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Exposição ao calor em

trabalhos a céu aberto -


Guia de orientações gerais

MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO

Monitor IBUTG
AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL AO CALOR
Elisa Kayo Shibuya • Irlon de Ângelo da Cunha
Fabiano Amorim • Daniel Pires Bitencourt
Paulo Alves Maia • Thais Maria Santiago Moraes Barros
Rodrigo Caoduro Roscani • Flavio Maldonado Bentes

Exposição ao calor em
trabalhos a céu aberto -
Guia de orientações gerais

São Paulo
MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO

2024
©2024 dos autores
Todos os direitos desta edição reservados à Fundacentro.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Não é permitida a venda e/ou a reprodução para fins comerciais.
Disponível em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br

Serviço de Biblioteca e Documentação – SBD / Fundacentro


São Paulo – SP
Erika Alves dos Santos CRB-8/7110
1234567 Exposição ao calor em trabalhos a céu aberto - Guia de orientações
gerais [recurso eletrônico] / Elisa Kayo Shibuya ... [et al.]. – São Paulo:
Fundacentro, 2024.
12345 678 E-book : 42 p.
1234567890E-book no formato pdf.
1234567890Público a que se destina: gestores, trabalhadores e profissionais da
1234567saúde atuantes nas áreas que envolvem exposição ao calor em
ambientes de trabalho a céu aberto.
1234567890Resumo: Discute os principais aspectos e as consequências da
1234567exposição ao calor em ambientes de trabalho a céu aberto na segurança
e saúde ocupacional, abordando aspectos legais, fisiológicos, médicos,
1234567procedimentos de avaliação da exposição e medidas preventivas e
corretivas para a adequação de ambientes de trabalho que proporcionam
exposição ao calor.
1234567890ISBN 978-65-88344-62-0.
12345678901. Trabalho a alta temperatura – Riscos para a saúde – Higiene
1234567ocupacional. 2. Trabalho ao ar livre – Saúde no trabalho – Influência
1234567climática. I. Shibuya, Elisa Kayo. II. Cunha, Irlon de Ângelo. IV. Amorim,
1234567Fabiano. V. Bitencourt, Daniel Pires. VI. Maia, Paulo Alves. VII. Barros,
1234567Thais Maria Santiago Moraes. VIII. Roscani, Rodrigo Caoduro. IX. Bentes,
1234567Flavio Maldonado. CIS Jwh Ah CDD 536.5761362

CIS – Classificação do International Labour Organization (ILO) – OSH


Thesaurus
CDD – Classificação Decimal de Dewey

Jwh – da
Presidência Trabalho a alta temperatura
República
Ah –Lula
Luiz Inácio Higiene ocupacional
da Silva
Ministério do Trabalho e Emprego
Luiz Marinho
Fundacentro
Presidência
Pedro Tourinho de Siqueira
Diretoria de Conhecimento e Tecnologia
Remígio Todeschini
Diretoria de Pesquisa Aplicada
Rogério Bezerra da Silva
Diretoria de Administração e Finanças
Karina Nunes Figueiredo
Produção editorial
Editora-chefe: Glaucia Fernandes
Preparação de originais: Tikinet Edição
Foto capa: tj_studio - Freepik
Projeto gráfico, diagramação, ilustrações e capa: Alecsander Coelho, Daniela Bissiguini, Érsio
Ribeiro, Rebeca Tonello e Paulo Ciola - Phábrica de Produções
Sumário

1. Introdução............................................................................................................................................. 7
2. Critério legal brasileiro ............................................................................................................... 9
3. Efeitos fisiológicos relacionados ao calor ..................................................................... 12
3.1 Distúrbios induzidos pelo calor ............................................................................................ 13
3.1.1 – Câimbras musculares ............................................................................................................13
3.1.2 – Síncope ou tontura ..................................................................................................................14
3.1.3 – Exaustão pelo calor .................................................................................................................14
3.1.4 – Choque hipertérmico (insolação) .................................................................................15
3.2 Situações especiais ...................................................................................................................... 15
4. Aclimatização .................................................................................................................................. 17
5. Avaliação e acompanhamento médico ............................................................................ 21
5.1 Monitoramento fisiológico ...................................................................................................... 22
6. Avaliação da exposição ocupacional ao calor ............................................................ 26
6.1 Variáveis envolvidas na avaliação da exposição .................................................... 26
6.1.1 O IBUTG...................................................................................................................................................27
6.1.2 Taxa Metabólica ............................................................................................................................27
6.1.3 Vestimentas........................................................................................................................................29
6.2 Limite de Exposição (LE)......................................................................................................... 30
7. Obtenção do IBUTG ....................................................................................................................... 31
7.1 Monitor IBUTG ..................................................................................................................................... 31
8. Medidas preventivas e corretivas relacionadas à exposição ao calor........ 33
9. Plano de emergência................................................................................................................... 36
10. Bibliografia...................................................................................................................................... 39
Anexo 1....................................................................................................................................................... 41
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

Lista de Siglas

ABHO - Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais


ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
EPI - Equipamento de Proteção Individual
FC - Frequência Cardíaca
GES - Grupo de Exposição Similar
IBUTG - Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
LE - Limite de Exposição
NA - Nível de Ação
NHO - Norma de Higiene Ocupacional
NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health
NR - Norma Regulamentadora
PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PGR - Programa de Gerenciamento de Riscos
PGRTR - Programa de Gerenciamento de Riscos no Trabalho Rural
SST - Segurança e Saúde no Trabalho

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

1. Introdução

O
advento das mudanças climá- O impacto do calor sobre a saúde
ticas e as consequentes eleva- das pessoas tem sido cada vez mais
ções da temperatura média da evidente e, dependendo da especifici-
superfície terrestre têm impactado as dade da atividade laboral bem como do
atividades laborais no mundo todo. O ambiente de trabalho, o calor excessivo
Brasil, composto de áreas tropicais e torna-se determinante na ocorrência
subtropicais, apresenta situações cli- de alguns acidentes e doenças, que, em
máticas favoráveis para ocorrência de situações mais graves, pode até levar à
calor intenso, especialmente devido morte. Quanto mais alta a temperatura
aos elevados valores de temperatura, do corpo, maior é o estresse fisiológico
umidade e radiação solar, os quais, que, por sua vez, favorece a ocorrência
entre outros, são parâmetros impor- de acidentes e as chamadas doenças
tantes na quantificação da exposição do calor. Alguns sintomas relaciona-
ocupacional ao calor. Em quase todo dos à exposição ao calor são câimbras,
o território brasileiro, as observações tontura, exaustão e choque hipertér-
ambientais das últimas décadas têm mico ou insolação (ZANDER et al., 2015;
indicado aumento desse fator, com CHANG; BERNARD; LOGAN, 2017).
maior frequência e intensidade das
ondas de calor a partir dos anos 2000 As Normas Regulamentadoras (NR),
(BITENCOURT et al., 2016). Além disso, que em geral abordam aspectos de ati-
mesmo assumindo cenários climáticos vidades laborais específicas, buscam
otimistas para o futuro, com menores promover o trabalho seguro e saudá-
emissões dos gases de efeito estufa, vel. Considerando o risco da exposição
existem fortes indicativos de que as ocupacional ao agente físico calor, as
temperaturas continuarão subindo principais normas de referência publi-
até o final deste século, proporcionan- cados no Brasil são NR091 - Avaliação
do agravamento do estresse térmico e controle das exposições ocupacio-
para o trabalhador (BITENCOURT et nais a agentes físicos, químicos e bio-
al., 2020). lógicos, NR152 - Atividades e operações
1 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-9-nr-9
2 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-15-nr-15

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

insalubres, e a Norma de Higiene da pesquisa acadêmica quanto em ter-


Ocupacional (NHO) nº 06 (NHO06, 2017) mos de aplicação prática da avaliação
que, entre outros aspectos, adotam o da exposição. Contudo, ressalta-se que
Índice de Bulbo Úmido Termômetro de não se trata de um documento nor-
Globo (IBUTG) nas avaliações da expo- mativo, abordando o tema de forma
sição ocupacional ao calor. No final de técnica e ampla, estando, em alguns
2019, uma importante atualização legal pontos, além dos aspectos previstos na
envolvendo a exposição ocupacional legislação brasileira.
ao calor foi apresentada pela Portaria
O Guia apresenta, no capítulo 2, os
nº 1.359, da Secretaria Especial de
aspectos da legislação brasileira que
Previdência e Trabalho (SEPRT), que
abordam as questões da exposição ocu-
passou a utilizar o Nível de Ação (NA) e
pacional ao calor e detalha, no capítulo
o Limite de Exposição (LE), os quais in-
3, os efeitos fisiológicos provocados por
dicam a necessidade ou não da adoção
essa exposição. O capítulo 4 é dedica-
de medidas preventivas ou corretivas,
do à importância da aclimatização do
respectivamente (Anexo 3 da NR09). Os
trabalhador. No capítulo 5, são aborda-
valores desses limiares dependem da
das as questões relacionadas à avalia-
taxa metabólica média da atividade do
ção e ao acompanhamento médico. A
trabalhador para os 60 minutos mais
avaliação da exposição ocupacional ao
críticos de exposição. Este novo anexo
calor é pontuada no capítulo 6 e, sepa-
passou a considerar também o efeito
radamente, no capítulo 7, são apresen-
das vestimentas na sobrecarga térmi-
tados os procedimentos de medição
ca do trabalhador e, desta forma, os
do IBUTG, seja por meio de medições
valores de IBUTG devem ser ajustados
realizadas nos ambientes de trabalho
antes de serem comparados ao NA e
ou por estimativas obtidas pela ferra-
LE.
menta Monitor IBUTG, desenvolvida pela
Este guia, voltado para atividades Fundacentro para avaliações em áreas
realizadas a céu aberto, tem como externas de ambientes rurais. No ca-
público-alvo trabalhadores, empre- pítulo 8, são descritas as medidas cor-
gadores, profissionais de Saúde e retivas e preventivas necessárias para
Segurança no Trabalho (SST), acadê- promover o trabalho seguro e saudável.
micos e demais interessados nos di- Por fim, no capítulo 9, são apresentadas
versos aspectos da exposição ao calor algumas características de um plano de
em ambientes de trabalho, abordando emergência para ambientes nos quais o
de forma técnica, mas com linguagem calor possa representar risco à saúde
acessível, os principais aspectos que dos trabalhadores.
permeiam este tema. Tomando como
base diversas fontes de informação,
nacionais e internacionais, este guia
apresenta-se com propósito, princi-
palmente, de subsidiar os profissio-
nais envolvidos no tema exposição
ocupacional ao calor, tanto no âmbito

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

2. Critério legal brasileiro

O
empregador deve adotar me- da Consolidação das Leis do Trabalho
didas de prevenção, de modo (CLT), relativo à Segurança e Medicina
que a exposição ocupacional do Trabalho, que foi regulamenta-
ao calor não cause efeitos adversos ao da pelas NRs, com exceção da NR314,
trabalhador. Este capítulo visa apre- Segurança e Saúde no Trabalho na
sentar as principais exigências legais Agricultura, Pecuária Silvicultura,
para o desenvolvimento das ativida- Exploração Florestal e Aquicultura –
des realizadas sob calor a céu aberto. referente ao trabalho rural, confor-
A legislação é dinâmica e, portanto, o me dispõe a Lei Federal 5.889, de 08
leitor deve sempre se manter atualiza- de junho de 1973. Essa norma explicita
do, buscando, preferencialmente, o site que as demais NRs se aplicam ao meio
do Ministério do Trabalho e Emprego3. rural somente quando houver citação
Os aspectos técnicos para avaliação e expressa a elas, que é justamente o
controle da exposição são apresenta- caso da avaliação do agente físico ca-
dos nos demais capítulos deste guia. lor (NR31 – item 31.3.3.1).
A Constituição Federal de 1988, em Assim, a gestão dos riscos da ex-
seu artigo 7º, equiparou diversos di- posição ao calor, tanto no meio urba-
reitos dos trabalhadores rurais aos no quanto no rural, deve atender ao
urbanos, incluindo a redução dos ris- disposto no Anexo 3 da NR09, e estar
cos inerentes ao trabalho por meio de incorporada tanto ao Programa de
normas de saúde, higiene e segurança Gerenciamento de Riscos (PGR) na
(inciso XXII). No entanto, há legislações área urbana (NR015-Disposições ge-
específicas para as atividades no meio rais e gerenciamento de riscos ocu-
rural e para o meio urbano. pacionais) quanto ao Programa de
As atividades na área urbana de- Gerenciamento de Riscos no Trabalho
verão atender ao disposto na Lei Rural (PGRTR) (NR31 – item 31.3). Esse
Federal 6.514, de 22 de dezembro de anexo define as responsabilidades
1977, que altera o Capítulo V do Título II do empregador relativas às medidas
3 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/
4 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-31-nr-31
5 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/
comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/nr-1

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

a serem adotadas, dentre as quais: a o levantamento preliminar das si-


necessidade de capacitação dos tra- tuações de trabalho que demandam
balhadores, a adoção de medidas pre- adaptação às características psicofi-
ventivas e corretivas, a aclimatização siológicas dos trabalhadores, com o
dos trabalhadores para atividades de objetivo de identificar a necessidade
exposição ocupacional ao calor aci- de adoção de medidas preventivas, as
ma do NA e a elaboração de procedi- quais devem constar no PGRTR. (NR177
mentos de emergência. É importante - Ergonomia; NR31 – item 31.8.3). Esse
ressaltar que a NR01 (meio urbano) programa deve estabelecer medidas
prevê um tratamento diferenciado para organização do trabalho, de for-
ao microempreendedor individual, à ma que as atividades que exijam maior
microempresa e à empresa de peque- esforço físico, quando possível, sejam
no porte, aos quais são dispensados desenvolvidas no período da manhã ou
de elaborar PGR, mas devem cumprir no final da tarde, bem como dispor de
com as demais disposições previstas ações para minimização dos impactos
em outras NRs (NR01 – item 1.8.5). sobre a SST nas atividades em terre-
Tanto o PGR quanto o PGRTR devem nos acidentados (NR31 – item 31.3.5).
conter, no mínimo, o inventário de ris- Outra medida fundamental é a ado-
cos ocupacionais e um plano de ação ção de pausas para descanso nas
(NR01 – item 1.5.7.1; NR31 – item 31.3.3.2). atividades que forem realizadas ne-
Esses documentos devem prever uma cessariamente em pé ou que exijam
fase de avaliação da exposição ocupa- sobrecarga muscular estática ou di-
cional ao calor. Inicialmente deve ser nâmica, pois favorecem a redução da
realizada uma avaliação preliminar e, temperatura interna do trabalhador
se as informações obtidas não forem (NR31 – itens 31.8.6, 31.8.7 e 31.8.8).
suficientes para permitir a tomada
de decisão quanto à necessidade de A realização dos exames e as ações
implementação de medidas de pre- de preservação da saúde ocupacional
venção, deve-se proceder à avaliação dos trabalhadores e de prevenção e
quantitativa (Anexo 3, NR09 – item controle dos agravos decorrentes do
3.2.1.1), de acordo com os critérios e trabalho, no âmbito da avaliação médi-
procedimentos dispostos na NHO06 ca, devem ser planejados e executados
(2017). Ainda de acordo com o Anexo com base na identificação dos perigos
3 da NR09, a avaliação da exposição e nas necessidades e peculiaridades
ao calor para atividades rurais a céu das atividades (NR31 – item 31.3.6).
aberto sem fontes artificiais de calor Sempre que o NA para exposição
pode ser realizada por meio da ferra- ocupacional ao calor for excedido,
menta Monitor IBUTG 6 . deve ser adotada pela organização
O empregador rural deve realizar uma ou mais das seguintes medidas:
6 https://monitoributg.fundacentro.gov.br/Inicio
7 https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-
-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/
norma-regulamentadora-no-17-nr-17

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

a) disponibilização de água fresca po- atividades quando constatar uma


tável (ou outro líquido de reposição situação de trabalho que, a seu ver,
adequado), incentivando a sua inges- envolva um risco grave e iminente
tão; b) programação dos trabalhos para a sua vida e saúde, informando a
mais pesados (acima de quatrocentos ocorrência imediatamente ao seu su-
e quatorze watts), preferencialmente, perior hierárquico (NR01 – item 1.4.3;
nos períodos com condições térmicas NR31 – item 31.2.5.1). Desta forma, quan-
mais amenas, desde que não ofereçam do o indivíduo manifestar algum dos
riscos adicionais. sintomas provenientes da exposição
Complementando as exigências es- ao calor (ver capítulo 3), ou sempre que
tipuladas no Anexo 3 da NR 09, para o julgar que esteja em uma situação de
meio rural, deve ser permanente a dis- risco grave e iminente, é recomendável
ponibilização de água potável e fresca que a atividade seja interrompida para
em quantidade suficiente e em condi- adoção das medidas cabíveis (NR01 –
ções higiênicas nos locais de trabalho item 1.4.3; NR31 – item 31.2.5.1).
(NR31 – item 31.17.8.1). A NR15 estabelece, em seu anexo
Quando ultrapassados os LE ao ca- 3, os critérios para o pagamento do
lor, segundo a NR 09, devem ser ado- adicional decorrente da exposição ao
tadas medidas para a adequação do calor em ambientes fechados, ou am-
trabalho, tais como: a) alternância das bientes abertos com fonte artificial de
atividades que gerem exposições a ní- calor, não havendo previsão legal para
veis elevados de calor com outras que este benefício em ambientes abertos
impliquem exposições a níveis meno- sem fonte artificial de calor.
res; b) acesso a locais, inclusive natu- Por fim, as ações de capacitação dos
rais, termicamente mais amenos, que trabalhadores expostos ao calor são
possibilitem pausas espontâneas para importantes no contexto da preven-
recuperação térmica durante as ati- ção. O anexo 3 da NR09 descreve um
vidades realizadas em locais abertos conteúdo programático mínimo a ser
e distantes de quaisquer edificações transmitido aos trabalhadores. A orga-
ou estruturas naturais ou artificiais nização deve orientar os trabalhado-
(Anexo 3 da NR 09 – item 4.2.2). res em relação aos diversos aspectos
É importante observar que o relacionados a esse tipo de exposição,
trabalhador pode interromper suas conforme descrito no capítulo 8.

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

3. Efeitos fisiológicos
relacionados ao calor

O
corpo humano possui mecanis- central são uma associação dos parâ-
mos de termorregulação que metros ambientais (temperatura do ar,
mantêm a sua temperatura umidade relativa do ar, velocidade do
central em torno de 36,5°C. A razão e ar e calor radiante), com parâmetros
a quantidade de calor trocado entre o individuais, sendo os principais a ativi-
organismo e o ambiente são governa- dade metabólica, nível de aclimatização,
das pelas leis da termodinâmica, dessa vestimenta utilizada, além de outros fa-
forma, o equilíbrio térmico depende do tores, como nível de hidratação, uso de
calor metabólico produzido pelo corpo medicamentos, drogas e abuso de ál-
e do calor trocado com o ambiente. cool. Fatores como idade, sexo e hábitos
Durante a exposição a ambientes em alimentares também influenciam o con-
que ocorre sobrecarga fisiológica com trole da temperatura corporal, assim
a realização de atividades físicas, é ne- como episódios anteriores de choque
hipertérmico ou repetidos episódios
cessário o aumento da dissipação do
de exaustão térmica, doenças crônicas
calor corporal para o ambiente, com o
pré-existentes e obesidade. Episódios
intuito de preservar o funcionamento
de diarreia, náusea ou vômito nos dias
dos sistemas e evitar danos aos tecidos
que antecedem a exposição ao calor
corporais. Para isso, o organismo con-
também são fatores que podem alterar
ta com mecanismos fisiológicos tanto
as respostas termoregulatórias e o con-
comportamentais, diretamente rela-
trole da temperatura corporal. Além
cionados à sensação e ao conforto tér-
disso, o calor pode agravar condições
mico percebido pelo indivíduo, quanto
pré-existentes (ex.: doenças cardiovas-
autonômicos termoregulatórios, cons-
culares e renais, entre outras), levando
tituídos basicamente pela vasodilatação
a um aumento no número de hospitali-
periférica e pela secreção do suor.
zações e atendimentos médicos, espe-
Quando os mecanismos de termor- cialmente durante as ondas de calor.
regulação se tornam insuficientes para Dessa forma, as respostas fisiológicas
manutenção da temperatura central podem variar amplamente, mesmo
em limites seguros, começam a ocor- entre indivíduos expostos a condições
rer os problemas relacionados ao calor. similares de trabalho e, portanto, não
As condições que provocam aumento há um limite seguro que proteja todos
excessivo da temperatura corporal os trabalhadores dos efeitos do calor.

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

De uma forma geral, as manifesta- de acidentes de trabalho, o que é es-


ções clínicas relacionados à exposição pecialmente crítico em setores que
excessiva ao calor são inespecíficas e envolvem atividades perceptivas e
de caráter progressivo: inicialmente psicomotoras.
ocorre um edema (inchaço) de mem- Um folheto com os principais fatores
bros, como consequência da vasodila- de risco associados à sobrecarga tér-
tação periférica, que pode ser sucedida mica, desenvolvido pelo NIOSH, pode
pelo aparecimento de câimbras causa- ser consultado em: https://www.cdc.
das pelo desequilíbrio hidroeletrolítico gov/niosh/mining/UserFiles/works/
em consequência da perda excessiva pdfs/2017-125.pdf.
de minerais. Após este estágio, podem
ocorrer a síncope e exaustão por ca-
3.1 Distúrbios induzidos pelo calor
lor e, por último, o chamado choque
hipertérmico (também conhecido As complicações em decorrência da
popularmente como insolação), um realização de trabalho em ambientes
quadro grave que pode levar à morte quentes podem levar a condições clíni-
se medidas emergenciais não forem cas que variam em sinais, sintomas e
adotadas imediatamente. gravidade clínica. A seguir, estão lista-
Os trabalhadores em risco são, das de forma progressiva as doenças
principalmente, aqueles que realizam mais comuns causadas pelo calor, in-
atividades físicas intensas em ambien- dicando os sinais e sintomas, medidas
tes quentes e úmidos, o que pode ser preventivas e de primeiros socorros.
agravado pela exposição à radiação so-
3.1.1 – Câimbras musculares
lar ou artificial. No entanto, ambientes
termicamente amenos, quando asso- A realização de trabalho em am-
ciados a atividades físicas mais inten- bientes quentes por período prolon-
sas, também podem apresentar riscos. gado pode induzir câimbras na mus-
Outro fator que pode agravar o estres- culatura corporal. Usualmente, as
se térmico é o uso de Equipamento de câimbras musculares aparecem de
Proteção Individual (EPI) ou vestimen- forma repentina, mas podem também
tas isolantes semipermeáveis ou im- ocorrer de forma progressiva, provo-
permeáveis, que podem prejudicar a cando contrações involuntárias e do-
dissipação do calor do corpo para o lorosas na musculatura corporal. As
meio e, por isso, devem ser levados câimbras induzidas pelo calor estão
em conta na avaliação da exposição relacionadas à sudorese excessiva e
ocupacional ao calor. baixos níveis de sódio no sangue e na
É importante observar ainda que, musculatura.
além dos efeitos efeitos à saúde saú- Sinais e sintomas: presença de rigi-
de, o estresse por calor pode afetar dez, pontadas, espasmos, tremores ou
diretamente o desempenho, a produ- contrações musculares (contraturas)
tividade e a vigilância do trabalhador, dos braços ou pernas, dor ou espas-
provocando um aumento no número mos no abdômen.

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

Medidas preventivas: Evitar trabalho Medidas preventivas: Hidratar-se


muscular excessivo e prolongado sem constantemente e realizar pausas, es-
pausas, reduzir a fadiga, promover a pecialmente quando há trabalho mus-
hidratação e reposição de eletrólitos, cular excessivo e prolongado. Estas
ou a combinação desses fatores. medidas visam repor água e eletrólitos
Medidas de primeiros socorros: perdidos na transpiração, assim como
Suspender a atividade de trabalho e reduzir a fadiga. Evitar longos períodos
realizar o alongamento da musculatu- de trabalho sem a ingestão de alimento.
ra com câimbra. Beber água e ingerir Medidas de primeiros socorros:
alimentos que contenham sódio e/ou in- Sentar ou deitar o trabalhador em um
gerir bebida eletrolítica. Caso a câimbra lugar fresco. Elevar as pernas quando a
não diminua e/ou o trabalhador tenha pessoa estiver na posição deitada pode
histórico de doenças cardiovasculares, ajudar o sangue a retornar ao coração
procure ajuda médica. e cérebro. Caso a pessoa esteja acorda-
3.1.2 – Síncope ou tontura da e consciente, ofereça água ou bebida
eletrolítica. Retirar roupas pesadas e
A síncope, ou tontura, pelo calor
EPIs para facilitar a dissipação de calor.
ocorre durante ou após a exposição
A utilização de ventiladores e toalhas
ao calor em que o trabalhador, ao mu-
úmidas é recomendada para resfriar
dar de postura (ex. da posição sentada
o corpo. Procure ajuda médica.
para posição em pé), apresenta perda
de consciência ou sensação de desmaio
iminente. Essa condição é atribuída à
3.1.3 – Exaustão pelo calor
redução de fluxo sanguíneo cerebral ou A exaustão pelo calor é induzida pelo
diminuição de substratos importantes trabalho prolongado em ambientes
para o cérebro (ex.: oxigênio, glicose). A quentes e ocorre quando o trabalha-
realização de trabalho em ambientes dor é incapaz de continuar a atividade
quentes por um longo período pode in- laboral. Usualmente, essa condição está
duzir à desidratação, que, associada à associada à hipertermia, desidratação
vasodilatação da pele provocada pelo e fadiga.
calor, resulta em redução do fluxo san-
guíneo para o cérebro. Adicionalmente, Sinais e sintomas: Sudorese abun-
o trabalho sob calor aumenta a utiliza- dante, tontura, fraqueza, sede, irritabili-
ção de glicose sanguínea, hepática e dade, dor de cabeça, vômitos e sensação
muscular, diminuindo a sua concentra- de calor excessivo. O trabalhador pode
ção no sangue e, consequentemente, a apresentar falta de coordenação mus-
oferta para o cérebro. cular, leve confusão mental e agitação.
Em alguns casos, pode ocorrer perda
Sinais e sintomas: Tontura, visão
de consciência súbita e desmaio.
turva ou embaçada, palidez, fraqueza
e sensação de desmaio ao ficar de pé ou Medidas preventivas: Evitar longos
após trabalho físico vigoroso no calor. períodos de trabalho extenuante no ca-
Em alguns casos pode ocorrer a perda lor. Hidratar-se constantemente e rea-
de consciência súbita (desmaio). lizar pausas, especialmente quando

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Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

há trabalho muscular excessivo e pro- for identificada esta condição e o


longado. Essas medidas visam repor indivíduo deve ser transportado
água e eletrólitos perdidos na trans- imediatamente para um hospital.
piração, e reduzir a fadiga. Recomenda-se a utilização de ventila-
dores, ar-condicionado ou a imersão
Medidas de primeiros socorros:
do corpo em banheira com água fria.
Sentar ou deitar o trabalhador em um
lugar fresco. Elevar as pernas quan- De acordo com o National Institute
do a pessoa está na posição deitada, for Occupational Safety and Health
para ajudar o sangue retornar ao co- (NIOSH, 2016), o prognóstico das doen-
ração e cérebro. Caso a pessoa esteja ças causadas pelo calor depende dos
acordada e consciente, ofereça água valores da temperatura central, da
ou bebida eletrolítica. Procure ajuda prontidão do socorro para diminuí-la,
médica ou encaminhe o trabalhador bem como do desequilíbrio hídrico e
ao serviço de emergência médica o eletrolítico, o que torna fundamen-
mais rápido possível. tal o estabelecimento de protocolos
de emergencia dentro das empresas
3.1.4 – Choque hipertérmico (in- (vide capitulo 9 deste guia).
solação)
3.2 Situações especiais
O choque hipertérmico pode ocor-
rer quando houver trabalho prolon- Além dos distúrbios citados no item
gado em ambientes quentes. É carac- anterior, que são os efeitos causados
terizado pelo aumento excessivo da diretamente pelo calor, a exposição
temperatura corporal (temperatura pode estar associada de forma indire-
central ≥ 40,5°C) associado a compro- ta a outras condições graves, como a
metimentos neuropsicológicos. Em rabdomiólise e hiponatremia.
alguns casos resulta da falência do A rabdomiólise resulta de lesões
sistema termorregulatório e, se não diretas ou indiretas do músculo es-
for tratada adequadamente, essa con- quelético, usualmente causado por
dição pode levar a lesões sistêmicas atividade muscular intensa, que leva
de tecidos e órgãos, e até à morte. à liberação de componentes intrace-
lulares na corrente sanguínea, como a
Sinais e sintomas: A disfunção do
mioglobina e proteínas sarcoplasmá-
sistema nervoso central é uma ca-
ticas, que podem, por sua vez, causar
racterística fundamental do choque
lesão renal aguda. O sintoma mais ca-
hipertérmico. O indivíduo poderá
racterístico é a urina escura (de aver-
apresentar irritabilidade, confusão,
melhada a marrom), acompanhado de
consciência alterada e colapso, sinto-
câimbras ou dor muscular e fraqueza.
mas estes, associados a uma tempe-
Nessas situações, o trabalhador deve
ratura central acima de 40,5°C.
interromper as atividades, ingerir
Medidas de primeiros socorros: água e procurar ajuda médica ime-
Medidas de resfriamento corpo- diatamente, informando a suspeita
ral devem ser iniciadas assim que de rabdomiólise.

15
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

A hiponatremia consiste em um de- encefalopatia, edema cerebral e pul-


sequilíbrio hidroeletrolítico causado monar, dificuldade respiratória e mor-
pela perda excessiva de eletrólitos e te. A ocorrência de hiponatremia não
consumo excessivo de água, resultan- é uma condição comum no ambiente
do em concentração plasmática de só- ocupacional; ainda assim, é importan-
dio menor que 136 mEq/L. Essa condi- te alertar que a ingestão de grandes
ção é associada à sudorese intensa e quantidades de água, associada à su-
ingestão de grandes volumes de água dorese intensa, sem reposição de mi-
sem reposição de sais. Embora pos- nerais durante a jornada de trabalho,
sa não haver sintomas, pode ocorrer pode diluir perigosamente o sangue.

16
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

4. Aclimatização

A
s constantes e crescentes a céu aberto apresenta maior com-
ondas de calor observadas plexidade, uma vez que as condições
ao longo das últimas décadas ambientais de calor não são controlá-
trazem à tona a busca por estratégias veis. Por outro lado, nessas situações,
para redução do estresse térmico e a atividade do trabalhador pode ser
dos seus efeitos em ambientes ocupa- moderada, a fim de se estabelecer um
cionais. Nesse sentido, a aclimatização plano de aclimatização (incluindo expo-
ao calor é uma das mais importantes sição intermitente e progressiva), para
intervenções que pode ser adotada, a o qual pode-se fazer uso da ferramenta
fim de reduzir o risco de doenças re- Monitor IBUTG, apresentada na seção 7.1
lacionadas ao calor. deste guia, uma vez que possibilita ao
Embora muitas vezes sejam utiliza- usuário fazer simulações de diferentes
das como sinônimos, a aclimatização situações térmicas sob a consideração
refere-se à adaptação que ocorre em do IBUTG previsto para as próximas ho-
ambientes quentes naturais, e a acli- ras e dias.
matação em ambientes controlados Fisiologicamente, o processo de acli-
ou artificiais (laboratórios ou câmaras matização ao calor ocorre por meio de
climáticas) (Wenger et al., 1988). A efe- mudanças autonômicas8 e comporta-
tividade do protocolo de aclimatização mentais, a partir da exposição prolon-
depende da intensidade do estresse gada e/ou repetida a ambientes quen-
térmico e da amplitude do distúrbio das tes. Essas mudanças incluem:
variáveis fisiológicas (ex.: temperatu-
ra central, frequência cardíaca). Desta • aumento na taxa de sudorese;
forma, a aclimatização é específica às • diminuição da frequência cardíaca
condições do ambiente e da atividade (FC);
metabólica em que foram desenvolvi-
• aumento do fluxo sanguíneo para a
das e, portanto, deve ser realizada em
pele, que facilita a perda de calor por
condições de sobrecarga térmica simi-
radiação, condução e convecção;
lares àquelas previstas para o trabalho
(ACGIH 2023). Nesse sentido, ressalta- • aumento da capacidade de dilata-
-se que a aclimatização de trabalhado- ção dos vasos sanguíneos da pele,
res que desenvolvem suas atividades que permite uma maior regulação
8 alterações que o sistema nervoso autônomo realiza para adaptar o organismo às condições de temperatura elevada

17
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

do fluxo sanguíneo em função da produzido por unidade de tempo (taxa


temperatura ambiente; de sudorese), com a redução da con-
centração de eletrólitos no suor e no
• diminuição do limiar de temperatu-
limiar da sudorese, auxilia na manu-
ra para o início da sudorese e da va-
tenção do balanço eletrolítico e favo-
sodilatação, que antecipam as res-
rece a perda de calor. A função renal
postas de perda de calor e evitam o
alterada pelo sistema neuroendócrino
aumento excessivo da temperatura
preserva o volume sanguíneo e diminui
do corpo.
o risco de desidratação.
Essas mudanças autonômicas ocor-
Não há consenso na literatura cien-
rem gradualmente ao longo de vários
tífica em relação à qual seria o melhor
dias de exposição, levando a uma maior
protocolo de aclimatização ao calor,
tolerância ao calor. Embora a maioria
embora haja evidências de que a fre-
dos trabalhadores saudáveis seja ca- quência e a intensidade das alterações
paz de se aclimatizar após um período fisiológicas durante as exposições se-
de exposição, alguns indivíduos podem jam importantes para o resultado do
se mostrar intolerantes ao calor. Essa processo. Existem diversas variáveis
intolerância pode estar relacionada a que podem ser ajustadas quando se
vários fatores e pode ser avaliada pelo pensa nesses protocolos, como a dura-
médico com a aplicação de um teste ção total do período de aclimatização,
de tolerância ao calor (Sawka et al., a frequência semanal das exposições
2011), especialmente importante após e a duração e intensidade da sessão
um episódio de exaustão pelo calor ou diária de aclimatização.
choque hipertérmico.
De acordo com o NIOSH (2016), a acli-
A aclimatização acarreta um au- matização ao calor pode ser induzida
mento na capacidade de realizar tra- com exposições diárias relativamente
balho em ambientes quentes, uma vez curtas, de pelo menos duas horas por
que reduz as sobrecargas cardiovas- dia, que podem ser divididas em duas
cular, metabólica e termorregulatória. com duração de uma hora. As adap-
Essa redução na sobrecarga fisiológi- tações fisiológicas ocorrem de forma
ca é acompanhada pela redução de progressiva e necessitam entre sete e
sintomas de doenças induzidas pelo 14 dias para serem completamente es-
calor, como câimbras, exaustão pelo tabelecidas. Esse processo é mais rá-
calor e choque hipertérmico. pido em pessoas jovens ou fisicamente
Em suma, no trabalhador aclimati- ativas do que em pessoas idosas e/ou
zado os processos de troca de calor sedentárias.
corporal são ativados precocemente Da mesma forma que o organismo
sendo também, mais efetivos. A trans- se aclimatiza quando exposto diaria-
ferência de calor das regiões internas mente a condições de estresse tér-
do corpo para a pele aumenta através mico, uma perda significativa desta
de mudanças no fluxo e volume san- adaptação ocorre quando o trabalha-
guíneos. O aumento do volume de suor dor se afasta por, pelo menos, sete dias

18
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

do trabalho. Após três semanas, esta pois pode ocorrer grande variabili-
perda é praticamente total, e uma nova dade temporal e espacial da tempe-
aclimatização torna-se necessária ratura e dos demais parâmetros que
antes do retorno ao trabalho. Nessas devem ser considerados na exposição
situações, o período de readaptação ao calor. Na Região Sul e em parte das
tende a ser menor. regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde
Estudos realizados pelo NIOSH (2016) as estações do ano são bem definidas,
mostram que a falta de aclimatização é normalmente ocorrem temperaturas
o principal fator associado à morte de baixas ou amenas entre final do outono
trabalhadores por calor. Por este mo- e início da primavera, e mais altas nas
tivo, todas as referências técnicas in- demais épocas do ano. Essa variabili-
ternacionais que tratam da exposição dade térmica ao longo do ano deve ser
ao calor recomendam que os empre- levada em conta, pois alguns estudos
gadores desenvolvam e implementem indicam que o primeiro episódio de ca-
um plano de aclimatização compatível lor do ano é mais impactante para a
com o tipo de atividade realizada. Isto saúde da população, justamente pela
vale para trabalhadores novos, para falta de aclimatização. E, mesmo no
trabalhadores que retornam após um decorrer da época quente, qualquer
período de afastamento ou, no caso parte do Brasil pode ser atingida por
de atividades realizadas a céu aberto, ondas de calor com aumento drástico
para trabalhadores que atuam numa dos valores de temperatura em poucos
área em que as temperaturas foram dias. Além disso, também podem ocor-
amenizadas durante um período de rer situações atmosféricas de menor
pelo menos sete dias, em função da escala temporal, que provocam grande
mudança temporária das condições variabilidade das temperaturas dentro
atmosféricas. de um único dia de trabalho.
A Norma de Higiene Ocupacional Do ponto de vista das atividades la-
NHO 06, da Fundacentro (NHO 06, borais, as diretrizes gerais do NIOSH
2017), e as normas legais brasileiras (2016) para os programas de aclima-
recomendam que as empresas imple- tização são:
mentem, a critério médico, um plano
de aclimatização estruturado e es- • O tempo de exposição ao calor deve
pecífico para a atividade desenvolvi- ser aumentado gradualmente por
da, para que, de forma progressiva, o um período de sete a 14 dias;
trabalhador seja exposto a condições • Para trabalhadores que nunca
similares àquelas previstas em sua ro- exerceram atividades em ambien-
tina normal de trabalho. tes quentes, o tempo de exposição
Para trabalhadores de áreas exter- no primeiro dia não deve ser supe-
nas, existem várias situações para as rior a 20% da duração normal do
quais é necessário realizar a aclima- trabalho, e o acréscimo de tempo a
tização. No Brasil, os empregadores cada dia consecutivo não deve ser
e trabalhadores devem ficar atentos, superior a 20%;

19
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

• Para trabalhadores que já exerce- as quais estavam expostos anterior-


ram atividade sob calor, é permitida mente. Os trabalhadores que, mesmo
uma exposição de até 50% da jor- aclimatizados, tenham se afastado da
nada de trabalho no primeiro dia, condição de exposição por mais de
seguida de 60% no dia 2, 80% no sete dias, devem passar por novo pro-
terceiro, e 100% no quarto dia. cesso de adaptação ao calor.
Para estar alinhado com a legislação O plano de aclimatização ao calor
brasileira e com o critério apresenta- deve ser desenvolvido sob supervi-
do na NHO 06, o desenvolvimento das são médica, considerando o período,
duas últimas diretrizes descritas aci- a frequência e a duração da exposi-
ma deverá considerar o conceito dos ção ao calor, de forma progressiva e
60 minutos mais críticos da exposição. individualizada, além da intensidade
Com relação à especificidade deste (metabolismo) das atividades realiza-
processo, a aclimatização deve ser re- das. Recomendações mais específicas
vista sempre que o trabalhador passar podem ser consultadas na NHO 06
a exercer atividades que impliquem (2017), nos documentos da ABHO (2023),
exposição mais crítica do que aquelas NIOSH (2016) e no site do NIOSH9.
9 https://www.cdc.gov/niosh/mining/UserFiles/works/pdfs/2017-124.pdf

20
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

5. Avaliação e
acompanhamento médico

A
ntes de iniciar quaisquer ativi- • identificação de todos os medica-
dades sob calor, o trabalhador mentos10 utilizados pelo trabalha-
deve passar por uma avaliação dor, para que o médico possa avaliar
médica de seu estado geral de saúde. eventuais impactos sobre os meca-
Esta avaliação visa prevenir as doen- nismos11 envolvidos no sistema car-
ças decorrentes da exposição ao ca- diovascular e termorregulatório;
lor, identificando condições clínicas
• informações sobre hábitos pessoais
e hábitos que favoreçam o desenvol-
relacionados ao uso de substâncias
vimento dessas patologias. Além dos
ilícitas, bem como álcool, cafeína,
exames clínicos e laboratoriais esta-
entre outras.
belecidos pelo médico, esta avaliação
deve incluir: Uma avaliação médica mais deta-
lhada pode ser solicitada a critério do
• histórico médico, indicando con- profissional de saúde responsável, por
dições pré-existentes que possam exemplo, quando o trabalhador apre-
afetar o sistema termorregulatório sentar histórico de doenças cardíacas,
ou a aclimatização ao calor; uso de determinados medicamentos,
• histórico ocupacional, incluindo o como anti-hipertensivos, doença pul-
período trabalhado em cada ativida- monar obstrutiva ou restritiva, dia-
de, riscos físicos e químicos a que o betes, doença renal ou rabdomiólise.
trabalhador esteve exposto, as de- Indivíduos com lesões em grandes
mandas e intensidades das exposi- áreas da pele, anidrose (incapacidade
ções ao calor, identificando episó- de secretar suor) ou obesidade tam-
dios de distúrbios relacionados ao bém tem o risco aumentado e devem
calor e de rabdomiólise, e períodos ser avaliados de forma mais criteriosa.
e condições anteriores de aclimati- Além desta avaliação inicial, quando
zação em atividades ocupacionais e o trabalho for realizado em condições
não ocupacionais; próximas aos limites de exposição, na
10 Estes incluem diuréticos, drogas anti-hipertensivas (por exemplo, atenolol, betaxolol), sedativos, antiespasmódicos,
psicotrópicos, anticolinérgicos e drogas que podem alterar a sede (haloperidol) ou o mecanismo de suor (por exemplo, fenotiazinas,
anti-histamínicos, anticolinérgicos).
11 Uma lista dos principais medicamentos e seus mecanismos de ação é apresentada na Tabela 4.2 da página 39 do Criteria
for a Recommended Standard: Occupational Exposure to Heat and Hot Environments, acesso em https://www.cdc.gov/niosh/docs/2016-106/
default.html

21
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

região de incerteza definido pela NHO fisiológica decorrente dessa exposição


06, ou forem identificados fatores que pode variar amplamente, mesmo entre
elevam o risco de sobrecarga térmica indivíduos expostos a condições simi-
e fisiológica, é recomendável que seja lares de trabalho, e depende de uma
implementado um programa de acom- grande variedade de parâmetros.
panhamento médico, considerando a
O monitoramento fisiológico consis-
necessidade de exames complemen-
te na medição direta ou indireta das
tares e monitoramento fisiológico, que
respostas fisiológicas do organismo ao
deve estar previsto no Programa de
estresse térmico a que está submetido
Controle Médico de Saúde Ocupacional
(ambiental e metabólico). Esta estra-
(PCMSO) (Anexo 3 da NR09 – item 3.2.3).
tégia se mostra mais efetiva, uma vez
Essa vigilância, que deve ser sempre
que os efeitos da exposição são avalia-
realizada a critério médico, visa:
dos de forma individualizada, levando
• a identificação precoce de sinais ou em consideração as características
sintomas relacionados a doenças pessoais e condições de saúde dos in-
de calor, com a prevenção de resul- divíduos. Dependendo do parâmetro
tados adversos e agravamento das avaliado, o monitoramento fisiológico
condições; pode ser utilizado para monitorar os
trabalhadores ao longo da jornada de
• a identificação de sobrecarga fisio-
trabalho, e pode detectar sinais de desi-
lógica excessiva.
dratação, fadiga, hipertermia ou doen-
Apesar do monitoramento fisioló- ça pelo calor em tempo real e indicar
gico ser citado na legislação, o texto a necessidade de intervenções. Este
não traz maiores detalhes, deixando procedimento pode ser especialmente
a critério do médico responsável a de- útil no acompanhamento de indivíduos
finição da metodologia e dos parâme- não aclimatizados, intolerantes ao ca-
tros a serem monitorados. No tópico a lor ou que apresentem alguma condi-
seguir, são apresentadas as principais ção médica que prejudique as trocas
diretrizes deste procedimento. de calor com o meio. Adicionalmente, o
monitoramento fisiológico é recomen-
5.1 Monitoramento fisiológico dado em ocupações em que o estres-
se térmico é severo e pode colocar em
Os índices de calor, como o Heat
risco a saúde do trabalhador.
Index e o IBUTG, são desenvolvidos
com o objetivo de proteger a grande Diversos parâmetros podem ser uti-
maioria dos trabalhadores de doenças lizados para monitorar a resposta do
e lesões relacionadas ao calor, indi- organismo ao calor. A ACGIH (2023) re-
cando as condições de exposição que comenda o acompanhamento da FC e
podem representar riscos de doenças respectivo tempo de recuperação, bem
ou lesões, e estabelecendo critérios como da temperatura central do cor-
para definir a necessidade ou não da po. Devem ser observados, também,
adoção de medidas de controle. No a ocorrência de sudorese intensa, a
entanto, como já foi dito, a resposta perda de peso durante a jornada de

22
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

trabalho, que não deve exceder 1,5 % NIOSH (2016) descreve diferentes pa-
do peso corporal, e a taxa de excreção râmetros que podem ser utilizados
de sódio urinário, esse último indicado no monitoramento fisiológico, junta-
para acompanhamento de situações mente com suas formas de avaliação.
mais severas. O documento da ACGIH São eles: o histórico de exposição ao
(2023) cita ainda, que é importante ob- calor, temperatura central, FC, peso
servar a ocorrência de sintomas como corporal (relacionado à desidrata-
fadiga severa e repentina, náuseas, ção), pressão arterial sanguínea, fre-
quência respiratória e nível de alerta
vertigens, tontura e sudorese intensa
(confusão mental). Esses parâmetros,
ao longo da jornada de trabalho.
procedimentos e suas limitações são
Em um estudo mais completo, o apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Exemplos de monitoramento fisiológico utilizados para a prevenção de


doenças relacionadas ao calor.

Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Histórico de Por meio de Antes de iniciarem Um histórico de doença Autorrelato pelos
exposição ao calor entrevistas ou e/ou retornarem relacionada ao calor aumenta trabalhadores acarreta
pela aplicação de ao trabalho em um o risco de reincidência risco de omissão intencional
questionários ambiente quente, O estado de aclimatização deve ou acidental do histórico
os trabalhadores ser avaliado médico ou das condições
devem ser que poderiam aumentar o
autorizados pelo Condições médicas pré- risco durante o trabalho em
profissional de existentes, medicamentos de ambientes quentes
saúde responsável venda livre ou prescritas e
suplementos que podem afetar
a tolerância ao calor devem ser
considerados
Frequência Verificação do Antes do início A FC deve cair rapidamente, Muitos fatores individuais
cardíaca (FC) pulso radial: do trabalho, em aproximando-se da FC de não relacionados ao estresse
contar o número repouso, para repouso, quando o trabalhador térmico, podem causar um
de batidas por determinar FC de estiver descansando em um aumento da FC (ex.: esforço
minuto (bpm), repouso, e após a ambiente fresco físico, condição física, febre
sentindo a exposição ao calor A FC permanecerá elevada decorrente de uma infecção,
pulsação no (ex.: 1 a 3 minutos em um trabalhador que sofre dor de uma lesão ou ataque
interior do pulso após o término de uma doença relacionada cardíaco, desidratação)
De forma contínua do período de ao calor O uso de medicamentos
com o uso de um trabalho) (ex.: betabloqueadores) ou
monitor cardíaco O uso da cinta condições médicas pré-
(cinta torácica) torácica permite existentes (ex.: bradicardia
obter a FC ao longo sinusal, hipotireoidismo,
de todo o turno de marca-passo) podem suprimir
trabalho a FC
A sobrecarga As cintas torácicas devem
fisiológica é estar devidamente ajustadas;
indicada por uma perda de dados pode ocorrer
FC, sustentada quando o contato com a pele
acima de 180 bpm é perdido durante o esforço
menos a idade do ou quando há transpiração
trabalhador excessiva
Temperatura O aumento da temperatura A temperatura corporal
indica: 1) que o corpo não está geralmente diminui mais
esfriando tão rapidamente lentamente do que a FC, em
quanto necessário, ou 2) falha dos resposta ao estresse térmico
mecanismos de resfriamento

( ... ) 23
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )

Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Temperatura Medição da Inexato se a medição for feita As temperaturas orais são
oral: medida com Temperatura em logo após a ingestão de bebidas geralmente 0,5°F (cerca de
termômetro oral repouso em um frias 0,3 °C) mais baixas do que
ambiente fresco temperatura central do corpo
Durante o pico
de temperatura
ambiental ou no
pico de sobrecarga
térmica; e,
novamente, após
o período de
trabalho
Temperatura Durante o pico Medida mais próxima à As medidas fornecidas por um
auricular: medida de temperatura temperatura central do que a termômetro infravermelho
com termômetro ambiente oral. No entanto, esse método não devem ser interpretadas
infravermelho prevista no local ainda pode sofrer influência da da mesma forma que os dados
colocado no canal de trabalho e, temperatura do ambiente obtidos por um termômetro
auditivo, mas novamente, após que utiliza um sensor
sem estar em o período de diretamente no tímpano
contato direto trabalho Erros e leituras baixas podem
com a membrana ocorrer se houver cera
timpânica excessiva no ouvido
Não deve ser usado em
caso de infecção ou cirurgia
recente no ouvido
Temperatura Os dispositivos Fornece a medida mais Os trabalhadores devem
central (intestinal): de detecção próxima à temperatura central passar por uma triagem
medida com contínua medem Existem sensores com sistema para verificar a existência
sensor eletrônico a temperatura de alarme automatizado para de condições que possam
inerte, que durante os alertar, em tempo real, quando comprometer a ingestão
transmite períodos de as temperaturas centrais segura do sensor
os dados de trabalho e especificadas forem excedidas, O sensor deve ser ingerido
temperatura descanso possibilitando a remoção com alimentos ou água, para
central do corpo O sensor é imediata dos trabalhadores garantir que deixe o estômago
em tempo real engolido antes de para um ambiente fresco e entre no intestino delgado
ao percorrer o iniciar o trabalho Dependendo do sistema, antes dos dados serem
intestino. e excretado os dados de temperatura coletados
normalmente na central somente podem ser Quedas artificias nos valores
evacuação visualizados após o download de temperatura podem
no final do turno de trabalho ocorrer após a ingestão
de líquidos frios. Os dados
precisam ser devidamente
tratados antes da análise
Caso o sensor seja excretado
durante o turno de trabalho, a
coleta de dados será parcial
Peso corporal Pode ser utilizada Antes e A perda de peso pode indicar O individuo deve ser pesado
uma balança imediatamente que os fluidos perdidos não em balanças com boa precisão
doméstica com após a exposição estão sendo adequadamente ou calibradas, vestindo apenas
boa precisão ao calor repostos roupas íntimas, a fim de
O ideal é a minimizar o erro, devido ao
utilização de uma peso do suor absorvido pela
balança digital roupa
calibrada

Pressão arterial Medição da Antes e após A pressão arterial não se Deve-se ter certeza de que
pressão arterial o período de restabelece tão rapidamente o braço está estendido,
com medidores trabalho quando um trabalhador está o indivíduo sentado com
automáticos clini- sofrendo de doenças de calor o punho adequado para
camente validados A postura pode afetar a medição e as pernas
ou esfigmomanô- a pressão arterial em descruzadas durante a
metro e estetos- trabalhadores com doenças medição
cópio; medição relacionadas ao calor e deve A desidratação pode afetar
das respirações ser levada em consideração a pressão arterial e, por isso,
por minuto com nos diferentes métodos de ela precisa ser verificada na
cronômetro. monitoramento fisiológico avaliação
( ... )
24
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )

Parâmetro de
Como avaliar Quando avaliar Informações adicionais Limitações
Monitoramento
Frequência Contar o número Antes e após A frequência respiratória É impactada por outros
respiratória de respirações por o período de não retorna ao valor inicial fatores fisiológicos (ex.:
minuto utilizando trabalho tão rapidamente quando um acidose metabólica por
um cronômetro trabalhador está sofrendo de produção de lactato em
doenças de calor esforço anaeróbico)
Condições médicas pré-
existentes (ex.: asma ou
tabagismo) podem impactar a
função pulmonar, resultando
em frequência respiratória
anormalmente alta e/ou tempo
de recuperação prolongado
Fonte: Adaptado de NIOSH (2016)

Nota: esta tabela cita de forma geral alguns parâmetro e procedimentos para realização do monitoramento fisiológico.
Sua aplicação em ambientes ocupacionais, assim como outros detalhamentos, devem ser elaborados pelos responsáveis
pelo controle médico, considerando inclusive, as questões individuais.

O monitoramento fisiológico é uma • dificuldade de acesso ou custo ele-


ferramenta importante, principal- vado destes dispositivos;
mente diante das perspectivas das
• falta de padronização e validação
mudanças climáticas, que conforme
o último relatório do Intergovernmental das metodologias envolvidas;
Panel on Climate Change (IPCC), mesmo • resistência dos trabalhadores de-
sob cenários futuros mais otimistas já vido ao caráter invasivo de alguns
apontam para aumento significativo dispositivos ou ao desconforto em
da temperatura da Terra (IPCC, 2021). sua utilização, que podem limitar
No Brasil, há fortes indícios de que as os movimentos e interferir na sua
situações de estresse por calor ocor- rotina ou privacidade;
rerão com maior frequência nas pró-
ximas décadas, com expectativas de • capacitação de profissionais de saú-
valores de IBUTG maiores do que os de para realizarem os procedimen-
observados em períodos anteriores a tos e as intervenções necessárias.
1990 (Bitencourt et al, 2020), o que tor- Por outro lado, se considerarmos
na premente a adoção desses cuidados
o avanço tecnológico e o desenvolvi-
no ambiente ocupacional.
mento de dispositivos cada vez mais
Contudo, existem dificuldades práti- compactos, o monitoramento dos pa-
cas para seu uso nos ambientes de tra- râmetros fisiológicos deve se tornar
balho, relacionadas principalmente à: mais viável e eficiente em futuro pró-
• necessidade de equipamentos es- ximo, atuando como uma importante
pecíficos para medir parâmetros ferramenta nas questões relaciona-
como FC, temperatura corporal e das à saúde do trabalhador exposto
perda de massa (peso); ao calor intenso.

25
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

6. Avaliação da exposição
ocupacional ao calor

A
legislação brasileira adota o • descrição das atividades, conside-
IBUTG como índice de referên- rando a jornada de trabalho, as pau-
cia nas avaliações da exposição sas, medidas de controle existentes
ocupacional ao calor, tanto para fins e demais peculiaridades e especifici-
preventivos quanto de insalubridade e dades que envolvem as condições de
previdenciário. trabalho, por meio de observações de
A avaliação quantitativa no local, em campo, com a identificação de grupos
ambientes internos ou externos, com ou de exposição similar e da condição
sem fontes artificiais de calor, envolve: (hora) mais crítica de exposição;
1) determinação do IBUTG por meio do • estimativa da taxa metabólica de
uso de medidores de IBUTG; 2) análise trabalho;
da atividade executada pelo trabalhador • análise das vestimentas para ajuste
para a estimativa do calor metabólico, e do IBUTG efetivo, se necessário;
3) análise do tipo de vestimenta utilizada,
assim como o uso ou não de capuz, que • medição/estimativa do IBUTG;
pode influenciar a perda de calor pelo • determinação do NA e LE, e interpre-
corpo e requerer correções no IBUTG. tação dos resultados;
No caso de ambientes rurais a céu • indicação das medidas preventivas e
aberto, sem fontes artificiais de calor, e corretivas a serem adotadas.
exclusivamente para fins preventivos, O detalhamento dos procedimen-
além da medição in loco, a avaliação da tos e diretrizes gerais desta avaliação
exposição ocupacional ao calor pode ser estão descritos na NHO06 (2017) da
realizada através da ferramenta Monitor Fundacentro e os requisitos legais po-
IBUTG, desenvolvida pela Fundacentro e dem ser consultados nos Anexos de ca-
disponibilizada gratuitamente por meio lor das NR09 e NR15.
do site e aplicativo de celular (ver item 7.2).
As etapas principais para avaliar a ex- 6.1 Variáveis envolvidas na ava-
posição ocupacional ao calor com base liação da exposição
no IBUTG são:
O equilíbrio térmico e a quantidade de
• reconhecimento do local (ambien- calor trocado entre o corpo e o ambien-
te) de trabalho e das atividades te dependem de parâmetros ambien-
desenvolvidas; tais - temperatura do ar (T), radiação

26
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

(R), umidade do ar (UR) e velocidade do 6.1.2 Taxa Metabólica


ar (V), bem como dos parâmetros indi- A taxa metabólica ou metabolismo de
viduais: isolamento térmico das vesti- trabalho (M) está associada à quantidade
mentas e metabolismo da atividade. de energia utilizada pelo corpo na reali-
Com base nos parâmetros ambientais, zação de tarefas laborais, gerando calor
obtêm-se a temperatura de globo (Tg) e que deve ser dissipado para o ambiente.
a temperatura de bulbo úmido natural Este metabolismo define os valores de
(Tbn), que juntamente com a temperatura NA e LE, que representam condições
do ar (também chamada de tempera- limítrofes para a manutenção do equilí-
tura de bulbo seco – T), definem o valor brio térmico do corpo em trabalhadores
de IBUTG, dado em °C. Para verificar a não aclimatizados e aclimatizados, res-
conformidade da exposição com o nível pectivamente, para ciclos de uma hora
de ação e limite de exposição, é neces- de trabalho.
sário ainda, conhecermos a taxa meta- A NHO 06 (2017) fornece uma estimati-
bólica (M) e o isolamento térmico das va da M através da composição de movi-
vestimentas. mentos do corpo, como mostra a Tabela
2. Essa estimativa, prevista na legislação
6.1.1 O IBUTG brasileira, teve como referência o pro-
Os cálculos do IBUTG para ambientes cedimento descrito na ISO 8996 (2004),
com e sem carga solar direta são rea- correspondendo ao nível 2 de análise
lizados através de equações distintas. (Observation). Segundo a norma ISO ci-
Para ambientes externos com carga tada, essa metodologia fornece valores
solar direta, ou seja, quando não há com erros em torno de 20%.
nenhuma interposição como nuvens, Importante ressaltar que os dados da
anteparos, telhas de vidro etc., temos: Tabela 2 não representam atividades
IBUTG = 0,7 Tbn + 0,2 Tg + 0,1 T específicas; eles somente fornecem ele-
mentos para que as atividades possam
No caso de ambientes internos ser analisadas pela composição de um
ou externos sem carga solar direta, ou mais tipos de movimentos. Desta for-
utiliza-se: ma, é necessário que o avaliador realize
IBUTG = 0,7 Tbn + 0,3 Tg um estudo de “tempo e movimento” das
sendo Tbn - temperatura de bulbo úmido atividades executadas, ou seja, uma des-
natural, em °C crição detalhada, levando-se em consi-
Tg - temperatura de globo, em °C deração os movimentos, as “pausas”, os
tempos de duração, além da velocidade
T - temperatura do ar, em °C
e esforços empreendidos para cada
Os equipamentos eletrônicos disponí- modo de execução da tarefa. A atividade
veis no mercado fornecem os valores de avaliada pode requerer, por exemplo, a
IBUTG, tanto para ambientes internos movimentação contínua ou intermitente
quanto externos, sendo necessário apli- de uma ou mais partes do corpo, como
car a correção para vestimentas sobre braços, pernas e tronco, em diferentes
este valor. intensidades e duração. O avaliador deve

27
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

utilizar esses dados para obter um va- enquadre à tabela de “Taxa metabólica
lor médio aproximado que melhor se por tipo de atividade” (Tabela 2).
Tabela 2: Taxa metabólica por tipo de atividade
Atividade Taxa metabólica(a) (W)
Sentado
Em repouso 100
Trabalho leve com as mãos 126
Trabalho moderado com as mãos 153
Trabalho pesado com as mãos 171
Trabalho leve com um braço 162
Trabalho moderado com um braço 198
Trabalho pesado com um braço 234
Trabalho leve com dois braços 216
Trabalho moderado com dois braços 252
Em pé, agachado ou ajoelhado
Em repouso 126
Trabalho leve com as mãos 153
Trabalho moderado com as mãos 180
Trabalho pesado com as mãos 198
T rabalho leve com u m b raç o 189
Trabalho moderado com um braço 225
Trabalho pesado com um braço 261
Trabalho leve com dois braços 243
Trabalho moderado com dois braços 279
Trabalho pesado com dois braços 315
Trabalho leve com o corpo 351
Trabalho moderado com o corpo 468
Trabalho pesado com o corpo 630
Em pé, em movimento
Andando no plano
1- Sem carga
2 km/h 198
3 km/h 252
4 km/h 297
5 km/h 360
2- Com carga
10 kg, 4 km/h 333
30 kg, 4 km/h 450
Correndo no plano
9 km/h 787
12 km/h 873
15 km/h 990
Subindo rampa
1- Sem carga
com 5° de inclinação, 4 km/h 324
com 15° de inclinação, 3 km/h 378
com 25° de inclinação, 3 km/h 540
2- Com carga de 20 kg
com 15° de inclinação, 4 km/h 486
com 25° de inclinação, 4 km/h 738
Descendo rampa (5 km/h) sem carga
com 5° de inclinação 243
com 15° de inclinação 252
com 25° de inclinação 324
Subindo escada (80 degraus por minuto – altura do degrau de 0,17 m)
Sem carga 522
( ... )
28
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
Atividade Taxa metabólica(a) (W)
Com carga (20 kg) 648
Descendo escada (80 degraus por minuto – altura do degrau de 0,17 m)
Sem carga 279
Com carga (20 kg) 400
Trabalho moderado de braços (ex.: varrer, trabalho em almoxarifado) 320
Trabalho moderado de levantar ou empurrar 349
Trabalho de empurrar carrinhos de mão, no mesmo plano, com carga 391
Trabalho de carregar pesos ou com movimentos vigorosos com os braços 495
(ex.: trabalho cm foice)
Trabalho pesado de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remoção com 524
pá, abertura de valas)
a) Taxa metabólica definida para o homem padrão (área superficial igual a 1,8 m2)
M [kcal/h] = 0,859845 x M [W]
Fonte: NHO 06 (2017)

6.1.3 Vestimentas casos em que as roupas dificultam a


O IBUTG foi desenvolvido empirica- perda de calor pelo corpo, a contribui-
mente para trabalhadores vestindo ção pode ser também no sentido de
resfriar o corpo (incrementos negati-
uniformes tradicionais de algodão,
vos). Isso ocorre, por exemplo, quando
compostos por calça e camisa de man-
se utiliza coletes com sistemas de re-
ga comprida. Embora há mais de uma
frigeração. Os valores apresentados na
década a ACGIH recomende a corre-
Tabela 3 são apenas estimativas, sendo
ção do IBUTG em função do tipo de rou-
que o avaliador deve ter em mente que
pa utilizada, a norma ISO 7243 passou
o isolamento térmico das vestimentas
a considerar este parâmetro apenas
depende de uma série de fatores, como
em sua terceira edição (ISO 7243, 2017).
tipo de tecido, espessura, número de
A NHO 06 também passou a adotar o camadas e ajuste ao corpo. Se o tipo de
ajuste do IBUTG a partir de sua segun- roupa utilizado não estiver descrito na
da edição (NHO 06, 2017), apresentando tabela, faz-se necessária a avaliação
incrementos do índice em °C para os por um especialista, que poderá buscar
principais tipos de roupas utilizadas outras referências na literatura espe-
no ambiente ocupacional (Tabela 3). cializada, como por exemplo a norma
Embora essa tabela aborde somente ISO 9920 (2007).
Tabela 3: Incrementos de ajuste do IBUTG médio para alguns tipos de vestimentas
Tipo de vestimenta Adição ao IBUTG [°C]
Calça e camisa de manga curta -1
Uniforme de trabalho (calça e camisa de manga longa) 0
Macacão de tecido simples 0
Macacão de polipropileno SMS (Spun-Melt-Spun) 0,5
Macacão de poliolefina 1
Vestimenta ou macacão forrado (tecido duplo) 3
Avental longo de manga longa impermeável ao vapor 4
Macacão impermeável ao vapor 10
Macacão impermeável ao vapor sobreposto à roupa de trabalho 12
*Vestimentas com capuz devem ter seu valor acrescido em 1 °C
Fonte: ABHO (2023)

29
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

6.2 Limite de Exposição (LE) ambientais representadas por IBUTG


médio ponderado no tempo (IBUTG), e
O LE foi desenvolvido com o objetivo
das vestimentas utilizadas, conforme
de proteger, dos efeitos adversos do
Tabela 3. Esta avaliação deve ser rea-
calor, a maioria dos trabalhadores que
lizada sempre na hora mais crítica do
se encontram repetidamente expostos
turno de trabalho, para garantir que
a este agente durante a sua vida de tra-
as medidas de prevenção e controle
balho. Esta avaliação permite estimar
os riscos e definir a necessidade de sejam suficientes para as condições
medidas de controle, a fim de manter mais severas a que o trabalhador es-
as condições de exposição em níveis tará exposto.
aceitáveis. Os LE e NA podem ser calculados
A princípio, todos os trabalhadores através das fórmulas a seguir:
expostos ao calor devem ser avaliados Limite de Exposição (LE) para traba-
e acompanhados, mas, na prática, a lhadores aclimatizados
identificação de grupos de trabalha- LE = 56,7 − 11,5 log (M)
dores que apresentam características
similares de exposição permite redu- Limite de Exposição para trabalha-
zir o número de avaliações. A NHO06 dores não aclimatizados ou NA para
(2017) ressalta que os trabalhadores trabalhadores aclimatizados
que compõem o Grupo de Exposição NA = 59,9 − 14,1 log (M)
Similar (GES) devem ser aqueles que
Nessas fórmulas, a taxa metabólica
estão, efetivamente, expostos a condi-
(M) é expressa em Watts (W), e os LE e
ções térmicas similares, e que estes
NA, em graus Celsius (°C).
grupos não necessariamente coinci-
dem com cargos, setores, departamen- Os valores de LE e NA fornecidos
tos ou grupos de exposição similar re- pela NHO 06 (2017) derivam dessas
ferentes a outros agentes ambientais. fórmulas e podem ser consultados no
ANEXO 1, ao final deste documento.
Devido aos efeitos agudos provo-
cados pelo calor, que podem se mani- A metodologia completa de avalia-
festar rapidamente, o LE ao calor foi ção, incluindo os cuidados na medição,
definido para um período de 1 hora, a interpretação dos resultados e os cri-
e depende da taxa metabólica média térios para a tomada de decisão, po-
ponderada do tempo (M), das condições dem ser consultados na NHO 06 (2017).

30
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

7. Obtenção do IBUTG

A
s configurações dos equipamen- pelo Instituto Nacional de Meteorologia
tos, que podem ser utilizados na (INMET). Essa ferramenta está disponí-
avaliação da exposição ocupacio- vel gratuitamente através de aplicativo
nal ao calor, são apresentadas na NHO 06 de celular (Android e iOS) e de endereço
(2017), juntamente com o detalhamento na Web12, para acesso via computador,
dos procedimentos de medição, conduta tendo sido desenvolvida com o objetivo
do avaliador, montagem, posicionamen- de auxiliar trabalhadores, empregado-
to e principais acessórios complementa- res e profissionais de SST na avaliação
res disponíveis no mercado. da exposição ocupacional ao calor em
Em ambientes internos, com ou sem ambientes de trabalho externos, sem
fontes artificias de calor, o IBUTG deve fontes artificiais de calor.
ser determinado por meio destes equi- Os resultados de IBUTG, assim como
pamentos. Para ambientes rurais a céu o índice ajustado em função da vesti-
aberto, onde não há fontes artificiais menta utilizada, o metabolismo de tra-
de calor, a legislação vigente (Anexo 3 balho e os demais parâmetros envolvi-
da NR09) permite, além das medições dos no cálculo do índice são fornecidos
convencionais, uma segunda alterna- de hora em hora, para o turno diurno
tiva: a estimativa do IBUTG por meio da de trabalho (8 às 17h). Estas estimativas
ferramenta Monitor IBUTG desenvolvida se apresentam como uma importante
pela Fundacentro. As principais carac- opção na avaliação do calor em ambien-
terísticas dessa ferramenta são apre- tes externos que não possuam medi-
sentadas a seguir. ções in loco. Além do monitoramento
online, o sistema fornece relatórios
7.1 Monitor IBUTG para períodos passados, permitindo ao
O Monitor IBUTG é uma ferramenta usuário levantar um histórico da expo-
desenvolvida pela Fundacentro, que sição do trabalhador ao calor a partir
possibilita monitorar a exposição ao de 2016. Outra grande funcionalidade
calor em ambientes de trabalho ru- dessa ferramenta é que, com base em
rais a céu aberto, estimando os valo- dados de previsão de tempo fornecidos
res de IBUTG de forma remota, para pelo Instituto Nacional de Pesquisas
quaisquer localidades no Brasil onde Espaciais (INPE), é possível estimar o
haja medição de dados meteorológicos IBUTG para os horários do dia corrente
12 https://monitoributg.fundacentro.gov.br/Inicio

31
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

que não tenham dados do INMET, assim de M se este for conhecido. Deve-se in-
como para os sete dias subsequentes, formar também o tipo de cobertura do
fornecendo informações para que o em- solo, o tipo de vestimenta utilizada e se o
pregador possa programar as atividades trabalhador utiliza ou não capuz. Estas
e suas respectivas medidas de controle informações sobre as vestimentas são
para um período de alguns dias. É impor- utilizadas para corrigir o IBUTG, obten-
tante salientar que, independentemente do-se o IBUTG ajustado.
das questões relacionadas à insalubrida-
Resumidamente, para a avaliação da
de para atividades a céu aberto, quando
exposição ocupacional ao calor atra-
as exposições ocorrem acima dos limites
vés do Monitor IBUTG, o usuário deve
de exposição, o empregador deve adotar
informar:
as medidas necessárias para o controle
do risco. • a localização do trabalho (quando o
usuário estiver no local a ser avaliado,
A metodologia de estimativa do IBUTG,
a localização pode ser detectada auto-
obtida a partir de dados meteorológicos e
maticamente pelo sistema utilizando
utilizada no Monitor IBUTG, foi desenvolvi-
o GPS);
da através da condução de observações
em campo, análises estatísticas dos da- • o período da avaliação, caso o usuário
dos e formulações matemáticas. O méto- deseje a emissão de relatórios para
do, que foi idealizado e iniciado em 2009, períodos anteriores (quando nenhum
utiliza uma equação de regressão linear período é informado, a avaliação é
para a Tbn e equação de balanço térmico realizada para o turno diurno de tra-
do globo para a Tg. O estudo foi realizado balho do dia atual, de dois dias anterio-
em ambientes de trabalho a céu aberto res e para mais 7 dias subsequentes);
de áreas rurais e, portanto, o método
• as atividades laborais com as respec-
utilizado não deve ser considerado para
tivas durações em minutos dentro de
ambientes de trabalho a céu aberto em
um período corrido de 60 minutos;
áreas urbanas. A metodologia completa
utilizada nesses cálculos está descrita no • a cobertura de solo do local de
artigo de MAIA et al. (2015). trabalho;
Além da estimativa do IBUTG a partir • o tipo de vestimenta e se usa ou não
de dados meteorológicos, o Monitor IBUTG capuz.
fornece uma avaliação completa da ex-
Fornecidas estas informações, o
posição ocupacional ao calor. Essa ava-
usuário recebe a avaliação da exposição
liação é realizada a partir do local onde
ocupacional ao calor a cada hora, com a
se encontra o usuário no momento da
consulta ou para outro local definido indicação das respectivas medidas pre-
pelo usuário. Basta informar os tipos de ventivas ou corretivas necessárias.
atividade realizadas pelo trabalhador Detalhes de todas as funcionalidades
com os seus respectivos tempos de du- do Monitor IBUTG, assim como a meto-
ração, para que o sistema possa calcular dologia e fonte de dados utilizados, po-
a taxa metabólica média, M. Há ainda a dem ser acessados através do Menu
opção de se inserir diretamente o valor do sistema.

32
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

8. Medidas preventivas
e corretivas relacionadas
à exposição ao calor

A
s atividades laborais em am- As medidas preventivas visam mi-
bientes quentes serão execu- nimizar a probabilidade de prejuízos
tadas de forma mais segura se à saúde do trabalhador, entre as quais
todos tiverem compreensão dos fato- podem ser citadas:
res de risco que contribuem para o es- • monitoramento periódico da expo-
tresse térmico e souberem identificar sição, que consiste em uma avalia-
as melhores estratégias de prevenção. ção sistemática e repetitiva da ex-
Conhecer a importância e os meca- posição dos trabalhadores ao calor,
nismos da aclimatização, hidratação e visando a um acompanhamento dos
pausas ao longo da jornada de trabalho níveis de exposição e das medidas
como medidas de redução do estresse de controle para identificar a ne-
térmico também podem promover um cessidade de introdução de novas
ambiente de trabalho mais seguro, mo- medidas ou modificação daquelas
tivando as pessoas a adotarem compor- já existentes;
tamentos preventivos de forma mais
• disponibilização de água e sais mi-
consciente.
nerais para reposição adequada da
Todos os trabalhadores e seus su- perda de líquido pelo suor, segun-
pervisores, iniciantes ou experientes, do orientação médica – à medida
que exerçam atividade profissional em em que as atividades passam a ser
locais onde há riscos de lesão ou doen- moderadas e os ambientes tornam-
ça por calor, devem ser orientados e se mais quentes, recomenda-se que
capacitados por meio de educação os trabalhadores bebam água de
continuada. forma mais frequente;
De acordo com as diretrizes técnicas • treinamento e informação aos tra-
e legais, da NHO06 (2017) e do Anexo 3 balhadores e supervisores;
da NR09, as medidas preventivas devem • controle médico, envolvendo exa-
ser adotadas a partir do NA e as medi- mes médicos admissionais e pe-
das corretivas quando o LE for ultra- riódicos, com foco na exposição ao
passado. A aclimatização é uma medida calor, visando à determinação e ao
obrigatória a partir do NA, e pela sua im- monitoramento da aptidão física
portância, foi abordada separadamente, e à manutenção de um histórico
no capítulo 4 deste Guia. ocupacional;

33
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

• permissão para interromper o tra- • o plano de emergência desenvolvi-


balho quando o trabalhador sentir do pela organização e as condutas
desconforto excessivo ao calor, a serem adotadas nessas situações;
identificar sinais de alerta ou con-
• os efeitos de drogas terapêuticas,
dições de risco à sua saúde; medicamentos, álcool e cafeína
• programar os trabalhos pesados, sobre o sistema termorregulador,
preferencialmente para períodos que podem reduzir a tolerância ao
com condições térmicas mais ame- calor, assim como ocorre quando
nas, desde que neles não ocorram episódios de febre, diarreia, náusea
riscos adicionais. ou vômito acontecem nos dias que
antecedem a atividade;
Nos programas de treinamento, os
trabalhadores e supervisores devem • devem ser abordados também as
ser informados e orientados sobre: doenças que podem limitar o tra-
balho sob condições de sobrecarga
• os riscos decorrentes da exposição
térmica, tais como as doenças car-
ao calor;
diovasculares, hipertensão arterial,
• as informações sobre o ambiente diabetes e obesidade.
de trabalho e suas características;
Segundo o NIOSH (2016), além dos
• aclimatização, hidratação e pausas aspectos citados anteriormente, os
no trabalho; supervisores devem ser capacitados
• os cuidados e procedimentos reco- e orientados sobre:
mendáveis para redução da sobre- • como implementar, de acordo com
carga fisiológica; o plano desenvolvido pelo médico, a
• eventuais limitações de proteção aclimatização apropriada;
das medidas de controle, sua im- • quais procedimentos devem ser
portância e seu uso correto; adotados quando um trabalhador
• reconhecimento dos sinais e dos apresentar sintomas consistentes
sintomas decorrentes da exposição; com doenças relacionadas ao ca-
lor (conforme plano de emergência
• as recomendações para que os in- descrito no capítulo 9);
divíduos interrompam o trabalho
e relatem imediatamente ao seu • como monitorar e estimular a in-
supervisor sempre que sentirem gestão adequada de líquidos e as
quaisquer sinais ou sintomas de pausas para descanso.
doenças relacionadas ao calor ou As principais medidas corretivas
identificarem estes sinais em seu(s) utilizadas em ambientes externos são:
colega(s);
• alternância de operações que ge-
• a necessidade de comunicar a seus ram exposições a níveis mais ele-
superiores quaisquer situações de vados de calor com outras que não
risco e sinais de sintomas relacio- apresentem exposições ou impli-
nados à exposição ao calor; quem exposições a menores níveis,

34
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

resultando na redução da exposi- que uma onda de calor ocorre ou é pre-


ção horária; vista. Portanto, o estabelecimento de
• programação e incentivo de pausas um programa de alerta de calor pode
frequentes para descanso e inges- representar uma estratégia impor-
tão de água em áreas de recupera- tante na prevenção das ocorrências
ção com sombra ou ar-condiciona- decorrentes do estresse térmico.
do, compatíveis com a atividade; No caso de trabalhos a céu aberto
• disponibilização de locais termica- realizados em áreas rurais, o sistema
mente mais amenos para recupe- de monitoramento e previsão dispo-
ração térmica; nibilizado pela Fundacentro, por meio
• reorganização de postos de do Monitor IBUTG, pode ser utilizado
trabalho; como ferramenta de alerta e preven-
ção, identificando antecipadamente
• alteração das rotinas ou dos proce- situações em que o IBUTG ajustado
dimentos de trabalho; poderá ultrapassar o LE nas horas
• modificação do processo ou da e dias subsequentes. Esta previsão é
operação de trabalho, tais como disponibilizada com até sete dias de
mecanização ou automatização do antecedência, permitindo um melhor
processo em situações críticas de planejamento das atividades a serem
exposição. executadas e das medidas de controle
Para fins preventivos, o NIOSH (2016) a serem adotadas. O monitoramento
recomenda que as medições do calor pelo sistema Monitor IBUTG pode ser
ambiental sejam feitas pelo menos de especialmente importante para pre-
hora em hora, durante o período mais venção quando ocorrem ondas de
quente de cada turno de trabalho, nos calor, as quais têm sido cada vez mais
meses mais quentes do ano e sempre frequentes e intensas.

35
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

9. Plano de emergência

D
e acordo com a NR01, a organiza- responsável(eis) que deve(m)
ção deve estabelecer, implemen- ser acionado(s) nas situações de
tar e manter procedimentos de emergência;
respostas aos cenários de emergências,
considerando-se as características, cir- • o papel de cada indivíduo na situação
cunstâncias e os riscos das atividades. de emergência, com base na hierar-
Seguindo essas diretrizes, todo traba- quia das medidas emergenciais a se-
lhador, ao ser admitido ou quando mu- rem estabelecidas;
dar para função que implique alteração
de risco, deve receber informações so- • o treinamento do supervisor sobre
bre os meios para prevenir e controlar os procedimentos a serem segui-
esses riscos, as medidas adotadas pela dos quando um trabalhador apre-
organização e os procedimentos a se- sentar sintomas consistentes com
rem seguidos em caso de emergência. doenças relacionadas ao calor, in-
cluindo procedimentos de resposta
Segundo a NR09, a organização deve a emergências;
possuir procedimento específico para
emergências do calor, contemplando os • a empresa deve estabelecer e orien-
meios e recursos necessários para o tar responsáveis para monitorar as
primeiro atendimento ou encaminha- informações de previsão de tempo e
mento do trabalhador, promovendo o aplicações específicas (boletins me-
fluxo de informações e comunicação a teorológicos, uso do sistema Monitor
todas as pessoas envonvidas nos cená- IBUTG, ou alertas de ondas de calor);
rios de emergências.
• definir como serão disponibilizadas,
O plano de emergência deve ser es-
no local de trabalho, as informações
tabelecido por meio de um protocolo,
sobre:
com medidas práticas a serem tomadas
com base nos sinais e sintomas decor- ˜ indicação dos contatos em
rentes da exposição ao calor (capítulo caso de emergência;
2), considerando: ˜ a classificação dos sinais e
• procedimentos de emergência e sintomas, sua gravidade e res-
primeiros socorros, incluindo in- pectivas medidas de primeiros
formações sobre o(s) contato(s)/ socorros (ex. Quadro 1);

36
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

˜ recursos necessários e Para exemplificar, é apresentado no


procedimentos para desloca- Quadro 1 os principais procedimentos
mentos internos e transpor- que devem ser adotados conforme os
te (maca, veículo de trans- sinais, sintomas e gravidade. A empre-
porte, indicação de hospital, sa, juntamente com o médico responsá-
distâncias e tempo de vel, deve estabelecer protocolo similar,
deslocamento e demais treinando os responsáveis e superviso-
providências). res para as ações emergenciais.

Quadro 1 – Procedimentos básicos de emergência a serem adotados em casos de


distúrbios relacionados ao calor.

Primeiros socorros relacionados à exposição ao calor


Supervisor –
Contatos de emergência Médico –
Hospital –
NUNCA IGNORE NENHUM SINAL OU SINTOMA DE DANO À SAÚDE RELACIONADO AO CALOR
Primeiros Socorros
Distúrbio Doença Sinais e Sintomas
(o que fazer)
y Pomadas para casos leves, se aparecerem
y vermelhidão e dor. Em casos graves: bolhas e não se romperem. Se ocorrer
QUEIMADURA
inchaço da pele, bolhas, febre, dores ruptura, aplique curativo estéril seco.
SOLAR
de cabeça. y Casos graves e extensos devem ser
avaliados pelo médico.
y Alongar os músculos com cãibras.
y Dê água e um lanche e/ou líquido de
reposição de carboidratos e eletrólitos (por
exemplo, bebidas eletrolíticas)
y Espasmos dolorosos geralmente nos
CÃIBRAS DE y Caso ocorra náusea, interrompa o
músculos das pernas e abdômen,
CALOR consumo de água.
acompanhados de sudorese intensa.
y Obtenha ajuda médica se os espasmos
não desaparecerem em uma hora ou se
o trabalhador tiver histórico de doenças
cardiovasculares.
y Sentar ou deitar o trabalhador em um local
mais fresco.
y Elevar as pernas quando a pessoa estiver
Síncope ou
y perda de consciência ou sensação de na posição deitada
tontura
desmaio iminente depois de ficar em y Caso a pessoa esteja acordada e
pelo
pé ou levantar-se repentinamente consciente, ofereça água ou bebida
calor
eletrolítica.
y Retirar roupas pesadas e equipamentos de
proteção

( ... )

37
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )

Primeiros socorros relacionados à exposição ao calor

Supervisor –
Contatos de emergência Médico –
Hospital –

NUNCA IGNORE NENHUM SINAL OU SINTOMA DE DANO À SAÚDE RELACIONADO AO CALOR

Primeiros Socorros
Distúrbio Doença Sinais e Sintomas
(o que fazer)
A exaustão pelo calor pode começar y Retire a pessoa do calor e coloque-a em um
de repente, geralmente durante local com sombra e bem ventilado
ou após trabalho prolongado com y Deite a pessoa e eleve ligeiramente suas
perda de água excessiva (sudorese) e pernas.
desidratação. Os sinais e sintomas de y Remova roupas apertadas ou pesadas.
exaustão pelo calor incluem: y Caso a pessoa esteja acordada e
y Desmaios ou tonturas. consciente, faça com que beba água fria/
EXAUSTÃO PELO y Náuseas ou vômitos. gelada ou outra bebida não alcoólica sem
CALOR y Sudorese intensa, muitas vezes cafeína.
acompanhada de pele fria e úmida. y Resfrie a pessoa com água fria,
y Pulso fraco e rápido. borrifando-a ou passando uma esponja
y Rosto pálido ou corado. molhada, e abane-a.
y Cãibras musculares. y Acompanhe a pessoa cuidadosamente
y Dor de cabeça. y Procure ajuda médica ou encaminhe o
y Fraqueza ou fadiga trabalhador ao serviço de emergência
médica o mais rápido possível

y Temperatura corporal alta: 40° C ou y Acione a unidade de emergência indicada


mais é o principal sinal de choque no plano de emergência para atendimento
hipertérmico (insolação). médico imediato.
y Estado mental ou comportamento y Enquanto aguarda o socorro, siga as
alterado: confusão, agitação, fala seguintes recomendações:
arrastada, irritabilidade, delírio, 9 Leve a pessoa para um local sombreado
convulsões e coma podem resultar do ou termicamente mais ameno
choque hipertérmico. 9 Remova o excesso de roupa
y Alteração na transpiração: no choque 9 Tome medidas imediatas para resfriar
hipertérmico provocada pelo calor, a pessoa superaquecida enquanto
a pele ficará quente e seca ao toque. aguarda o tratamento de emergência
No entanto, no choque hipertérmico 9 Resfrie a pessoa com qualquer meio
provocado por exercícios disponível – coloque-a em uma banheira
CHOQUE extenuantes, a pele pode ficar úmida. de água fria ou um chuveiro frio, borrife
HIPERTÉRMICO y Náuseas e vômitos: pode sentir-se com uma mangueira de jardim, esponja
mal do estômago ou vomitar. com água fria, ventile enquanto borrifa
y Pele corada: a pele pode ficar com água fria ou coloque compressas
vermelha à medida que a de gelo ou toalhas molhadas e frias na
temperatura do corpo aumenta. cabeça, pescoço, axilas e virilha
y Respiração rápida: a respiração pode 9 Se a pessoa estiver acordada, a ingestão
se tornar rápida e superficial. de água ou bebidas sem cafeína gelada é
y Batimentos cardíacos acelerados: recomendada.
O pulso pode aumentar 9 Fique com o trabalhador até que os
significativamente, porque o coração serviços médicos de emergência
trabalha para ajudar a resfriar o cheguem.
corpo.
y Dor de cabeça: a cabeça pode latejar.

Fonte: Adaptado de Hobart and William Smith Colleges


https://www.hws.edu/offices/campus-safety/planning/pdf/eap_heat_safety.pdf

38
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

10. Bibliografia

AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS.


2023 TLVs and BEIs Based on the Documentation of the Threshold Limit Values
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HIGIENISTAS OCUPACIONAIS. TLVs e BEIs –
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ISO 7243 (2017) Ergonomics of the thermal environment−Assessment of
heat stress using the WBGT (wet bulb globe temperature) index. International
Organization for Standardization, Geneva
ISO 9920 (2007) Ergonomics of the thermal environment — Estimation of ther-
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39
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

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40
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto

Anexo 1

V
alores de Limites de Exposição da NHO 06 (2017) da FUNDACENTRO.
(LE) ocupacional ao calor para
Para valores de M intermediários
trabalhadores aclimatizados e
aos apresentados nas Tabelas A1 ou
Níveis de Ação (NA) para trabalhado-
A2, deve ser considerado o IBTUmax
res não aclimatizados (estes, corres-
relativo à M imediatamente mais
pondem aos valores de LE para traba-
elevada.
lhadores não aclimatizados), extraídos

Tabela A1: Nível de ação para trabalhadores aclimatizados e limite de exposição


ocupacional ao calor para trabalhadores não aclimatizados

M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax[°C]


100 31,7 183 28,0 334 24,3
101 31,6 186 27,9 340 24,2
103 31,5 189 27,8 345 24,1
105 31,4 192 27,7 351 24,0
106 31,3 195 27,6 357 23,9
108 31,2 198 27,5 363 23,8
110 31,1 201 27,4 369 23,7
112 31,0 205 27,3 375 23,6
114 30,9 208 27,2 381 23,5
115 30,8 212 27,1 387 23,4
117 30,7 215 27,0 394 23,3
119 30,6 219 26,9 400 23,2
121 30,5 222 26,8 407 23,1
123 30,4 226 26,7 414 23,0
125 30,3 230 26,6 420 22,9
127 30,2 233 26,5 427 22,8
129 30,1 237 26,4 434 22,7
132 30,0 241 26,3 442 22,6
134 29,9 245 26,2 449 22,5
136 29,8 249 26,1 456 22,4
138 29,7 253 26,0 464 22,3
140 29,6 257 25,9 479 22,1
143 29,5 262 25,8 487 22,0
145 29,4 266 25,7 495 21,9
148 29,3 270 25,6 503 21,8
150 29,2 275 25,5 511 21,7
( ... )

41
Guia de orientações gerais para exposição ao calor em trabalhos a céu aberto
( ... )
M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax[°C]
152 29,1 279 25,4 520 21,6
155 29,0 284 25,3 528 21,5
158 28,9 289 25,2 537 21,4
160 28,8 293 25,1 546 21,3
163 28,7 298 25,0 555 21,2
165 28,6 303 24,9 564 21,1
168 28,5 308 24,8 573 21,0
171 28,4 313 24,7 583 20,9
174 28,3 318 24,6 593 20,8
177 28,2 324 24,5 602 20,7
180 28,1 329 24,4
Fonte: NHO06 (2017)

Tabela A2: Limite de exposição ocupacional ao calor para trabalhadores


aclimatizados

M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax [°C] M[W] IBUTGmax[°C]


100 33,7 186 30,6 346 27,5
102 33,6 189 30,5 353 27,4
104 33,5 193 30,4 360 27,3
106 33,4 197 30,3 367 27,2
108 33,3 201 30,2 374 27,1
110 33,2 205 30,1 382 27,0
112 33,1 209 30,0 390 26,9
115 33,0 214 29,9 398 26,8
117 32,9 218 29,8 406 26,7
119 32,8 222 29,7 414 26,6
122 32,7 227 29,6 422 26,5
124 32,6 231 29,5 431 26,4
127 32,5 236 29,4 440 26,3
129 32,4 241 29,3 448 26,2
132 32,3 246 29,2 458 26,1
135 32,2 251 29,1 467 26,0
137 32,1 256 29,0 476 25,9
140 32,0 261 28,9 486 25,8
143 31,9 266 28,8 496 25,7
146 31,8 272 28,7 506 25,6
149 31,7 277 28,6 516 25,5
152 31,6 283 28,5 526 25,4
155 31,5 289 28,4 537 25,3
158 31,4 294 28,3 548 25,2
161 31,3 300 28,2 559 25,1
165 31,2 306 28,1 570 25,0
168 31,1 313 28,0 582 24,9
171 31,0 319 27,9 594 24,8
175 30,9 325 27,8 606 24,7
178 30,8 332 27,7
182 30,7 339 27,6
Fonte: NHO06 (2017)

42
Sobre o livro
Composto em Alianza Slab 12 (textos)
Formato 16x23 cm
MINISTÉRIO
DO TRABALHO E EMPREGO

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