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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

Leandro Groninger - 239075


Raul De Castro Cunha Claudino - 243701
Taynara Teodoro da Silva - 244548

“O impacto das mudanças climáticas na atividade de


microrganismos do solo envolvidos na biorremediação”

CAMPINAS
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

Grupo 1: Leandro Groninger - RA. 239075 /


Raul De Castro Cunha Claudino - RA. 243701 /
Taynara Teodoro da Silva - RA. 244548.
Disciplina: QA815 - Química do Meio
Ambiente. 2º Semestre de 2022.
Professoras: Dra. Susanne Rath e Dra. Cassiana
Carolina Montagner.

“O impacto das mudanças climáticas na atividade de


microrganismos do solo envolvidos na biorremediação

RESUMO

As mudanças climáticas são fenômenos bastante estudados especialmente em virtude de suas


consequências em âmbito global e macroscópico. Contudo, essas mudanças também afetam
fenômenos microscópicos como a biorremediação, a decomposição de poluentes por microrganismos
presentes no solo. Nesse contexto, os principais fatores que as mudanças climáticas afetam na
biorremediação são: temperatura e umidade, e seus respectivos efeitos serão compreendidos ao longo
deste trabalho. Ademais, o trabalho reflete acerca dos tipos de biorremediação e da importância do
estudo correto do solo, uma vez que a amostragem e o tratamento de um solo afetado é complexo e
varia com o tipo de solo e a região geográfica com no qual ele se encontra.

CAMPINAS
2022
INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas são os principais fenômenos ambientais estudados no século


XXI, por afetarem diretamente a vida dos seres vivos na Terra e o bem-estar social das
futuras gerações. Contudo, apesar dos seus impactos em escala global e macroscópica, que
são os aspectos mais conhecidos e estudados, as mudanças climáticas também afetam
fortemente os processos em microescala. Neste trabalho, buscamos destacar como essas
mudanças podem influenciar mecanismos como a biorremediação do solo, o processo de
degradação de poluentes por microorganismos.

Primeiramente, pensando na Hipótese de Gaia[1], uma hipótese biogeoquímica que


define o Planeta Terra como um organismo vivo, faz sentido pensar que ao ultrapassarmos
determinado limite, a Terra não conseguirá mais se autorregular, e então seus “órgãos” irão
parar de funcionar. Nesse sentido, um aumento da temperatura terrestre, causada por fatores
antrópicos, leva à mudanças na disponibilidade de recursos no solo, que deveriam ser
absorvidos pelas plantas, desencadeando um efeito em cadeia que afeta o processo de
biorremediação[2].

Os microrganismos capazes de atuar na biorremediação necessitam de condições


específicas de temperatura, umidade e pH para terem sua atividade em pleno funcionamento.
Sob essa ótica, as mudanças climáticas, em especial o aquecimento global, aumentam a
temperatura do solo, além de provocarem tempestades com alta precipitação em determinadas
áreas, e baixa precipitação em outras, afetando diretamente a umidade do solo. Além disso, a
ação antrópica e industrial de emissão de compostos sulfurados e nitrogenados na atmosfera,
os gases NOx e SOx, favorece às chuvas ácidas, que irão modificar o pH do solo, afetando
assim os processos de biorremediação. Portanto, é necessário compreender a importância do
processo de biorremediação, entendendo suas características, para então relacionar com as
mudanças climáticas e perceber como elas afetam especificamente esse processo.
BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS E O PAPEL DOS MICROORGANISMOS

A biorremediação é o processo de degradação, remoção ou desintoxicação de


poluentes químicos ou físicos do meio ambiente através da ação de microrganismos, ela
ocorre de forma natural ou pode ser estimulada com adição de seres vivos e
fertilizantes.[5]Existem três estratégias principais que podem ser adotadas para a
biorremediação, que são : atenuação natural,bioestimulação e bioaumentação .

Durante o processo de biorremediação, os microorganismos atuam através de suas


vias enzimáticas que lhes permitem usar contaminantes (naturais ou sintéticos) ambientais
como alimento.[6] Em geral essas enzimas pertencem aos grupos de oxidorredutases,
hidrolases, liases, transferases, isomerases e ligases.[6] Por conta disso, existe uma variedade
de enzimas com capacidade alta de degradação a depender de sua afinidade específica com o
substrato em questão. A capacidade nutricional dos microrganismos é completamente variada,
por isso é utilizada como biorremediadora de diversos poluentes ambientais.[7]

Os microrganismos estão presentes em todos os lugares da biosfera , habitando até os


ambientes mais hostis, por causa de sua vasta atividade metabólica e adaptabilidade ao
ambiente nativo. Porém, apesar de terem a capacidade de habitar diversos tipos de ambientes,
a eficiência da biorremediação depende de fatores biológicos e ambientais do local da
interação, que influenciam na taxa de degradação e no crescimento da microbiota.

Com a intensificação contínua dos efeitos das mudanças climáticas como o aumento
de precipitação, secas, aumento da temperatura e aumento da emissão de gases têm causado
alterações em níveis microscópicos nos fatores biológicos e condições ambientais do solo. Os
estudos cada vez mais tem como tema compreender o impacto que essas mudanças climáticas
têm -principalmente- sobre os fatores ambientais favoráveis do solo para o crescimento e taxa
de degradação da microbiota local; como alteração do: pH, temperatura, estrutura do solo,
solubilidade em água, nutrientes, características do local, potencial redox e teor de oxigênio,
umidade e biodisponibilidade de poluentes (concentração de contaminantes, tipo,
solubilidade, estrutura química e toxicidade) .[7]

BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS E SUA RELAÇÃO COM ALTERAÇÕES


CLIMÁTICAS

Mudanças climáticas têm a capacidade de induzir alterações na umidade do solo e, da


mesma maneira em sua temperatura, o que afeta diretamente processos no solo, como a
decomposição de matéria orgânica e ciclo de nutrientes. Mudanças na umidade, temperatura,
drenagem e ciclos de refrigeração causam mudanças no aumento e fisiologia de
microrganismos presentes no solo. Assim, o aumento da temperatura do globo, por exemplo,
interfere de maneira macroscópica na Terra - secas, tempestades, mudança nos regimes de
chuvas - e também de maneira microscópica, interferindo em ciclos de nutrientes com
participação ativa de microrganismos.
Quando trata-se de microrganismos no solo, é na rizosfera - região de intersecção
entre as raízes e o solo - onde existe uma maior disponibilidade destes. Sobretudo, os
microrganismos arranjam-se de maneira próxima às raízes.[3] Sabe-se que plantas aumentam a
permeabilidade e difusão de oxigênio no solo, e realizam processos de exsudação liberando
no solo moléculas que atuam como indutores, surfactantes e auxiliam em fatores de
crescimento dos microrganismos resultando em uma estimulação dos processos
microbiológicos.[2] Nesse âmbito, a rizorremediação é um processo de biorremediação
assistida pelas plantas na região da rizosfera.[2]
De diversos parâmetros que podem influenciar a rizorremediação, existem três deles
que são mais importantes. Estes são a temperatura do solo, umidade e as entradas de carbono
disponíveis na planta (entrada de CO2).[3] Plantas absorvem moléculas de CO2 que podem ser
utilizadas durante o processo de fotossíntese. A fotossíntese é um processo físico-químico
que dispensa apresentações e que apesar de complexo, pode ser resumido à conversão da
energia vinda da luz solar em energia química.

Figura 1: Mecanismo global e reduzido do processo de fotossíntese.

Altas concentrações de CO2 na atmosfera a princípio não afetam diretamente a


atividade microbiana, há uma concentração do gás muito maior nos solos em comparação
com a atmosfera.[3]Porém o aumento de CO2 na atmosfera interfere indiretamente nas
colônias de microrganismos do solo através do aumento do crescimento das plantas e
mudanças e transpiração das raízes.
Uma vez que concentrações mais altas de CO2 atmosférico podem resultar no
aumento do crescimento das raízes e a alteração da rizodeposição de calcário poderiam, a
priori, estimular as taxas de rizorremediação, desde que outros fatores-chave como a
disponibilidade de água - umidade - não fossem limitantes.
Como citado anteriormente, mudanças climáticas afetam a umidade do solo e sua
temperatura. Assim, torna-se viável criar uma conexão entre os parâmetros que diretamente
influenciam a rizorremediação e que são mais afetados por mudanças climáticas. Processos
rizeremediatórios são influenciados pela umidade no solo e sua temperatura, conectados
diretamente com alterações climáticas, além da disponibilidade de carbono, proveniente da
absorção de CO2, também regidos pelos fenômenos climáticos do planeta, com contribuição
antrópica.
Por tanto, existe um equilíbrio entre a eficiência e contribuição que, grupos liberados
no solo, pelas raízes de plantas, podem auxiliar os microrganismos na degradação de
poluentes e as mudanças climáticas que o mundo vem e irá sofrer, visto as transformações
repentinas de modelos de produção industrial, econômico e exploração dos mais diversos
recursos naturais por ações antrópicas.
O aumento da temperatura do mundo, pode ser facilmente relacionado com o aumento
da temperatura do solo. Prevê-se que a superfície terrestre tropical aqueça de 3 a 5°C neste
século[5]. Esse é um aumento bastante significativo. Estudos relatam que o fungo
Coniothyrium - que possui capacidade de degradar o pireno - seria afetado pelo aumento da
temperatura. Em organismos sensíveis à temperatura, como o Coniothyrium, uma elevação de
3°C poderá afetar a sua sobrevivência e a capacidade de parasitismo[6]. Logo uma alteração
de 3 ~ 5°C pode de fato afetar microrganismos mais sensíveis a essa mudança.
Assim, a temperatura é um dos exemplos de mudanças que impactam no desequilíbrio
proposto, que afeta também a umidade do solo, o fornecimento de energia para o processo de
fotossíntese, aumento de precipitações, entre outros fatores.
Causando simultaneamente pequenas pressões sobre o balanço em que o planeta Terra
funciona, que quando somados compõem processos essenciais para sua auto regulação.

IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UMIDADE DO SOLO

Como citado, as mudanças climáticas podem provocar desequilíbrios ambientais,


como as fortes precipitações, por meio de tempestades, causando alagamentos em solos, isto
é, aumentando sua umidade. Além disso, podem reduzir as precipitações em determinadas
áreas do planeta, de forma a reduzir a umidade do solo. Segundo a literatura[2], a atividade
respiratória microbiana no solo depende mais fortemente da umidade do que na temperatura.
Dessa forma, o processo de biorremediação é afetado, uma vez que existe uma umidade
ótima de trabalho para os microorganismos envolvidos nesse processo.

Primeiramente, é importante destacar que uma umidade baixa pode regular a atividade
microbiológica e o crescimento dos microrganismos responsáveis pela biorremediação, além
de impactar diretamente a difusão de substratos e nutrientes de carbono, consequentemente,
modificando a biodegradação de poluentes orgânicos. Essa regulação ocorre porque a
mobilidade microbiana é afetada, além do potencial de água intracelular e da difusão de
nutrientes ser diminuída.

Por outro lado, uma alta umidade é capaz de restringir o oxigênio disponível para os
microrganismos[3], afetando o processo de degradação aeróbia de certos poluentes, como os
hidrocarbonetos. Dessa forma, há uma diminuição na taxa de decomposição da matéria
orgânica no solo. Além disso, a água livre conectando partículas no solo pode influenciar
possíveis padrões de diversidade, afetando a estrutura das comunidades microbianas por meio
da regulação da disponibilidade de nutrientes e de movimentação.

Figura X. Representação do impacto das mudanças climáticas no processo de biorremediação.[2]

Nesse contexto, os valores ótimos de umidade do solo, variam de forma inversamente


proporcional com o aumento da temperatura, isto é, conforme aumentamos a temperatura, o
valor de umidade ideal diminui, de modo que a variação da umidade no solo torna-se mais
importante em temperaturas mais altas. Para biorremediação, cerca de 50%–75% da
capacidade de retenção de água é mantida, o que é, normalmente, suficiente para manter o
solo úmido o suficiente para uma atividade microbiana, ao mesmo tempo que baixa o
suficiente para permitir a aeração[4].

Portanto, fica claro que as mudanças climáticas são capazes de alterar a umidade dos
solos, afetando diretamente o funcionamento da biorremediação. Nesse sentido, em situações
de solos contaminados, poluídos, secos ou até encharcados, é necessário aplicar técnicas de
manejo do solo que permitam um controle e regulação da umidade, levando em consideração
esse balanço entre atividade microbiana e aeração. Por exemplo, em um solo encharcado, não
se deve apenas drená-lo, mas sim entender qual técnica deve ser aplicada e com que
intensidade e frequência. Obviamente, a técnica necessária irá depender do tipo e das
características do solo em questão, por isso, o conhecimento sobre o planejamento da
biorremediação e os estudos sobre os solos são tão importantes.

CONCLUSÃO
Logo, como mencionado anteriormente, as mudanças climáticas afetam diretamente o
processo de biorremediação do solo, seja por mudanças na temperatura ou na umidade do
solo. Nesse sentido, no que diz respeito a temperatura, um aumento da temperatura do solo
tem influência direta em processos de enzimas provenientes de microrganismos, sendo o
aumento da temperatura do solo um fator que aumenta a taxa com que a matéria orgânica é
degradada. No entanto, esse efeito proporcionado pelo aumento da temperatura do solo é
limitado pela umidade do solo.
Ainda sobre a temperatura, o aumento da temperatura do globo terrestre altera
fenômenos macroscópicos como secas ou alteração nos regimes de chuva, influenciando
indiretamente em processos que ocorrem na zona da rizosfera.
Já em relação a umidade, é necessário fazer um balanço entre a atividade microbiana e
a aeração do solo, sendo assim, existem faixas de umidade ideais para cada tipo de solo.
Dessa forma, uma baixa umidade reduz a atividade microbiana por reduzir a mobilidade e a
disponibilidade de nutrientes, enquanto uma alta umidade diminui a disponibilidade de
oxigênio para os processos aeróbios. Sendo assim, um manejo adequado para cada tipo de
solo deve ser realizado, levando em consideração sua umidade, de modo que não afete os
processos de biorremediação.
Então, é necessário realizar mais pesquisas sobre esses impactos das mudanças
climáticas no âmbito microscópico, isto é, nos processos de biorremediação, uma vez que o
solo é uma amostra bastante complexa e que varia bastante de acordo com a região. Desse
modo, será possível compreender melhor esse fenômeno e suas variações geográficas, além
de compreender mecanismos e processos que explicam a coexistência de milhares de espécies
microbianas no solo e sua capacidade de degradar poluentes tóxicos, constituindo um
importante desafio para ecologistas, químicos e biotecnólogos ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução
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