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Liberação miofascial e

pompage
Fáscia

Fáscia é um tipo de tecido conjuntivo que envolve as


estruturas do corpo, entre elas os músculos.
A manipulação fascial é fundamental no tratamento das
disfunções cinético-funcionais, pois ela devolve a liberdade e
organização dos movimentos, diminuindo, assim, o quadro
sintomatológico de dor.
Características do tecido conjuntivo e da fáscia  
O tecido conjuntivo tem como função unir os demais
tecidos e servir de conexão, preenchimento e
sustentação, sendo um dos mais abundantes e
amplamente distribuído pelo corpo (TORTORA;
DERRICKSON, 2017).
Esse tecido ainda absorve impactos, armazena gordura
e íons, defende o organismo e atua na coagulação
sanguínea, na cicatrização e no transporte de gases,
nutrientes e catabólitos. Além disso, ele possibilita o
movimento e oferece apoio para outros tecidos.
Em algumas literaturas, os autores denominam o tecido conjuntivo de tecido conectivo.
Em termos de composição, o tecido conjuntivo é formado por células e é  abundante também em
matriz extracelular, uma substância fundamental de aspecto líquido (gelatinosa ou sólida) e fibras
proteicas. Veja quais são os tipos de células que compõem essa matriz no Quadro 1.  
Fáscia

A fáscia é altamente inervada e a sua propriocepção é ofertada pelos mecanorreceptores.


Estes são proprioceptores que monitoram a posição articular, a tensão do ligamento, a carga do
tendão e a condição do tônus e da contração muscular (CHAITOW, 2015)
A fáscia  

Fáscia é um termo em latim que significa “faixa” ou “banda”. Trata-se de um tipo de tecido conjuntivo
e uma grande rede que forma o corpo interno e externo, e serve como armação para todos os
sistemas do corpo.
A fáscia envolve os músculos, tendões, ligamentos e o tecido adiposo (DONATELLI, 2015; CLAY;
POUNDS, 2008). A seguir estão listadas as funções desse tecido:  
„ atua na transmissão de força;
„ direciona e aumentar a força de contração;  
„ oferece formato ao corpo;
„ proporciona a manutenção do movimento interno entre os tecidos moles;  
A fáscia é dividida em três tipos: superficial, profunda e visceral.
A fáscia superficial (denominada também de tecido suncutâneo) se localiza embaixo da pele e é
composta por células adiposas. Ela também é imersa em linfa intersticial, rica em vasos linfáticos e
periféricos.
A fáscia profunda está localizada abaixo da superficial. Além de revestir um grupo muscular, ela
também envolve os músculos, os fascículos e as fibras musculares.
A fáscia profunda é uma das principais responsáveis por limitar a força externa do músculo
contraído para direcionar e aumentar a força contrátil, a restrição excessiva ou a elasticidade
limitada (DONATELLI, 2015). O movimento do corpo humano é resultante da ação do tecido
muscular, que é envolvido pelo tecido conjuntivo.
A fáscia tem facilidade para se adaptar hidrodinamicamente em resposta a estímulos de
compressão e alongamento.
Isso ocorre devido à afinidade dos PG com a água, ou seja, eles têm tendência a absorver a água
durante essas técnicas, possibilitando a redução do edema e o aumento do suporte aquoso para as
proteínas. A falta dessa água pode resultar em aderências e rigidez fascial (CHAITOW, 2015).
Manobras e técnicas de pompage e liberação
miofascial

Pompage  
A pompage é uma técnica de terapia manual criada pelo francês Marcel Bienfait,
a qual consiste na ação direta sobre o tecido conjuntivo por meio de toques no
segmento corporal do paciente (SACON, 2009).
Ela tem como objetivo promover relaxamento muscular e melhorar a
regeneração muscular e a circulação local. Durante a sua aplicação, o segmento
corporal a ser tratado é tensionado lenta, regular e progressivamente.
O propósito desse manuseio é transmitir tensões mecânicas pela ação
muscular, permitindo o deslizamento sobre os músculos (SILVA; MAIA 2018).
Segundo Antunes et al. (2017), a pompage pode ser realizada em qualquer parte
do corpo e pode ser aplicada em contraturas musculares, dor, tensão muscular e
disfunções miofasciais. Essa técnica é contraindicada em casos de contraturas
agudas, rupturas de ligamentos e fáscias, além de estiramentos musculares.
Pompage
A técnica de pompage é realizada em três tempos: tensionamento do segmento corporal, manutenção da tensão e
retorno (SILVA; MAIA 2018).
Veja a descrição de cada um deles a seguir:
„ Primeiro tempo (tensionamento do segmento): o fisioterapeuta alonga lenta, regular e progressivamente a região
muscular do segmento a ser tratado, até o limite de distensibilidade da fáscia, e segue até o limite da elasticidade
fisiológica.
„ Segundo tempo (manutenção da tensão): a tensão é mantida de 15 a 20 segundos, tempo necessário para que a
cartilagem absorva o líquido sinovial que a circunda. Durante a manutenção dessa tensão, o paciente deve realizar
três expirações inibidoras. O fisioterapeuta vai sentir o relaxamento dessa tensão durante cada expiração, a qual
deve ser corrigida durante as expirações.
Terceiro tempo (tempo de retorno): o fisioterapeuta retorna o segmento corporal lentamente à posição inicial. Para
não causar reflexo contrátil, a velocidade de retorno pode ser variada.
Liberação miofascial

A liberação miofascial é constituída por um grupo de técnicas que têm como


objetivo aliviar os tecidos moles da tensão fascial (PRENTICE, 2014).
Segundo Starkey (2017), a liberação miofascial abrange a combinação de
técnicas de deslizamento tradicional (amassamento e fricção) associadas ao
alongamento simultâneo da musculatura e da fáscia para conseguir o
relaxamento dos tecidos tensos ou aderidos e recompor a mobilidade.
Essa técnica está indicada para o alongamento das camadas miofasciais e
para reparar a mobilidade entre as camadas fasciais e nas aderências.
Por outro lado, não deve ser realizada em casos de infecção sistêmica,
presença de tumores malignos, celulite, osteomielite, edema obstruído,
hematomas, suturas, fraturas em cicatrização, feridas abertas, osteoporose
severa, e em pacientes que estão em terapia anticoagulante (ANDRADE;
CLIFFORD, 2003).
A liberação miofascial pode ser realizada de duas formas:
por modalidades manuais ou assistida por instrumentos.
A liberação miofascial pode ser aplicada também com
auxílio de instrumentos. Nesse caso, uma das técnicas
utilizadas é a Graston, na qual são aplicadas as técnicas
com instrumentos de aço inoxidável com bordas chanfradas,
curvadas e projetadas para se acoplarem a diversas curvas,
formas e tecidos do corpo.
Modalidades manuais

A liberação miofascial manual pode ser realizada de várias formas:


*toque em J,
*rolamento da pele,
*alongamento localizado,
*tração de membros inferiores,
*tração de membros superiores.
-O toque em J serve para liberar aderências e restrições de mobilidade. Nele o
fisioterapeuta move a pele com uma mão para colocar a aderência em
alongamento e, com o segundo e terceiro dedos da outra mão, massageia no
sentido oposto à que está mantendo o alongamento, até formar uma curva em J.
Deve-se manter esse procedimento por 90 segundos a dois minutos, ou até a
liberação da aderência (STARKEY, 2017)
-O rolamento da pele é indicado para liberar aderências miofasciais superficiais, a partir da
identificação inicial de qualquer rigidez ou aderência local. Com os dedos e o polegar, o
fisioterapeuta levanta e separa a pele, rolando-a em seguida entre os dedos na direção da
restrição. Se a aderência não for liberada, a pele deve ser movida no sentido diagonal da
aderência. Deve-se repetir esse processo até o desaparecimento das aderências
-A técnica do alongamento localizado é realizada em
grandes grupos  musculares e tem como objetivo
reduzir aderências superficiais e profundas.
O fisioterapeuta posiciona uma das mãos na área da
aderência, enquanto cruza o braço oposto formando
um X.
Após as mãos serem posicionadas, traciona os
tecidos aplicando uma pressão de lenta a profunda,
alongando em sentidos opostos à musculatura
A técnica de tração dos membros superiores e dos inferiores alonga toda
 a fáscia ao longo do membro. O manuseio nos membros superiores é
similar ao dos inferiores.
Tomando como exemplo a técnica de tração no membro superior, o
fisioterapeuta deve posicionar o paciente em decúbito ventral com o
braço a ser tratado relaxado e para fora da maca.
A seguir, o profissional deve apoiar uma das mãos sobre a porção
superior da escápula e a outra mão na região anterior do braço,
aplicando uma força de tração leve.
Mantém-se o alongamento até que o relaxamento do membro seja
perceptível. Logo após, o membro é abduzido de 10 a 15 graus e o
mesmo procedimento é repetido.
O fisioterapeuta prossegue aplicando esse procedimento até alcançar a
abdução completa ou até a diminuição da dor.
Além da técnica manual, a liberação miofascial pode
ser aplicada com instrumentos de aço e com materiais
como bolas, rollers, bastão e rolos de espuma. Essa
técnica também pode ser realizada pelo paciente,
tornando-se ativa. Os seus principais objetivos são
melhorar a flexibilidade e a amplitude de movimento.
 
Intervenções práticas em
disfunções cinético-funcionais

Técnica de pompage para alívio da dor na cervicalgia


Nesse exemplo ilustrativo da aplicação de pompage, o
paciente relata dor contínua na região superior da coluna
cervical, que se acentua no ambiente de trabalho ao se
sentar em frente ao computador.
Na palpação, apresenta tensão muscular no músculo
esternocleidomastoideo esquerdo e na porção superior
esquerda do trapézio.
O objetivo da técnica apresentada a seguir é diminuir a dor e
liberar a tensão muscular imposta pelo trabalho do paciente.
Espera-se, após o tratamento, que ele consiga voltar às suas
atividades sem apresentar quadros de dor, proporcionando a
restauração dos movimentos.
Descrição do tratamento
1. Posicione o paciente confortavelmente em decúbito dorsal.
2. Apoie a mão esquerda no ombro esquerdo do paciente e a outra mão
na região occipital da cabeça.
3. Realize uma leve flexão, lateralização para o lado direito e rotação da
cervical para o lado esquerdo.
4. Realize toques de deslizamento suave, longo e lento, mantendo uma
tensão de 15 a 20 segundos associada ao padrão respiratório (isto é, o
paciente deve expirar durante a tensão aplicada).
5. Retorne à posição inicial de forma lenta e gradativa, executando de 5 a
10 repetições ou até amenizar a dor.
Liberação miofascial na região lombar

Nesse exemplo, um paciente de 45 anos, motorista de


ônibus, relata dor na região lombar direita, que se
acentua durante a realização do seu trabalho.
Na avaliação, ele apresenta dificuldade para inclinar a
coluna para o lado direito.
A técnica de liberação miofascial tem o objetivo de
restaurar a ADM e diminuir a dor lombar, então espera-
se do tratamento a volta do paciente ao trabalho sem
quadro álgico.
Continua no próximo slide
Descrição do tratamento
1. Posicione o paciente em decúbito ventral.
2. Apoie as suas mãos cruzadas na região lombar do
paciente.
3. Realize uma tração de alongamento de 90 segundos a 2
minutos.
4. Repita a técnica até sentir relaxamento da musculatura ou
alívio da dor lombar.
Ponto gatilho
Pontos-gatilho miofasciais são pontos específicos no interior de um músculo
esquelético que são palpáveis e cuja pressão os pacientes relatam como
desconfortável ou dolorosa; os pacientes relatam dor em um padrão
característico, que pode ser eliminada com terapia manual.
Eles foram descritos por Simons, Travell e Simons (1999) como “um ponto
hiperirritável no músculo esquelético que está associado a um nódulo
palpável hipersensível em uma banda tensa”
Descrito por Leon Chaitow (2000) como “áreas localizadas de sensibilidade
profunda e resistência aumentada, e em que frequentemente há contrações e
fasciculações à pressão digital sobre esse gatilho”.
Massagem e outras modalidades, como inserção de agulhas
a seco, injeção de anestésico e crioalongamento relatam a
redução da hipersensibilidade desses pontos e, assim, a
redução da dor associada a eles.
Usa-se massagem e alongamento para desativar pontos-
gatilho.
Como a LTM combina esses métodos, postula-se que a LTM
pode ser usada como um tratamento significativo por si só.
Por que tratar pontos-gatilho
Os pontos-gatilho estão associados a vários problemas, como:

Músculos tensos e fracos.


Diminuição da força muscular.
Rigidez articular.
Dor articular.
Dor muscular.
Eles também têm sido associados com cefaleias, visão turva, tontura e
problemas sinusais (Davies, 2004).
Como identificar um ponto-gatilho
Os pontos-gatilho emitem sinais elétricos que são mensuráveis. Clinicamente,
eles são detectados com facilidade porque estão localizados no ventre do
músculo, são dolorosos quando pressionados com firmeza e irradiam a dor em
um padrão previsível.
Ao passar um dedo ou o polegar firmemente sobre um músculo que contenha
pontos-gatilho, eles poderão ser sentidos como uma área em forma de ervilha
de tensão aumentada, e seu paciente, sem dúvida, informará que o ponto foi
localizado.
O músculo nesse ponto é firme ao toque e resistente à pressão, e pode
parecer mais quente que o normal. Quando pressionados, os tecidos
provocam o que é chamado de sinal de salto; isto é, quando são dedilhados,
eles produzem um movimento característico.
Outra característica interessante dos pontos-gatilho é que eles podem
estar latentes ou ativos. Simons, Travell e Simons (1999) descrevem os
pontos-gatilho latentes como “clinicamente quiescentes em relação à dor
espontânea”, o que significa que esses pontos são dolorosos apenas
quando pressionados.
Por comparação, um ponto-gatilho ativo “está o tempo todo sensível” e
produz dor referida e sensibilidade. Ambas as modalidades de pontos-
gatilho têm uma banda tensa em seu interior que restringe a amplitude de
movimento .
Esses pontos podem variar em tamanho, desde uma pequena
protuberância, como uma ervilha, até um grande inchaço, podendo ser
sentidos na superfície do corpo, entremeados no interior das fibras
musculares.
Se forem sensíveis à palpação podem ser considerados pontos-gatilho. O
tamanho de um ponto-gatilho varia de acordo com o tamanho, o formato e o
tipo de músculo no qual é gerado.
Por outro lado, é constante nos pontos-gatilho o fato de serem tão sensíveis
à palpação que, quando pressionados, o paciente se retrai por causa da dor,
relatando uma forte “agulhada” e apresentando espasmos.
Prevalência
Os pontos-gatilho miofasciais podem estar envolvidos em todos os tipos de dor musculoesquelética
ou de dor muscular mecânica, sendo sua presença também observada em bebês e crianças.
A dor ou outros sintomas podem ser decorrentes da ativação dos pontos-gatilho, considerando-se
além disso que a dor pode se tornar crônica em virtude de pontos-gatilho latentes ou inativos.
Estudos e pesquisas realizados em populações de pacientes selecionadas com base em diversas
regiões do corpo confirmam uma alta prevalência de dor nos pontos-gatilho.
Os pontos-gatilho desenvolvem-se na miofáscia, principalmente no ponto mais central do
ventremuscular, onde se localiza a placa motora (primária ou central).
Entretanto, os pontos-gatilho secundários ou satélites com freqüência se desenvolvem em resposta
a pontos-gatilho primários.
Esses pontos satélites costumam desenvolver-se ao longo das linhas fasciais de tensão. Como
descrito anteriormente, essas linhas de tensão podem surgir em qualquer período da embriogênese.
Fatores externos como idade, morfologia do corpo, postura, ganho de peso, malformações
congênitas e outros podem ser decisivos na formação e manifestação dos pontos-gatilho
Como saber se é um ponto-gatilho? Verifique se há:
• Rigidez em um músculo afetado; • Ponto sensível (dor intensa); • Nódulo ou banda tensa palpável;
• Presença de dor referida; • Reprodução dos sintomas do paciente (com precisão).
Quais métodos de palpação devem ser usados?
• Palpação com a polpa digital dos dedos da mão (palpação digital); deve-se manter as unhas
sempre cortadas, quanto mais curtas, melhor;
• Palpação por deslizamento: usar a polpa dos dedos da mão para circundar a pele do paciente no
sentido das fibras musculares;
• Palpação em pinça: pinçar o ventre do músculo entre o polegar e outros dedos, movimentando as
fibras musculares para a frente e para trás;
• Palpação por deslizamento com as mãos espalmadas; é utilizada na região abdominal (vísceras); •
Palpação com o cotovelo; será útil quando for necessária uma maior potência
Como tratar pontos-gatilho
Os pontos-gatilho podem ser reduzidos pela aplicação de pressão
suave. As técnicas variam. Davies (2004) sugere pressionar o ponto 6 a
12 vezes ao dia. Para um paciente que realiza autotratamento, esse
conselho é valioso, mas para um fisioterapeuta isso é obviamente
impraticável. O uso da LTM pode ser benéfico na redução de pontos-
gatilho usando o seguinte método:

1-Identifique o ponto-gatilho. Palpe a área e obtenha feedback do seu


paciente.
2-Siga as diretrizes para a aplicação de LTM passiva ou
passivoassistida e encurte passivamente o músculo no qual o ponto-
gatilho está localizado, sempre que possível.
3- Aplique uma leve pressão. Em uma escala de 0 a 10, com 10 sendo a pior dor de todos os
tempos e 0 sendo nenhuma dor, peça a seu paciente que lhe informe quão dolorosa é a pressão
que está sendo aplicada.
Enquanto muitos fisioterapeutas usam uma dor de nível 7 como um guia ao tratar pontos-gatilho, o
autor recomenda trabalhar em torno de um nível 5. A justificativa para essa abordagem é dupla.
Em primeiro lugar, conforme os tecidos moles são estendidos e alongados com a LTM, a tensão
aumenta naturalmente e a dor pode piorar. Em segundo lugar, o aumento da dor causa mais tensão
muscular ou proteção muscular no paciente, o que é contraproducente para reduzir os pontos-
gatilho.
5- Localize novamente o ponto-gatilho, aplique uma pressão suave e peça a seu paciente para
informá-lo se o mesmo nível de pressão provoca o mesmo nível de dor. Se o uso da LTM tiver sido
bem-sucedido, seu paciente deve relatar que sente menos dor quando é aplicado o mesmo grau de
pressão que anteriormente.
Pode-se repetir a técnica uma segunda vez, se necessário.
Muitas vezes, a liberação de um gatilho aumenta a amplitude de movimento e a extensibilidade
muscular.
Boa
Noite!

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