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O Papel do Psicólogo - Ignácio Martín-Baró - RESUMO-podcast

O texto aborda o papel do psicólogo no contexto centro-americano, especificamente


diante de desafios como a injustiça estrutural, guerras revolucionárias e a perda da
soberania nacional. O autor destaca a importância de os psicólogos considerarem a
situação histórica e as necessidades específicas da população em vez de adotar
definições genéricas. O contexto na América Central é caracterizado por uma
injustiça estrutural, onde regimes distribuem desigualmente os recursos, levando à
miséria da maioria. Além disso, há uma situação generalizada de guerra ou
quase-guerra em todos os países da região, com impactos significativos na
economia e no desenvolvimento. A militarização é destacada como um problema
grave, com expansão dos exércitos e conflitos armados, inclusive com influência
dos Estados Unidos. O autor argumenta que o psicólogo, mesmo não sendo
chamado para resolver problemas políticos, deve contribuir para a conscientização
da população, ajudando as pessoas a superarem identidades alienadas e
transformarem as condições opressivas do contexto. O horizonte proposto para o
trabalho do psicólogo é a conscientização e o apoio às maiorias populares em seu
caminho histórico em direção à libertação.

O texto aborda a situação política e social na América Central, destacando a


influência dos Estados Unidos na região. Uma das características destacadas é a
"satelitização nacional", resultante da doutrina de "segurança nacional", que
submete os países a uma lógica de confrontação total frente ao comunismo. Os
países da América Central são vistos como parte do "quintal norte-americano", onde
a autonomia política interna está sendo rapidamente eliminada em favor dos
interesses dos Estados Unidos.

O autor menciona a ironia de afirmar que o presidente dos Estados Unidos tem mais
controle sobre os países da região do que seus próprios presidentes. A política
norte-americana, baseada na segurança nacional, molda as decisões políticas dos
países da América Central, levando à dependência e perda de identidade e
autonomia.
O exemplo de El Salvador é citado como paradigmático, e a participação na política
externa, como no processo de Contadora, é descrita como uma interpretação das
músicas compostas em Washington. A dependência econômica e política dos
Estados Unidos é evidente, levando a uma polarização automática entre amigos e
inimigos, sem considerar as necessidades locais.

O autor questiona o que aconteceria se os Estados Unidos atingissem seus


objetivos de segurança nacional na região, levantando dúvidas sobre se haveria um
compromisso real em resolver os problemas dos países locais ou se o apoio
financeiro seria interrompido, deixando os países a lidar com as consequências da
aniquilação de movimentos revolucionários.

O texto conclui discutindo o papel do psicólogo na região. Critica a tendência dos


psicólogos em focar nos setores sociais mais ricos e em abordar os problemas de
maneira individual, desconsiderando os fatores sociais. Propõe uma abordagem da
psicologia que vá além do comportamento observável, voltando-se para a
consciência humana e a conscientização como horizonte primordial do trabalho
psicológico.
O autor discute a conscientização, um termo cunhado por Paulo Freire para
descrever o processo de transformação pessoal e social experimentado pelos
oprimidos latino-americanos ao se alfabetizarem. Esse processo vai além da
simples aprendizagem de ler e escrever, buscando uma compreensão crítica da
realidade circundante e a capacidade de escrever a própria história. A
conscientização implica na mudança do indivíduo, na decodificação dos
mecanismos de opressão e desumanização, e na aquisição de um novo saber sobre
si mesmo e sua identidade social.

O autor defende que a conscientização deve ser o horizonte primordial da


psicologia, buscando desalienar as pessoas, promovendo uma consciência crítica
sobre as raízes da alienação social. Destaca que a psicologia não deve limitar-se ao
plano abstrato do individual, mas confrontar os fatores sociais que moldam a
individualidade humana.

O texto propõe dois exemplos práticos de como buscar a conscientização na


atividade psicológica. O primeiro exemplo aborda o grave problema das vítimas da
guerra na América Central, defendendo que a psicoterapia para essas vítimas deve
ser um processo conscientizador, promovendo uma nova identidade pessoal e
social que transcenda os protótipos de opressor e oprimido.

O segundo exemplo refere-se ao trabalho de orientação escolar. O autor critica a


abordagem tradicional, que visa apenas adaptar o indivíduo à sociedade existente,
contribuindo para a reprodução do sistema estabelecido. Propõe uma orientação
escolar conscientizadora que promova a criatividade e questione os esquemas
básicos da convivência, estimulando uma visão mais crítica e autônoma.

Em resumo, o texto destaca a importância da conscientização na psicologia,


buscando uma abordagem que vá além do individual, confrontando os fatores
sociais e contribuindo para a transformação pessoal e social.
O autor destaca a necessidade de uma abordagem conscientizadora na orientação
escolar, envolvendo a transmissão de esquemas sociais alternativos e promovendo
a capacidade crítica e criativa dos alunos diante da realidade oferecida pela escola
e sociedade. Propõe uma mudança no papel do psicólogo, despojando-o de
pressupostos teóricos adaptacionistas e de formas de intervenção baseadas em
posições de poder.

O texto enfatiza que a nova abordagem não se limita a uma área específica de
trabalho, mas estabelece um horizonte para a prática profissional em qualquer
campo. Destaca a importância de os psicólogos questionarem não apenas o "onde"
e o "como" de sua atividade, mas, principalmente, as consequências históricas
concretas dessa atividade.

Na conclusão, o autor reconhece que o psicólogo não resolverá os problemas


fundamentais enfrentados pelos povos centro-americanos, mas destaca a
importância de repensar a imagem do psicólogo como profissional. Enfatiza a
urgência de adotar a perspectiva das maiorias populares e sugere que a psicologia
enfrenta a escolha entre se acomodar a um sistema social beneficiário pessoal ou
confrontá-lo criticamente em solidariedade com as maiorias pobres e oprimidas na
busca por uma sociedade mais justa e humana.

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