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ILAESE

Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos www.ilaese.org.br

Nº 04 - NOVEMBRO DE 2023

NOTA TÉCNICA

Impactos do Calor na Saúde e na Segurança


das Trabalhadoras e dos Trabalhadores:
A Atuação das CIPA’S

por Ana Paula Santana e Jackeline Xavier

O modo de produção capitalista em sua sanha por lucros


degradou o ambiente provocando o aquecimento global e a
destruição dos ecossistemas. Os trabalhadores e trabalhadoras são
os mais afetados, já que para vender sua força de trabalho precisam
se expor ao sol ou a ambientes de trabalho prejudiciais à saúde.

Abordaremos nesta nota os impactos e consequências do


Calor Extremo na saúde e na segurança dos (as) trabalhadores (as),
considerando a necessidade de ações coletivas e urgentes dentro
dos locais de trabalho para melhoria das condições e diminuição dos
riscos em momentos de ondas de calor.

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2 NOTA TÉCNICA Nº 04 - NOVEMBRO DE 2023

Em várias partes do mundo estão sendo registradas grandes ondas de calor e temperaturas
recordes, além de tempestades, ciclones e outros eventos climáticos extremos. O aumento da
temperatura média global tem relação direta com as emergências climáticas causadas pelas
atividades econômicas humanas. O modo de produção capitalista, que em sua sanha por lucros
degrada o ambiente, provocou o aquecimento global e a destruição dos ecossistemas.

Fenômenos naturais como o El Niño (alterações na temperatura da superfície do Oceano


Pacífico), que ocorre há milhares de anos, têm se tornado cada vez mais intensos e frequentes em
função do aquecimento do clima, ocasionado pelo consumo de combustíveis fósseis. As falências dos
acordos climáticos mostram que o sistema não pode resolver a crise que provocou e sequer poderá
garantir alguma transição energética para evitar as catástrofes que vêm ocorrendo.

Em julho/2023 o planeta registrou o dia mais quente da história. Em novembro/2023 vimos as


temperaturas no Brasil chegarem a mais de 44°C, registrando a mais alta temperatura no histórico de
medições do país, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O calor extremo é um dos eventos meteorológicos mais mortais. Em 2022, a Europa registrou
mais de 60 mil mortes por calor. Nos anos de 2022 e 2023, o Brasil tem acumulado óbitos em função
de eventos climáticos extremos. Os efeitos vêm sendo sentido por todos, porém certamente as
trabalhadoras e trabalhadores são os mais afetados, já que para vender sua força de trabalho
precisam se expor ao sol ou a ambientes de trabalho prejudiciais à saúde.

Diante disto, é certo que mudanças devem ser feitas nos locais de trabalho para garantir a
segurança e amenizar o mal-estar e sofrimento dos trabalhadores pelo calor extremo. Abordaremos a
seguir os impactos e consequências do Calor Extremo na saúde e na segurança das trabalhadoras e
dos trabalhadores.

As CIPA’s são instrumentos fundamentais na


fiscalização e exigências dentro das empresas
para melhoria das condições, promovendo
ações para minimizar os riscos em momentos
de ondas de calor.

IMPACTOS DO CALOR NA SAÚDE E NA SEGURANÇA DAS


TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES: A ATUAÇÃO DAS CIPA’S
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Legislação de Saúde e Segurança diante das Ondas de Calor

Normas Regulamentadoras: A NR 15 é a norma regulamentadora que trata das atividades e


operações insalubres. O Anexo III da norma trata da Exposição ao Calor e estabelece limites de
tolerância para a exposição das trabalhadoras e dos trabalhadores a altas temperaturas. A
metodologia e procedimentos das medições desse agente estão descritos na Norma de Higiene
Ocupacional – NHO 06 da FUNDACENTRO. Além disso a NR 9 que trata da Avaliação e Controle das
Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos, também aborda o assunto.

Medição do Calor nos Ambientes Internos e Externos

Como é Realizada a Medição? - O IBUTG (Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo) é


utilizado para medir a exposição ao calor. O IBUTG é como um detetive do calor. Ele mensura a
temperatura real sentida durante o trabalho, não se limitando apenas a olhar para o termômetro e
dizer “Ah, tá quente!”. Não, não! Ele considera todas as circunstâncias.

Bulbo Úmido: O termômetro da umidade. Se está


úmido, o calor “gruda” na trabalhadora e no
trabalhador: - lembra aquele dia que a gente fica
pregando?!;

Termômetro de Globo: É o termômetro que indica o


calor do ambiente. Considera o desconforto trazido
pelo sol. O calor incrustrado nas paredes junta com o
calor do chão e diz: “Ei, galera, tá fervendo aqui!”.

Cálculos Sincronizados: O IBUTG faz uma dança matemática e, por fim, te dá um número
que representa o calor que analisa mais condições do que o termômetro em “CELSIUS”. Os limites
variam conforme a área de descanso e a classificação da atividade.
Vejamos as Classificações:

“Leve”: Tipo um abraço entre duas pessoas usando um


moletom;
“Moderado”: Como se você fosse a fumacinha do
pãozinho;
“Pesado”: Imagine uma sauna, porém sem uma bebida
para refrescar.

Esses níveis são calculados de acordo com o ambiente, que podem ser internos ou externos
sem carga solar; ou ambientes externos, porém com carga solar. Infelizmente, o conforto térmico
normativo é subjetivo, porém a sobrecarga térmica pode ser calculada tecnicamente.

IMPACTOS DO CALOR NA SAÚDE E NA SEGURANÇA DAS


TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES: A ATUAÇÃO DAS CIPA’S
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Riscos para a Saúde e Segurança

Riscos para a Saúde – exposição prolongada ao calor


elevado pode resultar em exaustão, insolação, desidratação,
câimbras musculares, e até mesmo golpes de calor,
representando sérios riscos à saúde das trabalhadoras e dos
trabalhadores;

Avaliação dos Riscos – a empresa tem o dever de realizar


avaliações periódicas para identificar as áreas críticas e
providenciar nessas localidades o controle ambiental. Altas
temperaturas têm mostrado reduzir a capacidade de
concentração e aumentar o cansaço, impactando diretamente
na qualidade do trabalho realizado, bem como no aumento da
probabilidade de ocorrência de acidentes.

Controle Ambiental – A empresa possui a obrigação de zelar


pela saúde e segurança das trabalhadoras e dos
trabalhadores, devendo agir com responsabilidade,
implementando sistemas de exaustão eficazes, promovendo o
acesso a áreas de aclimatação periódica, fornecendo água
gelada e bebidas isotônicas para reposição dos sais minerais,
oferecendo treinamentos sobre os riscos do calor e
fornecimento de EPIs adequados e de acordo com a
necessidade específica da atividade a ser realizada.

A Atuação das CIPA’s diante do Calor Extremo

A adoção de medidas preventivas é essencial para garantir um ambiente de trabalho


seguro e saudável, especialmente em condições térmicas desfavoráveis. A participação ativa da
CIPA e o engajamento das trabalhadoras e dos trabalhadores são fundamentais para o sucesso
na implementação dessas ações.
Temos acompanhado várias ações que resultaram em melhores condições de trabalho.
A seguir listamos possibilidades que podem ser implementadas como mudanças na rotina
do trabalho nos ambientes externos e internos. Cabe às CIPA’s e aos dirigentes locais lutarem
para que as mudanças sejam implementadas, já que outras ondas de calor certamente virão.

IMPACTOS DO CALOR NA SAÚDE E NA SEGURANÇA DAS


TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES: A ATUAÇÃO DAS CIPA’S
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Ambiente Externo
Ao trabalho em ambientes externos em dias de calor extremo recomenda-se a pegada matutina
que consiste em trabalhar apenas do período das 7:00 às 13:00 horas;
Em algumas situações o trabalho externo deve ser suspenso e as CIPA’s junto dos trabalhadores
tem as condições para analisar e reivindicar tal suspensão;
Proteção solar garantida pelo empregador para todos;
As vestimentas devem ser leves em todas as funções que forem possíveis;
Suspensão de EPIs que são desnecessários às atividades e pioram a sobrecarga de calor;
Realizar revezamentos entre os trabalhadores a cada 30 minutos, obedecendo a proteção
solar e os limites de tolerância. A cada 30 minutos um trabalhador assume o posto, enquanto o
outro descansa;
O descanso e a recuperação devem ser realizados em uma área fresca, de preferência
climatizada, para recuperação corporal;
É recomendado a instalação de ambientes climatizados, preferencialmente em locais
arborizados, com fornecimento de água gelada e potável;
Fornecer alimentação diferenciada nos refeitórios, prezando por refeições leves com saladas e
legumes. Fornecer frutas ao longo da jornada de trabalho.
Além destes ambientes instalados nas áreas das Empresas, os Estados e Municípios devem criar
locais climatizados e com água fresca disponível para aqueles que laboram em ambientes
externos se recuperarem fisicamente.

Ambiente Interno
Garantia de água potável e gelada disponibilizada fartamente em vários pontos da Empresa;
Garantia de ambiente frescos, ventilados e climatizados;
Interrupção das jornadas quando o ambiente for prejudicial à saúde;
Intervalos maiores para as refeições e pausas frequentes ao longo da jornada;
Redução da jornada de trabalho considerando que diante do calor o desgaste físico é aumentado;
Diminuição do ritmo de trabalho e revisão das metas. Diante do calor extremo e do cansaço físico
aumentado a produção não pode ser a mesma que em dia com temperatura dentro da
normalidade;
Áreas específicas para atendimento, aparelhos e profissionais capacitados para realização
de primeiros socorros, medição da pressão arterial e outras intervenções necessárias para
proteção da vida de quem passar mal no ambiente de trabalho.

Obviamente, outras ações podem ser realizadas para promover conforto e segurança. Àqueles
que estão nos locais de trabalho devem estar atentos às condições para reivindicar melhorias e
mobilizar o conjunto dos trabalhadores em defesa da saúde, segurança e vida daqueles que tudo
produzem.

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