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695-60

LIBERAÇÃO MIOFASCIAL AUMENTA A FLEXBILIDADE MUSCULAR EM ATLETAS

Artigo de Revisão
MIOFASCIAL RELEASE INCREASES MUSCLE FLEXBILITY IN ATHLETES

Elison Barreto¹, Douglas Massoni Ramos², Frederick Fernandes da Silva1, Ana Claudia
Petrini1*

1. Fisioterapia. Centro Universitário Uninorte. Rio Branco, AC, Brasil.


2. Fisioterapia. UNICAMP/SP. São Paulo, SP, Brasil.

*Autor correspondente: ana.petrini@uninorteac.edu.br

RESUMO

Introdução: O tecido miofascial pode desencadear restrições oriundas de treinamentos


físicos que resultam em fadiga muscular, causando estresse e gerando pontos de tensões
no tecido muscular. A técnica de liberação miofascial tem sido utilizada como estratégia
fisioterapêutica com o intuito de reorganizar a fáscia e manter a homeostase entre o
tecido fascial e muscular; nos indivíduos atletas essa homeostase minimiza os riscos de
lesões e sobrecarga muscular. Objetivo: Relatar os efeitos e a aplicabilidade da liberação
miofascial em atletas. Método: Trata-se de uma revisão sistemática de literatura de
artigos científicos que foram recuperados na base de dados Medline e Lilacs com o
cruzamento dos seguintes descritores: atleta, manipulações musculoesqueléticas, fáscia e
fisioterapia. Dessa forma, após a aplicação dos devidos critérios de inclusão e exclusão,
onze investigações apresentaram elegibilidade para compor a presente revisão.
Resultados: Os resultados encontrados demonstram que 63,6% dos artigos selecionados
utilizaram em seus experimentos apenas o rolo de espuma como ferramenta para a
liberação miofascial em atletas; 36,4% dos artigos selecionados realizaram o tempo de
aplicação da liberação miofascial correspondente a 10 minutos, e 81,9% dos artigos
encontraram resultados positivos em seus desfechos na variável flexibilidade muscular.
Conclusão: Os resultados sugerem que as abordagens terapêuticas por meio da
liberação miofascial em atletas apresentam bons resultados clínicos em promover
aumento na flexibilidade muscular, mesmo com diferentes tempos de aplicação, e que a
ferramenta predominante para a execução da liberação miofascial nesses atletas têm sido
o rolo de espuma.

Palavras-chave: Atletas. Manipulações musculoesqueléticas. Fáscia. Fisioterapia.

ABSTRACT

Introduction: Myofascial tissue has restrictions that come from physical training that
results in muscle fatigue, causing stress and generating stress points in muscle tissue.
The myofascial release technique has been used as a physiotherapeutic strategy in order
to reorganize the fascia and maintain homeostasis between the facial and muscular
tissues. In the athletes, this homeostasis minimizes the risk of injury and muscular
overload. Objective: To report the effects and applicability of myofascial release in
athletes. Method: This is a systematic literature review of scientific articles retrieved from
Medline and Lilacs with the following descriptors: athlete, musculoskeletal manipulations,
fascia and physiotherapy. Thus, after applying the appropriate inclusion and exclusion
criteria, eleven investigations presented eligibility to compose the present review. Results:
The results show that, 63,6% of the articles selected, used in their experiments the foam

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roller as a tool for the myofascial release in athletes; 36.4% of the selected articles

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performed the time of application of myofascial release corresponding to 10 minutes and
81,9% of the articles found positive results in their outcomes in the variable muscle
flexibility. Conclusions: The results suggest that therapeutic approaches through
myofascial release in athletes present good clinical results in promoting increased muscle
flexibility, even with different application times, and that the most used tool for the
execution of myofascial release in these athletes has been the foam roll.

Keywords: Athletes. Musculoskeletal manipulations. Fascia. Physiotherapy.

INTRODUÇÃO Por vez, a liberação miofascial,

Fáscia é uma camada visco-elástica trata-se de uma técnica terapêutica com


a finalidade de retirar as restrições faciais
do corpo que origina uma matriz
funcional de colágeno tridimensional, é nos casos em que a fáscia, por algum

conectada com todos os outros tecidos motivo, encontra-se com maior

do corpo, microscópica e densidade tecidual, limitando a atividade


1,4
macroscopicamente, de modo que essas funcional da mesma . Sabe-se que

matrizes de colágeno são essas restrições podem ser oriundas de

arquitetonicamente contínuas, sendo treinamentos físicos que resultam em

assim, fundamentais para fornecer fadiga muscular, causando estresse e

continuidade nos tecidos e melhorar a gerando pontos de tensões específicos

função, bem como o suporte nos no tecido muscular. 2,3,4

sistemas, englobando todas as estruturas A liberação miofascial pode ser

corporais. 1 efetuada através do manuseio de

Relatos1,2,3,4 sobre o conjunto de instrumentos, como exemplo, o rolo de

fáscias e tecido conjuntivo que revestem espuma (RE), abrasão, hastes e

todos os tecidos moles do corpo humano massageadores, bem como, por manejos

descrevem que, dentre as múltiplas manuais ou, ainda, ambos associados,

funções da matriz de tecido conjuntivo, a onde o terapeuta manipula o tecido

fáscia une, comprime, protege, envolve e miofascial mobilizando uma determinada

separa tecidos, possuindo função região corporal que geralmente se

sensorial e de armazenamento de apresenta densa e limita o deslizamento

energia, auxiliando na transmissão de entre as estruturas do tecido

força entre os segmentos corporais e musculoesquelético, restringindo o

facilitando o deslizamento dos tecidos movimento fisiológico. 3,4,5

uns sobre os outros, consequentemente, No que concerne à aplicação da

participando ativamente do movimento e liberação miofascial em atletas,

da estabilidade. 2 Cheatham et al.2 e Souza6 enfatizam que

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o uso terapêutico da liberação miofascial Nesse sentido, o objetivo do

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tem sido aplicado aos esportistas, presente estudo foi relatar os efeitos e a
sobretudo, durante períodos de exaustão aplicabilidade da técnica de liberação
em treinamentos, ou seja, quando a miofascial em atletas.
fadiga já está instalada nos músculos e, MATERIAL E MÉTODOS
dentre os principais efeitos da técnica,
Trata-se de uma revisão sistemática
Cheatham et al.2 salientam a melhora na
da literatura de artigos científicos
flexibilidade e na força muscular.
recuperados nas bases de dados Medline
A reorganização tecidual produzida
e Lilacs. As palavras-chave utilizadas de
pela técnica de liberação miofascial é
acordo com os descritores em ciências
capaz de minimizar a fadiga local e a
da saúde (DeCS) foram: atletas,
excitabilidade muscular, induzindo ao
manipulações musculoesqueléticas,
relaxamento muscular e mantendo a
fáscia e fisioterapia, com seus descritores
homeostase entre o tecido fascial e
em inglês: athlete, musculoskeletal
muscular, além do mais, a manobra após
manipulations, fascia and physiotherapy.
o exercício gera bem-estar, sensação de
Para tanto, os critérios de inclusão
tranquilidade, redução da ansiedade e
foram artigos científicos publicados na
melhora no humor ao atleta.6,7
9
língua oficial do país (português) e na
Ainda nesse contexto, Silva et al.
língua inglesa, nos últimos 10 anos, ou
em um estudo de revisão sistemática da
seja, de 2007 a 2017, disponibilizados na
literatura ressaltaram que os efeitos da
íntegra para o acesso, e aqueles com
liberação miofascial consistem no
delineamento metodológico de ensaios
aumento do arco articular, facilitando a
clínicos aleatórios randomizados. Foram
execução de gestos esportivos e
excluídos os artigos científicos: de
culminando na melhora de rendimento.
revisão bibliográfica; aqueles em que os
Logo, ao considerar a fáscia como
voluntários dos estudos não eram atletas
um tecido primordial para a homeostase
e aqueles cujas intervenções não eram
muscular, a liberação miofascial pode
referentes às técnicas de liberação
contribuir para o melhor desempenho
miofascial.
muscular na execução dos movimentos
O fluxograma representado na
no esporte, bem como no auxílio à
Figura 1 sintetiza os passos realizados
recuperação muscular após o treino,
na seleção dos artigos científicos que
favorecendo não apenas qualidade do
compõem a presente revisão sistemática
gesto esportivo, mas também a qualidade
de literatura.
e rendimento do atleta 7,8,9.

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Desse modo, os resultados estão liberação miofascial, o tempo de

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apresentados em tabela, contendo o aplicação da técnica, o número de atletas
nome dos autores, o ano da publicação, e os principais resultados encontrados.
a técnica utilizada para a execução da

Figura1: Fluxograma da triagem dos artigos que compõem a presente revisão


sistemática.
RESULTADOS

Os dados referentes aos artigos


científicos selecionados estão descritos
na tabela que segue abaixo (tabela 1).

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Tabela 1: Artigos incluídos no estudo: autor e ano de publicação, técnica utilizada para a

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execução da liberação miofascial, tempo de aplicação da técnica, número de atletas e
resultados principais.

Autor, Ano Técnicas de Tempo de aplicação Número Resultados


de liberação da técnica de atletas principais
publicação miofascial
utilizadas
Arroyo et Liberação A duração (40 62 Houve uma diminuição
al., 200910 miofascial com minutos), posição e participantes, significativa na
rolo de espuma terapeuta foram os divididos atividade
(sem o fabricante mesmos para os aleatoriamente eletromiográfica (EMG)
do rolo tratamentos de sem de VM (p = 0,02) no
discriminado) em liberação miofascial discriminação grupo de liberação
glúteo máximo, quanto para o de sexo, com miofascial versus um
quadríceps, tratamento simulado idade de 18 a aumento não
isquiotibiais e com ultrassom 26 anos. significativo no grupo
gastrocnêmico. desconectado e Grupo placebo (p = 0,32), e
equipamentos de Liberação uma diminuição no
magnetoterapia. Miofascial, vigor (p <0,01) no
n.32; Grupo grupo de liberação
Placebo, n.30. miofascial versus
nenhuma mudança no
grupo placebo (p =
0,86).
Kain et al., Bolsas quentes e 20 minutos com bolsa 31 Não houve melhora
201111 liberação quente e 3 minutos da participantes satisfatório no grupo
miofascial técnica tri-planar divididos em que fez uso de bolsa
manual. indireta. 2 grupos, quente, porém, houve
bolsa quente melhora satisfatória (p
(n=13) e <0,05) na variável
liberação flexibilidade quando
miofascial aplicada a liberação
(n=18) sem miofascial manual.
discriminação
de sexo, com
idade 13 a 18
anos.
Macdonald Liberação 2–10 minutos. 11 Houve melhora
et al., miofascial com participantes, significativa (p <0,001)
201312 rolo de espuma todos do na amplitude de
(fabricação sexo movimento (ADM) do
própria, masculino, joelho.
construído de um com idade 22
tubo de PVC oco a 38 anos.
e cercado por
espuma de
Neoprene) nos
extensores de
joelho.

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Artigo de Revisão
(Continuação)
Tabela 1: Artigos incluídos no estudo: autor e ano de publicação, técnica utilizada para a
execução da liberação miofascial, tempo de aplicação da técnica, número de atletas e
resultados principais.
Healey et al., Liberação miofascial com 3 minutos.
26 participantes, O rolo de espuma
201413 rolo de espuma sendo 13 não teve efeito
(Fabricante: Foam Roller mulheres e 13 positivo no
Plus). homens, com desempenho
idade de 12 a 18 (performance) dos
anos. voluntários.
Behara e Liberação miofascial com 1 minuto para 14 participantes, Houve melhora
Jacobson., rolo de espuma cada grupo sendo todos significativa (p=
201514 (Fabricante: The Rumble muscular. homens, sem 0,0001) na
Roller®) em glúteo discriminação de flexibilidade de
máximo, quadríceps, idade. extensão do quadril.
isquiotibiais e Não houve melhora
gastrocnêmico. na força, potência e
velocidade.
Grieve et al., Liberação miofascial com 4 minutos. 24 participantes, Houve melhora
201515 bola de tênis nos membros sendo 16 significativa (p= 0,05)
inferiores e coluna lombar. mulheres e 8 na flexibilidade da
homens, com coluna lombar e
idade média de 28 isquiotibiais.
anos.
Markovic., Liberação miofascial com 5 minutos. 20 participantes Houve melhora
201516 rolo de espuma homens, com significativa (p <
(Fabricante: Trigger Point idade de 19 anos 0,05) na flexibilidade
Performance Therapy, sem discriminação de joelho e quadril.
Austin TX, EUA), técnica de idade.
de abrasão fascial nos
músculos flexores do
quadril e joelho.
Junker e Liberação miofascial com 5 –10 minutos. 40 participantes, Houve melhora
17
Stogg, 2015 rolo de espuma (sem o sendo todos do significativa (p=
fabricante do rolo sexo masculino, 0.001) na
discriminado) em com idade de 17 a flexibilidade dos
isquiotibias. 47 anos. isquiotibiais.
Souza et al., Liberação miofascial com 10 minutos. 14 participantes, Houve melhora
201718 bolas, hastes, rolo de todos homens significativa (p
espuma (Fabricante: RM sem discriminação <0,001) em
Produtos) e de idade. dorsiflexão e (p
massageadores para os <0,001) flexão do
músculos dorsiflexores e quadril.
flexores do quadril.
Junior et al., Liberação miofascial com 10 minutos. 12 participantes, Houve melhora
201719 rolo de espuma todos homens, significativa (P <0,05)
(Fabricante: Foam Roller – com idade de 15 a na flexibilidade de
Rope Brasil) nos músculos 17 anos. isquiotibiais.
piriforme, isquiotibiais,
banda iliotibial,
quadríceps, adutores e
gastrocnêmicos,
bilateralmente.

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(Continuação)
Tabela 1: Artigos incluídos no estudo: autor e ano de publicação, técnica utilizada para a
execução da liberação miofascial, tempo de aplicação da técnica, número de atletas e
resultados principais.
Krause et al., Liberação miofascial 15 minutos. 16 participantes, Houve melhora
201720 com rolo de espuma sem discriminação significativa (p <0,05)
(Fabricante: Blackroll, de sexo, com da flexibilidade nos
Bottighofen, Suíça) na idade de 20 a 40 membros inferiores
região anterior da anos. com o uso do rolo de
coxa. espuma.

DISCUSSÃO para a execução do tratamento miofascial

No que concerne à abordagem em atletas, sendo ela o rolo de espuma.

fisioterapêutica utilizada para a liberação No que diz respeito ao tempo de

miofascial, nota-se que 63,6% (sete) dos aplicação das técnicas de liberação

artigos selecionados utilizaram em seus miofascial, observaram-se diferentes

experimentos apenas o rolo de espuma tempos entre os autores dos artigos

como ferramenta para a liberação selecionados, 9,1% (um) dos artigos

miofascial 10,12,13,14,17,19,20
; 9,1% (um) dos selecionados realizaram o tempo de

artigos selecionados11 utilizaram as aplicação de 40 minutos em atletas10;

bolsas quentes e a liberação manual, 9,1% (um) dos artigos realizaram com o

como ferramenta para o tratamento tempo de aplicação de em média quatro

miofascial; 9,1% (um) dos artigos minutos15 ; 9,1% (um) efetuou o tempo de

selecionados15 utilizaram a liberação aplicação em 20 minutos11; 9,1% (um)

miofascial com bola de tênis nos dos artigos realizaram com o tempo de

membros inferiores e coluna lombar; aplicação de em média quatro minutos13;

9,1% (um) dos artigos selecionados16 9,1 % (um) executaram o tempo de

utilizaram a liberação miofascial com rolo aplicação de 15 minutos20; 9,1% (um)

de espuma e técnica de abrasão fascial, realizaram o tempo de aplicação de cinco

e outros 9,1% (um) dos artigos minutos16; 9,1% (um) desempenharam o

selecionados18 utilizaram a liberação tempo de aplicação de um minuto14 e

miofascial com os auxílios de rolo de 36,4% (quatro) dos artigos selecionados

espuma, bolas e hastes como realizaram o tempo de aplicação

ferramentas. equivalente a 10 minutos 12,17,19,18.

Dessa forma, é notório que houve Os dados demonstram não haver

entre os artigos selecionados uma um consenso entre os autores com

predominância do tipo de ferramenta relação ao tempo de aplicação da


liberação miofascial em atletas, embora

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uma porcentagem maior de artigos aos atletas. Macdonald et al.12 e Krause


utilizando o tempo equivalente a 10 et al.20 enfatizam que o sistema da
minutos tenha sido observada. liberação miofascial tem sido uma das
Nota-se que 81,9% (nove) dos estratégias mais utilizadas em atletas
estudos selecionados obtiveram com o objetivo de minimizar a dor tardia
resultados positivos em seus desfechos11, relacionada ao treinamento de força e
12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20
. Logo, constata-se contribuir com o aumento e manutenção
que nesses estudos houve a melhora da flexibilidade muscular, com resultados
significativa na variável flexibilidade otimizados.
muscular dos atletas. Vários mecanismos fisiológicos e
Vale salientar que os resultados biológicos relacionados ao tecido
positivos ocorreram entre os estudos conjuntivo podem reforçar a relação entre
supracitados11, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20
, a técnica de liberação miofascial por
mesmo com diferentes abordagens meio do rolo de espuma e o aumento da
17
fisioterapêuticas na execução da flexibilidade. Junker e Stoggl , por
liberação miofascial e tempo de aplicação exemplo, enfatizam dois aspectos-chave
entre os protocolos utilizados pelos responsáveis pela redução da
autores. flexibilidade nos indivíduos, a restrição e
Já 18,2% (dois) dos artigos adesão fascial.
selecionados não obtiveram resultados Ressalta-se que a fáscia possui
positivos em seus desfechos: Behara e propriedades elásticas, plásticas e visco-
Jacobson14, que não demostraram elásticas coloidais, é bastante inervada,
efetividade apenas para as variáveis participando na propriocepção e na
força, velocidade e potência, e Healey et sensação de dor, bem como é bastante
al.13, que afirmaram não haver melhora funcional e não passiva, participando no
significativa para o quesito performance movimento e na estabilidade21. Nesse
dos atletas. Desse modo, os dados sentido, em resposta aos eventos
reforçam o efeito da liberação miofascial, fisiológicos que são desencadeados após
sobretudo para a variável flexibilidade traumas, processos inflamatórios,
muscular. imobilidade e sobrecarga muscular
Nesse sentido, apesar dos (comum em atletas), a fáscia perde sua
diferentes protocolos e ferramentas capacidade de deslizamento, ficando
utilizados para a execução da liberação restrita17,19 ,20.
miofascial, os resultados dos estudos Para tanto, a alteração de tensão do
indicam que a técnica é benéfica para tecido local, induzida pela técnica de

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liberação miofascial, é capaz de metodológica dos estudos selecionados


influenciar a recuperação pós-traumática, com relação às características dos
via mecanotransdução, como, por sujeitos, como idade e sexo, bem como
exemplo, por meio de mudanças na com relação às variáveis avaliadas em
colagenase e/ou produção de TGF-β121, cada estudo, tornou-se restrita a
criando um ambiente extracelular fluido e comparação de todos os dados entre os
funcional, permitindo o deslizamento e, autores.
consequentemente, aumentando a CONCLUSÃO
17, 20
flexibilidade .
Os resultados da presente revisão
No estudo de revisão sistemática da
sistemática de literatura sugerem que as
literatura conduzido por Silva et al.9, os
abordagens terapêuticas por meio da
autores concluíram que as evidências
liberação miofascial em atletas
encontradas, em sua totalidade,
apresentam bons resultados para a
apontaram a eficiência da liberação
melhora da flexibilidade muscular e que a
miofascial no que concerne ao aumento
ferramenta predominante para a
nos ganhos de flexibilidade e discutem
execução da liberação miofascial nesses
dois principais mecanismos para o efeito:
atletas tem sido o rolo de espuma.
o mecânico, por meio do remodelamento
No entanto, vale ressaltar que tais
estrutural, especialmente na elastina, e
achados inferem que novos estudos
colágeno que culmina no aumento da
devem ser desenvolvidos acerca da
complacência tecidual, permitindo maior
temática, com grupos (número de
arco articular; e o neurofisiológico, que
sujeitos e sexo), metodologias e
inclui a ação de mecanorreceptores, bem
protocolos de tratamentos homogêneos,
como a modulação central da percepção
a fim de garantir a qualidade
da dor, permitindo maior tolerância ao
metodológica da evidência científica.
estiramento e, consequentemente, maior
arco articular via flexibilidade muscular. REFERÊNCIAS
Todavia vale ressaltar que as 1 KUMKA, M; BONAR, J. Fascia: uma
ferramentas para a execução da descrição morfológica e sistema de
classificação baseado em uma
liberação miofascial (manual e/ou revisão da literatura. J Can Chiropr
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/artic
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sistemática supracitada. mai. 2017.

Uma limitação do presente estudo 2 CHEATHAM, S.W et al. The effects of


foi que, em virtude da diferença self-myofacial realese using a foam

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DêCiência em Foco. ISSN 2526-5946 2019; 3(1): 129 - 139

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