2019 Nonato, Erich Nonato da A Independência do Controle Interno na Administração Pública S586 Municipal /Erich Nonato da Silva. – São Domingos do Prata, 2019. XXIX, 17 f., 9,5 cm. Artigo de Conclusão de Pós-Graduação em Auditoria em Organizações do Setor Público, Rio de Janeiro, 2019. 1. Controladoria Interna. 2. Auditoria preventiva. 3. Caráter não punitivo do controle interno. 4. Condicionantes legais I. Título. CDD - 343.09 CDU - 342 Contents Title Page INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS Dedication O AUTOR A INDEPENDÊNCIA DO CONTROLE INTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL RESUMO- O presente artigo tem como escopo a análise da independência funcional do controlador interno nos Município, máxime até vinte mil habitantes, onde a indicação política prevalece. Desta forma, é consuetudinário que o controlador não seja escolhido por sua competência ou qualificação, e sim por sua finidade com o chefe do Poder Executivo de forma a omitir sobremodo quaisquer irregularidades encontradas, ou, até mesmo, não realizar o encargo de controladoria e se situar em desvio de função. O artigo ainda evidencia que a falta de segregação de funções do controlador e sua independência mais prejudicam o gestor que o ajudam, pois, o trabalho do controlador não é o de punir e sim o de recomendar as melhores práticas para o Município resguardando erros a serem apontados no controle externo pelas Cortes de Contas e Parquet.
Segregação de Função. Nomeação de Efetivos. Benefícios. INTRODUÇÃO
A Constituição da República de 1988 consagrou a função do
controlador interno em seu artigo 74 como imprescindível para a consecução dos fins da Administração Pública em todos os entes federados e Poderes.
O presente artigo tem como escopo a análise da
independência funcional do controlador interno nos Municípios, máxime aqueles que contam com até vinte mil habitantes, mediante análise de campo e estudo bibliográfico.
Ressalte-se que, em regra, Municípios de pouca população
têm a estrutura de Controle Interno centralizada em apenas um cargo em comissão cujo status remuneratório é o mesmo dos Secretários Municipais.
Destarte, é comum que se nomeie pessoas estranhas à
Administração Pública, em recrutamento amplo, muitas vezes sem a qualificação mínima ou treinamento para a execução da atividade, refletindo, portanto, uma mera modalidade de “cabide de emprego”.
Tal prática tornou-se corriqueira pela própria inércia dos
órgãos externos de controle, especialmente a Corte de Contas e o Ministério Público, que, em raras ocasiões, exigem atuações pontuais dos controladores internos e aplicam punições por sua inércia ou ineficácia.
Tudo isto, somado à má-fé de alguns gestores e à inaptidão
de outros, é consuetudinário que o controlador não seja escolhido por sua competência ou qualificação, e sim por sua afinidade com o chefe do Poder respectivo de forma a omitir, sobremodo, quaisquer irregularidades encontradas, ou, até mesmo, não realizar o encargo de controladoria e se portar em desvio de função.
O artigo evidencia ainda que a falta de segregação de funções
do controlador e sua independência mais prejudicam o gestor que o ajudam, pois, o trabalho do controlador não é o de punir e sim o de recomendar as melhores práticas para o Município resguardando erros a serem apontados no controle externo pelas Cortes de Contas e Parquet. DESENVOLVIMENTO
É preciso pontuar, de cabeço, as premissas intrínsecas à essência
de qualquer noção técnica e efetiva do papel do Controlador Interno na Administração Pública. Assim, tal qual um banco de ordenha, existem três caracteres inseparáveis que sustentam a função do controlador interno: a independência funcional, a forma de provimento e a acessibilidade às informações da execução orçamentária sem qualquer restrição.
Quanto à independência funcional do controlador interno,
como qualquer órgão de auditoria interna em sentido lato, é preciso que o mesmo não seja ordenador das despesas, não participe de qualquer ato de execução orçamentária e tenha liberdade em recomendar, auditar, expedir instruções e plano de auditoria e aplicar punições com base em suas Instruções Normativas Internas.
No ensino de Attie (2000), é possível concluir que o intuito
final da auditoria é, ao expressar opinião sobre o resultado das ações administrativas do órgão, assessorar a administração na aplicação dos seus fins de forma eficiente e proba.
Todavia, é tese firmada nas pequenas unidades
administrativas, assim considerados os Municípios de até vinte mil habitantes, que a atuação efetiva do controle interno é um empecilho administrativo insuperável com consequências unicamente negativas para o gestor. Não se vê, assim, o controle interno como órgão auxiliar de boas práticas e gestão e, sim, como órgão meramente punitivo e, por consequência lógica, indesejável. Essa ótica se impõe pela própria inexistência de órgão de Controle Interno histórico e local que execute suas atribuições com rigor técnico e efetividade de forma a demonstrar a sua importância, não como órgão punitivo, mas como órgão de deliberação prévia de recomendações e aplicações de condutas apropriadas e adequadas ao arcabouço jurídico e administrativo.
Para que o Controle Interno seja mais que uma instância
punitiva indesejável é mister que sejam implantadas rotinas e comportamentos dos atores da Administração Pública para a ação preventiva e benéfica do controle exercido, atingindo os fins a que se destina o Sistema de Controle Interno Municipal.
Porém, pode-se detectar, em rápida consulta aos Municípios,
que as rotinas e comportamentos benéficos do Controle Interno são inexistentes devido a três ocorrências conjunta ou isoladamente: falta de expertise técnica, ausência de treinamento consultivo e forma de provimento que viola a independência funcional. Esta última ocorrência, mais comum, infringente e determinante do insucesso do Sistema de Auditoria Interna.
A Carta da República de 1988 criou duas formas de
provimento para o Controle Interno na Administração Pública: via nomeação para cargo em comissão de recrutamento amplo ou restrito e mediante concurso público para cargo específico.
Diante do conceito pré-estabelecido de que o Controlador
Interno é uma instância punitiva nos pequenos Municípios, infelizmente é regra, quase sem exceção, que o provimento do encargo se dê mediante nomeação em cargo em comissão de recrutamento amplo sem escolaridade específica. Isso demonstra inequivocamente a soberania da vontade política jugulando o interesse técnico, abrindo, portanto, um leque de possibilidade de nomeação política.
Quando essa nomeação política acontece é criado um laço de
dependência funcional para o nomeado que, pela natureza do cargo, pode ser demitido ad nutum.
Ora, se o cargo comissionado é por sua natureza admissível e
demissível ad nutum, ou seja, revogável a qualquer tempo pela vontade de uma só das partes, é possível ultimar que, com o fito de manter sua empregabilidade e as benesses decorrentes, o ator social nomeado para a Controladoria Interna exerça suas funções imerso num ambiente de dependência e subserviência com a autoridade nomeante. Autoridade esta que deveria ser o alvo principal da auditoria do controlador e não objeto de qualquer espécie de subserviência.
Essa precariedade no vínculo funcional do servidor nomeado
em cargo em comissão é, sem dúvida, o maior empecilho para que exista um plano de auditoria efetivo e eficaz pois, por ocasião do recebimento dos achados de auditoria do controle interno, a autoridade nomeante se inclina a promover a demissão imediata do Controlador Geral sem qualquer consequência legal, jurídica ou administrativa penalizante.
Desta feita, ainda que por erro de interpretação do gestor,
quanto mais o sistema de controle interno se mostrar eficiente, maior a voluntas da autoridade nomeante em destituir o vínculo funcional do controlador interno. Em outras palavras, quanto melhor o Controlador Interno, menores as suas chances de se manter no cargo.
Como solução para o exposto, Guerra (2005) leciona que o
controle interno deve ser exercido, portanto, por atores administrativos que estejam dentro da própria estrutura administrativa do ente a ser controlado, em clara alusão à composição por servidores efetivos, dotados de maior independência funcional diante da estabilidade constitucional de seus cargos.
Porém, alheios ao entendimento de que o Controle Interno
eficaz gera benefícios e não penalidades, a prática já consolidada nos Municípios brasileiros é de priorizar a nomeação do Controlador Interno com pessoas de fora do quadro de pessoal da Administração Pública, criando, de tal modo, uma falta de continuidade dos serviços de controle e sustando a criação de uma estrutura mínima de rotinas de auditoria interna a ser seguida. Falta, portanto, lastro de herança histórica de práticas de controle.
Noutro diapasão, mesmo nas raras exceções em que o
controle interno é exercido por servidor efetivo, vê-se uma hialina intenção do gestor em desidratar a capacidade operacional desse funcionário, privando-o de treinamentos, insumos, consultorias, remuneração condizente com o caractere de independência funcional e, principalmente, impedindo o seu acesso às informações orçamentárias, contábeis, administrativas e licitatórias.
É nessa flexibilidade de nomeação e suporte ao Controlador
Interno que se cria o cenário atual de ineficácia e até inexistência de controle interno nos Municípios de pequeno porte.
Tudo isso revela um contrassenso de manual pois,
prioritariamente, deveria ser desejo do gestor a implantação eficaz do controle interno para gerar segurança jurídica e pessoal.
Não é outra a concepção de Castro (2008) que assenta que o
Controle Interno é, antes de tudo, um instrumento de segurança do Administrador Público porque este responde com seus bens e sua reputação pelos atos que realiza.
Por seu turno, Nascimento (2006), na mesma seara e fonte,
aponta punições pessoais contra os Gestores Públicos que se enveredem pela ilegalidade na condução do mandato. Entre elas, a cassação do mandato e demais cominações da Lei de Improbidade Administrativa. Num cenário com inflação legislativa no que tange à responsabilização do gestor público, o Controle Interno eficaz se reflete em verdadeira salvaguarda pessoal.
Em que pese o retro mencionado, nos deparamos com a
grande rotatividade dos Controladores Internos municipais que são substituídos rotineiramente sempre que há alternância de Chefia do Poder após as eleições municipais. Cria-se, assim, uma descontinuidade dos serviços de controle que acaba por aportar na ineficácia.
Para que exista uma mudança nessa paisagem administrativa,
é preciso, em um primeiro momento, educar os novos gestores acerca do real papel do Controlador Interno na Administração Pública para que possam, voluntariamente, promover a implantação de instrumentos de controle eficazes e independentes como corolário de sua segurança pessoal e jurídica.
Feito isso, na esteira de Motta (2004), é preciso agenciar a
criação de estruturas administrativas robustas para que o Controlador Interno possa desempenhar seu papel com excelência. Destarte, é preciso criar cargos de controlador interno que sejam de recrutamento limitado a servidores efetivos, com remuneração e escolaridade exigida à altura da importância e independência do cargo e fomentar o órgão de Controle Interno com treinamentos, consultorias e sistemas de informação.
Por fim, é possível propor algumas ações que podem
contribuir para a mudança do paradigma do Controle Interno figurativo. A principal seria a mobilização da sociedade para que seja proposta e aprovada Emenda Constitucional que determina a escolha do Controlador Interno entre os servidores efetivos mediante eleição pelos Conselhos Municipais afetos, remunerado pelo Estado ou União, conforme o caso, com mandato de dois anos e gozando das mesmas prerrogativas dos membros dos órgãos de controle externo.
Ainda, em um passo menor e de execução de curto prazo,
seguindo o ensinamento de Peter (2007), deve-se criar mecanismos geridos pelos Tribunais de Contas para a qualificação do servidor público responsável pelo Controle Interno como forma de dar efetividade e tecnicidade ao órgão auditor. Todavia, não é possível efetivar qualquer mudança enquanto pairar sobre os gestores municipais a alegoria e o paradigma de pretensão exclusivamente punitiva do controle interno. É necessário e urgente promover uma verdadeira alteração metanoica no consciente coletivo para que o Controle Interno possa ser enxergado e sentido como peça fundamental de segurança, efetividade e presteza técnica. Tudo isso só pode ser alcançado se a sociedade envolver-se e promover uma superfície capilar de disseminação de conhecimento e alteração de paradigmas locais. CONCLUSÃO
Ante o arcabouço fático e técnico descrito é forçoso concluir que a
ineficácia do sistema de controle interno nos Municípios de pequeno porte está intimamente ligada ao consciente coletivo de percepção errônea acerca do caractere exclusivamente punitivo da auditoria interna. Ainda, é preciso que exista um adensamento social para que sejam feitas as mudanças na legislação para criar uma verdadeira independência funcional ao Controlador Interno sem olvidar a imperiosidade de fomentar e criar estruturas de abrigo e suporte para a execução dos serviços de auditoria. REFERÊNCIAS ATTIE, William. Auditoria – Conceitos e Aplicações. São Paulo: Atlas, 2000.
CASTRO, Domingos Poubel. Auditoria e Controle Interno na
Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2008.
GUERRA, Evandro Martins. Os controles externos e internos
da administração pública. Belo Horizonte: Fórum, 2005. MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Curso Prático de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública. São Paulo:
Saraiva, 2006.
PETER, Maria da Glória Arrais; MACHADO, Marcus Vinícius
Veras. Manual de Auditoria Governamental. São Paulo: ed. Atlas, 2007. Dedico esse livro a meu pai que me desperta a vontade de ser cada vez mais parecido com Cristo e que me mostrou que é possível vencer quando se busca do Alto e se concretiza aqui. O AUTOR
Dr. Erich Nonato da Silva, nascido em São Domingos do
Prata Estado de Minas Gerais é Master Busines Administration (MBA) em Gestão Pública, Pós Graduado em Auditoria em Organizações do Setor Público, Pós Graduado em Direito Administrativo, Pós Graduado em Direito Constitucional, Pós Graduado em Direito Eleitoral, Pós Graduado em Direito Processual Civil, professor, palestrante, conferencista, autor dde diversos livros da área do direito público, Membro da Comissão de Direito Municipal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/MG e Consultor Sênior do escritório Nonato e Coura Sociedade de Advogados com larga atuação em Prefeituras, Câmaras, Autarquias e Consórcios Públicos.
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