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20/11/23, 18:30 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 961/09.4TTVNG.P1.S1
Nº Convencional: 4ª SECÇÃO
Relator: ANTÓNIO LEONES DANTAS
Descritores: CATEGORIA PROFISSIONAL
CARGO DE DIREÇÃO
ACTIVIDADES AFINS OU ACESSÓRIAS
Data do Acordão: 09-10-2013
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: CONCEDIDA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO DO TRABALHO - PRESTAÇÃO DO TRABALHO.
Doutrina:
- BERNARDO XAVIER, “A Mobilidade Funcional e a Nova Redacção do art. 22.º da LCT”,
Revista de Direito e Estudos Sociais, Ano XXXIX, 1997, pp. 69, 92.
- MARIA DO ROSÁRIO DA PALMA RAMALHO, Direito do Trabalho, Parte II – Situações
Laborais Individuais, 3.ª Edição, 2010, p. 439.
- MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito do Trabalho, Almedina, 1994, p. 665.
- MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, 11.ª edição, pp. 206/207.
- PEDRO MADEIRA DE BRITO, Código do Trabalho Anotado, PEDRO ROMANO
MARTINEZ e Outros, Almedina, 5.ª Edição, 2007, p. 341.
Legislação Nacional:
CÓDIGO DO TRABALHO (CT) / 2003: - ARTIGOS 150.º, 151.º, 152.º.
CCT ENTRE A CNIS — CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE
SOLIDARIEDADE E A FEDER. NACIONAL DOS SIND. DA FUNÇÃO PÚBLICA»,
PUBLICADA NO BTE, N.º 17, DE 8 DE MAIO DE 2006.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
- DE 17 DE MARÇO DE 2010, PROFERIDO NA REVISTA N.º 435/09.3YFLSB[5], 4.ª
SECÇÃO, EM WWW.DGSI.PT .
Sumário :
1.ª - A posição do trabalhador, na organização da empresa, define-se
através de um conjunto de serviços e tarefas que formam o objecto da
prestação laboral, pelo que a sua categoria profissional se determina por
referência à classificação normativa, no quadro das funções
efectivamente exercidas.
2.ª - A categoria-função corresponde ao essencial das funções que o
trabalhador se obrigou a desempenhar pelo contrato de trabalho,
podendo a categoria profissional ser entendida na acepção de
“categoria-estatuto” ou normativa, como aquela que define a posição do
trabalhador na empresa, cujas tarefas típicas se encontram descritas na
lei ou em instrumento de regulamentação colectiva.
3.ª - Para o enquadramento do trabalhador em determinada categoria
profissional tem de se fazer apelo à essencialidade das funções
exercidas, no sentido de que não se torna imperioso que o trabalhador
exerça todas as funções correspondentes a determinada categoria – tal
como ela decorre da lei ou de instrumento de regulamentação colectiva
–, mas apenas que nela se enquadre o núcleo essencial das funções
efectivamente desempenhadas.

4.ª – Não pode ser reconhecida a categoria de Director de Serviços,


descrita no Anexo I, da «CCT entre a CNIS — Confederação Nacional
das Instituições de Solidariedade e a Feder. Nacional dos Sind. da
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Função Pública», publicada no BTE, n.º 17, de 8 de Maio de 2006, a


um trabalhador que não desempenha o conjunto essencial das tarefas de
natureza consultiva, organizativa ou directiva ali descritas, não
integrando a «coordenação da equipa de telemarketing», ou a
«supervisão dos estafetas», ou o «controlo dos serviços de fornecimento
de refeições e limpeza da cantina social», ou as tarefas de verificação da
«validade de todos os produtos», o conteúdo funcional daquela
categoria, não podendo igualmente ser consideradas estas actividades
como acessórias, afins ou funcionalmente ligadas às tarefas que
integram o conteúdo funcional daquela categoria profissional.
Decisão Texto Integral: Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça:

AA instaurou a presente acção declarativa, emergente de contrato


individual de trabalho, com processo comum, contra a BB, pedindo que
se: a) - Reconheça que a A. foi admitida ao serviço da R. em 1999-02-
08; b) - Fixe a retribuição da A. no montante de € 1.138,00; c) -
Condene a R. a pagar à A. a quantia de: 1) - € 83.322,32, a título de
diferenças salariais vencidas; 2) - € 4.697,89, a título das férias não
gozadas ao longo dos últimos dez anos; 3) - € 1.551,25, a título de
créditos laborais vencidos com a cessação do contrato de trabalho; d) –
Reconheça que a A. foi ilicitamente despedida por ausência de justa
causa; e) – Condene a R. a pagar à A. o montante correspondente ao
valor das retribuições que ela deixou de auferir nos antecedentes 30
dias e nas que se vencerem até ao trânsito em julgado da decisão; f) –
Condene a R. a reintegrar a A. no seu posto de trabalho, sem prejuízo
da sua categoria e antiguidade, ou a pagar-lhe indemnização de
antiguidade, conforme esta opte; g) – Condene a R. no pagamento dos
juros à taxa legal a contar da data do vencimento de cada uma das
prestações.
Invocou como fundamento da acção instaurada, em síntese, que
trabalhava para a R. desde 08.02.1999, tendo em finais de 2001
assumido o cargo de coordenadora, com a retribuição de 500 euros
mensais; que a R. lhe moveu um processo disciplinar e decidiu despedi-
la em 3/07/2009; que não são verdadeiras as acusações efectuadas na
nota de culpa, sendo o despedimento ilícito; que os instrumentos de
regulamentação colectiva do trabalho aplicáveis - CCTs entre a UIPSS
e a FNE e entre a CNIS e a FEPCES - implicavam a atribuição à A. da
categoria de Directora de Serviços, com retribuições superiores à que
auferia; que a A. apenas gozava 10 dias úteis de férias por ano, tendo
direito ao pagamento dos restantes 12; e que ainda não lhe foram pagos
os proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de Natal
relativos ao ano da cessação do contrato.
A acção prosseguiu seus termos vindo a ser decidida por sentença de 9
de Janeiro de 2012, que «declarou ilícito o despedimento efectuado e
condenou a R. a pagar à A.: “a) - As retribuições que, à razão de 500
euros por mês, tinha deixado de auferir desde 2/08/2009 até ao trânsito
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em julgado da decisão, a liquidar em execução de sentença; b) - Uma


indemnização por antiguidade no valor de 500 euros por cada ano de
antiguidade ou fracção desde 8/02/1999 até ao trânsito em julgado da
decisão, a liquidar também em execução de sentença mas já computável
em 6 500 euros; c) - Os proporcionais de férias, subsídios de férias e de
Natal, no valor conjunto de 750 euros, deduzido das prestações que a
Ré tenha pago à Autora depois do despedimento, a liquidar igualmente
em execução de sentença», tendo absolvido a Ré dos restantes pedidos
formulados.
Inconformada com o assim decidido, interpôs a A. recurso de apelação
para o Tribunal da Relação do Porto, que veio a decidir o recurso
interposto por acórdão de 8 de Outubro de 2012, cujo dispositivo é do
seguinte teor:
«Termos em que se acorda em conceder parcial provimento à apelação,
assim revogando a sentença recorrida, que se substitui pelo presente
acórdão em que se condena a R. a pagar à A. a quantia de € 58.497,37,
a título de diferenças salariais e a quantia de € 1.707,00, a título de
direitos emergentes da cessação do contrato de trabalho e, quanto às
retribuições vencidas e vincendas e à indemnização de antiguidade,
substitui-se a retribuição mensal de € 500,00 pela de € 1.138,00,
confirmando-se a sentença quanto ao mais.
Custas pela A. e pela R., na respectiva proporção».
Irresignada com esta decisão dela recorre agora a Ré, de revista, para
este Supremo Tribunal, formulando nas alegações de recurso
apresentadas as seguintes conclusões:
«I. Ao contrário do que foi julgado em primeira instância, no Acórdão
da Relação do Porto, decidiu-se que a Autora Recorrida tem direito às
diferenças salariais entre a sua remuneração e remuneração de Director
de Serviços prevista nas CCT's aplicáveis, estando o presente recurso
de revista restringido, naturalmente, à matéria de tal segmento decisório
que, “in casu" se concretiza na condenação da Recorrente em
pagar à recorrida a quantia de Euros 58.497,37, a título de diferenças
salariais e a quantia de Euros 1.707, a título de direitos emergentes da
cessação do contrato de trabalho e, quanto às retribuições vencidas e
vincendas e à indemnização de antiguidade, substituiu-se a retribuição
mensal de Euros 500,00 pela de Euros 1.138,00.
II. Nas alegações no recurso que apresentou no Tribunal da Relação do
Porto, balizadas pelas Conclusões que formula "a final", a Recorrida, ali
Apelante não pugnou pela atribuição da categoria de Directora de
Serviços e/ou respectiva remuneração, mas antes pela atribuição, para
efeitos remuneratórios, de uma das outras categorias das CCTs
aplicáveis referidas na sentença de primeira instância, como se vê do
seguinte passo, a fls. 244/246 dos autos:
"Assim, não restam dúvidas que se impunha o enquadramento
profissional da Apelante numa dessas categorias e, dizendo, como disse,
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o Meritíssimo Juiz a quo, que a A. poderia ser enquadrada, ainda que


abstractamente, na categoria de chefe de serviços, chefe de secção e
chefe de serviços gerais, competia-lhe eleger uma dessas categorias
para enquadramento respectivo, ainda que com recurso à equidade".
III. Ora, sendo certo que são as Alegações de recurso que balizam as
questões sobre as quais é o tribunal de recurso chamado a pronunciar-
se, "in casu", e pronunciando-se o Tribunal da Relação do Porto pela
atribuição da remuneração de Director de Serviços, parece-nos, com
todo o devido respeito, que se pronuncia sobre questão que, face às
Alegações de recurso, não podia tomar conhecimento.
IV. E daí que o Acórdão se encontre ferido de nulidade, o que se invoca
para todos os devidos e legais efeitos - Artigo 668°, N.º 1, alínea d) do
Código de Processo Civil
V. As funções que a Recorrida desempenhava - e ficaram demonstradas
- não conduzem ao seu enquadramento, ainda que a título "acessório",
na categoria de Director de Serviços, para daí retirar a condenação da
Recorrente nas diferenças salariais reclamadas.
VI. Do conjunto de tarefas que a Recorrida realizava, elencadas no
facto 6 da Fundamentação da sentença, a fls. 222/223 dos autos, não
resulta que fosse ela quem, com exclusão do Presidente e seu superior
hierárquico, dirigisse a actividade da associação Recorrente.
VII. Aliás, tal conclusão é inferida cabalmente pela própria decisão da
matéria de facto em que se dá como assente que as funções de direcção
da associação constituíam reserva do seu presidente - Cfr. Facto n° 56,
onde se lê:
"A direcção das actividades da BB era, e foi sendo cada vez com mais
frequência, assumida pelo seu Presidente, CC, o qual detém o poder de
planear a utilização mais conveniente da mão-de-obra, equipamentos,
materiais, instalações e capitais, sendo, em último termo, quem define a
política e opções da instituição".
VIII. O exercício das funções da Recorrida elencadas na sentença não
permite a atribuição da remuneração da categoria de "director de
Serviços", mormente quando estamos a falar de um universo de cinco
trabalhadores assalariados - Facto n° 45 da Fundamentação da sentença,
a fls. 251 dos autos.
IX. A descrição das funções da Recorrida, a par das funções que
estavam reservadas para o seu superior hierárquico, não permite sequer
a conclusão do Acórdão de que "existe coincidência parcial de funções"
com as que integram a categoria de Director de Serviços.
X. Com efeito, o que define a categoria de "director de Serviços" não
era feito pela Recorrida: o estudo, a organização e a direcção das
actividades da instituição não era feito pela Recorrida; não era ela quem
definia a política da instituição; não era ela quem planeava a utilização
mais conveniente da mão-de-obra, instalações e capitais, não era ela
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quem dirigia e fiscalizava a política da instituição, não era ela quem


criava e mantinha a estrutura administrativa e/ou colaborava na fixação
da política financeira e verificação de custos.
XI. As tarefas da Recorrida eram de cariz executório, material e não de
direcção, não cabendo, pois, na definição, ainda que a título ou por
exercício acessório, da categoria de Directora de Serviços.
XII. Pelo que, e se manifestamente jamais poderão as funções
efectivamente desempenhadas pela Recorrida integrar o núcleo
essencial da categoria de Direcção de Serviços, o que sempre seria
necessário para lhe atribuir essa categoria, e, assim, a remuneração
respectiva, nem sequer se poderá também falar " no exercício, ainda
que acessório, de funções de categoria superior", sendo inaplicável o n°
7 da cláusula 15° do CCT referido no Acórdão da Relação do Porto.
XIV. As funções efectivamente desempenhadas pela Recorrida estariam
quando muito integradas na categoria de "chefe de secção" que é quem
"coordena e controla o trabalho numa secção administrativa" - BTE 1.ª
Série, n° 6, 15/2/2001, pág. 273 - ou encarregado geral.
XV. Subscreve-se aqui, por com ela se concordar integralmente, a
fundamentação do Meritíssimo Juiz de primeira instância, que aqui se
reproduz:
"Ora as funções que ficaram demonstradas, embora incluam funções de
coordenação e supervisionamento de meios humanos e materiais,
incluem também funções materiais ou operacionais (como elaboração
das ementas e processamento de vencimentos) e não correspondem, em
qualquer caso, a funções de definição da política da instituição, dos
seus critérios de funcionamento e de auxílio aos beneficiários. Tais
funções, pelo que ficou provado, sempre se mantiveram reservadas ao
próprio Presidente da R., a quem a A. estava subordinada".
XVI. A atribuição das diferenças salariais por reporte às remunerações
previstas para a categoria de [director de] serviços e sua repercussão em
todas aos pedidos com expressão pecuniária é ilegal por violação da
CCT aplicável e artigo 118°, do Código do Trabalho de 2009, devendo
ser revogada.
XVII. O Acórdão recorrido violou entre outros, por errónea
interpretação e aplicação, o disposto no 118°, do Código de Trabalho de
2009 e na cláusula 15.ª do CCT entre a CNIS - Confederação Nacional
das Instituições de Solidariedade e a Federação Nacional dos Sind. Ad
Função Pública -Revisão Global, in Bol. Trab. Emp., 1.ª série, n° 17, de
2006-05-08».
Termina pedindo que seja concedido provimento ao recurso interposto.
A Autora respondeu ao recurso sustentando o acerto da decisão
recorrida.

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Por despacho do relator de 20 de Maio de 2013, transitado em julgado,


foi decidido não conhecer do recurso relativamente à nulidade da
decisão recorrida, matéria que era objecto das conclusões I a IV das
alegações de recurso da Ré.
Neste Tribunal o Exmº Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer, nos
termos do artigo 87.º, n.º 3, do Código de Processo do Trabalho,
concluindo, no que se refere ao objecto do presente recurso, que
«destarte afigurando-se-nos que o núcleo central das funções exercidas
pela autora não apontam no sentido de se poderem conter naquelas que
caracterizam um director de serviços, antes revestindo mero carácter
executivo, não se vislumbra por tal motivo que à recorrida seja devida
retribuição superior àquela que recebia após ser nomeada coordenadora,
razão pela qual, SMO, se nos afigura que o recurso deveria proceder,
revogando-se o Acórdão e repristinando-se a sentença proferida em 1.ª
instância».
Notificado este parecer às partes não motivou qualquer tomada de
posição.
Sabido que o objecto do recurso é delimitado pelas conclusões das
alegações apresentadas, nos termos do disposto nos artigos 635.º, n.º 3 e
639.º do Código de Processo Civil, aprovado pela Lei n.º 41/2013, de
26 de Junho, que correspondem aos artigos 684.º, n.º 3 e 685.º-A, do
anterior Código de Processo Civil, na versão que lhes foi conferida pelo
Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto, ressalvadas as questões de
conhecimento oficioso, está em causa na presente revista saber a Autora
tem direito à categoria de Director de Serviços, ou, caso negativo, se
lhe assiste o direito à retribuição correspondente àquela categoria.

II

1 - É a seguinte a matéria de facto fixada pelas instâncias:


«1 - A Ré é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que tem
como objetivo a promoção de atividades de caráter social e
humanitário, nomeadamente o apoio às crianças, aos idosos, aos
toxicodependentes, aos sem-abrigo e aos desprotegidos em geral, o
combate à fome e à pobreza.
2 - A A. foi admitida ao serviço da Ré em 8/2/1999, data a partir da qual
passou a trabalhar para a mesma sob as suas ordens, direção e
fiscalização e mediante retribuição.
3 - A A. foi admitida ao serviço da Ré para desempenhar as funções de
operadora de telemarketing, ou seja, após lhe ser fornecida uma lista
telefónica e uma folha de apresentação da Associação, a A. era
incumbida pela Ré, durante as 8 horas do seu horário de trabalho, de
contactar empresas e particulares solicitando a contribuição em dinheiro
para a associação.

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4 - A A. auferia uma retribuição de € 400,00 mensais, acrescida de uma


comissão de 4,5%, se conseguisse obter mais de € 2.000,00 mensais de
donativos, ou 5% se conseguisse obter mais de €2.500,00.
5 - Após a saída da então coordenadora da Ré, D. DD, a A. foi
convidada para esse cargo em finais de 2001 pelo presidente da Ré,
tendo aceite tal convite.
6 - No exercício dessa categoria, que manteve até à data do
despedimento, a A. era responsável pela coordenação da equipa de
telemarketing; supervisionava o trabalho dos estafetas; fazia as ementas
da casa da sopa; controlava os serviços de fornecimento de refeições e
limpeza da cantina social; com a mesma equipa de telemarketing
verificava a validade de todos os produtos; processava os salários das
trabalhadoras; contabilizava as comissões dos estafetas e das
operadoras que obtivessem donativos superiores a € 2.500,00 mensais;
realizava entrevistas de emprego (para contratação); fazia o
atendimento dos utentes da casa da sopa e de famílias carenciadas, fazia
a triagem dos utentes que deveriam receber apoio social, entregando
roupas e cabazes de alimentos; organizava, 2 vezes por ano, peditórios
em grandes superfícies comerciais.
7 - Como coordenadora a A. passou a auferir a retribuição mensal de €
500,00 mensais, valor que se manteve até à data do despedimento - cfr.
docs. 2 a 8 aqui dados por integralmente reproduzidos no seu teor.
8 - Apesar de a A. desempenhar as funções identificadas desde finais de
2000, não foi participado o seu início de atividade à Segurança Social,
nem feitos os respetivos descontos.
9 - Tal apenas veio a ocorrer em 1/6/2005, quando foi celebrado entre
A. e Ré um documento escrito designado "contrato de trabalho a termo
indeterminado" junto sob o n.º 9 e que aqui se dá por reproduzido
quanto ao seu teor (fls. 33 a 35).
10 - Por carta datada de 27 de Março de 2009 a Ré enviou à A. uma
Nota de Culpa, nos termos e com o teor da cópia junta como doc. n° 10
a fls. 36 a 46, cujo teor aqui se dá por reproduzido.
11 - A A. respondeu nos termos da defesa que junta sob o n.º 11 a fls. 48
a 57, cujo teor também se dá por reproduzido.
12 - Por carta datada de 1/7/2009, recebida a 3/7/2009, a Ré procedeu
ao despedimento da A. nos termos da Decisão proferida no processo
disciplinar que lhe foi instaurado, conforme, se alcança do documento
que junta sob o n. ° 12 a fls. 58 a 60, cujo teor aqui se dá por
reproduzido.
13 - A A. reconhece ter em sua casa 2 colchões ortopédicos os quais lhe
foram oferecidos, bem como a outras funcionárias da Ré, pelo
presidente CC.

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14 - Quando eram oferecidas por estabelecimentos hoteleiros estadias à


Ré, era o presidente da associação que decidia o seu destino: nuns casos
eram sorteadas entre as funcionárias, noutros eram gozadas por si ou
oferecidas a alguém, noutros casos ainda, quando havia algum
trabalhador interessado, eram entregues mediante o pagamento de
determinada quantia.
15 - Por oferta do presidente da Ré a A. gozou as estadias identificadas
nos arts. 5.º e 6.º da N.C.
16 - No período compreendido entre 10 a 13 de Abril de 2008 a A. já se
encontrava ao serviço.
17 - A A. costumava depositar no seu automóvel o cabaz mensal de
alimentos que o Sr. CC mandava entregar a cada um dos trabalhadores
da Ré sem exceção, bem como outros bens de que necessitava, sem que
tentasse ocultar tais factos àquele ou a outras pessoas da instituição.
18 - Aliás, quando um trabalhador era admitido era-lhe imediatamente
dito que para além do salário mensal tinha ainda direito a um cabaz
mensal de alimentos, que variava consoante os produtos que a Ré tinha
armazenados em cada momento.
19 - A maioria das trabalhadoras da Ré auferia o salário mínimo
nacional.
20 - No mês de Dezembro de 2008, foi processado e pago um cheque
no valor global de 1.969,34 euros, documentado a fls. 61.
21 - O cheque estava passado à ordem de EE, motorista da Associação
encarregado de ir ao Banco levantar o dinheiro para pagamento destes
salários em numerário.
22 - A responsabilidade de verificar as datas de validade dos produtos
não era exclusiva competência da A., sendo uma tarefa feita
regularmente por quase todas as trabalhadoras da Ré.
23 - Por vezes, estragavam-se produtos alimentares no armazém da Ré,
tendo sido encontrados vários (designadamente enlatados e massas)
nessas condições depois da saída da A .
24 - Os cabazes alimentares que vinham do KK tinham de ser
rececionados pelos beneficiários até determinado dia, sendo obrigatória
a sua assinatura aquando da receção.
25 - Se os beneficiários não viessem à sede da Ré recolher o cabaz até
determinado dia era cortado esse apoio por parte do KK.
26 - Por tal facto, em ocasiões pontuais, a pedido da A. ou por iniciativa
das trabalhadoras, preenchia-se o nome do beneficiário em causa na
relação enviada para o KK como tendo rececionado o cabaz, evitando
assim que o cabaz fosse imediatamente cortado à pessoa em causa.

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27 - O que geralmente acontecia era o beneficiário passar uns dias mais


tarde para rececionar o cabaz em causa.
28 - A Ré não tinha qualquer prejuízo com este procedimento, sendo
que o intuito da A. e das demais funcionárias com esta atuação era
geralmente evitar que pessoas efetivamente necessitadas deixassem de
auferir um apoio alimentar, quando, por qualquer vicissitude, não
podiam cumprir a data da recolha do cabaz.
29 - Por determinação do presidente da Ré os trabalhadores desta
levavam para casa, semanal ou mensalmente, bens alimentares doados à
Ré para serem entregues a pessoas verdadeiramente carenciadas.
30 - O próprio presidente da Ré dava o exemplo levando para [casa]
produtos alimentícios, colchões, eletrodomésticos - designadamente um
combinado -, entre outros bens doados à Ré por beneméritos.
31 - Alguns bens doados à Ré por particulares ou empresas eram
encaminhados pelo presidente da Ré para uma loja da associação sita na
Rua ... em V. N. de Gaia, para serem vendidos ao público.
32 - Na sequência do despedimento da A. a Ré pagou-lhe até ao
momento quatro prestações de € 155,75. - cfr. cheques documentados a
fls. 109 a 113, aqui dado por reproduzido.
33 - Desde a sua admissão até à data do despedimento a A. apenas
gozava 2 semanas seguidas de férias por ano.
34 - A cantina social da R abriu em Junho de 2005.
35 - As campanhas da R implicam despesas com água, luz, telefone,
pessoal e outras que implicam angariação de fundos.
36 - Os donativos em dinheiro eram normalmente depositados numa
conta bancária da R.
37 - Em Dezembro de 2007, a A. rececionou uma quantia de 100 euros
doada pelo Eng. FF.
38 - Em 2009, a A. solicitou pensos Silvercel doados à R pela GG (para
um tio diabético).
39 - A certa altura, a A. mandou carregar no seu automóvel edredões
doados à R.
40 - Por vezes, também mandava carregar bens no automóvel de um tio,
carregamentos esses efetuados à porta da cantina pela cozinheira HH.
41 - A A. pediu que lhe preparassem um de dois cabritos doados à R., o
que foi efetuado pela cozinheira HH.
42 - A A. ficou com queijos entregues pelo motorista da BB, tendo-lhe
oferecido dois e, posteriormente, outros dois a uma funcionária que
trabalhava com ela no escritório.
43 - A A. solicitou à colaboradora D. II a marcação de uma estadia.
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44 - Os sorteios de estadias não se restringiam aos colaboradores da


BB, mas também ocorriam com amigos e conhecidos dos mesmos.
45 - Para além dos trabalhadores assalariados da Ré, que, na altura da
prestação de trabalho da A., não seriam mais do que cinco, havia ainda
outras pessoas que colaboravam com a Ré em regime de voluntariado.
46 - O salário de Dezembro de 2008 da funcionária JJ foi processado e
os descontos efetuados pela contabilidade da R, apesar daquela se
encontrar de licença de parto, tendo posteriormente e mediante
reclamação da trabalhadora sido anulado o pagamento.
47 - O local onde eram armazenados bens alimentares tinha condições
de preservação, inclusive em arcas frigoríficas.
48 - A R. envia uma lista das famílias carenciadas ao KK, depois os
alimentos são levantados pela Associação no KK, e, no dia da
distribuição, são entregues às famílias que assinam um documento
comprovativo da sua receção.
49 - Os bens que são encaminhados para a loja da BB, servem para
angariar fundos para a Ré, destinados a serem depositados em conta
bancária desta.
50 - Os donativos eram recebidos pela A., que ordenava os respetivos
depósitos na conta bancária da R.
51 - Em Fevereiro de 2008, a A. ficou com uma cadeira de banho,
doada à Ré pela firma LL, que se destinava à menina MM.
52 - Em data não concretamente apurada, a A. levou uma fritadeira e
uma varinha mágica, que haviam sido doadas à Ré.
53 - A A. gozou uma estadia no Hotel Vila ..., no período entre 6 e 9 de
Abril de 2008, conforme resulta do documento juntos a fls. 134 e 135,
que aqui se dá por reproduzido.
54 - Por vezes, a A. mandava outras colaboradoras da BB carregar o seu
automóvel com quantidades variadas de produtos, designadamente
alimentares, cedidos à Ré.
55 - Em data não concretamente apurada, a A. ficou com um aparelho
de fax da Ré, o qual mandou colocar, no seu carro, à funcionária NN.
56 - A direção das atividades da BB era, e foi sendo cada vez com mais
frequência, assumida pelo seu Presidente, CC, o qual detém o poder de
planear a utilização mais conveniente da mão-de-obra, equipamentos,
materiais, instalações e capitais, sendo, em último termo, quem define a
política e opções da instituição.
57 - O cargo que a A. ocupava já está ocupado por outra trabalhadora.
58 - A A. esteve a receber um subsídio da Segurança Social entre
1/02/2004 e 1/05/2005.»

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2 – As instâncias dividiram-se quanto ao sentido da decisão das


questões que constituem o objecto do presente recurso.
De facto, tendo a Autora pedido a fixação da sua retribuição «no
montante de € 1.138,00», correspondente à categoria de Director de
Serviços, o Tribunal julgou nessa parte improcedente a acção com os
seguintes fundamentos.
«Da Categoria Profissional da Autora
Pretende a A. que lhe seja reconhecida a categoria de Directora de
Serviços prevista nos Instrumentos de Regulamentação Colectiva que
invoca no art. 55° da petição, entre os quais e designadamente a
convenção colectiva de trabalho entre a UIPSS - União das Instituições
Particulares de Solidariedade e Segurança Social (que deu lugar à
CNIS) e a FNE - Federação Nacional dos Sindicatos de Educação e
outros, publicada no B.T. E, 1.ª Série, n.º 2, de 15/01 1999 e aplicável,
independentemente da filiação das partes, por força da portaria de
extensão publicada no BTE, 1.ª Série, n.º 24, de 29/06/1999.
Ora, a R. não põe em causa a aplicabilidade à relação entre as partes
daquela Convenção Colectiva, nem das demais e ulteriores invocadas
pela A., a saber: a CCT entre a UIPSS -União das Instituições
Particulares de Solidariedade Social e a FENPROF - Feder Nacional
dos Professores e outros, publicada no B.T.E, 1.ª Série, n.º 6 de
15/02/2002, com portaria de extensão publicada no B.TE., 1.ª Série, n.º
8, de 28/02/2002, e com a alteração posterior, publicada no B.T.E., 1.ª
Série, n.º 8 de 28.02/2002; a CCT celebrada entre a CNIS -
Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade e a FNF -
Federação Nacional dos Sindicatos de Educação c outros e entre a
mesma Confederação e a Federação Nacional dos Sindicatos da Função
Pública, publicadas, respectivamente no B.T.E., l.ª Série, n.º 25, de
8/7/2005, e B.T.E. n.º 17 de 8/5/2006, com portaria de extensão
publicada no B.T.E., 1.ª Série, n.º 32 de 29 08/2006; as alterações à
CCT celebrada entre a CNIS - Confederação Nacional das Instituições
de Solidariedade e a FEPCES - Federação Portuguesa dos Sindicatos do
Comércio, Escritórios e Serviços e outros, publicada no B.T.E., 1.ª
Série, n.º 47, de 2212/2007, com portaria de extensão publicada no
B.T.E., 1.ª Série, n.º 32, de 29/08/2008, com a alteração posterior,
publicada no B.T.E., l.ª Série, n.º 11 de 2103/2009.
Simplesmente, a categoria profissional expressamente reconhecida pela
R. à A. desde finais de 2001 não era qualquer uma das categorias
previstas nas citadas convenções colectivas, antes a de coordenadora.
É certo que a categoria profissional de um trabalhador é aferida pelas
concretas funções por ele desempenhadas e não pela designação ou
atribuição feita pela entidade patronal. É esse o entendimento corrente
na jurisprudência - vd., entre outros, o Ac. do Tribunal da Relação do
Porto de 2/03/l998, Processo n.º 9740230, in www.dgsi.pt - e também
na doutrina - cfr. Monteiro Fernandes, in Noções Fundamentais de
Direito de Trabalho, 2.ª ed., pág. 76, onde refere que "o nomen iuris
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atribuído não constitui factor decisivo, mas simples elemento


indicatório, para o estabelecimento da concreta posição funcional do
trabalhador na organização técnico-laboral da empresa".
Contudo, a categoria reclamada pela A. é a de Directora de Serviços,
enquadrada na categoria A. nível 1, das Tabelas Salariais da CCT entre
a CNIS e a FNE, e o descritivo de funções dessa categoria comporta
funções de direcção, de estudo e colaboração na política da instituição,
de planeamento e fiscalização da actividade geral da sua estrutura
administrativa.
Ora, as funções que ficaram demonstradas, embora incluam funções de
coordenação e supervisionamento de meios humanos e materiais,
incluem também funções materiais ou operacionais (como elaboração
das ementas e processamento de vencimentos) e não correspondem, em
qualquer caso, a funções de definição da política da instituição, dos
seus critérios de funcionamento e de auxílio aos beneficiários. Tais
funções, pelo que ficou provado. sempre se mantiveram reservadas ao
próprio Presidente da R., a quem a A. estava subordinada.
Acresce que as referidas CCTs prevêem outras categorias onde um
cargo de coordenadora seria susceptível, em abstracto, de ser integrado,
como as de chefe de serviços, chefe de secção, chefe de serviços gerais.
Não se pode pois dar por demonstrada a causa de pedir das diferenças
salariais reclamadas pela A. (art. 61º da petição) e derivadas das
diferenças entre as retribuições que a R. lhe pagou desde que a nomeou
como coordenadora (500 euros mensais) e as previstas para a categoria
de Director de Serviços nas tabelas salariais das referidas CCTs.»
O Tribunal da Relação veio a decidir em sentido contrário,
fundamentando-se por sua vez no seguinte:
«Na petição inicial a A. pediu que se fixasse a sua retribuição na
quantia mensal de € 1.138,00, pois, em seu entender, desempenhava
funções correspondentes à categoria profissional de Diretor de
Serviços, prevista na CCT entre a CNIS — Confederação Nacional das
Instituições de Solidariedade e a Feder. Nacional dos Sind. da Função
Pública — Revisão global, in Bol. Trab. Emp., 1.ª série, n.º 17, de
2006-05-08, aqui aplicável, como todos estão de acordo. Daí que,
consequentemente, tenha pedido também a condenação da R. a pagar à
A. a quantia de € 83.322,32, a título de diferenças salariais vencidas nos
anos de 2001 a 2009, para além de diferenças salariais relativas às
restantes quantias em que houve condenação: retribuições vencidas e
vincendas, indemnização por despedimento ilícito e direitos emergentes
da cessação do contrato de trabalho.
(…)
In casu, reclamando a A. diferenças salariais com base na categoria
profissional de Diretor de Serviços, comecemos por verificar qual a sua
definição na CCT aplicável:

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“Diretor de serviços - Estuda, organiza e dirige, nos limites dos poderes


de que está investido, as atividades da instituição; colabora na
determinação da política da instituição; planeia a utilização mais
conveniente da mão-de-obra, equipamento, materiais, instalações e
capitais; orienta, dirige e fiscaliza a atividade da instituição segundo os
planos estabelecidos, a política adotada e as normas e regulamentos
prescritos; cria e mantém uma estrutura administrativa que permita
explorar e dirigir a instituição de maneira eficaz; colabora na fixação da
política financeira e exerce a verificação dos custos”.
Por seu turno, são as seguintes as concretas funções desempenhadas
pela A., conforme vem provado sob o ponto 6 da respetiva lista:
“6 - No exercício dessa categoria, que manteve até à data do
despedimento, a A. era responsável pela coordenação da equipa de
telemarketing; supervisionava o trabalho dos estafetas; fazia as ementas
da casa da sopa; controlava os serviços de fornecimento de refeições e
limpeza da cantina social; com a mesma equipa de telemarketing
verificava a validade de todos os produtos; processava os salários das
trabalhadoras; contabilizava as comissões dos estafetas e das
operadoras que obtivessem donativos superiores a € 2.500,00 mensais;
realizava entrevistas de emprego (para contratação); fazia o
atendimento dos utentes da casa da sopa e de famílias carenciadas, fazia
a triagem dos utentes que deveriam receber apoio social, entregando
roupas e cabazes de alimentos; organizava, 2 vezes por ano, peditórios
em grandes superfícies comerciais.”.
Ora, comparando a definição com as funções exercidas, afigura-se-nos
que a primeira é integrada apenas por trabalho de estudo, criação e
direção, enquanto a segunda comporta trabalho de direção e trabalho
executivo, mas não é integrada por trabalho de estudo e de criação, vale
dizer, quanto a nós as funções efetivamente desempenhadas pela A. não
são total ou predominantemente coincidentes com as que integram a
categoria profissional de Diretor de Serviços; no entanto, há
coincidência parcial de funções, pois a A., excluindo o seu superior
hierárquico, era a pessoa que dirigia a atividade desenvolvida pela R.,
desde finais de 2001, quando esta assumiu as funções que até então
eram levadas a cabo pela “Coordenadora“ da R.
Ora, estabelecendo o n.º 7 da - transcrita supra - cláusula 15.ª do CCT
aplicável que o exercício, ainda que acessório, de funções de categoria
superior, a que corresponda uma retribuição mais elevada, confere ao
trabalhador o direito a esta enquanto tal exercício se mantiver, cremos
que à A. deverá ser atribuída a retribuição correspondente à referida
categoria de Diretor de Serviços, uma vez que ela, embora não defina a
política e a estratégia da R., dirige os trabalhadores que as executam,
para além de organizar diversas atividades com vista a alcançar os
objetivos que a R. visa alcançar. Por outro lado e, no mesmo sentido,
milita a favor de tal conclusão a circunstância de a A. ter desenvolvido
tal atividade de forma contínua, durante os anos de 2001 a 2009.

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Tem, assim, a A. direito a diferenças salariais, que agora importa


determinar.»

III

1 - A caracterização da posição do trabalhador na organização da


empresa é encontrada a partir do conjunto de serviços e tarefas que
constituem o objecto da prestação laboral, a que aquele contratualmente
se obriga e que se aglutinam no âmbito da categoria profissional que lhe
corresponde.
O conceito de categoria profissional é utilizado em vários sentidos,
nomeadamente, os de categoria-função e os de categoria- estatuto.
O conceito de categoria-função «descreve em termos típicos, i. e, com
recurso aos traços mais impressivos, a actividade a que o trabalhador se
encontra adstrito»[1].
Por sua vez, a categoria-estatuto, também designada categoria
normativa, «corresponde à designação formal dada pela lei ou pelos
instrumentos de regulamentação colectiva do trabalho a determinado
conjunto de tarefas, com vista à aplicação do regime laboral previsto
para essa situação»[2].
A categoria profissional do trabalhador é assim determinada em função
do «binómio classificação normativa/funções exercidas»,
correspondendo ao essencial das funções que o trabalhador se obrigou a
desempenhar pelo contrato de trabalho
A categoria profissional, entendida na acepção de categoria-estatuto ou
normativa, define a posição do trabalhador na empresa por referência às
tarefas típicas que se encontram descritas na lei ou em instrumento de
regulamentação colectiva.
«O conceito de categoria profissional é anterior e exterior ao contrato
de trabalho e à integração do trabalhador na organização, mas pode ter
uma relevância directa no contrato, designadamente quando o exercício
de uma certa actividade profissional dependa da posse da carteira
profissional ou de outro título de habilitação, cuja falta determine, (…),
a nulidade do contrato ou, se aquele título vier a ser retirado durante a
execução do contrato, a sua caducidade»[3].
Segundo BERNARDO XAVIER, a atribuição da categoria «normativa»
que de acordo com aquele autor corresponde «à posição do trabalhador
para efeitos de um certo estatuto», «coloca-se em três planos. Um
resulta da descrição o mais completa possível da situação de facto e,
portanto, da análise das funções desempenhadas, dos seus requisitos
profissionais e das características do posto de trabalho. Outro, que
releva da interpretação do IRCT e das grelhas classificativas. E o
terceiro, que supõe a justaposição destes planos para detectar a

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congruência classificatória operada em face da situação dada como


verificada»[4].
2 – Na determinação do concreto enquadramento do trabalhador numa
determinada categoria profissional, apela-se, tal como se referiu no
acórdão desta Secção de 17 de Março de 2010, proferido na revista n.º
435/09.3YFLSB[5], «à essencialidade das funções exercidas, no sentido
de que não se torna imperioso que o trabalhador exerça todas as funções
correspondentes a determinada categoria – tal como ela decorre da lei
ou de instrumento de regulamentação colectiva – mas apenas que nela
se enquadre o núcleo essencial das funções efectivamente
desempenhadas» e prosseguiu-se nesse acórdão referindo que «tenha-se
ainda presente [como refere o Acórdão desta secção de 10/12/2008, na
Revista n.º 2563/08] que, exercendo o trabalhador diversas actividades
enquadráveis em diferentes categorias profissionais, a sua classificação
deve fazer-se tendo em consideração o núcleo essencial das funções por
ele desempenhadas ou a actividade predominante e, sendo tal
diversidade indistinta, deve o trabalhador ser classificado na categoria
mais elevada que se aproxima das funções efectivamente exercidas, ou
seja, em caso de dúvida quanto à categoria profissional, a atracção deve
fazer-se para a categoria profissional mais favorável ao trabalhador»,
tendo-se concluído nos seguintes termos:
«Estas regras – tal como os princípios anteriormente enunciados –
assumem particular relevância na justa medida em que se assumem
como contraponto de equilíbrio em face de eventuais desvios que o
empregador seja tentado a praticar, quer resguardado no “poder
determinativo da função”, que lhe está legalmente atribuído, quer por
virtude do “jus variandi” ou da “polivalência funcional” de que também
se pode socorrer.
Estes dois mecanismos – que conferem à entidade patronal o poder de,
respectivamente, atribuir a trabalhador funções diversas (posto que
temporárias e transitórias) ou compeli-lo a prestar outras tarefas para as
quais tenha qualificação e capacidade (posto que coexistentes e
subalternizadas relativamente às funções que correspondem à sua
categoria) – foram implementados pelo legislador com o assumido
propósito de contornar a rigidez ou impermeabilidade da categoria
profissional como elemento delimitador do objecto do contrato, ficando
assente “... que o compromisso do trabalhador abrange não só as
actividades que definem a sua categoria, mas também tarefas concretas
que caibam nas suas possibilidades e no seu tempo de trabalho, sem que
se traduzam em prejuízo profissional ou económico” (in “obra citada”
páginas 206/207)[6].
Aliás, o simples “poder determinativo da função” já permite que “... o
trabalhador [possa] rodar em vários (...) postos de trabalho, desde que
compreendidos no programa negocial previsto. O poder determinativo
da função não se esgota pelo seu exercício inicial. O trabalhador pode e
deve ocupar diversos postos de trabalho compatíveis com o programa
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negocial, ainda que diversos do posto de trabalho de admissão”


(Bernardo Xavier, obra citada, página 69» (…)[7].
O exercício destes poderes – reconhecidamente fulcrais para o
empregador na prossecução dos seus objectivos comerciais – exige a
correspondente salvaguarda dos interesses dos trabalhadores: os
princípios anteriormente enunciados, desde que criteriosamente
seguidos, são o garante dessa salvaguarda.»
3 - Na decisão recorrida, depois de se compararem as tarefas executadas
pela Autora, tal como decorrem da matéria de facto dada como provada,
com o conteúdo funcional da categoria de Director de Serviços,
resultante do instrumento de regulamentação colectiva em causa,
concluiu-se que «as funções efetivamente desempenhadas pela A. não
são total ou predominantemente coincidentes com as que integram a
categoria profissional de Diretor de Serviços» e prosseguiu-se referindo
que «no entanto, há coincidência parcial de funções, pois a A.,
excluindo o seu superior hierárquico, era a pessoa que dirigia a
atividade desenvolvida pela R., desde finais de 2001, quando esta
assumiu as funções que até então eram levadas a cabo pela
“Coordenadora“ da R.»
Com base nesta alegada coincidência parcial e invocando o n.º 7 da
Cláusula 15.ª do CCT em causa, referiu-se naquela decisão que «ora,
estabelecendo o n.º 7 da - transcrita supra - cláusula 15.ª do CCT
aplicável que o exercício, ainda que acessório, de funções de categoria
superior, a que corresponda uma retribuição mais elevada, confere ao
trabalhador o direito a esta enquanto tal exercício se mantiver, cremos
que à A. deverá ser atribuída a retribuição correspondente à referida
categoria de Diretor de Serviços, uma vez que ela, embora não defina a
política e a estratégia da R., dirige os trabalhadores que as executam,
para além de organizar diversas atividades com vista a alcançar os
objetivos que a R. visa alcançar», e prosseguiu-se afirmando que «por
outro lado e, no mesmo sentido, milita a favor de tal conclusão a
circunstância de a A. ter desenvolvido tal atividade de forma contínua,
durante os anos de 2001 a 2009».
A invocada cláusula 15.ª da CCT em causa é do seguinte teor:

«Cláusula 15.ª
Funções desempenhadas

1- O trabalhador deve, em princípio, exercer as funções


correspondentes à actividade para que foi contratado.
2 - A actividade contratada, ainda que descrita por remissão para uma
das categorias profissionais previstas no anexo I, compreende as
funções que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas para as quais o
trabalhador detenha a qualificação profissional adequada e que não
impliquem desvalorização pessoal e profissional.

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3 - Para os efeitos do número anterior, consideram-se afins ou


funcionalmente ligadas, designadamente, as actividades compreendidas
no mesmo grupo ou carreira profissional.
4 - Considera-se haver desvalorização profissional sempre que a
actividade que se pretenda qualificar como afim ou funcionalmente
ligada exceder em um grau o nível de qualificação em que o trabalhador
se insere.
5 - O disposto nos números anteriores confere ao trabalhador, sempre
que o exercício das funções acessórias exigir especiais qualificações, o
direito a formação profissional não inferior a dez horas anuais.
6 - As instituições devem procurar atribuir a cada trabalhador, no
âmbito da actividade para que foi contratado qualificação profissional.
7 - A determinação pelo empregador do exercício, ainda que acessório,
das funções referidas no n.º 2 a que corresponda uma retribuição, ou
qualquer outra regalia, mais elevada confere ao trabalhador o direito a
estas enquanto tal exercício se mantiver.»
A Convenção Colectiva de Trabalho entrou em vigor, conforme resulta
da respectiva cláusula 2.ª, no 5.º dia posterior ao da respectiva
publicação, ou seja 13 de Maio de 2006, em plena vigência dos artigos
150.º a 152.º do Código do Trabalho de 2003.
Sob a epígrafe «poder de direcção» refere o 1.º daqueles dispositivos,
que «compete ao empregador, dentro dos limites decorrentes do
contrato e das normas que o regem, fixar os termos em que deve ser
prestado o trabalho». Trata-se do poder de conformação da prestação do
trabalho que é um dos elementos estruturantes do estatuto de entidade
empregadora no contexto da relação de trabalho.
Por sua vez, o artigo 151.º daquele diploma é do seguinte teor:

«Artigo 151.º
Funções desempenhadas

1 - O trabalhador deve, em princípio, exercer funções correspondentes à


actividade para que foi contratado.
2 - A actividade contratada, ainda que descrita por remissão para
categoria profissional constante de instrumento de regulamentação
colectiva de trabalho ou regulamento interno de empresa, compreende
as funções que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas, para as quais
o trabalhador detenha a qualificação profissional adequada e que não
impliquem desvalorização profissional.
3 - Para efeitos do número anterior, e salvo regime em contrário
constante de instrumento de regulamentação colectiva de trabalho,
consideram-se afins ou funcionalmente ligadas, designadamente, as
actividades compreendidas no mesmo grupo ou carreira profissional.
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4 - O disposto nos números anteriores confere ao trabalhador, sempre


que o exercício das funções acessórias exigir especiais qualificações, o
direito a formação profissional não inferior a dez horas anuais, nos
termos previstos nos n.º 3 a 5 do artigo 137.º
5 - O empregador deve procurar atribuir a cada trabalhador, no âmbito
da actividade para que foi contratado, as funções mais adequadas às
suas aptidões e qualificação profissional.»
Partindo do pressuposto de que o trabalhador deve, em princípio,
desempenhar as funções para que foi contratado, quer os n.ºs 2 e 3 do
artigo em causa, quer os dispositivos correspondentes da citada cláusula
15.ª, especificam que a actividade contratada, ainda que alcançada por
remissão para os instrumentos de regulamentação colectiva
«compreende as funções que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas,
para as quais o trabalhador detenha a qualificação profissional
adequada e que não impliquem desvalorização profissional».
O n.º 3 deste artigo 151.º do Código do Trabalho e o n.º 3 da referida
cláusula 15.ª esclarecem que «consideram-se afins ou funcionalmente
ligadas, designadamente, as actividades compreendidas no mesmo
grupo ou carreira profissional», especificando o n.º 4 da cláusula, que
se considera «haver desvalorização profissional sempre que a
actividade que se pretenda qualificar como afim ou funcionalmente
ligada exceder em um grau o nível de qualificação em que o trabalhador
se insere».
Conforme refere PEDRO MADEIRA DE BRITO, «a actividade
contratada abrange portanto um núcleo essencial das funções
correspondentes à designação ou descrição do objecto do contrato e
ainda um conjunto de outras tarefas que apresentam uma conexão
funcional com aquele núcleo. Diferentemente da polivalência não se
exige que o exercício de funções afins ou funcionalmente ligadas seja
acessório com a manutenção de um núcleo de funções correspondentes
à descrição de funções feita no contrato ou à categoria. Com a
utilização da forma verbal “compreende”, todas as funções integradas
no núcleo essencial ou na sua “periferia” por afinidade ou conexão
funcional pertencem ao objecto do contrato e como tal são devidas pelo
trabalhador se e quando o empregador exercer o correspondente poder
de determinação das funções nos termos do artigo anterior. Na verdade,
apenas no n.º [4] do artigo se refere à existência do requisito da
acessoriedade e julgamos que apenas para os efeitos aí referidos.»[8]
A prestação devida pelo trabalhador abrange assim as actividades afins
ou funcionalmente ligadas àquelas que fazem parte do conteúdo da
categoria profissional contratada.
Resulta do artigo 152.º daquele Código do Trabalho, em coerência com
o n.º 7 da Cláusula 15.ª, que «a determinação pelo empregador do
exercício, ainda que acessório, das funções a que se refere o n.º 2 do
artigo anterior, a que corresponda uma retribuição mais elevada,

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confere ao trabalhador o direito a esta enquanto tal exercício se


mantiver».
Foi este número 7 da cláusula 15.ª que foi invocado pela decisão
recorrida como fundamento do reconhecimento à Autora do direito às
retribuições correspondentes à categoria do Director de Serviços.
Decorre daquela cláusula, em coerência com o disposto no artigo 151.º
do Código de Trabalho de 2003, que o fundamento da atribuição ao
trabalhador de uma retribuição não correspondente à categoria
profissional para a qual foi contratado, depende da imposição por parte
do empregador do exercício de funções que «sejam afins ou
funcionalmente ligadas» àquelas para as quais foi contratado,
imposição mesmo que a título acessório.
Está em causa, deste modo, a imposição ao trabalhador de funções que
transcendem o núcleo funcional da categoria para a qual foi contratado,
quer essa transcendência decorra da afinidade ou ligação funcional das
actividades impostas àquele núcleo, quer se trate de actividades
acessórias ao mesmo.
Por outro lado, exige-se ainda que ao exercício das referidas actividades
ou funções «corresponda uma retribuição ou qualquer outra regalia
mais elevada» do que aquela que é auferida pelo trabalhador no
desempenho das tarefas inerentes à categoria profissional para que foi
contratado.
Deste modo, o recurso a este n.º 7 da cláusula 15.º da CCT exige, como
ponto de partida, a concretização da categoria profissional para a qual o
trabalhador foi contratado e a especificação do respectivo conteúdo
funcional.
Seguidamente impõe-se identificar as tarefas desempenhadas pelo
trabalhador e impostas pela entidade empregadora que possam ser
consideradas actividades acessórias, afins ou funcionalmente ligadas às
descritas no mencionado conteúdo funcional da categoria considerada.
Feita esta individualização, torna-se necessário referenciar as
actividades em causa que transcendam o conteúdo funcional daquela
categoria e que se insiram na outra categoria a que corresponda
«retribuição ou outra regalia mais elevada».
É a concretização destas actividades correspondentes a uma outra
categoria profissional, mas que mesmo assim se possam considerar
acessórias ou afins das que integram a categoria contratada, que
legitima a atribuição da retribuição correspondente à outra categoria.

IV

Resulta da matéria de facto dada como provada, com interesse para a


definição da categoria profissional da Autora e da retribuição a que tem
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direito, que aquela «foi admitida ao serviço da Ré para desempenhar as


funções de operadora de telemarketing, ou seja, após lhe ser fornecida
uma lista telefónica e uma folha de apresentação da Associação, a A.
era incumbida pela Ré, durante as 8 horas do seu horário de trabalho, de
contactar empresas e particulares solicitando a contribuição em dinheiro
para a associação» e que após a «saída da então coordenadora da Ré, D.
DD, a A. foi convidada para esse cargo em finais de 2001 pelo
presidente da Ré, tendo aceite tal convite».
Flui igualmente da matéria de facto que «no exercício dessa categoria,
que manteve até à data do despedimento, a A. era responsável pela
coordenação da equipa de telemarketing; supervisionava o trabalho dos
estafetas; fazia as ementas da casa da sopa; controlava os serviços de
fornecimento de refeições e limpeza da cantina social; com a mesma
equipa de telemarketing verificava a validade de todos os produtos;
processava os salários das trabalhadoras; contabilizava as comissões
dos estafetas e das operadoras que obtivessem donativos superiores a €
2.500,00 mensais; realizava entrevistas de emprego (para contratação);
fazia o atendimento dos utentes da casa da sopa e de famílias
carenciadas, fazia a triagem dos utentes que deveriam receber apoio
social, entregando roupas e cabazes de alimentos; organizava, 2 vezes
por ano, peditórios em grandes superfícies comerciais».
Mais resulta da matéria de facto que «a responsabilidade de verificar as
datas de validade dos produtos não era exclusiva competência da A.,
sendo uma tarefa feita regularmente por quase todas as trabalhadoras da
Ré» e que «a cantina social da R abriu em Junho de 2005».
Decorre também da matéria de facto que «para além dos trabalhadores
assalariados da Ré, que, na altura da prestação de trabalho da A., não
seriam mais do que cinco, havia ainda outras pessoas que colaboravam
com a Ré em regime de voluntariado» e que «a direção das atividades
da BB era, e foi sendo cada vez com mais frequência, assumida pelo
seu Presidente, CC, o qual detém o poder de planear a utilização mais
conveniente da mão-de-obra, equipamentos, materiais, instalações e
capitais, sendo, em último termo, quem define a política e opções da
instituição».
As tarefas desempenhadas pela Autora, tal como emergem desta
matéria de facto, terão forçosamente de ser lidas no contexto da
organização dos serviços administrativos da Ré e da sua dimensão
estrutural que integrava, não mais que cinco trabalhadores assalariados,
além dos colaboradores em regime de voluntariado, bem como no
quadro dos poderes directivos da instituição assumidos pelo seu
Presidente.
Analisadas as tarefas executadas pela Autora à luz do conteúdo
funcional da categoria «director de serviços», não se constata nas
mesmas nada que possa ser referenciado ao estudo, organização e
direcção das «actividades da instituição», bem como nada que se possa
associar à colaboração «na determinação da política da instituição», no

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planeamento e «na utilização mais conveniente da mão-de-obra,


equipamento, materiais, instalações e capitais» bem como «na
orientação, direcção e fiscalização a actividade da instituição segundo
os planos estabelecidos, a política adoptada e as normas e regulamentos
prescritos».
Nada decorre igualmente dessas tarefas que permita afirmar que lhe
cabia intervir na criação e manutenção de «uma estrutura administrativa
que permita explorar e dirigir a instituição de maneira eficaz» e, muito
menos, que colaborasse «na fixação da política financeira e exerce a
verificação dos custos».
As tarefas executadas pela Autora têm uma dimensão claramente
executiva, alheia à direcção de nível superior da instituição, que, no
caso concreto, de acordo com a matéria de facto dada como provada,
era assumida pelo Presidente da instituição.
Por outro lado, a «coordenação da equipa de telemarketing» ou a
supervisão dos estafetas e mesmo o controlo dos serviços de
fornecimento de refeições e limpeza da cantina social» ou a verificação
da «validade de todos os produtos» ou o processamento de salários são
actividades que não se inserem no conteúdo funcional da categoria
Director de Serviços, tal como a mesma emerge da descrição funcional
constante do Anexo I à referida Convenção Colectiva de Trabalho.
Carece, deste modo, de suporte na matéria de facto dada como provada
a afirmação constante da decisão recorrida, no sentido de que há
«coincidência parcial de funções» das funções assumidas pela Autora
relativamente à categoria de Director de Serviços, «pois a A., excluindo
o seu superior hierárquico, era a pessoa que dirigia a atividade
desenvolvida pela R., desde finais de 2001, quando esta assumiu as
funções que até então eram levadas a cabo pela “Coordenadora” da R.».
Com efeito dali não decorre que Autora exercesse actividades que
permitam afirmar que «era a pessoa que dirigia a Ré», «excluindo o seu
superior hierárquico».
Face à matéria de facto dada como provada e à luz das considerações
acima tecidas, a Autora não só não desempenhava tarefas que permitam
afirmar que correspondem ao «núcleo essencial das funções»
correspondentes à categoria de Director de Serviços, o que lhe
conferiria o direito a essa categoria profissional, como também dela não
decorre o desempenho por parte da Autora de tarefas correspondentes
ao conteúdo daquela categoria profissional que se possam considerar
acessórias ou funcionalmente ligadas às tarefas inerentes ao conteúdo
funcional da categoria para a qual a Autora foi contratada.
A matéria de facto dada como provada não permite, pois, reconhecer à
Autora a pretendida categoria profissional de Director de Serviços, nem
permite individualizar outra categoria, à luz dos conteúdos funcionais
descritos no anexo I à CCT, em relação à qual se possam concretizar
actividades acessórias, afins ou funcionalmente ligadas, que permitam
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reconhecer-lhe o direito à retribuição correspondente à categoria de


Director de Serviços.
Impõe-se, pois, a concessão da revista interposta pela Ré e a revogação
da decisão recorrida.

Pelo exposto, decide-se conceder a revista, revogando-se em


conformidade a decisão recorrida, e repristinando-se a sentença
proferida no tribunal de 1.ª instância.
As custas da revista e da apelação ficam a cargo da Autora,
repristinando-se igualmente o decidido na 1.ª instância quanto a custas.
Lisboa, 9 de Outubro de 2013
António Leones Dantas (relator)
Melo Lima
Mário Belo Morgado

____________________
[1] MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito do Trabalho, Almedina, 1994, p. 665.
[2] MARIA DO ROSÁRIO DA PALMA RAMALHO, Direito do Trabalho, Parte II – Situações
Laborais Individuais, 3.ª Edição, 2010, p. 439.
[3] MARIA DO ROSÁRIO DA PALMA RAMALHO, Obra citada, p. 439.
[4] “A Mobilidade Funcional e a Nova Redacção do art. 22.º da LCT”, Revista de Direito e Estudos
Sociais, Ano XXXIX, 1997, a p. 92.,
[5] Disponível nas Bases de Dados Jurídicas da DGSI.
[6] MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, 11.ª edição.
[7] “A Mobilidade Funcional e a Nova Redacção do art. 22.º da LCT”, Revista de Direito e Estudos
Sociais, Ano XXXIX, 1997.
[8]
Código do Trabalho Anotado, PEDRO ROMANO MARTINEZ e Outros, Almedina, 5.ª Edição,
2007, p. 341.

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