurídica para com o devedor
assim como para com os seus credores. Esta tutela é assegurada pelo Tribunal.

O Processo de Insolvência: Vertentes


A insolvência é um processo que se pode dividir em duas grandes vertentes.
Do ponto de vista da Vertente Jurídica, a atual legislação tem por objetivo prevenir e atenuar os
efeitos gerados pela Declaração de Insolvência na esfera jurídica comercial. A título
exemplificativo, vejamos o caso de uma empresa: nos dias que correm, rara será a empresa que não se
conecte com outras, no fundo, é raro existir uma empresa que seja independente no giro comercial.
Desse modo, o não cumprimento obrigacional de um ente comercial poderá influenciar
negativamente outros entes do giro comercial, afetando a esfera jurídico-comercial de um terceiro.
Para isto, é necessário que a lei seja dotada e dote o sistema normativo de meios idóneos para fazer
face à insolvência e aos seus efeitos.
Observemos, de novo, o exemplo descrito, imaginemos que um insolvente singular efetivamente se
torna insolvente e que o seu pedido de exoneração do passivo restante é julgado procedente. Neste caso,
o sistema jurídico favorece o devedor, porém também lhe coloca algumas diversas limitações como, por
exemplo, a proibição ou vedação de requerer num futuro de 10 anos outra exoneração do passivo
restante. Ou, outro mote da tutela jurídica pode ser a inibição de qualquer atividade comercial em sede
de insolvência culposo – 189º/2/b.
Os exemplos supre escritos revelam que o sistema jurídico pretende proteger a área jurídico-comercial.
Também, e em sede de opinião própria o facto de o instrumento jurídico da exoneração do passivo
restante ser exclusivo a singulares também poderá ser considerado como uma proteção do giro

15
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

comercial, visto que as dividas privadas são, em principio, diminutas face às de um comerciante, ou
seja, não afetarão, diretamente, o giro comercial que se pretende proteger.
Do ponto de vista da vertente económica, a insolvência envolve conceitos de comercio como, crédito,
comercialidade ou fraude. A insolvência, devido ao seu caracter público, poderá gerar desconfiança
face em sede de agentes económicos, afetando o equilíbrio das relações económicas, levando que
diversos agentes, devido à desconfiança descrita, vejam diminuído o seu acesso ao crédito. Por esta
questão económica a insolvência tornou-se um processo de maior relevância.

Desenvolvimento e Tramites
Nos termos do artigo 1º, o Processo de Insolvência caracteriza-se por ser um Processo de Execução
de cariz Universal, tendo por finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano
de insolvência, baseado nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente
ou, quando tal não se configure possível, e no fundo sendo a regra geral, na apreensão e liquidação do
património insolvente e respetiva distribuição do produto daí resultante pelos Credores.
O Processo de Insolvência pode ser caracterizado como um Processo Misto. Por um lado, pode ser
considerado como um Processo Declarativo, uma vez que um dos seus objetivos começa por ser a
declaração de insolvência e seguinte verificação de créditos.
Por outro lado, podemos verificar que o Processo de Insolvência pode ser caracterizado, devido ao seu
principal objetivo, como Processo Executivo, visto que o seu principal objetivo se prende com a
obtenção das providencias necessárias à satisfação de um direito violado, através da apreensão e
liquidação de ativos para a satisfação de passivos.
Caracteriza-se também por ser um processo de Execução Coletiva uma vez que engloba todos os
credores do devedor, pretendendo compensá-los na proporção dos seus créditos – 176º.
Também se caracteriza também por ser uma Execução Universal, ma vez que abrange a totalidade do
património do devedor. Isto é, é passível a apreensão de todos os bens do insolvente para liquidação e
satisfação dos credores. Esta norma aplica-se apenas aos bens penhoráveis ou parcialmente
impenhoráveis – 737º CPC e 46º/2.
Podemos ainda qualificar o P.I como um Processo Especial, uma vez que está regulado autonomamente
num diploma próprio.
Por fim, o P.I é qualificado como um Processo Urgente gozando de precedência sobre o serviço
ordinário do tribunal, nos termos do artigo 9º, não se suspendendo no decorrer das férias judiciais.
O P.I caracteriza-se por ser um processo abrangido pelo movimento de Desjudicialização, correndo na
sua maioria autonomamente ao tribunal, isto é, em sede de insolvência o tribunal e o juiz apenas figuram-
se necessários aquando da sentença, e levantamento de questões processuais, tendo o Administrador
ampla abrangência no processo, tal como sucede na Ação Executiva e o AE.

16
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Da Insolvência em especial

O Dever de Apresentação – artigo 18º


Como podemos observar do disposto do suprarreferido artigo, o P.I – Processo de Insolvência - inicia-
se com o pedido de declaração da insolvência, devendo ser o próprio devedor a formular o pedido
de insolvência, ou quem seja legalmente responsável pelas suas dividas, qualquer credor interessado, e,
por fim, o Ministério Público em representação das entidades das quais os interesses lhe estão confiados.
O disposto no artigo 18º estabelece uma obrigação para o devedor, sendo que este deve apresentar a
sua declaração de insolvência, ou seja, deve apresentar-se à insolvência num prazo de 30 dias apos
conhecer a sua situação. No disposto do artigo 3º é nos relevada a noção de situação de insolvência, a
qual poderá ser brevemente resumida aquando o passivo seja superior ao ativo e não se consiga suportar
as suas dividas. Mais se acrescenta que os devedores singulares não titulares de empresa não se
encontram abrangidos por esta obrigação de apresentação – artigo 18º/2. Esta não-obrigação não é tao
linear quanto parece, pois, como iremos ver, a não apresentação voluntária do devedor poderá acarretar
consequências jurídicas para o mesmo no âmbito processual.
O artigo 19º estabelece que a responsabilidade recai sobre o órgão ou administrador responsável
aquando a pessoa não seja capaz. De acordo com o disposto do artigo 6º administrador é aquele a
quem incumbe a administração de uma entidade ou património em causa.
A analise do artigo 19º levanta algumas questões doutrinais pois existem casos em que a
Administração da Empresa é composta por mais do que uma pessoa. Pretende o artigo 19º afirmar,
na sua parte final, que qualquer um dos administradores pode proceder ao pedido de insolvência.
Esta solução não parece de todo favorável para certa doutrina visto que a decisão mais correta seria
a de apresentar a empresa à insolvência apenas quando essa decisão fosse deliberada por maioria
dos membros do órgão de administração como estabelece o artigo 261º CSC.
O não cumprimento do prazo estipulado no artigo 18º não leva à extinção do direito de se
apresentar à insolvência, pode, porém, acarretar consequências legais, como a qualificação da
insolvência como culposa.
Ainda em analise ao artigo 18º, especificamente ao seu nº3 podemos observar que no caso de o devedor
ser titular de uma empresa a situação de insolvência é conhecida apos 3 meses sobre o incumprimento
generalizado de obrigações.
Sendo o pedido apresentado por responsáveis legais, nos termos do artigo 20º tem estes a obrigação
de apresentar provas que comprovem os factos. Responsáveis legais, definidos nos termos do artigo
6º/2 serão as pessoas que respondem pessoal e ilimitadamente sobre as dividas da sua sociedade.
Caso que releva não ter pretexto pratico abrangente, pela maioria das empresas nacionais serem ou
sociedades por quotas ou Sociedades anonimas, as quais se caracterizam pelo facto de os seus membros
não terem responsabilidade ilimitada.
Pode ainda requer a declaração de insolvência o Administrador judicial provisório, designado pelo
Tribunal para gerir determinada empresa no âmbito do PER – Processo de Especial de Revitalização.

Forma de Apresentação do Pedido – Artigos 23º- 25º


Nos termos do artigo 23º, o Pedido de Apresentação à Insolvência deve ser feito por escrito, expondo
os factos que integram os pressupostos da declaração requerida, formulando o respetivo pedido.
O legislador estabelece ainda que o requente deve enunciar os administradores do devedor e os seus
5 maiores credores, excluindo-se, e também identificar factos relevantes como o estado matrimonial

17
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

do devedor, assim como regime de bens, e proceder à junção de certidão do Registo Civil, Comercial
ou qualquer outro registo a que o devedor se encontre vinculado.
Se o próprio devedor submeter o pedido, este deve ainda indicar a situação da sua insolvência –
atual ou eminente – e anexar os documentos previstos no artigo 24º.
Sendo o pedido efetuado por um credor ou responsável legal este deverá indicar na petição a
natureza e montante do seu crédito, ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre os quais recai a
insolvência, assim como apresentar elementos do ativo e do passivo que o devedor possua – artigo 25º.
Em suma:

Apreciação Liminar – Artigos 27º -35º


Efetuado o Pedido de Insolvência, no próprio dia da distribuição ou se não for possível, até ao 3º dia
útil subsequente, o Juiz aprecia preliminarmente o mesmo. Desta a Apreciação resultará de um
Despacho, que poderá assumir 1 de 4 formas:

• Despacho de indeferimento liminar;


• Declaração imediata de insolvência (resulta da apresentação voluntária do devedor);
• Despacho de aperfeiçoamento; Ou;
• Despacho de citação.
Nos termos do artigo 29º/1 não sendo apresentado o devedor, e não havendo motivos que levem ao
indeferimento ou ao aperfeiçoamento, o Juiz manda citar o Devedor.

Citação e oposição
Da citação devem constar os elementos presentes do artigo 29º/2 sendo que se tratam especificamente
da junção de documentos presentes no artigo 24º e a fixação do prazo para o devedor apresentar a
sua oposição à execução – 10 dias – e a advertência presente no nº 5 do artigo 30º, ou seja, o Devedor
contem na sua esfera o ónus da prova, ou seja, se o devedor não apresentar a sua oposição (revelia)

18
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

tomam-se como provados os factos alegados na petição inicial e profere-se a declaração de


imediata insolvência. O número 3 do artigo 30º estabelece que a oposição ao pedido da declaração de
insolvência pode ser motivada pela inexistência do fato em que se baseia o pedido formulado ou, pela
inexistência da situação de insolvência. O devedor pode ainda opor-se com base na ilegitimidade do
requerente da insolvência por não se tratar de responsável legal nem de seu credor.

Medidas cautelares
O Juiz pode ainda ordenar a implementação de medidas cautelares com o objetivo de prevenir atos
de má-gestão que obstem ao fundamental cumprimento da insolvência e consequente agravação da
situação do devedor, como por exemplo a deturpação de bens. Uma das medidas que deve ser enunciada
com especial enfase é a nomeação de um administrador judicial provisório, com poderes para auxiliar e
administrar o património do devedor, encontrando competências expressas no disposto do artigo 33º.

Audiência de discussão e julgamento


Estabelece ainda o artigo 35º do CIRE, no seu nº1 que, na sequência da oposição do devedor, deverá
ocorrer uma audiência de discussão e julgamento, para a qual são notificados o requerente, o devedor
e todos os administradores identificados na petição inicial a comparecerem ou a fazerem-se representar.
Ocorrendo o indeferimento do pedido de declaração de insolvência por parte do juiz, e conforme está
disposto no nº1 do artigo 44º do CIRE, apenas o devedor e o requerente são notificados. Com a ausência
de publicidade da sentença referida anteriormente, pretende-se proteger a reputação daquele a quem foi
proposto de forma errada à declaração de insolvência. Porém, nos termos do nº2 do artigo 44º do CIRE,
o disposto anteriormente não se aplica caso tenha sido nomeado um administrador judicial provisório,
como medida cautelar, sendo por este motivo a sentença objeto de publicação e registo.
O artigo 45º do CIRE, estabelece que apenas o requerente pode interpor recurso contra a sentença
de indeferimento do pedido de declaração de insolvência. Já a sentença de declaração de insolvência
pode ser contestada, ainda que condicionalmente, pelo devedor, pelo cônjuge, por ascendentes ou
descentes, por qualquer credor, pelos responsáveis legais pelas dividas do insolvente e pelos sócios,
associados ou membros do devedor.
Os meios existentes para a impugnação da sentença são, alternativa ou cumulativamente, a oposição de
embargos e o recurso. A oposição de embargos, resulta da alegação de fatos ou indicação de novas
provas que não foram tidos em conta pelo tribunal e que podem alterar os fundamentos da declaração
de insolvência. O recurso é utilizado quando se pretende demonstrar que a declaração de insolvência foi
proferida de forma errática.
Em ambas as situações descritas no parágrafo anterior, a liquidação e partilha do ativo, reguladas no
artigo 156º e ss., é suspensa. Excetua se a venda de bens deterioráveis – 158º.

A Sentença
Após todos os despachos identificados, e no caso de não existir oposição ao pedido de insolvência por
parte do devedor, cabe ao tribunal verificar se se encontram preenchidos os requisitos do artigo 20º e
proceder à respetiva Sentença de Declaração de Insolvência, presente no artigo 36º.
Dos muitos pontos e dados que a sentença deve conter, por força do artigo 36º, realça-se a nomeação
do Administrador da Insolvência, cujos efeitos iremos avaliar. Determina também a apreensão dos
bens e materiais contabilísticos do devedor, e a respetiva entrega para o A.I que fica efetivamente na
posse de fiel depositário dos mesmos. Determina também o prazo de 30 dias para a reclamação de
créditos.
Importa também realçar que a sentença e respetiva nomeação do A.I são de cariz público por força do
artigo 38º, de onde se destaca a comunicação da mesma ao Banco de Portugal, para que se proceda à
inscrição na central de riscos de crédito – proteção do giro e mercado jurídico-comercial.

19
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Efeitos da sentença
Os principais efeitos da declaração de insolvência encontram-se nos artigos 81º e seguintes, destacando-
se:
▪ A transferência dos poderes de administração e disposição, os quais passam de imediato para a
esfera do A.I – 81º;
▪ A obrigação de Colaboração e Apresentação, ficando o devedor obrigado a prestar todas as
informações solicitadas pelo A.I, Juiz, Comissão e Assembleia – 83º;
▪ Já os Efeitos Processuais, onde se destacam: todas as ações onde se apreciem questões sobre os
bens incluídos na massa são apensados (85º) assim como se suspendem todos os processos
executivos – 88º - e a proibição de, nos 3 meses seguintes à data da declaração de insolvência
não ser possível instaurar execuções para pagamentos de dividas compreendidas na Massa;
▪ Já os efeitos sobre os negócios em curso, caracterizam-se pela regra geral da suspensão dos
mesmo, salvo as seguintes exceções:
▪ Venda com reserva de propriedade – 104º;
▪ Venda sem entrega – 105º;
▪ Promessa de Contrato com Eficácia real – 106º;
▪ Operações a Prazo – 107º;
▪ Contrato de Locação, sendo o insolvente o Locatário – 108º;
▪ Contrato de prestação duradoura de serviços – 111º;
▪ O Contrato de Trabalho – 113º;

Resolução de contratos em Beneficio da Massa


Caso existam contratos que sejam prejudiciais à situação da massa, e que tenham sido praticados nos 2
anos antes da declaração de insolvência, podem estes ser resolvidos por força do artigo 120º. Para o caso
os atos devem “diminuir, frustrar, dificultar ou pôr em risco ou retardem a satisfação dos credores”.
Esta resolução pressupõe sempre a Má-fé do 3º, sendo esta entendida por força do nº 5 do artigo referido.
De qualquer modo, mesmo que não se pressuponha a má-fé são resolvíveis os contratos dispostos no
artigo 121º

Em suma:

Apreciação Liminar
Declaração imediata Despacho de
Indeferimento de insolvência aperfeiçoamento Despacho de Citação
liminar apresentação
voluntária
O Juiz não cré que Trata-se, desde logo, O Juiz considera existe Quando a
existe uma situação da sentença de situação de apresentação é feita
de Insolvência declaração de insolvência, mas que por 3º, e segundo o
insolvência não estão verificados Princípio do
todos os factos Contraditório deve o
relevantes. devedor ser chamado
a defender-se
Apenas o devedor - - -
pode impugnar

20
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Partes no Processo
No CIRE, entre os artigos 25º e 80º, podemos encontrar a regulamentação de diversos órgãos que
constituem a insolvência. Estes órgãos podem ser classificados como obrigatórios: sendo o
administrador da insolvência e a assembleia de credores e, como órgãos eventuais: sendo a
comissão de credores. Podemos ainda classificar o Tribunal como um órgão da insolvência, deve,
porém, ter se em conta o forte processo de desjudicialização presente neste processo.

Administrador da insolvência
O Administrador da Insolvência para além de seguir as regras estipulas em seção própria do CIRE tem
também de se fazer guiar pelos seus estatutos próprios, regulados no DL nº32/2004.
O AI é nomeado pelo Juiz de entre os inscritos em lista oficial para o efeito, ou, atendendo a indicações
feitas pelo próprio devedor ou pela comissão de credores, caso esta exista.
É possível destacar que o Administrador possui essencialmente a responsabilidade de assumir o
controlo da massa insolvente e procedendo à sua administração e liquidação, repartindo pelos
credores o respetivo produto final, sob a fiscalização do juiz e da comissão de credores caso esta exista,
como ensina ML e ao respeito fundamentado com o as disposições legais 55º/1 e 58º CIRE.
O AI pode cessar as suas funções por 3 vias. Ou pelo encerramento do processo, como dispõe o
artigo 233º/1/B, pode também renunciar ao cargo, nos termos do artigo 60º/3 e, por fim, o AI pode ser
destituído do seu cargo como estipula o artigo 56º.

Assembleia de Credores
No artigo 72º e ss., podemos encontrar as disposições que regulamentam a assembleia de credores. Esta
tem como objetivo a reunião de todos os credores de forma a facilitar-se a coordenação entre estes,
podendo todos votar, com base no montante dos seus créditos, conforme estipula o artigo 73º.
A assembleia de credores é convocada pelo juiz, por iniciativa própria ou a pedido do AI, da
comissão de credores (caso exista) ou de um credor ou grupo de credores cujos créditos representem
pelo menos 1/5 do total dos créditos não subordinados.
O artigo 74º estabelece ainda que é de a responsabilidade do juiz presidir a assembleia de credores.
Importa ainda aqui diferenciar a assembleia ordinária, definida nos parágrafos anterior de assembleia
extraordinária. Sendo que a assembleia extraordinária existe exclusivamente para a aprovação do
plano de insolvência previsto no artigo 209º.

Comissão de credores
A comissão de credores é um órgão do processo que surge para representar as várias classes de credores
existentes num processo de insolvência. Porém, a sua constituição não é obrigatória. Isto é, o Juiz com
base na dimensão da massa insolvente, na simplicidade do processo de liquidação do ativo ou o
reduzido nº de credores, pode não convocar a comissão conforme estipulado no nº 1 do artigo 67º.
Nos termos do artigo 66º a assembleia de credores pode constitui a comissão de credores. Porem, se
for o juiz a nomear a comissão, esta deve ser composta por 3 ou 5 membros e 2 suplentes, sendo a
presidência delegada ao maior credor da empresa. O nº3 do respetivo artigo obriga ainda a que um
dos membros da comissão represente os trabalhadores que detenham créditos sobre a empresa.

O início da sua execução


Após a sentença declaratória de insolvência, dá-se início áquilo a que podemos chamar a segunda fase
do processo de insolvência, a fase executiva.

21
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Nesta fase do processo, ocorrem em simultâneo dois momentos importantes, a verificação dos créditos
e a liquidação do ativo.
Nesta fase, a verificação do passivo é um processo que corre por apenso ao processo de insolvência,
tendo por finalidade a verificação e graduação dos créditos sobre a insolvência. O desenrolar da
verificação do passivo ocorre faseadamente, estando regulada nos artigos 128º a 140º.

Tipos de créditos
• Créditos sobre a massa insolvente – 46º - a massa insolvente destina-se à satisfação dos
credores da insolvência, depois de pagas as próprias dividas e, salvo disposição em contrário,
abrange todo o património do insolvente à data da insolvência.
46º e 172º - Os créditos sobre a massa insolvente são pagos numa fase anterior ao pagamento
dos créditos sobre a insolvência, surgindo da própria situação de insolvência. Estes créditos,
entre outros, incluem as custas do processo de insolvência, as remunerações e despesas do
processo de insolvência, assim como as despesas com a comissão de credores, as dividas
resultantes de atos de administração, liquidação e partilha da massa, as dividas
emergentes da atuação do AI e do administrador provisório da insolvência – em suma todas
as expostas no artigo 51º.

• Créditos sobre a insolvência – 47º/1 – correspondem aos créditos que se constituíram antes
da data da declaração da insolvência, encontrando-se divididos em 4 subcategorias:
1. Créditos garantidos
2. Créditos privilegiados
3. Créditos subordinados
4. Créditos comuns

Reclamação de créditos
O artigo 128º, estipula que os credores da insolvência, nomeadamente o MP e o Requerente devem
apresentar ao AI o requerimento a solicitar a verificação seus créditos. Este processo denomina-se
reclamação, e tem por objeto todos os créditos sobre a insolvência, independentemente da sua natureza
e fundamento.
Importa salientar que, a reclamação de créditos não é um Requisito fundamental para o
reconhecimento de créditos, uma vez que o AI deve também reconhecer os créditos que constem
dos elementos da contabilidade devedor ou que conheça por outras formas, como ensina Menezes
Leitão.
No seguimento do artigo 129º o AI deve preparar e apresentar uma lista de todos os credores
reconhecidos assim como uma lista de todos os credores não reconhecidos sendo que desta última
devem constar os motivos que justificam o seu não reconhecimento. Devem também constar os
créditos reconhecidos que não forem reclamadas, nomeadamente através de pré-análise aos documentos
contabilísticos.
A mesma lista pode ser impugnada no prazo de 10 dias, sendo que após o fim deste prazo o A.I despõe
de outros 10 dias para responder às impugnações – 130º e 131º.

A Verificação Ulterior
Após o prazo de reclamação de créditos, é ainda possível que se reconheçam créditos.

O saneamento
A fase de saneamento inicia-se com a marcação do juiz de uma tentativa de conciliação. A esta
reunião devem comparecer todos aqueles que tenham apresentado impugnações e respostas, a
comissão de credores e o administrador de insolvência, tal como dispõe o artigo 136º do CIRE no
seu nº 1. Esta reunião, dá-se com o propósito de reconhecer os créditos impugnados.

22
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

O juiz deve proferir o despacho saneador, tal como é estabelecido no artigo 136º do CIRE nos seus
números 3 e 8. O despacho saneador, deve reconhecer os créditos incluídos na respetiva lista e não
impugnados, os créditos que, embora impugnados, tenham sido aprovados na tentativa de
conciliação, assim como os demais créditos que possam ser reconhecidos face a outros elementos

Liquidação
Ocorre por apenso ao Processo de Insolvência e, encontra-se regulados entre os artigos 156º e 171º do
CIRE. Este procedimento é da responsabilidade do administrador de insolvência, destinando-se à
satisfação dos credores do devedor, através da conversão da massa insolvente numa quantia
pecuniária, como explicito no artigo 55º.
O início da venda dos bens do devedor dá-se, após a verificação dos seguintes requisitos:

• A sentença declaratória da situação de insolvência transitada em julgado;


• A realização da assembleia de apreciação do relatório, prevista no artigo 156º do CIRE e
marcada na sentença declaratória de insolvência.
O artigo 171º do CIRE, estabelece ainda que o juiz, pode dispensar, total ou parcialmente, a
liquidação dos bens do devedor, a pedido do administrador de insolvência, sendo que se devem
verificar certos pressupostos tais como:

• O devedor ser uma pessoa singular;


• A massa insolvente não integre uma empresa;
• O devedor entregue ao administrador de insolvência uma quantia em dinheiro não inferior à que
resultaria da liquidação;
O artigo 167º do CIRE, o processo de liquidação está sujeito a várias normas. Em primeiro lugar, o
produto da liquidação deve ser depositado à ordem da administração da massa, à medida que o
processo for decorrendo, sendo que esta regra não se aplica aos montantes estritamente necessários às
despesas correntes.
O Processo de insolvência deve estar finalizado no prazo de um ano a contar da data da assembleia
de apreciação do relatório, ou no final de cada período de seis meses subsequente a este prazo. Não
sendo cumpridos os prazos referidos e, nos termos do artigo 169º do CIRE, qualquer interessado
poderá requerer a destituição com justa causa do administrador de insolvência.
O artigo 61º do CIRE estabelece que há certos atos que dependem da autorização da comissão de
credores, ou da assembleia de credores na falta desta, nomeadamente atos de relevo. Consideram-se atos
de relevo, a venda da empresa, de estabelecimentos, ou da totalidade das existências, a alienação
de bens necessários à continuação da exploração da empresa, a aquisição de imóveis, e outros,
referidos no nº3 deste mesmo artigo.

Pagamento
Encontra-se regulada entre os artigos 172º e 184º do CIRE e, segundo as suas regras, o administrador
de insolvência deve, descontar da massa insolvente os bens ou direitos necessários à satisfação das
dividas da massa, atuais ou que previsivelmente se constituirão até ao encerramento do processo, sendo
que o pagamento destas dividas acontece nas datas do seu respetivo vencimento.
A satisfação das dívidas dos credores da insolvência, deve ainda respeitar as regras estabelecidas no
artigo 173º do CIRE onde, apenas os créditos verificados por sentença de verificação e graduação de
créditos transitada em julgado podem ser pagos. Ainda no que diz respeito a este tópico, o pagamento
dos créditos sobre a insolvência deve ocorrer sobre a seguinte ordem:

• Créditos garantidos (Artigo 174º CIRE);


• Créditos privilegiados (Artigo 175º);

23
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

• Créditos comuns (Artigo 176º)


• Créditos subordinados (Artigo 177º);

Nos termos do nº1 do artigo 183º do CIRE, a liquidação de créditos reconhecidos não necessita de
requerimento.
É ainda importante salientar que o credor que não solicite, no prazo de um ano a partir da data em que
foi notificado, o cheque que saldará o direito que detém, vê o seu crédito prescrever e o montante
a reverter para o Cofre Geral dos Tribunais. Caso haja, no fim do processo, valores excedentes,
estabelece o artigo 184º do CIRE que estes devem ser entregues ao devedor pelo administrador de
insolvência.

O encerramento da instância
Seus artigos 230º e 234º, o encerramento do processo de insolvência, surgindo este após a sentença
declarativa de insolvência. Nos termos do nº1 do artigo 230º do CIRE, este momento surge quando o
juiz assim o declara nas seguintes circunstâncias para o devedor singular:

• Após a realização do rateio final, previsto no artigo 182º;


• Após a decisão e homologação do plano de insolvência, regulado entre os artigos 192º a 208º
do CIRE;
• A pedido do devedor, quando este deixe de estar em situação de insolvência ou com o
consentimento de todos os credores;
• Verificando-se a insuficiência da massa insolvente para a satisfação das custas do processo e
restantes dívidas da massa;
O encerramento do processo de insolvência, permite ao devedor a recuperação dos seus direitos
sobre os seus bens e a livre gestão dos seus negócios, extinguindo assim as funções da comissão de
credores e do administrador de insolvência, permitindo ao mesmo que os credores da insolvência
exerçam os seus direitos contra o devedor, nos termos do nº1 do artigo 233º do CIRE.

Casos Práticos I, II e III

Caso Pratico I

Manuel, que presta serviços informáticos, emitiu a fatura nº 540/2018, por conta da reparação do
computador de João. Contudo, João não procedeu ao pagamento da fatura devida. Manuel, está muito
chateado e quer pedir a insolvência de João.
Resolução: Segundo os dados apresentados no caso concreto, o pedido de insolvência deve ser feito
pelo próprio, com um prazo de 30 dias a contar do conhecimento da sua situação de insolvência.
Também, por força do artigo 20º demais entes têm legitimidade para requer a insolvência, para tal efeito,
é necessário que estejam verificados os pressupostos do artigo 20º, que, aplicado ao caso concreto, não
se encontram preenchidos os requisitos do suprarreferido artigo, nomeadamente por não se verificar
uma suspensão generalizada do cumprimento das obrigações vencidas, nem por o incumprimento da
obrigação referida significar a impossibilidade de João fazer face à generalidade das suas obrigações.
Mais se adianta que, por força do artigo 3º para se considerar uma situação de insolvência é necessário
que o devedor se encontre impossibilidade de fazer face às suas obrigações.
Por fim, aconselharia Manuel a recorrer a outras vias de recuperação do seu crédito, visto que,
apresentando um pedido de declaração de insolvência relativo a João, seria este, em principio e face aos

24
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

dados apresentados, indeferido, podendo incorrer em responsabilidade civil, por via de uma dedução
infundada de pedido de declaração de insolvência presente no artigo 22º.
Caso prático II

Hélder tem vários salários em atraso. Conta-lhe que ouviu dizer que os restantes trabalhadores se
encontram na mesma situação e depois de se deslocar à Segurança Social ficou a saber que Daniel, dono
da fábrica de sapatos onde trabalha, também não procedeu à contribuição da Segurança Social
obrigatória relativamente a si nos últimos 8 meses.
Ficou também a saber que Daniel tem uma namorada, também funcionária da fábrica, que tem contando
às amigas que tem ganho muitas prendas do namorado.
Resolução: Por força do artigo 18º/1 e 3 aquando o devedor seja uma empresa, definida pelo artigo 5º,
deve apresentar-se à insolvência aquando, pela duração mínima de 3 meses ocorra nalgum dos requisitos
do artigo 20º alínea g), tornando-se assim Inilidível a presunção da mesma.
Posto isto, Hélder é credor de Daniel tendo, por isso, legitimidade nos termos do artigo 20º/1 para
declarar Daniel à insolvência. Mais se adianta que, a fundamentação legal, da suscetibilidade de Hélder
declarar Daniel à Insolvência, encontra-se no artigo 20º/1 alínea g), por Daniel incumprir em divididas
de contribuição para a segurança social (ii) e em dividas emergentes de contrato de trabalho (iii).
Para tal efeito Hélder deve formular o seu pedido de forma escrita, onde identifique, nomeadamente: i)
os administradores de direito e facto; ii) a natureza e montante do seu crédito; iii) indicar os 5 maiores
credores de Daniel, excluindo-se; iv) oferecer todos os meios de prova de que disponha.
A segunda parte do caso concreto será importante pois trata-se de uma dissipação patrimonial, sendo
um fundamento necessário à situação de insolvência – artigo 20º/1/d. – bem como, poderá servir de
fundamento à instauração de medidas cautelares – por força do artigo 31º - bem como, poderão esses
atos de dissipação patrimonial ser resolvidos por força das regras contidas nos artigos 120º e 121º.

Caso pratico III

Joana é gerente e administradora da Sociedade RP – Relações Publicas, Lda. Estes têm tido alguns
problemas de caixa e têm falhado algumas das suas obrigações. Contudo, Joana tem ideia que conseguirá
fechar um contrato no final do ano para ficarem responsáveis pela imagem da discoteca ABC. Ela está
muito entusiasmada e com fé que vai conseguir fazer face às obrigações da sociedade. Na sua vida
pessoal, pelo contrário, Joana encontra-se numa situação cada vez mais difícil. Tem tido muitos
problemas com o seu filho e tem pago várias dividas de jogo deste.
Resolução: O caso apresentado deve ser avaliado de duas vertentes.
Numa vertente empresarial, ou seja, Joana enquanto gerente da RP, Joana encontra-se numa situação de
Insolvência Meramente Iminente, pois, segundo os factos apresentados, ainda não se encontra uma
situação de incumprimento generalizado. Devido a esse facto abrem-se duas possibilidades, a primeira
será recorrer ao Processo de Insolvência, facto que se desaconselha, devido ao impacto jurídico-
económico que este processo pode ter. Posto isto, aconselharia Joana a, antes, recorrer a um PER.
Numa vertente Pessoal, e devido à má situação de Joana, aconselharia a duas hipóteses, ou a proceder a
um PEAP, ou a um Processo de Insolvência, sendo que neste ultimo, seria indispensável que, juntamente
com a PI se efetuasse o pedido de Exoneração do Passivo Restante.

25
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Caso Prático IV

Em janeiro de 2015, foi constituída a sociedade comercial “ABCDE, Lda.”. O capital social é de
50.000,00€, constituído por 5 quotas de 10.000,00€. “B” é o gerente da sociedade. O último balanço
aprovado é respeitante a 2017 e apresenta um passivo acumulado de 200.000,00€. Em fevereiro de 2018
a sociedade suspendeu o cumprimento de todas as obrigações vencidas, designadamente a fornecedores
e trabalhadores.
a) Pode considerar-se “ABCDE, Lda.”, em situação de insolvência?
b) Se a sociedade estiver em situação de insolvência, quais os deveres de administração da
sociedade? Que consequências existem se falharem com estes deveres?
c) Poderá um fornecedor solicitar a insolvência da sociedade, apesar de não ter qualquer valor em
divida, mas porque se encontra com receio de que a sociedade não possa cumprir com a próxima
fatura que irá ser emitida (próxima semana)?
d) Se a sociedade vier a ser declarada insolvente, quais as consequências face aos processos de
execução que já se encontram em curso? E aos novos?
e) A “ABCDE, Lda.” Poderia ter lançado mão de algum meio preventivo da sua declaração de
insolvência?
f) Imagine que:
a. A “ABCDE, Lda.”, vem a ser declarada insolvente em 01.08.2018;
b. Em 01.01.2018 o sócio “A” fez um empréstimo de 100.000,00€ à sociedade;
c. Um dos estabelecimentos de que a sociedade era titular foi trespassado, por valor
inferior a 50% ao valor de mercado, no dia 01.04.2018, a um dos fornecedores da
sociedade, credor desta por 100.000,00€;
d. Em 15.06.2018 a sociedade prometeu vender o único imóvel de que era proprietária por
um preço superior, em cerca de 15%, ao valor de mercado, a um estranho que, a título
de sinal, entregou 30% do preço.
e. Ana tem um “voucher” no valor de 100,00€ de serviços da sociedade, que lhe foi
oferecido pelo seu irmão em virtude do seu aniversário e que ainda está no período de
validade. Com a declaração da insolvência, Ana perde o direito ao mesmo? O que
deverá fazer?
Resolução:
a) Sim. por força do artigo 3º, números 1 e 2, a sociedade pode considerar-se em situação de
insolvência. Complementa-se esta afirmação com o disposto no artigo 18º/1 e 3, que nos remete
para a alínea g) do artigo 20º, que nos indica que caso a sociedade tenha o incumprimento
generalizado, por 3 meses, de dividas emergentes do Contrato de Trabalho, torna-se inilidível a
presunção do conhecimento da situação de insolvência.
b) Por via da situação decorrente na sociedade, esta fica obrigada ao dever de apresentação à
insolvência presente no artigo 18º, tendo um prazo de 1 mês após o conhecimento da sua
situação para o fazer. Mais se acrescenta que, como já referido, segundo a alínea g) do artigo
20º, que nos indica que caso a sociedade tenha o incumprimento generalizado, por 3 meses, de
dividas emergentes do Contrato de Trabalho, torna-se inilidível a presunção do conhecimento
da situação de insolvência.
Por fim, o não cumprimento deste dever não preclude o direito de se apresentar à insolvência,
podendo, como consequência da falta ou atraso na apresentação à insolvência, acarretar que, no
âmbito do incidente de qualificação da insolvência – 185º - a mesma seja considerada culposa,
sendo presumida a existência de culpa grave quanto à não apresentação, mais especificamente
por força do artigo 186º/3/a)
c) Não. Este sujeito não tem legitimidade para apresentar a empresa à insolvência pois na verdade,
ele ainda nem sequer é credor, pois, segundo o artigo 20º/1/b, somente quando preclude o prazo

26
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

do cumprimento daquela obrigação referida, é que o sujeito se pode considerar credor, cabendo
no âmbito do artigo 20º.
d) Na possibilidade de a empresa vir a ser declarada insolvente, todos os processos executivos que
afetem ou venham a afetar os bens constituintes da massa da insolvência são suspensos, por
força dos artigos 85º e 88º. Relativamente a novas ações, a sentença de declaração de insolvência
– artigo 36º - obsta a que estas sejam instauradas. Por fim, por força tanto do artigo 88º/1 (parte
final) e 36º/1/g, todos os bens que tenham sido penhorados em virtude desses mesmos processos
devem ser restituídos à massa insolvente.
e) Caso a empresa cumprisse os requisitos do PER, dos quais se destaca a suscetibilidade de
recuperação, esta poderia ter recorrido ao PER, de modo a que se estabelecessem negociações
com os respetivos credores de modo a melhorar a situação económica da mesma. Facto que não
obsta a que, no final do PER sem entendimento, ou no caso do AJP concluir que a empresa já
não era suscetível de recuperação que o PER fosse convertido em Processo de Insolvência -17º-
G/3.
f)
2- “A” deve, no prazo indicado na sentença (128/1), sendo este no máximo até 30 dias (36º/1/j),
reclamar o seu crédito, devendo fazê-lo junto ao AI por E-mail ou Carta Registada com Aviso
de Receção. Após este termo, o AI terá 15 dias para elaborar a Lista de créditos reconhecidos,
bem como a Lista de Créditos não reconhecidos, nos termos do artigo 129º, sendo esta
acompanhada da devida fundamentação do AI. Após este prazo os credores têm um prazo de 10
dias para impugnar as listas por requerimento endereçado ao juiz, sendo que o AI justificará a
sua escolha – 130º e 131º. Importa adiantar que, segundo os termos do artigo 47º e 48º, este
crédito será um “Crédito subordinado” por preencher a alínea f) do referido artigo. Sendo que,
segundo as regras do capítulo VII o pagamento destes créditos é o último a ocorrer – 177º.
3- Por força do artigo 121º/1/h este ato é resolvível incondicionalmente, ou seja, não será
necessário constituir prova da Má-fé do 3º. Posto isto, o negócio descrito será resolvido,
voltando os bens a integrar a massa.
4- Por força do artigo 106º este contrato não poderá ser resolvido. Mais se acrescenta que o mesmo
não faria sentido, pois ao contrário do que se passava com o problema anteriormente descrito,
este negócio, segundo os dados apresentados, é um ponto benéfico à recuperação da empresa,
nunca esquecendo que o principal objetivo do PI é a melhoria da condição empresarial, fazendo
com que a mesma continue no giro comercial.
5- Ana é credora, posto isto deve, assim como já referido para o sócio “A” reclamar o seu crédito.

27
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema II – O Processo de Injunção

Introdução e Noção de Injunção


O Decreto-Lei nº 296/98 de 1 de Setembro aprova o regime dos procedimentos destinados a exigir o
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a
15.000,00€.
Considera-se injunção a providência que tem por fim conferir força executiva a requerimento destinado
a exigir o cumprimento das obrigações pecuniárias de valor não superior a 15.000€ ou das obrigações
emergentes de transações comerciais abrangidas pelo DL nº 32/2003, de 17 de fevereiro – atual DL
62/2013 – artigo 7º.
O Procedimento (judicial) de injunção não é um processo jurisdicional, visto que o juiz, em princípio,
não intervém. Contudo, se a pessoa contra quem é feito o pedido não pagar nem responder opondo-se
ao pedido de injunção, pode ser requerida em tribunal a penhora dos seus bens e rendimentos.
“O procedimento de injunção é considerado, nos dias de hoje, um dos mecanismos mais rápidos e
simplificados que os credores têm à sua disposição para a aquisição de um título executivo, sem
precisarem de intentar nos Tribunais uma ação declarativa de condenação
Os trâmites processuais definidos na Lei para a injunção e para a respetiva ação declarativa especial,
que tem como características específicas a rapidez e simplicidade, justifica-se com o facto de estas
ações se destinarem a defender interesses económicos de menor importância (o valor da ação é inferior
a 15.000,00€).
Contudo, a injunção também permite proceder à cobrança de dívidas que respeitem a transações
comerciais (com algumas exceções), sendo que, neste caso, não há qualquer limite máximo para o
valor exigido. Ou seja, nesta situação, a injunção pode ser um valor inferior a 15.000,00€, mas
também pode ter um valor superior a 15.000,00€”.4

Tramitação Processual
As pessoas ou entidades que não tiverem possibilidade de aceder ao sistema CITIUS podem proceder à
entrega do ficheiro informático do requerimento de injunção na secretária judicial competente, valendo
como data da prática do ato processual a da respetiva entrega – 16º/3 Portaria 220ª/2008, 43).
Consideram-se secretarias judicias competentes: à escolha do credor, a secretária do tribunal do lugar
do cumprimento das obrigações ou a secretária do tribunal do domicilio do devedor. Advogados e
Solicitadores devem entregar o requerimento via CITIUS.
O requerimento de injunção é apresentado, num único exemplar, na secretaria judicial. O modelo de
injunção é aprovado por portaria do Ministro da Justiça – Portaria nº 808/2005, de 09.09.2005.
“O procedimento de injunção tem algumas características que traduzem esse caráter expedito e
flexível. Desde logo, prevê-se que existam apenas duas peças processuais: a petição inicial e a
contestação. Por outro lado, o material probatório é necessariamente exibido na audiência de
julgamento, podendo apenas ser apresentados três a cinco depoimentos independentemente do valor da
ação, que como já vimos, não pode exceder os 15.000,00 Euros.
Sempre que, no procedimento de injunção, a testemunha souber de algum acontecimento por causa das
tarefas que realiza (cargo, trabalho, profissão) prevê-se que o respetivo depoimento possa

4
In: https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/procedimento-de-injuncao visitado em: 05/11/2019

28
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

ser deduzido por escrito. Se for necessário recorrer a prova pericial recorrer-se-á a um só
especialista.”

O BNI – Balção Nacional de Injunções


O Balcão Nacional de Injunções, em funcionamento desde 5 de Março de 2008, já recebeu mais de
1.400.000 injunções, 97% das quais por via eletrónica. Das mais de 400.000 que entraram por ano,
apenas se encontravam pendentes cerca de 90.000, o que denota uma taxa de resolução muito boa e uma
rapidez muito acentuado, fonte – CITIUS.
BNI pratica a seguinte sequência de atos na tramitação da Injunção:
▪ O requerimento de injunção entra diretamente na aplicação informática do BNI, sem
intervenção humana;
▪ Se o requerimento for entregue numa secretaria judicial em papel, os dados constantes do
requerimento são introduzidos na aplicação informática pela secretaria judicial, para que o
BNI as possa tramitar eletronicamente;
▪ Após a receção do requerimento, o secretário do BNI apenas tem de dar uma ordem
eletrónica para que seja efetuada a notificação do devedor;
▪ As notificações seguem eletronicamente para os CTT;
▪ As notificações são impressas e envelopadas pelos CTT;
▪ O controlo dos prazos é efetuado eletronicamente, a partir da informação enviada pelos
CTT;
▪ Se não houver oposição por parte do devedor (se este reconhecer a dívida), o secretário do
BNI confere, eletronicamente, força executiva ao requerimento;
▪ Se o requerente tiver indicado o seu email recebe também o título executivo assinado
eletronicamente. Se não tiver indicado o seu email, a notificação é enviada eletronicamente
para os CTT que procedem ao envio por carta.
▪ O pretenso devedor pode opor-se ao requerimento de injunção por carta dirigida ao BNI ou,
representado por advogado ou solicitador, por via eletrónica em
http://citius.tribunaisnet.mj.pt/;
▪ Em caso de oposição, o requerimento de injunção segue eletronicamente para o tribunal,
deixando de se proceder manualmente à repetição da introdução dos dados na aplicação
informática que já constam do requerimento de injunção.
Vantagens do BNI:
1. Mais Simples – a entrega e o pagamento da injunção são feitos eletronicamente, ou seja, sem
deslocações, para além disto o titulo executivo eletrónico torna desnecessária a junção em papel
da injunção ao requerimento executivo. Para alem disto, a entrega do código eletrónico torna
desnecessária a entrega das certidões em papel para a recuperação do IVA.
2. Mais Rápido – os procedimentos automatizados permitem tramitações mais rápidas – ordem
de notificação eletrónica, envio eletrónico para impressão e envolopagem, entre outros.
3. Mais transparente – o mandatário pode acompanhar via eletrónica o andamento do
procedimento de injunção, e também a especialização dos funcionários na tramitação da
injunção permite uniformizar procedimentos, proporcionando mais certeza ao utente.
4. Descongestionamento dos tribunais - Funcionários de 231 secretarias judiciais que
tramitavam, até hoje, os procedimentos de injunção, ficam libertos para outras tarefas. Com a
recuperação do IVA dos créditos incobráveis por vias mais simples incentiva-se o recurso ao
procedimento de injunção, com a consequente diminuição das ações judiciais.
5. Melhor gestão dos recursos - Notificações envelopadas pelos CTT libertam os funcionários
judiciais para tarefas mais exigentes e menos repetitivas; Automatismos resultantes da

29
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

desmaterialização do procedimento de injunção libertam os funcionários do BNI da realização


de tarefas repetitivas.

Os elementos do requerimento – artigo 10º/2


▪ Identificação da secretaria do tribunal a que se dirige;
▪ Identificação das partes;
▪ Identificação do lugar onde deve ser feita a notificação;
▪ Exposição sucinta dos factos;
▪ Formulação do pedido, com discriminação do valor do capital, juros vencidos e outras
quantidades devidas;
▪ Indicação doa taxa de justiça paga;
▪ Indicar se se trata de uma transação comercial abrangida pelo DL 32/2003, 17.02.2003;
▪ Identificação do seu domicilio;
▪ Indicação do endereço eletrónico;
▪ Indicar se pretende que o processo seja apresentado à distribuição, no caso de se frustrar a
notificação;
▪ Indicar o tribunal competente para apreciação dos autos se forem apresentados à distribuição;
▪ Indicar se pretende a notificação por agente de execução ou mandatário judicial e, em caso
afirmativo, indicar o nome e o respetivo domicilio profissional;
▪ Assinar o requerimento.

Casos de Indeferimento – artigo 11º/1


▪ Não estiver endereçado à secretaria judicial competente ou não respeitar o disposto na alínea
l) do n.º 2 do art.º 10.º;
▪ Omitir a identificação das partes, o domicílio do requerente ou o lugar da notificação do
devedor;
▪ Não estiver assinado, exceto nos casos previstos no n.º 7 do artigo anterior;
▪ Não estiver redigido em língua portuguesa;
▪ Não constar do modelo a que se refere o n.º 1 do artigo anterior;
▪ Não se mostrar paga a taxa de justiça devida;
▪ O valor ultrapassar o referido no artigo 1.º do diploma preambular, sem que dele conste a
indicação prevista na alínea g) do n.º 2 do art.º 10.º;
▪ O pedido não se ajustar ao montante ou finalidade do procedimento.
Da recusa cabe reclamação para o juiz – artigo 11º/2.

Da notificação
Após a receção do requerimento, o secretário do BNI tem que dar uma ordem eletrónica para que seja
efetuada a notificação do devedor. As notificações seguem eletronicamente para os CTT, sendo por estes
impressas e envelopadas, sendo o controlo dos prazos feito eletronicamente, a partir da informação
enviada pelos CTT. Aa notificação conterá a informação de o requerido, no prazo de 15 dias, pagar –
Capital + Taxa de Justiça – ou para deduzir oposição.

Elementos da notificação – artigo 13º


▪ Os elementos referidos nas alíneas a) a i) do n.º 2 do artigo 10.º;
▪ A indicação do prazo para a oposição e a respetiva forma de contagem;
▪ A indicação de que, na falta de pagamento ou de oposição dentro do prazo legal, será
aposta fórmula executória ao requerimento, facultando-se ao requerente a possibilidade
de intentar Acão executiva;
▪ A indicação de que, na falta de pagamento da quantia pedida e da taxa de justiça paga
pelo requerente, são ainda devidos juros de mora desde a data da apresentação do

30
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

requerimento e juros à taxa de 5% ao ano a contar da data da aposição da fórmula


executória.
▪ A indicação de que a dedução de oposição cuja falta de fundamento o requerido não deva
ignorar determina a condenação em multa de valor igual a duas vezes a taxa de justiça
devida na ação declarativa.

Modos de atuação do Requerido


O Requerido perfeitamente notificado pode adotar um de 3 comportamentos:
1. Procede ao pagamento da quantia pedida: a contrario art.º 13.º/1/al. c) e d) RPCOP
2. Deduz oposição no prazo de 15 dias a contar da data em que foi notificado
3. Ou nada faz: art.º 13.º/1/al. c) RPCOP.
“O desenrolar deste processo é maioritariamente extrajudicial, não intervindo o Juiz se a contraparte,
tendo sido notificada, não apresentar, no prazo de 15 dias, oposição à injunção. Assim, se o devedor
não apresentar oposição à injunção, o credor tem a sua dívida confirmada sem que seja necessário
intentar um processo judicial junto dos Tribunais ou sequer que haja qualquer intervenção do Juiz.
Deste modo, o credor pode intentar logo uma ação executiva destinada a promover as diligências
necessárias à cobrança coerciva da dívida. Porém, se no procedimento de injunção for
apresentada oposição à injunção ou se a contraparte não tiver sido devidamente citada, o processo
entra numa fase judicial e tem lugar a intervenção de um Juiz.”5

Audiência de Julgamento
“A audiência de julgamento tem lugar em trinta dias. Após a observação do conteúdo probatório, os
Advogados estão autorizados a fazer uma exposição verbal sumária. No final do procedimento de
injunção, é decretada a sentença, a qual será aposta em ata, e que deve ser resumidamente
fundamentada.”
“Hoje, o período médio de duração e decisão de um processo de injunção é inferior a três meses. De
facto, atualmente cerca de 80% das injunções findam num contexto extrajudicial, sem necessidade de
intervenção do Tribunal, obtendo o requerente logo, a partir dessa altura, um título executivo.”

Sumário Jurisprudência
O acórdão 99/2019 resume bem este procedimento:
“A consagração do procedimento de injunção, pelo Decreto-Lei n.º 404/93, de 10 de dezembro, fez
parte dum movimento de desburocratização e simplificação de atos processuais, com o objetivo
de obter maior celeridade e eficácia na resposta da justiça à multiplicação de litígios, que
constituía - e ainda constitui - uma das principais causas de congestionamentos no sistema de
justiça.
Pesem embora as inegáveis virtualidades do regime, nos primeiros anos da sua vigência o instituto não
mereceu a aceitação esperada, constatando-se que o recurso ao procedimento de injunção não
acompanhava o aumento exponencial que registavam as ações de reconhecimento e cobrança de dívidas,
intentadas sobretudo por grandes empresas comerciais, com padrões de contratualização abrangendo
múltiplos consumidores.
Foi com vista a incentivar o recurso ao procedimento de injunção, que foi publicado o Decreto-Lei n.º
269/98, de 1 de setembro, que introduziu alterações substanciais ao regime, revogando aquele

5
In: https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/procedimento-de-injuncao visitado em: 05/11/2019

31
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

primeiro diploma. O objetivo, declarado no preâmbulo, foi o de criar, no domínio do cumprimento de


obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior ao da alçada dos tribunais de 1.ª
Instância, um modelo de ação, inspirado no figurino da ação sumaríssima, mas com maior simplificação,
em consonância com a corrente simplicidade das pretensões subjacentes, frequentemente caracterizadas
pela não oposição dos demandados.
O regime da injunção viria a ser objeto de mais alterações, sendo de realçar as que se traduziram no
aumento do valor do procedimento e no alargamento do seu âmbito de aplicação. No que respeita ao
valor, o limite que constava da versão originária do Decreto-Lei n.º 269/98, que se cingia aos contratos
de valor não superior à alçada do tribunal de 1.ª instância, foi sucessivamente aumentado, primeiro, para
«valor não superior à alçada da Relação» (ex-vi Decreto-Lei n.º 107/2005, de 1 de julho) e, depois, para
«valor não superior a € 15.000,00» (ex-vi Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de agosto). No que respeita
ao segundo, o procedimento passou a abranger - independentemente do valor - a obrigação de
pagamento decorrente de transações comerciais entre empresas ou entre empresas e entidades
públicas, nos termos definidos no Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de fevereiro.
Apesar de introduzidas por via de diversos diplomas legais, em diferentes momentos, o conjunto destas
alterações, embora pontuais, por incidirem em aspetos essenciais do regime, acabaram por conduzir a
uma certa descaracterização do regime inicialmente pensado pelo legislador».
“O procedimento tem início com a apresentação do requerimento de injunção no Balcão
Nacional de Injunção. Pode haver recusa pelos fundamentos de natureza formal do artigo 11.º
do Regime Anexo, admitindo-se reclamação para o juiz do ato de recusa.”
Se o requerimento for admitido como – atenta a taxatividade e a natureza das causas de recusa –
sucederá em regra seguir-se-ão os procedimentos de notificação do requerimento, através dos quais
é dado conhecimento ao requerido do procedimento contra ele intentado.
Na forma como é assegurado este conhecimento reside uma das particularidades da injunção
relativamente ao processo declarativo. Enquanto neste o réu toma conhecimento da ação contra si
proposta através de citação (artigo 219.º do Código de Processo Civil - CPC), no processo de injunção
o conhecimento do requerimento de injunção é assegurado por via de notificação (artigos 12.º e
12.º-A do Regime Anexo).
No que respeita ao seu conteúdo, definido no artigo 13.º do Regime Anexo, a notificação deve
obrigatoriamente conter, entre outros, informação acerca do prazo de que dispõe para a oposição
e do seu modo de contagem, bem como a advertência de que, não efetuando o pagamento ou não
deduzindo oposição no prazo legal, será aposta fórmula executória no requerimento de injunção,
facultando-se ao requerente a possibilidade de intentar ação executiva. Ora, se o conteúdo desta
notificação corresponde materialmente ao conteúdo da citação - que sabemos ter um regime mais
exigente e mais garantiístico em relação ao da notificação - terá de haver alguma razão para o legislador
lhe aplicar o regime da notificação.
Vejamos mais de perto esta notificação.
O desfecho do procedimento de notificação vai ter consequências na tramitação que se seguir, que será
diferente consoante se verifique uma de três hipóteses: (i) frustração da notificação; (ii) dedução de
oposição; e (iii) não apresentação de oposição, sendo que estes últimos pressupõem uma notificação
regularmente efetuada.
Os dois primeiros casos vão determinar o fim do procedimento de injunção. A partir daqui o processo
passará a seguir os termos do processo especial de ação declarativa criado pelo mesmo diploma
(artigos 16.º e 17.º), ficando afastada a possibilidade de obter um título executivo por via da
aposição de fórmula executória ao requerimento de injunção.

32
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Só no último caso, quando «depois de notificado, o requerido não deduzir oposição», o credor
conseguirá obter o título executivo, cuja formação célere e simplificada constitui a finalidade última
do procedimento de injunção.
Uma análise simplista podia levar a pensar que o que é fulcral para a obtenção do título de forma célere
e simplificada é o silêncio do devedor. Porém, a legitimidade para extrair efeito jurídico deste silêncio
assenta na presunção de que ele traduz uma aceitação - ou, pelo menos, o reconhecimento tácito - da
ausência de litígio. Na expressão de Salvador da Costa (in A Injunção e as Conexas Ação e Execução,
6ª edição Atualizada e Ampliada, Coimbra, Almedina, 2008, p. 232), «A falta de oposição do
requerido releva como razão indireta de certeza, em termos de se extrair de um elemento negativo
de ordem formal um conteúdo material positivo envolvido pela aposição da fórmula executória».
Nesta medida, ele só poderá relevar, para o efeito de legitimar a formação de um título executivo contra
o devedor, naquelas situações em que houver certeza de que este ficou ciente do teor do requerimento
de injunção e das cominações associadas à sua eventual falta de reação. Donde, a notificação do
requerimento de injunção é tão (ou mais) fulcral para a formação do título do que aquele silêncio.
É aliás por isso que no caso de frustração da notificação do requerimento de injunção, a lei diz que o
processo passará a seguir os termos da ação declarativa especial para cumprimento de obrigações
pecuniárias emergentes de contratos, que configura um processo declarativo que terminará com a
decisão de manter a ordem de pagamento ou de a declarar sem efeito, em conformidade com as provas
produzidas e os debates havidos (artigos 16.º e 17.º do diploma que contém o Regime Anexo). Note-se
que este procedimento, apesar de simplificado e mais célere, além de decorrer em contraditório, é
conduzido pelo juiz.
Importa centrar a nossa análise na modalidade específica de notificação prevista para os casos em que
não existe domicílio convencionado entre as partes do contrato, constante do artigo 12.º do Regime
anexo.
[…]
Como acima referimos, o preceito contém um conjunto de normativos que funcionam numa lógica
sequencial. Em primeiro lugar a notificação é feita por carta registada com aviso de receção, aplicando-
se-lhe, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 231.º e 232.º, nos n.os 2 a 5 do artigo 236.º e
no artigo 237.º do Código de Processo Civil, a que correspondem, na versão atualmente em vigor, os
artigos 223.º, 224.º e 228.º (cfr. n.ºs 1 e 2 do artigo 12.º do Regime Anexo).
Frustrando-se esta via, há que atender ao disposto nos n.ºs 3 e 5 do artigo 12.º do Regime Anexo, normas
que o tribunal a quo recusou aplicar com fundamento em inconstitucionalidade.
Caberá, em primeiro lugar, à secretaria judicial, obter, oficiosamente, informação sobre a residência ou
local de trabalho (ou da sede ou local onde funciona a administração, no caso de pessoa coletiva), nas
bases de dados dos serviços de identificação civil, da segurança social, da Direção-Geral dos Impostos
e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP (IMT). Obtida tal informação, a notificação será
enviada para esse local, por via postal simples, caso coincida com o local para o qual se endereçou a
notificação por via postal registada, ou para cada um dos locais apurados nas bases, se a informação
obtida não coincidir com aquele primeiro local.
A notificação considera-se feita com o simples depósito da carta, atestado pelo distribuidor do serviço
postal, que certificará também a data e o local exato em que efetuou o depósito, na caixa do correio do
local (ou locais) obtido pela informação colhida nas bases de dados.
A partir deste depósito começa a correr o prazo para oposição.
São estas as normas a que obedeceu a notificação do requerimento de injunção posta em crise na
oposição à execução mediante embargos, em causa nos autos. [...]».

33
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Injunção Europeia
Regulamento sobre o Procedimento Europeu de Injunção de Pagamento – Regulamento (CE) n.º
1896/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2006.
▪ Casos transfronteiriços de créditos pecuniários não contestados
▪ Livre circulação das injunções de pagamento europeias em todos os EM, através do
estabelecimento de normas mínimas
▪ Aplicação à matéria civil e comercial
▪ “Casos transfronteiriços” – art.º 3.º
▪ Art.º 12.º: Na injunção de pagamento europeia, o requerido é avisado de que pode optar
entre:
▪ Pagar ao requerente o montante indicado na injunção; ou
▪ Deduzir oposição à injunção de pagamento mediante a apresentação de uma
declaração de oposição, que deve ser enviada ao tribunal de origem no prazo de 30
dias a contar da citação ou notificação da injunção.
Artigo 17.º: Se for apresentada declaração de oposição no prazo previsto no número 2 do artigo 16.º, a
ação prossegue nos tribunais competentes do Estado-Membro de origem, de acordo com as normas do
processo civil comum, a menos que o requerente tenha expressamente solicitado que, nesse caso, se
ponha termo ao processo.
Regime decisivo para determinar a ratio do Regulamento é o Artigo 19.º (Abolição do exequatur):
A injunção de pagamento europeia que tenha adquirido força executiva no Estado-Membro de
origem é reconhecida e executada nos outros Estados-Membros sem que seja necessária uma
declaração de executoriedade e sem que seja possível contestar o seu reconhecimento.

34
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema III – O PEPEX


Introdução
O PEPEX, abreviatura de Procedimento Extrajudicial Pré-Executivo, pode ser definido, em poucas
palavras, como uma procedimento pré-executivo, facultativo, que se destina à identificação de vens
penhoráveis através da disponibilização de informação e consulta às bases de dados de acesso eletrónico
- 749º/1 CPC e 9º Lei do PEPEX.
É então uma ferramenta que permite ao credor detentor de um título executivo, avaliar de forma
rápida e económica, qual a real possibilidade de recuperação do seu crédito ou de certificar a sua
incobrabilidade.6
Trata-se de um procedimento de natureza administrativa, cujos atos são praticados por um agente de
Execução, sem intervenção imediata do Juiz.
As penhoras apenas podem ocorrer no âmbito de um processo executivo. Para que sejam realizadas
penhoras é necessário convolar (transformar) o procedimento PEPEX em Processo Executivo.
As partes podem suscitar a intervenção do juiz: o requerente através da convolação do procedimento
PEPEX em processo Executivo, e o requerido através da oposição ao procedimento PEPEX.

A Ação Executiva
A noção de Ação Executiva encontra-se presente no artigo 10º/4 CPC e tem por “finalidade a reparação
efetiva de um direito violado, não se trata de declarar a existência ou inexistência de um direito, mas
sim de providenciar pela realização coativa de uma prestação devida”.
No fundo, são aquelas em que o exequente (credor) requer as providencias necessárias e adequadas
à reparação efetiva de um direito violado. Até no CC é feita uma previa definição de execução no
ponto em que o artigo 817º CC cita:
Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de exigir judicialmente o
seu cumprimento e de executar o património do devedor, nos termos declarados neste código e
nas leis de processo.
O sistema português ou acolhido pela lei portuguesa, quanto à execução comum poderia, como certa
doutrina intitula como uma sistema de execução singular, por a ação ter como partes as mesmas que
estiverem presentes no titulo executivo como credor e devedor, sendo simultaneamente apreendidos
apenas os bens necessários à satisfação do o interesse do credor assim como custas processuais relativas
ao processo, existem, porem, em sede de execução comum, alguns credores chamados à execução para
procederem à reclamação dos deus créditos, como por exemplo os credores detentores de direitos reais
ou os credores públicos, sendo o Fisco e o Social, podendo intitular-se assim como Sistema Misto.

O Agente de Execução
O papel fundamental do processo de execução está a cargo do AE, um profissional liberal que
desempenha um conjunto de tarefas, exercidas em nome do tribunal, sem prejuízo da possibilidade de
reclamação para o juiz de atos ou omissões por ele praticados.
Tal como o hussier francês, o AE é um misto de profissional liberal e de funcionário publico, cujo
estatuto de auxiliar da justiça implica a detenção de poderes de autoridade no processo executivo. A sua
existência implica a sua larga desjudicialização, entendida como a menor intervenção do juiz nos atos

6
Nota de Aula: um dos motivos que levou à criação deste procedimento foi o facto de os tribunais se encontrarem
congestionados de processos executivos cujos exequentes sabiam deste logo que não iam recuperar o seu crédito
mas necessitavam de uma certidão de incobrabilidade para que lhes fosse devolvido o montante pago de IVA
inerente àquela dívida.

35
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

processuais, e também a diminuição de atos praticados pela secretária. Não impede, porém, a
responsabilidade do Estado pelos atos ilícitos que o AE pratique no exercício da função nos termos
gerais da responsabilidade do estado, pelos atos ou omissões dos seus funcionários e agentes, decorrente
da Lei 67/2007 de 31 de dezembro.

Tramitação
Requisitos – Artigo 3º
O requerente tem de estar munido de Título Executivo que reúna as condições para aplicação da
forma sumária do processo comum de execução para pagamento de quantia certa – 550º/2 CPC. E que
a dívida seja certa, liquida e exigível. Tem ainda o requerente que indicar o seu NIF/NIPC em Portugal
assim como do requerido.

O Título Executivo – A Legitimidade e os Pressupostos


O PEPEX assim como o Processo Executivo tem de ser promovido pela pessoa que figure como
credor no Título Executivo devendo ser igualmente instaurado contra quem se encontre no Título
Executivo ocupando a posição de devedor.
A legitimidade das partes em sede de execução, determina-se, na ação executiva, com maior
simplicidade do que na ação declarativa, porque vejamos, na ação executiva o juiz encontra vedada a
possibilidade de apreciar a relação material controvertida. As partes legitimas não são os sujeitos da
relação material controvertida, mas sim, quem no título executivo se figure como credor e devedor.
O Título Executivo é o Documento ao qual a lei confere força jurídica necessária para que o titular
do direito possa pedir em juízo as providencias necessárias à realização efetiva e coerciva do direito.
Nele consta a existência de um direito subjetivo, e é através dele que a lei presume que o direito do
credor existe7 e que foi violado, e é também relevada tamanha importância no ponto em que se
identificam não só as partes legitimas e a obrigação exequenda, mas será deveras importante no
ponto em que o titulo executivo determina o fim e os limites da ação executiva, como presente no
disposto do artigo 10º/5. Para além disto o Título executivo condiciona a exigibilidade formal o
pedido, visto que o mesmo funciona como um invólucro onde a lei presume que se contém o direito
violado. Como também já vimos, o Título executivo terá também importância para a definição de
outros pressupostos processuais, como qual será o tribunal competente. Porém, e a meu ver, a maior
importância do Título executivo releva-se no âmbito em que este ditará qual a forma ou tramitação
que o processo seguirá. Por fim, basta acrescentar que o título executivo é um requisito de natureza
formal.
O Título executivo é condição necessária e suficiente ao desenvolvimento da ação executiva pois sem
o mesmo não poderá haver execução, devido ao facto de o Título executivo dispensar qualquer
averiguação previa sobre a existência do direito violado.
O Artigo 703º CPC que no fundo, “abre” o capítulo destinado à ação executiva, vem enumerar
taxativamente8 os vários Títulos executivos. Não são validas quaisquer convenções, ainda que ao
abrigo da liberdade contratual, – 405º CC – que atribuam força executória a outros documentos para

7
Vide “acertamento” – sebentas de Processo Executivo. Em suma o acertamento – tornar-se certo o direito é, em
sede processual declarativa o ponto final da ação, enquanto que, na Ação Executiva e PEPEX é apenas o ponto de
partida.
8
Vem o artigo 703º “enumerar taxativamente”, enumerar taxativamente deverá ser entendido como “só são aceites
e veros Títulos Executivos aqueles aos quais a lei dotar de especial força executória, enumerar taxativamente não
deve ser considerado como “numerus clausus” pois existem outros artigos que enumeram títulos executivos como
o caso da nota discriminativa de honorários do AE acompanhada de notificação, ou até, existem títulos executivos
em outros documentos legais, como, exemplificando, o artigo 2º do DL nº269/98 DE 1 DE SETEMBRO

36
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

alem daqueles que se encontrem expressamente previstos em lei, e os quais cumpram os requisitos
por ela estipulados.
Para mais, e antes de detalhar os vários tipos de Título executivo, cumpre mencionar que existem títulos
executivos judiciais ou extrajudiciais. Os judiciais são aqueles que consubstanciam uma decisão
judicial que impõe a alguém uma prestação, e da qual a espécie mais importante será a sentença
condenatória. Também se incluem neste tipo os títulos de formação judicial que são, não decisões
proferidas pelo juiz, mas sim documentos ao qual o mesmo confere força executiva.
Já os títulos extrajudiciais são todos os outros que não são emanados por nenhum órgão
jurisdicional.
Dir-se-á que a obrigação é incerta quando não se encontra qualitativamente determinada sendo
necessário tornar certa a prestação identificando com rigor o objeto em que consiste. A incerteza da
obrigação pode verificar-se tanto quanto ao seu objeto, como acontece nas obrigações alternativas ou
genéricas, estes tipos de Títulos Executivos nunca podem ser fundamento ao PEPEX pois seguem
a forma Ordinária.
A obrigação é exigível quando se encontre vencida. Por fim, são ilíquidas as obrigações que tem por
objeto uma prestação que não esteja quantitativamente determinada, ou, por outras palavras, que
o seu valor ainda não está, ou ainda não pode ser, determinado.

O Requerimento Inicial – Artigos 4º a 8º


A Apresentação do Requerimento é feita pelo site: www.pepex.pt. Pela primeira vez na área da justiça,
qualquer cidadão, pessoa coletiva ou equiparada tem acesso direto e eletrónico aos procedimentos em
que figura como interveniente.

Distribuição – Artigo 6º
Após a entrega irá ser atribuído ao interveniente um número provisório no SISAAE e gerar-se-á um
indentificador único de pagamento – IUP – referente aos valores devidos pelo inicio do procedimento.
O pagamento deste deve ser efetuado até ao 5º dia útil seguinte ao da disponibilização do IUP, sob pena
de o requerimento ficar automaticamente sem efeito.
Efetuado o pagamento, o requerimento considera-se entregue e é automaticamente distribuído a um dos
agentes de execução que conste da lista dos agentes de execução que participam no PEPEX, através do
SISAAE, sendo disponibilizados ao requerente os elementos de identificação e o contacto do agente de
execução designado.
O requerente pode substituir o AE originalmente designado decorridos que sejam 15 dias após o termo
do prazo de que este dispõe para a prática dos atos. Sendo requerida a substituição é designado
automaticamente novo AE, sendo esta uma das diferenças entre o PEPEX e o Processo Executivo, o
requerente não pode escolher/designar AE.

Recusa e consulta de bases de dados – Artigos 8º e 9º


Remetido o requerimento ao AE, este tem 5 dias úteis para recusar, ou para realizar as consultas
previstas no artigo 9º e elaborar um relatório com base nas mesmas. Após a elaboração das consultas
o requerente é notificado para no prazo de 30 dias requer – artigo 11º -: ou a Convolação do PEPEX em
Processo Executivo, ou no caso de não terem sido identificados bens suscetíveis de penhora, a
notificação do Requerido nos termos do artigo 12º. A vontade do requerente manifesta-se mediante o
pagamento, através de um dos IUP que lhe são disponibilizados para cada uma das opções, de montante
correspondente aos honorários devidos ao agente de execução pelas diligências subsequentes. Decorrido
o prazo de 30 dias sem que o requerente proceda ao pagamento previsto no número anterior, o
procedimento é automaticamente extinto.

37
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

A notificação do Requerido – Artigos 12º a 14º


Na notificação discriminam-se os vários montantes correspondentes a cada uma das componentes que
integram os valores em divida, os juros vencidos até à data limite do pagamento e os impostos a que
possa haver lugar, e ainda os honorários devidos ao AE previstos no artigo 20º.
A notificação é acompanhada de cópia do Título Executivo e dos demais elementos e documentos que
instruem o procedimento, devendo da mesma constar advertência de que, nada fazendo, o requerido
passa a constar da lista pública de devedores.
A notificação é realizada por contacto pessoal do AE, o qual pode delegar a prática do ato noutro agente
de execução, sendo, neste caso, daquele a responsabilidade pelo pagamento da remuneração deste. A
notificação do referido que seja pessoa singular é realizada, em regra, por contacto pessoal na sua
morada ou no local de trabalho presumível mais atualizado.
A notificação do requerido enquanto pessoa coletiva ou equiparada é realizada também por contacto
pessoal do AE na respetiva sede, presumindo-se que é a mesma que se encontra inscrita no ficheiro
central de pessoas coletivas do RNPC.
Decorrido o prazo de 30 dias sobre a data da notificação do requerido sem que haja lugar a alguma das
situações previstas nas alíneas a) a d) do n.º 1 do artigo 12.º, o agente de execução procede à inclusão
do devedor na lista pública de devedores no prazo de 30 dias.

A Oposição
Esta é apresentada preferencialmente via CITIUS, sendo tramitada como “processo especial de oposição
a PEPEX”, os fundamentos admitidos são os da oposição à execução previsto no CPC de acordo com o
titulo executivo em causa – 729º a 731º e 857º CPC.
O regime processual é o da oposição à execução previsto no CPC e no RCP com especialidade – taxa
de justiça de 1.5 a 3 UC consoante o valor do procedimento seja até à alçada do TR ou superior. O não
pagamento da Taxa de Justiça, ou a não apresentação do comprovativo do pedido de Apoio Judiciário
são motivo de recusa da Oposição.
O requerente pode responder à oposição através da contestação. Caso apresentada ela obsta à
apresentação de uma ação executiva, e caso seja apresentada o AE extingue esse processo, se a oposição
for julgada procedente. Informa-se também que apenas é necessária a constituição de advogado nas
Oposições de valor superior à alçada do Tribunal de 1ª Instância – 5.000,00€.

A Certidão de Incobrabilidade – Artigo 25º


Após a inclusão do requerido na lista de devedores, o requerente pode obter uma certidão eletrónica de
incobrabilidade da dívida a emitir pelo AE. A divida referente à certidão é considerada incobrável para
fins fiscais e comunicada à administração Fiscal por via eletrónica, para efeitos do disposto nos artigos
78º/7 e 78º-A/4 do CIVA e 41º CIRC. Se, após a emissão da certidão de incobrabilidade da dívida, o
requerido vier a ser excluído da lista por pagamento integral da divida do requerente, o AE notifica, por
via eletrónica, a administração Fiscal desse facto.

A Convolação – Artigo 18º


A convolação do procedimento extrajudicial pré-executivo em processo de execução fica condicionada
à verificação cumulativa dos seguintes requisitos:

38
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

▪ Apresentação de requerimento executivo ou de requerimento de execução de decisão judicial


condenatória, consoante o caso, nos termos previstos nos números 1 a 5 do artigo 724.º do
Código de Processo Civil e respetivos diplomas regulamentares;
▪ Junção do relatório previsto no artigo 10.º
Em caso de convolação do procedimento em processo de execução não se repetem as diligências para
localização de bens penhoráveis, através das consultas às bases de dados, e a apresentação de relatório
elaborado na sequência das mesmas.

Novas Consultas após a Extinção – Artigo 19º


Nos procedimentos que tenham terminado sem a identificação de quaisquer bens penhoráveis e que não
tenham sido convolados em processos de execução, o requerente pode, no prazo de 3 anos após o termo
do procedimento, solicitar a realização de novas consultas.
A realização de novas consultas pelo agente de execução fica condicionada ao pagamento pelo
requerente dos honorários previstos para essa tarefa.

Honorários do Agente de execução


0.25 UC – 25.50€ Remuneração das entidades envolvidas na gestão e manutenção da
plataforma informática e serviços diretos eletrónicos de consulta.
0.50 UC – 51.00€ Análise do Título Executivo, realização de consultas e elaboração do
relatório – esta quantia e a anterior são pagas simultânea e antecipadamente
ao RI.
0.25 UC – 25.50€ Notificação a cada Requerido
0.25 UC – 25.50€ Emissão de certidão de incobrabilidade da dívida, após inclusão na lista
pública de devedores e a sua remessa eletrónica à administração Fiscal
0.15 UC – 15.30€ Renovação de Consultas
0.25 UC – 25.50€ Exclusão do requerido da lita pública de devedores – Pago pelo Requerido
Havendo Pagamento Remuneração adicional calculada nos termos previstos para as situações de
Voluntário ao AE pagamento em prestações no Processo Executivo – Portaria nº 331-B/2009
na redação da Portaria nº 225/2013 de 10 de julho

39
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Sumário de Prazos

40
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema IV – NRAU e Procedimento Especial de Despejo

Introdução
O Contrato de Locação
O contrato de locação trata-se de uma figura remota, já conhecida no Direito Romano como o: Locatio
Conductio Rei”, sendo definido no artigo 1022º CC como: o contrato pelo qua uma das partes se obriga
a proporcionar a outra o gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição”.
Desta definição é possível empreender as seguintes características: é um contrato de prestação
especifica: a prestação de gozo; tem um carácter transitório (em regra) – é feita por um período de tempo;
desempenha uma importante função económica; e importa realçar que nem sempre a locação deriva de
uma relação contratual, podendo derivar, por exemplo, de uma decisão judicial, como por exemplo o
arrendamento da casa morada de família em sede de rutura conjugal coligada com a falta de meios
económicos de um dos (ex)cônjuges.

O Tempo de Pagamento – a renda nunca constitui uma obrigação pura – 777º/1 CC uma vez que sendo
uma obrigação periódica haver-se-á de estipular o momento do seu vencimento, podendo socorrer-se do
disposto no artigo 1075º/2 e 1039º/1 CC, sendo que deve realçar-se o artigo 1076º visto que a
antecipação de rendas (vulgo caução) não pode ser superior a 3 meses.
Consequências da Mora – o artigo 1041º estabelece um regime especifico para a mora do
locatário/arrendatário, prevendo que o locador/senhorio tem o direito de exigir para além das rendas em
atraso uma indeminização de 20% do que for devido, salvo se o contrato for resolvido, aspeto que o
legislador concluir suportar a mora. Também a lei, no nº 2 do suprarreferido artigo estabelece que existe
uma “tolerância” de 8 dias. Nada impede a que as partes estipulem uma cláusula penal moratória para
cobrir o atraso, mesmo no caso em que haja a resolução do contrato.
Para além disto existem as Garantias do Contrato, sendo que a mais comum, segundo Menezes Leitão,
é a fiança com a renuncia do fiador do beneficio da excussão prévia, importa referir que, o artigo 655º
CC indicava que o fiador era apenas responsável pelo período inicial do contrato, acontece que o artigo
2º do NRAU revogou este mesmo, sendo a regra geral a de que a fiança mantém-se durante todo o
período de vigência do arrendamento, como ensina Menezes Leitão.

41
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Modos de Extinção do Contrato de Locação

▪ Revogação – situação em que as partes põem fim ao contrato celebrando um distrate – contrato
extintivo – o que é admissível, nos termos gerais por mútuo consentimento.
No caso especifico do arrendamento urbano “as partes podem a todo o tempo, revogar o
contrato, mediante acordo a tanto dirigido” – 1082º/1 – “estando sujeito a forma escrita –
1082º/2.
▪ Resolução –
Pelo Locador – pode resolver o contrato com fundamento no incumprimento das
obrigações do locatário – 801º CC – devido a este ser um contrato sinalagmático –
sinalagma funcional – tendo, no caso do arrendamento urbano, a resolução ter por base
um dos fundamentos elencados no artigo 1083º CC.
Pelo Locatário – pode resolver segundo as razões do artigo 1050º obedecendo aos
formalismos do artigo 9º NRAU.
▪ Caducidade – 1051º CC
▪ Denúncia – especifico para contrato por tempo indeterminado – 1099º CC – e pelas razões
estipuladas nos artigos 1100º - denúncia pelo arrendatário – e 1101 – denúncia pelo senhorio.
▪ Oposição à renovação – especifico para contrato com termo – 1095º CC – sendo que nos
termos do artigo 1054º e 1096º CC o contrato renova-se salvo estipulação em contrário ou
oposição de uma das partes. A Oposição segue os prazos previstos nos artigos 1097º e 1098º
CC.

Do PED em Especial
O procedimento especial de despejo – artigos 15º a 15º-S do NRAU – passa a constituir o meio
processual mais expedito para efetivar a cessação do contrato de arrendamento, independentemente
do fim a que se destina quando arrendatário não desocupe o locado na data prevista em lei ou em data
prevista fixada na convenção entre as partes – 15º/1.
Em cada PED só pode ser requerida a desocupação de um imóvel, salvo se se encontrarem no mesmo
conselho e se existir uma dependência funcional entre eles.
Os títulos para a interposição do procedimento especial de despejo variam consoante as diversas causas
de despejo, a saber: Art.º 15.º/2
▪ Em caso de revogação, o contrato de arrendamento, acompanhado de acordo previsto no
n.º 2 do art.º 1082.º do CC;
▪ Em caso de caducidade do contrato de arrendamento pelo decurso do prazo, não sendo
este razoável, o contrato escrito donde conste a fixação desse prazo;
▪ Em caso de cessação por oposição à renovação, o contrato de arrendamento acompanhado
do comprovativo de comunicação pelo senhorio, prevista no art.º 1097.º, n.º 1 do CC,
acompanhado do comprovativo de comunicação pelo arrendatário, prevista no art.º 1098.º,
n.º 1 do CC;
▪ Em caso de denúncia por comunicação pelo senhorio, o contrato de arrendamento,
acompanhado do comprovativo da comunicação prevista no art.º 1101.º, al. c) ou art.º
1103.º, n.º 1 do CC ou da comunicação a que se refere a al. a), do n.º 5 do art.º 33.º da
RNRAU. Para estes efeitos, o comprovativo da comunicação prevista no art.º 1103.º, n.º 1
CC é acompanhado dos documentos referidos nos n.º 2 e 3 do mesmo artigo ou, sendo caso
disso, de cópia da certidão a que se refere o n.º 7 do art.º 8.º do DL 157/2006 de 8 de agosto,
que aprova o regime jurídico das obras em prédios arrendados.
▪ Em caso de resolução por comunicação, o contrato de arrendamento, acompanhado da
comunicação do senhorio, prevista no n.º 2 do art.º 1084.º do CC, bem como, quando

42
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

aplicável, do comprovativo, emitido pela autoridade competente, da oposição à realização


da obra;
▪ Em caso de denúncia pelo arrendatário, nos termos dos nº 3 e 4 do art.º 1098.º CC e dos
art.º 34.º e 53.º do NRAU, o comprovativo da comunicação da iniciativa do senhorio e o
documento de resposta do arrendatário.
O Requerimento
Segundo o artigo 15º/4 NRAU, constitui condição “sine qua non” para a apresentação do requerimento
com vista ao procedimento especial de despejo:
▪ a junção do comprovativo do pagamento do imposto do selo ou
▪ o comprovativo da declaração das rendas para efeitos de IRS ou IRC
Já o Artigo 15º/5 refere que desde que tenha sido comunicado ao arrendatário o montante em dívida,
salvo se previamente tiver sido intentada ação executiva, podem ser deduzidos cumulativamente:
▪ Pedido de pagamento de rendas, encargos ou despesas que corram por conta do arrendatário
▪ Pedido de despejo
Não é possível deduzir, no BNA, um pedido de pagamento de rendas, encargos ou despesas, contra
devedores subsidiários da obrigação do arrendatário (DL 1/2013, preâmbulo)
O BNA – Balcão Nacional de Arrendamento – é a entidade competente para, em todo o território
nacional, assegurar a tramitação do PED, sob a égide dos artigos 15º-A/1 e 2 NRAU e artigo 2º DL nº
1/2013.
O requerimento de despejo deverá ser apresentado em modelo próprio, no BNA. art.º 15.ºB/1
No requerimento para despejo deve o requerente: identificar as partes; indicar o tribunal competente
para apreciação dos autos se forem apresentados à distribuição; indicar o lugar onde deve ser feita a
notificação; indicar o fundamento do despejo; indicar o valor da renda; …. art.º 15.ºB/2. Sendo o local
arrendado casa de morada de família, deve identificar os nomes e domicílios de ambos os cônjuges. art.º
15.ºB/3.
O procedimento especial de despejo considera-se iniciado: art.º 15.ºB/8
▪ Na data do pagamento da taxa devida;
▪ Ou na data em que foi entregue o documento comprovativo do pedido ou da concessão de apoio
judiciário, na modalidade de dispensa ou pagamento faseado de taxa de justiça e dos demais
encargos com o processo.
Recusa de requerimento:
▪ Causas de recusa: art.º 15.ºC/1 NRAU
▪ Nos casos em haja recusa, o requerente pode apresentar outro requerimento no prazo de 10 dias
subsequentes à notificação daquela. art.º 15.ºC/2 NRAU.

O BNA expede imediatamente notificação para o requerido, por carta registada com AR, para em
15 dias: art.º 15.ºD/1/al. a e b NRAU
▪ Desocupar o locado + pagar a quantia pedida acrescida da taxa de justiça;
▪ Deduzir oposição à pretensão
As comunicações e notificações no âmbito do procedimento especial de despejo encontram-se
regulamentadas nos artigos 15.º e 16.º Portaria n.º 9/2013, de 10 de Janeiro

43
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

O BNA converte o requerimento de despejo em título para desocupação do locado se - Art.º 15.ºE/1
NRAU:
▪ Depois de notificado, o requerido não deduzir oposição no respetivo prazo;
▪ A oposição se tiver por não deduzida;
▪ Na pendência do procedimento especial de despejo, o requerido não proceder ao pagamento ou
depósito das rendas que se forem vencendo.
O requerido pode opor-se à pretensão no prazo de 15 dias a contar da sua notificação; art.º 15.ºF/1
NRAU
▪ A oposição não carece de forma articulada; art.º 15.ºF/2 NRAU
▪ É obrigatória a constituição de advogado para a dedução de oposição ao requerimento de
despejo, devendo igualmente as partes representar-se por advogado nos atos subsequentes à
distribuição. art.º 15.ºS, n.º 3 e 4 NRAU.
O procedimento especial de despejo extingue-se pela desocupação do locado, por desistência e por
morte do requerente ou do requerido; art.º 15.ºG/1 NRAU. E requerente pode desistir do procedimento
até à dedução da oposição ou, na sua falta, até ao termo do prazo de oposição; art.º 15.ºG/2 NRAU
Estão sujeitas a distribuição:
▪ A oposição do requerido (art.º 15.ºH/1)
▪ A autorização judicial para entrada imediata no domicílio (art.º 15.ºL, n.º1 e 15.ºS, n.º 6 NRAU)
▪ A suspensão da desocupação do locado (art.º 15.ºM, n.º 3 e 15.ºS, n.º 6 NRAU)
▪ O diferimento da desocupação do imóvel arrendado para habitação (art.º 15.ºN, n.º 1 e 15.ºS,
n.º 6)
▪ Todos os demais atos que careçam de despacho judicial (art.º 15.ºS, n.º6)
A audiência de julgamento realiza-se no prazo de 20 dias a contar da distribuição. (art.º 15.ºI/1 NRAU).
Havendo título ou decisão judicial para desocupação d locado, o agente de execução, o notário ou, na
falta destes ou sempre que lei lhe atribua essa competência, o oficial de justiça desloca-se imediatamente
ao locado para tomar a posse do imóvel, lavrando auto de diligência. (art.º 15.ºJ/1 NRAU). O título para
desocupação do locado, quando tenha sido efetuado o pedido de pagamento das rendas, encargos ou
despesas em atraso, e a decisão judicial que condene o requerido no pagamento daqueles constituem
título executivo para pagamento de quantia certa. (art.º 15.ºJ/5 NRAU)
Caso o arrendatário não desocupe o domicílio de livre vontade ou incumpra o acordo previsto no n.º 2
do art.º 15.ºJ e o procedimento especial de despejo não tenha sido distribuído a juiz, o agente de
execução, o notário ou o oficial de justiça apresenta requerimento no tribunal judicial da situação do
locado para, no prazo de 5 dias, ser autorizada a entrada imediata no domicílio. (art.º 15.ºL/1 NRAU)
Aquele que fizer uso indevido do procedimento especial de despejo do locado incorre em
responsabilidade nos termos da lei. (art.º 15.ºR/1 NRAU)
Incorre na prática do crime de desobediência qualificada quem infrinja a decisão judicial de desocupação
do locado. (art.º 15.ºR/4 NRAU)
O Tribunal competente para todas as questões suscitadas no âmbito do procedimento especial de
despejo é o da situação do locado. (art.º 15.ºS/7 NRAU)
Os atos a praticar pelo juiz no âmbito do procedimento especial de despejo assumem carácter urgente.
(art.º 15.ºS/ 8 NRAU)
O valor do procedimento especial de despejo é o correspondente a 2 anos e ½ de renda, acrescido do
valor das rendas em dívida – art.º 26.º DL 1/2013, de 7 Janeiro

44
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Aos prazos do procedimento especial de despejo aplicam-se as regras do CPC, não havendo lugar à
suspensão durante as férias judiciais, nem a qualquer dilação (art.º 15.ºS, n.º 5 NRAU).

Caso Prático …
F é proprietário de um imóvel sitona Avenida Getúlio Vargas, nº0000, 2º piso, em Lisboa, o qual foi
locado para S. Tal locação, segundo o contrato, se destinava para fins unicamente residenciais, tendo
uma vigência de dois anos, a contar de dia 17/1/17.
Pela locação ficou acordado entre as partes o pagamento de rendas mensal no valor de 500€ acrescido
de despesas de água, luz e eletricidade. Ocorre que a locatária ocupa o referido imóvel até à presente
data – 17/11/19 – recusando a desocupá-lo e a pagar as rendas em atraso, encontrando-se em situação
de inadimplência em relação aos últimos 4 meses.
Todas as tentativas amigáveis empregadas por F para que S desocupasse o imóvel e saldasse os seus
débitos pendentes se resultaram frustradas.
1. Em face de esta situação hipotética, na qualidade de solicitador contratado por F, diga quais os
passos deverá seguir e qual o meio processual mais célere para fazer valer o direito.
2. Imagine que a arrendatária paga as rendas, mas não procede aos valores devidos a titulo de
água e eletricidade à 5 meses.
3. Imagine que a locatária decide opor-se à ação e, para tal, envia para o tribunal apenas o texto
da oposição e o comprovativo de taxa de justiça respetiva.
4. Suponha que S tem uma incapacidade comprovada de 30%, como seu mandatário aconselhava-
a a solicitar um pedido de diferimento de desocupação? Se sim, em que altura deve este pedido
ser realizado?
5. O cônjuge de S está com uma gripe aguda e diz-lhe que a sua saúde será muito afetada caso o
despejo ocorra imediatamente. Existe alguma forma de “ganhar tempo” para a realização do
despejo?
6. S decide.se opor ao despejo, mas não pretende constituir mandatário.
7. F não pagou o IS, nem declarou a renda no IRS.
8. Imagine que F não tem fundamento para despejar S porque ela tem a renda paga.
Resolução:
1. No caso descrito é nos apresentado, em primeiro lugar, um contrato de locação, que no âmbito
se estipula ser um Arrendamento Urbano para Fins Habitacionais. Ainda introduzindo a renda
nunca constitui uma obrigação pura – 777º CC – sendo que deve estipular-se o momento do seu
vencimento, sendo que, caso não haja estipulação contratual – 405º CC – existe um prazo
supletivo dado por lei, no âmbito 1075º/2 e 1039º/1 CC.
Na lei são apresentados 5 modos de extinção deste contrato sendo: Caducidade, Revogação,
Resolução, Denuncia ou Oposição. No caso concreto, trata-se de uma extinção por Resolução
pelo Senhorio, visto que a Locatária ou Arrendatária não cumpriu com uma das obrigações
elencadas em lei – 1083º CC. Também poderia argumentar-se que se trata de uma extinção por
Caducidade, temo, porém, não concordar, pois não existe informação acerca da não renovação
do contrato que sustente essa mesma teoria.
Finda a resolução, para o caso concreto aconselharia F a prosseguir com um Procedimento
Especial de Despejo – doravante designado PED – que se encontra estipulado nos artigos 15º a
15º-S. Este caracteriza-se por ser um modo expedito para efetivar a cessação do contrato de
arrendamento – 15º/1.
Para o âmbito o requerente detém dois modos

45
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Tema V - Os Meios Alternativos de Resolução de Conflitos


O movimento da Resolução Alternativa de litígios brotou nas décadas de sessenta e setenta do século
XX. Nasceu nos EUA e posteriormente alcançou a Europa. Como o próprio nome indica estes meios
são formas de resolvermos conflitos de uma maneira diferente, em alternativa ao modo mais comum
que é indubitavelmente os tribunais judiciais.
Os MARL não servem para substituir os meios judiciais, mas sim completá-los.
“Trata-se de um modo diferente de abordar e neutralizar a conflitualidade, como vimos, com
proximidade, informalidade, privilegiando a verdade material em detrimento da atividade
prossecução, que passa a um plano secundário, ainda a custo mais baixo com credibilidade
concorrendo para a pacificação social.”9
Os MARL têm características comuns tais como:
▪ Celeridade – um dos principais motivos para o surgimento destes meios foi, sem dúvida,
combater a elevada morosidade dos tribunais estaduais;
▪ Voluntariedade – a Autonomia da Vontade das Partes é condição essencial para o
funcionamento destes – exceto na Arbitragem Necessária;
▪ Redução de Custos – é uma forma de justiça mais económica;
▪ Maior Intervenção das Partes – as partes são mais participativas no processo de resolução
de litígios;
▪ Privacidade – são meios de justiça privada.
Também existem diferenças entre os vários MARL tais como:
▪ Meios Adjudicatórios – atribuem o poder de decisão a um terceiro – arbitragem
▪ Meios Consensuais – visam resolver o litigio através da obtenção de um acordo, continuando
o poder de decisão nas mãos das partes.
▪ Voluntário ou Obrigatório;
▪ Centrado nos Interesses ou Centrado nos Direitos;
Os MARC têm sucesso não só pelo desafogar que proporcionam aos tribunais, mas também pelas suas
próprias qualidades como a informalidade, a celeridade, o baixo custo, a maior intervenção das
partes, a procura de uma solução que satisfaça os interesses de ambas as partes, salvaguardando assim
as relações existentes ao invés de aumentar ainda mais a conflituosidade entre as partes. Não podemos,
de modo algum, considerar estes meios como uma segunda justiça, mas sim, como o complemento da
mesma.

Negociação
É um meio de resolução de conflitos através do qual as partes interessadas modificam as suas exigências
até alcançarem um compromisso que satisfaça ambas – Pedro Cunha.
Neste sentido, há quem argumente que a negociação é apenas uma componente essencial de qualquer
meio de resolução alternativa de conflitos, diferentemente da mediação, não há um terceiro a intervir,
daí que se considere a negociação como uma primeira abordagem para depois se passar especificamente
aos MARC. E que, por isso, não deveria ser autonomizada. Ou seja, a negociação é o diálogo inicial
entre as partes para escolher a melhor forma de resolver o seu conflito cedendo por muitas vezes
uma parte perante a outra até chegarem a um consenso. Na Negociação são as partes a argumentar,

9
Cardona Ferreira, “Justiça de Paz – Julgados de Paz”, 2005, p. 52

46
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

e não um 3º, são elas que dialogam até alcançarem um consenso. O acordo obtido através de negociação,
à partida, não é obrigatório, só será se lhe for atribuída juridicidade.

Negociação Competitiva Negociação Cooperativa


O negociador pretende Foco na Resolução do Problema
ganhar a discussão
As diferenças são os resultados pretendidos e a atitude negocial
Centra-se em quatro grupos:
▪ Pessoas - O problema em discussão é diferente da pessoa que
discute, aspetos estritamente pessoais não devem ser mais
importantes que o assunto sobre o qual se negoceia;
▪ Interesses – Foco nos interesses em detrimento das posições
/ pretensões. O interesse final das pessoas pode ser obtido
através de diversas posições jurídicas diferentes.
▪ Opções - A atividade criadora: a capacidade de inventar
opções é das qualidades mais úteis que um negociador pode
ter
▪ Critérios objetivos - Padrões técnicos ou critérios neutrais
que mais facilmente conduzam ao acordo

Mediação
De acordo com o artigo 2º/a da Lei nº 29/2013 – Lei da Mediação – a mediação é “a forma de resolução
alternativa de litígios, realizada por entidades públicas ou privadas, através do qual duas ou mais partes
em litigio procuram voluntariamente alcançar um acordo com assistência de um mediador de conflitos”.
Ou seja, na mediação, as partes são auxiliadas por um mediador, que é um 3º imparcial, que estará
presente para ouvir e esclarecer as partes do litígio e, acima de tudo, para as ajudar a comunicar uma
com a outra para que consigam chegar a um acordo, resolvendo assim o conflito.
Ao longo do procedimento de mediação têm de ser observados os seguintes princípios:
▪ Princípio da Voluntariedade – Artigo 4º - Só existe se as partes a iniciarem e termina quando
estas pretenderem, sendo as partes responsáveis por todo o processo de mediação;
▪ Princípio da Confidencialidade – Artigo 5º - este princípio vincula o mediador ao dever de
sigilo sobre todas as informações obtidas no âmbito do procedimento de mediação, só podendo
cessar este dever por motivos de ordem púbica. Acrescente-se que o facto de os mediadores
não poderem vir a ser arrolados como testemunhas está também salvaguardado por este
princípio.
▪ Princípio da Igualdade e da Imparcialidade – Artigo 6º - o P. da Imparcialidade obriga a
que o mediador revele todas as circunstancias que possam suscitar dúvidas sobre a sua
imparcialidade, também presente no Artigo 27º - Obrigação de disclosure. As razões estão
presentes no Artigo 27º/4. O Mediador não deve proferir opiniões que influenciem as partes;
já o P. da Igualdade obriga a que seja concedido tratamento idêntico a ambas as partes;
▪ Princípio da Independência – Artigo 7º - Impõe a obrigação de o mediador agir livremente,
sem pressões;
▪ Princípio da Competência e da Responsabilidade – Artigo 8º - segundo o P. da Competência,
o mediador deve ter as competências necessárias ao exercício da sua atividade; já o P. da
Responsabilidade consagra a possibilidade civil do Mediador quando incumpra os deveres a
que fica vinculado no exercício da sua função.
▪ Princípio da Executoriedade – Artigo 9º - A própria Diretiva 2008/52/CE estabelece no seu
artigo 6.º, que os Estados-Membros devem assegurar às partes a possibilidade de estas

47
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

requererem “que o conteúdo de um acordo escrito, obtido por via de mediação, seja declarado
executório”, desde que seja obtido o consentimento de ambos os lados. Assim, o acordo final
poderá ser executado como uma sentença executada por um tribunal e não dependerá apenas
da boa vontade das partes para o seu cumprimento. O nosso CPC respeitou a disposição da
Diretiva através da introdução do artigo 249.º-B que tinha justamente por epígrafe
“Homologação de acordo obtido em mediação pré-judicial”; no entanto, este artigo foi
recentemente revogado pela Lei n.º 29/2013, que por sua vez passou a prever esta matéria no
seu artigo 14.º, com epígrafe “Homologação de acordo obtido em mediação”, assunto a ser
analisado a posteriori.
Nota de aula: Postura do mediador – o mediador auxilia, o mediador assiste: não dirige, não impõe
qualquer acordo. A sua função é simplesmente a de ajudar as partes, primeiro, a restabelecer a
comunicação, e, segundo, a encontrar a solução adequada. A doutrina tem debatido se a mediação deve
ser meramente facilitadora ou se deve também ser interventora. A noção assistencial ou facilitadora da
mediação é a atualmente estabelecida no ordenamento jurídico português.
O mediador de conflitos tem o dever de:
▪ Abster-se de impor qualquer acordo aos mediados, bem como fazer promessas ou dar garantias
acerca dos resultados do procedimento, devendo adotar um comportamento responsável e de franca
colaboração com as partes; art.º 26.º, al. b) LM.

Reforça a ideia do Mediador visto como facilitador - Auxilia as partes a comunicarem,


conduzindo-as ao caminho do acordo que entendam possível ou adequado. Coloca as partes no
trilho seguro e não as deixa desviar dos seus reais interesses.
Um dos pilares básicos da mediação é o controlo desta pelas partes – empowerment. Aqui parte-se
do princípio de que as partes são as pessoas melhor colocadas para resolver o seu litígio. Há uma ideia
de responsabilidade pessoal que se traduz na atribuição às partes do domínio do problema e do
processo, este fator também se releva no facto de as partes poderem, em qualquer momento, abandonar
a mediação, isto é, nada aas obriga a alcançar um acordo.
A doutrina maioritária entende que o mediador não deve de todo intervir quanto ao mérito, limitando-
se a conduzir as partes no caminho do diálogo e da mútua compreensão, com o fim de que estas reúnam
as condições para encontrarem, por si, o acordo.
Outro pilar da mediação relaciona-se com o seu fim. Ao contrário dos meios clássicos de resolução
de conflitos, que são construídos para a resolução da disputa apresentada pelas partes, a mediação dá
preferência à pacificação social, isto é, tem como objetivo sanar o problema, restabelecendo a paz social
entre os litigantes.
Trata-se, portanto, de um método de resolução de litígios assente nos interesses e não nos
direitos.
Qual o problema? Qual a necessidade de cada um? Objetivo: não há vencedores, nem vencidos.
A função do advogado, advogado estagiário e solicitador
▪ As partes podem comparecer pessoalmente ou fazer-se representar nas sessões de mediação,
podendo ser acompanhadas por advogados, advogados estagiários ou solicitadores. (art.º 18.º,
n.º 1 LM). Regra é permissão do acompanhamento.
▪ Os atos constitutivos ou regulatórios dos sistemas públicos de mediação podem determinar a
obrigação de as partes comparecerem pessoalmente nas sessões de mediação, não sendo
possível a sua representação. (art.º 36.º LM).

48
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

A mediação pode ser integrada no sistema de justiça de várias maneiras. Pode estabelecer-se a
obrigatoriedade da mediação ou criar sistemas de mediação facultativos – como em Portugal.
Contudo, nos últimos anos têm surgido algumas regras que sancionam a não utilização dos sistemas de
mediação.
O autor que, podendo recorrer a estruturas de resolução alternativa de litígios, opte pelo recurso ao
processo judicial, suporta as suas custas de parte independentemente do resultado da ação, salvo quando
a parte contrária tenha inviabilizado a utilização desse meio de resolução alternativa do litígio. Art.º
533.º/4 CPC.
Os sistemas de mediação instituídos no nosso país são, em regra, voluntários:
▪ Art.º 3.º/5 Lei da Mediação Penal
▪ Art.º 2.º SMF
▪ No procedimento dos Julgados de Paz, a mediação constitui uma fase do processo, entre
as alegações e o julgamento – art.º 49.º/1 LJP.

Fases da Mediação
Uma das consequências da informalidade do processo de mediação é precisamente a dificuldade em
conseguir tipificar as suas fases, já que estas podem variar em função das especificidades de cada caso
concreto. Contudo, deverão existir sempre alguns momentos obrigatórios, independentemente da fase
do processo onde se verifiquem.
CHRISTOPHER MOORE identifica cinco fases anteriores ao início da sessão da mediação:
constituição de um relacionamento com as partes; escolha da estratégia da mediação; recolha de
informação sobre as partes e o conflito; programação detalhada da mediação; estabelecimento de
confiança e cooperação.
No modelo de BROWN e MARRIOTT as fases são apenas três: introdução das partes na mediação;
compromisso e acordo sobre as regras da mediação; comunicação preliminar e preparação da sessão.
Por regra, algumas destas funções, em Portugal, correspondem à fase de pré-mediação -16º/1 - e, se
as partes concordarem com a mediação, passa-se à mediação propriamente dita, servindo o tempo
entre uma e outra para amenizar os sentimentos adversarias entre os litigantes. A pré-mediação é, então,
a fase ideal para o mediador ganhar a confiança das partes, uma vez que corresponde ao momento
em que elas têm um primeiro contacto com ele. Ainda nesta fase, devem ser esclarecidas algumas
questões, tais como em que consiste a mediação, como funciona, quais as suas fases, os seus objetivos,
as suas regras e se será ou não o meio adequado para resolverem o seu conflito.
As partes, por sua vez, devem manifestar concordância ou não em resolver esse problema recorrendo à
mediação, escolher o(s) mediador(es) e, por fim, manifestar a sua predisposição para colaborar no
processo de maneira a alcançar um possível acordo. Torna-se ainda necessário acertar determinados
aspetos relativos ao processo como o local, a data e a duração das sessões, tendo em conta que todas as
informações necessárias devem ser prestadas de forma clara e suficientemente completas.
O acordo das partes para prosseguir o procedimento de mediação manifesta-se na assinatura de um
protocolo de mediação. Art.º 16.º/2 LM.
▪ Recurso à mediação suspende prazos de caducidade e prescrição a partir do momento em que é
assinado protocolo de mediação – Artigo 13.º.

49
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Na fase da mediação propriamente dita, as partes trabalham em conjunto com o mediador, falam sobre
o conflito, das necessidades e interesses que visam alcançar, ou seja, verifica-se um envolvimento dos
participantes em todos os momentos do seu procedimento.
Devem ainda ser observados os vários modelos de mediação, considerados formas específicas de agir
tecnicamente ou metodologias de boa prática, salientando-se que usualmente é adotado o Modelo
Tradicional de Harvard ou mediação avaliativa. Este modelo dá preferência ao uso de critérios objetivos
e é essencialmente orientado por princípios como a separação das pessoas em relação ao problema, que
ao centrar-se nos seus interesses e não nas suas posições permite criar opções para benefício mútuo.
Convenção de Mediação – Artigo 12º

Conciliação
De todos os MARL a conciliação é o meio mais parecido com a mediação. A grande diferença é que o
mediador é mais ativo no processo, intervém com sugestões, alerta as partes se achar que aquela solução
as vai prejudicar, já o conciliador apenas esclarece as duvidas que as partes possam ter e incentiva o
dialogo entre as mesmas.
Como é obvio o conciliador tal como o mediador tem de ser um 3º imparcial.
A conciliação poderá ser realizada dentro ou fora de um processo em curso, sendo, no 1º caso,
obrigatória ou facultativa, sendo, no 2º sempre voluntária.
Nota de Aula: É há muito utilizada nos tribunais judiciais (conciliação jurisdicional):
▪ Art.º 594.º /3 CPC – Em qualquer momento;
▪ Art.º 604.º/2 CPC – Audiência Final;
▪ Art.º 26.º /1 LJP – Prévio à Decisão.
A conciliação jurisdicional comporta em si uma característica que faz toda a diferença: as partes estão
perante quem decide
Para além disso, não há confidencialidade na conciliação, uma característica essencial da mediação.
Litígios conciliáveis:
▪ Até 2012, data da entrada em vigor da nova LAV, o critério que determinava que litígios
podiam ser objeto de arbitragem, de mediação e de conciliação era o mesmo: o critério da
disponibilidade do direito em litígio
▪ Em 2011, o critério foi alterado na arbitragem para o da patrimonialidade; em 2013 o mesmo
foi feito para a mediação.
▪ Porém, quanto à conciliação manteve-se o requisito – a disponibilidade do direito (art.º
289.º CPC)

Julgados de Paz
Os julgados de paz não são um MARC, mas sim Verdadeiros Tribunais onde se reúnem os MARC numa
única instituição. Ou seja, um processo que decorra num Julgado de Paz pode ser resolvido por
mediação, conciliação ou por Julgamento.
Os Julgados são verdadeiros Tribunais, previstos na CRP 209º/2, e foram criados pela Lei nº 78/2001.
São tribunais diferentes dos normais: praticam uma justiça alternativa, onde se procura resolver conflitos
através da obtenção de acordos, através de fases mediação e conciliação. Por estes factos, nestes
tribunais há uma maior proximidade com a justiça.

50
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

São tribunais extrajudiciais que tem competência exclusiva em ações declarativas cíveis – exceto ações
que envolvam o Direito da Família, Direito das Sucessões ou Direito do Trabalho, como refere o artigo
9º - cujo valor não ultrapasse os 15.000€ - Artigo 8º.
Como podemos retirar do artigo 2º da LJP, os Julgados de Paz no decorrer da sua atividade devem
permitir e incentivar a participação cívica dos interessados, criando assim condições para que o conflito
se resolva através de um acordo entre as partes. Estes tribunais Extrajudiciais têm também que obedecer
a certos princípios tais com: P. da simplicidade, Adequação, Oralidade, Informalidade e Economia
Processual.

Princípios
▪ Princípio da Participação – as partes vão ser ativas naquele processo, ao contrário do que
acontece com o procedimento judicial, onde raramente as partes falam.
▪ Princípio do Estimulo ao acordo – está relacionado com o P. da participação, tanto os juízes
como as partes vão fazer os possíveis para obter um acordo, mas não pode haver exageros, o
juiz deve ter sensibilidade para perceber quando um acordo não será possível.
▪ Principio da Simplicidade – para o processo ser mais célere é essencial eliminar tudo o que
seja apenas um formalismo, que não seja verdadeiramente útil.
▪ Principio da Adequação – o modo como os atos decorrem devem ter sempre em vista o fim
do processo;
▪ Princípio da Informalidade – o que deve prevalecer é o conteúdo dos atos e não a sua forma,
este principio diz respeito à relação entre as partes e os servidores daquele tribunal,
▪ Princípio da Oralidade – está relacionado com a proximidade das partes que caracteriza os
julgados de paz;
▪ Principio da Economia Processual – os atos processuais devem ser reduzidos ao
especificamente necessário.

Tramitação Processual
Quanto à tramitação processual nos julgados de paz – se as partes estiverem de acordo, primeiro há uma
tentativa de resolução do conflito através de mediação, as partes têm a possibilidade de resolver o seu
litígio de uma forma amigável e com a ajuda de um mediador. Se chegarem a uma conclusão, ou seja,
se tomarem uma decisão para a resolução do seu conflito, são apenas elas as responsáveis e não o
mediador. Caso a mediação não resulte, o processo continua e o juiz de paz marca uma data para a
audiência de julgamento. Contudo, no momento do julgamento, o juiz pode ainda tentar a conciliação,
dando sugestões, auxiliando as partes a chegar a um acordo. Se não chegarem a uma solução através da
conciliação, prossegue o julgamento e o juiz de paz profere uma decisão justa, imparcial e independente.
Para esse efeito é necessário que oiça as partes, que sejam produzidas provas, para depois se tomar essa
decisão.
Para terminar, é importante referir também que as decisões proferidas pelos julgados de paz têm o valor
das sentenças proferidas pelos tribunais de 1ª instância – artigo 61º da LJP.
Nota de aula:
Nos Julgados de Paz a tramitação processual tem uma forma própria e simplificada, podendo,
inclusive, as partes apresentarem as peças processuais oralmente.
Os litígios que dão entrada nestes Tribunais podem ser resolvidos na decorrência de mediação,
conciliação, transação ou por meio de julgamento e consequente sentença.
A mediação só tem lugar quando as partes estejam de acordo e visa proporcionar às partes a
possibilidade de resolverem as suas divergências através de uma forma amigável que conta com a
intervenção do mediador, que é um terceiro imparcial.

51
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Caso a mediação não resulte em acordo, o processo segue os seus trâmites e o Juiz tenta a
conciliação.
▪ Caso não se alcance conciliação há lugar ao julgamento, presidido pelo juiz de paz, sendo
ouvidas as partes, produzida a restante prova e, finalmente, proferida a sentença pelo juiz de
paz. Naturalmente, pode haver transação entre as partes sozinhas, por sua exclusiva iniciativa.
O processo nos julgados de paz inicia-se pela apresentação do requerimento na secretaria do
julgado de paz, verbalmente ou por escrito, e pode ser apresentado pelo próprio demandante ou
por procurador com procuração forense com poderes gerais.
▪ Citação do demandado e convite para
resolver o litígio através da mediação.
▪ Se o processo for resolvido na base da
mediação, termina com a homologação do
acordo, por sentença do Juiz de Paz.
▪ Se o processo não for resolvido na base
da mediação, o mesmo é concluído com a
intervenção do juiz de paz por uma de duas
vias:
▪ Conciliação, em momento prévio ao
julgamento e consequente sentença de
homologação.
▪ Sentença, em sede de audiência de
julgamento.
Recurso:
As decisões proferidas nos processos cujo valor exceda metade do valor da alçada do tribunal judicial
de 1.ª instância (a partir de € 2.500) podem ser impugnadas por meio de recurso a interpor para o tribunal
judicial de comarca em que esteja sediado o julgado de paz. As partes devem comparecer pessoalmente,
podendo, se o desejarem, fazer-se acompanhar por advogado, advogado estagiário ou solicitador.
Todavia, a constituição de advogado é obrigatória nos casos especialmente previstos na lei e quando
seja interposto recurso da Sentença.
Taxas:
A utilização dos Julgados de Paz está sujeita a uma taxa única no valor de € 70, que pode ser repartida
entre o demandante e o demandado, se tal se justificar, conforme o resultado do processo. Se houver
acordo durante a mediação, o valor a pagar é de € 50, dividido por ambas as partes. Caso o litígio esteja
excluído da competência do Julgado de Paz e seja utilizado o serviço de mediação é devida uma taxa de
€ 25 por cada um dos intervenientes. Nos casos previstos na lei, pode haver lugar a Apoio Judiciário nos
processos que corram os seus termos nos Julgado de Paz.
Vantagens:
▪ Rapidez, porque nos Julgados de Paz o processo termina, normalmente, em média, em 3 meses;
▪ Custo reduzido;
▪ Resolver mais litígios por acordo entre as partes, através da mediação, da conciliação e da
transação;
▪ Resolver litígios de forma mais próxima do cidadão, pois os cidadãos participam ativamente no
processo, percebendo e contribuindo para a resolução do seu litígio, visto que o Julgado de Paz
deve elucidar os interessados sobre a tramitação dos processos.

52
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

Arbitragem
Arbitragem Voluntária
A Arbitragem Voluntária é regulada pela Lei nº 63/2011. Nestas partes confiam a resolução do seu
litigio a um Tribunal Arbitral, para tal, celebram uma convecção de arbitragem que serve para expor
essa vontade, esse acordo entre as partes. Esta convenção arbitral reveste duas modalidades: o
compromisso arbitral – quando o litigio já existe e a atribuição à arbitragem seja posterior – ou a
cláusula compromissória – quando o litígio ainda não existe, mas fica regulado que se ele existir será
resolvido pela Arbitragem.
Para resolver o conflito existente, as partes atribuem a um 3º, denominado de árbitro, o poder de tomar
uma decisão com força idêntica à de uma sentença de um Tribunal Judicial. Alem deste poder, as partes
podem também conferir os poderes de rever, atualizar ou completar os contratos ou as relações jurídicas
que originam aquela convenção de arbitragem.
De todos os meios extrajudiciais de resolução de conflitos é a arbitragem que mais se assemelha ao
sistema judicial tradicional: na arbitragem existe um poder adjudicatório, um poder decisório, as
decisões tomadas pelo árbitro têm a mesma força que as decisões proferidas pelos magistrados judiciais,
as funções do árbitro são iguais às do Juiz – julgar com o objetivo de resolver o litigio mantendo
assim a paz.
A arbitragem decorre em 3 fases: convenção de arbitragem – tem origem contratual e a sua natureza é
mista (contratual e processual); Aceitação da Arbitragem – tem também origem contratual e natureza
mista; o Processo e a Decisão Arbitral – Natureza inteiramente Jurisdicional.
A convenção de arbitragem gera um direito potestativo de constituição do tribunal arbitral para resolver
o conflito – Efeito positivo da convenção de arbitragem – e consequentemente provoca a falta de
jurisdição dos Tribunais Judiciais para julgar este litígio – Efeito Negativo da Convenção.
Esta tem assim origem privada, mas natureza jurisdicional, o que gera muitas dificuldades quando à sua
caracterização jurídica. As Opiniões variam em 3 teses:
▪ Teoria Contratual – afirma que a sentença arbitral é um contrato celebrado pelos árbitros como
mandatários das partes. Segundo esta teoria, apenas a homologação judicial permite que exista
uma verdadeira sentença.
▪ Teoria Jurisdicional – defende que as decisões arbitrais são verdadeiros atos jurisdicionais e,
consequentemente, assume que os árbitros, tal como os juízes, exercem uma função
jurisdicional;
▪ Teoria Mista – defende que o arbitro tem o poder de julgar, mas não tem o poder de exercer as
funções públicas de um juiz. Sendo esta última a adotada por maioria da doutrina.

Convenção – Validade
A validade da Convenção deve ser analisada sob alguns paramentos tais como:
▪ Acordo das Partes -O único problema a analisar relaciona-se com 2 normas do regime das
cláusulas contratuais gerais
Consumidores – Art.º 21.º h) LCCG: “São em absoluto proibidas as cláusulas
contratuais gerais que (...) prevejam modalidades de arbitragem que não assegurem as
garantias de procedimento estabelecidas na lei.”
▪ Caso PT (Ac. STJ 4-10-2005) - Cláusula compromissória inserta em contrato
de corretagem
Ao contrato é aplicável LCCG

53
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

O STJ entendeu que a convenção, ao respeitar a nossa LAV, preenchia os


requisitos necessários da lei, sendo, portanto, válida. Limites da utilização da
arbitragem em conflitos de consumidores.
Outra norma da LCCG cuja aplicação à arbitragem e discutível é o art.º 19.º g) LCCG:
“São proibidas, consoante o quadro negocial padronizada, designamente as clausulas
contratuais gerais que estabeleçam um foro competente que envolva graves
inconvenientes para uma das partes, sem que os interesses da outra o justifiquem.”
O Tribunal da Relação segue o entendimento doutrinário nesta matéria: norma
é aplicável à arbitragem, mas dificilmente terá como consequência a invalidade
da cláusula compromissória.
▪ Forma – escrita (2º/1) de Aceção Ampla (2º/2)
Assinatura – o problema dos documentos digitais (força probatória plena). Os
documentos não assinados podem satisfazer o requisito da forma escrita, mas o seu
valor probatório difere em função das suas características (plena ou não).
▪ Conteúdo – Essencial (2º/6)
▪ Autonomia – a Nulidade do contrato não implica a nulidade da convenção – Artigo 18º/3; é
impedida a invocação da nulidade como expediente para por termo ao tribunal arbitral, a não
ser que se demonstre que o contrato não teria sido concluído sem a convenção;
▪ Arbitrabilidade - Só pode ser sujeito a arbitragem um litígio arbitrável (requisito mais
discutido). De acordo com o número 1 e 2 do art.º 1.º da LAV não são voluntariamente
arbitráveis os litígios que estão sujeitos a arbitragem necessária e aqueles que sejam da
competência exclusiva dos tribunais judiciais;
São arbitráveis todos os litígios respeitantes a interesses de natureza patrimonial e ainda os
respeitantes a interesses não patrimoniais se forem transacionáveis.
▪ Arbitrabilidade objetiva - limitações da arbitragem em função do conteúdo do litígio;
▪ 3 critérios: Disponibilidade do direito; A ligação do litigio com a ordem
Pública; Natureza patrimonial da questão.
▪ Em Portugal um conflito é arbitrável se envolver qualquer tipo de interesse
económico, não sendo relevante se a relação subjacente é comercial ou privada,
civil ou administrativa, de direito nacional ou de direito internacional.

▪ Arbitrabilidade subjetiva – limitações da arbitragem em função dos sujeitos
▪ Em relação aos particulares não há duvidas, quanto aos entes públicos estes
também podem recorrer à arbitragem.
Existem hoje diversas normas avulsas que preveem essa arbitrabilidade: artigo
180.º CPTA – autoriza arbitragem em situações de contratos, responsabilidade
civil e atos administrativos; Quanto a questões relativas a atos administrativos,
há o limite do fundamento não poder ser a sua invalidade substantiva.

Arbitragem Necessária
Já na Arbitragem Necessária o legislador, por força de determinada circunstancias, remete a resolução
de certas matérias a um tribunal arbitral. Não existe convenção, mas antes uma imposição do legislador
nesse sentido.
Grande parte da doutrina opõem-se à arbitragem necessária, pois defendem que o Estado não se deve
intrometer nas relações privadas, nem deve interferir na escolha das partes de resolver o conflito judicial

54
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

ou extrajudicial. Segundo o Professor Pedro Gonçalves e o Acórdão nº 230/2013 TC: “só é pensável
admitir a imposição da composição arbitral quando não se encontre vedado o acesso aos tribunais
estaduais, hipótese que só se verifica se não estiver excluída a possibilidade de recurso da decisão
arbitral para aqueles tribunais”.
Contudo a regra de irrecorribilidade já pode vigorar na Arbitragem Voluntária – 39º/4. Ou seja, só haverá
possibilidade de recurso na Arbitragem Voluntária, se as partes o acordarem expressamente na
convenção de arbitragem. Caso não o façam a sentença arbitral será irrecorrível. E claro, se atribuírem
poderes ao tribunal para decidir sobre equidade, a decisão é sempre irrecorrível.
Tanto a arbitragem voluntária quando a necessária estão consagradas no artigo 1º da LAV. Ao falar
deste artigo, compete também esclarecer que nem todos os litígios podem ser resolvidos através de
tribunais arbitrais. Ora vejamos, artigo 1º/1 da LAV – “Desde que por lei especial não esteja submetido
exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a
interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem,
à decisão de árbitros”. Como podemos retirar deste artigo, o critério principal da arbitrabilidade do
conflito reside na natureza patrimonial do interesse controvertido. Contudo, este não é o único critério.
Relativamente a interesses morais ou de natureza não patrimonial, o critério que vigora é o da
transigibilidade do litígio, o que pressupõe a disponibilidade do direito. São patrimoniais os interesses
suscetíveis de avaliação pecuniária. São insuscetíveis de transação os direitos não disponíveis, aqueles
que são irrenunciáveis.
Sendo o litígio abrangido por estes critérios de arbitrabilidade, e se as partes tiverem essa vontade, então
o seu conflito pode ser submetido a um tribunal arbitral.
Mas para tal, o tribunal arbitral tem que ser constituído, isto se as partes optarem, pela arbitragem ad
hoc (tribunal é constituído especificamente e apenas para aquele conflito), se quiserem evitar a
constituição do tribunal, têm a possibilidade de escolher a arbitragem institucional - onde existem
centros de arbitragem institucionalizados ou câmaras, ou seja, já existe um tribunal arbitral com carácter
de permanência, com regulamento próprio.
Para constituir um tribunal arbitral é essencial que cada parte nomeie o seu árbitro, a parte que pretende
iniciar a ação envia uma carta à outra parte com os seguintes documentos: convenção de arbitragem,
indicação do árbitro escolhido e o convite para que esta escolha o seu. A escolha do árbitro é um
procedimento que tem que ser muito rigoroso e que vai definir o sucesso ou não da arbitragem em
questão, como disse Selma Lemes – “a arbitragem vale o que vale o árbitro”.

Podemos concluir assim que o árbitro é, sem dúvida, o elemento fulcral da arbitragem.

Princípios e Regras – artigos 30º e ss


O processo arbitral deve sempre respeitar os seguintes princípios fundamentais:
▪ O demandado é citado para se defender;
▪ As partes são tratadas com igualdade e deve ser-lhes dada uma oportunidade razoável de
fazerem valer os seus direitos, por escrito ou oralmente, antes de ser proferida a sentença final;
▪ Em todas as fases do processo é garantida a observância do princípio do contraditório, salvas
as exceções previstas na presente lei.
Lugar da arbitragem (art.º 31.º LAV)
1 - As partes podem livremente fixar o lugar da arbitragem. Na falta de acordo das partes, este lugar é
fixado pelo tribunal arbitral, tendo em conta as circunstâncias do caso, incluindo a conveniência das
partes.

55
Sebenta de Processos Especiais – 2019/2020 - JDT

2 - Não obstante o disposto no n.º 1 do presente artigo, o tribunal arbitral pode, salvo convenção das
partes em contrário, reunir em qualquer local que julgue apropriado para se realizar uma ou mais
audiências, permitir a realização de qualquer diligência probatória ou tomar quaisquer deliberações.
Língua do Processo (art.º 32.º LAV)
1 - As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral.
Na falta desse acordo, o tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo.
2 - O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer documento seja acompanhado de uma tradução na
língua ou línguas convencionadas pelas partes ou escolhidas pelo tribunal arbitral.

Sumário Processual
Tramitação
Requerimento dirigido à outra parte com:
▪ Indicação da convenção de arbitragem;
Inicio do processo ▪ Identificação do objeto do litigio;
Petição e Contestação ▪ Indicação do arbitro
Artigo 33º/1 LAV Resposta ao Requerimento de Arbitragem:
Artigo 33º/2 LAV ▪ Aceitação do objeto do litígio ou sua
ampliação;
▪ Indicação do Árbitro
Os Árbitros designados escolhem o 3º que
Designação de Árbitros presidirá;
Artigo 10º LAV Se ele não puder ser designado, cabe ao
Presidente do TR do local fixado para arbitragem;
Fase Intermédia Findos os articulados, o tribunal arbitral conhece
Artigos 34º a 38º LAV das exceções sobre as quais puder decidir,
nomeadamente da sua competência
Como se disse acima, o tribunal arbitral terá
regulado, no início do processo, o modo como se
Sentença Arbitral fará a “condensação” deste (identificação das
Artigo 39º e seguintes questões litigiosas ou base instrutória sumária)

56

Você também pode gostar