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Avaliação da interface do web site da Universidade do Estado do Rio de Janeiro


por meio de critérios ergonômicos

Conference Paper · November 2004

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Edson Rufino de Souza


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Avaliação da interface do web site da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
por meio de critérios ergonômicos.

Edson Rufino de Souza – edson.rufino@gmail.com


Robson Santos, MSc – contato@robsonsantos.com
UniCarioca, Rio de Janeiro

Resumo.
Este estudo é parte do processo de avaliação da usabilidade do web site da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj), que está em processo de reformulação. Foi realizada uma inspeção de usabilidade, considerando
os critérios ergonômicos para avaliação de interfaces, propostos por Bastien e Scapin, com o objetivo principal de
obter informações sobre a situação do web site atual. O conhecimento gerado será aplicado na geração de
guidelines para a nova versão.

Palavras-chave.
Interação humano-computador, usabilidade, critérios ergonômicos.

Introdução.
Os web sites das grandes universidades públicas são exemplos críticos de sistemas de informação, pois são
voltados para um público-alvo bastante diversificado, tanto no que se refere à faixa etária, quanto ao grau de
instrução. Shneiderman (1998) defende que o acesso universal é um assunto econômico e político, mas que
também é uma questão fundamental do design de um web site.

Outra característica peculiar é a grande massa de informação a ser disponibilizada, como dados institucionais,
pesquisa, cursos e serviços à comunidade. Devido à grande complexidade, tanto da informação como do público-
alvo, nem sempre os web sites concebidos e utilizados são bem-sucedidos, e não conseguem apresentar
adequadamente informações e serviços destas instituições.

O portal da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) enquadra-se nestas características e, recentemente,
iniciou-se um projeto de reformulação. Este projeto é conduzido por uma equipe multidisciplinar, atualmente
composta por profissionais da própria universidade, oriundos das áreas de comunicação, informática e design.

Dentre as etapas do projeto está prevista a realização de avaliações de usabilidade, tanto da interface do web
site atual quanto dos protótipos intermediários. Foram feitas inicialmente pesquisas de opinião com alunos,
professores e funcionários da universidade para medir o grau de satisfação do usuário em relação ao web site
atual. Entretanto, ainda se faz necessária uma avaliação de usabilidade do portal atual, para encontrar e
catalogar os problemas existentes, para que sejam considerados na concepção da nova versão. Dentre os
métodos previstos, estão a avaliação heurística e a avaliação cooperativa. Esses métodos foram selecionados
por darem uma visão ampla tanto de especialistas quanto dos usuários finais.

Categorização de web sites de universidades.


Devido a suas características peculiares, os web sites de universidades podem ser categorizados tanto como web
sites de informação, quanto como web sites institucionais. Como instituição precisa se apresentar para a
comunidade de maneira a tornar conhecidos seus serviços; por outro lado, também oferece um grande número
de informações pertinentes ao universo acadêmico, como acervos de bibliotecas ou notícias do campus.

Os web sites, de maneira geral, precisam tornar claro para o usuário sua localização tanto no nível local quanto
no nível global. Desta forma, é importante informar onde o usuário está, de onde veio e quais as possíveis rotas a
serem percorridas (Nielsen, 2000). Em um segundo nível, todo web site institucional deve prover conteúdo sobre
a entidade, seu papel na comunidade e quais serviços ou produtos são oferecidos. Também é fundamental
apresentar formas de contato para compor positivamente a experiência do usuário. Em uma terceira camada de
exigência, talvez o visitante deseje saber qual a filosofia da universidade, quais os cursos e programas
oferecidos, como obter informações sobre os membros das faculdades, como se inscrever, como visitar, e outras.

Fleming (1998) destaca que uma grande porcentagem de visitantes de web sites universitários estão
interessados em informações sobre admissão. Tais visitantes, afirma a autora, têm uma série de questões
específicas a serem feitas a diversas instituições, e irão avaliar as respostas em uma série de fatores triviais. Se o
web site consegue responder a essas perguntas de maneira fácil, isso assegura confiabilidade para o restante do
processo.

Os web sites que dão ênfase em disponibilizar grandes quantidades de informação devem esclarecer para o
usuário questões específicas sobre o conteúdo e sua adequação às necessidades do visitante, além da
veracidade e confiabilidade dessa informação. É extremamente importante disponibilizar maneiras para o usuário
localizar informações por meio da busca de itens conhecidos ou por exploração. Também para web sites de
informação há uma terceira camada de exigências, onde os usuários desejarão obter informações tais como:
atualização da informação, tendências, conteúdo para leigos ou especialistas, e outras (Fleming, 1998).

Métodos e técnicas.
A avaliação apresentada neste artigo é a primeira fase dentro de um planejamento para revisar a interface e o
conteúdo do portal da Uerj. A avaliação foi feita por meio dos critérios ergonômicos propostos por Bastien e
Scapin (1998). A avaliação foi conduzida como uma inspeção de usabilidade, onde os elementos da interface
foram confrontados com os oito critérios ergonômicos.

Booth (1992) descreve a técnica de inspeção como uma auditoria, onde o sistema é considerado com base em
uma lista de verificação de critérios desenvolvidos a partir da literatura de ergonomia. Essa lista de verificação
pode cobrir uma variedade de áreas, tais como: hardware, software, documentação, layout de telas e outros.

A inspeção de usabilidade é uma técnica conduzida sem o foco em uma tarefa pré-definida, e deve ser realizada
por pelo menos dois avaliadores. Nesta pesquisa, cada um dos avaliadores realizou uma inspeção isolada e,
após isso, foi feita uma outra inspeção conjunta a fim de validar os problemas descobertos e elaborar uma lista
única de itens. Em seguida, foram selecionados os problemas que devem ser corrigidos prioritariamente, que
serão utilizados em um posterior processo de propostas de correção (Hartson e Hix, 2001).

Inspeção de usabilidade é também o nome genérico de um grupo de métodos que são todos baseados no
trabalho de especialistas ao avaliar uma interface. Tipicamente, a inspeção de usabilidade se preocupa em
encontrar problemas de usabilidade no projeto, por isso alguns métodos também levam em conta questões como
a gravidade dos problemas e a usabilidade geral do sistema. Muitos métodos incluem a inspeção de
especificações da interface que ainda não foram implementadas, o que significa que a inspeção pode ser
realizada ainda no início do ciclo de projeto de usabilidade (Mayhew, 1999; Nielsen, 2004).

Este tipo de técnica apresenta algumas vantagens: baixo custo para realização; pode ser realizada com membros
da própria equipe; complementa avaliações realizadas com usuários; apropriada para estágios iniciais do
desenvolvimento; oferece diferentes opiniões. Contudo, devem ser consideradas algumas desvantagens: não
envolve usuários reais; não substitui os testes formais de usabilidade; o avaliador pode não conhecer a aplicação
em profundidade; cada avaliador tende a encontrar menos de 30% dos problemas do sistema; e pode apresentar
resultados contaminados pela visão particular.
Relação entre princípios e guidelines
No que se refere a parâmetros, cabe explicitar a relação existente entre os princípios gerais e guidelines
específicas. Para Monk (1993), princípios são afirmações bastante amplas baseadas em pesquisa sobre como as
pessoas aprendem e trabalham. Desta forma, entende-se que um princípio é apenas um objetivo geral, sem dizer
como alcançá-lo. Guidelines são objetivos mais específicos refinados por especialistas em IHC a partir da
pesquisa dos princípios para diferentes contextos. Um princípio pode originar muitas guidelines, e guidelines
podem ser diferentes para combinações específicas de usuários, ambientes e tecnologia. Por natureza,
guidelines específicas são desenvolvidas apenas depois que especialistas adquirem algum conhecimento de
cada aspecto de IHC (Santos, 2000, apud Monk, 1993). De maneira similar, Shneiderman (1992) destaca que os
princípios gerais derivam da experiência e devem ser validados e refinados.

A lista a seguir apresenta os critérios ergonômicos utilizados neste estudo e o que se espera encontrar ao utilizá-
los em uma avaliação.
1. Orientação – verificar a presença e a qualidade dos meios disponíveis para advertir, orientar, informar, instruir
e guiar os usuários através das interações com o computador.
2. Carga de trabalho – verificar os elementos de interface responsáveis pela redução da carga perceptiva e
cognitiva do usuário e aumentar a eficiência no diálogo.
3. Controle Explícito – verificar o nível de controle que usuários têm sobre o processamento de suas ações pelo
sistema.
4. Adaptabilidade – verificar a capacidade do sistema se comportar de forma contextualizada e de acordo com
as necessidades e preferências dos usuários.
5. Gerenciamento do erro – verificar os meios disponíveis para prevenir, informar ou reduzir a ocorrência de
erros e para recuperação, quando ocorrerem.
6. Consistência – verificar a unidade entre as telas da interface e a maneira como as escolhas de projeto são
mantidas em contextos similares, e como são diferentes quando aplicadas a diferentes contextos.
7. Significados de códigos – verificar o relacionamento entre os signos da interface e seus referentes.
8. Compatibilidade – verificar a adequação entre características dos usuários e da tarefa, e a organização da
saída, entrada, e diálogo para uma dada aplicação. Também busca verificar a coerência entre ambientes e entre
aplicações.

Devido ao extenso conteúdo do web site da Universidade, optou-se por realizar a inspeção da tela inicial, por ser
o ponto de entrada primário para as demais seções, e da seção de Vestibular, por ser uma das seções de maior
interesse para aqueles que desejam ingressar na instituição. A partir da tela inicial da seção Vestibular, foi
escolhido o link que remete às informações de edital. Estas três telas representam o nível primário, o secundário
e o terciário de uma hipotética navegação de alguém interessado em informações sobre ingresso na
universidade. Certamente que também é possível acessar essas informações diretamente, sem passar pela
página inicial, seja por meio de um site de busca ou digitando diretamente o endereço no programa navegador.
Contudo fazer o caminho completo permite observar itens como consistência e finalização do diálogo.

A seguir são apresentadas as telas submetidas à inspeção.


Tela inicial da seção “Vestibular”.

Tela inicial do portal Uerj.

Tela da subseção “Edital“.


Resultados
As sessões de avaliação geraram como resultado a tabela apresentada a seguir. Nela constam os problemas
encontrados e considerados os mais graves.

critério Problema
Redundância desnecessária, links em menus mal categorizados, hierarquia dos elementos confusa;
inexistência de ajuda;
Orientação Feedback quase inexistente, à exceção do menu central, em que os menus suspensos que surgem dos
ícones sobrepõem outros elementos, dificultando a navegação;
Entrelinhas muito estreitas nos menus com links textuais.
Menu à esquerda com número exagerado de opções exibidas inicialmente;
Sub-menus do menu central muito extensos, o que superpõem elementos que aparecem logo abaixo,
Carga de trabalho dificultando a navegação entre as opções;
Diferenças extremas na densidade da informação;
Página inicial sobrecarregada e confusa, com blocos diversos com muitas opções.
Busca sem um botão “ok” ou algo similar, o que dificulta, para um usuário inexperiente, o entendimento da
Controle explícito
necessidade de mais um passo a executar.
Aumentar o tamanho do texto no navegador ocasiona problemas graves na diagramação, como
deslocamento de áreas clicáveis;
Recursos presentes e visíveis mas que não funcionam, como a busca e links quebrados no menu à
Adaptabilidade
esquerda;
Não há diferenciação entre links para usuários avançados ou para inexperientes;
Não há instruções para usuários inexperientes.
Áreas clicáveis das opções do menu principal muito maiores do que os respectivos elementos, gerando
erros;
Gerenciamento de erros
Não foram encontradas mensagens ou recursos para correção de erro contextuais, apenas as do software
navegador.
Links sem tratamento uniforme;
Tipografias diversas para representar elementos e rótulos de mesma natureza;
Consistência Itens redundantes e inconsistentes;
Inconsistência visual e estrutural total entre página inicial e demais páginas do site;
Inconsistência no teor dos textos.
Rótulos e textos alternativos confusos, às vezes excessivamente institucionais;
Significado de códigos
Ícones pouco informativos.
Muitas imagens sem texto alternativo;
Manchetes das notícias sem link;
Compatibilidade Applet Java de notícias e sub-menus suspensos do menu principal não funcionam em navegadores sem
suporte a Java, e não tem elemento alternativo;
Rótulo em inglês (clipping) onde poderia se utilizar o português.

Conclusões
O método de inspeção de usabilidade com base em recomendações ergonômicas mostrou-se adequado a essa
etapa do projeto de reformulação do web site da Uerj, pelo fato de ter sido aplicado ainda na fase inicial do
processo de reprojeto, como maneira de levantar requisitos para a nova versão. O processo de levantamento de
problemas, conduzido individualmente por duas pessoas, colaborou para minimizar a influência da opinião
pessoal nos resultados. Também o domínio das questões relacionadas à usabilidade manteve o foco da
avaliação centrado nos aspectos da interface que têm impacto negativo na experiência do usuário.

Os dados levantados serão transportados para o projeto de reformulação, onde serão considerados como pré-
requisitos a serem aplicados à nova versão que será desenvolvida. As fases seguintes serão: realização de
novas avaliações, considerando a visão de especialistas e do usuário; geração de guidelines específicas para a
correção dos problemas levantados; desenvolvimento de protótipos; testes dos protótipos.
De maneira geral, percebe-se que a atual versão do web site repete um erro bastante comum, que é reproduzir a
estrutura institucional na interface. Uma solução mais adequada impõe a consideração das características do
usuário e das características das tarefas principais realizadas no web site. Isto implica conhecer o que o visitante
busca e quais seus objetivos ao acessar as informações disponibilizadas.

Desta forma, é imperativo adotar uma abordagem de projeto centrada no usuário ao invés de uma abordagem
centrada no sistema ou na instituição. Disso resulta que uma abordagem mais eficiente será aquela que
considerar o conhecimento de regras, normas e recomendações para o projeto de interfaces que o projetista
possui, mas também a que buscar informações reais e contextualizadas extraídas diretamente dos usuários.

Bibliografia
BASTIEN, J. M. Christian; SCAPIN, Dominique; LEULIER, Corrine. Compilation of ergonomic guidelines for the
design and evaluation of the web sites. Commerce and Interactions, feb. 1998.

BOOTH, Paul. An introduction to human-computer interaction. East Essex: Lawrence Erlbaum, 1992.

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HARTSON, H. Rex; HIX, Deborah. User interaction design guidelines. Disponível em


[http://courses.cs.vt.edu/~cs5714/fall2001/notes/pdf/09_usab_inspection.pdf] Acesso em 29 ago 2004.

MONK, Andrew; WRIGHT, Peter; HARBER, Jeanne; DAVENPORT, Lora. Improving your human-computer
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NIELSEN, Jakob. Summary of usability inspection methods. Use it. Disponível em


[http://www.useit.com/papers/heuristic/inspection_summary.html]. Acesso em 29 ago 2004.

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Ergonomização da interação homem-computador: abordagem heurística para avaliação da usabilidade de
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2000.

SANTOS, Robson; MORAES, Anamaria de. Usabilidade de web sites de bibliotecas universitárias federais
brasileiras: considerações sobre rotas de acesso aos acervos on-line. Anais do XIII Congresso Brasileiro de
Ergonomia. Recife: Abergo, 2004.

SHNEIDERMAN, Ben. Designing the user interface: strategies for effective human-computer interactions. 3. ed.
[S.l.]: Addison-Wesley Publishing Company, 1992.

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