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Faculdade de Letras
Campinas, SP
Novembro de 2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Centro de Linguagem e Comunicação
Faculdade de Letras
RA: 16508863
À minha esposa, Vitória Guedes Orlandi, que esteve ao meu lado, compreensiva e
sempre me apoiando para que eu pudesse prosseguir com meus estudos e, enfim,
chegar a esta etapa final.
À minha orientadora, Profa. Dra. Cristina Betioli Ribeiro Marques, sem a qual este
trabalho não seria possível.
Ao Dr. Albert Weideman por seus vários conselhos e direcionamentos via e-mail.
Resumo
Esta monografia propõe apresentar a filosofia reformacional como uma nova base
teórica à linguística, especialmente ao entendimento de gramática e sua prática
pedagógica. Essa nova base teórica não contradiz ou nega os avanços teóricos feitos até
hoje, antes, confirma-os. Entretanto, essa nova fundação para se erigir a construção da
teoria linguística propõe uma conexão satisfatória da linguagem com o todo da realidade.
Essa conexão soma forças com outras teorias linguísticas para demolir pré-conceitos
racionalistas e tradicionalistas, bem como vai contra um ensino de Língua Portuguesa
artificial e descontextualizado. Pretende-se ajudar os professores e alunos a perceberem
a realidade como unidade e diversidade, conectando cada aspecto da experiência
humana com o todo da realidade.
INTRODUÇÃO. ................................................................................................................................... 1
1. DA METAFÍSCA À LINGUAGEM: O REAL REENCONTRA OS SÍMBOLOS............................ 2
1.1 Filosofia: contornos de uma definição. ...................................................................................... 2
1.2 A suposta objetividade das teorias científicas. .................................................................... 3
1.3 O caráter fundacional da filosofia. ........................................................................................ 3
1.4 A presente abordagem: filosofia reformacional. ....................................................................... 4
1.4.1 Conhecimento teórico e conhecimento ingênuo.................................................... 5
3.3 Pedagogia do desejo: “diga o que amas e te direi quem és”. ................................................ 31
3.3.1 O que é a escola? ................................................................................................ 34
Conclusão. ......................................................................................................................................... 37
BIBLIOGRAFIA. ................................................................................................................................. 39
1
INTRODUÇÂO.
Existe uma coisa que uma longa existência me ensinou: toda a nossa ciência,
comparada à realidade, é primitiva e inocente.
(Albert Einstein)
1
Para uma análise mais detalhada, ver: DOOYEWEERD, H. In the Twilight of Western
Thought. Collected Works of Herman Dooyeweerd, B Series, Volume 4, General Editor
D.F.M. Strauss, Special Editor J.K.A. Smith. Lewiston: Edwin Mellen. 1999. [não coloque
recuo nas notas de rodapé!]
2
Para uma exposição desse tema, ver DOOYEWEERD, 1953 vol. 1: 545-566; ver
também vol. 2: 556-557.
4
3
A abordagem é nova apenas no Brasil, pois Albert Weideman já propôs essa
abordagem reformacional à Linguística em sua tese de doutorado nos EUA. Ainda que,
em e-mail particular, Weideman tenha me dito que migrou da Linguística teórica para a
Linguística aplicada, seu trabalho ainda permanece um paradigma.
4
Cf. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora
Perspectiva S.A, 1997.
5
Para bom resumo dessa filosofia em português, ver: KALSBEEK, L.. Contornos da
filosofia cristã. Trad. Rodrigo Amorim de Souza. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2015.
6
O termo cosmonomia foi cunhado para expressar o caráter modal da metafísica dessa
filosofia. O termo vem do grego “cosmos” (mundo) e “nomos” (lei), referindo-se as leis
modais de significados que regulamentam a realidade.
5
7
Dooyeweerd, H. A New Critique of Theoretical Thought, Collected Works of Herman
Dooyeweerd, A Series Vols. I, General Editor D.F.M. Strauss. Lewiston: Edwin Mellen.
1997, p. 4.
7
experiência daquilo que é moralmente certo ou errado. Por fim, o último aspecto
da realidade é o aspecto credal, que se refere à crença do sujeito.
Uma pedra é qualificada pelo aspecto físico. Portanto, ela possui uma
função sujeito nos aspectos anteriores ao físico e uma função objeto nos
aspectos posteriores. Assim, uma pedra é quantificável, ocupa um lugar no
espaço, é movimentada e material (aspecto numérico, espacial, cinemático e
físico). Entretanto, uma pedra não é viva, não sente, não pensa, não fala, não
interage, etc. (aspecto biótico, sensitivo, lógico, lingual, social). Nos aspectos
posteriores, uma pedra pode ser usada para se cometer um crime, quebrando as
normais do aspecto jurídico e ético, pode ser usada como arte (estético), como
mercadoria (econômico) e até mesmo pode ser reverenciada como uma
divindade (aspecto credal).
Uma planta, por sua vez, vai um aspecto a mais, sendo centralizada
pelo aspecto biótico. Um animal é qualificado pelo aspecto sensitivo e assim por
diante. O ser humano age como sujeito em todos os aspectos modais da
realidade. É o único ser que experimenta todos os aspectos mas não é
qualificado por nenhum deles, pois seu eu transcende todos os aspectos modais.
Assim, o ser humano é sujeito psicológico, lógico, histórico, linguístico, social,
econômico, estético, jurídico, ético, etc., mas não pode ser descrito
essencialmente em um desses aspectos, e nem em todos juntos.
8
Para uma explanação completa de uma teoria linguística reformacional, ver:
WEIDEMAN, A. Beyond expression, A systematic study of the foundations of linguistics.
JordanStation: Paideia Press. 2009.
9
Como atesta o campo de estudo da Semiótica / Semiologia.
10
ter prova naquele dia, essa pedra estará funcionando lingualmente (como objeto
lingual) na realidade daquela sala. Hjelmslev (1963, p. 127) afirmou que não
existe um único objeto que não seja iluminado da posição de uma teoria
linguística. No entanto, basta dizer que de todas as coisas, apenas a linguagem
humana é centralmente caracterizada pelo aspecto lingual do cosmo.
Até aqui vimos apenas uma foto 3x4 de uma vasta floresta, e vimos de
cima, como num voo de helicóptero. Precisaríamos ver toda a extensão floresta,
e depois descer e analisar cada árvore, planta, animal, rio, etc., vinculando as
partes com o todo. Tal é a vastidão significativa da experiência humana como
um todo, e da experiência linguística em particular. Falta-nos espaço para
vermos com mais detalhes todas as analogias modais da linguagem e como a
linguística percebeu, de forma correta ou não, essas analogias.
Uma boa parte das gramáticas normativas começa com suas teorias
linguísticas, deixando em oculto seus pressupostos filosóficos. Uma exceção a
isso é a gramática de Carlos Nougué, lançada em 201510. Nougué assume de
forma explícita, a filosofia aristotélica-tomista, aplicando essa metafísica
particular à linguística e à gramática.
10
NOUGUÉ, Calos; Suma gramatical da língua portuguesa: gramática geral e avançada.
1. ed. São Paulo: É-Realizações, 2015.
16
11
AMMONIUS, On Aristotle´s categories. Traduzido para o inglês por S. Marc Cohen e
Gareth B. Matthews. NewYork: Cornell University Press. 1991, p. 17.
12
Cf. o artigo GIUSTI, Ernesto Maria. Lógica, linguagem e ontologia no século XIX: a
interpretação das categorias de Aristóteles por Adolf Trendelenburg. Revista Guairacá:
Revista de filosofia, Paraná, v. 28, n. 1, p. 93-111, 2012.
13
Cf. ARISTÓTELES, Categorias. Tradução, introdução e comentário por Ricardo
Santos. Porto: Porto Editora. 1995.
17
leva o pensamento teórico em caminhos dualistas que acabam por não serem
suficientes para explicar a realidade que nos cerca, além de contradizer nossa
experiência metafísica (Cf. DOOYEWEERD, 1999, pp. 41-94).
1.9 Conclusão.
“ideia” não tem o mesmo significado que a “ideia” (eidos) de Platão, por isso a
etimologia grega já não é suficiente para explicar o termo moderno (juntamente
com a falácia etimológica temos a falácia do anacronismo semântico, igualmente
perigosa). Entretanto, olharemos para a etimologia de “gramática” com novos
óculos cosmovisionais (ou conceituais), dando para esses ossos (gregos) mortos
uma nova carne, uma nova vida, uma nova roupagem (e quiçá, um novo
caminho).
14
O termo no original holandês é “Wetsidee” que pode ser traduzido como “ideia-lei”.
23
O ser humano é o único ser que age como sujeito em todos os aspectos
modais da realidade. Cada situação em que uma pessoa se encontra está
cercada por essa riquíssima variedade de significados modais. Cada situação é
caracterizada por uma ou mais esferas modais. Veremos alguns exemplos.
15
Não estou advogando nenhuma hermenêutica teológica particular da Bíblia, apenas
pontuando filosoficamente a centralidade modal que perpassa seu discurso, tomando-a
apenas como um exemplo de discurso caracteristicamente certitudinal.
24
16
Essa proposta coaduna com a linguística aplicada, que tem trabalhado com trabalho
com gêneros discursivos e textuais diversos em sala de aula. Um dos principais
estudiosos dessa questão, no Brasil, é Marcuschi.
25
lingual usa normas linguais diferentes para cada situação lingual, para cada fato
lingual.
Antunes também insiste (com razão) que gramática não é apenas norma
culta. A norma culta regula a fala e a escrita em contextos formais. Antigamente,
dizia-se que a norma culta regulava todos os tipos de textos escritos. Esse
reducionismo também ignora as modalidades situacionais que vimos acima. Sem
mencionar contextos informais como as redes sociais e o Whats-app, o que
diríamos dos escritos de James Joice e Mário de Andrade, que intencionalmente
fogem da norma padrão?
17
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no
caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007, pp. 69-81.
26
18
Essa questão é debatida pela Semântica Formal, quando leva em consideração a
relação da realidade fatual com uma “semântica de mundos possíveis ou ficcionais”.
27
3.1 Introdução.
nossa forma de vida (para usar a linguagem de Wittgenstein) é guiada mais pela
nossa imaginação, pelos nossos desejos e pelas nossas atitudes (e hábitos) do
que propriamente pelo pensamento.
19
Ver a discussão filosófica de Svendsen, em SVENDSEN, Lars. Filosofia do tédio. Trad. Maria
Luiza Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
29
20
Ver, especialmente, DOOYEWEERD, H. A New Critique of Theoretical Thought, Collected
Works of Herman Dooyeweerd, A Series Vols. I-IV, General Editor D.F.M. Strauss. Lewiston:
Edwin Mellen. 1997; e Dooyeweerd, H. In the Twilight of Western Thought. Collected Works of
Herman Dooyeweerd, B Series, Volume 4, General Editor D.F.M. Strauss, Special Editor J.K.A.
Smith. Lewiston: Edwin Mellen. 1999.
30
A estrutura-ato, além de ser a mais rica de todas, é aquela que nos define
e nos distingue dos demais seres vivos (os animais possuem as três primeiras
estruturas do ser humano). Passo a passo, estamos esboçando uma
antropologia a partir da filosofia reformada, e veremos os impactos dessa
perspectiva antropológica na pedagogia, especialmente no ensino de língua
portuguesa.
21
Evangelho segundo João, 1.14.
32
22
Apud ANTUNES, 2007, p. 122.
23
Ver essa discussão em POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. 2.ed.
Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 20-24.
33
A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até
o dia em que encontrou a tartaruga.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. 2.ed. Campinas:
Mercado de Letras, 1998.