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A NOVA IDEOLOGIA

-
DA COMPETIÇAO

'Sergio Baptista Zaccarelli

Novas idéias sobre competição enfatizam a vantagem competitiva, seu uso, valor,
ocorrência e impacto nas decisões dos executivos.

Modern ideas about competition emphasize competitive advantage, íts use, value, ocurrence
and impact on decision making.

'PALAVRAS-CHAVE: Há vinte anos o uso do termo vantagem agora vantagem competitiva. A partir de
Vantagem competitiva, perfil
competitivo, cluster, estratégia.
competitiva era simplesmente ocasional. O 1980, com a publicação do livro de Michael
termo dominante era concorrência, Hoje a Porter, Estratégias competitivas, o objetivo do
'KEYWORDS: planejamento das empresas com fins lucra-
Competitive advantage, compe-
situação está invertida. O termo forte é
titive profile, ciustet; strategy. tivos passou a ser único: aumentar a van-
tagem competitiva', Criou-se um radica-
lismo, A vantagem competitiva
é tudo e sem ela não se
tem "nada".

'Professor titular da FEAlUSP


e Consultor em Administração
de Empresas.

14 Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n.1, p. 14-21 Jan ./Fev, 1995
A NOVA IDEOLOGIA DA COMPETIÇÃO

E isso ficou inquestionável para os pla- so, pois o problema não está definido de
nejadores. forma completa, faltando esclarecer o que
Em 1990, o mesmo Porte r abre novo a Cia. Sé da Zilva irá fazer com a nova
campo com o livro The competitive advantage vantagem competitiva. O quadro 2 mostra
of nations. O impacto das idéias desse livro os possíveis usos dessa nova vantagem.
sobre macro e microproblemas vem acon- Usos tão diferentes de uma nova vanta-
tecendo lenta e progressivamente. Elas gem competitiva mostram como podem ser
mudam muito os paradigmas anteriores diferenciadas as opiniões sobre o valor
sobre competição. Por isso, são de difícil dessa nova vantagem. Se a administração
assimilação. Por outro lado, o peso das decidir "desperdiçar" a vantagem compe-
evidências de pesquisas feitas em dez paí- titiva aumentando o tempo dedicado ao
ses elimina a possibilidade de rejeitar as lazer, aumentando as mordomias e dimi-
novas idéias. Essa mudança ideológica está nuindo o empenho no trabalho, quando a
sendo lenta mas inexorável. proteção da patente estiver terminando,
A mudança do uso do termo "concor- certamente a Sé da Zilva será uma empre-
rência" para "vantagem competitiva" não sa de valor menor que o de seus concor-
é apenas uma questão de preferência. Con- rentes. Se a administração decidir pelo
corrência é uma palavra mais usada para máximo crescimento, a Sé da Zilva poderá
salientar o lado negativo, enquanto vanta- liquidar com todos os concorrentes em
gem competitiva é uma expressão mais poucos meses e ter assim um valor altís-
adequada para salientar aspectos positivos, simo de mercado.
tendo um oposto bem claro, a desvantagem A vantagem competitiva é um "remé-
competitiva. Com palavras mais precisas, dio" muito forte. Pode ser usada para es-
novos conceitos ficaram mais fáceis de ser tragar a empresa ou levá-la ao pleno su-
identificados. Mas a lógica da competição cesso. Pode ser tão forte em relação aos
tem coisas estranhas: estamos habituados "remédios" usuais que estes, embora con-
à lógica dos valores absolutos, ao passo que tinuem sendo reconhecidos como bons, fi-
a lógica da competição é eminentemente
comparativa. O que impacta é ter ou não
uma vantagem competitiva, pouco impor- QUADRO 1
tando se o seu valor absoluto é grande ou
pequeno. Quanto vale hoje a Sé da Zilva?
Como a lógica dos fenômenos compa-
Até ontem:
rativos é mais complexa, achamos melhor
• eram 20 empresas iguais;
não nos atermos às discussões sobre lógi- • mesmo mercado, produto e tecnologia;
ca e partirmos para o exemplo de uma si- • todas com um só turno de produção;
tuação ideal de concorrência perfeita, que • vendiam US$ 1.000.000,00/mês cada uma;
nos leva a refletir sobre o valor de uma • lucravam 10% sobre as vendas;
vantagem competitiva. • tinham um valor de venda de US$
O exemplo não tem o objetivo de fixar o
8.000.000,00.
valor de uma vantagem competitiva. Em
Hoje, a empresa patenteou uma inovação que:
vez disso, serve para mostrar quanto cres- • melhora a qualidade;
ce o valor de uma empresa com uma nova • é protegida por cinco anos;
vantagem competitiva. Veja o exemplo do • não altera custo nem capacidade;
quadro 1. • os consumidores estão dispostos a pagar
Discutindo esse problema em muitos até 20% a mais.
seminários, verificamos que não houve
Pergunta-se:
consenso. No início das discussões em gru-
1. quanto vale a Sé da Zilva hoje?
po, supõe-se que o crescimento do valor 2. quanto vale um concorrente hoje?
da Cia. Sé da Zilva é muito pequeno; de- 3. qual seria o valor da Sé da Zilva se o prêmio
pois, predominam opiniões de crescimen- pela qualidade fosse de apenas
1. PORTER, Michael. Estraté-
to muito alto. 5% (em vez de 20%)? gias competitivas. Rio de Janei-
Não é de se estranhar a falta de consen- ro: Campus, 1986.

© 1995, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV,São Paulo, Brasil. 15


EXECUTIVA

C.
lU.-
QUADRO 2
pesslbíllta uma vantagem COmpetitiva?,
titiva de melhor assistência técnica pós-
venda quando o usuário do produto já em
utilização não é a pessoa que decide a com-
pra para reposição?
1º CRESCER; Ao se falar em vantagem competitiva
2º MELHORAR a empresa para aprofundar a pode-se estar lidando com valores extre-
vantagem competitiva; mamente altos, como o exemplo da Cia. Sé
3º LUCRAR, aumentando preços e obtendo da Zilva sugere. O presidente de uma em-
maiores dividendos; presa ilustrou bem a questão do valor da
4º DESPERDiÇAR, criando desvantagens
vantagem competitiva com a seguinte fra-
competitivas (diferente de preços altos) só
para facilitar a vida dos administradores. se: "Decidi hoje investir um valor muito alto
para tentar conseguir uma nova vantagem com-
REGRA: Se não se optar por uma das três petitiva. Eu seria demitido se decidisse aplicar
primeiras possibilidades, logo a quarta a metade desse valor em melhoria operacional
possibilidade fica automaticamente instalada. com o dobro de justificativas".
Entretanto, não é pela dificuldade de fi-
xar o valor da vantagem competitiva que
cam esquecidos e o novo "remédio" forte não podemos fazer algumas generalizações
se torna consagrado. sobre ela, como as apresentadas no qua-
Isso ficou claro particularmente nos úl- dro 3.
timos cinco anos. Para os administradores Se folhearmos os livros sobre estratégia
serem eficazes, pensar em termos de van- empresarial, poderemos constatar a des-
tagem competitiva demonstrou ser muito preocupação em quantificar o valor das
mais valioso do que pensar em termos de vantagens e desvantagens competitivas.
custo I benefício, taxa de retorno de inves- Na prática do planejamento estratégico
timento, análise comparativa de custo, moderno, não temos notícia de nenhum
competição entre nações etc. As vantagens caso de estimativa do valor de uma vanta-
competitivas tornaram-se a base do pen- gem competitiva. O que temos é a preocu-
samento estratégico. As demais técnicas de pação de:
apoio à decisão são consideradas dignas
de respeito, porém deixadas em segundo explorar melhor as vantagens competiti-
plano. vas e minimizar os efeitos das desvanta-
Fica assim, extremamente importante, gens competitivas;
tanto para profissionais, como para acadê- mostrar que os estrategistas têm acerta-
micos de administração de empresas, en- do mais em suas recomendações que os
tender a lógica das vantagens competiti- financistas, preocupados com a taxa de
vas, seu valor, seu uso, sua ocorrência nas retorno sobre investimentos;
empresas. Vamos aprofundar as conside- mostrar que a vantagem de custo baixo
rações sobre o valor das vantagens com- em si não é vantagem competitiva por-
petitivas para, em seguida, abordar outros que o consumidor não percebe o custo.
aspectos. Já o preço baixo, que o consumidor per-

Às vezes é fácil fixar o valor de uma van-


tagem competitiva, como, por exemplo, a
de uma melhor localização para comércio.
O próprio mercado estabelece o valor do
ponto comercial, que é praticamente o va-
lor da vantagem competitiva da melhor lo-
calização comercial. Mas em outras si-
tuações pode ser muito complicado. Por
exemplo, quanto vale a vantagem compe-

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cebe, é uma vantagem competitiva. Custo quando aplicada a determinado tipo de


baixo nem sempre significa preço baixo. empresa, pode apresentar poucos aspectos
a serem acrescentados e muitos fatores de
Ressaltamos porém que os estrategis- competitividade a serem descartados como
tas não desprezam taxas de retorno nem pouco significativos para aquele tipo de
custos. Só acham mais prático e seguro pen- empresa. Sendo assim, para cada tipo de
sar com base nas vantagens competitivas. empresa, podem resultar apenas, aproxi-
madamente, 20 fatores que geram vanta-
gens competitivas (ver quadro 3).
Nesta lista resultante, nem todos são
QUADRO 3 igualmente importantes, não merecendo
Sobre o valor da vantagem competitiva portanto igual consideração. Existem vá-
rias formas de classificar os fatores para
A vantagem competitiva só existe se for distinguir os mais promissores, os mais
reconhecida pelos clientes e consumidores. atrativos etc. Essas classificações são as
• a vantagem competitiva tem valor apenas seguintes:
enquanto durar;
fatores de manutenção versus fatores ga-
• o valor da vantagem competitiva depende da nhadores de pedidos: os fatores de ma-
decisão sobre sua utilização;
nutenção são aqueles com os quais a em-
• o valor da vantagem competitiva não é presa perde se estiver em desvantagem
proporcional ao seu tamanho; em relação a eles, mas, se ela estiver em
vantagem, eles não garantem por si sós
• o valor da soma das vantagens competitivas um aumento de pedidos dos clientes. São
distintas não é a soma do valor isolado de
fatores assimétricos;
cada uma delas;
fatores "puxadores" de vantagens com-
• se a empresa tiver simultaneamente uma petitivas: o fator "puxador" é aquele que,
vantagem competitiva e uma desvantagem trazendo em si uma vantagem competi-
competitiva, nem sempre é correto subtrair tiva consegue facilmente outras vanta-
a desvantagem da vantagem para obter o
gens competitivas. É um fator cata-
valor final.
lisador;
fatores "becos sem saída": uma vanta-
gem competitiva em um fator "beco sem
saída" impede a passagem para outra
vantagem competitiva. O exemplo mais
fácil é a vantagem competitiva "preço
Alista completa dos possíveis fatores de baixo" conseguida pelo pagamento de
competitividade, definidos como situações salários muito baixos. Se essa empresa
em que podem ocorrer vantagens compe- desejar outra vantagem competitiva,
titivas, tem aproximadamente meia cen- mais sofisticada, baseada na alta eficá-
tena deles, sem considerar as particulari- cia dos trabalhadores, terá que desistir
dades de certas empresas. Um fator de previamente dos baixos salários. O fator
competitividade se transforma em vanta- "beco sem saída" é um inibidor;
gem competitiva de uma empresa quando fatores incompatíveis entre si: são fato-
os respectivos consumidores e clientes re- res com os quais é impossível ter ao mes-
conhecem que naquele fator a empresa tem mo tempo vantagem competitiva. Fica-
uma situação melhor, diferenciada, em re- se com um ou outro, mas não com am-
lação aos seus concorrentes. É o reinado bos simultaneamente. São fatores ex-
dos consumidores no mercado, como juízes cludentes.
absolutos do que constitui uma vantagem
competitiva. Com essas classificações, os modernos
Essa lista de aproximadamente meia analistas de empresas ganham maior obje-
centena de fatores de competitividade, tividade na análise da competitividade.

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EXECUTIVA

Quanto ao elenco de fatores de com-


petitividade, cada empresa, em geral, apre-
senta-se simplesmente "adaptada", isto é,
a maior parte dos fatores de competi ti-
vidade não constituirá vantagem nem des-
vantagem competitiva. Alguns darão van-
tagem competitiva e outros, desvantagem.
A situação particular de cada empresa com
fatores adaptados, de vantagem e desvan-
tagem competitiva, define o "perfil com-
petitivo" da empresa. Existe teoricamente
um número muito grande de perfis viáveis,
porém na prática esse número se apresen-
ta bastante restrito.
Com base nas afirmações contidas nos a objeção de que eles ignoram os aspectos
quadros 2 e 3 e no que foi exposto até aqui, gerenciais internos, como eficiência nas
podemos fazer algumas inferências sobre operações, bons sistemas, boa tecnologia,
o perfil competitivo, que são confirmadas alta motivação dos trabalhadores etc. Sem
pela observação da realidade da competi- dú vida ninguém desmerece a importância
ção no mercado. Essas inferências constam de todos esses aspectos. Entretanto, eles só
do quadro 4. se tornam relevantes para a competiti-
Essa lógica do perfil competitivo é apa- vidade se forem transformados em pelo
rentemente simplória. Quem conhece ape- menos uma vantagem competitiva. Para
nas os conceitos tradicionais e se depara sermos radicais, podemos afirmar que, se
com os conceitos da vantagem competiti- uma empresa não tiver nenhuma vanta-
va pela primeira vez certamente levantará gem competitiva, tudo de bom que ela tem
internamente é bom, porém, por enquan-
to, inútil.
QUADRO 4
Sobre O perfil competitivo
• apenas uma vantagem competitiva, sem nenhuma
desvantagem competitiva, é suficiente para uma
Para melhor entendermos a extensão
empresa ter muita possibilidade de crescer,
melhorar, lucrar e desperdiçar. O inverso é também desses conceitos, vamos destacar a seguin-
verdadeiro; te pergunta: "Qual é o melhor fornecedor de
• se uma empresa tiver uma vantagem competitiva insumos para a minha empresa?"
muito nítida ou em muitos fatores de Essa é uma pergunta genérica, do tipo
competitividade, tem-se uma situação instável,
e com pOSSibilidade de redução do número de
que aparentemente não pode ser respon-
empresas operando no mercado, ou de mudanças, dida. Com a nova ideologia da compe-
nos concorrentes, para rebater as vantagens titividade, é possível rapidamente dar uma
competitivas da melhor empresa;
resposta também genérica: "É o fornece-
• uma empresa poderá se manter no mercado, até em dor que mais contribui para aprofundar as
boa posição competitiva, se o seu perfil contiver
uma mistura de vantagens e desvantagens vantagens competitivas que minha empresa jd
competitivas; possui".
Com essa resposta, posso melhorar a
• podem competir em um mesmo mercado, em
situação estável, diversas empresas aparentando pergunta inicial dizendo: "Qual é ofornece-
vantagens competitivas diferentes; dor que mais contribui para que a minha empre-
• os especialistas em estratégia preferem buscar sa aprofunde as vantagens competitivas atuais?"
pequenas vantagens competitivas, uma a uma, em A resposta a essa nova pergunta é ime-
sucessão, a buscar uma grande idéia que forneça diata: É ofornecedor que tiver vantagens com-
1/
apenas uma vantagem competitiva.
petitivas iguais ou semelhantes às vantagens

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A NOVA IDEOLOGIA DA COMPETIÇÃO

competitivas da minha empresa".


Por exemplo, se uma empresa
QUADRO 5
Condições para o clusterser completo
apresentar como vantagem com-
petitiva a alta confiabilidade nas
entregas, é lógico que irá se be- 1. concentração geográfica;
2. vários tipos de empresas e
neficiar se tiver como fornecedor instituições de apoio na
uma empresa também com alta região;
3. alta especialização;
confiabilidade nas entregas. Pode 4. cooperação entre empresas
parecer muito radical afirmar que e seus fornecedores;
5. aproveitamento de
o fornecedor ideal é aquele que subprodutos;
6. reciclagem de materiais;
tem vantagens competitivas 7. muitas empresas do mesmo
iguais ou semelhantes às de mi- tipo;
8. intensa disputa;
nha empresa. Será que não é 9. administração dinãmina e
igualmente bom outro fornece- moderna;
10. defasagem tecnológica
dor que apenas me ajude a man- uniforme.
ter ou sustentar as atuais vanta-
gens competitivas da minha em-
presa? A resposta é "não". Esse outro for- aspectos das vantagens competitivas para
necedor atende às condições mínimas, isto macro-aspectos.
é, não atrapalha. O fornecedor que tem
vantagens competitivas iguais ou seme-
lhantes às da minha empresa ajuda.
Essa conveniência origina pressões que Apresentamos até agora os conceitos
podem levar à similaridade do perfil com- modernos de competitividade entre empre-
petitivo de ambas. Tem-se assim uma pro- sas, mas ainda falta abordarmos o que foi
pagação das vantagens competitivas de descoberto recentemente e que é agora um
uma empresa para seus fornecedores, tor- importante aspecto de competitividade
nando similares todas as empresas rela- entre regiões ou nações: os clusters de pro-
cionadas com um mesmo produto. dutos.
No livro, The campetítíve advantage af É notória a tendência espontânea do
naiions, Porter propôs que as indústrias de agrupamento de empresas do mesmo ramo
um país fossem classificadas em quatro ti- em uma mesma rua ou região (por exem-
pos, de acordo com as vantagens competi- plo: lojas de flores, luminárias, vestuá-
tivas que apresentassem", São eles: rio, autopeças, restaurantes, mótéis etc.).
Também é notório que há cidades que
factar drioen: tem vantagem competitiva agrupam empresas industriais (por exem-
decorrente da abundância de fatores bá- plo: indústrias de móveis, motores elétri-
sicos de produção; cos fracionários, roupas, sapatos, automó-
inuestment driven: tem vantagem compe- veis etc.).
titiva decorrente de alta capacidade de Esses agrupamentos eram ilógicos para
investir em equipamentos e em compra quem só conseguia ver o aspecto de con-
de tecnologia; corrência. Os economistas explicavam es-
innooaiion ârioen: tem vantagem compe- ses agrupamentos pela existência de "eco-
titiva decorrente da alta freqüência de nomias externas", que compensavam os
inovações em produtos e processos; efeitos da concorrência. Os administrado-
wealth drioen: tem vantagem competitiva res falavam em "vocação empresarial" da
devida à infra-estrutura e outras condi- região, Depois falou-se em "simbiose" en-
2. . The cotnpe-
ções criadas pela riqueza da nação no tre empresas competidoras, com inspira- titive advantage of nations.
passado. ção nos ecologistas, habituados a explicar New York: lhe Free Press,
1990.
a existência de animais que tinham que
o efeito da propagação das vantagens andar em grupos para sobreviver, embo- 3. ZACCARELLI, S. B., FISCH-
MANN, A.~, LEME, R. ~ s.
competitivas e classificações como essa de ra disputassem os mesmos alimentos". Eco/agia de empresas. São
Porter possibilitam que se passe de micro- Modernamente, esses agrupamentos em- Paulo: Atlas, 1980.

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presariais são chamados de clusters de um petitivas: a competição dentro do cluster en-


produto, e tem-se um conjunto de "condi- tre suas empresas e a competição das em-
ções" para a análise da competitivida- presas do cluster com empresas fora dele.
de deles. A competição entre empresas de um
Porter, no livro The compeiitioe advantage mesmo clusier, completo, é de um tipo
of naiions, descobriu que todas as indústrias muito especial. As empresas são muito si-
competitivas faziam parte de um cluster milares entre si, e por isso as vantagens
completo. Esse fato marcou a história da competitivas entre elas ficam muito peque-
análise da competitividade. Fixando ° nas ou inexistentes. As empresas se distin-
paradigma do clusier completo, foi vencida guem pelo maior nível de empenho das
a dificuldade para entender a competi- pessoas, num tipo de estratégia denomi-
tividade nos agrupamentos de empresas. nado por Amar Bhide hustle sfrafegy, e por
Tudo ficou claro e fácil de entender. Tam- não cometerem erros gerenciais". É como
bém ficou claro por que não deram resul- um combate em que os lutadores têm ar-
tados práticos muitas pesquisas notáveis mas e técnicas iguais.
feitas antes de 1990, como, por exemplo, a A competição com empresas fora do
do M.I.T. (Massachusettes Institute of clusier fica muito facilitada, porque as con-
Technology) sobre a competitividade das dições do cluster possibilitam às suas em-
empresas industriais americanas, publi- presas muitas vantagens competitivas em
cada no livro Made in America. Também fica relação às que estão fora.
fácil entender por que falharam as pesqui- O maior mérito de Porter, a nosso ver,
sas de "fatores de excelência" feitas por além de revelar a importância do clusier,
Peters e Waterman, apesar do sucesso do foi identificar as dez condições de um
livro In search of excellence, editado em cluster que geram vantagem competitivas
19824• Esses pesquisadores procuraram os para suas empresas. O quadro 5 apresenta
"fatores de excelência" quase sempre em a lista dessas dez condições. Elas pare-
aspectos internos das empresas, sem pre- cem, no texto de Porter, dispersas nas
ocupação direta com as vantagens compe- considerações sobre o diamond usado ori-
titivas e com os ginalmente para explicar a lógica dos
clusiers respec- c/usters. Adotamos as dez
tivos. Um ano condições em
após a publica- lugar do dia-
ção do livro, a mo n d para
revista Business facilitar o en-
Week mostrou, tendimento.
num artigo de O clusier é
capa, que pelo chamado de completo
menos 14 das quando satisfaz as dez condições. Se
42 empresas não as satisfizer, será chamado de cluster
pesquisadas já em formação. Mesmo em formação, um
haviam deixa- clusier propicia vantagens competitivas às
do de ser excelentes. suas empresas em relação às empresas de
fora. Evidentemente, quanto mais forma-
do estiver o clusier, mais beneficiará suas
empresas.
Existem alguns tipos de empresa que As dez condições do clusier completo
não formam cluster. A situação natural para não são independentes entre si. Ao contrá-
4. PETERS, T. J., WATERMAN
Jr., R. H. In search of ex- elas é ficar isoladas, existindo entre si ape- rio, são intensamente correlacionadas. Por
cellence. New York: Harper & nas a competição normal entre empresas. exemplo, a primeira condição, a concentra-
Row, 1982.
A grande maioria dos tipos de empresas ção geográfica, facilita praticamente todas
5. BHIDE, Amar. Hustle as stra- forma cluster, e vão então ocorrer duas as outras nove. Em função dessa correla-
tegy. Harvard Business Review,
Boston, v. 64, n. 5, Sep./Oct. competições de tipos diferentes, porque são ção, seria possível reduzir o número de
1986. baseadas em diferentes vantagens com- condições para a lista ficar mais elegante

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no aspecto científico, porém ficaria menos tar. Para o leitor culto e maduro, familiari-
prática. zado com as idéias tradicionais há dez anos
A formação de um clustcr se inicia pela ou mais, a tarefa de aceitar o que aqui foi
localização de algumas empresas do mes- colocado esbarra em uma grande dificul-
mo tipo em uma região. Segue-se um lon- dade: rearrumar todas as idéias correlatas
go processo de formação das demais con- sobre administração e economia que fica-
dições. O tempo de formação de ume/uster ram prejudicadas ou se tornaram incom-
não é medido em anos. É mais natural patíveis com a nova ideologia da com-
medi-lo em decênios, pela lentidão dos in- petitividade. Sem essa rearrumação, o
crementos necessários para completá-lo. administrador terá idéias em conflito.
Na competição entre empresas isoladas Os psicológos podem desenvolver am-
e empresas de um clusicr, já mencionamos plas considerações sobre esse conflito de
que fica fácil a vitória dessas últimas por
disporem de vantagens competitivas espe-
ciais. Isso é válido mesmo que o clusier es-
teja num estágio inicial de formação.
É necessária uma vantagem competiti-
va muito forte de uma empresa isolada
para que ela consiga sobreviver na com-
petição com um cluster.
Na competição entre dois ctusters, tem-
se uma guerra de gigantes. O clusier per-
dedor irá passar por um processo de de-
clustering, causando um profundo trauma
na região, devido ao fechamento de todas
as empresas do dusier que não consegui-
rem mudar de atividade. Os governos são
acionados para proteger um clusier em des-
vantagem por meio de barreiras comer-
ciais, reservas de mercado, subsídios etc.
Quanto mais umcluster satisfizer as dez
condições do modelo completo, tanto mais idéias, mas nós, por não sermos teóricos,
facilmente vencerá a competição com em- diremos apenas que um executivo com
presas isoladas ou com outro clusier em idéias em conflito tenderá a ser menos
estágio menos adiantado de formação. Por operante tanto com as novas idéias, que
isso, o critério para avaliar a competi- trouxeram perturbação, quanto com as
tividade de um clusier é simplesmente velhas idéias, que ficaram perturbadas.
avaliar o grau de satisfação das dez condi- Portanto, esse assunto é gravíssimo.
ções. O impacto das novas idéias sobre com-
Baseado nessa análise, se o governo, ou petitividade é ao mesmo tempo amplo e
qualquer siakeholder desejar promover o profundo. Amplo porque mexe com quase
desenvolvimento econômico, o meio natu- tudo, desde a administração de supri-
ral é identificar o que falta para completar mentos até markeitng, e dá alento a meto-
o clusier, e que possa ser feito a curto ou dologias novas, como a reengenharia. Pro-
médio prazos. fundo porque obriga a visões radical-
mente novas dos problemas existentes
nas empresas (novas teorias de produção
e finanças, por exemplo) e nas políticas
de promoção do desenvolvimento econô-
Para um leitor jovem ou iniciante nas mico.
---------------------------------
questões de competitividade, as idéias
apresentadas, depois de entendidas, parc- 0950102
cerão simplesmente lógicas, facéis de acei-

Artigo recebido pela Redação da RAE, avaliado e aprovado para publicação em janeiro/95. 21

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