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MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO
Monitor IBUTG
AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL AO CALOR
Elisa Kayo Shibuya • Irlon de Ângelo da Cunha
Fabiano Amorim • Daniel Pires Bitencourt
Paulo Alves Maia • Thais Maria Santiago Moraes Barros
Rodrigo Caoduro Roscani • Flavio Maldonado Bentes
Exposição ao calor em
trabalhos a céu aberto -
Guia de orientações gerais
São Paulo
MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO
2024
©2024 dos autores
Todos os direitos desta edição reservados à Fundacentro.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Não é permitida a venda e/ou a reprodução para fins comerciais.
Disponível em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br
Jwh – da
Presidência Trabalho a alta temperatura
República
Ah –Lula
Luiz Inácio Higiene ocupacional
da Silva
Ministério do Trabalho e Emprego
Luiz Marinho
Fundacentro
Presidência
Pedro Tourinho de Siqueira
Diretoria de Conhecimento e Tecnologia
Remígio Todeschini
Diretoria de Pesquisa Aplicada
Rogério Bezerra da Silva
Diretoria de Administração e Finanças
Karina Nunes Figueiredo
Produção editorial
Editora-chefe: Glaucia Fernandes
Preparação de originais: Tikinet Edição
Foto capa: tj_studio - Freepik
Projeto gráfico, diagramação, ilustrações e capa: Alecsander Coelho, Daniela Bissiguini, Érsio
Ribeiro, Rebeca Tonello e Paulo Ciola - Phábrica de Produções
Sumário
1. Introdução............................................................................................................................................. 7
2. Critério legal brasileiro ............................................................................................................... 9
3. Efeitos fisiológicos relacionados ao calor ..................................................................... 12
3.1 Distúrbios induzidos pelo calor ............................................................................................ 13
3.1.1 – Câimbras musculares ............................................................................................................13
3.1.2 – Síncope ou tontura ..................................................................................................................14
3.1.3 – Exaustão pelo calor .................................................................................................................14
3.1.4 – Choque hipertérmico (insolação) .................................................................................15
3.2 Situações especiais ...................................................................................................................... 15
4. Aclimatização .................................................................................................................................. 17
5. Avaliação e acompanhamento médico ............................................................................ 21
5.1 Monitoramento fisiológico ...................................................................................................... 22
6. Avaliação da exposição ocupacional ao calor ............................................................ 26
6.1 Variáveis envolvidas na avaliação da exposição .................................................... 26
6.1.1 O IBUTG...................................................................................................................................................27
6.1.2 Taxa Metabólica ............................................................................................................................27
6.1.3 Vestimentas........................................................................................................................................29
6.2 Limite de Exposição (LE)......................................................................................................... 30
7. Obtenção do IBUTG ....................................................................................................................... 31
7.1 Monitor IBUTG ..................................................................................................................................... 31
8. Medidas preventivas e corretivas relacionadas à exposição ao calor........ 33
9. Plano de emergência................................................................................................................... 36
10. Bibliografia...................................................................................................................................... 39
Anexo 1....................................................................................................................................................... 41
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
Lista de Siglas
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
1. Introdução
O
advento das mudanças climá- O impacto do calor sobre a saúde
ticas e as consequentes eleva- das pessoas tem sido cada vez mais
ções da temperatura média da evidente e, dependendo da especifici-
superfície terrestre têm impactado as dade da atividade laboral bem como do
atividades laborais no mundo todo. O ambiente de trabalho, o calor excessivo
Brasil, composto de áreas tropicais e torna-se determinante na ocorrência
subtropicais, apresenta situações cli- de alguns acidentes e doenças, que, em
máticas favoráveis para ocorrência de situações mais graves, pode até levar à
calor intenso, especialmente devido morte. Quanto mais alta a temperatura
aos elevados valores de temperatura, do corpo, maior é o estresse fisiológico
umidade e radiação solar, os quais, que, por sua vez, favorece a ocorrência
entre outros, são parâmetros impor- de acidentes e as chamadas doenças
tantes na quantificação da exposição do calor. Alguns sintomas relaciona-
ocupacional ao calor. Em quase todo dos à exposição ao calor são câimbras,
o território brasileiro, as observações tontura, exaustão e choque hipertér-
ambientais das últimas décadas têm mico ou insolação (ZANDER et al., 2015;
indicado aumento desse fator, com CHANG; BERNARD; LOGAN, 2017).
maior frequência e intensidade das
ondas de calor a partir dos anos 2000 As Normas Regulamentadoras (NR),
(BITENCOURT et al., 2016). Além disso, que em geral abordam aspectos de ati-
mesmo assumindo cenários climáticos vidades laborais específicas, buscam
otimistas para o futuro, com menores promover o trabalho seguro e saudá-
emissões dos gases de efeito estufa, vel. Considerando o risco da exposição
existem fortes indicativos de que as ocupacional ao agente físico calor, as
temperaturas continuarão subindo principais normas de referência publi-
até o final deste século, proporcionan- cados no Brasil são NR091 - Avaliação
do agravamento do estresse térmico e controle das exposições ocupacio-
para o trabalhador (BITENCOURT et nais a agentes físicos, químicos e bio-
al., 2020). lógicos, NR152 - Atividades e operações
1 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-9-nr-9
2 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-15-nr-15
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
O
empregador deve adotar me- da Consolidação das Leis do Trabalho
didas de prevenção, de modo (CLT), relativo à Segurança e Medicina
que a exposição ocupacional do Trabalho, que foi regulamenta-
ao calor não cause efeitos adversos ao da pelas NRs, com exceção da NR314,
trabalhador. Este capítulo visa apre- Segurança e Saúde no Trabalho na
sentar as principais exigências legais Agricultura, Pecuária Silvicultura,
para o desenvolvimento das ativida- Exploração Florestal e Aquicultura –
des realizadas sob calor a céu aberto. referente ao trabalho rural, confor-
A legislação é dinâmica e, portanto, o me dispõe a Lei Federal 5.889, de 08
leitor deve sempre se manter atualiza- de junho de 1973. Essa norma explicita
do, buscando, preferencialmente, o site que as demais NRs se aplicam ao meio
do Ministério do Trabalho e Emprego3. rural somente quando houver citação
Os aspectos técnicos para avaliação e expressa a elas, que é justamente o
controle da exposição são apresenta- caso da avaliação do agente físico ca-
dos nos demais capítulos deste guia. lor (NR31 – item 31.3.3.1).
A Constituição Federal de 1988, em Assim, a gestão dos riscos da ex-
seu artigo 7º, equiparou diversos di- posição ao calor, tanto no meio urba-
reitos dos trabalhadores rurais aos no quanto no rural, deve atender ao
urbanos, incluindo a redução dos ris- disposto no Anexo 3 da NR09, e estar
cos inerentes ao trabalho por meio de incorporada tanto ao Programa de
normas de saúde, higiene e segurança Gerenciamento de Riscos (PGR) na
(inciso XXII). No entanto, há legislações área urbana (NR015-Disposições ge-
específicas para as atividades no meio rais e gerenciamento de riscos ocu-
rural e para o meio urbano. pacionais) quanto ao Programa de
As atividades na área urbana de- Gerenciamento de Riscos no Trabalho
verão atender ao disposto na Lei Rural (PGRTR) (NR31 – item 31.3). Esse
Federal 6.514, de 22 de dezembro de anexo define as responsabilidades
1977, que altera o Capítulo V do Título II do empregador relativas às medidas
3 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/
4 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-31-nr-31
5 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/
comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/nr-1
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3. Efeitos fisiológicos
relacionados ao calor
O
corpo humano possui mecanis- central são uma associação dos parâ-
mos de termorregulação que metros ambientais (temperatura do ar,
mantêm a sua temperatura umidade relativa do ar, velocidade do
central em torno de 36,5°C. A razão e ar e calor radiante), com parâmetros
a quantidade de calor trocado entre o individuais, sendo os principais a ativi-
organismo e o ambiente são governa- dade metabólica, nível de aclimatização,
das pelas leis da termodinâmica, dessa vestimenta utilizada, além de outros fa-
forma, o equilíbrio térmico depende do tores, como nível de hidratação, uso de
calor metabólico produzido pelo corpo medicamentos, drogas e abuso de ál-
e do calor trocado com o ambiente. cool. Fatores como idade, sexo e hábitos
Durante a exposição a ambientes em alimentares também influenciam o con-
que ocorre sobrecarga fisiológica com trole da temperatura corporal, assim
a realização de atividades físicas, é ne- como episódios anteriores de choque
hipertérmico ou repetidos episódios
cessário o aumento da dissipação do
de exaustão térmica, doenças crônicas
calor corporal para o ambiente, com o
pré-existentes e obesidade. Episódios
intuito de preservar o funcionamento
de diarreia, náusea ou vômito nos dias
dos sistemas e evitar danos aos tecidos
que antecedem a exposição ao calor
corporais. Para isso, o organismo con-
também são fatores que podem alterar
ta com mecanismos fisiológicos tanto
as respostas termoregulatórias e o con-
comportamentais, diretamente rela-
trole da temperatura corporal. Além
cionados à sensação e ao conforto tér-
disso, o calor pode agravar condições
mico percebido pelo indivíduo, quanto
pré-existentes (ex.: doenças cardiovas-
autonômicos termoregulatórios, cons-
culares e renais, entre outras), levando
tituídos basicamente pela vasodilatação
a um aumento no número de hospitali-
periférica e pela secreção do suor.
zações e atendimentos médicos, espe-
Quando os mecanismos de termor- cialmente durante as ondas de calor.
regulação se tornam insuficientes para Dessa forma, as respostas fisiológicas
manutenção da temperatura central podem variar amplamente, mesmo
em limites seguros, começam a ocor- entre indivíduos expostos a condições
rer os problemas relacionados ao calor. similares de trabalho e, portanto, não
As condições que provocam aumento há um limite seguro que proteja todos
excessivo da temperatura corporal os trabalhadores dos efeitos do calor.
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
4. Aclimatização
A
s constantes e crescentes a céu aberto apresenta maior com-
ondas de calor observadas plexidade, uma vez que as condições
ao longo das últimas décadas ambientais de calor não são controlá-
trazem à tona a busca por estratégias veis. Por outro lado, nessas situações,
para redução do estresse térmico e a atividade do trabalhador pode ser
dos seus efeitos em ambientes ocupa- moderada, a fim de se estabelecer um
cionais. Nesse sentido, a aclimatização plano de aclimatização (incluindo expo-
ao calor é uma das mais importantes sição intermitente e progressiva), para
intervenções que pode ser adotada, a o qual pode-se fazer uso da ferramenta
fim de reduzir o risco de doenças re- Monitor IBUTG, apresentada na seção 7.1
lacionadas ao calor. deste guia, uma vez que possibilita ao
Embora muitas vezes sejam utiliza- usuário fazer simulações de diferentes
das como sinônimos, a aclimatização situações térmicas sob a consideração
refere-se à adaptação que ocorre em do IBUTG previsto para as próximas ho-
ambientes quentes naturais, e a acli- ras e dias.
matação em ambientes controlados Fisiologicamente, o processo de acli-
ou artificiais (laboratórios ou câmaras matização ao calor ocorre por meio de
climáticas) (Wenger et al., 1988). A efe- mudanças autonômicas8 e comporta-
tividade do protocolo de aclimatização mentais, a partir da exposição prolon-
depende da intensidade do estresse gada e/ou repetida a ambientes quen-
térmico e da amplitude do distúrbio das tes. Essas mudanças incluem:
variáveis fisiológicas (ex.: temperatu-
ra central, frequência cardíaca). Desta • aumento na taxa de sudorese;
forma, a aclimatização é específica às • diminuição da frequência cardíaca
condições do ambiente e da atividade (FC);
metabólica em que foram desenvolvi-
• aumento do fluxo sanguíneo para a
das e, portanto, deve ser realizada em
pele, que facilita a perda de calor por
condições de sobrecarga térmica simi-
radiação, condução e convecção;
lares àquelas previstas para o trabalho
(ACGIH 2023). Nesse sentido, ressalta- • aumento da capacidade de dilata-
-se que a aclimatização de trabalhado- ção dos vasos sanguíneos da pele,
res que desenvolvem suas atividades que permite uma maior regulação
8 alterações que o sistema nervoso autônomo realiza para adaptar o organismo às condições de temperatura elevada
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
do trabalho. Após três semanas, esta pois pode ocorrer grande variabili-
perda é praticamente total, e uma nova dade temporal e espacial da tempe-
aclimatização torna-se necessária ratura e dos demais parâmetros que
antes do retorno ao trabalho. Nessas devem ser considerados na exposição
situações, o período de readaptação ao calor. Na Região Sul e em parte das
tende a ser menor. regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde
Estudos realizados pelo NIOSH (2016) as estações do ano são bem definidas,
mostram que a falta de aclimatização é normalmente ocorrem temperaturas
o principal fator associado à morte de baixas ou amenas entre final do outono
trabalhadores por calor. Por este mo- e início da primavera, e mais altas nas
tivo, todas as referências técnicas in- demais épocas do ano. Essa variabili-
ternacionais que tratam da exposição dade térmica ao longo do ano deve ser
ao calor recomendam que os empre- levada em conta, pois alguns estudos
gadores desenvolvam e implementem indicam que o primeiro episódio de ca-
um plano de aclimatização compatível lor do ano é mais impactante para a
com o tipo de atividade realizada. Isto saúde da população, justamente pela
vale para trabalhadores novos, para falta de aclimatização. E, mesmo no
trabalhadores que retornam após um decorrer da época quente, qualquer
período de afastamento ou, no caso parte do Brasil pode ser atingida por
de atividades realizadas a céu aberto, ondas de calor com aumento drástico
para trabalhadores que atuam numa dos valores de temperatura em poucos
área em que as temperaturas foram dias. Além disso, também podem ocor-
amenizadas durante um período de rer situações atmosféricas de menor
pelo menos sete dias, em função da escala temporal, que provocam grande
mudança temporária das condições variabilidade das temperaturas dentro
atmosféricas. de um único dia de trabalho.
A Norma de Higiene Ocupacional Do ponto de vista das atividades la-
NHO 06, da Fundacentro (NHO 06, borais, as diretrizes gerais do NIOSH
2017), e as normas legais brasileiras (2016) para os programas de aclima-
recomendam que as empresas imple- tização são:
mentem, a critério médico, um plano
de aclimatização estruturado e es- • O tempo de exposição ao calor deve
pecífico para a atividade desenvolvi- ser aumentado gradualmente por
da, para que, de forma progressiva, o um período de sete a 14 dias;
trabalhador seja exposto a condições • Para trabalhadores que nunca
similares àquelas previstas em sua ro- exerceram atividades em ambien-
tina normal de trabalho. tes quentes, o tempo de exposição
Para trabalhadores de áreas exter- no primeiro dia não deve ser supe-
nas, existem várias situações para as rior a 20% da duração normal do
quais é necessário realizar a aclima- trabalho, e o acréscimo de tempo a
tização. No Brasil, os empregadores cada dia consecutivo não deve ser
e trabalhadores devem ficar atentos, superior a 20%;
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
5. Avaliação e
acompanhamento médico
A
ntes de iniciar quaisquer ativi- • identificação de todos os medica-
dades sob calor, o trabalhador mentos10 utilizados pelo trabalha-
deve passar por uma avaliação dor, para que o médico possa avaliar
médica de seu estado geral de saúde. eventuais impactos sobre os meca-
Esta avaliação visa prevenir as doen- nismos11 envolvidos no sistema car-
ças decorrentes da exposição ao ca- diovascular e termorregulatório;
lor, identificando condições clínicas
• informações sobre hábitos pessoais
e hábitos que favoreçam o desenvol-
relacionados ao uso de substâncias
vimento dessas patologias. Além dos
ilícitas, bem como álcool, cafeína,
exames clínicos e laboratoriais esta-
entre outras.
belecidos pelo médico, esta avaliação
deve incluir: Uma avaliação médica mais deta-
lhada pode ser solicitada a critério do
• histórico médico, indicando con- profissional de saúde responsável, por
dições pré-existentes que possam exemplo, quando o trabalhador apre-
afetar o sistema termorregulatório sentar histórico de doenças cardíacas,
ou a aclimatização ao calor; uso de determinados medicamentos,
• histórico ocupacional, incluindo o como anti-hipertensivos, doença pul-
período trabalhado em cada ativida- monar obstrutiva ou restritiva, dia-
de, riscos físicos e químicos a que o betes, doença renal ou rabdomiólise.
trabalhador esteve exposto, as de- Indivíduos com lesões em grandes
mandas e intensidades das exposi- áreas da pele, anidrose (incapacidade
ções ao calor, identificando episó- de secretar suor) ou obesidade tam-
dios de distúrbios relacionados ao bém tem o risco aumentado e devem
calor e de rabdomiólise, e períodos ser avaliados de forma mais criteriosa.
e condições anteriores de aclimati- Além desta avaliação inicial, quando
zação em atividades ocupacionais e o trabalho for realizado em condições
não ocupacionais; próximas aos limites de exposição, na
10 Estes incluem diuréticos, drogas anti-hipertensivas (por exemplo, atenolol, betaxolol), sedativos, antiespasmódicos,
psicotrópicos, anticolinérgicos e drogas que podem alterar a sede (haloperidol) ou o mecanismo de suor (por exemplo, fenotiazinas,
anti-histamínicos, anticolinérgicos).
11 Uma lista dos principais medicamentos e seus mecanismos de ação é apresentada na Tabela 4.2 da página 39 do Criteria
for a Recommended Standard: Occupational Exposure to Heat and Hot Environments, acesso em https://www.cdc.gov/niosh/docs/2016-106/
default.html
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
trabalho, que não deve exceder 1,5 % NIOSH (2016) descreve diferentes pa-
do peso corporal, e a taxa de excreção râmetros que podem ser utilizados
de sódio urinário, esse último indicado no monitoramento fisiológico, junta-
para acompanhamento de situações mente com suas formas de avaliação.
mais severas. O documento da ACGIH São eles: o histórico de exposição ao
(2023) cita ainda, que é importante ob- calor, temperatura central, FC, peso
servar a ocorrência de sintomas como corporal (relacionado à desidrata-
fadiga severa e repentina, náuseas, ção), pressão arterial sanguínea, fre-
quência respiratória e nível de alerta
vertigens, tontura e sudorese intensa
(confusão mental). Esses parâmetros,
ao longo da jornada de trabalho.
procedimentos e suas limitações são
Em um estudo mais completo, o apresentados na Tabela 1.
Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Histórico de Por meio de Antes de iniciarem Um histórico de doença Autorrelato pelos
exposição ao calor entrevistas ou e/ou retornarem relacionada ao calor aumenta trabalhadores acarreta
pela aplicação de ao trabalho em um o risco de reincidência risco de omissão intencional
questionários ambiente quente, O estado de aclimatização deve ou acidental do histórico
os trabalhadores ser avaliado médico ou das condições
devem ser que poderiam aumentar o
autorizados pelo Condições médicas pré- risco durante o trabalho em
profissional de existentes, medicamentos de ambientes quentes
saúde responsável venda livre ou prescritas e
suplementos que podem afetar
a tolerância ao calor devem ser
considerados
Frequência Verificação do Antes do início A FC deve cair rapidamente, Muitos fatores individuais
cardíaca (FC) pulso radial: do trabalho, em aproximando-se da FC de não relacionados ao estresse
contar o número repouso, para repouso, quando o trabalhador térmico, podem causar um
de batidas por determinar FC de estiver descansando em um aumento da FC (ex.: esforço
minuto (bpm), repouso, e após a ambiente fresco físico, condição física, febre
sentindo a exposição ao calor A FC permanecerá elevada decorrente de uma infecção,
pulsação no (ex.: 1 a 3 minutos em um trabalhador que sofre dor de uma lesão ou ataque
interior do pulso após o término de uma doença relacionada cardíaco, desidratação)
De forma contínua do período de ao calor O uso de medicamentos
com o uso de um trabalho) (ex.: betabloqueadores) ou
monitor cardíaco O uso da cinta condições médicas pré-
(cinta torácica) torácica permite existentes (ex.: bradicardia
obter a FC ao longo sinusal, hipotireoidismo,
de todo o turno de marca-passo) podem suprimir
trabalho a FC
A sobrecarga As cintas torácicas devem
fisiológica é estar devidamente ajustadas;
indicada por uma perda de dados pode ocorrer
FC, sustentada quando o contato com a pele
acima de 180 bpm é perdido durante o esforço
menos a idade do ou quando há transpiração
trabalhador excessiva
Temperatura O aumento da temperatura A temperatura corporal
indica: 1) que o corpo não está geralmente diminui mais
esfriando tão rapidamente lentamente do que a FC, em
quanto necessário, ou 2) falha dos resposta ao estresse térmico
mecanismos de resfriamento
( ... ) 23
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Temperatura Medição da Inexato se a medição for feita As temperaturas orais são
oral: medida com Temperatura em logo após a ingestão de bebidas geralmente 0,5°F (cerca de
termômetro oral repouso em um frias 0,3 °C) mais baixas do que
ambiente fresco temperatura central do corpo
Durante o pico
de temperatura
ambiental ou no
pico de sobrecarga
térmica; e,
novamente, após
o período de
trabalho
Temperatura Durante o pico Medida mais próxima à As medidas fornecidas por um
auricular: medida de temperatura temperatura central do que a termômetro infravermelho
com termômetro ambiente oral. No entanto, esse método não devem ser interpretadas
infravermelho prevista no local ainda pode sofrer influência da da mesma forma que os dados
colocado no canal de trabalho e, temperatura do ambiente obtidos por um termômetro
auditivo, mas novamente, após que utiliza um sensor
sem estar em o período de diretamente no tímpano
contato direto trabalho Erros e leituras baixas podem
com a membrana ocorrer se houver cera
timpânica excessiva no ouvido
Não deve ser usado em
caso de infecção ou cirurgia
recente no ouvido
Temperatura Os dispositivos Fornece a medida mais Os trabalhadores devem
central (intestinal): de detecção próxima à temperatura central passar por uma triagem
medida com contínua medem Existem sensores com sistema para verificar a existência
sensor eletrônico a temperatura de alarme automatizado para de condições que possam
inerte, que durante os alertar, em tempo real, quando comprometer a ingestão
transmite períodos de as temperaturas centrais segura do sensor
os dados de trabalho e especificadas forem excedidas, O sensor deve ser ingerido
temperatura descanso possibilitando a remoção com alimentos ou água, para
central do corpo O sensor é imediata dos trabalhadores garantir que deixe o estômago
em tempo real engolido antes de para um ambiente fresco e entre no intestino delgado
ao percorrer o iniciar o trabalho Dependendo do sistema, antes dos dados serem
intestino. e excretado os dados de temperatura coletados
normalmente na central somente podem ser Quedas artificias nos valores
evacuação visualizados após o download de temperatura podem
no final do turno de trabalho ocorrer após a ingestão
de líquidos frios. Os dados
precisam ser devidamente
tratados antes da análise
Caso o sensor seja excretado
durante o turno de trabalho, a
coleta de dados será parcial
Peso corporal Pode ser utilizada Antes e A perda de peso pode indicar O individuo deve ser pesado
uma balança imediatamente que os fluidos perdidos não em balanças com boa precisão
doméstica com após a exposição estão sendo adequadamente ou calibradas, vestindo apenas
boa precisão ao calor repostos roupas íntimas, a fim de
O ideal é a minimizar o erro, devido ao
utilização de uma peso do suor absorvido pela
balança digital roupa
calibrada
Pressão arterial Medição da Antes e após A pressão arterial não se Deve-se ter certeza de que
pressão arterial o período de restabelece tão rapidamente o braço está estendido,
com medidores trabalho quando um trabalhador está o indivíduo sentado com
automáticos clini- sofrendo de doenças de calor o punho adequado para
camente validados A postura pode afetar a medição e as pernas
ou esfigmomanô- a pressão arterial em descruzadas durante a
metro e estetos- trabalhadores com doenças medição
cópio; medição relacionadas ao calor e deve A desidratação pode afetar
das respirações ser levada em consideração a pressão arterial e, por isso,
por minuto com nos diferentes métodos de ela precisa ser verificada na
cronômetro. monitoramento fisiológico avaliação
( ... )
24
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Frequência Contar o número Antes e após A frequência respiratória É impactada por outros
respiratória de respirações por o período de não retorna ao valor inicial fatores fisiológicos (ex.:
minuto utilizando trabalho tão rapidamente quando um acidose metabólica por
um cronômetro trabalhador está sofrendo de produção de lactato em
doenças de calor esforço anaeróbico)
Condições médicas pré-
existentes (ex.: asma ou
tabagismo) podem impactar a
função pulmonar, resultando
em frequência respiratória
anormalmente alta e/ou tempo
de recuperação prolongado
Fonte: Adaptado de NIOSH (2016)
Nota: esta tabela cita de forma geral alguns parâmetro e procedimentos para realização do monitoramento fisiológico.
Sua aplicação em ambientes ocupacionais, assim como outros detalhamentos, devem ser elaborados pelos responsáveis
pelo controle médico, considerando inclusive, as questões individuais.
25
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
6. Avaliação da exposição
ocupacional ao calor
A
legislação brasileira adota o • descrição das atividades, conside-
IBUTG como índice de referên- rando a jornada de trabalho, as pau-
cia nas avaliações da exposição sas, medidas de controle existentes
ocupacional ao calor, tanto para fins e demais peculiaridades e especifici-
preventivos quanto de insalubridade e dades que envolvem as condições de
previdenciário. trabalho, por meio de observações de
A avaliação quantitativa no local, em campo, com a identificação de grupos
ambientes internos ou externos, com ou de exposição similar e da condição
sem fontes artificiais de calor, envolve: (hora) mais crítica de exposição;
1) determinação do IBUTG por meio do • estimativa da taxa metabólica de
uso de medidores de IBUTG; 2) análise trabalho;
da atividade executada pelo trabalhador • análise das vestimentas para ajuste
para a estimativa do calor metabólico, e do IBUTG efetivo, se necessário;
3) análise do tipo de vestimenta utilizada,
assim como o uso ou não de capuz, que • medição/estimativa do IBUTG;
pode influenciar a perda de calor pelo • determinação do NA e LE, e interpre-
corpo e requerer correções no IBUTG. tação dos resultados;
No caso de ambientes rurais a céu • indicação das medidas preventivas e
aberto, sem fontes artificiais de calor, e corretivas a serem adotadas.
exclusivamente para fins preventivos, O detalhamento dos procedimen-
além da medição in loco, a avaliação da tos e diretrizes gerais desta avaliação
exposição ocupacional ao calor pode ser estão descritos na NHO06 (2017) da
realizada através da ferramenta Monitor Fundacentro e os requisitos legais po-
IBUTG, desenvolvida pela Fundacentro e dem ser consultados nos Anexos de ca-
disponibilizada gratuitamente por meio lor das NR09 e NR15.
do site e aplicativo de celular (ver item 7.2).
As etapas principais para avaliar a ex- 6.1 Variáveis envolvidas na ava-
posição ocupacional ao calor com base liação da exposição
no IBUTG são:
O equilíbrio térmico e a quantidade de
• reconhecimento do local (ambien- calor trocado entre o corpo e o ambien-
te) de trabalho e das atividades te dependem de parâmetros ambien-
desenvolvidas; tais - temperatura do ar (T), radiação
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
utilizar esses dados para obter um va- enquadre à tabela de “Taxa metabólica
lor médio aproximado que melhor se por tipo de atividade” (Tabela 2).
Tabela 2: Taxa metabólica por tipo de atividade
Atividade Taxa metabólica(a) (W)
Sentado
Em repouso 100
Trabalho leve com as mãos 126
Trabalho moderado com as mãos 153
Trabalho pesado com as mãos 171
Trabalho leve com um braço 162
Trabalho moderado com um braço 198
Trabalho pesado com um braço 234
Trabalho leve com dois braços 216
Trabalho moderado com dois braços 252
Em pé, agachado ou ajoelhado
Em repouso 126
Trabalho leve com as mãos 153
Trabalho moderado com as mãos 180
Trabalho pesado com as mãos 198
T rabalho leve com u m b raç o 189
Trabalho moderado com um braço 225
Trabalho pesado com um braço 261
Trabalho leve com dois braços 243
Trabalho moderado com dois braços 279
Trabalho pesado com dois braços 315
Trabalho leve com o corpo 351
Trabalho moderado com o corpo 468
Trabalho pesado com o corpo 630
Em pé, em movimento
Andando no plano
1- Sem carga
2 km/h 198
3 km/h 252
4 km/h 297
5 km/h 360
2- Com carga
10 kg, 4 km/h 333
30 kg, 4 km/h 450
Correndo no plano
9 km/h 787
12 km/h 873
15 km/h 990
Subindo rampa
1- Sem carga
com 5° de inclinação, 4 km/h 324
com 15° de inclinação, 3 km/h 378
com 25° de inclinação, 3 km/h 540
2- Com carga de 20 kg
com 15° de inclinação, 4 km/h 486
com 25° de inclinação, 4 km/h 738
Descendo rampa (5 km/h) sem carga
com 5° de inclinação 243
com 15° de inclinação 252
com 25° de inclinação 324
Subindo escada (80 degraus por minuto – altura do degrau de 0,17 m)
Sem carga 522
( ... )
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( ... )
Atividade Taxa metabólica(a) (W)
Com carga (20 kg) 648
Descendo escada (80 degraus por minuto – altura do degrau de 0,17 m)
Sem carga 279
Com carga (20 kg) 400
Trabalho moderado de braços (ex.: varrer, trabalho em almoxarifado) 320
Trabalho moderado de levantar ou empurrar 349
Trabalho de empurrar carrinhos de mão, no mesmo plano, com carga 391
Trabalho de carregar pesos ou com movimentos vigorosos com os braços 495
(ex.: trabalho cm foice)
Trabalho pesado de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remoção com 524
pá, abertura de valas)
a) Taxa metabólica definida para o homem padrão (área superficial igual a 1,8 m2)
M [kcal/h] = 0,859845 x M [W]
Fonte: NHO 06 (2017)
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
7. Obtenção do IBUTG
A
s configurações dos equipamen- pelo Instituto Nacional de Meteorologia
tos, que podem ser utilizados na (INMET). Essa ferramenta está disponí-
avaliação da exposição ocupacio- vel gratuitamente através de aplicativo
nal ao calor, são apresentadas na NHO 06 de celular (Android e iOS) e de endereço
(2017), juntamente com o detalhamento na Web12, para acesso via computador,
dos procedimentos de medição, conduta tendo sido desenvolvida com o objetivo
do avaliador, montagem, posicionamen- de auxiliar trabalhadores, empregado-
to e principais acessórios complementa- res e profissionais de SST na avaliação
res disponíveis no mercado. da exposição ocupacional ao calor em
Em ambientes internos, com ou sem ambientes de trabalho externos, sem
fontes artificias de calor, o IBUTG deve fontes artificiais de calor.
ser determinado por meio destes equi- Os resultados de IBUTG, assim como
pamentos. Para ambientes rurais a céu o índice ajustado em função da vesti-
aberto, onde não há fontes artificiais menta utilizada, o metabolismo de tra-
de calor, a legislação vigente (Anexo 3 balho e os demais parâmetros envolvi-
da NR09) permite, além das medições dos no cálculo do índice são fornecidos
convencionais, uma segunda alterna- de hora em hora, para o turno diurno
tiva: a estimativa do IBUTG por meio da de trabalho (8 às 17h). Estas estimativas
ferramenta Monitor IBUTG desenvolvida se apresentam como uma importante
pela Fundacentro. As principais carac- opção na avaliação do calor em ambien-
terísticas dessa ferramenta são apre- tes externos que não possuam medi-
sentadas a seguir. ções in loco. Além do monitoramento
online, o sistema fornece relatórios
7.1 Monitor IBUTG para períodos passados, permitindo ao
O Monitor IBUTG é uma ferramenta usuário levantar um histórico da expo-
desenvolvida pela Fundacentro, que sição do trabalhador ao calor a partir
possibilita monitorar a exposição ao de 2016. Outra grande funcionalidade
calor em ambientes de trabalho ru- dessa ferramenta é que, com base em
rais a céu aberto, estimando os valo- dados de previsão de tempo fornecidos
res de IBUTG de forma remota, para pelo Instituto Nacional de Pesquisas
quaisquer localidades no Brasil onde Espaciais (INPE), é possível estimar o
haja medição de dados meteorológicos IBUTG para os horários do dia corrente
12 https://monitoributg.fundacentro.gov.br/Inicio
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
que não tenham dados do INMET, assim de M se este for conhecido. Deve-se in-
como para os sete dias subsequentes, formar também o tipo de cobertura do
fornecendo informações para que o em- solo, o tipo de vestimenta utilizada e se o
pregador possa programar as atividades trabalhador utiliza ou não capuz. Estas
e suas respectivas medidas de controle informações sobre as vestimentas são
para um período de alguns dias. É impor- utilizadas para corrigir o IBUTG, obten-
tante salientar que, independentemente do-se o IBUTG ajustado.
das questões relacionadas à insalubrida-
Resumidamente, para a avaliação da
de para atividades a céu aberto, quando
exposição ocupacional ao calor atra-
as exposições ocorrem acima dos limites
vés do Monitor IBUTG, o usuário deve
de exposição, o empregador deve adotar
informar:
as medidas necessárias para o controle
do risco. • a localização do trabalho (quando o
usuário estiver no local a ser avaliado,
A metodologia de estimativa do IBUTG,
a localização pode ser detectada auto-
obtida a partir de dados meteorológicos e
maticamente pelo sistema utilizando
utilizada no Monitor IBUTG, foi desenvolvi-
o GPS);
da através da condução de observações
em campo, análises estatísticas dos da- • o período da avaliação, caso o usuário
dos e formulações matemáticas. O méto- deseje a emissão de relatórios para
do, que foi idealizado e iniciado em 2009, períodos anteriores (quando nenhum
utiliza uma equação de regressão linear período é informado, a avaliação é
para a Tbn e equação de balanço térmico realizada para o turno diurno de tra-
do globo para a Tg. O estudo foi realizado balho do dia atual, de dois dias anterio-
em ambientes de trabalho a céu aberto res e para mais 7 dias subsequentes);
de áreas rurais e, portanto, o método
• as atividades laborais com as respec-
utilizado não deve ser considerado para
tivas durações em minutos dentro de
ambientes de trabalho a céu aberto em
um período corrido de 60 minutos;
áreas urbanas. A metodologia completa
utilizada nesses cálculos está descrita no • a cobertura de solo do local de
artigo de MAIA et al. (2015). trabalho;
Além da estimativa do IBUTG a partir • o tipo de vestimenta e se usa ou não
de dados meteorológicos, o Monitor IBUTG capuz.
fornece uma avaliação completa da ex-
Fornecidas estas informações, o
posição ocupacional ao calor. Essa ava-
usuário recebe a avaliação da exposição
liação é realizada a partir do local onde
ocupacional ao calor a cada hora, com a
se encontra o usuário no momento da
consulta ou para outro local definido indicação das respectivas medidas pre-
pelo usuário. Basta informar os tipos de ventivas ou corretivas necessárias.
atividade realizadas pelo trabalhador Detalhes de todas as funcionalidades
com os seus respectivos tempos de du- do Monitor IBUTG, assim como a meto-
ração, para que o sistema possa calcular dologia e fonte de dados utilizados, po-
a taxa metabólica média, M. Há ainda a dem ser acessados através do Menu
opção de se inserir diretamente o valor do sistema.
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
8. Medidas preventivas
e corretivas relacionadas
à exposição ao calor
A
s atividades laborais em am- As medidas preventivas visam mi-
bientes quentes serão execu- nimizar a probabilidade de prejuízos
tadas de forma mais segura se à saúde do trabalhador, entre as quais
todos tiverem compreensão dos fato- podem ser citadas:
res de risco que contribuem para o es- • monitoramento periódico da expo-
tresse térmico e souberem identificar sição, que consiste em uma avalia-
as melhores estratégias de prevenção. ção sistemática e repetitiva da ex-
Conhecer a importância e os meca- posição dos trabalhadores ao calor,
nismos da aclimatização, hidratação e visando a um acompanhamento dos
pausas ao longo da jornada de trabalho níveis de exposição e das medidas
como medidas de redução do estresse de controle para identificar a ne-
térmico também podem promover um cessidade de introdução de novas
ambiente de trabalho mais seguro, mo- medidas ou modificação daquelas
tivando as pessoas a adotarem compor- já existentes;
tamentos preventivos de forma mais
• disponibilização de água e sais mi-
consciente.
nerais para reposição adequada da
Todos os trabalhadores e seus su- perda de líquido pelo suor, segun-
pervisores, iniciantes ou experientes, do orientação médica – à medida
que exerçam atividade profissional em em que as atividades passam a ser
locais onde há riscos de lesão ou doen- moderadas e os ambientes tornam-
ça por calor, devem ser orientados e se mais quentes, recomenda-se que
capacitados por meio de educação os trabalhadores bebam água de
continuada. forma mais frequente;
De acordo com as diretrizes técnicas • treinamento e informação aos tra-
e legais, da NHO06 (2017) e do Anexo 3 balhadores e supervisores;
da NR09, as medidas preventivas devem • controle médico, envolvendo exa-
ser adotadas a partir do NA e as medi- mes médicos admissionais e pe-
das corretivas quando o LE for ultra- riódicos, com foco na exposição ao
passado. A aclimatização é uma medida calor, visando à determinação e ao
obrigatória a partir do NA, e pela sua im- monitoramento da aptidão física
portância, foi abordada separadamente, e à manutenção de um histórico
no capítulo 4 deste Guia. ocupacional;
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
34
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
9. Plano de emergência
D
e acordo com a NR01, a organiza- responsável(eis) que deve(m)
ção deve estabelecer, implemen- ser acionado(s) nas situações de
tar e manter procedimentos de emergência;
respostas aos cenários de emergências,
considerando-se as características, cir- • o papel de cada indivíduo na situação
cunstâncias e os riscos das atividades. de emergência, com base na hierar-
Seguindo essas diretrizes, todo traba- quia das medidas emergenciais a se-
lhador, ao ser admitido ou quando mu- rem estabelecidas;
dar para função que implique alteração
de risco, deve receber informações so- • o treinamento do supervisor sobre
bre os meios para prevenir e controlar os procedimentos a serem segui-
esses riscos, as medidas adotadas pela dos quando um trabalhador apre-
organização e os procedimentos a se- sentar sintomas consistentes com
rem seguidos em caso de emergência. doenças relacionadas ao calor, in-
cluindo procedimentos de resposta
Segundo a NR09, a organização deve a emergências;
possuir procedimento específico para
emergências do calor, contemplando os • a empresa deve estabelecer e orien-
meios e recursos necessários para o tar responsáveis para monitorar as
primeiro atendimento ou encaminha- informações de previsão de tempo e
mento do trabalhador, promovendo o aplicações específicas (boletins me-
fluxo de informações e comunicação a teorológicos, uso do sistema Monitor
todas as pessoas envonvidas nos cená- IBUTG, ou alertas de ondas de calor);
rios de emergências.
• definir como serão disponibilizadas,
O plano de emergência deve ser es-
no local de trabalho, as informações
tabelecido por meio de um protocolo,
sobre:
com medidas práticas a serem tomadas
com base nos sinais e sintomas decor- indicação dos contatos em
rentes da exposição ao calor (capítulo caso de emergência;
2), considerando: a classificação dos sinais e
• procedimentos de emergência e sintomas, sua gravidade e res-
primeiros socorros, incluindo in- pectivas medidas de primeiros
formações sobre o(s) contato(s)/ socorros (ex. Quadro 1);
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
Supervisor –
Contatos de emergência Médico –
Hospital –
Primeiros Socorros
Distúrbio Doença Sinais e Sintomas
(o que fazer)
A exaustão pelo calor pode começar y Retire a pessoa do calor e coloque-a em um
de repente, geralmente durante local com sombra e bem ventilado
ou após trabalho prolongado com y Deite a pessoa e eleve ligeiramente suas
perda de água excessiva (sudorese) e pernas.
desidratação. Os sinais e sintomas de y Remova roupas apertadas ou pesadas.
exaustão pelo calor incluem: y Caso a pessoa esteja acordada e
y Desmaios ou tonturas. consciente, faça com que beba água fria/
EXAUSTÃO PELO y Náuseas ou vômitos. gelada ou outra bebida não alcoólica sem
CALOR y Sudorese intensa, muitas vezes cafeína.
acompanhada de pele fria e úmida. y Resfrie a pessoa com água fria,
y Pulso fraco e rápido. borrifando-a ou passando uma esponja
y Rosto pálido ou corado. molhada, e abane-a.
y Cãibras musculares. y Acompanhe a pessoa cuidadosamente
y Dor de cabeça. y Procure ajuda médica ou encaminhe o
y Fraqueza ou fadiga trabalhador ao serviço de emergência
médica o mais rápido possível
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
10. Bibliografia
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
Anexo 1
V
alores de Limites de Exposição da NHO 06 (2017) da FUNDACENTRO.
(LE) ocupacional ao calor para
Para valores de M intermediários
trabalhadores aclimatizados e
aos apresentados nas Tabelas A1 ou
Níveis de Ação (NA) para trabalhado-
A2, deve ser considerado o IBTUmax
res não aclimatizados (estes, corres-
relativo à M imediatamente mais
pondem aos valores de LE para traba-
elevada.
lhadores não aclimatizados), extraídos
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( ... )
M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax[°C]
152 29,1 279 25,4 520 21,6
155 29,0 284 25,3 528 21,5
158 28,9 289 25,2 537 21,4
160 28,8 293 25,1 546 21,3
163 28,7 298 25,0 555 21,2
165 28,6 303 24,9 564 21,1
168 28,5 308 24,8 573 21,0
171 28,4 313 24,7 583 20,9
174 28,3 318 24,6 593 20,8
177 28,2 324 24,5 602 20,7
180 28,1 329 24,4
Fonte: NHO06 (2017)
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Sobre o livro
Composto em Alianza Slab 12 (textos)
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MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO