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Segurança do Trabalho,

Saúde e Meio Ambiente


Autores: Prof. Claudio Scheidt Guimarães
Prof. Ricardo Calasans
Colaboradores: Prof. Fabio Ricardo Brandão dos Santos
Profa. Tânia Sandroni
Professores conteudistas: Claudio Scheidt Guimarães / Ricardo Calasans

Claudio Scheidt Guimarães

Consultor ambiental e hospitalar pela GeoScheidt Científica em Gestão, Certificações Hospitalares e Ambientais,
mestre em engenharia de produção. Orientador do Projeto de Engenharia Conic (Congresso de Iniciação Científica) em
2013, 2015, 2018 e 2019 – sustentabilidade, resíduos hospitalares, construção civil e indústria 4.0. Docente da Universidade
Paulista (UNIP).

Ricardo Calasans

Bacharel em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em


Direito e Medicina Veterinária pela UNIP. Pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho, Informática
e em Formação em Educação a Distância pela UNIP. Mestrado profissional em Engenharia de Produção pela UNIP.
Docente titular da Unidade Paulista (UNIP).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G963s Guimarães, Claudio Scheidt.

Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente / Claudio


Scheidt Guimarães, Ricardo Calasans. – São Paulo: Editora Sol, 2021.

164 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Legislação. 2. Estrutura. 3. Segurança. I. Guimarães, Claudio


Scheidt. II. Calasans, Ricardo. III. Título.

CDU 658.382.3

U511.11 – 21

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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Aline Ricciardi
Vitor Andrade
Sumário
Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E RESPECTIVA LEGISLAÇÃO.................9
1.1 Histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo....................................................9
1.2 Legislação acidentária......................................................................................................................... 21
2 NORMAS DE SEGURANÇA E INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES......................................................... 27
2.1 Apresentação das NRs – Lei n. 6.514/1977; Portaria n. 3.214/1978................................ 27
2.2 Investigação das causas de acidentes do trabalho................................................................. 33

Unidade II
3 ESTRUTURA DE GESTÃO DE SEGURANÇA PREVISTA NAS
NORMAS REGULAMENTADORAS................................................................................................................... 45
3.1 Programa de prevenção de riscos ambientais – NR 9 (PPRA)............................................ 45
3.2 Organização e constituição da comissão interna de prevenção de
acidentes (Cipa) – NR 5.............................................................................................................................. 47
3.3 Programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO) – NR 7......................... 56
4 SEGURANÇA NOS AMBIENTES DE TRABALHO..................................................................................... 58
4.1 Higiene no trabalho.............................................................................................................................. 58
4.2 Proteção contra incêndios (NR 23)................................................................................................ 61

Unidade III
5 HISTÓRICO DA QUESTÃO AMBIENTAL..................................................................................................... 84
5.1 Princípios da Gestão Ambiental na Câmara Internacional de Comércio (ICC)............ 91
6 ESTRUTURA DA ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL................................................................................... 93
6.1 Planos de ação e estratégias ecológicas...................................................................................... 97

Unidade IV
7 ESTUDOS E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA).....................................................105
8 AUDITORIA AMBIENTAL...............................................................................................................................107
8.1 Leis dos crimes ambientais..............................................................................................................112
APRESENTAÇÃO

Este livro-texto busca apresentar os principais conceitos e conhecimentos necessários sobre o tema
segurança do trabalho e meio ambiente a fim de permitir que os profissionais da área tenham uma visão
dos principais tópicos desse assunto e possam, dentro das suas competências profissionais, exercer suas
atividades com excelência.

A segurança do trabalho abrange todas as atividades econômicas e busca garantir a proteção dos
trabalhadores nas suas mais diversas atividades, permitindo que desenvolvam suas tarefas diárias sem
que isso afete a sua saúde ou sua integridade física.

Para um gestor, é fundamental poder ter essa visão de forma a adequar os ambientes e as atividades
profissionais na rotina do trabalho a ser executado, atendendo à legislação pertinente e também focando
a saúde e segurança dos seus funcionários.

A atividade de segurança patrimonial também pode se enquadrar em atividade periculosa, conforme


a Norma Regulamentadora (NR) 16, necessitando do conhecimento sobre periculosidade e atividade de
risco acentuado para compreensão do tema e boa gestão das tarefas.

INTRODUÇÃO

Este livro-texto busca apresentar os conceitos fundamentais da segurança do trabalho e sua


gestão, bem como as principais NRs, importantes para o conhecimento do profissional a fim de poder
melhor desempenhar as funções da atividade. Apresentaremos os conceitos de acidente do trabalho e a
legislação que trata desse assunto.

Inicialmente, serão abordadas a história e a evolução da segurança do trabalho no mundo e no Brasil.


Entender o passado é vital para ter uma boa compreensão do presente e também para fazer projeções.
Na questão da segurança do trabalho, é frequente a necessidade de analisar demandas futuras, assim,
reforça-se ainda mais a importância do conhecimento do desenvolvimento dos sistemas de gestão, dos
conceitos e da legislação voltados à segurança do trabalho.

A legislação é um ponto essencial, uma vez que a segurança do trabalho está fortemente ligada
a leis e normas técnicas. Por isso, veremos as principais NRs, que formam uma base para a gestão
de segurança do trabalho em todas as empresas. Da mesma forma que as empresas são dinâmicas e
passam constantemente por mudanças, as NRs passam por revisões e atualizações e devem ser sempre
consultadas na sua última versão quando forem aplicadas.

A investigação de acidentes mostra-se de grande relevância para que possamos ter compreensão
da forma pela qual ocorrem e onde as barreiras de proteção estão falhando para corrigi-las no que
for necessário a fim de evitar que situações semelhantes aconteçam e, principalmente, prevenir danos
à saúde ou à integridade física do trabalhador. Assim sendo, a investigação de acidentes torna-se
fundamental para a correta compreensão das causas reais e das medidas a serem adotadas a fim de

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impedir que esses acidentes se repitam, controlando riscos e melhorando os protocolos de segurança a
serem adotados.

Um dos principais programas que as empresas devem desenvolver e aplicar se encontra na NR 9, o


Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que envolve a necessidade de antever os riscos,
identificá-los, priorizá-los e determinar as medidas de controle quando não for possível eliminá‑los
do processo. Os procedimentos adotados terão a sua eficácia comprovada quando o médico do
trabalho desenvolver o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSC), previsto na NR 7,
fortemente embasado no PPRA.

Outra estrutura importante, quando bem desenvolvida, para a constante melhoria dos ambientes
de trabalho na ótica da segurança do trabalho, é a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a
Cipa. Composta por funcionários da empresa que formarão um canal de comunicação do “chão de
fábrica” com a administração, agilizando a tomada de decisões a fim de resolver questões apresentadas
nas reuniões da Cipa ou também no acompanhamento da investigação dos acidentes e na busca
das medidas de proteção necessárias para evitá-los.

Mencionando ambientes de trabalho, torna-se fundamental falar de higiene do trabalho, que trata
de qualificar os riscos, entre físicos, químicos e biológicos, quantificá-los para que se possa analisar os
limites de tolerância a que estão expostos e, quando necessário, determinar as proteções adequadas
para garantir a saúde e integridade física do trabalhador.

Também aprenderemos sobre o histórico das questões ambientais, a importância das auditorias,
da legislação ambiental, os princípios da Câmara Internacional de Comércio (ICC), as principais áreas
subsequentes da administração agroecológica, consecutivamente, o conceito de sustentabilidade, as
estratégias ambientais e organizacionais, além de realizar uma análise crítica do principal modelo de
planejamento estratégico existente no cenário atual.

As análises mostraram que os modelos de planejamento estratégico existentes são baseados


principalmente em fatores econômicos e competitivos, abordando os fatores ambientais e sociais
de forma sistêmica. Além disso, a aplicação proativa de estratégias ambientais e sociais pode levar
as empresas a melhorar sua competitividade. Com base nas deficiências dos modelos existentes em
função das novas necessidades de desenvolvimento empresarial sustentável, foi desenvolvido um novo
planejamento estratégico que leva em consideração as mudanças do ambiente e a responsabilidade
social na gestão.

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SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Unidade I
1 DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E RESPECTIVA LEGISLAÇÃO

1.1 Histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo

Quando queremos entender o presente, é importante conhecer o passado. Vamos, assim, analisar a
origem da palavra “trabalho” na nossa língua.

Sua origem ocorre da palavra tripaliu, um termo em latim que significava “instrumento formado por
três paus” (tri-paliu), utilizado por agricultores para bater o trigo ou outros produtos da lavoura pelo
qual eles poderiam esfiapá-los ou mesmo rasá-los. Porém o tripaluim é lembrado como um instrumento
usado para torturar, se ligando ao verbo em latim tripaliare, que significa “torturar”, ou seja, essa palavra
era associada a castigo ou sofrimento, sempre uma interpretação negativa.

Nas referências de Aristóteles, ele mencionava a necessidade de que os escravos, os executores


do trabalho na época, fizessem-no para que seus donos pudessem ter uma vida dedicada à perfeição.
Assim, o trabalho era associado a um desvalor, já que o ócio era valorizado e permitiria ao homem
aperfeiçoar-se, tendo uma vida contemplativa.

Esse significado se manteve até o início do século XV, tendo evoluído depois para o significado de
“laborar” ou “obrar”. Dessa forma, a palavra começou a ser utilizada para representar uma atividade na
qual se colocam forças, corporais ou espirituais, focadas em uma finalidade específica que resulta em
um produto ou uma mudança de situação ou estado. Por isso, toda vez que falamos em “trabalho”,
supomos uma atividade ou esforço para uma finalidade específica.

Saiba mais

Para aprofundar seu conhecimento sobre trabalho, você poderá acessar


o link do livro de Suazane Albornoz:

ALBORNOZ, S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1994. v. 171.


(Coleção Primeiros Passos). Disponível em: https://brito964.files.wordpress.
com/2013/06/o-que-c3a9-trabalho-suzana-albornoz.pdf. Acesso em:
14 jan. 2021.

Com a mudança na interpretação do conceito de trabalho, adquirindo uma conotação positiva, ele
começou a ser compreendido como um valor do homem e da sociedade, uma manifestação da cultura.

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Unidade I

Mas mesmo na Antiguidade, em que o trabalho era executado por escravos, já se observava a
sua relação com a saúde ou as doenças, porém, como havia abundância de mão de obra (escravos),
não era uma preocupação buscar formas para cuidar da saúde deles. Mesmo assim, Hipócrates
(460-375 a.C.) estudou determinada ocorrência na qual observava escravos que trabalhavam na
mineração, descrevendo o que seria a intoxicação gerada pelo contato com chumbo: o saturnismo.

Mais tarde, temos referências a Plínio (23-79 d.C.), que, em seu tratado Naturalis Historia, registrou
essa mesma ocorrência em relação aos escravos que trabalhavam em contato com poeiras e chumbo e
fez o que se tem como a primeira descrição de um equipamento de proteção individual: o uso de panos
ou membranas de bexiga de animais cobrindo o rosto para minimizar a inalação das poeiras nocivas
à saúde. Ele também relatou moléstias que afetavam o pulmão e situações de intoxicação para quem
manuseava ou tinha contato com enxofre e zinco, resultando em envenenamento.

Em torno de 1550, no livro publicado por George Bauer, um pesquisador alemão, intitulado
De re metallica, são narradas doenças nos mineradores que lidavam com fundição de metais, em especial,
ouro e prata, descrevendo a chamada “asma dos mineiros”, conhecida hoje como silicose, considerada
uma das doenças ocupacionais entre as mais antigas relatadas. Pela inalação de partículas de sílica,
são causadas lesões nos tecidos do pulmão que, ao cicatrizarem, perdem sua função de troca gasosa e
tornam a respiração cada vez mais difícil.

Bernardino Ramazzini, médico italiano que morava em Modena, na Itália, publicou em 1700 a sua
obra De mordis artificum diatriba, ou seja, As doenças dos trabalhadores. Uma grande façanha atribuída
a Ramazzini foi ele ter relacionado o trabalho com riscos à saúde, como o contato do trabalhador
com poeiras, metais, produtos químicos, entre outros, considerando que sua ocupação poderia trazer
danos. Com a análise da ocupação do trabalhador, observando seu ambiente de trabalho e sua atividade,
Ramazzini foi reconhecido como o pai da medicina ocupacional. Ele orientava seus colegas médicos a
sempre perguntarem ao paciente qual era a sua atividade, sendo que essa constatação lhes permitiria
saber quais os agentes de risco aos quais o paciente estava exposto.

Dessa forma, vários médicos, bem como higienistas, começaram a fazer a análise qualitativa dos
agentes de risco, o que possibilitou o desenvolvimento do conhecimento em várias áreas exercidas
pelos trabalhadores, por exemplo, as observações do médico Patissier, francês, que, ao aprofundar seus
estudos nas atividades dos ourives, recomendava-lhes que de tempos em tempos levantassem a cabeça
e olhassem para o horizonte distante, buscando, assim, evitar a fatiga visual. Recentemente, na década
de 1990, observamos um problema correspondente para quem trabalha muito tempo com o foco visual de
curta distância: a síndrome da visão de computador (SVC), em que o estresse visual causado por manter
o foco por muito tempo entre tela do computador, teclado, documentos, em distâncias entre 30 a 40 cm,
geralmente, causa distúrbios visuais.

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SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Observação

A SVC também é conhecida como CVS, que, em inglês, significa computer


vision syndrome. Refere-se a uma situação temporária na qual a pessoa
mantém o foco dos olhos em um monitor de vídeo por tempo prolongado
gerando um estresse visual tanto pela contração necessária para o foco em
curta distância, como agravado pela diminuição da frequência das piscadas,
que produz o ressecamento da córnea com diversas consequências: visão
embaçada, frequentes dores de cabeça, olhos secos, entre outras.

Entre 1760 e 1840, tivemos a Revolução Industrial. Nesse período, ocorreu um enorme desenvolvimento
tecnológico com a invenção de muitas máquinas e dispositivos que aumentaram a capacidade de
produção ao longo do tempo, mas, principalmente, ocorreu a mudança do método artesanal de produção
para a produção por máquinas. Assim, o ambiente de trabalho, que antes era a oficina do artesão, tornou-se
os galpões das indústrias, que enfileiravam suas máquinas para a produção de tecido, produtos
químicos, ferro, entre outros, utilizando-se da recente invenção da máquina a vapor para gerar a
energia mecânica necessária a fim de movimentar as máquinas da indústria. Isso também mudou a relação
de trabalho entre o aprendiz e o artesão para o empregado da indústria, que executava suas atividades
por longas jornadas de trabalho e em condições quase sempre insalubres e/ou perigosas.

A massa trabalhadora começou a unir-se e lutar por melhores condições de trabalho, gerando tensão social
nos países que vivenciavam a Revolução Industrial. Essa situação tornou-se tão influente que, em 1891, o Papa
Leão XIII escreveu em sua carta encíclica, “Rerum Novarum”, sobre as questões relacionadas às relações de
trabalho, na qual apoiava o direito dos trabalhadores de se organizarem em sindicatos, porém ele era contra os
conceitos tanto do socialismo como do capitalismo e também dissertava sobre o respeito necessário ao direito
da propriedade, pois alguns movimentos de trabalhadores da época pretendiam invadir fábricas e tomar as
máquinas. O Papa Leão XIII colocou em discussão as relações entre os governos, o trabalho, os negócios e a Igreja.

Observação
Vale ressaltar que na época da Revolução Industrial a Igreja tinha grande
influência sobre os governos e a sociedade, além de passar por atualizações
no pensamento social católico e de sua hierarquia.

Saiba mais
Caso deseje aprofundar seu conhecimento sobre a carta encíclica
“Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, poderá acessá-la através do link:
LA SANTA SEDE. “Rerum novarum”. [S.l.], [s.d.]. Disponível em: http://
www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_
enc_15051891_rerum-novarum.html. Acesso em: 14 jan. 2021.
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Unidade I

Sem dúvida, a Revolução Industrial foi além de novas tecnologias e processos produtivos que surgiram
com o uso da máquina a vapor e novos maquinários, pois alterou a relação do homem com o trabalho,
bem como do empregador com o empregado. Se forem pesquisadas imagens das áreas produtivas das
indústrias dessa época, vão ser encontrados homens, mulheres e também crianças trabalhando em
jornadas longas e exaustivas, que chegavam facilmente entre quatorze a dezesseis horas por dia, e
em condições penosas e ambientes insalubres na maioria das vezes.

Essas condições de trabalho, sobrecarga excessiva e a baixa remuneração, bem como o adoecimento
devido aos ambientes insalubres, entre outras situações, levaram os trabalhadores a se organizarem
cada vez mais através de associações ou sindicatos e a lutarem por condições melhores, mas cada grupo
que se formava seguia lideranças e ideologias distintas. Como cada um agia de forma diferente, isso
enfraquecia a luta dos trabalhadores.

Um marco da legislação internacional voltada à proteção do trabalho, conhecida como Leis das
Fábricas (Factory Law), foi aprovado pelo parlamento britânico em 1802. Tinha o objetivo de proteger as
crianças e as mulheres dentro dos ambientes industriais, bem como de jornadas prolongadas. Foi aplicada
inicialmente na indústria têxtil e, em 1872, começou a ser aplicada em todas as demais indústrias.

Em 1864, nasce a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como
Internacional. Uma reunião da AIT em Londres concentrou aproximadamente 2 mil trabalhadores e
diversos delegados de organizações operárias de vários países da Europa, conseguindo até mesmo
superar os limites geográficos do continente europeu, reunindo não somente países europeus, mas
também os Estados Unidos, além de agregar os trabalhadores que faziam parte das mais diversas
correntes ideológicas já existentes, conforme observou Hobsbawm (1977).

A AIT, ao longo da sua história, contribuiu com o desenvolvimento do movimento operário e dava
apoio às greves, aos sindicatos e às sociedades que faziam resistência ao modelo. Apoiou o primeiro
governo operário da história, conhecido como Comuna de Paris, da qual vários de seus membros faziam
parte. A Comuna foi criada em 1871 em Paris durante a atividade de resistência do povo frente à invasão
do Reino da Prússia.

Figura 1 – Barricada erguida para defender a cidade, na esquina da rua Voltaire com Richard-Lenoir,
em 1871, tomada pelo exército regular e cujo final foi a revolta suprimida

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SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Segundo Musto (2014), estima-se que as filiações à AIT, entre 1870 e 1872, tenham ultrapassado a
cifra de 150 mil membros. Foram realizados cinco congressos gerais nos quais eram discutidas questões
relacionadas, entre outros interesses da classe trabalhadora, a condições de trabalho. A solidariedade
também surgiu entre os trabalhadores de toda a Europa, desenvolvendo a colaboração entre eles a fim
de fortalecer suas lutas: redução da jornada de trabalho para oito horas com melhores condições de
trabalho, principalmente, para as crianças e mulheres.

A seguir, a ficha de filiação da AIT.

Figura 2 – Carta de filiação à AIT

Conforme o principal estudioso da AIT na época, Testut (apud TAITHE, 2001), na Europa, a AIT tinha
mais de 800 mil membros. Após a derrota em Paris, conforme publicou o jornal The Times, estimou-se
em torno de 2,5 milhões de membros, mas Testut dizia que eram em torno de 5 milhões (apud MUSTO,
2014). Isso mostra a importância e a força que a classe proletária estava conseguindo reunir na luta
por condições melhores de trabalho em todos os países; mesmo suas reivindicações sendo consideradas
ilegais na maioria deles e agindo de forma clandestina, a AIT mostrava-se uma força relevante entre a
classe operária e com grande capacidade de agregar os mais diversos movimentos operários espalhados
pela Europa.

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Unidade I

Observação

Entre os membros do conselho geral que dirigia a AIT, encontrava-se Karl


Marx, conhecido revolucionário socialista, foi quem redigiu os estatutos
gerais da organização, pois ele era o único membro capaz de escrever em
francês, bem como em alemão e inglês.

Porém, após divergências entre pensamentos políticos e ideologias presentes dentro da cúpula da
AIT e do seu último congresso internacional, que ocorreu na Bélgica na cidade de Verviers, considerado
um fracasso, já que não foi capaz de mobilizar um amplo apoio entre as classes trabalhadoras, a AIT
finalizou suas atividades, deixando seu legado para a história das lutas sociais.

Criada em 1889, conhecida como a Segunda Internacional, se apresentava como a continuidade da


AIT, também chamada de Internacional Socialista (IS).

Existia, nesse período, um forte movimento operário de massas, tanto na Europa quanto nos
Estados Unidos. A IS rapidamente se tornou reconhecida e ganhou força. Dentro da IS, existiam
correntes diferentes de pensamentos que vinham da sua formação inicial, feita por partidos socialistas
democráticos e reformistas.

A Europa passava por grandes disputas políticas e pelo desenvolvimento de modelos teóricos e
filosóficos sobre o marxismo, sendo que muitas linhas de pensamentos diferentes causavam divisões
entre as classes operárias e seus representantes, enquanto, por outro lado, o capitalismo se mantinha
forte entre as principais nações. Os principais dirigentes operários esperavam conseguir representação
política para gradualmente e de forma pacífica superar e reformar o capitalismo.

Cabe citar que foi através do primeiro congresso da IS que foi adotada a resolução definindo o dia
1º de maio para celebrar o dia internacional do trabalho como forma de manifestar a solidariedade
entre os trabalhadores de todos os países. A IS também discutia e lutava em seus congressos por maneiras
de combater o militarismo e impedir a guerra que se anunciava, sem sucesso.

A Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, envolvendo as grandes potências mundiais e suas
políticas imperialistas. Esse evento teve proporções globais, pois os conflitos se espalharam pelas colônias.
A Guerra mobilizou milhões de militares e europeus e também investimentos no desenvolvimento
tecnológico para a fabricação de armas com maior letalidade. Após o término da Guerra em 1919,
ocorreu a Conferência de Paz de Paris, impondo uma série de tratados, entre eles, o Tratado de Versalhes,
que oficialmente finalizou a Primeira Guerra Mundial.

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SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Figura 3 – Tratado de Paz assinado em Versalhes em 1919

Saiba mais

A promulgação do Tratado de Paz pode ser vista no link:

BRASIL. Decreto n. 13.990, de 12 de janeiro de 1920. Promulga o


Tratado de Paz entre os países aliados, associados e o Brasil de um lado
e de outro a Alemanha, assinado em Versailles em 28 de junho de 1919.
Rio de Janeiro, 1920. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/1910-1929/D13990.htm. Acesso em: 20 jan. 2021.

Após a assinatura do Tratado de Paz, foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), havendo o
consenso de que para haver paz, era necessário que o mundo tivesse justiça social. A questão do trabalho está
diretamente ligada a isso, sendo a dignidade do trabalho um dos pontos principais da organização.

Depois de discutir o custo humano da Revolução Industrial, a legislação trabalhista internacional


tornou-se mais próxima de acontecer com a criação da OIT.

Uma característica importante da OIT é a sua estrutura tripartite, ou seja, ela é formada por três
elementos fundamentais que debatem a questão do trabalho: governo, empregados e empregadores.
Na sede da OIT, em Genebra, na Suíça, o portão da entrada possui uma fechadura que precisa de
15
Unidade I

três chaves para ser aberto, representando, assim, a necessidade de sempre estarem presentes esses
personagens. Em 1946, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, a OIT passou a fazer
parte da sua estrutura.

Observação

O Brasil faz parte dos países fundadores da OIT, participando desde a


primeira conferência internacional, que ocorre todos os anos em Genebra,
na Suíça. Dela, resultam as recomendações e as convenções da OIT.

O Brasil, como país membro da OIT, deve buscar ratificar em lei nacional as convenções que resultam
das suas conferências internacionais, promovendo as normas internacionais do trabalho e do emprego,
bem como as melhorias nas condições de trabalho e nas questões relativas à proteção social, caracterizada
pela promoção de trabalho decente, que abrange outros temas, como combate ao trabalho infantil, ao
trabalho escravo, tráfico de pessoas, entre outros.

Também em 1919, Lênin (Vladimir IIyich Ulianov) criou a Terceira Internacional, ou também conhecida
por Comintern, que teve o objetivo de reunir os partidos comunistas de todo o mundo e lutar contra
o capitalismo para implantar o socialismo. Após a morte de Lênin, Josef Stalin tomou o governo da
União Soviética. Como tinha desconfianças das ações do Comintern, buscou transformá-lo em um
instrumento de política externa.

No final de 1922, surge a nova Associação Internacional dos Trabalhadores, que existe até hoje, com
ideologia anarcossindicalista e buscando retomar o legado da AIT original em relação aos princípios do
sindicalismo revolucionário.

A Segunda Guerra Mundial iniciou-se em 1939 e, nesse período, a Associação passava por conflitos
internos devido a correntes ideológicas diferentes. Em 1940, sofreu uma ruptura: em torno de 40% dos
seus membros se desligaram, estes fundaram, então, o Partido dos Trabalhadores.

Mas vamos focar agora nas questões trabalhistas do Brasil. Como apresentado, o Brasil é um dos
estados membros da OIT e desde a década de 1950 possui uma representação nesse órgão. Esse fato
é importante para a evolução da nossa legislação trabalhista, pois, ao ratificar as convenções da OIT,
elaboramos leis que foram alterando as relações de trabalho do Brasil ao longo da história.

Considerado uma das primeiras referências legais voltada à proteção do trabalhador, o


Decreto n. 1.313, publicado em 1891, tratava de regularizar o trabalho dos menores de idade nas fábricas
da capital federal.

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SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Saiba mais

O Decreto n. 1.313 pode ser consultado no seu texto original pelo link:

BRASIL. Decreto n. 1.313, de 17 de janeiro de 1891. Estabelece


providências para regularizar o trabalho dos menores empregados nas
fábricas da Capital Federal. Brasil, 1891. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1313-17-janeiro-
1891-498588-publicacaooriginal-1-pe.html#:~:text=Estabelece%20
providencias%20para%20regularisar%20o,nas%20fabricas%20da%20
Capital%20Federal. Acesso em: 20 jan. 2021.

Em seguida, cabe destacar a Lei n. 3.724, de 1919, que regulamentou as obrigações decorrentes de
um acidente no trabalho. No seu primeiro artigo, essa lei define o que seria considerado acidente
de trabalho:

Art. 1º Consideram-se acidentes no trabalho, para os fins da presente


lei: I a) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária
no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações
funcionais, que constituam a causa única da morte ou perda total, ou parcial,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho; I b) a moléstia
contraída exclusivamente pelo exercício do trabalho, quando este for de
natureza a só por si causá-la, e desde que determine a morte do operário,
ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho (BRASIL, 1919).

Pode-se observar que já está mencionada a questão das doenças decorrentes da atividade laboral,
que ainda hoje é um problema que causa sofrimento para os trabalhadores acometidos pelas doenças
laborais e custos para toda a sociedade.

Outro marco importante no nosso país foi a entrada, em 1943, ainda em vigor, da Consolidação das
Leis Trabalhistas, a CLT, resultado de um apanhado de todas as legislações criadas nos entes federativos
e reunida de forma a atender todo o Brasil.

O Brasil era essencialmente rural nessa época. Na década de 1960 para 1970, a distribuição da
população foi alterada, pois ela se mudara para os grandes centros urbanos em busca de empregos e
melhores condições de vida, sendo acolhida, em sua grande parte, pela indústria da construção civil, que
não parava de se expandir. Ao mesmo tempo, o número registrado de acidentes de trabalho crescia, até
que, no início da década de 1970, conhecida como a era industrial do Brasil, pois foi o período de maior
crescimento da indústria, chegou-se a atingir 1.800.000 acidentes de trabalho, fazendo com que o país
fosse cobrado por medidas de controle para mudar esse cenário. Com isso, em 1977, a Lei n. 6.514 foi

17
Unidade I

publicada, que fez alterações na CLT, abordando questões relativas à segurança e medicina do trabalho.
Em 1978, foi publicada a Portaria n. 3.214, que aprovou vinte e oito NRs.

Conforme os dados de acidentes de trabalho no Brasil, apresentados nos anuários estatísticos de


acidentes do trabalho e previdência (KIECKBUSCH, [s.d.], p. 14; BRASIL, 2018, p. 7), podemos ver que o
país ainda tem um alto número de acidentes, como segue:

• 1998 – 414.341

• 1999 – 387.820

• 2000 – 363.868

• 2003 – 399.077

• 2004 – 465.700

• 2005 – 499.680

• 2006 – 512.232

• 2007 – 659.523

• 2008 – 755.980

• 2009 – 733.365

• 2010 - 709.474

• 2011 – 720.629

• 2012 – 713.984

• 2013 – 725.664

• 2014 – 704.136

• 2015 – 622.379

• 2016 – 585.626

• 2017 – 549.405

18
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Ao analisar esses números, considerar a situação econômica pela qual o país estava em cada
momento, pois, em tempos de crises, o número de desempregados aumenta, e os dados apresentados
nesse anuário se referem apenas aos trabalhadores com carteira de trabalho assinada. O trabalhador
informal não entra nessas estatísticas.

A nossa realidade coloca o Brasil em quarto lugar no ranking mundial de acidentes do trabalho,
sendo que um acidente ocorre a cada 48 segundos e uma morte a cada 3h38, conforme a Associação
Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT (2017).

Saiba mais

Para consultar dados a respeito de acidentes do trabalho, afastamentos,


mortes, entre outros, você poderá acessar o Observatório de Segurança do
Trabalho pelo link:

Plataforma SmartLab. Disponível em: https://smartlabbr.org/. Acesso em:


15 mar. 2021.

Além do padecimento humano de quem sofre um acidente, ou da família que perde um


parente em um acidente fatal, ou mesmo daquela que passa a cuidar de quem era responsável pelo
sustento do lar e adquiriu uma doença ocupacional que deixou o trabalhador inapto para exercer
sua função, necessitando de tratamento e auxílio, há os altos custos para a sociedade devido ao
uso dos serviços de saúde, dos afastamentos que passam de 15 dias, das aposentadorias especiais,
entre outros serviços públicos demandados, gerando uma despesa para o país em torno de 4%
do nosso PIB. Estima-se que os gastos com acidente do trabalho no Brasil sejam em torno de
R$ 70 bilhões anualmente. Quando investimos em segurança do trabalho, estamos contribuindo
não somente com a segurança e saúde do trabalhador, mas com a economia do país.

Podemos dizer que existem duas causas básicas de acidentes do trabalho. A primeira está relacionada
às condições ambientais; a manutenção dos equipamentos, a organização e limpeza do ambiente, entre
outras ações, podem resolver essa questão. É responsabilidade da empresa proporcionar ambientes
seguros e adequados para o trabalhador poder executar suas atividades sem riscos a sua saúde ou
integridade física.

A segunda causa de acidentes está relacionada com a falha humana, também conhecida como
ato inseguro, termo mal utilizado, buscando “transmitir” a responsabilidade do acidente ocorrido ao
trabalhador, mas, na verdade, a única certeza é que ocorreu uma falha humana, sendo que esta tem
várias origens, como veremos a seguir:

• Falta de treinamento ou capacitação.

• Falta de conhecimento sobre os riscos da atividade.

19
Unidade I

• Perturbação emocional, comportamental ou mental.

• Consumo de drogas ou bebidas alcoólicas.

• Sobrecarga ou jornadas prolongadas.

• Comportamento inadequado.

Assim, são causas que residem exclusivamente no fator humano. Quando analisamos os acidentes,
devemos buscar compreender as suas causas, e não buscar culpados. A responsabilidade sobre o acidente
será papel da justiça determinar, quando for o caso.

Fazer uma gestão de riscos é importante em todas as atividades que desenvolvemos, uma vez que
sempre encontramos riscos que podem ter grande potencial de dano humano, patrimonial e ambiental.
Mas para fazer uma gestão de riscos, devemos entender alguns conceitos fundamentais na segurança
do trabalho.

O primeiro é definir o que se considera perigo. Perigo é a fonte que causa um dano, ou um prejuízo,
ou mesmo uma situação que tenha o potencial para causar prejuízo ou algum tipo de dano.

É importante identificarmos as fontes de perigo, pois, quando possivel, se eliminarmos essa fonte do
ambiente, eliminamos os riscos que ela oferece às pessoas que se encontram nesse local. Mas, na maioria
das vezes, essa fonte de perigo faz parte do processo e, se for eliminada, torna-se impossível executá-lo.

Vamos para um exemplo prático: muito provavelmente, nesse momento em que você está lendo este
livro-texto, há, próximo de você, uma fonte de energia elétrica. Sabemos que a energia elétrica é uma
causa de perigo, pois ela pode, quando utilizada incorretamente ou com instalação inadequada, iniciar
um incêndio, causar uma eletrocussão, entre outros incidentes. Então, por que não eliminamos essa
fonte de perigo? Porque a eletricidade se faz necessária para o funcionamento do seu computador, para
carregar o seu celular, para iluminar o local e tem muitas outras utilidades. Se a eletricidade do nosso
ambiente fosse eliminada, deixaríamos de executar a maioria das atividades que estamos fazendo ou da
forma pela qual estamos fazendo.

Outra questão a ser bem compreendida diz respeito ao risco. O risco é um indicador composto
pela probabilidade de ocorrência e o potencial de dano que pode causar. Podemos também dizer que
risco é a probabilidade de perigo. Seguindo o exemplo que demos, analisando a instalação elétrica,
determinaremos se há um alto risco de sofremos uma eletrocussão; ou, se a instalação estiver adequada e
em ordem, um baixo risco de isso acontecer. Da mesma forma analisaremos a voltagem dessa instalação,
se o potencial de dano é maior ou menor. Caso seja com baixa voltagem, dificilmente causará algum
dano à pessoa, mas a partir de certa tensão, já haverá potencial de causar uma queimadura ou mesmo
uma parada respiratória ou cardíaca, podendo resultar em morte.

20
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

O que fazemos na segurança do trabalho é gerenciar os riscos para mantê-los sob controle e evitar
que eles causem danos ou acidentes.

1.2 Legislação acidentária

A questão da legislação acidentária no Brasil deve ser analisada ao longo da evolução histórica
brasileira e da própria legislação, nas quais vamos averiguar como a seguridade social nacional se
desenvolveu. Para tanto, é necessário lembrar-se do desenvolvimento das condições sociais do Brasil,
cuja desigualdade é um problema que persiste até os dias atuais.

Quando se analisa a origem da seguridade social no resto do mundo, pode-se observar que ela está
ligada à dignidade da pessoa humana, buscando dar as garantias dos direitos fundamentais que fazem
parte do âmago do cidadão, chamados de “direitos naturais”. Uma característica da essência humana é
a busca por proteger e promover o sustento próprio e o da sua família.

Ao longo da evolução humana, pode-se observar como o homem foi se adaptando a situações
e ações adversas que a vida lhe impunha, como doença, fome, envelhecimento, e, nas relações de
trabalho, o desemprego.

Dessa forma, a preocupação do homem em manter o sustento de sua família frente a tantas
situações adversas e a busca por sempre garantir obter o mínimo para a sua existência explicam a
primeira etapa da proteção social, que está embasada na caridade, muitas vezes, conduzida pela Igreja.
Assim, quem enfrentava necessidades era socorrido pela caridade dos membros da sua comunidade, o
que possibilitava obter alimentos, garantindo as condições de vida para si e para a sua família: esse é o
pilar principal que norteia a proteção social.

Durante o reinado da rainha Isabel na Inglaterra, quando o Estado era absolutista, surgiu a primeira
lei que tratava da questão da assistência social: a Lei dos Pobres (Law of Poor), no ano de 1601. Essa lei
determinava que as autoridades tinham a obrigação de proporcionar auxílio ao necessitado que, devido
a uma situação de incapacidade para o trabalho, doença ou desemprego, não estava apto a manter o
seu próprio sustento. Nesse mesmo período, surgiu a obrigatoriedade das contribuições para fins sociais.

Conforme Santos (2017, p. 29), “A desvinculação entre o auxílio ao necessitado e a caridade começou
na Inglaterra, em 1601, quando Isabel I editou o Acyt of Relief of the Poor – Lei dos Pobres”.

Com a Revolução Industrial, a proteção social ganha força e começa-se a pensar em manter o
sustento imediato com uma estrutura que se tornou conhecida nos tempos atuais como previdência
social, através da ideia de caixa de socorro de natureza mutualista.

A Revolução Industrial criava ambientes com situações que desafiavam a dignidade da pessoa
humana. Dessa forma, a seguridade social, que na época era chamada de “seguro social”, era uma
prática que existia entre os trabalhadores devido à realidade severa dos ambientes de trabalho, muitas
vezes, sub-humana.

21
Unidade I

Com a Revolução Francesa, que começou em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão foi publicada. Esse documento determinava que todos tinham o direito à seguridade social, e
também todos deveriam contribuir, dentro das suas possibilidades, para essas ações públicas, criando,
assim, uma forma de organização de seguros que se utilizava de um cadastro nacional dos beneficiários
do seguro social, buscando extinguir a mendicância.

Na Alemanha, originou-se a proteção social oferecida pelo Estado, tendo sido aprovada em 1883
pelo projeto do chanceler Otto von Bismarck (estadista prussiano e o primeiro chanceler do Império
Alemão), estabelecendo-a através da Lei do Seguro-Doença, que se tornou a primeira legislação mundial
de uma previdência social.

Lembrete

Em 1883, na Alemanha, foi promulgada a primeira lei previdenciária do


mundo, obra de Bismarck.

A Lei do Seguro-Doença evolui e, após sofrer alterações, passa, em 1884, a tratar do seguro contra
acidentes de trabalho; e, em 1889, do seguro de invalidez e velhice. O que financiava esses seguros eram
as contribuições dos empregados, dos empregadores e do Estado.

Com a Segunda Guerra Mundial, esse seguro social passou a ser obrigatório, e não apenas aos
empregados, também em relação à indústria, aumentando a abrangência para os riscos relativos a
acidentes, doenças, invalidez, desemprego, velhice e viuvez, segundo Santos (2017).

Lembrete

A Constituição de 1919 da Alemanha se tornou a primeira a garantir os


direitos fundamentais sociais por meio do assistencialismo custeado pela
representante estatal, pelas empresas e pelos trabalhadores, que deveriam
contribuir para esses seguros de forma equalitária.

Já, aqui, no Brasil, a questão sobre o direito de aposentadoria surgiu na época do Império, suas
primeiras manifestações foram a criação de montepios e montes de socorro. Dessa forma, esse
direito era garantido aos funcionários públicos e a suas famílias. O interessado em fazer parte de um
montepio deveria pagar uma taxa de adesão e assumir a prestação das anuidades, podendo escolher,
ao assinar o contrato, se o valor das contribuições efetuado ao longo da sua vida retornaria como
pensão ou aposentadoria.

22
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Figura 4 – Anúncio do Montepio Geral dos Servidores alerta de que há pensões à espera de saque em 1855

Contudo, foi apenas em 1923, com o Decreto Legislativo n. 4.682, que foram definidas as regras de
previdência social que, segundo Alencar (2018), ficaram conhecidas como Lei Eloy Chaves, tornando-se
o marco da previdência social no Brasil.

Essa lei determinava que se criassem as caixas de aposentadoria e pensão (CAP) para todos os
empregados que trabalhavam nas ferrovias, sendo que essas caixas eram administradas pelos próprios
contribuintes sem que o Estado tivesse interferência. Assim, os trabalhadores das estradas de ferro
conquistaram a aposentadoria ordinária ou por tempo de serviço, a assistência médica e a pensão por
morte, bem como a aposentadoria por invalidez.

Com isso, a expansão das CAPs se deu para diversas outras categorias assalariadas e, dessa forma, foi
sedimentada a efetivação de uma nova era assistencial no Brasil.

A evolução da proteção social no Brasil passou por três etapas: a assistência pública, o seguro social
e a seguridade social.

A assistência pública estava apoiada no conceito da caridade praticada pela Igreja e, posteriormente,
assumida por instituições públicas.

Em se tratando de assistência pública no Brasil, já se encontrava definida pela Constituição de


1824, em seu art. 179, XXXI, a garantia dos socorros públicos, conforme podemos observar no texto
original a seguir:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos


Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual,
e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela
maneira seguinte.

23
Unidade I

[...]

XXXI. A Constituição também garante os socorros públicos.

(texto extraído na íntegra) (BRASIL,1824).

Assim, com a promulgação da primeira Constituição Brasileira em 1824, o Estado passou a garantir
o amparo assistencial, tornando-se o responsável institucional pelos socorros públicos.

Figura 5 – Constituição de 1824 do Império do Brasil

Saiba mais

“Em 25 de março de 1824 o Brasil teve sua primeira constituição.

[...]

Mesmo sendo uma constituição outorgada, imposta pelo governante,


sua vigência foi de 65 anos, sendo extinta apenas com a Proclamação da
República em 15 de novembro de 1889, que depôs o imperador D. Pedro II.

Vários historiadores, como Luiz Felipe de Alencastro, explicam que a base


econômica e política do Império do Brasil era a escravidão. E com a abolição
da escravatura em 1888, a base da monarquia caiu um ano mais tarde”.

BRESCIANINI, C. P. Senadores lembram entrada em vigor da primeira


Constituição brasileira. Senado Notícias, Brasília, 25 mar. 2019. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/03/25/senadores-
lembram-entrada-em-vigor-da-primeira-constituicao-brasileira.
Acesso em: 20 jan. 2021.

24
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Assim, o seguro social se origina por uma criação legislativa, uma vez que apenas a caridade das
pessoas da comunidade não era suficiente para garantir condições mínimas de sobrevivência aos
necessitados. Para isso, foi necessário estabelecer empresas seguradoras que possuíam fins lucrativos,
a sua administração era embasada em critérios econômicos. Porém, com a Primeira Guerra Mundial,
que resultou em muitos órfãos, viúvas e feridos de guerra, a estrutura do seguro social sucumbiu à
tamanha demanda de beneficiários. Segundo Santos (2017), em 1919, foi assinado o Tratado de Paz,
conhecido como Tratado de Versalhes, que assumiu o compromisso de implantar um regime universal
de justiça social.

O Brasil, ao longo da sua evolução histórica, política e legislativa passou por inúmeras legislações
conforme novas constituições eram promulgadas. Mas com a promulgação da última Constituição
Federal do Brasil, a de 1988, permitiu-se estabelecer o sistema de seguridade social, que abrange três
áreas fundamentais: previdência social, saúde e assistência social.

Assim, conforme a Constituição Federal de 1988, a saúde é um direito de todos e dever do Estado,
devendo ele desenvolver políticas sociais econômicas com o objetivo de reduzir os riscos de doenças e
garantir o acesso universal igualitário aos serviços que promovem a proteção da saúde do cidadão e a
sua recuperação. Encontramos assim os seguintes princípios:

I – Acesso universal e igualitário;

II – Provimento das ações e serviços mediante rede regionalizada e


hierarquizada, integrados em sistema único;

III – Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

IV – Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas;

V – Participação da comunidade na gestão, fiscalização e acompanhamento


das ações e serviços de saúde; e

VI – Participação da iniciativa privada na assistência à saúde, em obediência


aos preceitos constitucionais (BRASIL, 1988).

É importante entender que a assistência social, independentemente de contribuição à seguridade


social, oferece atendimento às necessidades básicas para a proteção da família, da maternidade, da
infância, adolescência, velhice e das pessoas portadoras de deficiência.

A organização da assistência social obedecerá às seguintes diretrizes:

I – Descentralização político-administrativa;

II – Participação da população na formulação e controle das ações em


todos os níveis;
25
Unidade I

III – Proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

IV – Amparo às crianças e adolescentes carentes;

V – A promoção da integração ao mercado de trabalho;

VI – A habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a


promoção de sua integração à vida comunitária; e

VII – A garantia de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme dispuser a Lei
(BRASIL, 1988).

Esses benefícios assistenciais podem ser feitos de forma eventual ou contínua: o pagamento de
um salário mínimo para o portador de uma deficiência; a um idoso que não consegue garantir a sua
existência mesmo auxiliado por parentes; também são feitos no auxílio-natalidade ou por morte.
Além de outros benefícios que poderão ser estabelecidos visando suprir as necessidades durante uma
situação de vulnerabilidade temporária, priorizando a criança, a família, o idoso (acima de 65 anos), a
gestante, a pessoa portadora de deficiência, a nutriz, bem como nos casos de calamidade pública. Esses
direitos estão regulamentados pela Lei n. 8.742, de 1993, (Lei Orgânica da Assistência Social), bem como
pelo Decreto n. 6.214, de 2007.

Em relação à previdência social, é necessário ser contribuinte para poder, assim, tornar-se um
segurado, enquanto a seguridade social abrange todos os cidadãos. Dessa forma, a criação do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) fez com que o Estado deixasse de cuidar apenas do trabalhador e
amparasse, através da seguridade social, o desamparado, o menor, entre outros. Podemos citar como
exemplo a concessão pelo Ministério da Cidadania da pensão especial vitalícia às crianças com
microcefalia oriunda do vírus Zika, que nasceram entre 2015 e 2018.

Para o nosso estudo, vamos abordar a seguridade social na qual deve haver uma contribuição a fim
de fazer jus aos benefícios, a previdência que, em seu regime geral, atende aos trabalhadores urbanos
e rurais. Os servidores públicos também a possuem dentro de regimes próprios. Vamos tratar também
do regime complementar, formado pela previdência privada. Atualmente, a responsabilidade dessas
questões é tratada pela Secretaria da Previdência Social e do Trabalho, que faz parte do Ministério
da Economia.

No regime geral, a filiação é obrigatória e por caráter contributivo, atendendo a situações como
doenças, invalidez, morte e idade avançada; bem como a proteção à maternidade e a proteção ao
trabalhador em situação de desemprego involuntário; também compreende o salário-família e
salário‑reclusão para os segurados de baixa renda; e a pensão por morte do segurado ao seu cônjuge
ou companheiro e dependentes.

26
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Portanto, quando afirmamos que a previdência social tem filiação obrigatória praticamente a partir
do momento que se começa a contribuição, significa que a filiação já se faz quase que instantaneamente.
Ela é obrigatória, uma vez que ao trabalhar, produz-se renda, e, assim, a contribuição à previdência
social deve ser feita independentemente de registro na carteira, pois o autônomo, mesmo sem registro,
deve contribuir obrigatoriamente. Sendo assim, a partir da primeira contribuição, o trabalhador já será
considerado como um segurado da previdência social, conforme art. 201 da Constituição Federal de
1988 (BRASIL, 1988).

Já o art. 194 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) normatiza os princípios específicos da seguridade
social, os quais podem ser citados como sendo:

• O princípio da universalidade da cobertura é do atendimento.

• O princípio da uniformidade corresponde à equivalência dos benefícios e serviços às populações


urbanas e rurais.

• A seletividade corresponde à distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

• A irredutibilidade do valor dos benefícios.

• A equidade na forma de participação no custeio.

• A diversidade na base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para


cada área as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social,
preservando o caráter contributivo da previdência social.

• O caráter democrático é descentralizado da administração mediante gestão quadripartite com


participação dos trabalhadores, empregadores, aposentados e do governo nos órgãos colegiados.

Lembrete

A gestão quadripartite é formada por representantes dos trabalhadores,


empregadores, aposentados e do Poder Público. A participação de cada
um deles se dá através de órgãos colegiados de deliberação chamados
“conselhos de assistência social”, “conselho nacional de saúde” e “conselho
nacional da previdência social”.

2 NORMAS DE SEGURANÇA E INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

2.1 Apresentação das NRs – Lei n. 6.514/1977; Portaria n. 3.214/1978

Ao abordar o histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo, mostramos a evolução das


relações de trabalho e os movimentos sociais que surgiram ao longo da História. Ao mencionarmos a
27
Unidade I

evolução desses conceitos no Brasil, comentamos as mudanças socioeconômicas que o país vivenciou
na década de 1970, com grandes deslocamentos de trabalhadores rurais para as áreas urbanas e
aumento da mão de obra na indústria da construção civil. Sem dúvida, a falta de conhecimento,
treinamento e capacitação dessa mão de obra justificam, em parte, o elevado número de acidentes nesse
tipo de atividade econômica, porém a legislação necessitava evoluir e adaptar-se aos novos tempos.

Dessa forma, em 22 de dezembro de 1977, foi publicada a Lei n. 6.514, que alterou o capítulo 5 da CLT,
tratando das questões de segurança e medicina do trabalho. Essa lei abordou pontos importantes, como:

• Inspeção prévia, embargo ou interdição.

• Órgãos de segurança e medicina do trabalho nas empresas.

• Equipamentos de proteção individual.

• Medidas preventivas de medicina do trabalho.

• Edificações.

• Iluminação.

• Conforto térmico.

• Instalações elétricas.

• Movimentação, armazenagem e manuseio de materiais.

• Máquinas e equipamentos.

• Caldeiras, fornos e recipientes sob pressão.

• Atividades insalubres ou perigosas.

• Prevenção da fadiga.

• Medidas especiais de proteção e penalidades.

Dessa forma, a legislação a respeito da segurança do trabalho passou para outro nível. Em 8 de junho
de 1978, a Portaria n. 3.214 aprovou e regulamentou as NRs de segurança e saúde no trabalho, sendo
inicialmente 28 NRs; atualmente, temos 37.

Essas normas passam por atualização através das comissões tripartites paritárias permanentes (CTPP).
As novas atualizações estariam previstas para entrar em vigor a partir de março de 2021, mas foram
adiadas para agosto de 2021. Vamos agora descrever rapidamente cada uma delas (BRASIL, [s.d.]b):
28
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

• NR 1 – Disposições Gerais: o novo texto atualizou para “Disposições Gerais e Gerenciamento


de Riscos Ocupacionais”. Com a atualização dessa norma, ela passou a ter um papel ainda mais
importante sobre as demais, pois ela trata agora da gestão de riscos ocupacionais (GRO). Torna-se,
assim, o pilar para as demais normas e os sistemas de gestão de segurança do trabalho.

• NR 2 – Inspeção Prévia: com a revisão das normas, essa NR foi revogada pela Portaria SEPRT
n. 915, de 30 de julho de 2019. Nunca teve um efeito prático real, mas poderia ter sido atualizada
para definir um sistema de fiscalização dos ambientes de trabalho, infelizmente, só a revogaram.

• NR 3 – Embargo ou Interdição: dispõe sobre o embargo ou interdição de obras, máquinas ou


equipamentos, quando caracterizado risco grave ou iminente toda a condição ou situação de
trabalho que possa causar acidente ou doença com lesão grave ao trabalhador. Depende de uma
fiscalização, que sabemos ser precária em nosso país. Mas devido a denúncias, a fiscalização se
torna necessária.

• NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho


(SESMT): dispõe sobre a obrigatoriedade de manter serviços especializados em engenharia de
segurança e em medicina do trabalho, os quais têm a finalidade de promover a saúde e proteger
a integridade do trabalhador no local de trabalho. Também orienta sobre o dimensionamento
do SESMT. Na prática, pelo dimensionamento do SESMT, são poucas as empresas que realmente
devem constituí-lo.

• NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa): define o objetivo da Cipa, a forma


que deve ser constituída, organizada, as suas atribuições, o seu funcionamento, o treinamento
do cipeiros, o processo eleitoral, as contratantes e contratadas, entre outros. Falaremos sobre a
Cipa adiante, mas cabe registrar aqui que quando realmente temos uma Cipa participativa e bem
orientada, os benefícios são para todos, empresas e empregados.

• NR 6 – Equipamento de Proteção Individual (EPI): define os equipamentos de proteção individual,


equipamentos julgados de proteção individual, sobre as responsabilidades do empregador, do
empregado, do fabricante, de quem os comercializa, os importa e de quem os fiscaliza. Essa norma
também possui no seu final um anexo com a descrição de todos os equipamentos individuais.

• NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): determina como


deve ser elaborado o programa de controle médico de saúde ocupacional, os exames que devem
constar nesse programa, sendo que também passou por atualização que entraria em vigor em
9 de março de 2020, adiada para agosto de 2021, até o momento.

• NR 8 – Edificações: encontramos os requisitos técnicos mínimos a serem seguidos de forma a


garantir segurança e conforto aos trabalhadores. A atividade da indústria da construção é a que
mais gera acidentes de trabalho, tendo um ambiente em constante mudança e os mais diversos
riscos a serem gerenciados. Com certeza, é um dos grandes desafios na segurança do trabalho.

29
Unidade I

• NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais: norma atualizada para “Avaliação e


Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos”, conforme o novo
texto, que deveria entrar em vigor em 10 de março de 2021, data que também foi adiada para
agosto de 2021.

• NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade: determina os requisitos e


as condições mínimas para a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos em
instalações de serviços com eletricidade, visando garantir a proteção dos trabalhadores que atuam
nesse segmento.

• NR 11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais: apresenta


normas de segurança para utilização de equipamentos de transporte e movimentação de materiais
nas mais diversas situações, buscando mostrar os procedimentos que devem ser adotados para
garantir a segurança dos trabalhadores.

• NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos: determina os critérios e


dispositivos de segurança que devem ser observados na fabricação de máquinas, instalação
e operação, de forma a garantir a segurança ao seu operador. Cabe lembrar que os acidentes
com máquinas e equipamentos costumam deixar sequelas permanentes quando não retiram a
vida do trabalhador. Portanto o que se apresenta nessa norma deve ser o mínimo a se exigir em
busca da garantia da segurança dos trabalhadores.

• NR 13 – Caldeiras, Vasos de Pressão e Tubulações e Tanques Metálicos de Armazenamento:


estabelece os requisitos mínimos que devem ser observados para fazer a correta gestão da
integridade estrutural de caldeiras a vapor, vasos de pressão, suas tubulações de interligação e
tanques metálicos de armazenamento.

• NR 14 – Fornos: apresenta os requisitos a serem seguidos para o uso correto e seguro de fornos
no ambiente de trabalho. Toda fonte de energia sempre gera riscos; a energia térmica afeta o
trabalho de diversas formas, portanto deve-se fazer uma análise em conjunto com outras NRs.

• NR 15 – Atividades e Operações Insalubres: relacionada aos riscos físicos, químicos e biológicos


existentes no ambiente de trabalho e que, por sua vez, ultrapassam os limites de tolerância, criando
um ambiente insalubre, o que irá causar prejuízos à saúde do trabalhador. Assim se encontra nessa
norma uma relação de limites de tolerância e/ou exposição ao qual o trabalhador pode ficar
exposto sem causar danos a sua saúde. Caso esses limites sejam ultrapassados, a norma determina
o pagamento de adicional insalubridade conforme o grau do agente de risco.

• NR 16 – Atividades e Operações Perigosas: descreve as atividades que se enquadram em


condições de periculosidade para os trabalhadores que as executam, assim tendo o direito à
percepção do adicional periculosidade. A segurança privada está inclusa nas atividades periculosas
e, portanto, recomendamos uma leitura mais detalhada dessa norma.

30
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

• NR 17 – Ergonomia: encontramos os parâmetros para adaptar as condições de trabalho às


características psicofisiológicas dos trabalhadores, buscando oferecer ambientes seguros com o
máximo de conforto para que possam ter um desempenho eficiente nas suas atividades. Ela se
aplica em todas as atividades, mas na segurança privada ela tem uma importância muito grande
para a qualidade dos ambientes de trabalho, os procedimentos e cuidados para preservar a saúde
dos trabalhadores nesse setor em especial.

• NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção: com o novo


texto apresentado em sua atualização, que entrou em vigor no dia 10 de fevereiro de 2020, o
título foi alterado para “Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção”.

• NR 19 – Explosivos: define o que é considerado tecnicamente como explosivo, questões


relacionadas à sua fabricação, ao seu armazenamento e ao seu transporte.

• NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis: apresenta os


requisitos mínimos para gestão de segurança e saúde no trabalho contra os fatores de risco
de acidentes oriundos das atividades relacionadas com a extração, produção, armazenamento,
transferência, manuseio em manipulação de inflamáveis e líquidos combustíveis.

• NR 21 – Trabalhos a Céu Aberto: apresenta as medidas de proteção necessárias para os


trabalhadores que atuam a céu aberto e ficam expostos à insolação excessiva, ao calor, ao frio, à
umidade e aos ventos inconvenientes.

• NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: dispõe sobre os requisitos mínimos


necessários para organizar a segurança nesses ambientes e em quem atua nesse ramo de atividade,
visando garantir a segurança e saúde dos trabalhadores.

• NR 23 – Proteção contra Incêndios: atualizada em 2011, reduzindo significativamente as suas


orientações, transferindo a responsabilidade para a legislação estadual e às normas técnicas
aplicáveis, ou seja, às instruções técnicas (IT) dos respectivos corpos de bombeiros de cada estado.

• NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho: apresenta as


condições mínimas de higiene e conforto que devem ser observadas pelas empresas, como bom
dimensionamento e projeto das instalações sanitárias, dos vestiários, dos refeitórios e das cozinhas,
dos alojamentos, das vestimentas de trabalho.

• NR 25 – Resíduos Industriais: apresenta os conceitos de resíduos líquidos sólidos e gasosos e


da forma como eles devem ser tratados para garantir a proteção do meio ambiente de trabalho.

• NR 26 – Sinalização de Segurança: apresenta os padrões a serem seguidos para a utilização de


cores, para sinalizar ações luminosas, sonoras, verbais, gestuais e demais formas que transmitam
as informações necessárias para que o trabalhador aja de maneira segura em cada situação
informada de risco.

31
Unidade I

• NR 27 – Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho: revogada.

• NR 28 – Fiscalização e Penalidades: determina a forma pela qual se devem executar as


fiscalizações do trabalho, bem como o grau da infração que vai constar no livro de inspeção e alto
de atuação nos casos previstos em lei.

• NR 29 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: a partir


dessa norma, desenvolveram-se as normas específicas para determinadas áreas de atividades
econômicas que oferecem riscos próprios característicos e não previstos nas 28 primeiras NRs
criadas pela Portaria n. 3.214, de 1978. Essa norma foi criada em 2014, descreve as atividades
portuárias e determina os procedimentos de segurança a serem adotados.

• NR 30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário: busca apresentar os procedimentos de


proteção e regulamentação das condições de segurança e saúde dos trabalhadores aquaviários.

• NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração


Florestal e Aquicultura: estabelece os preceitos que devem ser seguidos para as empresas que
atuam nesse ramo econômico.

• NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços da Saúde: estabelece as diretrizes


básicas para a implementação de medidas de proteção e segurança à saúde dos trabalhadores dos
serviços da saúde.

• NR 33 – Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados: define o que é espaço


confinado e apresenta os riscos que devem ser controlados para garantir que as operações em
espaços confinados não ofereçam riscos aos trabalhadores que devem adentrá-los.

• NR 34 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, Reparação


e Desmonte Naval: apresenta os requisitos mínimos que devem ser observados para garantir a
segurança dos trabalhadores que atuam nesse segmento.

• NR 35 – Trabalho em Altura: determina os procedimentos, equipamentos, treinamentos, entre


outros, que devem ser observados para garantir a segurança dos trabalhadores nas atividades
classificadas como “trabalho em altura”.

• NR 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de


Carnes e Derivados: estabelece os requisitos mínimos para avaliação, controle e monitoramento
dos riscos existentes nesse ramo de atividade, visando à proteção e segurança permanentes no
trabalho duro, garantindo saúde e qualidade de vida.

• NR 37 – Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo: estabelece os requisitos mínimos


de segurança, saúde e condições de vivência no trabalho a bordo de plataformas de petróleo em
operações nas águas jurisdicionais brasileiras (AJB).

32
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Assim encerramos essa passagem breve por cada uma das NRs. Quando bem aplicadas, criam um
sistema de gestão de segurança do trabalho a fim de que as organizações possam garantir a integridade
física e psicológica do trabalhador nas mais diversas atividades laborais.

Lembrete

As CTPPs buscam garantir as atualizações das NRs de forma que elas


possam estar alinhadas às reais necessidades da sociedade, assegurando,
assim, as condições mínimas de segurança e higiene do trabalho para todos
os trabalhadores.

2.2 Investigação das causas de acidentes do trabalho

Para abordar a investigação das causas de acidentes de trabalho, é importante mencionar Herbert
William Heinrich, que, em 1931, lançou um livro sobre prevenção de acidentes na indústria com
abordagem científica: Industrial accident prevention: a scientific approach.

Heirinch era engenheiro de riscos de uma grande empresa de seguros. Ele começou a observar
os vários acidentes que seus clientes sofriam, com isso, fez uma relação entre eles, chegando a uma
proporção de 1 acidente incapacitante para cada 29 acidentes não incapacitantes e 300 acidentes sem
lesão (HEINRICH, 1931).

Analisando em torno de 75 mil acidentes, ele criou uma pirâmide a fim de representar a relação entre
eles; o acidente incapacitante estava no topo dessa pirâmide e, na sua base, os acidentes sem lesão.

Ele observou quais eram as causas predominantes dos acidentes, como segue:

• Personalidade do trabalhador: o perfil do trabalhador resultava em posturas no ambiente de


trabalho que causavam acidentes.

• Falha humana no exercício do trabalho: motivos relacionados à falta de capacitação, de


concentração na tarefa, de análise adequada dos riscos, entre outros relacionados ao homem,
eram os responsáveis pelos acidentes.

• Prática de atos inseguros: o trabalhador se expunha deliberadamente a situações de risco que


acabavam se materializando em acidentes.

• Condições inseguras do local de trabalho: a falta de organização, a limpeza do ambiente, as


instalações precárias, entre outros motivos relacionados ao próprio ambiente de trabalho, eram os
responsáveis pelos acidentes.

O trabalho desenvolvido por Heirinch foi o início dos estudos de outro engenheiro chamado Frank
Bird Jr., que atuava na empresa de siderurgia Lukens Steel. Buscando implantar um programa para
33
Unidade I

reduzir as perdas decorrentes de danos materiais e controlar os danos à propriedade, no período de


1959 até 1966, analisou em torno de 90 mil acidentes de trabalho a fim de aperfeiçoar o controle
de danos. Dessa forma, constatou outra relação entre os tipos de acidentes, sendo que para cada um
acidente com lesão (topo da pirâmide) incapacitante, ocorriam cem acidentes com lesão não incapacitante
e quinhentos acidentes que provocavam danos ao patrimônio (base da pirâmide) (BIRD, 1966).

Frank era engenheiro e trabalhava como gestor de programas de segurança de empresas


norte‑americanas em uma grande empresa de seguros. Após esse primeiro estudo, conseguiu elaborar,
em 1969, uma nova pirâmide, que ficou mundialmente conhecida como “pirâmide de Bird”. Nessa época,
ele publicou sua obra Damage control, ou Controle de danos. Para chegar nessa nova pirâmide, ele e
sua equipe continuaram a colher informações sobre mais acidentes, chegando a totalizar 1,7 milhão
de ocorrências analisadas, em 297 empresas estudadas que representavam 21 ramos de empresas
diferentes. Um ponto relevante nesse estudo foi que, ao contrário de Heirinch, Bird considerou na sua
análise os acidentes envolvendo perdas de patrimônio e danos ao meio ambiente, não ficando apenas
nos acidentes envolvendo lesões nas pessoas. No final do seu estudo, já havia dados que representavam
aproximadamente 3 bilhões de homens-hora em exposição ao risco (BIRD, 1966).

Cabe destacar que na sua obra sobre controle de danos, ele considerou quatro aspectos que deveriam
ser observados para conseguir efetivamente o controle de perdas e danos, sendo eles (BIRD, 1966):

• informação;

• investigação;

• análise;

• revisão do processo.

A famosa pirâmide de Bird está apresentada a seguir:

1 Lesão incapacitante

Lesões não incapacitantes


100

500 Acidentes com danos à propriedade

Figura 6 – Pirâmide de Bird

34
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

O trabalho feito por Bird mostrava informações com dados e projeções estatísticas e financeiras
das perdas pessoais e materiais sofridas pela empresa. Ele buscou mostrar que com a nova forma
apresentada para fazer a segurança, combatendo todo e qualquer tipo de acidente, seria possível liberar
mais recursos para a segurança.

Como Bird considerou todos os acidentes que resultavam em perdas, ele pôde desenvolver o seu
programa de controle de danos, que necessitava que fossem identificados, registrados e investigados
todos os danos à propriedade e os custos gerados para a empresa, além do que tal controle requeria que
ações preventivas fossem tomadas ao final dessa análise.

Dessa forma, ele alterou a regra nas investigações de acidentes que orientavam a comunicação
do acidente para um superior apenas quando houvesse lesão pessoal e orientou que fossem relatados
também os que geravam dano à propriedade, mesmo que fosse de pequena importância.

Assim, o programa de controle de danos, para ser incorporado em uma empresa, necessitava de três
passos básicos:

• verificações iniciais;

• informações dos centros de controle;

• exame analítico.

A primeira etapa, de verificações iniciais, se refere ao conhecimento dos sistemas de controle de danos
já existentes na empresa e a presença do departamento de manutenção. Fazendo essas verificações
iniciais, falhas ou vulnerabilidades existentes no programa da empresa poderão ser observadas.

Na segunda etapa, em que efetivamente se faz a manutenção para reparar os danos, é onde devem
ocorrer os registros de todos os danos à propriedade. Esses registros formam a base dos dados para a
análise das ocorrências e as suas características.

Na última etapa, voltada ao exame analítico, é que se faz a interpretação dos dados gerados
na etapa anterior, buscando implantar as medidas de controle adequadas aos tipos de falhas e
ocorrências identificadas.

Dando continuidade a todo o trabalho desenvolvido por Bird, em 1969, a Insurance of North
America (Inca) analisou os dados levantados junto a 297 empresas que empregavam em torno de
1.750.000 pessoas e onde foram registradas 1.753.498 ocorrências (apud CYRINO, 2017). Esse estudo,
com uma base amostral muito maior, permitiu que se desenvolvesse uma relação mais precisa do que
a apresentada por Bird e Heinrich, além disso, introduziu o conceito de incidente ou quase acidente.
Ao incluir os incidentes, revela-se potencial de ocorrer um acidente, além do risco potencial em cada
um desses incidentes. Dessa forma, surge a pirâmide da Inca ou a pirâmide 641, conforme podemos
ver a seguir.

35
Unidade I

1 Acidente grave ou fatal

10 Acidentes leves sem afastamento

30 Acidentes com perda material

600 Atos e condições inseguras

Figura 7 – Pirâmide da Inca ou Pirâmide 641

Em 1970, John A. Fletcher junto com H. M. Douglas aprofundaram os estudos de Bird e propuseram
um programa de controle total de perdas, no qual, além de aplicar os princípios do controle de danos
desenvolvidos por Bird, consideravam as instalações, o meio ambiente, as máquinas de equipamentos e
todo o patrimônio da empresa, sem deixar de aplicar as ações de prevenção de lesões.

Esse controle total de perdas apresentado por Fletcher é o que mais se aproxima dos programas
atuais, cobrindo os seguintes pontos:

• proteção do trabalhador com foco na prevenção de lesões;

• controle total de acidentes, evitando danos à propriedade, às máquinas e aos equipamentos;

• prevenção de incêndios, uma vez que causam grandes perdas materiais e, por vezes, humanas;

• segurança patrimonial, protegendo os bens da organização;

• preocupação com a higiene e saúde industrial;

• controle do dano ambiental através da contaminação do ar, água e solo;

• responsabilidade pelo produto.

36
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Saiba mais

Para aprofundar-se mais na questão de prevenção e controle de perdas,


acesse o link:

FIGUEIREDO JR., J. V. Prevenção e controle de perdas: abordagem integrada.


Natal: IFRN, 2009. Disponível em: https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/
handle/1044/1081/Prevencao%20e%20controle%20de%20perdas%20-%20
Ebook.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 jan. 2021.

A análise de acidentes, como podemos ver nos estudos desenvolvidos para criar programas de
controle de dano e controle total de perdas, mostra-se fundamental a fim de agir na raiz dos problemas
que geram os acidentes. Exatamente por essa questão, é importante saber fazer uma correta análise
dos acidentes. Se a análise for falha, ou superficial, a identificação de sua causa real será difícil de ser
estabelecida, e o problema não será solucionado.

Existem algumas formas de fazer a análise de acidentes, vamos apresentar duas delas: o sistema
convencional e o chamado “método Mapa” – modelo de análise e prevenção de acidentes.

O sistema convencional tem algumas limitações e resulta em indicadores estatísticos, entre eles, o
coeficiente de frequência, o coeficiente de gravidade e o índice de avaliação de gravidade. Com o uso
desses indicadores, pode-se avaliar a perda de produção na empresa. Basicamente, o cálculo é feito em
dois passos: no primeiro, calculam-se os dias em que o empregado ficou ausente do trabalho e os dias
debitados que só são adicionados nos casos em que ocorrem incapacidade permanente; no segundo
passo, calcula-se a taxa de gravidade, sendo o resultado dos dias computados em um milhão de horas
de exposição ao risco.

Assim temos:

• NE: número de empregados do setor.


• H: homem-horas de exposição ao risco. É calculado considerando o número de funcionários do
setor, a jornada de trabalho e o período de análise.
• DP: dias perdidos. São os dias de afastamento de cada acidentado, contados a partir do primeiro
dia de afastamento até o dia anterior ao dia de retorno ao trabalho, segundo a orientação médica.
• DD: dias debitados. São os dias que devem ser debitados devido à morte ou incapacidade
permanente, total ou parcial.
• N: número de acidentes.
• T: tempo computado = DD + DP

37
Unidade I

• F: coeficiente de frequência = N x 106 H

• G: coeficiente de gravidade = T x 106 H

• IAG: índice de avaliação de gravidade = G/ F = T/ N

Assim, ao tabelar os dados e calcular o IAG, os setores que possuírem o maior valor poderão ser
priorizados.

Quanto aos dias debitados, utiliza-se a tabela representada a seguir, que consta no anexo da NR 5, a
Portaria n. 33, de 27 de outubro de 1983.

Tabela 1

Avaliação Dias
Natureza percentual debitados
Morte 100 6.000
Incapacidade total e permanente 100 6.000
Perda visão de ambos os olhos 100 6.000
Perda da visão de um olho 30 1.800
Perda do braço acima do cotovelo 75 4.500
Perda do braço abaixo do cotovelo 60 3.600
Perda da mão 50 3.000
Perda do 1º quirodátilo (polegar) 10 600
Perda qualquer outro quirodátilo 5 300
Perda de dois outros quirodátilos 12½ 750
Perda de três outros quirodátilos 20 1.200
Perda do 1ºquirodátilo (polegar) e qualquer outro quirodátilo 30 1.800
Perda do 1º quirodátilo (polegar) e dois outros quirodátilos 25 1.500
Perda do 1º quirodátilo (polegar) e três outros quirodátilos 33½ 2.000
Perdado 1º quirodátilo (polegar) e quatro outros quirodátilos 40 2.400
Perda da perna acima do joelho 75 4.500
Perda da perna no joelho ou abaixo dele 50 3.000
Perda do pé 40 2.400
Perda do pododátilo (dedo grande) ou de dois outros ou mais pododátilos 6 300
Perdado 1º pododátilo (dedo grande) de ambos os pés 10 600
Perda de qualquer outro pododático 0 0
Perda da audição de um ouvido 10 600
Perda da audição de ambos os ouvidos 50 3.000

Fonte: Brasil (1983).

38
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

A outra forma de fazer uma análise de acidente do trabalho utiliza o método Mapa, criado pelo
professor dr. Ildeberto Muniz Almeida e pelo professor dr. Rodolfo Andrade Gouveia Vilela, pelo Centro
de Referência em Saúde do Trabalhador, o Cerest de Piracicaba, em 2010.

Esse modelo de análise, basicamente, busca encontrar a origem do acidente e indicar as medidas
de prevenção que devem ser adotadas para evitar que ele se repita. Eles elaboraram um guia prático
através de perguntas que devem ser respondidas ao longo da condução da análise utilizando conceitos
de ergonomia da atividade, engenharia de segurança, psicologia cognitiva e análise de acidentes em
sociologia e antropologia.

Há vários aspectos interessantes nesse modelo e que vale a pena serem estudados por quem pretende
fazer análises de acidentes do trabalho e buscar encontrar medidas preventivas adequadas para evitar
que ocorra outro acidente igual.

Ele apresenta na sua análise o modelo “gravata-borboleta”, que demonstra claramente como esse
método amplia a abrangência da análise e da prevenção.
Perigo

Distais Proximais Proximais Distais

2. Evento
indesejado

1. Antecedentes 3. Consequências

Figura 8 – Modelo gravata-borboleta

Ao analisar o modelo gravata-borboleta, pode-se observar que do lado esquerdo se encontram as


barreiras que visam à proteção do evento indesejado; enquanto do lado direito temos a finalidade da
proteção, que são as pessoas e os bens que queremos evitar que sofram as consequências desse evento
indesejado (HALE et al., 2007).

Nesse modelo, fica bem claro que devemos garantir as barreiras do lado esquerdo a fim de evitar que
o evento indesejado ocorra, contudo, caso essas barreiras falhem, o que sempre deve ser considerado,
devemos buscar, do lado direito do evento indesejado, medidas de contenção que evitem ou minimizem
os danos ao atingir as pessoas ou os bens que se encontram na outra extremidade.

Por melhor que sejam as barreiras criadas para garantir a proteção, James Reason (1997) se refere
aos buracos existentes em todas as barreiras e que, num determinado momento, por um conjunto de
variáveis específicas, os buracos de todas as barreiras se alinham, permitindo, assim, o livre fluxo para
gerar o evento indesejado. Podemos entender melhor através na figura a seguir.

39
Unidade I

Perigo
Buracos devido
a condições
latentes

Barreiras

Buracos devido
a falhas ativas

Figura 9 – Modelo do queijo suíço de Reason

Saiba mais

O modelo Mapa pode ser acessado pelo link:

ALMEIDA, I. M.; VILELA, R. A. G. Modelo de análise e prevenção de


acidentes de trabalho Mapa. Piracicaba: Cerest, 2010. Disponível em: http://
www.cerest.piracicaba.sp.gov.br/site/images/MAPA_SEQUENCIAL_FINAL.
pdf. Acesso em: 20 jan. 2021.

Esse manual foi elaborado para auxiliar os auditores fiscais em sua


atividade de análise dos acidentes de trabalho, é autoexplicativo e apresenta
exemplos a fim de facilitar a sua compreensão e uso.

Recomendamos a leitura a todos que desejam fazer uma boa análise


de acidente do trabalho, além de auxiliar a estabelecer uma interpretação
crítica deste material.

40
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Resumo

Vimos a evolução histórica da segurança do trabalho no mundo e,


posteriormente, no Brasil.

Pode-se observar como a relação trabalho versus capital, desde a


sua origem, afetava e afeta a harmonia social, uma vez que, através do
trabalho, o indivíduo busca o seu sustento e o da sua família. Dessa forma,
as condições encontradas nos ambientes de trabalho afetam diretamente
a saúde física e mental do trabalhador, e indiretamente a da sua família.
Isso explica os grandes movimentos organizados das massas trabalhadoras
para lutar por melhores condições de trabalho, jornadas mais justas e
salários adequados.

Com a Revolução Industrial fazendo com que grandes massas da


população rural se deslocassem para os grandes centros urbanos em
busca de empregos na indústria, aumentaram as tensões sociais devido às
condições de trabalho existentes nessa época, provocando o aparecimento
de várias correntes políticas e ideológicas que lutavam não somente por
melhorias das condições de trabalho, mas pela elaboração de leis, como
também para implantar novas ideologias políticas.

Depois, focamos os avanços das questões de segurança do trabalho e


meio ambiente, a evolução da legislação trabalhista no mundo e no Brasil,
bem como as questões da seguridade social e a legislação acidentária.

Em relação à legislação de segurança do trabalho aqui, no Brasil,


apresentamos as principais mudanças que ocorreram com a publicação da
Lei n. 6.514/1977 e da Portaria n. 3.214/1978, que criaram as NRs, a base
da segurança do trabalho, a serem seguidas por todas as empresas visando
garantir as condições mínimas de segurança e qualidade no ambiente de
trabalho para que os trabalhadores possam executar as suas atividades em
segurança e retornarem para casa com saúde e integridade física.

Também apresentamos os conceitos na investigação das causas de


acidente do trabalho. Utilizamos o sistema convencional, que permite
levantar índices estatísticos de acidentes para poder priorizar ações nos
setores que oferecem mais gravidade.

Analisamos o modelo de análise conhecido como Mapa, que permite


utilizar técnicas de análise apoiadas nos conhecimentos da ergonomia,
engenharia de segurança, psicologia cognitiva, entre outras áreas que

41
Unidade I

oferecem suporte à segurança do trabalho, permitindo buscar as causas


reais dos acidentes e, dessa forma, encontrar as ações preventivas de
controle de riscos necessárias de serem implantadas a fim de evitar que
outro evento indesejado volte a ocorrer.

Exercícios

Questão 1. Considere os dados da tabela a seguir referentes às empresas A e B e avalie as afirmativas.

Tabela 2

Empresa Número de acidentes Horas-homem de exposição ao risco


A 24 800.000
B 75 3.000.000

I – A taxa de frequência de acidentes da empresa B é maior do que a taxa de frequência de acidentes


da empresa A.

II – A taxa de frequência de acidentes da empresa A é igual a 30.

III – A taxa de frequência é uma forma de a empresa prever a quantidade de acidentes para um
milhão de horas trabalhadas.

É correto o que se afirma em:

A) I, II e III.

B) I e III, apenas.

C) I e II, apenas.

D) II e III, apenas.

E) III, apenas.

Resposta correta: alternativa D.

Análise da questão

Justificativa: a taxa de frequência de acidentes, indicada por TF, é definida como a quantidade de
acidentes que aconteceriam em certo mês se fossem trabalhadas 1 milhão de horas nesse mês. Assim,

42
SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

concluímos que a TA é um índice que permite que a empresa determine o número de acidentes para
1 milhão de horas trabalhadas.

Pela definição apresentada, temos o que segue.


(Número de acidentes) x 1.000.000
TA =
Horas-homem de exposição ao risco
Vamos chamar de:

TAA a taxa de frequência de acidentes da empresa A;

TAB a taxa de frequência de acidentes da empresa B.

Logo, ficamos com os cálculos mostrados a seguir.


24 x 1.000.000 75 x 1.000.000
TAA = = 30 e TAB = = 25
800.000 3.000.000
Questão 2. Leia o texto a seguir.

“[...] O relatório de acidente de trabalho, cujo preenchimento incorpora sugestões da ‘Diretiva de


Seveso’, é constituído das seguintes partes:

• identificação da empresa em que ocorreu o acidente;

• resumo ou perfil do acidente (em uma página): inclui campos para descrição do tipo de acidente,
substância diretamente envolvida, origens imediatas do acidente, causas suspeitas (da fábrica ou
equipamentos, humanas, ambientais ou outras, natureza de defeitos, erros, falhas e sequência de
eventos), efeitos imediatos, medidas emergenciais adotadas e lições imediatas aprendidas a partir
da ocorrência;

• análise do acidente organizada em três partes: ocorrência, consequências e resposta [...].

Disponível em: http://bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/services/e-


books-MS/pub_cne_analise_acidente%5B1%5D.pdf. Acesso em: 8 jan. 2021 (com adaptações).

Os acidentes de trabalho, segundo suas causas, podem ser enquadrados nas seguintes categorias:

I – operacionais;

II – ambientais;

III – organizacionais;

IV – pessoais.

43
Unidade I

Acidentes causados por falhas em equipamentos, precipitações muito superiores à média ocorrida
nos últimos anos, falhas de colaboradores na análise de processos e falta de capacitação de funcionários
são enquadrados, respectivamente, nas categorias:

A) I, III, II e IV.

B) I, II, IV e III.

C) III, II, I e IV.

D) III, I, II e IV.

E) II, I, IV e III.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

Afirmativa I.

Justificativa: os acidentes operacionais são causados por falhas em componentes de materiais ou


em equipamentos e máquinas, por exemplo.

Afirmativa II.

Justificativa: os acidentes ambientais são causados por alterações climáticas ou eventos naturais
severos, por exemplo.

Afirmativa III.

Justificativa: os acidentes organizacionais são causados por ausência/ineficiência de treinamentos


ou falta de programas de capacitação, por exemplo.

Afirmativa IV.

Justificativa: os acidentes pessoais são causados por erros feitos por colaboradores, por exemplo.

44

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