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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Tecnologia e Geociências


Curso de Engenharia Química

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS
ANALÍTICOS

Prof. Fernanda Honorato


CONCEITOS

“A validação deve garantir, “É a confirmação por exame e


através de estudos experimentais, fornecimento de evidência objetiva
que o método atenda às exigências de que os requisitos específicos para
das aplicações analíticas, um determinado uso pretendido são
assegurando a confiabilidade dos atendidos” (ISO 17025)
resultados” (ANVISA)
“Processo de definir uma
exigência analítica e confirmar
que o método sob investigação
“A validação de métodos assegura a tem capacidade de desempenho
credibilidade destes durante o uso consistente com o que a aplicação
rotineiro, sendo algumas vezes requer” (Eurachem)
mencionado como o “processo que
fornece uma evidência documentada
“Verificação na qual os
de que o método realiza aquilo para o
requisitos especificados são
qual é indicado para fazer” (USP)
adequados para um uso
pretendido” (VIM)
Porquê VALIDAR ?

✓ Necessidade de mostrar a qualidade das medições químicas, seja por


razões legais, técnicas ou comerciais;
✓ Exigência dos órgãos reguladores do Brasil e de outros países;
✓ Oferecer evidências objetivas de que os métodos e os sistemas são
adequados ao uso desejado.
TIPOS DE VALIDAÇÃO

➢ Validação no Laboratório (“in house validation”): consiste


das etapas de validação dentro de um único laboratório; útil nas
etapas preliminares do desenvolvimento de uma metodologia e na
publicação de artigos científicos;
➢ Validação completa (“full validation”): envolve todas as
características de desempenho, um estudo interlaboratorial de
acordo com um protocolo oficial (ISO, INMETRO, ANVISA, etc.).
LEGISLAÇÃO

➢ Agências credenciadoras no Brasil: ANVISA e INMETRO


- ANVISA: Resolução RDC 166 (2017)
- INMETRO: DOQ-CGCRE-008 (06/2020)
➢ FDA
✓ Guidance for Industry, Bioanalytical Method Validation, 05/2018
✓ Guidance for Industry, Analytical Procedures and Methods Validation,
2015
➢ ICH (International Council for Harmonisation)
✓ Validation of Analytical Procedures: Definitions and Terminology, Q2A
(CPMP/ICH/381/05), 2005
✓ Validation of Analytical Procedures: Methodology, Q2B
(CPMP/ICH/281/05), 2005
➢ Outros Guias: IUPAC, ISO
Quando VALIDAR?

Para confirmar que os métodos são apropriados para o uso


pretendido!

*Se aplica a:
✓ Métodos não normalizados;
✓ Métodos criados/desenvolvidos pelo laboratório;
✓ Métodos normalizados usados fora dos escopos para os quais
foram concebidos;
✓ Ampliações e modificações de métodos normalizados.

*DOQ-CGCRE-008 – 2020
*PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA VALIDAÇÃO

✓ Definir a aplicação, objetivo e escopo do método;


✓ Definir os parâmetros de validação e critérios de aceitação;
✓ Verificar se as características de desempenho do
equipamento estão compatíveis com o exigido pelo método em
estudo;
✓ Qualificar os materiais, por exemplo, padrões e reagentes;
✓ Planejar os experimentos de validação, incluindo o
tratamento estatístico;
✓ Fazer os experimentos de validação.

*DOQ-CGCRE-008 – 2020
FORMAS DE FAZER A VALIDAÇÃO

✓ Comparando-se os resultados com os obtidos por outros


métodos normalizados ou similares já validados;
✓ Comparações Interlaboratoriais;
✓ Comparações Intralaboratoriais;
✓ Avaliação sistemática dos fatores que influenciam o resultado;
✓ Avaliação da incerteza de medição com base no conhecimento
dos princípios do método e na experiência prática;
✓ Ensaios de repetitividade e reprodutibilidade.
PARÂMETROS ANALÍTICOS PARA
VALIDAÇÃO
INMETRO x ANVISA

INMETRO ANVISA
Seletividade Especificidade e Seletividade
Faixa de trabalho e Faixa linear de trabalho Intervalo
Linearidade - Sensibilidade (inclinação da Linearidade
curva)
Limite de Detecção (LD) Limite de Detecção (LD) (sensibilidade)
Limite de Quantificação (LQ) Limite de Quantificação (LQ)
Tendência/Recuperação Exatidão
Precisão Precisão
Repetitividade Repetibilidade (precisão intracorrida)
Precisão intermediária (precisão
Precisão intermediária
intercorridas)
Reprodutibilidade (precisão
Reprodutibilidade
interlaboratorial)
Robustez Robustez
SELETIVIDADE

Capacidade de avaliar, de forma inequívoca, a substância


de interesse na presença de componentes que possam
interferir na análise.

Como avaliar?

✓ Fazer a análise com a amostra e materiais de referência pelo


método em estudo e outros métodos validados;
✓ Analisar amostras contendo vários interferentes suspeitos na
presença do analito de interesse.
Ex.: Espectros de varredura da solução de BZN (a) 20 mg mL-1, (b)
na presença de componentes do sistema emulsionado e da solução
contendo apenas o sistema emulsionado, sem fármaco (c) nas
mesmas condições de análise da solução padrão de fármaco.

Os diferentes espectros de varredura demonstram que os


componentes não absorvem na região do comprimento de onda (315
nm) utilizado para a análise quantitativa do fármaco.

Quim. Nova, Vol. 34, No. 8, 1459-1463, 2011


LINEARIDADE

Corresponde à capacidade do método em fornecer resultados


diretamente proporcionais à concentração da substância em
exame, dentro de uma determinada faixa de aplicação.

Regressão linear (r)


ANVISA = 0,99
INMETRO = r é um bom indicativo,
mas não conclusivo
LINEARIDADE
✓ Calculada pelo método dos mínimos quadrados avaliando o coeficiente
de correlação (regressão linear) e os resíduos;
✓ Uma alternativa para avaliar a linearidade é a realização da análise de
variância (ANOVA) na regressão.

Relação entre as
concentrações das misturas
biodiesel:diesel e as áreas
referente a espectros MIR

Quim. Nova, Vol. 31, No. 2, 421-426, 2008


PRECISÃO

✓ Grau de concordância mútua entre dados obtidos da mesma maneira;


✓ Fornece uma medida do erro aleatório, ou indeterminado, de uma
análise;
✓ As figuras de mérito para a precisão incluem: desvio-padrão absoluto,
desvio-padrão relativo, coeficiente de variação e variância (s2).

s=
 (xi − x )2 CV =
s
100
n −1 x
✓ A precisão em validação de métodos é considerada em três
níveis diferentes:

REPETITIVIDADE

PRECISÃO INTERMEDIÁRIA

REPRODUTIBILIDADE
Repetitividade

✓ As condições de repetitividade podem ser caracterizadas


utilizando:
• Mesmo procedimento de medição;
• Mesmo observador;
• Mesmo instrumento usado sob mesmas condições;
• Mesmo local;
• Repetições no menor espaço de tempo possível.

- ANVISA: Mínimo de 9 determinações (ex: 3 níveis de


concentração, 3 réplicas) ou 6 determinações de 1
concentração;
- INMETRO: 7 ou + repetições
Precisão Intermediária

✓ Refere-se à precisão avaliada sobre a mesma amostra, amostras


idênticas ou padrões, utilizando o mesmo método, no mesmo laboratório,
mas definindo exatamente quais as condições a variar (uma ou mais), tais
como:
• diferentes analistas;
• diferentes equipamentos;
• diferentes tempos;
✓ Esta medida de precisão representa a variabilidade dos resultados em
um laboratório.
Reprodutibilidade

✓ Embora não seja um componente de validação de método executado


por um único laboratório, é considerada importante quando se busca a
verificação do desempenho dos seus métodos em relação aos dados de
validação obtidos por meio de comparação interlaboratorial.
✓A partir do desvio padrão obtido sob condições de reprodutibilidade é
possível calcular o limite de reprodutibilidade (R), o qual permite ao
analista decidir se a diferença entre os valores da duplicata das
amostras analisadas sob condições de reprodutibilidade é significante.

INMETRO - No mínimo 5 laboratórios!


EXATIDÃO

Grau de concordância entre os resultados individuais


encontrados em um determinado ensaio e um valor de
referência aceito como verdadeiro.

A exatidão de um método analítico é definida como a


diferença entre o valor obtido (média) e o valor
verdadeiro presente na amostra.

Como avaliar??

✓ Materiais de referência;
✓ Comparação de métodos;
✓ Ensaios de recuperação.
Material de Referência Certificado (MRC)

➢ Os MRC são materiais de referência acompanhados de um


certificado que possui o valor de concentração de uma dada
substância, ou outra grandeza para cada parâmetro e uma
incerteza associada;
➢ Os valores obtidos pelo laboratório (a média e a estimativa do
desvio padrão de uma série de replicatas) da mesma amostra
padrão devem ser comparados com os valores certificados do
material de referência, para verificar a exatidão do método;
➢ Cálculo: erro relativo (ER, %); teste de hipóteses; índice z;
erro normalizado
Comparação de Métodos

✓ Consiste na comparação entre resultados obtidos empregando-se o


método em desenvolvimento e os resultados obtidos através de um
método de referência, avaliando o grau de proximidade entre os
resultados obtidos pelos dois métodos, ou seja, o grau de exatidão
do método testado em relação ao de referência.
Recuperação

✓ A Recuperação (ou fator de recuperação), R, é definida como a


proporção da quantidade da substância de interesse, presente ou
adicionada na porção analítica do material teste, que é extraída e
passível de ser quantificada.

✓As amostras podem ser fortificadas com o analito (spike) em pelo


menos três diferentes concentrações: baixa, média e alta, da faixa de
uso do método.

Valorobservado
100
Valoresperado
LIMITE DE DETECÇÃO (LD)

Menor concentração da substância em exame que pode ser


detectada, mas não necessariamente quantificada, utilizando
um determinado procedimento experimental.

Para a validação de um método analítico, é normalmente


suficiente fornecer uma indicação do nível em que a detecção do
analito pode ser distinguida do sinal do branco/ruído (INMETRO).

Como determinar??

✓ Método Relação Sinal-Ruído


✓ Método baseado em parâmetros da curva analítica
Método Relação Sinal-Ruído

✓ Aplicado para métodos analíticos que mostram o ruído da


linha de base.

Relação sinal-ruído
2:1 ou 3:1
Método baseado em parâmetros da curva analítica

✓ O limite depende da razão entre a magnitude do sinal analítico e o


tamanho das flutuações estatísticas do sinal do branco;
✓ O sinal analítico mínimo distinguível é dado por:

Sbr é o sinal médio do branco;


S m = S br + ksbr k é um múltiplo (valor recomendado é 3);
sbr é o desvio padrão do branco.

✓ Sm é obtido por medidas repetidas do branco (20 a 30 vezes);


✓ A partir da equação para a curva analítica, converte-se Sm em cm,
definido como limite de detecção:

S m − S br m: inclinação da reta
LD = Cm =
m
LIMITE DE QUANTIFICAÇÃO (LQ)

A concentração mais baixa de um analito que pode ser determinada


com precisão aceitável (repetitividade) e exatidão, nas condições
declaradas do teste.

É a característica de desempenho que define a habilidade de um


processo de medida química quantificar um analito
adequadamente.

Como determinar??

LQ = X + 10s

X = média das leituras dos brancos


s = desvio-padrão amostral dos brancos
ROBUSTEZ

A robustez de um método mede a sensibilidade que este


apresenta diante de pequenas variações.

Como determinar??

✓ Pode-se recorrer ao teste de Youden: teste que permite não só avaliar


a robustez do método, como também ordenar a influência de cada uma
das variações nos resultados finais, indicando qual o tipo de influência de
cada uma dessas variações.
INCERTEZA DE MEDIÇÃO

Parâmetro associado ao resultado de uma medição, que


caracteriza a dispersão de valores que poderiam ser
razoavelmente atribuídas ao mensurando.

✓ Fontes de incerteza: fatores que contribuem na obtenção da


incerteza do resultado de uma medida.
Etapas para o Cálculo de Incerteza

1. Identificação das fontes de incertezas que podem influenciar nos


resultados do ensaio;
2. Quantificar os componentes de incerteza e atribuir à distribuição
de probabilidade;
3. Determinação da incerteza padrão (ui) para cada fonte de
incerteza;
4. Cálculo da incerteza padrão combinada (uc);
5. Cálculo dos graus de liberdade efetivo (eff) e do fator de
abrangência(k);
6. Cálculo da incerteza expandida (U).
Exemplo de Cálculo de Incerteza: pH

pH = Y = f (X1, X2, X3, X4)

Sendo:
X1 = Analista
X2 = Equipamento
X3 = Temperatura
X4 = Material de Referência Certificado
Exemplo de Cálculo de Incerteza: pH

➢ Cálculo da incerteza padrão combinada (uc);


➢ Cálculo dos graus de liberdade efetivo (eff) e do fator de abrangência(k);
➢ Cálculo da incerteza expandida (U).
Exemplo de Cálculo de Incerteza: pH
Que parâmetros utilizar para VALIDAR um método?

Varia de acordo com o tipo de ensaio...

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