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HISTÓRIAS

ERÓTICAS
DE PESSOAS (IN)COMUNS

COLLECTION

Elaine Novaes Falco

MAILBOX
BOOKS
Elaine Novaes Falco

HISTÓRIAS ERÓTICAS
DE PESSOAS (IN)COMUNS

Setembro / 2001
FICHA TÉCNICA

Título original: Histórias Eróticas De Pessoas (In)Comuns


Autora: Elaine Novaes Falco

Editora: Caixa Postal (Mailbox Books)


Cidade: Curitiba
Estado: Paraná
País: Brasil
Ano: 2001

Revisão: Elaine Novaes Falco e Eumar José Köhler


Revisão final: Inês Surnameless
Projeto Da Capa: Evandro Madeira
ÍNDICE

CAPÍTULO I - "As Melhores Coisas Da Vida São Inesperadas" ____________________ 2


CAPÍTULO II - "A Vitória Da Toalha" __________________________________________ 6
CAPÍTULO III - "O Swing Particular" __________________________________________ 8
CAPÍTULO IV - "Inusitadas Zonas Erógenas" ___________________________________ 12
CAPÍTULO V - "Costurando As Próprias Fantasias" _____________________________ 16
CAPÍTULO VI - "O Início Do Fim" _____________________________________________ 19

©2001, Elaine Novaes Falco - All Rights Reserved


℗ 2001, Editora CAIXA POSTAL (Mailbox Books)
Curitiba, PR - Brazil

O
P 2001

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Capítulo I
“AS MELHORES COISAS DA VIDA SÃO INESPERADAS”

E então, lá estava eu. Olhando a vida pelo espelho retrovisor, e insegura.

Dez anos de relacionamento, namoro, casamento, absoluta fidelidade a um


mesmo homem, e enfim o divórcio, sofrido, cheio de repercussões na minha vida
pessoal e profissional. Mas eu tinha que recomeçar. Uma hora, teria que tentar, por
mais apavorante que fosse, sair da casca, descobrir no quê eu havia me transformado,
tentar estar com outro homem, alguém desconhecido, uma primeira vez, outra vez.

Comecei tímida, retraindo a cada bobagem que me diziam, mais afastando do


que atraindo pessoas. Medo. Na verdade, eu não queria recomeçar, eu queria parar o
tempo, ficar onde estava, quieta. Mas os dias eram implacáveis, passavam um em
seguida do outro, vinte e quatro horas contadas no relógio, vinte e quatro horas a
menos da minha vida enquanto eu olhava as paredes.

Eu nem sei explicar direito como foi que ele apareceu. Uma situação de trabalho
qualquer, destas que acontecem todo dia, e então houve um toque, um olhar, e lá
estava eu correspondendo, meio na brincadeira, aceitando como um elogio sem
consequências a cantada explícita que me foi feita. Ele era muito bonito, mais jovem
do que eu, cheio das malhações, corpo lindo, amantes a rodo, uma conversa educada
e interessante, autêntico. Perfeito. Gastei os olhos, era areia demais para o meu
caminhãozinho, flertei na segurança que, com tudo aquilo, jamais seria mais do que
uma brincadeira.

Mas aquilo me atiçou, mais do que gostaria de reconhecer. Meus seios


começavam a doer em busca de um carinho inexistente, divagava muito tempo
imaginando como seria sentir de novo o gosto de um beijo, a sensação das mãos dele
tocando meu corpo. Tinha dificuldades em desviar o pensamento, nas horas mais
impróprias sentia a respiração dele tão próxima da nuca, a proximidade do roçar na
pele, e então acordava do devaneio preocupada se alguém teria percebido um suspiro
inconveniente ou um gesto descabido. Então decidia me concentrar em outra coisa,
olhava o trabalho por fazer, e tinha que decidir novamente, pois lá estava eu sonhando
acordada outra vez, imaginando como seria o corpo dele, como seria despi-lo, quão
quente estariam suas mãos, se seria capaz de excitá-lo, tentando recordar o som de
sua voz grave.

Fiz o impossível para agir natural nas vezes que nos encontramos novamente, e
quase não acreditei quando ele fez o convite tão esperado, e tão temido, junto com
uma carícia destas indevidas, furtivas, deliciosas e impossíveis de não compreender...

Devo ter levado uns três dias na dúvida. Vou. Não vou. Vou, não vou...

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Antes, por via das dúvidas, dei, claro, aquela conferida geral e irrestrita no
espelho. Não devia ter feito isso, só serviu para ter certeza de que NÃO estava tudo
OK. Achei mais uns quinhentos defeitos que ainda não sabia que tinha, a celulite com
certeza tinha aumentado, nem tinha notado o quanto meus seios haviam caído, aquela
marca com certeza era uma ruga aparecendo visível por quilômetros. E as espinhas na
bunda?!? Um terror!!!! Horrorizei-me, pensei bem, e meio que por impulso e no susto,
decidi: VOU.

Fui, morrendo de medo, claro. Depois de dez anos fazendo amor com um
mesmo homem, você sabe até pela respiração como vai ser a performance de hoje.
Sabe se será rápido ou demorado, e cada palavra boba que dirá no ouvido se quiser
apressar a relação. Sabe como se fazer desejada, e como se fazer desprezada. Sabe
quais serão os elogios, e, muito mais, quais serão as críticas...

E agora?

Outro, diferente, que eu nem sei como é. Carinhoso? Agressivo? Que carinhos
gostará? Vai me comparar com quantas outras? Pensei: bom, se fosse um desastre,
pelo menos teria uma primeira experiência, saberia onde melhorar na segunda.

Combinamos sair, direto ao assunto, melhor assim. Não teria agüentado a


ansiedade de um jantar formal, achando assunto aonde ele não existia. Eu ia fazer
sexo de novo, com um homem desconhecido, e não havia assunto social que fizesse
disfarçar o terror que eu estava sentindo. Era como sair com um amante, justo eu que
nunca tinha tido um.

Entrei no carro com um sorriso falso, mas decidida a aproveitar. Ao invés de


relacionar os defeitos que tinha encontrado em mim, preferi observar o que iria ter em
meus braços dali a pouco. Eu não encontrei nada inteligente para falar, mas parece
que meu silêncio foi mais bem vindo do que se tivesse tagarelado bobagens nervosas.

Prestei atenção em suas mãos, largas, fortes. Pegava o volante com precisão, a
mesma precisão que tinha tido ao me tocar alguns dias atrás. O motel abriu as portas
para nós, quarto bem decorado, ventilado e até com certo perfume. Parecia que tinha
uma bola de gelo no estômago, achei que não conseguiria me mover, mas ele foi
carinhoso, meigo, doce. Me despiu devagar, tocando leve, brincando com os lábios
sobre meu corpo, fui relaxando em seus braços e correspondendo aos carinhos,

aprendendo a linguagem suave do toque dele, o ritmo de seus gestos, o traçado do


peito largo e bronzeado.

Ele preparou, com aquele olhar malandro, a banheira de hidromassagem.


Adorei, sempre gostei de amar dentro d’água. Cuidados tradicionais, e lá estava eu,

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bem mais relaxada e à vontade, os cabelos flutuando na água morna, me


aconchegando entre seus braços qual gata pedindo carinho, tudo gostoso demais.

Demais...

Eu devia ter imaginado. Bom demais para ser verdade... Já estava mesmo
acreditando em bilhete de loteria sorteado, quando ele me olha, e começa um discurso
que, pela certeza e segurança das palavras, já havia sido mil vezes repetido sabe-se lá
para quantas mulheres...

Olhos fixos, palavras firmes, e ele contando que SABIA que TODA mulher tem
uma tara oculta. E que o prazer dele era descobrir essa tara, e satisfazê-la. Que eu
podia confiar nele, ele me faria feliz. Não precisava ter medo, podia pedir o que
quisesse, ainda que me parecesse estranho ou bizarro...

TARA?

E quem foi que disse que eu tinha uma tara?!?

Fiquei por um momento estática, olhando sem saber o que dizer... Desconfiada,
pensando se era ou não o caso de sair correndo... Ele continuava com seu jeito doce e
educado, mas esperando a minha resposta, falando meigamente no meu ouvido,
acariciando meu cabelo e me seduzindo, agia como se fosse natural me faltar coragem
para falar.

Coragem, não me faltava...


Faltava era a tara!

Tentei pensar, o mais rápido que me fosse possível. Eu queria continuar, queria
mais carinhos, queria beijos deliciosos, queria senti-lo dentro de mim, inteiro,
ardente... Mas estava bem claro que, para isso, ia ter que arranjar uma tara qualquer,
e rápido, esta era a senha para entrar na brincadeira deste homem que prometia
tanto. Ele tinha convicção demais no que dizia, não ia conseguir convencê-lo que não
tinha tara nenhuma, e por nada deste mundo iria confessar há quanto tempo não fazia
amor com alguém, muito menos a estúpida fidelidade a um casamento que havia
fracassado. Melhor achar uma tara, qualquer uma, tinha que haver uma que eu
pudesse suportar...

Taras... Me lembravam coisas horríveis, sadomasoquismo, sexo com animais,


não conseguia pensar nada que tivesse vontade de fazer e que remotamente pudesse
classificar como tara... E ele continuava me olhando, acariciando, jurando que eu

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estava tímida. Uma certeza eu tinha: ou eu achava uma tara, ou a aventura não ia
continuar. Mas precisava ser alguma coisa que eu pudesse assumir, ao menos
disfarçar. O quê?

Apelei para a única coisa lógica que me ocorreu na hora: a curiosidade. Na


segurança das palavras, uma certeza eu podia ter: a tática dele devia funcionar para
um número razoavelmente grande de mulheres, e isso significava que outras mulheres
deveriam ter aceito, felizes, a proposta. Com certeza eu não era a primeira mulher a
ouvir aquele discurso tão grande e cheio de palavras convincentes, nem seria a última.
Então, perguntava sozinha: que “taras” teriam as mulheres que haviam passado pela
vida dele, antes de mim?

Fui inventando a minha “tara”, aos poucos. Até hoje, não faço idéia se isso
existe ou não, mas a verificar a quantidade de gente que faz sexo por telefone ou
virtual, não deve ser tão absurdo assim. Disse que era uma espécie de “voyer”...

Imediatamente, ele perguntou se queria vê-lo fazer sexo com outra mulher.
Não, claro que não! Queria era comigo, mesmo, estava ali inteirinha e disposta, mas
não disse isso, continuei inventando a minha tara particular... Não gostava de assistir,
gostava de saber. que me contassem qual confidência, cheio de detalhes... Que
adorava histórias eróticas, picantes alegorias de alcova, experiências sexuais alheias,
detalhes e comportamentos.

Não tenho certeza se ele acreditou. Me olhou de um jeito estranho, acredito que
dividido entre contestar que aquilo fosse uma “tara’, e, doutro lado, o prazer de poder
contar a alguém as suas próprias proezas sexuais.

Entre uma e outra opção, ele fez a segunda, é provável que ego tenha falado
mais forte, talvez fossem poucas as oportunidades que tinha de contar tanta
vantagem, a ouvidos que juravam se excitar com isso...

E assim começou uma aventura de alguns meses, em que ganhei de presente a


experiência alheia para me atualizar com as melhores novidades eróticas do momento.
Excitada, confesso, eu não ficava. E com ciúmes, muitas vezes. Mas ele sabia contar,
tinha humor... E guardei dali algumas das minhas melhores histórias de alcova.

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Capítulo II
“A VITÓRIA DA TOALHA”

Bom, isto tudo aconteceu dentro da banheira de hidromassagem, enquanto eu


pensava e espalhava a espuminha do banho. Isto o inspirou a contar a primeira
história.

Era mulher muito bonita, loira, alta e sensual. Fiquei me comparando. Sou
baixa, morena... Mas, em compensação, agora eu também tinha uma tara, e era
diferente da dela! Continuei ouvindo, enciumada, mas disposta a não dar o braço a
torcer. Fiz, pouco convincente, um olhar de “continue”...

Esta tinha dado trabalho para aceitar sair, era comprometida e, ao que tudo
indica, ouviu o discurso antes de aceitar, e aceitou pela oportunidade da fantasia. No
motel, havia feito seu pedido, acariciando-o como se ele fosse a lâmpada de Aladim,
pronto a realizar seus desejos. Ela queria que ele lhe batesse com uma toalha
molhada.

Uma fantasia deliciosamente exótica, a opinião dele, dessas que valiam a pena
realizar até pelo que tinha de diferente e inusitado. Enquanto ela aguardava, nua e
excitada, observando-o atentamente e deitada sobre a cama, ele atravessou o quarto
a passos largos e decididos, trouxe a toalha de banho macia e clara, e a jogou dentro
da banheira de hidromassagem com um gesto grandioso, como um toureiro que
venceu a disputa.

Ela acompanhou cada gesto, entreabrindo os lábios e antecipando o próprio


prazer. Ele manteve os olhos fixos nela, enquanto provocante, ajoelhou-se na beirada
da banheira, trazendo de volta para perto dele a tal toalha molhada com que a faria
retorcer-se e excitar-se naquilo que queria e gostava. Ela aproximou-se da beirada da
cama, mais próxima da cena tão aguardada, os seios apertados contra o lençol,
deitada de bruços, linda, atenta, alerta.

Ele puxou em um único gesto decidido a tal toalha, ainda a tempo de perceber
como ela reagiu, lábios entreabertos como quem pede um beijo, empinando o rosto
em um aceno sincronizado. Mas, mais do que a mulher, ele percebeu também que a
imensa toalha de banho, encharcada de água, estava uns bons dez quilos mais
pesada, mal saía da banheira, e ele ainda ia ter que torcê-la...

Sem escapatória, o jeito foi puxar o pano aos poucos, e ir torcendo pedaço a
pedaço. Olhou novamente para a mulher que, de tão excitada, não parecia notar o
peso que aquele treco tinha... O orgulho falou mais forte. Ele manteve corajosamente
o sorriso e o olhar fixo, enquanto torcia com médio sucesso o pesadelo da toalha, cada
vez mais pesada e encharcada, e que parecia não ter fim.

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Ela acompanhava o jeito dele, com gemidos eróticos e suspiros. Isso o


incentivava a prosseguir, só faltava mais metade da toalha... E, à medida em que a
dita toalha quase terminava de torcer, ela escorregou pela cama, colocando-se de
quatro, submissa. Isso lhe deu o incentivo necessário para levantar-se, e continuar a
brincadeira, malgrado o amortecimento nos braços...

Mas ele, corajosamente, foi adiante. Chicoteou-a com a tal toalha com o resto
de força que lhe restava nos braços, resistindo firme à vontade de desistir a cada vez
que ela pedia “mais forte”. Mentalmente, programou aulas de musculação, caso
houvesse uma próxima vez, estaria mais preparado... Mas mesmo as mais exóticas
fantasias, em algum momento precisam terminar, e então ela se entregou, excitada,
delirante, e ele pode enfim, merecidamente, cavalgá-la com prazer e agressividade,
tomá-la inteira para seu próprio prazer.

Depois, ele a levou para casa, e despediram-se como amigos. Ela estava
satisfeita, e ele, orgulhoso de sua performance, embora, é verdade, tenha levado
quase a semana seguinte, inteira, para conseguir levantar um copo d’água que fosse,
sem sentir dor...

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Capítulo III
“O SWING PARTICULAR”

Eu tinha voltado para casa, daquela divertida experiência, satisfeita com a


minha primeira aventura, e comemorando a volta à vida de solteira. Minhas pernas
agradeciam por estarem juntas novamente, estava deliciosamente relaxada e
inspirativamente feliz, e além das minhas próprias lembranças, ainda tinha nos
ouvidos a história que me havia sido contada.

Uns dois dias depois, ele ligou novamente, convidando para um swing na
república de um amigo. Claro que não aceitei. Iriam reunir-se uns três ou quatro
amigos dele, estudantes universitários, e uma “amigas” da mesma faixa etária, com
certeza mais jovens, mais bonitas e mais dispostas do que eu.

Desliguei o telefone, me sentindo uma velha cinquentenária, e com a certeza


absoluta que tudo entre nós havia acabado, uma tristeza infinita pelo final de uma
aventura tão promissora... e tão rápida! Naquele dia me arrastei dentro da rotina
pesada do trabalho, e por mais que dissesse que tinha valido a pena, sentia a falta da
continuidade, queria mais, queria ouvi-lo aninhada no peito forte, queria o jeito
gostoso como me afagava os cabelos...

A semana inteira passou, e eu com o coração aos pulos a cada novo toque do
telefone, e nunca era ele. Não queria sofrer, mas não conseguia evitar. Saudade. Dia
após dia, fui me condicionando a não esperá-lo a cada ligação, e no fim de alguns dias,
já trabalhava normalmente, embora triste. E então, surpresa! Ele ligou de novo,
convidando para mais um programa. Aceitei na hora, com alívio. Não seria fácil
encontrar outro homem tão interessante!

Era uma sexta-feira, e ele quis passear pelos barzinhos da cidade, antes. Fomos
beber, muita gente em volta, música alta, não conseguíamos conversar. Confesso que
me sentia um pouco insegura, não sabia qual roteiro ele estava seguindo desta vez.

Não dançamos, sentamos em uma mesa de canto onde podíamos observar todo
o lugar. Ele foi pedindo bebida, e eu fui aceitando, tentando me ambientar. Havia
muita gente meio sozinha ou com poucos amigos por ali, visivelmente caçando para
terminar a noite.

Nós chamávamos a atenção, e eu não saberia dizer o porquê. Mesmo


acompanhada, alguns homens flertavam comigo, e me deixavam constrangida, voava
os olhos para qualquer lugar, perguntando silenciosa até quando ele iria querer ficar
ali. Mas, em dado momento, percebi que ele acompanhava os gestos à nossa volta,
como se quisesse saber a minha reação quando era cantada por outros em público.

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Então, me lembrei da tal proposta do swing, e comecei a entender onde, talvez,


ele queria chegar. Aceitei a brincadeira.

Ele tinha pedido whisky com gelo. Quando relaxei, ele começou, em gestos e
olhares, a me mostrar quais homens estavam me observando. Enquanto isso, pegou
uma das pedras de gelo do copo, e a repetir as carícias no meu rosto, agora com o
cubo de gelo entre os dedos, e beijos ocasionais. Fui achando graça, o gelo dava
arrepios na pele suada, e ele o derretia aos poucos, pingava entre os seios, escorria na
nuca, depois lambia em gestos rápidos a pele umedecida, um mínimo de discrição pelo
lugar público em que estávamos.

Acho que comecei a delirar, era como se saísse da realidade. Eu via, e de certa
forma até sentia, que aqueles que nos observavam até então, quase subiam pelas
mesas para acompanhar nossos gestos sensuais, provavelmente tesos sob a toalha
listrada. E a excitação destes olhares cadentes, que percebia num e noutro relance de
olhar, somado ao contraste do gelo frio e dos lábios quentes, a bebida que já tinha
tomado, a música alta, e eu já nem sabia direito aonde estava, quem era, ou que
imagem devia estar fazendo.

Saímos dali agarrados, colados um no outro, e, como uma certeza da loucura,


eu sabia que, naquele momento, faria tudo que ele quisesse, amaria no carro ou a céu
aberto em plena praça, em qualquer posição, de qualquer jeito, mesmo que fosse para
terminar a noite detida numa delegacia de polícia. Eu não queria saber de limites ou
convenções, eu nunca tinha tido tantas sensações antes, o mundo era um imenso e
excitante pulsar do meu próprio coração, e ele estava ali, ao alcance dos meus
abraços, naquele exato momento, sólido como uma rocha à qual eu queria me agarrar
e me diluir em orgasmo profundo.

Mas acho que ele não queria conhecer nenhuma delegacia, me colocou no carro
e seguimos direto para um motel. Já entramos nos agarrando desde a porta,
arrancando as roupas e jogando pelos cantos, numa primeira relação explosiva e
insatisfatória, daquelas que apenas prenunciam que a noite será longa, mas é
impossível deter. Eu me desconhecia, e pouco me importava com isso. Havia sido tão
certinha, uma vida inteira, e de quê isso havia me valido? Tirei a roupa, entreguei-me
lasciva e apaixonada, esqueci quem eu era e onde estava, até conseguir o orgasmo tão
esperado, profundo, quase angustiante.

E então, ali estava eu, relaxada mas ainda insatisfeita, amortecida e pensando
como iria continuar, desta vez mais lenta, lânguida e sutil, quando ele começa, me
acariciando, a contar da tal “festa de swing” que havia feito com os amigos...

Elas haviam feito-se desejadas, assim como eu o fizera tão poucos minutos
antes. Meio festa à fantasia, haviam inventado produções eróticas, misto de camisolas
e acessórios, uma brincadeira colorida e alegre. Tive que morder os lábios para
conseguir ficar quieta, tamanha raiva senti de vê-lo descrever outras mulheres, ainda
úmido do prazer que lhe havia dado. Maldita tara que eu tinha resolvido inventar, que

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não me excitava droga nenhuma, que tinha as horas mais inconvenientes para ser
lembrada!

Homens!... Eles haviam feito uma aposta, quem deles conseguia manter a
ereção por mais tempo. Elas controlavam a brincadeira, excitando e não deixando
gozar. Assim, fizeram striptease, dançaram nuas, sentavam no colinho, faziam sexo
oral rápido e brincalhão, amarrando lenços coloridos nos membros obrigados a
manter-se eretos, e incentivavam tanto quanto podiam. Resultado? Ele
orgulhosamente levou o troféu da ereção mais longa – ou assim se vangloriou para
mim -, mas de novo tinha passado a semana de molho, recuperando-se, mantendo as
pernas abertas o mais de tempo que podia, mal se cabendo nas calças e com o saco
todo dolorido.

E essa história, era para eu engolir como um pedido de desculpas pela demora
do novo contato, mais de uma semana sem se comunicar... Saco dolorido, pois sim!...
Dolorida estava a raiva que eu estava sentindo, a vontade de armar uma vingança,
fazer com que a minha lembrança fosse mais forte do que as alegres universitárias
bamboleantes!...

Mal mantinha o sorriso falso, e decidi que era a hora de descobrir quanto tempo
pode um homem manter uma ereção, num sexo oral que eu haveria de aprender como
fazer. Eu o deixei relaxar um tempinho, dei mais um espaço para o vinho, pedimos
alguma coisa para comer. Tradicional banheira de hidromassagem, que já fazia parte
do meu ritual, e lá fui eu para a minha vingança. Ele haveria de passar mais uma
semana com o saco dolorido, e desta vez não seriam várias menininhas, seria somente
eu.

Não sabia exatamente o que devia fazer. Sempre tinha visto sexo oral com
restrições, uma preliminar à qual nunca havia me dedicado, um pouco de nojo, talvez.
Mas agora era por uma boa causa. Comecei por uma massagem, creme suavemente
perfumado, costas, pernas, depois o virei como um frango na assadeira, torax, barriga,
pernas, pés, fui voltando devagar, sem tocá-lo ainda.

Fui chegando na virilha, ainda indecisa sobre como fazer. Tentando achar uma
posição mais confortável, acabei roçando os seios nas pernas dele, que se contorceu
num gemido rouco. Ah, ah! Achei um sinal!... Fui adiante, observando deliciada as
reações dele, um pouco usando as mãos, um pouco usando os seios, alternando
movimentos suaves e decididos, de forma que ele nunca soubesse como iria agir em
seguida. Ele estava totalmente ereto, e o beijei, delicadamente, na ponta do membro
seguro nas minhas mãos. Ele arqueou de prazer, mas não o tomei nos meus lábios,
preferi agradar o saco, e voltei a tocar-lhe na parte interna das coxas.

Não sei se era a raiva, ou a vontade de vingança, mas estava descobrindo um


prazer diferente, que nunca tinha experimentado. Era uma sensação de poder, de
inversão de papéis. Desta vez, era ele quem estava vulnerável, esperando,
aguardando meu próximo gesto, desejando meu carinho. Comecei a entender o prazer

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de seduzir, visto do outro lado do jogo. Sempre era eu quem era seduzida. Desta vez,
era eu quem seduzia.

Tomei-o em minha boca, e o senti reagir forte. Iria gozar, eu não queria.
Abandonei-o, e ele quase implorava que eu continuasse. Esqueci a vergonha, fui
buscar outro lugar para brincar. Nunca tinha tido a coragem de olhar um homem, tão
de perto, tão intimamente, mas o fiz sem pudor. Ia dando lambidinhas, ouvindo-o
gemer, descendo para longe, para a base, para a pele esticada logo abaixo. Ele se
abriu inteiro, como uma flor, enlouquecido. Inteiro meu. Então, a lambida forte que
tinha negado ao pênis ereto, fiz com vigor naquele trecho de pele que ele mesmo
jamais podia ver, até quase a base do ânus, como uma criança faz com um sorvete de
bola. Achei que ele se atiraria sobre mim, tamanha reação que teve, mas ao contrário,
ele se arqueava, facilitando a minha invasão, permitindo que desvendasse seus
segredos.

Brincava com ele, e me divertia. Fui voltando devagar, tocando-o, lambi o pênis
no sentido do comprimento, o tomei nos lábios, mas ele mal cabia pela metade na
minha boca, e achei que estava bom. Ele ofegava como nunca, e então eu o cavalguei,
sentada sobre ele, com as costas levantadas e os seios soltos, para que ele me visse
mulher e dominante, e não esquecesse minha imagem. E assim me mantive, até o
momento em que ele começou a gozar, e então me deitei sobre ele, junto dele, tomei
seus lábios e me envolvi naquele mundo de sensações partilhadas.

Foi um final de noite romântico, ele ainda ficou um bom tempo abraçado
comigo, acariciando minhas costas, perdidos ambos naquela sonolência agradável
trazida pelos atos de amor. Mas, na hora de ir embora, meu coração se ampliou,
generosamente, ao vê-lo ajeitando-se no banco do carro, em busca de uma posição
mais confortável para sentar-se. Voltei para casa feliz, sorrindo, vingada.

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Capítulo IV
“INUSITADAS ZONAS ERÓGENAS”

Pouco mais de um mês havia passado, e eu já era capaz de identificar o que de


bom aquela aventura estava me trazendo. De tanto ouvir falar de sexo, além de fazer,
claro, eu estava me tornando mais aberta, mais brincalhona, dando espaço para
comentários pessoais em um tom irônico e descompromissado que atraía olhares e
simpatia.

Era uma sensação um tanto estranha, pois a cada vez que saíamos, mais aquilo
parecia uma brincadeira, e menos eu me sentia envolvida com o rapaz. Não saberia
definir exatamente o que queria, mas comecei a sentir falta de ter alguém só para
mim.

Mas, fosse como fosse, nem por sonho eu pensava em desprezar cada saída
que podia usufruir com ele. Somando as histórias que contava, mais as carícias que
fazia, sexo tornou-se um conceito diferente, passou a ter um outro significado para
mim.

Até conhecê-lo, eu definia sexo como uma mistura de sentimentos, uma


expressão deslocada de conceitos morais, ligado a um ideal de amor e uma certeza de
família. Mas, com ele, sexo adquiria um outro conceito, talvez menos nobre, mas
muito mais delimitado e... Como dizer?... Produtivo?!...

Fazer sexo tinha se tornado uma forma de expressão. A vida sexual com ele
tinha mudado minha maneira de vestir, de sorrir, de gesticular. E não estou falando do
meu comportamento dentro das quatro paredes do motel, mas sim do meu dia a dia,
da forma como convivia com todos os outros, da ascensorista do prédio aos clientes
que atendia. Eu notava claramente isso. Como ele não era “meu”, nem iríamos casar,
nem sequer eu estava apaixonada por ele, nossa vida sexual tinha-se tornado um ato
de saudável egoísmo meu, algo que eu fazia porque me fazia feliz.

Descobri que ele não notava tanto as minhas celulites, como notava meu
sorriso. Não notava os seios já um pouco flácidos, mas notava a pele macia que eles
tinham, e os bicos endurecidos de tesão... Ele reparava nas coisas que davam prazer a
ele... E nas coisas que davam prazer a mim. Contava histórias porque eu dizia que isso
me fazia feliz, e então eu havia de alguma forma entendido que uma pessoa feliz, é
também uma pessoa bonita...

Pode ser irônico, mas foi quando entendi que a beleza física não era assim tão
importante para agradá-lo, é que me senti realmente livre, pela primeira vez, para
cuidar da minha própria beleza física, até porque não era para ele, era para mim. Não
precisava mais temer ou projetar quais seriam as críticas dele, porque não as esperava

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mais. E podia me orgulhar dos resultados dos meus tratamentos, porque conhecia
decor o antes e o depois...

Quando eu me sentia bonita, pouco que fosse, eu me sentia feliz. E quando eu


me sentia feliz, ele me via bonita... E eu me via ainda mais bonita pelos olhos dele,
embora tudo parecesse uma grande loucura, um raciocínio sem sentido... Ainda assim,
passei a cuidar da alimentação, da pele, das unhas, sentindo genuíno prazer em fazê-
lo.

Além disso, toda a aventura tinha o gosto da descoberta, sensações e


associações de idéias que eu não tinha. Conscientizei a importância da fantasia, para
obter o prazer.

Lembro de uma noite, que foi marcante como referência entre fantasia e
realidade. Era uma destas noites de lua cheia, imensa e clara no céu, eu tinha feito
todo o trajeto até o motel admirando-a.

Com o senso de oportunidade de sempre, ele pediu neste dia uma suíte
especial, destas que tem piscina e teto solar. A noite era quente, abrimos o teto solar,
e lá estava eu, maravilhosamente imersa naquela piscina aquecida, banhada pelo luar
envolvente.

A água deixava nossos movimentos mais leves, mas também cerceava algumas
posições de carícia, próprias dos lençóis. Talvez por isso, nesta noite ele priorizou
carícias na nuca e na orelha, contando baixinho da tara de mais uma garota, enquanto
fazia de conta que eu era ela...

Uma mulher muito bonita... Mas, depois de tantas vezes ouvir este mesmo
início de descrição, eu já não sentia ciúmes. Tinha concluído que ele achava todas as
mulheres com quem transava “muito bonitas”, não era um critério confiável o bastante
para gastar ciúmes com ele...

No início, ele não entendeu direito o que ela pretendia.

Ele já tinha ficado com uma amiga dele, “muito bonita’, é claro... E num
primeiro momento, achou que a transa talvez fosse algum tipo de rivalidade entre
elas, do tipo “se você pode, eu posso também”...

Ela era intrigante, porque se por um lado era relativamente fria, parecia não
responder às carícias dele, nem sequer parecia à vontade ou gostando de estar ali, por
outro reagia com especial interesse quando ele dizia que faria todas as suas fantasias,
embora se recusasse em dizer que tivesse uma...

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Ele a tocou inteira, tentou todos seus truques, mas era visível que ela consentia
o toque, a penetração e o que mais ele quisesse, mas não expressava prazer com isso.
Eu até estranhei, mas ele confessou que, tentando agradá-la e com poucas respostas,
chegou a um “finalmente”, sozinho, sentindo-se meio lubridiado, sem que ela o
acompanhasse e sempre o olhando um tanto passiva. Ele se sentia mal, arrependido
da saída, disposto a jamais repeti-la.

Foi até com um certo sentimento de culpa – e de insegurança sobre a própria


performance -, que ele decidiu apagar as luzes do quarto, deixar tudo em suave
penumbra, abraçá-la e acarinhá-la, em silêncio, depois de terminar o ato. E, em algum
momento, ela começou a relaxar e respirar profundamente, indicando o caminho a
tomar, sem palavras, quase um segredo.

Ele contou que sentiu raiva, na hora que percebeu as primeiras reações dela.
Por mais sedutor que fosse, ele não gostava de ser usado como um objeto sexual, e
poucas mulheres lhe deram tal impressão, tão sem meias palavras, como esta. Raiva,
porque era como se ela tivesse primeiro pagado em serviço, oferecendo-se ao prazer
dele, para depois usá-lo quando ele já não tinha mais tesão para participar.

Mesmo hoje, ele guardou a imagem desta mulher como a mais solitária e a
mais triste das que ele conheceu. Mas a curiosidade o venceu, descobri-la era uma
questão de honra, ainda que já não fosse mais uma questão de prazer partilhado.

Foi acariciando aos poucos, e percebeu que o ponto principal de prazer era a
nuca. Quando lhe tocava os seios, as costas, ou mesmo aqueles que são considerados
os locais sensíveis de qualquer mulher, ao invés de relaxar, ela travava seus
movimentos numa reação púdica e virginal.

Mas quando ele lhe beijava a nuca, ela relaxava, abria-se inteira, expunha o
colo e o pescoço para que ele atingisse com facilidade esta parte única de seu corpo.

Aos poucos, ele foi chegando até a orelha, desenhando seus contornos,
lambendo as pontas. Ela reagiu de forma intensa, com gemidos angustiados que
antecipavam prazer. Bom, tara é tara, sente quem tem... E se esta era a dela, ele
somaria mais uma mulher satisfeita à sua lista particular.

E a atingiu em seu segredo e em seu prazer. Enfiou a língua quente, com força,
para o mais fundo que podia conseguir, dentro do delicado ouvido dela. Ela se
contorcia, louca de prazer, estirada na cama. Na penumbra, ele a viu esticar a mão,
tocando sozinha em seu corpo desnudo e masturbando-se com intensidade.

E assim ele a fez satisfeita, prendendo-a com força pela parte baixa de seus
seios, olhando-a tocar-se com sofreguidão, enquanto penetrava-lhe o ouvido como se
tentasse deixá-la surda. Ela gozou entre espasmos tensos, perdida nas próprias

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Elaine Novaes Falco

fantasias, e depois o abraçou, saciada, satisfeita, dizendo que ele era o sonho de suas
mais loucas fantasias, o único que realmente adivinhou seu mais secreto ponto de
prazer.

Ele já estava dentro de mim, ambos andando abraçados como um só corpo pela
piscina aquecida, quando terminou a história. Lhe perguntei se havia estado com ela
novamente, mas ele me deitava sobre a água, e respondia que não, porque gostava de
mulheres como eu, que sentiam prazer pelo corpo inteiro e tinham a ousadia de dizer
do que gostavam e o que queriam.

Mergulhamos juntos, enlouquecidos, beijos molhados de saliva e da água doce


e morna. É delicioso amar na piscina, o corpo tão mais leve, é como estar solta e livre
para amar. Me deixei beijar na nuca e na orelha, como a moça da fantasia, mas para
mim isso não era tudo, eu escorregava de corpo inteiro sobre ele, querendo fundir
nossos corpos, pele sobre pele.

E gozei deliciada, a nuca encostada de leve no apoio da piscina, abraçada nos


cabelos revoltos e molhados que se deitavam sobre meus seios soltos, boiando sobre a
água e sob os beijos ardentes daquele homem sensual, os olhos na noite aberta e na
imensa lua cheia iluminando a minha fantasia...

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Capítulo V
“COSTURANDO AS PRÓPRIAS FANTASIAS”

Nosso relacionamento já comemorava alguns meses de existência, quando fui


convidada a fazer um trabalho voluntário em nome da empresa. Aceitei, claro, até pela
oportunidade de conhecer gente nova. E conheci, realmente, várias pessoas
interessantes, e em especial o artista plástico responsável pelo projeto.

Ele me convidou para conhecer seu estúdio. Não dei muita importância ao fato,
não tinha sido a única a ser convidada, embora tivesse sentido uma especial atenção
dele no convite, quando foi feito a mim.

Mas, no decorrer do tempo e do trabalho, alguém me contou que ele estava


fazendo um retrato meu, de memória das tardes em que me via. Aquilo mexeu
comigo, mais do que gostaria de admitir, e voltei a sentir aquela nostalgia, a vontade
de ter alguém só para mim, misturada com o medo de sofrer novamente.

Era só uma idéia, mas que surgia com cada vez mais força, e se contrapunha ao
prazer de estar com o meu garoto, especialmente quando nossas saídas coincidiam
com dias estressantes, ainda que sempre fosse gostoso. Eram aqueles dias que faziam
a diferença, os dias em que eu queria ser apenas abraçada e ficar assistindo TV, e
acabava ouvindo mais uma história erótica de alguém que não conhecia...

Lembro-me de um dia, em especial. Era um “dia de Murphy”, daqueles em que


você acorda atrasada, chega no prédio e descobre que o elevador está com defeito e
leva ainda mais tempo para entrar no escritório, a pessoa que tinha que lhe dar uma
decisão ficou doente, “a senhora liga amanhã, por favor...”, você vai para o
computador escrever um texto e, na hora de imprimir, a droga da máquina trava, o dia
passa e, ao final dele, tudo o que você tinha para resolver ou fazer, foi adiado por
pequenas bobagens que não deram certo, para o dia seguinte. E pensa: não era
melhor ter ficado em casa, dormindo?

E eu já estava me preparando, no alto do meu então mau-humor, para fazer


exatamente isso: ir para casa, dormir, quem sabe amanhã é um dia melhor, quando
ele liga, até meio impositivo, para sairmos naquele dia mesmo. Acabei aceitando, mas
confesso que sem a empolgação habitual, o que relevei.

Saímos. E já na entrada do motel, prendi a alça da bolsa na maçaneta da porta,


fui tentar tirar, consegui foi engatar e rasgar minha blusa... Droga. Tem dia que a
gente não devia acordar... Mas isso o inspirou a mais uma historinha, até bem
conveniente para o meu dia. E eu o admirava pelo senso de oportunidade que tinha,
de contar as histórias pertinentes aos momentos e estados de humor em que me
achava.

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
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Ele a tinha conhecido através de amigos. Era um tipo mignon, baixinha e toda
miúda, ginasta e bailarina de corpo magro e flexível, apaixonada por roupas de todos
os tipos, em especial as de época, que tanto usava nas apresentações que fazia. Acho
que ele se fascinou por ela.

Pela profissão que ela tinha, ele não estranhou quando saiu para o passeio,
carregando consigo uma bolsa de roupas quase maior do que ela mesma. Era habitual
que carregasse um mini-guarda roupas consigo, sapatilhas, meias, roupas maleáveis
de dança, até toalha de banho e alguns apetrechos pessoais...

Ele não sabia qual era a fantasia dela, que desceu com bolsa e tudo para dentro
do motel. No quarto, ele ficou assistindo enquanto ela contava a sua fantasia, trocando
de roupas enquanto explicava o que queria, quase uma narradora de histórias.

Ele não entendia nada, pois ela foi despindo-se na frente dele, enquanto falava
das virgens inglesas do tempo da Rainha Vitória e de seus pudores. Com seu corpo
quase adolescente, falando como quem leciona uma aula de história, e despindo-se
com a liberdade que teria na privacidade solitária do próprio quarto, ficou ele olhando
um strip tease feito sem qualquer erotismo, sem saber como reagir, atordoado em
uma cena que parecia sem sentido.

Então a garota tirou o que mais parecia uma longa camisola detalhada e em
tecido rústico, do fundo de sua imensa bolsa de viagem, e a colocou sobre o corpo nu.
Em um pequeno aparelho de som portátil, colocou para tocar uma música que ele não
conhecia, mas descobriria depois que era a gravação de músicas medievais de
tabernas, em instrumentos originais. Abriu um vinho, e, coberta com aquela estranha
mistura de tecidos, os cabelos longos presos em um coque desleixado, mostrou-se a
virgem púdica e recatada, incapaz de qualquer gesto sensual, uma figura tirada direto
de algum castelo do passado.

Fazer o quê? O quê ela queria? Ele a tocou de leve, no rosto, como se faz a uma
criança bonita. E foi reparar na tal camisola, tão estranha. E começou a entender.

Haviam detalhes na roupa, bolsos grandes sobre os seios, enfeites sobre o


ventre, e uma espécie de avental invertido sobre as nádegas. Ele foi tocando no tecido
rústico, entendendo aos poucos e achando divertido. Ela havia costurado a roupa ao
estilo das fantasias de teatro, pano sobreposto ao pano, com velcro, de tal forma que
pudesse ser arrancado com facilidade na troca de roupas.

Ela fez a fantasia da virgem, toda recatada e pura. Mas ele lhe tirava partes da
roupa, soltando os seios, a virilha e as nádegas, nos grandes sulcos do tecido. Já no
primeiro puxar, livrando um dos seios para as carícias, viu que o gesto e o barulho
imitavam como se lhe rasgasse a roupa. Desta forma, tirou-lhe o resto da fantasia,
como se fosse um homem violento a seduzir à força a reticente criança, obrigado a
contorcer-se entre as dobras do tecido para alcançar-lhe os pontos de prazer.

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Achei curiosa a história, e interessante a moça. E, continuando o clima da


história, e aproveitando a minha própria blusa rasgada na porta, ele passou a agir algo
mais violento, pela primeira vez usando de sua força física para sobrepujar a minha
vontade. Não era um bom dia para aquilo, já tinha tido um dia irritante, quis que
parasse de agir assim.

Mas ele não me atendeu, e me vi quase brigando, pela primeira vez gritando
com um homem em meio a toques que recusava, e que não pareciam carícias. Ele me
segurou, me beijou sem preliminares, me penetrou um tanto quanto à força, eu o odiei
pelo que estava fazendo, e mais ainda a mim, pela violência com que reagi ao seu
contato e à sua penetração.

Lutava contra ele, e instintivamente reagia ainda mais do que com suas
carícias. Queria evitar seu toque, e parecia que o sentia ainda mais quando não o
desejava. Gozei em meio à raiva, entre sentimentos conflitantes, sentindo-me um
bicho feito de instinto, agarrando-o pelos cabelos e arranhando suas costas, quando
finalmente livrou meus braços. Tive prazer intenso, mas não tive satisfação, e voltei
confusa para casa.

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Capítulo VI
“O INÍCIO DO FIM”

Depois desta experiência, comecei a me sentir irritada com a aventura. Não


sabia exatamente o que queria ou o que sentia, e me descobri perguntando a ele sobre
coisas pessoais, as experiências dele com a noiva, com mulheres que realmente
haviam significado alguma coisa em sua vida.

Ele aceitou falar. Porém, destas, contou várias histórias banais, carícias
habituais, descrições de seios e bundas que me pareciam aulas de anatomia. Tive que
reconhecer que fazia as perguntas por ciúmes, ou por insatisfação. Ouvi da vez que
escondeu a namorada no guarda-roupa, numa inesperada chegada dos pais, que
haviam viajado e voltaram antes do programado... Soube que, além de mim, eram
mais duas amantes fixas, uma dentista divorciada e uma desenhista de móveis.

Comecei a pensar no que estava fazendo, e na coincidência de que as mulheres


que se tornavam fixas na vida dele... Nenhuma tinha taras. Não aceitei com a
naturalidade que imaginei que teria, saber que eu era o quarto lugar no ranking das
mulheres da vida dele.

Ainda persisti um tempo, até ter a infeliz idéia de perguntar o que ele mais
gostava da noiva, porque esta era a especial. Eu soube: ela adorava sexo anal, e
poucas mulheres gostavam.

Foi meu balde de água fria, e devia ter sido corajosa o bastante para parar por
ali. Mas não o fiz, e ele entendeu que eu também queria fazer. Não queria, mas
quando fui colocar limites, já era tarde demais, ele já tinha criado a sua própria
fantasia. Porque isso tem técnica própria, e ele sabia a técnica, porque eu iria gostar,
porque ele sabia fazer...

Acabei consentindo. Era uma longa tarde solitária de domingo, a suíte era
imensa, a cama rodeada de espelhos dos lados e no teto. Ele me colocou de quatro no
centro da cama redonda, e para onde eu olhasse, via-me naquela posição exposta, a
cabeça baixa, em expectativa.

As preliminares foram agradáveis, ele contornava com carinho as curvas em


destaque do meu corpo, agradando a pele com um delicioso óleo de massagem
perfumado, longos contornos desde as nádegas até o bico ereto dos seios, várias
vezes, alongando os gestos com as mãos espaldadas sobre a coluna, gestos longos da
base à nuca.

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Fui relaxando ao seu toque, me sentindo uma gata acariciada. Fosse qualquer
outra a continuidade, e teria amado com prazer. Mas a penetração anal sempre me foi
dolorosa, e não pude deixar de retesar o corpo e ainda dificultar mais a relação,
quando ele resolveu passar para os atos finais.

Ele percebeu a minha dor, eu não conseguia disfarçar. Teria gostado tanto que
ele parasse com aquilo! Mas não foi a decisão dele, ao contrário. Para essa
possibilidade, ele tinha trazido um anestésico local, que pretendia passar em mim...

Foi buscar a pomada, orgulhoso como o sábio que autografa o livro que registra
a sua sabedoria. Colocou-o na mesinha de cabeceira, e voltou à sessão de carícias, que
sempre me agradavam, toques, beijos, oral, me deixando alucinada e desesperada
para tê-lo dentro de mim.

Mas parou de novo, interrompendo o quanto já estava imersa no prazer de suas


carícias, e vamos de novo à posição de quatro, como formalmente me arrumou, para
passar a tal pomada.

Eu ficava me assistindo pelos espelhos, às vezes precisava olhar meu rosto para
acreditar que era eu mesmo naquela situação. Como um médico, ele retirou a porção
da pomada, esfregou onde entendia condizente, fez mais umas poucas carícias que
pareciam meio sem sentido naquele exame ginecológico.

E eu fui sentindo a bunda amortecer... Uma sensação horrorosa, de


descontrole. O corpo todo eu sentia, menos a bunda, enquanto o via feliz e ereto atrás
de mim, refletido nos espelhos, confiante no próprio prazer.

Procurei não pensar. Tentei assistir aos nossos corpos se unindo, vendo-os
como um filme pornô que se desenvolvia pelas paredes, observando que ele também
nos olhava assim, mas com a visão privilegiada do próprio pênis enfiado, e exposto
nas imagens do espelho do teto. Tentei fingir prazer, mas nem ele estava vendo as
minhas expressões, nem eu consegui resultado com isso. Esperei que terminasse,
simplesmente.

Ele gozou, mas eu não consegui acompanhá-lo. E quando ele se aninhou,


exausto, entre os meus seios, eu ainda me sentia insatisfeita, e sem coragem de pedir
para continuar. Fiquei um tempo afagando-lhe os cabelos, deixando a mente vazia
vagar sem destino, não querendo conscientizar que não voltaria a estar com ele.

Mas, mesmo sem palavras, eu já tinha tomado a decisão. Aquela tinha sido a
última tarde, era hora de partir e procurar outro homem, outra pessoa com quem
pudesse partilhar mais do que sexo eventual.

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HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco

Eu estava pronta para voltar à busca, para procurar novos caminhos, talvez até
um novo namorado. Queria ver se o tal retrato existia mesmo, queria ver quantos
mais homens interessantes haviam no mundo, e pensava seriamente em escolher
um... só para mim. E, graças à ele, era agora uma mulher mais aberta, mais sensual,
conhecendo com mais certeza daquilo que me dava prazer e do que não. Iria devolvê-
lo à sua noiva, e às tantas amantes quantas pretendesse ainda arranjar.

Foi uma decisão calma, tomada na tranquilidade dos lençóis revoltos e da


languidez dos momentos posteriores aos atos de amor, e com a certeza de que tinha
usufruído do melhor, do primeiro ao último momento, deste homem que considerei um
dos maiores presentes que a vida me deu. Nunca voltei atrás desta decisão, nem
nunca me arrependi, nem da aventura, nem de seu final tão doce.

FIM

21
℗ 2001, Editora CAIXA POSTAL (Mailbox Books)
Curitiba, PR - Brazil

O
P 2001

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