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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Niterói
2023
REINALDO RAMOS DA SILVA
Niterói
2023
Ficha catalográfica automática - SDC/BCG
Gerada com informações fornecidas pelo autor
CDD - XXX
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________________
(Prof. Dr. Paulo César Rodrigues Carrano - Orientador)
_____________________________________________________________________
(Prof. Dr. José Antonio Miranda Sepúlveda – Membro Interno)
_____________________________________________________________________
(Prof. Dr. José Ronaldo Trindade – Membro Externo)
AGRADECIMENTOS
A palavra ―gratidão‖ no em seu étimo latino significa acolher com favor, reconhecer.
Portanto, tornar mais humano, espelhar. Não há humanidade sem gratidão e fora dela,
habitamos o reino das trocas mediadas por interesses, juros, acumulação. Agradecer é
reconhecer e engrandecer a humanidade de quem nos humanizou. A distância entre o
agradecimento e a retratação é que a primeira doa reconhecimento, a segunda, solicita.
Desculpar-se é notar ter ferido no outro o que dói em si mesmo. Agradecer é notar em si uma
alegria que tem no outro parcial causa eficiente. E mesmo se ausente, fazer este outro presente
na forma da honra pela lembrança pública de seu nome.
Essas duas práticas, desculpar-se e agradecer, perfazem uma ética mínima e com ela,
se não nos vendemos à tentação de mercantilizar e promiscuir seu uso fazendo do
agradecimento uma tentativa de agrado, oxalá alcancemos uma existência mais modesta,
menos famélica de reconhecimento, por fazer desse não uma moeda - mas uma dádiva. Fora
da graça, da gratidão nada há nada senão pobreza. Portanto, é com modéstia que registro os
nomes das pessoas que me fizeram menos ―homem‖ e mais humano, contribuindo direta ou
indiretamente para a realização deste trabalho:
Só eu sei o que eu sinto. E por consentir o que sinto, dou graças à vida.
Para Benoá Xavier e Jill Aragão.
“Todos somos responsáveis de tudo, perante todos”.
Fiodor Dostoievski
RESUMO
Este trabalho consiste em um estudo exploratório qualitativo com amostragem dirigida
e método de análise netnográfico tendo por objeto a questão das representações de
masculinidade em nossa cultura. Seu corpus empírico foi recortado da plataforma Instagram,
qual seja, a análise fina de três diferentes perfis de destacada influência na referida rede
social, cada qual representando um padrão particular de tendência ético-estético-política. O
direcionamento da amostragem obedeceu ao critério de volume de engajamento e
especificidade de conteúdo. Desta forma, os perfis diferem entre si por representarem, cada
um deles, variações interpretativas sobre o papel do masculino e das (novas) masculinidades
no atual teatro social das relações de gênero. O cotejamento dos dados é feito a partir da
especificidade do discurso sobre masculinidade que cada perfil apresenta, sendo o primeiro
deles de característica masculinista; o segundo orientado pelas demandas do feminismo em
sua expressão mais corrente nas redes sociais e com viés de gênero marcadamente
essencialista e o terceiro de caráter mitopoiético e buscando encontrar saídas para os impasses
da masculinidade a partir do discurso de crise aberto em grande parte pelo avanço das
demandas das mulheres. A passagem do particular para o geral aduziu à conformação de
categorizações que perfazem o que se pretende constituir na contribuição mais relevante deste
empreendimento de pesquisa. Ao cabo, no nível teórico, consideramos o objetivo deste
trabalho, assumindo os homens como grupo detentor de uma forma histórica de hegemonia
social, indagar sobre a possibilidade de revisão do estatuto ontológico da masculinidade a
partir de uma percepção autorreferenciada do esgotamento dessa forma tradicional de
hegemonia.
Palavras-chave: Masculinidades, Relações de Gênero, Influenciadores digitais.
ABSTRACT
This work consists of a qualitative exploratory study with directed sampling and a
netnographic analysis method, having as object the issue of representations of masculinity in
our culture. Its empirical corpus was cut from the Instagram platform, that is, the fine analysis
of three different profiles of outstanding influence on the aforementioned social network, each
representing a particular pattern of ethical-aesthetic-political tendency. The sampling
direction obeyed the criterion of engagement volume and content specificity. In this way, the
profiles differ from each other because each one of them represents interpretative variations
on the role of the masculine and of (new) masculinities in the current social theater of gender
relations. The collation of data is carried out based on the specificity of the discourse on
masculinity that each profile presents, the first of which has a traditionalist characteristic; the
second guided by the demands of feminism in its most common expression in social networks
and with a markedly essentialist gender bias and the third of a mythopoietic character and
seeking to find ways out of the impasses of masculinity based on the crisis discourse opened
in large part by the advancement of masculinity. women's demands. The passage from the
particular to the general led to the conformation of categorizations that make up what is
intended to constitute the most relevant contribution of this research enterprise. In the end, at
the theoretical level, we consider the objective of this work, assuming men as the group that
holds a historical form of social hegemony, to inquire about the possibility of revising the
ontological status of masculinity based on a self-referenced perception of the exhaustion of
this traditional form of hegemony.
Keywords: Masculinities, Gender Relations, Digital Influencers.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 19
REFERÊNCIAS 110
ANEXO I 117
19
INTRODUÇÃO
Ao analisar o que emerge no debate público no campo de gênero e sexualidade com
ênfase em masculinidades, estamos também contemplando um movimento que reverbera no
cotidiano estudantil, porque dimensão indissociável e subordinada ao campo da cultura,
especialmente em tempos onde observamos um crescente ativismo de extrema direita que visa
disputar a produção de sentidos e saberes no espaço escolar. A questão de gênero configura,
portanto, uma trincheira na qual a extrema direita cerra fileiras com especial ardor, pois
representa uma fronteira essencial para a perpetuação das hierarquias que dão unidade à
cadeia de privilégios que assegura a conservação da divisão do trabalho e da ordem social, ao
preço do silenciamento das subjetividades dissidentes às concepções hegemônicas previstas
na rigidez de suas prescrições. Um exemplo clássico diz respeito às aulas de educação física
com atividades mistas, nas quais as meninas são claramente mais favoráveis às atividades
mistas que os meninos, que geralmente preferem praticar entre si. Ainda são representações
estereotipadas dos papéis de gênero que observamos quando as meninas se descreviam como
mais sociais e cooperativas e, portanto, como contribuindo para a coesão do grupo e que, ao
contrário, os meninos se percebem e são percebidos como mais competitivos e em busca da
afirmação da própria virilidade (BADINTER 1993, COSTA 1987; FALKENBACH 2002;
FENSTERSEIFER 2001; FREIRE 1989).
1
Conceito Habermasiano inspirado na fenomenologia de Husserl. A esfera do mundo da vida é Ela é
pré-cognitiva e pré-categorial, isto é, vem antes de qualquer tipo de conhecimento objetivo. Ela pode ser
caracterizada como um mundo, ou melhor, como um ―fundo olvidado capaz de proporcionar sentido às
ciências‖. Ou ainda como um conjunto de sentido inquestionável portador ―das evidências mais evidentes‖
(HUSSERL, 2012, p. 112).
20
pela inevitável ressonância no espaço escolar das mesmas tensões envolvendo aspectos de
gênero na forma da reprodução das conformações típicas apresentadas nas relações sociais em
suas marcantes assimetrias e jogos de poder. Ainda que o espaço escolar não seja o campo
eleito prioritariamente para a extração do substrato empírico deste projeto de pesquisa,
consideramos que, ao compreender o processo educacional em um sentido ampliado, inscrito
no campo da cultura, chega-se à conclusão de que o espaço da escola é também afetado pelo
debate político que se instaura no espaço público, sobretudo em se tratando de aspectos que
dialogam diretamente com a dinâmica familiar, com o período de iniciação e descoberta da
sexualidade e com o notável deslocamento dos marcadores de gênero observados nos últimos
tempos - deslocamento este decorrente principalmente em razão do exponencial alargamento
da influência das redes sociais no cotidiano desses jovens.
Dupuis-Déri afirma que não é por ser um simples discurso de crise que não afeta o
real. De fato, o discurso da crise tem sido frequentemente usado por especialistas em
comunicação - portadores de ideologias - para mobilizar as pessoas em seu proveito. Desta
forma, problemas sociais sérios podem receber menos importância diante de falsos problemas
ou problemas menores. Essa manobra política para apelar à ―crise" para incentivar
intervenções nesse sentido atende a interesses específicos daqueles que propagam esse senso
de urgência. Declarar uma crise pode servir como um poderoso agente mobilizador para as
autoridades políticas e sociais desenvolverem uma série de recursos, grupos, projetos de
pesquisa e posições em favor dos homens: "um estado de crise surge toda vez que uma
dominação é questionada" (Dupuis-Déri, 2010).
Silvia Federici (2021) revela que o trabalho doméstico não remunerado é um fator
decisivo na estrutura de valor dos salários. Mostra que, ao fazer isso, podemos revolucionar a
interpretação de Marx e do capitalismo de que a categoria gênero estaria circunscrita a um
aspecto superestrutral. Federici demonstra como o trabalho doméstico feminino representa
enquanto força de trabalho um dos pilares do sistema de produção capitalista, apontando
como as reformas políticas do liberalismo disciplinaram a classe trabalhadora e empurraram
as mulheres para o reino do trabalho reprodutivo e doméstico. Para a autora, o capitalismo
concede aos homens poder sobre o trabalho e os corpos das mulheres, transformando o lar em
uma fábrica da classe trabalhadora e mostra que, ao minar socialmente as mulheres, a classe
trabalhadora também é atingida como um todo. Essa leitura tem como conseqüência a
conclusão de que a "privacidade" e a família não são mais percebidas como elementos
externos ao capital. Portanto, pode-se dizer que o movimento das mulheres, assim como o
movimento dos homens, é resultado das condições históricas decorrentes das grandes
transformações sociais, econômicas e culturais iniciadas no século XVII.
Este trabalho teve inicialmente por inspiração a pesquisa realizada no projeto sobre
masculinidades ―O Silêncio dos Homens‖2, organizado pelo site ―Papo de Homem‖3
promovendo um adensamento crítico da problematização acerca do campo semântico que
abarca o sentido das diferentes masculinidades em suas diferentes ubiquações com a cultura.
Neste movimento, pretendemos verificar três diferentes processos que supomos emergentes
na cultura como possível repercussão do movimento feminista, quais sejam: 1) o
aparecimento de uma ―masculinidade ameaçada‖; 2) o aparecimento de uma ―masculinidade
envergonhada‖; e 3) um processo de reidentitarização da masculinidade. Para dar conta da
problemática que esta pesquisa coloca, analisaremos a partir das principais contas de perfis
relacionados aos movimentos de homens na plataforma Instagram, elementos discursivos que
2
Projeto conduzido em 2019 com amostra inicial de 47.002 respostas, disponível em
https://www.dropbox.com/s/ad2gparx6duasyx/osilenciodoshomens.pdf?dl=0 e
https://www.dropbox.com/s/om46du2lkzbhyu5/osilenciodoshomens_desk.pdf?dl=0
3
Segundo o projeto ―O Silêncio dos Homens‖, do site Papo de Homem, existem hoje cerca de trinta
iniciativas e projetos que trabalham com a transformação dos homens, entre eles: Homens em Conexão
(Brasília), Coletivo Sistema Negro (São Paulo), Movimento Guerreiros do Coração (Nacional), Diamante Bruto
(Brasília), Masculinities — Educação, comunicação e cuidado para homens (Brasília), Clã Lobos do Cerrado
(Brasília), Círculo do Fogo Sagrado Masculino (Brasília), Portal Papo de Pai (Mogi das Cruzes), Paizinho
Vírgula (Rio de Janeiro), Homem Paterno (Ubatuba), Pai de Verdade (Recife), Pai Todo Dia (Recife), 4Daddy
(São Paulo), Podcast Balaio de Pais (São Paulo), Podcast AfroPai (São Paulo), Nerd Pai (São Paulo), Masculino
da Alma (Florianópolis), Homem Inteiro (Florianópolis), Refletindo Masculinidades (Florianópolis), MEMOH
(Rio de Janeiro), Papo de Segunda (Rio de Janeiro), Projeto Tempo de Despertar (São Paulo), E agora, José?
(Santo André, SP), Fórum de Gênero e Masculinidades do Grande ABC (Santo André, SP), Homem na Agulha
(São Paulo), Brotherhood Brasil (São Paulo), PrazerEle (São Paulo), Paternidade Sem Frescuras (São Paulo) e
Ressignificando Masculinidades (São Paulo).
23
4
Grupo de orientação mitopoiética fundado no Rio Grande do Sul em 1992, descrito em seu site como
―uma jornada de autoconhecimento que facilita a expansão e o desenvolvimento do seu maior potencial enquanto
homem, o resgate da inteireza e retomada do poder pessoal‖. Fonte: https://www.guerreirosdocoracao.com.br/,
acessado em 20/07/2021.
24
A forma como o debate de gênero hoje atravessa nossas subjetividades por conta de
sua presença ubíqua no campo da cultura teve impacto decisivo na escolha do tema para esta
dissertação. A proximidade com ele me é tão distinta que a ancoragem deste trabalho deu-se
tão somente pela exigência de cientificidade da academia, pois o cotejamento de dados
extraídos de uma base empírica de largo alcance ―encorpa‖ e legitima cientificamente a
pesquisa, tornando mais factível sua circulação, ao menos no âmbito acadêmico, mas poderia
perfeitamente caber na forma de um longo ensaio confessional, projeto ao qual viso dar
conseqüência no médio-longo prazo. Aliás, este flerte com a alternativa de redigir um trabalho
na forma-ensaio é feito sem menosprezo à forma-pesquisa que elegemos como base para a
apresentação e discussão dos resultados, uma vez que a crescente participação das figuras
conhecidas como ―influenciadores digitais‖ no cenário público é um fenômeno da cultura de
massa de nosso tempo. Independente de sua forma, este trabalho representa a transição do
imperativo ―ser homem‖ ao subjuntivo ―devir homem‖5.
Mas muito antes de assumir uma atitude filosófica frente ao tema, este ―ser homem‖
compunha um receituário tão vasto quanto contraditório de prescrições que foram o cerne da
construção de minhas lógicas de subjetivação das experiências no mundo e que ainda ao me
tornar adulto permanecem reverberando numa dialética cuja urgência conduziu à tarefa de
empreender esta pesquisa. A masculinidade enquanto marcador identitário ocupa na minha
experiência um papel fundante frente aos demais marcadores da mesma natureza. E não por
acidente, trata-se de um marcador que se estabelece pela produção incessante de evidências
exteriores de sua legitimidade - isto é, o homem antes de ―ser‖, precisa provar-se. E ao não
provar-se, não é. E aqui reside toda uma moralidade específica deste ―ser homem‖.
5
Cabe a ressalva que em uma perspectiva Deleuziana, devires são necessariamente minoritários. Optou-
se aqui, portanto, por uma concepção de devir fundamentada no sentido metafísico clássico, remetendo ao
conceito heraclítico que faz coincidir devir com mutabilidade, como negação da fixidez e das essencialidades.
25
definida como acolhendo a alteridade: ―o sujeito é um hospedeiro‖, diz o filósofo francês, que
retoma e continua a fenomenologia de Husserl. A fórmula é simples e poderosa, mantendo as
velhas palavras da linguagem cotidiana, Levinas renova a concepção de subjetividade. A
moralidade não deve ser vista como um controle exercido pela razão sobre a sensibilidade,
mas sim como um acontecimento da sensibilidade. A moralidade não é da ordem de um dever
ser, é um fato, um trauma, como o produzido pelo encontro com o rosto do outro. Com
Levinas, nada precede a ética, porque a ética é o que está na própria origem da filosofia, do
espanto filosófico.
6
―O homem ainda não existe‖, provocação que inverte o matema lacaniano sobre a inexistência da
mulher, assumindo que enquanto ator social, o homem e os movimentos de masculinidades são ainda credores da
positividade ontológica da agenda feminista. Esta perspectiva é muito bem problematizada no trabalho da
escritora e psicóloga Christina Montenegro, que defende a possibilidade de emergência de um Masculino, com
referencial identitário próprio.
27
pânico moral. Sob tudo isso, ainda o medo de morrer e não acompanhar o desenvolvimento
do meu filho, nascido em abril de 2019.
É interessante pensar aqui no mito babélico, No mito babélico ressoa uma certa
nostalgia da univocidade linguística perdida. A ideia de chegar ao céu mediante a edificação
de uma torre alude à possibilidade de um entendimento que transcende a questão da
linguagem, mas que aponta para uma sigularidade que bane a discórdia, o mal entendimento,
as disputas do campo das identidades subjetivas e sociais que marcam a inclinação humana
para o conflito. A concórdia do entendimento universal era condicionada a uma ideia de
totalidade patrocinada pela submissão a uma autoridade divina. Sem o recurso à divindade, no
plano da imanência, seriamos todos imaginariamente inclinados de forma espontânea a um
entendimento perfeito, sem os deslizamentos e arestas que a palavra emprestada às coisas traz
em sua própria constituição. A autoridade transcendente, o fundamento ulterior dessa
linguagem espontânea e universal, atua no mito babélico como limite a não ser ultrapassado
pela razão humana - se é que podemos falar em "razão" no sentido do logos grego, pois se
afigura aqui uma relação quase que simbiótica entre ser e pensar, não prescindindo da palavra.
O humano é por definição aquilo que sai da ordem das coisas, o que existe no entrelugar, o
que vaga. O que tende à queda. O humano é sempre resultante de uma debacle, e é a palavra o
signo do humano, "o verbo feito carne". Essa cópula entre carne e verbo, signo e significante
que autoriza nossa errância – ou devir.
7
Assumindo a polissemia do conceito, optamos por privilegiar a perspectiva desenvolvida por J.F.
Lyotard, que situa a pós-modernidade como um desenlace do projeto de emancipação iluminista resultando na
débâcle da autoridade das metarranativas históricas, tendo por resultado a emergência de um impasse cético
análogo ao experimentado na pré-modernidade. Cabe sublinhar o processo que resulta na erosão do princípio do
cogito cartesiano, cujo lastro epistemológico servia de pedra angular da empresa iluminista e foi posto em xeque
a partir dos aportes críticos originados na filosofia Nietzschiana, no marxismo, na psicanálise e culminados pela
crítica pós-estruturalista.
30
8
Segundo o trabalho de Geertz, considera-se o aspecto semiótico da cultura e procura interpretá-la a
partir de sua rede de significados visando o ―alargamento do universo do discurso humano‖ (Geertz, 1978,
p.24). Em outras palavras, a descrição densa objetiva proporcionar a compreensão das estruturas significantes
implicadas na ação social observada, que necessita primeiramente ser apreendida para depois ser apresentada.
31
de Kozinets (2014), que define o trabalho netnográfico como uma ―forma especializada de
etnografia adaptada às contingências específicas dos mundos sociais de hoje mediados por
computadores‖.
Sociólogos e psicólogos dos países nórdicos como os noruegueses Erik Grønseth e Per
Olav Tiller foram os pioneiros dos estudos masculinos como campo de pesquisa. O estudo
clássico de sobre a ausência do pai em famílias de marinheiros e seu impacto no
desenvolvimento da personalidade das crianças na década de 1950 é frequentemente
9
A primeira onda feminista reuniu os diversos grupos que se mobilizaram no final do século XIX e
início do século XX para obter o direito de voto para as mulheres. Também chamado de "movimento sufragista",
visava principalmente reformar as instituições para tornar as mulheres iguais aos homens em direitos.
A segunda onda surge nos anos 1960–1970. Embora muitos grupos com ideias às vezes muito
diferentes tenham surgido durante esse período, a segunda onda é frequentemente associada ao feminismo
radical. As mulheres então fizeram campanha contra a violência e pela livre escolha da contracepção e do aborto.
Esse feminismo também denuncia o patriarcado, um sistema de dominação que legitima lugares de poder com
base no gênero.
A reflexão resultante desses grupos permitirá o nascimento da terceira onda dos anos 1980. Isso põe em
questão a homogeneidade do feminismo como um todo único em relação a todas as mulheres que, por definição,
seriam brancas, heterossexuais e ―bem educadas‖. Várias teorias incorporam as diferenças vividas por mulheres
pobres, mulheres não brancas, lésbicas, etc. A noção de poder já não é concebida de forma hierárquica e binária,
mas sim circular, e as categorias de género - homem-mulher - são reconsideradas e permitem a emergência de
teorias queer. O sexo como elemento positivo também é uma característica dessa terceira onda.
32
considerado o ponto de partida dos estudos sobre homens nos países nórdicos. Nos países
anglófonos, os estudos dos homens foram formados, em grande parte em resposta a um
movimento emergente dos direitos dos homens e, como tal, tem sido ensinado em ambientes
acadêmicos apenas desde a década de 1970 (ibidem, 1996).
comum masculina e feminina e outras formas marginalizadas de ser homem. Sendo difundida
em todas as sociedades, resulta em múltiplas masculinidades, especificamente uma hierarquia
de masculinidades, na qual alguns homens não experimentam o mesmo privilégio que outros
homens por causa de suas outras identidades marginalizadas. O conceito atraiu várias críticas,
o que levou Connell a reformular o conceito. Esta versão mais recente analisa o poder e as
dinâmicas sociais encontradas na hierarquia de gênero, a geografia da masculinidade nos
níveis local, regional e global, a incorporação social e a dinâmica da masculinidade, incluindo
o complexo entrelaçamento de múltiplas masculinidades. Connell enfatiza que a
masculinidade está em constante evolução, o que significa que o currículo e a pesquisa desse
campo sempre mudarão (ibidem, 2005).
sobre homens. Estudar a relação entre masculinidade e vergonha sexual masculina revelou
que o maior endosso de valores tradicionalmente masculinos estava associado ao aumento da
vergonha sexual e que, por sua vez, é preditivo de depressão. Os estudos sobre homens
também estão particularmente preocupados com os arranjos do mundo do trabalho e do
cuidado parental, contribuindo para que as políticas estejam cada vez mais visando a função
paterna como uma ferramenta para mudar as relações de gênero (ibidem, 2016).
Harry Brod (1994), sociólogo estadunidense, explica que a importância dos estudos
sobre os homens se deve ao fato de que antes da constituição do campo, as feministas estavam
olhando para a generalização dos homens, ignorando os sujeitos empíricos e as questões
interseccionais. Para ele, a ênfase dos estudo sobre masculinidades se justifica no fato deste
campo voltar-se para ―experiências masculinas como aspectos sociais específicos e variados‖.
Connell (2013) acrescenta que ter um campo para estudos de masculinidade pode ajudar a
"identificar o interesse dos homens pela mudança".
10
A teoria do papel social é uma teoria psicológica social que se refere às diferenças sexuais e
semelhanças no comportamento social . Seu princípio fundamental é que as diferenças e semelhanças surgem
principalmente da distribuição de homens e mulheres em papéis sociais dentro de sua sociedade.
35
Nas décadas mais recentes, após o início do movimento de homens pró-feministas nos
Estados Unidos, iniciativas semelhantes e interligadas foram organizadas internacionalmente.
Em 2004, vários líderes envolvidos no envolvimento de homens e meninos na justiça de
gênero em todo o mundo se uniram para formar a organização global ―MenEngage‖11. Desde
então, a MenEngage organizou duas conferências internacionais: uma no Rio de Janeiro em
2009 e outra em Nova Delhi em 2014.
Uma reflexão se faz necessária se pretendemos dar conta do objetivo deste trabalho,
qual seja, interrogar-nos sobre a possibilidade da revisão do estatuto ontológico da
masculinidade a partir de uma percepção autorreferenciada do esgotamento dessa forma
tradicional de hegemonia masculina. Ocorre que, de modo geral, homens seriam os principais
beneficiários do patriarcado – como poderiam então estar dispostos a lutar pela igualdade de
gênero? Pioneira na pesquisa científica sobre masculinidades, a australiana Raewyn
Connell, vem defendendo a existência de masculinidades plurais desde a década de
1980, chamando a atenção para as maneiras como a construção, a manutenção e a repressão
de masculinidades específicas são mediadas por relações de poder. Evitando leituras
essencialistas, que validam os corpos, pensamentos e comportamentos masculinos pela
suposta natureza de seu sexo biológico, Connell argumenta que ―a masculinidade não cai dos
céus. Ela é construída por práticas masculinizantes, que estão sujeitas a provocar resistência,
que podem dar errado, e que são sempre incertas quanto a seu resultado".
11
A MenEngage Alliance é uma rede global e um espaço para os membros se unirem em solidariedade
com os mais visados pelas injustiças de gênero e sistemas patriarcais para desmantelar coletivamente as barreiras
estruturais aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero. Fonte: https://menengage.org/about/, acessado em
20/11/2022.
37
Estudos pioneiros sobre o tema (BADINTER, 1993; CONNELL, 1990; 1995; 1997;
NOLASCO, 1995; KIMMELL, 1998) e recentes (MONTEIRO, 2000; PARRINI, 2001;
CORTÉS, 2001; GARBOGGINI, 2005; GUASCH, 2006; CASTAÑEDA, 2006;
HERNÑNDEZ et AL., 2007; JÚNIOR, 2010; GATTI, 2011; PERRY, 2018; NUNES E
MARTINS, 2017) concordaram que a pesquisa sobre masculinidades só foi possível por meio
de iniciativas do movimento feminista e LGBTQIAP+ e que por meio de sua penetração nas
instituições acadêmicas e movimentos sociais, possibilitaram que a categoria homem - gênero
até então naturalizado e assumido como referência para as críticas endereçadas às mulheres -
começasse a ser problematizado como objeto de investigação e análise, tal qual os conceitos
de patriarcado e dominação masculina. Como observa Badinter (1993), esse grupamento de
autoras e autores concorda que, por ação dos movimentos feministas e LGBTQIAP+, ―hoje,
para a maioria de nós, o homem já não é mais o Homem". Connell (1995) analisa que o
movimento pelos direitos dos homossexuais da década de 1970 ajudou a refutar os
estereótipos sobre a representação heterossexual e homossexual. Louro (2016) aponta que
jornais, o mercado publicitário e o meio artístico em geral, tornaram visível a identidade
homossexual no Brasil na mesma década. Além disso, a participação do movimento de
libertação homossexual e de intelectuais exilados no exterior também contribuíram para que o
discurso feminista e as preocupações políticas manifestadas em outros países no debate de
gênero tenham obtido um impacto duradouro no Brasil. Esses e outros aspectos que
demonstram o interesse pelo modo como os homens agem, pensam e são representados são
muitas vezes (re)formulados no campo dos estudos de masculinidade, um campo de
investigação que ascendeu no final do século XX e que, inicialmente, como explica Guerrero
(2012), foi classificado como antissexista e profeminista. Esses termos sinalizam o vínculo e
o apoio que os estudos das masculinidades conferem aos movimentos feministas e LGBTQIA
Para Connell (2016) o interesse dos homens em defender a liberdade de gênero pode
ser explicado, antes de tudo, por aquilo que a autora se refere como ―interesses relacionais‖,
ou seja, as preocupações que os homens externam em relação às mulheres com quem se
38
relacionam - como esposas, mães, funcionárias, colegas de trabalho, filhas, amigas, patroas,
etc. Em segundo lugar, porque homens também buscam superar os efeitos deletérios que o
dispositivo de gênero exerce sobre eles, denominados pela autora como ―toxidades da
masculinidade‖. Por fim, Connel atribui o interesse dos homens na luta pela liberdade de
gênero em razão do eventual compromisso com a paz e com a justiça social.
12
Ver capítulos 2 e 3.
13
Não se pode falar em masculinidades plurais sem considerar as valiosas contribuições dos feminismos
interseccionais, que abrem o campo do debate de gênero para problematizações antes eclipsadas por um
universalismo conceitual legatário do pensamento colonial, ou seja: um feminismo que desconsiderava as
complexidades de classe, raça e orientação sexual em um contexto histórico marcado por processos de
invisibilização, segregação e dominação. O marco inicial desse debate é o pensamento da Filósofa estadunidense
Angela Davis, cujo feminismo profundamente anticapitalista denunciava os vícios coloniais, classistas e racistas
das ondas anteriores do movimento. Dentro do movimento negro é válido lembrar a contribuição do pensador
Martinicano Frantz Fanon, que na obra ―Pele Negra, Máscaras Brancas‖ denuncia os traumas associados ao
processo de subjetivação de uma identidade negra em uma cultura atravessada por ideais brancos, sublinhando a
atribuição de estereotipias relativas à hipersexualização do homem e da mulher negra, apontando para a
construção social da associação do homem negro ao predador sexual por excelência. Na continuidade do legado
40
Desde que entrou no idioma no século XVI, o termo queer em inglês significa
"estranho" ou "estranho", mas não teve uma conotação sexual até a virada do século XX,
quando começou a ser usado como um insulto contra homens gays ou efeminados. Durante a
década de 1980, o termo foi retomado pela comunidade gay e por acadêmicos com o objetivo
de reverter o estigma para desenvolver uma práxis de resistência contra o que chamavam de
"tirania do gênero", "heterossexualidade compulsória" e "o regime do sistema sexo/gênero‖.
Basicamente, a teoria queer começou a se definir por meio de um discurso de oposição ao
feminismo liberal norte-americano baseado nos escritos dos pensadores franceses Michel
Foucault, Jacques Lacan e Jacques Derrida. Um dos textos fundadores da teoria queer foi
publicado por Gayle Rubin nos Estados Unidos em 1981 em meio às ―sex wars‖ (―guerras
contra o sexo‖) entre facções feministas liberais, a favor do acesso ao discurso pornográfico e
sua produção e facções feministas radicais, contrárias a ele (LOURO, 2004).
Ao combinar e redefinir a luta pela libertação de gays e lésbicas e a luta das mulheres,
a teoria queer se baseia em uma crítica da norma e do normativo e, portanto, dos instrumentos
de regulação e regimes disciplinares que mantêm e garantem a continuação desta norma. De
acordo com Judith Butler e Gayle Rubin (2003), nossa sociedade funciona de acordo com a
lógica do sistema sexo/gênero onde o sexo anatômico (masculino/feminino) produz gênero
do feminismo interseccional, destacamos a contribuição de Patricia Hill Collins, que aborda os padrões
interligados de privilégio e marginalização ao longo das linhas de raça, classe, gênero e classe dentro das
instituições sociais bem como no nível da comunidade.
Cabe ainda uma menção ao movimento conhecido como “feminismo chicana” uma forma de teoria e
práxis sociopolítica que examina as interseções históricas, culturais, espirituais, educacionais e econômicas na
comunidade latina nos Estados Unidos, com destaque ao pensamento de Glória Anzaldúa. Ainda no âmbito do
pensamento feminista decolonial, há o trabalho de María Lugones, que reflete sobre o conceito do sistema
colonial/moderno de gênero e sobre a intersecção das categorias raça, gênero e colonialidade.
41
É por meio de uma crítica principalmente foucaultiana das relações de poder que a
teoria queer busca implementar estratégias de resistência contra a normalização do gênero e
do desejo. O autor Jack Halberstam visa o status protegido da masculinidade masculina e
mostra que a masculinidade feminina ofereceu uma alternativa distinta a ela por mais de dois
séculos. Demonstrando como a masculinidade feminina não é uma imitação ruim de
virilidade, mas uma encenação viva e dramática de gêneros híbridos e minoritários,
Halberstam cataloga a diversidade de expressões de gênero entre mulheres masculinas, desde
práticas pré-lésbicas do século XIX até performances contemporâneas de drag king.
Por meio de leituras textuais detalhadas, bem como pesquisas empíricas, Halberstam revela
uma história oculta das masculinidades femininas enquanto defende uma compreensão mais
sutil das categorias de gênero que as incorporariam em vez de patologizá-las. Halberstam
explora questões de transexualidade entre ―transgêneros sapatões‖ — lésbicas que se passam
por homens — e transexuais de mulher para homem que podem achar o rótulo de ―lésbica‖
um refúgio temporário (HALBERSTAN, 2020).
Afastar-se dos discursos modernos parece, pois, obrigatório para a reconstituição das
interações sociais, até então controladas e (in)conscientemente limitadas pelo discurso
científico dominante e pela norma política que este impõe. Os dualismos e,
mais amplamente, o sistema binário que funda as práticas sociais já não são, portanto,
relevantes, mas, pelo contrário, parecem pertencer a um tempo passado. A apropriação do
corpo, do próprio corpo, é uma questão central para qualquer ciborgue. ―Meu corpo‖ é o
primeiro elemento engajado na pesquisa, tanto como lugar de investigação quanto como
suporte para a experiência. Um corpo que parece tão complexo de apreender, mesmo para
Haraway, entre corpo tecnológico, corpo pessoal e portanto político, corpo-limite ou corpo-
infinito. Para o ciborgue, o objetivo é conseguir uma "apropriação definitiva do corpo" e
assim sair da objetificação sexual dos dominantes, consequência da estrutura do sexo e do
gênero. E ao romper as fronteiras modernas (corpo x mente), pela apropriação do corpo, é de
43
fato ao mesmo tempo a apropriação da mente que está em jogo e, portanto, a vontade de
conscientização e a luta pela livre escolha de consentir (ou não) (ibidem).
Paul B. Preciado afirma ter feito a escolha consciente de fazer de sua vida uma lenda
literária, um espetáculo biopolítico, ao invés de deixar que a psiquiatria, a farmacologia ou
mesmo a medicina construíssem uma representação dele como homossexual ou transexual. E
é justamente essa posição que lhe rendeu o desprezo de grande parte do mundo acadêmico.
Tendo estudado durante toda a sua vida os "diferentes tipos de gaiolas sexuais e de gênero"
em que os humanos se encerram, ele denuncia a sociedade atual baseada em princípios
(oposição mulher/homem, preto/branco, etc.) forjados e imaginados há décadas. Ele afirma
que a binariedade em que se baseia os sistema tradicional de gênero não é mais relevante e
que é hora de questioná-la. (ibidem).
Cadernos de Saúde Pública; Galáxia (São Paulo); História (São Paulo); Horizontes
Antropológicos; Interface - Comunicação, Saúde, Educação; Revista Brasileira de Ciências do
Esporte; Revista Brasileira de Educação; Revista Latino-Americana de Enfermagem; Revista
de Administração de Empresas: três ocorrências.
Por área temática, a distribuição se deu da seguinte forma: Ciências Humanas: 125
ocorrências; Ciências da Saúde: 72 ocorrências; Ciências Sociais Aplicadas: onze ocorrências;
Lingüística, Letras e Artes: cinco ocorrências. No gráfico abaixo, é apresentada a série
histórica das públicações, iniciada no ano de 1998. Cumpre considerar que é a partir da
segunda década do século XXI, graças à revolução comunicacional decorrente do advento das
grandes redes sociais que o feminismo ciberativista incluiu de forma definitiva o debate de
gênero na ordem do dia, como podemos observar:
Gráfico 1
46
& WALLENDORF, 1994; HIRSCHMAN, 1985; LINCOLN & GUBA, 1985) também se
aplica à netnografia. O feedback é importante porque permite que os membros matizem os
resultados da pesquisa e os alimentem com dados adicionais, o que melhora a compreensão do
tópico da pesquisa. Além disso, do ponto de vista ético, essa comunicação possibilita informar
os integrantes sobre o trabalho do pesquisador. Kozinets defendeu a abordagem participativa
que implica que o investigador declare a sua presença na comunidade, durante a fase de
entrada, sob o risco de ser rejeitado (KOZINETS, 2002; 2009). No entanto, esta abordagem
não tem sido adotada em vários estudos que defendem posturas puramente observatórias ou
passivas (BROWN, KOZINETS, & SHERRY JR, 2003; HAMILTON & HEWER, 2010;
MAULANA & ECKHARDT, 2007) – e como é o caso desta pesquisa. Os pesquisadores
justificaram sua abordagem puramente observatória pelo fato de que esse método lhes
permitia acessar dados sem o viés que acompanha a interação. A facilidade de uso da
ferramenta da Internet possibilita um diálogo entre os participantes e o netnógrafo, o que
enriquece o estudo e constitui uma característica única em comparação com outros métodos
qualitativos. Além disso, esta acessibilidade do investigador atesta uma abertura de espírito da
sua parte, que lhe permite estabelecer uma relação de confiança com os seus informantes e,
consequentemente, a possibilidade de uma troca contínua de informação (KOZINETS, 2002).
conteúdos, promovendo a conectividade social com amigos, seguidores e até fãs (AZER,
HARINDRANATH e ZHENG, 2019 ).
O debate sobre até que ponto a socialização online afeta a forma como as pessoas
formam suas opiniões online está em andamento. Existem duas frentes acadêmicas que
fornecem evidências antitéticas sobre esses efeitos. Por um lado, há quem afirme que a
Internet facilita a exposição seletiva de conteúdos, levando os usuários a reforçarem suas
crenças pré-existentes. Aqui o conceito de câmara de eco (BRUGNOLI, CINELLI,
QUATTROCIOCCHI & SCALA, 2020), da psicologia dissonância cognitiva (OSHIKAWA,
1969), e da teoria da comunicação, exposição seletiva (CORREIA, JERONIMO e GRADIM,
2019). Por outro lado, há quem defenda que a Internet desafia as fronteiras sociais tradicionais
ao expor os usuários a opiniões. Com tudo isso, à medida que as redes sociais se
popularizaram, personagens icônicos chamados de influenciadores começaram a se destacar
dentro dessas plataformas digitais e com elas novas formas de interação social
(RODRÍGUEZ, GONZALO, PLAZA e SÁNCHEZ, 2019). Através de suas redes, eles
conseguiram amplificar o efeito da mensagem proveniente de grupos, coletivos e
organizações que buscam se expressar digitalmente, catalogando suas ações no que poderia
ser considerado uma forma de ciberativismo (BONAVITTA, HERNÁNDEZ e CAMACHO,
2015).
Em 2016, esse número subiu para 75%, mais do que os 42% da média global do
mesmo ano. Segundo especialistas, um dos motivos para a grande presença de brasileiros em
mídias sociais e aplicativos como o Instagram é a combinação de um país bastante
―conectado‖ com uma crescente penetração de smartphones no Brasil. Curiosamente, não se
50
trata apenas de uma rede social utilizada pelos jovens - 57% dos usuários brasileiros de
internet na faixa dos 55 aos 65 anos também usam o Instagram. Com 400 milhões de contas
mensais ativas, o Instagram é considerado uma mídia social líder. Em comparação com outras
grandes redes como Facebook, Twitter, Pinterest ou Snapchat, o Instagram oferece vantagens
específicas quanto aos conteúdos audiovisuais, como por exemplo: permitir a publicação de
vídeos (de 1 minuto no máximo como padrão, mas até 60 minutos com IGTV) ou fotos, que
podem ser editadas diretamente na rede com cerca de dez filtros diferentes. Em relação às
facilidades de compartilhamento, o Instagram oferece recursos mais limitados em relação às
outras redes.
O Instagram não permite que os membros publiquem links ativos (clicáveis) em seu
conteúdo. Se um membro adicionar um link de URL em um comentário ou uma descrição de
foto/vídeo, esse link aparecerá, mas não será clicável, será considerado como texto simples. O
Instagram atualmente permite um único link clicável que pode ser encontrado na seção ―bio‖
da conta do usuário. Desde 2018, o Instagram também permite a postagem de links clicáveis
nos ―stories‖ do Instagram de contas com mais de 10.000 assinantes. Além do link na
14
https://emplifi.io/resources/blog/social-media-benchmarks?utm_source=socialbakers.com, acessado
em 13/09/2022.
51
Quando ao aspecto do impacto do uso das redes sociais na saúde mental de seus
usuários, um estudo de 2017 da Royal Society for Public Health (RSPH) indica que o
Instagram e o Snapchat podem levar à ansiedade entre jovens de 12 a 24 anos16. De acordo
com documentos redigidos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos
e ao Congresso dos Estados Unidos pela advogada denunciante Frances Haugen em 2021, a
corporação Meta sabia que a mídia social Instagram poderia ser prejudicial ao bem-estar de
adolescentes17. De fato, de acordo com um estudo realizado internamente pela empresa, os
adolescentes pesquisados disseram ter tido pensamentos suicidas: 13% dos usuários
britânicos e 6% dos usuários americanos do Instagram revelaram que esses pensamentos
sombrios apareceram após o uso das mídias sociais. Ainda segundo o mesmo documento
partilhado internamente, um em cada cinco adolescentes diz, no contexto deste estudo, que o
Instagram prejudica a sua autoestima.
15
A expressão Application Programming Interface, ou, em português, Interface de Programação de
Aplicativos, originou o acrônimo API. APIs são ―tradutores‖ com a função de conectar sistemas, softwares e
aplicativos. Dessa forma, é possível entregar uma experiência de uso mais familiar para as pessoas. Fonte:
https://www.zenvia.com/blog/apis-entenda-o-que-sao-e-como-funcionam/. Consulta em 03/11/2022.
16
Disponível em https://www.rsph.org.uk/about-us/news/instagram-ranked-worst-for-young-people-s-
mental-health.html, acesso em 02/11/2022.
17
Matéria do ―The Wall Street Journal‖, disponível no link https://www.wsj.com/news/types/the-
facebook-files?mod=svg-breadcrumb, acessado e 03/11/2022.
52
A mídia social tem sido descrita como mais viciante do que cigarros e álcool,
e agora está tão enraizada na vida dos jovens que não é mais possível ignorá-la quando
se fala sobre a vida dos jovens. problemas de saúde mental. Por meio de nosso
Movimento de Saúde Jovem, os jovens nos disseram que as mídias sociais tiveram um
impacto positivo e negativo em sua saúde mental. É interessante ver o ranking do
Instagram e do Snapchat como o pior para a saúde mental e bem-estar – ambas as
plataformas são muito focadas na imagem e parece que podem estar gerando
sentimentos de inadequação e ansiedade nos jovens. (CRAMER, 2017, online.
Tradução nossa).
Becky Inkster, pesquisadora honorária da Universidade de Cambridge, acredita que
para os jovens, usar mídias sociais e tecnologias digitais como uma ferramenta para ajudar na
saúde mental faz sentido por muitas razões. As mídias sociais fazem parte de suas vidas
diárias e, portanto, os cuidados podem ser prestados em uma abordagem autogerenciada e
integrada ao estilo de vida das pessoas. Ainda segundo Inkster,
18
McLuhan deve em parte a ampliação radical de sua definição de meio a Giedion, que considerou que
qualquer objeto pode ser "estético", ou seja, ser estudado do ponto de vista de sua relação com o aparato, a
percepção humana. Levando esse ensinamento a sério, McLuhan considera como ―meio ‖ qualquer objeto,
artefato ou dispositivo que mantenha uma relação com o sensório humano , todos os artefatos técnicos que
estendem funções, faculdades ou órgãos sensoriais humanos. A roupa, a estrada ou a roda também
são mídias que têm ―efeitos‖ psicológicos e sociais muito importantes. Dessa forma, a análise da mídia teve o
efeito inesperado de recolocar o corpo no centro da análise de certos autores que se dizem de McLuhan,
considerando assim que "a última lição de Marshall é que o corpo é o meio, e que é o nosso principal patrimônio
(Coupland , 2009, p. 232).
54
a) Macroesfera progressista:
b) Generorreformistas:
c) Generoabolicionistas:
Grupos influenciados pela agenda queer, pugnam pela superação das linhas clássicas
que dão contorno às identidades de gênero, por considerar o conceito um dispositivo político
de dominação social. Também classificados como ―não-binaristas‖.
55
d) Generodissidentes:
e) Homomasculinidades19:
f) Não-binaristas:
Subgrupo generoabolicionista.
g) Interseccionalistas:
h) Étnicorraciais:
i) Transmasculinidades:
Subgrupo generodissidente.
j) Mitopoiéticos:
19
Termo cunhado por Jack Fritscher, professor universitário, historiador e ativista social estadunidense
conhecido internacionalmente por suas análises de ficção, erotismo e não-ficção da cultura popular e cultura
masculina gay e que objetiva demarcar a cisgenereidade masculina não heteronormativa como um pertencimento
identitário capaz de ampliar os limites da masculinidade hegemônica, atuando pela heterogeneização do campo.
Fonte: https://jackfritscher.com/PDF/Drummer/Cal%20Action%20Guide%20Homomasculinity%2003.pdf,
consultado em 30/10/2022.
20
Há o registro de grupos voltados para o debate de masculinidades amarelas, masculinidades
nordestinas, e masculinidades indígenas, porém optamos pela não inclusão no trabalho em razão do alcance
inferior a quatro mil seguidores, critério descrito na apresentação metodológica.
56
l) Macroesfera masculinista:
m) Filomasculinistas:
21
Movimento feminista inspirado nas representações arquetípicas de práticas religiosas antigas, que
pregam um resgate do sagrado feminino a partir de símbolos alternativos à matriz judaico-cristã, exercem forte
apelo nos meios urbanos.
22
Segundo com a historiadora J. Allen, o termo ―masculinismo‖ surgiu 1914, quando deu uma série de
palestras públicas em Nova York intitulada "Estudos em Masculismo". O termo teria surgido para se referir à
oposição de homens misóginos aos direitos das mulheres e, mais amplamente, também para descrever ações
políticas e culturais coletivas dos homens em nome de seu próprio sexo, ou o que Allen chama de "política
sexual de discursos culturais androcêntricos‖ (ALLEN, 1990). Para Wood (2004), a teoria masculinista
desenvolveu-se ao lado do feminismo da terceira onda e da teoria queer e foi influenciada pelo questionamento
dessas teorias sobre os papéis tradicionais de gênero. Farrell, apud Elder (2005), argumenta que os homens
executam a maior parte dos trabalhos sujos, fisicamente exigentes e perigosos – a mesma leitura que realiza o
psicólogo e acadêmico canadense Jordan Petersen. Os masculinistas citam taxas mais altas de suicídio em
homens do que em mulheres e também expressam preocupação com a violência contra os homens sendo
ignorada ou minimizada em comparação com a violência contra as mulheres. Wood (2004) argumenta que o
apelo do movimento masculinista está em afirmar que a ideia igualdade de gênero é incompatível com os valores
cristãos. O masculinismo procura reafirmar o homem como o chefe da família, a quem as mulheres devem se
submeter-se voluntariamente. De maneira resumida, trata-se de um movimento antifeminista que busca
reafirmar visões essencialistas de gênero e promover uma agenda cristã conservadora.
57
n) Redpillers:
Termo oriundo do filme Matrix, designando os indivíduos que ousam romper com os
padrões sociais hegemônicos, optando por uma separação quase radical entre os gêneros. Os
redpill são homens que decidem trilhar o próprio caminho, os MGTOW24, isto é, homens
decidem não priorizar relacionamentos amorosos com mulheres. Os redpillers possuem um
discurso frontalmente antifeminista e interpretam o comportamento das mulheres como
padrões idissincrásicos destinados ao controle e manipulação dos homens. É frequente nestes
grupos o ensino de técnicas específicas para desenvolver nos homens ferramentas capazes de
protegê-los dessa alegada má fé por parte das mulheres, indicando inclusive estratégias de
aproximação, corte e jogos emocionais. Redpillers acreditam que as feministas e o
politicamente correto obscurecem a realidade social, e que os homens ―são vítimas que devem
lutar para proteger sua existência‖. Aceitar a ideologia masculinista é equiparado a "tomar a
pílula vermelha", e aqueles que não o fazem são vistos como a "pílula azul" ou como tendo
"tomado a pílula azul. A filosofia da "pílula vermelha‖ se dedica ao suposto despertar dos
homens face à suposta realidade de que a sociedade é estruturalmente misândrica e controlada
por valores feministas. Segundo Donna Zuckerberg, (2018), "A pílula vermelha representa
uma nova fase na misoginia online. Seus membros não apenas zombam e menosprezam as
mulheres; eles também acreditam que em nossa sociedade os homens são oprimidos pelas
mulheres‖.
o.1 Motivacionais:
23
Para efeitos de registro, não foram acompanhados páginas no Instagram com discurso abertamente
misógino, conceito que não coincide com o antifeminismo retórico.
24
MGTOW é a sigla para Men Going Their Own Way , que pode ser traduzido para o francês como:
―homens seguindo seu próprio caminho‖ . A expressão designa um fenômeno social de homens que desejam se
desvincular das relações homem-mulher, que consideram desfavoráveis, em particular o casamento e a
paternidade. Este é um processo individual, não um movimento ou partido. Não deve ser confundido com o
fenômeno dos incels , homens involuntariamente celibatários. Esse fenômeno é considerado por seus detratores
(principalmente feministas) como um movimento que faz parte da ―manosfera‖ e mais amplamente da esfera
masculinista , misógina, antifeminista e propagadora do ódio .
58
o.2) Prescricionistas:
o.3) Aporéticos:
25
Personagem interpretado pelo ator irlandês Cillian Murphy , caracterizado com um gangster ―frio e
calculista‖. Violento, sombrio, politicamente incorreto, um anti-herói assumido. O mais antipático possível,
impulsivo, assassino, misógino, megalomaníaco, conforme descrição disponível na plataforma Netflix (acessado
em 30/12/2022).
26
Consequência da dissolução das metanarrativas, percebida por alguns a dissolução dos laços sociais,
fazendo passar das coletividades sociais para o estado de uma massa de átomos individuais lançados em absurdo
movimento análogo ao descrito pelo botânico Robert Brown, também podendo se referir ao modelo matemático
usado para descrever tais movimentos aleatórios, também conhecido como ―teoria da partícula‖.
27
Apropriação do termo ―coaching‖ utilizado na área esportiva como mentor, técnico, orientador, e
empregada em diversas áreas da vida cotidiana como relacionamentos amorosos, trabalho e finanças.
59
o.4) Parentalistas:
o.5) Relacionistas:
Campo progressista
Tradicionalistas (masculinistas)
estabelecido no campo da cultura que possibilite uma revisão dos estatutos normativos acerca
dos papéis e relações de gênero. Cabe apontar que optamos pelo uso da categoria
―filofeminista‖ para um grupo transeccional que não apenas dialoga com todo o campo
progressista em geral, pois os movimentos de homens são como definiu Parrini (2001),
―costelas de Eva‖, isto é, movimentos agenciados pela emergência do movimento feminista e
pelas questões colocadas por este em relação ao conjunto social que compõe a masculinidade
e seus padrões viciados, mas com os generorreformistas em particular, pois são esses os que
se engajam mais diretamente na produção de um debate que visa rever e reformular tais
padrões com o intuito de promover relações de gênero mais harmoniosas.
Figura 1
Figura 2
66
Figura 3
O perfil intitulado ―Fúria e Tradição‖ é o que conta com mais seguidores dentro do
campo tradicionalista, com um total de 277.7880 seguidores registrados em 25/10/2022,
estando ativo no Instagram desde dezembro de 2013. A página segue 326 perfis, tem 1097
publicações, média de 14.408 curtidas por postagem e 400 comentários a cada publicação,
além de uma média de 106.989 visualizações por vídeo publicado. Seu administrador é
Felippe Chaves, carioca, casado, na casa dos 30 anos de idade.
legenda na página principal: ―A feminilidade torna o mundo mais belo. A masculinidade torna
o mundo mais seguro‖. A descrição da comunidade apresenta o seguinte texto:
Em 2018 Felippe foi candidato a vereador na cidade do Rio de Janeiro pelo Partido
Socialista Cristão, tendo recebido 441 votos, não obtendo a eleição. Possui cadastro de
microempreendedor individual, com empresa sediada no bairro carioca de Vaz Lobo, tendo
como atividade principal o serviço de edição de livros. Foi tentado contato com o
administrador do perfil para obtenção de dados específicos sobre o número de seguidores,
mas sem sucesso.
Gráfico 2
Período Postagens
De 15/03 a 14/05/2018 25 publicações,
De 15/05 a 14/07/2018 12 publicações
De 15/07 a 14/09/2018 14 publicações,
De 15/09 a 14/11/2018 21 publicações
De 15/11 a 14/01/2019 16 publicações
De 15/01 a 14/03/2019 26 publicações
De 15/03 a 14/05/2019 12 publicações
De 15/05 a 14/07/2019 12 publicações
De 15/07 a 14/09/2019 9 publicações
De 15/09 a 14/11/2019 21 publicações
De 15/11 a 14/01/2020 29 publicações
De 15/01 a 14/03/2020 50 publicações
De 15/03 a 14/05/2020 52 publicações
De 15/05 a 14/07/2020 54 publicações
De 15/07 a 14/09/2020 52 publicações
De 15/09 a 14/11/2020 38 publicações,
De 15/11 a 14/01/2021 39 publicações
De 15/01 a 14/03/2021 54 publicações
De 15/03 a 14/05/2021 47 publicações
De 15/05 a 14/07/2021 48 publicações
De 15/07 a 14/09/2021 55 publicações
De 15/09 a 14/11/2021 42 publicações
De 15/11 a 14/01/2022 23 publicações
De 15/01 a 14/03/2022 31 publicações
De 15/03 a 14/05/2022 52 publicações
De 15/05 a 14/07/2022 45 publicações
De 15/07 a 14/09/2022 35 publicações
De 15/09 a 21/10/2022 5 publicações
Tabela 3
Título do Eixo
0
2
4
6
8
10
12
14
16
15/03 a 14/05/2018
15/05 a 14/07/2018
15/07 a 14/09/2018
15/09 a 14/11/2018
15/11/2018 a 14/01/2019
15/01 a 14/03/2019
15/03 a 14/05/2019
15/05 a 14/07/2019
15/07 a 14/09/2019
Gráfico 3
15/09 a 14/11/2019
15/11/2019 a 14/01/2020
15/01 a 14/03/2020
15/03 a 14/05/2020
15/05 a 14/07/2020
Ocorrência de Temas
Família
Religião
Feminino
Casamento
Paternidade
Bravura Masculina
69
Comportamento Feminino
Comportamento Masculino
Comportamento Masculino e
70
Ocorrência de temas
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Gráfico 4
71
Gráfico 5
Gráfico 6
divisão dos papéis de gênero obedece a um padrão civilizatório necessário para a garantia da
paz e da ordem social – definição que também se encaixa no conceito de ―masculinismo‖.
Cumpre destacar a filiação ideológica ao movimento conservador brasileiro, observável no
discurso dos principais influenciadores do campo, em sua maior parte afiliados ao trabalho do
médico psiquiatra Ítalo Marsili28, ex-aluno do recém-falecido místico, influenciador e
ideólogo de extrema direita, Olavo de Carvalho e do professor e psicólogo canadense Jordan
Peterson29.
Nunca, como ao longo das últimas décadas, o esquerdismo esteve tão fraco
intelectualmente: um ataque maciço a esse flanco teria quebrado a máquina de
doutrinação esquerdista nas universidades e na mídia, destruindo no berço a militância
em formação e mudando o curso das eleições subseqüentes. Mil vezes tentei mostrar
isso aos liberais, mas eles só davam ouvidos a quem falasse em PNB e investimentos.
Trancaram-se na sua torre-de-marfim economicista e lá se encontram até hoje,
perdendo mais terreno para os esquerdistas a cada dia que passa e conformando-se
com sua condição de forças auxiliares, destinadas fatalmente a tornar-se cada vez mais
desnecessárias à medida que a esquerda não-petista acumule vitórias contra o partido
governante. (CARVALHO, O. Online, 2008).
28
Médico carioca formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atua e ex- psiquiatra forense
canônico no Tribunal Eclesiástico de São Sebastião no Rio de Janeiro. Possui 1,6 milhões de seguidores no
Instagram.
29
Personalidade da mídia canadense , psicólogo clínico , autor e professor emérito da Universidade de
Toronto . Começou a receber ampla atenção como um intelectual público no final dos anos 2010 por suas
opiniões sobre questões culturais e políticas, muitas vezes descritas como conservadoras . Peterson se descreveu
como um liberal britânico clássico e um tradicionalista .
73
Figura4
Como também ocorreu nos perfis da esfera progressista, a conta ―Fúria e Tradição‖
assumiu uma posição política clara durante a campanha presidencial de 2022. Mas se entre os
perfis progressistas a ênfase era em apresentar um manifesto contrário à agenda neofacista do
candidato Jair Bolsonaro, a conta Fúria e Tradição posicionava-se de forma abertamente
favorável ao candidato à reeleição. Cabe apontar que no período eleitoral, o Tribunal Superior
Eleitoral suspendeu diversas contas de perfis de redes sociais que atuavam deliberadamente
como vetores de discurso de ódio e desinformação e em 26 de outubro de 2022, utilizando a
conta reserva do pefil intitulada ―Fúria e Tradição 2.0‖, seu proprietário, Felippe Chaves,
alegou estar entre os influenciadores que foram alvo da decisão – porém a citação nominal
não foi localizada em nenhum despacho oficial. Em doze de novembro de 2022 o perfil
principal foi reativado. A narrativa de restrição autoritária ao direito de liberdade de expressão
foi bastante utilizada durante o período da campanha presidencial por diversos perfis e
influenciadores, amplificando assim a repercussão da narrativa sobre perseguição e censura
jurídica, estratégia largamente utilizada pelos estratos bolsonaristas.
74
Figura 5
Figura 6
desejabilidade aqueles que talvez estejam mais expostos a uma crise e propensos a aderir à
arquetipia viril de Peaky Blinders. O apelo à iconografia masculinista de virilidade seria uma
espécie de sintoma do rebaixamento masculino face ao progresso social.
Figura 7
1) Culto da tradição:
Figuras 8 e 9
30
Em seu ensaio de 1995 "Ur-Fascismo", o teórico cultural Umberto Eco lista quatorze propriedades
gerais da ideologia fascista. Ele argumenta que não é possível organizá-los em um sistema coerente, mas que
"basta que um deles esteja presente para permitir que o fascismo coagule ao seu redor".
76
2) Repulsa ao modernismo:
Figura 10
Figura 11
77
Quando andei nos corredores da UFF, UERJ e UFRJ aqui no Rio, era
deprimente ver no que os jovens rapazes estavam se tornando: parece que estão se
desfazendo fisicamente, ansiosos a se submeter ao coletivismo cego que fazem o
sistema funcionar em favor dos líderes dos movimentos. E a masculinidade é uma
ameaça a essa nova configuração do "homem moderno", e por isso tantos tentam
destruí-la da forma que for, pois ela em seu cerne não busca apenas força, conflito e
conquista, ela busca um senso de valor. Neste sentido, a força é a coisa menos
igualitária que existe, pois você não pode apenas chorar e dizer que merece ter: ou
você é forte ou não é. E para ser precisa de esforço. E por isso quem tenta se manter
fora desse sistema atrai o ódio dos defensores do próprio sistema. Ser forte é uma
declaração pública de que você não é mais um escravo‖ (FÚRIA E TRADIÇÃO,
online, 2019).
5) O racismo na essência:
Figura 12
78
Figura 13
Figura 14
79
Figura 15
Figura 16
80
Figura 17
Tal como acontece com a maioria dos movimentos masculinistas, o perfil ―Fúria e
Tradição‖ tem principalmente membros brancos e de classe média. Há um evidente
alinhamento da orientação deste perfil com o movimento político radical conhecido como
―Alt-Right‖ nos Estados Unidos, que cevou a ascensão política de Donald Trump.
Ao contrário dos movimentos de direita radical anteriores, o Alt-Right opera de forma nativa
dentro do meio político da modernidade tardia – o ciberespaço – porque surgiu dentro desse
meio e foi continuamente moldado por seu desenvolvimento. A Alt-Right americana
apresenta um programa teórico e discursivo centrado na apropriação e adaptação do
pensamento de direita europeu – especialmente o da Nova Direita Francesa, a Revolução
Conservadora Alemã e o Tradicionalismo de Julius Evola (também referência fundamental no
pensamento de Olavo de Carvalho) e também uma política de gênero refinada e intensificada,
uma forma de ―ultramasculinismo‖. Griffin (2003), nos alerta para a expansão de
agrupamentos denominados ―grupúsculos rizomáticos‖, historicamente ignorados ou
negligenciados pelos radares das bolhas progressistas mas responsáveis pela disseminação do
pensamento neofacista de forma vertiginosa. No Instagram, grupos como este funcionam
como ―satélites‖ de grupos maiores, servindo como catalizadores de engajamento e/ou
correias de transmissão da ideologia neofascista dos grupos masculinistas.
Outro aspecto que deve ser salientado é o uso recorrente de citações de estudos
publicados em revistas internacionais, buscando respaldar o viés de suas interpretações
81
Figura 18
31
Serviço de redirecionamento para outras redes sociais e páginas profissionais relacionadas a projetos
e trabalhos associados ao proprietário do perfil principal.
32
O Clubhouse está disponível somente para convidados e para o sistema operacional IOS. Cada novo
usuário tem direito apenas a dois convites. Diferente da maioria das redes sociais, o Clubhouse não foca em
rotinas, pessoas ou narrativas individuais, mas no interesse por temas, trocas e aprendizados. Assim que baixar o
aplicativo, existe a opção de listar suas preferências por assuntos e os algoritmos personalizam sua experiência
com base nas respostas e em quem você deseja seguir. A partir daí dá-se o acesso a salas de bate-papo
com palestras e painéis de discussão sobre música, negócios, entretenimento, cultura e outros diversos temas. O
usuário pode participar das salas por quanto tempo quiser, como ouvinte ou orador. Também é possível ser
moderador e criar sua própria sala, personalizando os assuntos que deseja discutir. Um alerta importante é que as
conversas não podem ser salvas, nem gravadas, segundo os termos de uso do aplicativo.
Fonte: https://www.printi.com.br/blog/o-que-voce-precisa-saber-sobre-clubhouse-a-rede-social-do-
momento?gclid=CjwKCAjw79iaBhAJEiwAPYwoCGVgLx9C22CDfFlt5g-
2PfeNcSvQKA3YqJbRX021dWakGeZ9HV_VFxoCiPEQAvD_BwE, acesso em 24/10/2022.
33
Semelhante aos antigos blogs, o Medium é uma plataforma voltada para a publicação de textos
longos.
83
Gráfico 7
84
Período Postagens
De 28/05 a 27/07/2021 15 publicações
De 28/09 a 27/11/2021 18 publicações
De 28/11 a 27/01/2022 18 publicações
De 28/01 a 27/03/2022 9 publicações
De 28/03 a 27/05/2022 12 publicações
De 28/05 a 27/07/2022 13 publicações
De 28/07 a 27/09/2022 9 publicações
De 28/09 a 20/10/2022 2 publicações
De 28/09 a 27/11/2021 18 publicações
Tabela 5
Ocorrência de temas
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Gráfico 8
Gráfico 9
Figura 19
A partir desta postagem, João inicia uma série de publicações regulares utilizando-se
do recurso de ―cards‖ no formato carrossel acompanhados de textos curtos embutidos nas
imagens e com desenvolvimento mais longo na área de legendagem da publicação, sempre
introduzindo temas em voga no debate sobre gênero e racialidade com ênfase em
relacionamentos e masculinidade. As publicações de João passam a seguir trends, isto é,
tendências temáticas de circulação predominante no dito campo progressista, ou, em
linguagem mais específica, a dita ―bolha progressista‖ da Internet.
Figura 20
87
Entre 28/01 e 27/03/2021 ocorreram 18 publicações, das quais treze versavam sobre o
tema psicologia/auto-cuidado, oito sobre relacionamentos e seis sobre gênero/masculinidades.
catorze obtiveram mais de quatro mil curtidas, sete tiveram mais de dez mil e novamente uma
publicação superou as 40 mil curtidas.
Figura 21
É impossível identificar sem uma consulta direta ao autor qual a razão para a guinada
temática percebida a partir de maio de 2020. Empiricamente o que se observa é que foi a
partir desta guinada que seu perfil passou a gerar um expressivo nível de engajamento. Ou
seja, se não podemos auferir a intencionalidade desta guinada, é altamente provável que, ao
verificar a repercussão e o alcance das postagens dentro da temática de amor e gênero, o
influenciador tenha assumido uma estratégia de exploração de um segmento com elevada
demanda de consumo, especialmente por parte do público feminino.
Para efeito de fazer justiça ao objeto de análise, cumpre destacar que havia no modo
de apresentação dos conteúdos de perfil uma evidente inclinação à representação da categoria
―homem‖ de modo a negligenciar os gradientes que forçosamente separam sua forma ideal de
sua forma empírica. Isto é, o universal ―homem‖ era referido na maior parte das publicações a
partir dos efeitos concretos da masculinidade nas relações sociais – sobretudo amorosas, com
ênfase na perspectiva do sofrimento feminino. A natureza deste perfil era indiferenciada em
relação a diversos outros canais dedicados à exploração da temática amorosa34, mas a
percepção específica era a de que, ao dar-se conta da demanda do público feminino em obter
explicações razoáveis para os impasses e dilemas experienciados em suas vivências pessoais
34
Soltos S/A, Marcus Boaventura, Manuela Xavier, para citar apenas os perfis progressistas com maior
engajemento.
89
no campo amoroso, o influenciador tivesse decidido investir na produção de uma leitura que
atribui ao campo masculino uma deficiência atávica na sua conformação afetiva. Ou seja,
todas as disfuncionalidades percebidas no campo das relações de gênero teriam por origem
comum a atribuição de uma ―essencialidade defeituosa‖.
35
Respectivamente, 1) deixar a pessoa numa espécie de ―lista de espera‖; 2) manipulação emocional
que se destina a atrair o parceiro(a) de volta a uma dinâmica relacional abusiva; 3) técnica ―narcisista‖ de
sedução visando a conquista rápida por meio de demonstração excessivas de afeto; 4) manipulação que visa
90
Uma questão importante a ser apontada é que não havia a prática de apresentação de
evidências científicas ou menção a eventuais fontes de estudo e pesquisa, apesar do conteúdo
não clamar em nenhum momento uma condição de autoralidade primária. O procedimento era
ampliar a visibilidade de conceitos que já circulavam anteriormente pela grande rede e
apresentar-se como uma espécie de consultor para a temática dos relacionamentos amorosos,
sobretudo com a utilização do recurso ―caixa de perguntas‖, disponibilizado através da função
―stories‖ da rede social. É importante que em sua fase de maior projeção, João Marques
chegou a conceder entrevistas para o jornal ―CNN Brasil Tonight‖, do canal CNN; para o
programa ―Saia Justa‖ no canal GNT e para o site Universia, do portal UOL.
adiar ao máximo concretização do encontro romântico visando manter a disponibilidade do outro sem a
pretensão de levar à cabo a conseqüência da aproximação; 5) afastamento súbito e inexplicado, provocando
confusão afetiva e ausência de fechamento dos processos amorosos.
36
Respectivamente: 1) Pretensão masculina de primazia prática e teórica em relação aos testemunhos e
percepções acerca de vivências e opiniões enunciados por mulheres; 2) quando um homem manipula as situações
para a mulher acreditar que a realidade que ela está tendo contato não é real. A mulher se sente confusa, podendo
até mesmo duvidar do que está vendo, do que sabe e das suas próprias percepções; 3) fraternidade masculina
definida pela complacência mútua; 4) hábito de interromper sistematicamente as falas das mulheres; 5) Quando
um homem se ―espalha‖ corporalmente em diversos espaços (por exemplo: sentar de pernas abertas ocupando
duas cadeiras, podendo encostar na pessoa ao lado – geralmente mulher ou utilizar de um espaço que não é
destinado a ele). O manspreading acontece com maior frequência em transportes públicos; 6) quando um homem
se apropria de algum feitos, estudos, pesquisas, realizações, serviços ou produtos que uma mulher produziu.
O bropriating se dá principalmente em reuniões formais e/ou informais causando o silenciamento e apagamento
histórico das mulheres diante de suas próprias realizações.
37
Membro do Grupo Psicologia e Estudos de Gênero da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Psicologia (ANPEPP) Coordena o grupo de pesquisa "Saúde Mental e Gênero" (foco em
mulheres) no CNPq. Foi representante do Conselho Federal de Psicologia no Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher (SPM) e no GEA (Grupo de Estudos do Aborto) no periodo de 2014 a 2016. Membro do Grupo de
Estudos Feministas (GEFEM) e do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher) da UnB. Autora de
vários artigos e livros no campo da Saúde Mental, Gênero e Interseccionalidades com raça e etnia. A professora
desenvolve pesquisas sobre: a) Tecnologias de gênero (músicas, filmes, livros, etc.) e constituição subjetiva; b)
adoecimento psíquico e saúde mental de mulheres em sociedades sexistas como a brasileira, utilizando-se das
categorias analíticas do dispositivo amoroso e materno; c) masculinidades e dispositivo da eficácia (casa dos
homens e cumplicidades; imaginário erótico; e violências); d) Técnicas de intervenção em gênero; e) Violências
(explícitas e implícitas) contra as mulheres; f) Educação não sexista. Fonte:
http://lattes.cnpq.br/0163069128352529, acessado em 28/10/2022.
91
Figura 22
É curioso observar o reparo presente no segundo card dos stories acima, no qual o
influenciador altera o pronome todxs para ―todes‖, assumindo o uso de uma terminologia de
gênero neutra. A curiosidade advém do fato que desde a criação da conta, João jamais optou
por essa forma de linguagem, sobretudo por suas postagens terem sido sempre orientadas para
o debate em torno de relacionamentos amorosos heteronormativos, ou seja, segundo o
paradigma binário de gênero, sem qualquer referencial teórico aproximado à teoria queer39, o
que talvez denote alguma concessão pontual às pressões sofridas por ocasião do
38
https://revistamarieclaire.globo.com/Feminismo/noticia/2022/03/sexismo-e-apagamento-diz-valeska-
zanello-que-acusa-influencer-de-plagio.html , acessado em 28/10/2022.
39
Segundo Teresa de Lauretis , uma das principais teóricas da teoria queer, este agrupamento propõe
uma complementaridade necessária ao feminismo materialista: definir e construir uma alternativa credível ao
patriarcado heteronormativo e cisnormativo, nomeadamente um espaço conceitual e político para o gênero e
orientações sexuais descategorizadas, afetando o campo da linguagem em sua pretensão de neutralidade e
empreendendo uma disputa política visando a reterritorialização dos conceitos envolvendo a temática.
92
Figura 23
Algumas das frases que foram utilizadas sem o devido crédito em postagens nas redes
sociais fazem parte do livro que pesquisadora Valeska publicou em 2018, "Saúde Mental,
Gênero e Dispositivos", fruto de 20 anos de experiência clínica e 13 anos de pesquisas em
saúde mental, sob a perspectiva de gênero. Entre outros temas, o livro aborda o
funcionamento das relações afetivas e lança luz sobre o porquê, segundo sua investigação, das
mulheres tenderem a sofrer mais na esfera do amor do que os homens. Valeska é responsável
pela elaboração teórica do termo ―dispositivo amoroso‖, de origem no conceito foucaultiano
de dispositivo40, que configura uma certa forma de amar que vulnerabiliza as mulheres.
Segundo Valeska, elas se subjetivam na ―prateleira‖ do amor, na qual ―ser escolhida‖ e
validada por um homem torna-se uma legitimação fundamental. Isso porque o amor seria
identitário para as mulheres, de um modo que não se constitui para os homens.
40
Dispositivo é um termo usado pelo intelectual francês Michel Foucault, geralmente para se referir aos
vários mecanismos institucionais, físicos e administrativos e estruturas de conhecimento que potencializam e
mantêm o exercício do poder dentro do corpo social.
93
pesquisadora e influenciadora possui um total de 205 mil seguidores – não muito acima do
número total de seguidores do autor dos plágios. Após o episódio, houve um hiato de 47 dias
desde a última postagem de João, que retornou a movimentar a conta apenas em 18 de abril de
2022. Nesta postagem intitulada ―Não existem Alecrins Dourados – todos somos um
amontoado de erros, e nas relações não seria diferente‖, uma espécie de autocrítica velada,
João retoma questões relacionadas à masculinidade negra, citando um diálogo recente com
seu pai.
Figura 24
À propósito, dos poucos influenciadores que saíram em seu socorro, estes eram
também homens negros, como o perfil @nagodengo, pertencente ao influenciador Omoloji
Àgbára Dúdú, com 71.600 seguidores em 28/10/2022, que publicou o seguinte texto no dia
19/03/2022, intitulada ―A culpa é do homem negro‖:
Todo mundo quer responsabilizar. Mas quem quer ser o/a responsável?
Responsável na compreensão de que os fenômenos são complexos e que a abordagem
simplista de algum conteúdo pode ser mais problemática do que eficaz na proposição
de práticas de melhorias a qualidade de vida da comunidade negra. Uma irmã negra
me disse em tom de deboche: ―você ama defender homens (negros)‖. Respondi:
defendo porque somos previamente condenados por toda estrutura social. A militância
negra de internet com ênfase em gênero tem fetiche em culpar homens negros.
gênero e raça, mas a característica mais notável, 86 postagens após o cancelamento, é que
houve um ajustamento do tom empregado na crítica ao masculino que antes notabilizava o
perfil. O ―affair‖ João Marques é fundamental para nossa discussão não apenas pelas questões
interseccionais evocadas por ele mesmo, mas, sobretudo porque destaca a discussão acerca da
visibilidade do trabalho intelectual feminino. Foi necessário que um homem, se apropriando
das falas e do trabalho de uma mulher, sensibilizasse um contingente significativo de
seguidores – em sua maioria outras mulheres para pautas que diziam respeito à própria
condição feminina. A perplexidade é agravada pelo fato destas falas e o conteúdo deste
trabalho serem fundamentalmente críticos às práticas que o influenciador condenava
publicamente e na qual acabou por incorrer, um caso emblemático não apenas de plágio, mas
de ―bropriating‖. E foi através deste grave incidente ético que só então a voz da mulher autora
pode ter finalmente o reconhecimento justo. Da noite pro dia, João foi deslocado da posição
de reserva moral de lucidez e modelo positivo de masculinidade, para o mais pedagógico e
concreto exemplo de desrespeito ao trabalho das mulheres. Para o campo progressista, um
impasse interseccional, posto que o homem em questão tratava-se de um homem negro,
acrescentando camadas de complexidade que envolvem aspectos raciais, de classe e de
gênero. João encarnou em seu perfil o dualismo corpóreo/incorpóreo de Haraway: um homem
que se anunciava enquanto homem não hegemônico e que portava mensagens de uma mulher,
não assumindo diretamente sua apropriação. O perfil de João Luiz Marques e seu caso
emblemático apontam não apenas para o ciborgue e para a interseccionalidade, mas para
aquilo que pensadores como Rafael Haddock-Lobo, Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, ao
buscarem uma forma originalmente brasileira de ser e pensar n(o) mundo, denominaram
―Filosofia das Encruzilhadas‖.
Figura 25
Fabio possui ainda um perfil no portal ―Eu Sem Fronteiras‖, voltado para divulgação
de trabalhos de natureza holística, integrativa e/ou espiritual, o que também se convenciona
chamar de ―práticas de medicina alternativa‖. O perfil de Fabio é descrito da seguinte
maneira:
Fabio Manzoli cria seu caminho como terapeuta enquanto percorre sua
jornada como buscador de si mesmo. Formado em administração de empresas pela
FGV, depois de 12 anos trabalhando no mundo corporativo, Fábio passou por diversos
trabalhos internos que o fizeram encontrar uma vida com mais sentido, mais sentir,
mais consciência - que ressignificaram as sensações de inadequação, sua sexualidade,
o vazio existencial, as constantes crises de ansiedade, raiva e desequilíbrio emocional
que regiam suas relações. Um terapeuta que tem como sua maior medicina o
compartilhamento de sua própria história de desconstrução e reconstrução. Um
homem que carrega em si a sensibilidade na identificação de padrões
mentais/comportamentais e o potencial de abrir espaços sagrados de confiança,
irmandade, respeito e compartilhar genuíno entre homens. Um condutor que guia a
lugares internos de revelação; de suas sombras, vergonhas, culpa e rigidez- com a
96
Figuras 26, 27 e 28
41
―O MEMOH é um negócio social que oferece a homens a possibilidade de refletirem, em conjunto,
sobre seu comportamento por meio de Grupos Reflexivos, Produção de Conteúdo e Serviços de Consultoria
voltados para o ambiente corporativo‖. Fonte: https://memoh.com.br/, acesso em 03/11/2022.
97
Figuras 29, 30 e 31
Figuras de 32 e 33
Gráfico 10
Período Postagens
De 26/09 a 25/11/2020 5 publicações,
De 26/11/2020 a 25/01/2021 18 publicações.
De 26/01 a 25/03/2021 7 publicações
De 26/03e 25/05/2021 54 publicações
De 26/05 a 25/07/2021 43 publicações
98
Período Postagens
De 26/07 a 25/09/2021 15 publicações
De 26/09 a 25/11/2021 20 publicações
De 26/11/2021 a 25/01/2022 37 publicações
De 26/01 a 25/03/2022 21 publicações
De 26/03 a 25/05/2022 12 publicações
De 26/05 a 25/07/2022 19 publicações
De 26/07 a 25/09/2022 14 publicações
De 26/09 a 21/10/2022 3 publicações
Tabela 6
12
10
8
6
4
2
0
Divulgações Vulnerabilização
Sexualidade Crítica à Pornografia
Autocuidado Masculino Espiritualidade
Feminismo Masculinidade
Relacionamentos Homoafetividade e homossexualidade
Misoginia Paternidade
Pessoal/Privado Violência e/ ou abuso
Política
Gráfico 11
99
14
12
10
8
6
4
2
0
Gráfico 12
Sequência 1:
Figuras 34 e 35
Figuras 35 e 36
101
Figuras 37 e 38
Figuras 39 e 40
Figura 41
102
Sequência 2:
Figuras 41 e 42
Figuras 43 e 44
Figuras 45 e 46
103
Figuras 47 e 48
Figuras 49 e 50
Figura 51
104
segundo encontro conservou as mesmas características, mas teve como diferencial a presença
de mulheres, fator que concorreu para elevar ainda mais o processo de catarse emocional,
sobretudo em razão da intensidade das partilhas, catalisadas pelas identificações mútuas e
aberturas reconciliatórias.
Na ocasião, Fabio estava iniciando sua transição profissional, tendo deixado uma
promissora carreira no setor privado na área de administração de empresas. A condução de
suas vivências era sempre atravessada por relatos pessoais envolvendo aspectos negativos de
sua própria masculinidade e sobre sua jornada individual de transformação. Consumo de
pornografia, crises de ansiedade, descontrole emocional, objetificação sexual da mulher,
infidelidade e ressentimento de gênero eram os temas mais recorrentemente mencionados por
ele. Três anos depois destes encontros, quando seu perfil no Instagram é inaugurado, estes
persistem sendo os principais temas de suas publicações.
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema que nos moveu foi a emergência dos variados movimentos de homens que
possuem como objetivo a redefinição, reconstrução e/ou a, ―ressignificação‖ da
masculinidade‖, sem a apresentação prima facie, de uma unidade estrutural interna que
autorize auferir um sentido de unidade que escape à redução semântica que os termos
―redefinir‖, ―ressignificar‖, ―reconstruir‖ ensejam. Com essa investigação, pretendíamos à
princípio encontrar uma possível unidade intrínseca a estes movimentos, buscando localizar
sob uma perspectiva sociológica e filosófica, o ponto em que se situa o ―moto aglutinador‖, a
alavanca ontológica deste movimento: dentro do ―coração‖ dos homens, movendo-se a partir
de uma ―vontade de mudança‖ originada nas angústias enfrentadas face à uma conformação
de mundo que não mais atende aos padrões que correspondiam aos anseios e necessidades das
gerações que nos antecederam? Ou fora de si, como ressonância das pautas feministas
dirigidas especificamente ao modo de ser dos homens no mundo e seus papéis na sociedade,
fazendo do movimento para ―reconstrução, ressignificação, redefinição‖ das masculinidades
uma espécie de ―feminismo de segunda mão‖? Detectamos que as mutações recentes do
capitalismo via não apenas o movimento feminista mas também através de todos os
questionamentos aportados pelo que convencionou-se chamar de ―agenda identitária‖ passou
a representar uma forma de risco para a manutenção das hegemonias de raça, classe e gênero
historicamente constituídas. Como apontado na introdução do trabalho, a repercussão destas
mutações no que diz respeito ao estudo das masculinidades, operamos com um tripé de
fenômenos representativos deste processo: 1) O aparecimento de uma ―masculinidade
ameaçada‖; 2) o aparecimento de uma ―masculinidade envergonhada‖; e 3) um processo de
reidentitarização da masculinidade.
Nos objetivos específicos da pesquisa, nos propusemos a cumprir três tarefas: 1 ) criar
categorias de análise a partir de uma cartografia dos perfis; 2) mapear tendências de
discussão no campo; 3) formular um projeto de intervenção com vistas a ampliar o debate
público em torno da questão das masculinidades a partir de questionamentos não
contemplados no debate atualmente estabelecido. A primeira tarefa foi cumprida a partir da
categorização dos grupos observados, devidamente tabelados e conceitualmente justificados.
A segunda tarefa foi executada de maneira não exaustiva, posto que a heterogeneidade de
abordagens temáticas e manifestações de formas emergentes de masculinidade, sobretudo
calcadas na interseccionalidade e na fluidez representam um desafio metodológico cuja
107
Quanto à pergunta central desta pesquisa, se estamos nos deparando com um projeto
ativo de redefinição da masculinidade dos homens pelos homens ou se trata-se de um
movimento de adequação às demandas do feminismo na contemporaneidade, talvez a melhor
resposta seja optar por uma via não disjuntiva. O que não é preciso é a definição sobre o
agente causador – talvez mesmo, seja um problema não necessário ou um falso problema.
Como refletimos na justificativa, trata-se de um processo de natureza ético-política. Daí a
opção pela fenomenologia levinasiana em considerar que, em sendo seres-para-o-outro, tal
separação é ociosa, equivocada. A mesma perspectiva surge, em formulações não idênticas a
esta, na maioria dos estudos sobre gênero. Trata-se de um sistema, e, assim sendo, toda
tentativa de separação estanque na análise das transformações dos atores sociais nele
implicados são negações da complexidade. Daí que, ao buscar-se a possibilidade da afirmação
de um movimento masculino alavancado em uma ontologia da masculinidade como motor da
sua própria revisão e transformação, resultaria na negação da alteridade – o que incorre em
fascistização. Parafraseando Sartre em seu ―o existencialismo é um humanismo‖, o machismo
é um fascismo, posto que o segundo é a afirmação supremacista de toda e qualquer forma de
hegemonia – evidentemente, este processo existe e assim foi detectado na análise dos grupos
masculinistas, que consideram o princípio feminino um apêndice à ideia de superioridade
natural do ente masculino – mesmo que de maneira dissimulada. O que notamos portanto foi a
assunção de uma retórica de ―guerra cultural‖ entre conservadores e progressistas que parece
ditar os rumos do debate político atual no Brasil e no mundo, processo alçado a uma condição
exponencial graças ao advento das redes sociais.
fala que se dirige a uma autoridade imaginária, conferida pelo devir-minoritário. E dessa falha
se nutre o pensamento totalizante: ele afirma o poder de uma idealização identitário-unitária.
É a hora de resgatar ―o homem‖ tradicional, o não afetado pela culpa, pelo embaraço, isento
da necessidade de admoestação, escrutínio e penitência frente a um tribunal ético
autolegitimado que avalia os pequenos e grandes delitos e impropriedades do masculino.
teoria psicanalítica do inconsciente). A onda tradicionalista pode ser percebida então como
uma onda contramoral e dessa onda emergem grupos como os incels e os MGTOW,
caracterizados pela rejeição ao feminino e pela demarcação rígida das fronteiras de gênero. O
que resta como liame entre os segmentos antagônicos do debate sobre masculinidades é que,
de algum modo, tanto os movimentos de masculinidade generorreformistas quanto os de
resgate tradicionalista do ideal viril e os de radicalização misógina são todos costelas de Eva.
Os levantes minoritários, contrahegemônicos, são, como apontam as filosofias da contradição,
o motor da História. Tal constatação aponta para um dado incontornável: o antigo sujeito
universal, a ―ratio‖ iluminista, masculina, branca, ocidental, cisgênero, patriarcal e
monogâmica, foi despojado de suas vestes e por ora ainda não sabe como cobrir suas
vergonhas. Quem sabe o passo que falta nos seja aprender a deixar de cobri-las, como sempre
fizeram aqueles a quem chamamos ―índios‖.
110
REFERÊNCIAS
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State: australian feminist interventions. London/New York, Verson, 1990.
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ticket distribution channels for live music events : a netnographic exploration of the US leg of
the Depeche Mode 2005–2006 World Tour. Managing Leisure. 2007
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tricks : retro branding and the revival of brand meaning. Journal of Marketing. 2003.
KIMMEL, M. Manhood in America: a cultural history. New York: The Free Press,
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WOOD, J.T.. Monsters and victims: male felon‟s accounts of intimate partner
violence. Journal of Social and Personal Relationships, 2004.
ZUCKERBERG, D. Not All Dead White Men: Classics and Misogyny in the Digital
Age. Cambridge: Harvard University Press, 2018.
117
ANEXO I
―Projeto Libertas‖, submetido ao edital PDPI em parceria da UFF com a prefeitura de
Niterói no ano de 2020.
Resumo
Introdução
A violência contra mulheres vem sendo tratada como uma questão de saúde há cerca
de duas décadas. É um fenômeno social que, por muito tempo, permaneceu relativamente
oculto (Saffioti, 2015). Para sua prevenção, a organização Mundial da Saúde tem incentivado
o trabalho junto a homens. Diversas publicações internacionais de impacto no campo da saúde
trataram desse tipo de intervenção, mais recentemente em busca de uma compreensão
renovada da sua lógica. Incentivam e problematizam a participação dos homens em
118
Para o sociólogo Francis Dupuis-Déri (2010) não é novidade que as mulheres são
acusadas de ―reivindicar demais‖, que lhes dizem que já têm direitos suficientes, que a
igualdade de fato é alcançada e que a luta feminista é de fato um pretexto para alcançar a
supremacia das mulheres. Também não é novidade que tentamos reafirmar a identidade
feminina de acordo com tipos de comportamentos e princípios de valores como gentileza,
tolerância, dedicação, compaixão e, acima de tudo, dependência em relação aos homens.
Quando mulheres ou grupos de mulheres se recusam a obedecer aos padrões de vida
impostos, também ouvimos a reação dos homens que dizem estar ―sofrendo‖ em relação à sua
identidade como homens e, de fato, sua razão de ser. Isso é chamado de ―crise da
masculinidade‖, ou melhor, ―discurso de crise‖. Dupuis-Déri afirma que não é por ser um
simples discurso de crise que não afeta o real. De fato, o discurso da crise tem sido
frequentemente usado por especialistas em comunicação – portadores de ideologias – para
mobilizar as pessoas em seu proveito. Desta forma, problemas sociais sérios podem receber
menos importância diante de falsos problemas ou problemas menores. Essa manobra política
para apelar à ―crise‖ e incentivar intervenções nesse sentido atende a interesses específicos
daqueles que propagam esse senso de urgência. Declarar uma crise pode servir como um
poderoso agente mobilizador para as autoridades políticas e sociais desenvolverem uma série
de recursos, grupos, projetos de pesquisa e posições em favor dos homens.
Relevância da Proposta
(...) a violência de gênero é uma violência simbólica que atinge qualquer pessoa que
(...) seja vista como inferior, desigual, desqualificada, excluída, objetificada ou desumanizada
por não seguir os scripts culturais de gênero em que foi socializada. Como qualquer violência
simbólica, a violência de gênero dá base e legitima outras violências, por isso proponho
também que qualquer violência física ou econômica, bem como psicológica ou sexual que se
dê por causa das relações desiguais de gênero seja também denominada violência de gênero.
parceira sexual mãe, esposa, mas também no mercado do trabalho formal. São as implicações
subjetivas deste trabalho de cuidado que não são acessíveis à consciência dos homens,
configurando o que Tronto (2012) chama de ―indiferença dos privilegiados‖. Mais do que dar
voz aos ―excluídos‖, é necessário convidar os que estão no centro e insensíveis aos próprios
privilégios a refletirem sobre a questão, fazendo visíveis os danos naturalizados pela cultura
na reprodução destes padrões
qualquer agenda favorável à equidade de gênero que se pretenda eficiente – isto se aplica às
agendas feminista e pelos direitos LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais,
Travestis, Transgêneros, Queers, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais). Mais que reivindicar a
força destes segmentos, se quisermos caminhar na necessária promoção da equidade de
gênero e na diminuição da violência concreta e simbólica que cinde as relações sociais como
um todo, é fundamental concentrar esforços no sentido de compreender e transformar os
processos que sustentam a repulsa à vulnerabilidade como grande sintoma de adoecimento do
psiquismo masculino e, por consequência, como fator de desestruturação de suas relações
sociais.
O prazo para aplicação, análise e definição de estratégias será de 30 dias. Esta escolha
será realizada em conjunto com a Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia do município
de Niterói, que também estará encarregada da divulgação junto às coordenadorias regionais
com a finalidade de promover a indicação de um professor representante por escola, a quem
caberá, caso haja adesão à proposta em questão, a responsabilidade pela implantação local do
projeto e pela interlocução com a equipe de supervisão. Esta fase inicial não deverá extrapolar
em 30 dias do início do projeto. Uma vez indicados estes profissionais, a coordenação do
projeto deverá iniciar as atividades de formação no prazo máximo de 15 dias. A formação
acontecerá no formato de curso de extensão e é aberta a todos os professores das escolas
participantes. Caberá ao professor representante articular as estratégias para a implantação do
projeto em sua unidade escolar juntamente com os profissionais envolvidos (professores de
outras disciplinas e equipe pedagógica). Para tal, ele contará com o suporte da equipe de
supervisão responsável pela sua regional.
avaliação deverão ocorrer na Escola de Serviço Social da UFF, com periodicidade bimestral.
A equipe responsável será formada por um representante de cada escola municipal, três
estagiários da UFF em composição multidisciplinar, envolvendo alunos de graduação de
Psicologia, Pedagogia e Serviço Social e um professor responsável para cada uma das áreas
de competência deste projeto, cumprindo a tarefa de supervisão – que poderá valer como
campo de estágio curricular. Cabe ressaltar que serão seis estagiários ao todo, cobrindo um
total de doze escolas, de modo que as equipes serão dividas em sistema de rodízio para
garantir a cobertura adequada de todas as unidades. A equipe completa do projeto ainda
contará com um bolsista de pós-doutorado, cujo estágio deverá consistir na sistematização dos
resultados do projeto e em sua análise teórica aprofundada; dois técnicos especializados,
responsáveis pelo suporte administrativo; e um mestrando, responsável pelo suporte à
pesquisa.
Objetivos e Escopo
intergênero; 6) incentivar a construção de uma cultura de paz com base na comunicação não
violenta; 7) estimular a promoção de sociabilidades saudáveis; 8) incentivar a construção de
projetos integrados de vida, nas dimensões emocional, profissional e familiar; 9) desenvolver
o senso de coletividade e engajamento ético-político; 10) auxiliar na ampliação da massa
crítica em torno do tema central com desdobramentos no âmbito das comunidades.
Metas
Este projeto se alicerça em um plano simplificado de metas composto por onze itens:
2 – Atingir pelo menos 80% do corpo docente das escolas envolvidas e 70% do
alunado.
7 – Atingir pelo menos 70% dos alunos dos 8º e 9º anos do ensino fundamental e 80%
das escolas durante o projeto.
Metodologia
10 – Ressentimento e sexualidade
Cronograma simplificado:
Primeiro mês
Segundo mês
134
(primeira quinzena):
(Segunda quinzena)
Quarto mês
Sexto mês
Oitavo mês
Décimo mês
- Seminário (UFF).
Resultados