Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ERÓTICAS
DE PESSOAS (IN)COMUNS
COLLECTION
MAILBOX
BOOKS
Elaine Novaes Falco
HISTÓRIAS ERÓTICAS
DE PESSOAS (IN)COMUNS
Setembro / 2001
FICHA TÉCNICA
O
P 2001
MAILBOX
BOOKS
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo I
“AS MELHORES COISAS DA VIDA SÃO INESPERADAS”
Eu nem sei explicar direito como foi que ele apareceu. Uma situação de trabalho
qualquer, destas que acontecem todo dia, e então houve um toque, um olhar, e lá
estava eu correspondendo, meio na brincadeira, aceitando como um elogio sem
consequências a cantada explícita que me foi feita. Ele era muito bonito, mais jovem
do que eu, cheio das malhações, corpo lindo, amantes a rodo, uma conversa educada
e interessante, autêntico. Perfeito. Gastei os olhos, era areia demais para o meu
caminhãozinho, flertei na segurança que, com tudo aquilo, jamais seria mais do que
uma brincadeira.
Fiz o impossível para agir natural nas vezes que nos encontramos novamente, e
quase não acreditei quando ele fez o convite tão esperado, e tão temido, junto com
uma carícia destas indevidas, furtivas, deliciosas e impossíveis de não compreender...
Devo ter levado uns três dias na dúvida. Vou. Não vou. Vou, não vou...
2
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Antes, por via das dúvidas, dei, claro, aquela conferida geral e irrestrita no
espelho. Não devia ter feito isso, só serviu para ter certeza de que NÃO estava tudo
OK. Achei mais uns quinhentos defeitos que ainda não sabia que tinha, a celulite com
certeza tinha aumentado, nem tinha notado o quanto meus seios haviam caído, aquela
marca com certeza era uma ruga aparecendo visível por quilômetros. E as espinhas na
bunda?!? Um terror!!!! Horrorizei-me, pensei bem, e meio que por impulso e no susto,
decidi: VOU.
Fui, morrendo de medo, claro. Depois de dez anos fazendo amor com um
mesmo homem, você sabe até pela respiração como vai ser a performance de hoje.
Sabe se será rápido ou demorado, e cada palavra boba que dirá no ouvido se quiser
apressar a relação. Sabe como se fazer desejada, e como se fazer desprezada. Sabe
quais serão os elogios, e, muito mais, quais serão as críticas...
E agora?
Outro, diferente, que eu nem sei como é. Carinhoso? Agressivo? Que carinhos
gostará? Vai me comparar com quantas outras? Pensei: bom, se fosse um desastre,
pelo menos teria uma primeira experiência, saberia onde melhorar na segunda.
Prestei atenção em suas mãos, largas, fortes. Pegava o volante com precisão, a
mesma precisão que tinha tido ao me tocar alguns dias atrás. O motel abriu as portas
para nós, quarto bem decorado, ventilado e até com certo perfume. Parecia que tinha
uma bola de gelo no estômago, achei que não conseguiria me mover, mas ele foi
carinhoso, meigo, doce. Me despiu devagar, tocando leve, brincando com os lábios
sobre meu corpo, fui relaxando em seus braços e correspondendo aos carinhos,
3
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Demais...
Eu devia ter imaginado. Bom demais para ser verdade... Já estava mesmo
acreditando em bilhete de loteria sorteado, quando ele me olha, e começa um discurso
que, pela certeza e segurança das palavras, já havia sido mil vezes repetido sabe-se lá
para quantas mulheres...
Olhos fixos, palavras firmes, e ele contando que SABIA que TODA mulher tem
uma tara oculta. E que o prazer dele era descobrir essa tara, e satisfazê-la. Que eu
podia confiar nele, ele me faria feliz. Não precisava ter medo, podia pedir o que
quisesse, ainda que me parecesse estranho ou bizarro...
TARA?
Fiquei por um momento estática, olhando sem saber o que dizer... Desconfiada,
pensando se era ou não o caso de sair correndo... Ele continuava com seu jeito doce e
educado, mas esperando a minha resposta, falando meigamente no meu ouvido,
acariciando meu cabelo e me seduzindo, agia como se fosse natural me faltar coragem
para falar.
Tentei pensar, o mais rápido que me fosse possível. Eu queria continuar, queria
mais carinhos, queria beijos deliciosos, queria senti-lo dentro de mim, inteiro,
ardente... Mas estava bem claro que, para isso, ia ter que arranjar uma tara qualquer,
e rápido, esta era a senha para entrar na brincadeira deste homem que prometia
tanto. Ele tinha convicção demais no que dizia, não ia conseguir convencê-lo que não
tinha tara nenhuma, e por nada deste mundo iria confessar há quanto tempo não fazia
amor com alguém, muito menos a estúpida fidelidade a um casamento que havia
fracassado. Melhor achar uma tara, qualquer uma, tinha que haver uma que eu
pudesse suportar...
4
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
estava tímida. Uma certeza eu tinha: ou eu achava uma tara, ou a aventura não ia
continuar. Mas precisava ser alguma coisa que eu pudesse assumir, ao menos
disfarçar. O quê?
Fui inventando a minha “tara”, aos poucos. Até hoje, não faço idéia se isso
existe ou não, mas a verificar a quantidade de gente que faz sexo por telefone ou
virtual, não deve ser tão absurdo assim. Disse que era uma espécie de “voyer”...
Imediatamente, ele perguntou se queria vê-lo fazer sexo com outra mulher.
Não, claro que não! Queria era comigo, mesmo, estava ali inteirinha e disposta, mas
não disse isso, continuei inventando a minha tara particular... Não gostava de assistir,
gostava de saber. que me contassem qual confidência, cheio de detalhes... Que
adorava histórias eróticas, picantes alegorias de alcova, experiências sexuais alheias,
detalhes e comportamentos.
Não tenho certeza se ele acreditou. Me olhou de um jeito estranho, acredito que
dividido entre contestar que aquilo fosse uma “tara’, e, doutro lado, o prazer de poder
contar a alguém as suas próprias proezas sexuais.
Entre uma e outra opção, ele fez a segunda, é provável que ego tenha falado
mais forte, talvez fossem poucas as oportunidades que tinha de contar tanta
vantagem, a ouvidos que juravam se excitar com isso...
5
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo II
“A VITÓRIA DA TOALHA”
Era mulher muito bonita, loira, alta e sensual. Fiquei me comparando. Sou
baixa, morena... Mas, em compensação, agora eu também tinha uma tara, e era
diferente da dela! Continuei ouvindo, enciumada, mas disposta a não dar o braço a
torcer. Fiz, pouco convincente, um olhar de “continue”...
Esta tinha dado trabalho para aceitar sair, era comprometida e, ao que tudo
indica, ouviu o discurso antes de aceitar, e aceitou pela oportunidade da fantasia. No
motel, havia feito seu pedido, acariciando-o como se ele fosse a lâmpada de Aladim,
pronto a realizar seus desejos. Ela queria que ele lhe batesse com uma toalha
molhada.
Uma fantasia deliciosamente exótica, a opinião dele, dessas que valiam a pena
realizar até pelo que tinha de diferente e inusitado. Enquanto ela aguardava, nua e
excitada, observando-o atentamente e deitada sobre a cama, ele atravessou o quarto
a passos largos e decididos, trouxe a toalha de banho macia e clara, e a jogou dentro
da banheira de hidromassagem com um gesto grandioso, como um toureiro que
venceu a disputa.
Ele puxou em um único gesto decidido a tal toalha, ainda a tempo de perceber
como ela reagiu, lábios entreabertos como quem pede um beijo, empinando o rosto
em um aceno sincronizado. Mas, mais do que a mulher, ele percebeu também que a
imensa toalha de banho, encharcada de água, estava uns bons dez quilos mais
pesada, mal saía da banheira, e ele ainda ia ter que torcê-la...
Sem escapatória, o jeito foi puxar o pano aos poucos, e ir torcendo pedaço a
pedaço. Olhou novamente para a mulher que, de tão excitada, não parecia notar o
peso que aquele treco tinha... O orgulho falou mais forte. Ele manteve corajosamente
o sorriso e o olhar fixo, enquanto torcia com médio sucesso o pesadelo da toalha, cada
vez mais pesada e encharcada, e que parecia não ter fim.
6
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Mas ele, corajosamente, foi adiante. Chicoteou-a com a tal toalha com o resto
de força que lhe restava nos braços, resistindo firme à vontade de desistir a cada vez
que ela pedia “mais forte”. Mentalmente, programou aulas de musculação, caso
houvesse uma próxima vez, estaria mais preparado... Mas mesmo as mais exóticas
fantasias, em algum momento precisam terminar, e então ela se entregou, excitada,
delirante, e ele pode enfim, merecidamente, cavalgá-la com prazer e agressividade,
tomá-la inteira para seu próprio prazer.
Depois, ele a levou para casa, e despediram-se como amigos. Ela estava
satisfeita, e ele, orgulhoso de sua performance, embora, é verdade, tenha levado
quase a semana seguinte, inteira, para conseguir levantar um copo d’água que fosse,
sem sentir dor...
7
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo III
“O SWING PARTICULAR”
Uns dois dias depois, ele ligou novamente, convidando para um swing na
república de um amigo. Claro que não aceitei. Iriam reunir-se uns três ou quatro
amigos dele, estudantes universitários, e uma “amigas” da mesma faixa etária, com
certeza mais jovens, mais bonitas e mais dispostas do que eu.
A semana inteira passou, e eu com o coração aos pulos a cada novo toque do
telefone, e nunca era ele. Não queria sofrer, mas não conseguia evitar. Saudade. Dia
após dia, fui me condicionando a não esperá-lo a cada ligação, e no fim de alguns dias,
já trabalhava normalmente, embora triste. E então, surpresa! Ele ligou de novo,
convidando para mais um programa. Aceitei na hora, com alívio. Não seria fácil
encontrar outro homem tão interessante!
Era uma sexta-feira, e ele quis passear pelos barzinhos da cidade, antes. Fomos
beber, muita gente em volta, música alta, não conseguíamos conversar. Confesso que
me sentia um pouco insegura, não sabia qual roteiro ele estava seguindo desta vez.
Não dançamos, sentamos em uma mesa de canto onde podíamos observar todo
o lugar. Ele foi pedindo bebida, e eu fui aceitando, tentando me ambientar. Havia
muita gente meio sozinha ou com poucos amigos por ali, visivelmente caçando para
terminar a noite.
8
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Ele tinha pedido whisky com gelo. Quando relaxei, ele começou, em gestos e
olhares, a me mostrar quais homens estavam me observando. Enquanto isso, pegou
uma das pedras de gelo do copo, e a repetir as carícias no meu rosto, agora com o
cubo de gelo entre os dedos, e beijos ocasionais. Fui achando graça, o gelo dava
arrepios na pele suada, e ele o derretia aos poucos, pingava entre os seios, escorria na
nuca, depois lambia em gestos rápidos a pele umedecida, um mínimo de discrição pelo
lugar público em que estávamos.
Acho que comecei a delirar, era como se saísse da realidade. Eu via, e de certa
forma até sentia, que aqueles que nos observavam até então, quase subiam pelas
mesas para acompanhar nossos gestos sensuais, provavelmente tesos sob a toalha
listrada. E a excitação destes olhares cadentes, que percebia num e noutro relance de
olhar, somado ao contraste do gelo frio e dos lábios quentes, a bebida que já tinha
tomado, a música alta, e eu já nem sabia direito aonde estava, quem era, ou que
imagem devia estar fazendo.
Mas acho que ele não queria conhecer nenhuma delegacia, me colocou no carro
e seguimos direto para um motel. Já entramos nos agarrando desde a porta,
arrancando as roupas e jogando pelos cantos, numa primeira relação explosiva e
insatisfatória, daquelas que apenas prenunciam que a noite será longa, mas é
impossível deter. Eu me desconhecia, e pouco me importava com isso. Havia sido tão
certinha, uma vida inteira, e de quê isso havia me valido? Tirei a roupa, entreguei-me
lasciva e apaixonada, esqueci quem eu era e onde estava, até conseguir o orgasmo tão
esperado, profundo, quase angustiante.
E então, ali estava eu, relaxada mas ainda insatisfeita, amortecida e pensando
como iria continuar, desta vez mais lenta, lânguida e sutil, quando ele começa, me
acariciando, a contar da tal “festa de swing” que havia feito com os amigos...
Elas haviam feito-se desejadas, assim como eu o fizera tão poucos minutos
antes. Meio festa à fantasia, haviam inventado produções eróticas, misto de camisolas
e acessórios, uma brincadeira colorida e alegre. Tive que morder os lábios para
conseguir ficar quieta, tamanha raiva senti de vê-lo descrever outras mulheres, ainda
úmido do prazer que lhe havia dado. Maldita tara que eu tinha resolvido inventar, que
9
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
não me excitava droga nenhuma, que tinha as horas mais inconvenientes para ser
lembrada!
Homens!... Eles haviam feito uma aposta, quem deles conseguia manter a
ereção por mais tempo. Elas controlavam a brincadeira, excitando e não deixando
gozar. Assim, fizeram striptease, dançaram nuas, sentavam no colinho, faziam sexo
oral rápido e brincalhão, amarrando lenços coloridos nos membros obrigados a
manter-se eretos, e incentivavam tanto quanto podiam. Resultado? Ele
orgulhosamente levou o troféu da ereção mais longa – ou assim se vangloriou para
mim -, mas de novo tinha passado a semana de molho, recuperando-se, mantendo as
pernas abertas o mais de tempo que podia, mal se cabendo nas calças e com o saco
todo dolorido.
E essa história, era para eu engolir como um pedido de desculpas pela demora
do novo contato, mais de uma semana sem se comunicar... Saco dolorido, pois sim!...
Dolorida estava a raiva que eu estava sentindo, a vontade de armar uma vingança,
fazer com que a minha lembrança fosse mais forte do que as alegres universitárias
bamboleantes!...
Mal mantinha o sorriso falso, e decidi que era a hora de descobrir quanto tempo
pode um homem manter uma ereção, num sexo oral que eu haveria de aprender como
fazer. Eu o deixei relaxar um tempinho, dei mais um espaço para o vinho, pedimos
alguma coisa para comer. Tradicional banheira de hidromassagem, que já fazia parte
do meu ritual, e lá fui eu para a minha vingança. Ele haveria de passar mais uma
semana com o saco dolorido, e desta vez não seriam várias menininhas, seria somente
eu.
Não sabia exatamente o que devia fazer. Sempre tinha visto sexo oral com
restrições, uma preliminar à qual nunca havia me dedicado, um pouco de nojo, talvez.
Mas agora era por uma boa causa. Comecei por uma massagem, creme suavemente
perfumado, costas, pernas, depois o virei como um frango na assadeira, torax, barriga,
pernas, pés, fui voltando devagar, sem tocá-lo ainda.
Fui chegando na virilha, ainda indecisa sobre como fazer. Tentando achar uma
posição mais confortável, acabei roçando os seios nas pernas dele, que se contorceu
num gemido rouco. Ah, ah! Achei um sinal!... Fui adiante, observando deliciada as
reações dele, um pouco usando as mãos, um pouco usando os seios, alternando
movimentos suaves e decididos, de forma que ele nunca soubesse como iria agir em
seguida. Ele estava totalmente ereto, e o beijei, delicadamente, na ponta do membro
seguro nas minhas mãos. Ele arqueou de prazer, mas não o tomei nos meus lábios,
preferi agradar o saco, e voltei a tocar-lhe na parte interna das coxas.
10
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
de seduzir, visto do outro lado do jogo. Sempre era eu quem era seduzida. Desta vez,
era eu quem seduzia.
Tomei-o em minha boca, e o senti reagir forte. Iria gozar, eu não queria.
Abandonei-o, e ele quase implorava que eu continuasse. Esqueci a vergonha, fui
buscar outro lugar para brincar. Nunca tinha tido a coragem de olhar um homem, tão
de perto, tão intimamente, mas o fiz sem pudor. Ia dando lambidinhas, ouvindo-o
gemer, descendo para longe, para a base, para a pele esticada logo abaixo. Ele se
abriu inteiro, como uma flor, enlouquecido. Inteiro meu. Então, a lambida forte que
tinha negado ao pênis ereto, fiz com vigor naquele trecho de pele que ele mesmo
jamais podia ver, até quase a base do ânus, como uma criança faz com um sorvete de
bola. Achei que ele se atiraria sobre mim, tamanha reação que teve, mas ao contrário,
ele se arqueava, facilitando a minha invasão, permitindo que desvendasse seus
segredos.
Brincava com ele, e me divertia. Fui voltando devagar, tocando-o, lambi o pênis
no sentido do comprimento, o tomei nos lábios, mas ele mal cabia pela metade na
minha boca, e achei que estava bom. Ele ofegava como nunca, e então eu o cavalguei,
sentada sobre ele, com as costas levantadas e os seios soltos, para que ele me visse
mulher e dominante, e não esquecesse minha imagem. E assim me mantive, até o
momento em que ele começou a gozar, e então me deitei sobre ele, junto dele, tomei
seus lábios e me envolvi naquele mundo de sensações partilhadas.
Foi um final de noite romântico, ele ainda ficou um bom tempo abraçado
comigo, acariciando minhas costas, perdidos ambos naquela sonolência agradável
trazida pelos atos de amor. Mas, na hora de ir embora, meu coração se ampliou,
generosamente, ao vê-lo ajeitando-se no banco do carro, em busca de uma posição
mais confortável para sentar-se. Voltei para casa feliz, sorrindo, vingada.
11
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo IV
“INUSITADAS ZONAS ERÓGENAS”
Era uma sensação um tanto estranha, pois a cada vez que saíamos, mais aquilo
parecia uma brincadeira, e menos eu me sentia envolvida com o rapaz. Não saberia
definir exatamente o que queria, mas comecei a sentir falta de ter alguém só para
mim.
Mas, fosse como fosse, nem por sonho eu pensava em desprezar cada saída
que podia usufruir com ele. Somando as histórias que contava, mais as carícias que
fazia, sexo tornou-se um conceito diferente, passou a ter um outro significado para
mim.
Fazer sexo tinha se tornado uma forma de expressão. A vida sexual com ele
tinha mudado minha maneira de vestir, de sorrir, de gesticular. E não estou falando do
meu comportamento dentro das quatro paredes do motel, mas sim do meu dia a dia,
da forma como convivia com todos os outros, da ascensorista do prédio aos clientes
que atendia. Eu notava claramente isso. Como ele não era “meu”, nem iríamos casar,
nem sequer eu estava apaixonada por ele, nossa vida sexual tinha-se tornado um ato
de saudável egoísmo meu, algo que eu fazia porque me fazia feliz.
Descobri que ele não notava tanto as minhas celulites, como notava meu
sorriso. Não notava os seios já um pouco flácidos, mas notava a pele macia que eles
tinham, e os bicos endurecidos de tesão... Ele reparava nas coisas que davam prazer a
ele... E nas coisas que davam prazer a mim. Contava histórias porque eu dizia que isso
me fazia feliz, e então eu havia de alguma forma entendido que uma pessoa feliz, é
também uma pessoa bonita...
Pode ser irônico, mas foi quando entendi que a beleza física não era assim tão
importante para agradá-lo, é que me senti realmente livre, pela primeira vez, para
cuidar da minha própria beleza física, até porque não era para ele, era para mim. Não
precisava mais temer ou projetar quais seriam as críticas dele, porque não as esperava
12
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
mais. E podia me orgulhar dos resultados dos meus tratamentos, porque conhecia
decor o antes e o depois...
Lembro de uma noite, que foi marcante como referência entre fantasia e
realidade. Era uma destas noites de lua cheia, imensa e clara no céu, eu tinha feito
todo o trajeto até o motel admirando-a.
Com o senso de oportunidade de sempre, ele pediu neste dia uma suíte
especial, destas que tem piscina e teto solar. A noite era quente, abrimos o teto solar,
e lá estava eu, maravilhosamente imersa naquela piscina aquecida, banhada pelo luar
envolvente.
A água deixava nossos movimentos mais leves, mas também cerceava algumas
posições de carícia, próprias dos lençóis. Talvez por isso, nesta noite ele priorizou
carícias na nuca e na orelha, contando baixinho da tara de mais uma garota, enquanto
fazia de conta que eu era ela...
Uma mulher muito bonita... Mas, depois de tantas vezes ouvir este mesmo
início de descrição, eu já não sentia ciúmes. Tinha concluído que ele achava todas as
mulheres com quem transava “muito bonitas”, não era um critério confiável o bastante
para gastar ciúmes com ele...
Ele já tinha ficado com uma amiga dele, “muito bonita’, é claro... E num
primeiro momento, achou que a transa talvez fosse algum tipo de rivalidade entre
elas, do tipo “se você pode, eu posso também”...
Ela era intrigante, porque se por um lado era relativamente fria, parecia não
responder às carícias dele, nem sequer parecia à vontade ou gostando de estar ali, por
outro reagia com especial interesse quando ele dizia que faria todas as suas fantasias,
embora se recusasse em dizer que tivesse uma...
13
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Ele a tocou inteira, tentou todos seus truques, mas era visível que ela consentia
o toque, a penetração e o que mais ele quisesse, mas não expressava prazer com isso.
Eu até estranhei, mas ele confessou que, tentando agradá-la e com poucas respostas,
chegou a um “finalmente”, sozinho, sentindo-se meio lubridiado, sem que ela o
acompanhasse e sempre o olhando um tanto passiva. Ele se sentia mal, arrependido
da saída, disposto a jamais repeti-la.
Ele contou que sentiu raiva, na hora que percebeu as primeiras reações dela.
Por mais sedutor que fosse, ele não gostava de ser usado como um objeto sexual, e
poucas mulheres lhe deram tal impressão, tão sem meias palavras, como esta. Raiva,
porque era como se ela tivesse primeiro pagado em serviço, oferecendo-se ao prazer
dele, para depois usá-lo quando ele já não tinha mais tesão para participar.
Mesmo hoje, ele guardou a imagem desta mulher como a mais solitária e a
mais triste das que ele conheceu. Mas a curiosidade o venceu, descobri-la era uma
questão de honra, ainda que já não fosse mais uma questão de prazer partilhado.
Foi acariciando aos poucos, e percebeu que o ponto principal de prazer era a
nuca. Quando lhe tocava os seios, as costas, ou mesmo aqueles que são considerados
os locais sensíveis de qualquer mulher, ao invés de relaxar, ela travava seus
movimentos numa reação púdica e virginal.
Mas quando ele lhe beijava a nuca, ela relaxava, abria-se inteira, expunha o
colo e o pescoço para que ele atingisse com facilidade esta parte única de seu corpo.
Aos poucos, ele foi chegando até a orelha, desenhando seus contornos,
lambendo as pontas. Ela reagiu de forma intensa, com gemidos angustiados que
antecipavam prazer. Bom, tara é tara, sente quem tem... E se esta era a dela, ele
somaria mais uma mulher satisfeita à sua lista particular.
E a atingiu em seu segredo e em seu prazer. Enfiou a língua quente, com força,
para o mais fundo que podia conseguir, dentro do delicado ouvido dela. Ela se
contorcia, louca de prazer, estirada na cama. Na penumbra, ele a viu esticar a mão,
tocando sozinha em seu corpo desnudo e masturbando-se com intensidade.
E assim ele a fez satisfeita, prendendo-a com força pela parte baixa de seus
seios, olhando-a tocar-se com sofreguidão, enquanto penetrava-lhe o ouvido como se
tentasse deixá-la surda. Ela gozou entre espasmos tensos, perdida nas próprias
14
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
fantasias, e depois o abraçou, saciada, satisfeita, dizendo que ele era o sonho de suas
mais loucas fantasias, o único que realmente adivinhou seu mais secreto ponto de
prazer.
Ele já estava dentro de mim, ambos andando abraçados como um só corpo pela
piscina aquecida, quando terminou a história. Lhe perguntei se havia estado com ela
novamente, mas ele me deitava sobre a água, e respondia que não, porque gostava de
mulheres como eu, que sentiam prazer pelo corpo inteiro e tinham a ousadia de dizer
do que gostavam e o que queriam.
15
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo V
“COSTURANDO AS PRÓPRIAS FANTASIAS”
Ele me convidou para conhecer seu estúdio. Não dei muita importância ao fato,
não tinha sido a única a ser convidada, embora tivesse sentido uma especial atenção
dele no convite, quando foi feito a mim.
Era só uma idéia, mas que surgia com cada vez mais força, e se contrapunha ao
prazer de estar com o meu garoto, especialmente quando nossas saídas coincidiam
com dias estressantes, ainda que sempre fosse gostoso. Eram aqueles dias que faziam
a diferença, os dias em que eu queria ser apenas abraçada e ficar assistindo TV, e
acabava ouvindo mais uma história erótica de alguém que não conhecia...
16
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Ele a tinha conhecido através de amigos. Era um tipo mignon, baixinha e toda
miúda, ginasta e bailarina de corpo magro e flexível, apaixonada por roupas de todos
os tipos, em especial as de época, que tanto usava nas apresentações que fazia. Acho
que ele se fascinou por ela.
Pela profissão que ela tinha, ele não estranhou quando saiu para o passeio,
carregando consigo uma bolsa de roupas quase maior do que ela mesma. Era habitual
que carregasse um mini-guarda roupas consigo, sapatilhas, meias, roupas maleáveis
de dança, até toalha de banho e alguns apetrechos pessoais...
Ele não sabia qual era a fantasia dela, que desceu com bolsa e tudo para dentro
do motel. No quarto, ele ficou assistindo enquanto ela contava a sua fantasia, trocando
de roupas enquanto explicava o que queria, quase uma narradora de histórias.
Ele não entendia nada, pois ela foi despindo-se na frente dele, enquanto falava
das virgens inglesas do tempo da Rainha Vitória e de seus pudores. Com seu corpo
quase adolescente, falando como quem leciona uma aula de história, e despindo-se
com a liberdade que teria na privacidade solitária do próprio quarto, ficou ele olhando
um strip tease feito sem qualquer erotismo, sem saber como reagir, atordoado em
uma cena que parecia sem sentido.
Então a garota tirou o que mais parecia uma longa camisola detalhada e em
tecido rústico, do fundo de sua imensa bolsa de viagem, e a colocou sobre o corpo nu.
Em um pequeno aparelho de som portátil, colocou para tocar uma música que ele não
conhecia, mas descobriria depois que era a gravação de músicas medievais de
tabernas, em instrumentos originais. Abriu um vinho, e, coberta com aquela estranha
mistura de tecidos, os cabelos longos presos em um coque desleixado, mostrou-se a
virgem púdica e recatada, incapaz de qualquer gesto sensual, uma figura tirada direto
de algum castelo do passado.
Fazer o quê? O quê ela queria? Ele a tocou de leve, no rosto, como se faz a uma
criança bonita. E foi reparar na tal camisola, tão estranha. E começou a entender.
Ela fez a fantasia da virgem, toda recatada e pura. Mas ele lhe tirava partes da
roupa, soltando os seios, a virilha e as nádegas, nos grandes sulcos do tecido. Já no
primeiro puxar, livrando um dos seios para as carícias, viu que o gesto e o barulho
imitavam como se lhe rasgasse a roupa. Desta forma, tirou-lhe o resto da fantasia,
como se fosse um homem violento a seduzir à força a reticente criança, obrigado a
contorcer-se entre as dobras do tecido para alcançar-lhe os pontos de prazer.
17
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Mas ele não me atendeu, e me vi quase brigando, pela primeira vez gritando
com um homem em meio a toques que recusava, e que não pareciam carícias. Ele me
segurou, me beijou sem preliminares, me penetrou um tanto quanto à força, eu o odiei
pelo que estava fazendo, e mais ainda a mim, pela violência com que reagi ao seu
contato e à sua penetração.
Lutava contra ele, e instintivamente reagia ainda mais do que com suas
carícias. Queria evitar seu toque, e parecia que o sentia ainda mais quando não o
desejava. Gozei em meio à raiva, entre sentimentos conflitantes, sentindo-me um
bicho feito de instinto, agarrando-o pelos cabelos e arranhando suas costas, quando
finalmente livrou meus braços. Tive prazer intenso, mas não tive satisfação, e voltei
confusa para casa.
18
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Capítulo VI
“O INÍCIO DO FIM”
Ele aceitou falar. Porém, destas, contou várias histórias banais, carícias
habituais, descrições de seios e bundas que me pareciam aulas de anatomia. Tive que
reconhecer que fazia as perguntas por ciúmes, ou por insatisfação. Ouvi da vez que
escondeu a namorada no guarda-roupa, numa inesperada chegada dos pais, que
haviam viajado e voltaram antes do programado... Soube que, além de mim, eram
mais duas amantes fixas, uma dentista divorciada e uma desenhista de móveis.
Ainda persisti um tempo, até ter a infeliz idéia de perguntar o que ele mais
gostava da noiva, porque esta era a especial. Eu soube: ela adorava sexo anal, e
poucas mulheres gostavam.
Foi meu balde de água fria, e devia ter sido corajosa o bastante para parar por
ali. Mas não o fiz, e ele entendeu que eu também queria fazer. Não queria, mas
quando fui colocar limites, já era tarde demais, ele já tinha criado a sua própria
fantasia. Porque isso tem técnica própria, e ele sabia a técnica, porque eu iria gostar,
porque ele sabia fazer...
Acabei consentindo. Era uma longa tarde solitária de domingo, a suíte era
imensa, a cama rodeada de espelhos dos lados e no teto. Ele me colocou de quatro no
centro da cama redonda, e para onde eu olhasse, via-me naquela posição exposta, a
cabeça baixa, em expectativa.
19
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Fui relaxando ao seu toque, me sentindo uma gata acariciada. Fosse qualquer
outra a continuidade, e teria amado com prazer. Mas a penetração anal sempre me foi
dolorosa, e não pude deixar de retesar o corpo e ainda dificultar mais a relação,
quando ele resolveu passar para os atos finais.
Ele percebeu a minha dor, eu não conseguia disfarçar. Teria gostado tanto que
ele parasse com aquilo! Mas não foi a decisão dele, ao contrário. Para essa
possibilidade, ele tinha trazido um anestésico local, que pretendia passar em mim...
Foi buscar a pomada, orgulhoso como o sábio que autografa o livro que registra
a sua sabedoria. Colocou-o na mesinha de cabeceira, e voltou à sessão de carícias, que
sempre me agradavam, toques, beijos, oral, me deixando alucinada e desesperada
para tê-lo dentro de mim.
Eu ficava me assistindo pelos espelhos, às vezes precisava olhar meu rosto para
acreditar que era eu mesmo naquela situação. Como um médico, ele retirou a porção
da pomada, esfregou onde entendia condizente, fez mais umas poucas carícias que
pareciam meio sem sentido naquele exame ginecológico.
Procurei não pensar. Tentei assistir aos nossos corpos se unindo, vendo-os
como um filme pornô que se desenvolvia pelas paredes, observando que ele também
nos olhava assim, mas com a visão privilegiada do próprio pênis enfiado, e exposto
nas imagens do espelho do teto. Tentei fingir prazer, mas nem ele estava vendo as
minhas expressões, nem eu consegui resultado com isso. Esperei que terminasse,
simplesmente.
Mas, mesmo sem palavras, eu já tinha tomado a decisão. Aquela tinha sido a
última tarde, era hora de partir e procurar outro homem, outra pessoa com quem
pudesse partilhar mais do que sexo eventual.
20
HISTÓRIAS ERÓTICAS DE PESSOAS (IN)COMUNS
Elaine Novaes Falco
Eu estava pronta para voltar à busca, para procurar novos caminhos, talvez até
um novo namorado. Queria ver se o tal retrato existia mesmo, queria ver quantos
mais homens interessantes haviam no mundo, e pensava seriamente em escolher
um... só para mim. E, graças à ele, era agora uma mulher mais aberta, mais sensual,
conhecendo com mais certeza daquilo que me dava prazer e do que não. Iria devolvê-
lo à sua noiva, e às tantas amantes quantas pretendesse ainda arranjar.
FIM
21
℗ 2001, Editora CAIXA POSTAL (Mailbox Books)
Curitiba, PR - Brazil
O
P 2001
MAILBOX
BOOKS
COLLECTION