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Normativas internacionais

sobre infância e adolescência


Profa. Thaís Imperatori
Infância, adolescência e cidadania
Texto de referência
STOLZ, Sheila. De menores
incapazes e imputáveis a pessoas
com direitos: os direitos humanos
das crianças e adolescentes desde
as históricas normativas
internacionais. Revista Brasileira
de História & Ciências Sociais,
12(24), jul./dez. 2020.
Considerações iniciais
• “Menores”: “categorizam todas as crianças
e adolescentes que não eram sujeitos de
direitos, mas sim objeto de assistência,
controle, disciplinamento e repressão e o
que todavia é mais grave: com a
qualificação de menores se nomeavam as
crianças e adolescentes que eram, em sua
grande maioria, pobres, miseráveis,
abandonadas(os), vítimas de abusos ou
maus-tratos, infratoras(es) de um rígido
sistema social e jurídico caracterizado pela
exploração, castigo, banimento e execução”
(STOLZ, 2020, p. 314-315)
Ponto de partida
• Contexto: Revolução Industrial (1760 - 1850)
• Precárias condições de vida da maioria da população
• Exploração baseada em justificativas políticas, sociais
e religiosas
• Mutilação de corpos e mortes provocadas por
acidentes de trabalho: desamparo de crianças órfãs
• Trabalho de crianças e mulheres na economia
familiar, mas com menor remuneração (10 a 20% do
salário de um homem adulto ou até não
remunerado)
• Surgimento de vozes dissonantes: associações e
congressos internacionais
• Foco das preocupações: trabalho e mortalidade
infantil
Linha do tempo - Inglaterra

1802
Health and Morals of Apprentices Act (Lei de Saúde e Moral dos 1819
Aprendizes) – Chama de Peel Act Cotton Mills Act (Lei dos Moinhos de Algodão)
Proposta por Sir Robert Peel Proibição de trabalho de crianças menores de 9 anos nas
Aplicada a todos os aprendizes até 21 anos fábricas de algodão
Proibição de trabalho noturno e por mais de 12h/dia Jornada máxima de 12h/dia para todos menores de 16 anos
Prevê que aprendizes recebam algum tipo de educação básica
Linha do tempo - Inglaterra

1833
Anos 1830 The Factory Act
Fortes mobilizações políticas e sociais Primeira legislação eu proíbe o trabalho para menores de 9 anos
“Tem-hour movement”: objetivo de reduzir a jornada de trabalho para Entre 9 e 13 anos, máximo de 48h/semana e 8h/dia
crianças menores de 16 anos
Entre 13 e 18 anos, máximo de 12h/dia
Inquérito parlamentar produz relatório sobre abusos e maus tratos contra
crianças em fábricas, usinas e minas Para menores de 13 anos é exigido receber ensino fundamental por 2h/dia
Dificuldade de inspecionar cumprimento da lei
Linha do tempo - França

1874
1841 Loi sur le travail des enfantes et des filles mineures employés dans l´industrie
Loi Relative au Travail des Enfants Employés dans les Manufactures, Usines ou Ateliers Proibições e restrições ao trabalho infantil
Proibição do trabalhado aos menores de 8 anos em manufaturas, fábricas e oficinas Dispositivos relativos à saúde – proibido trabalho que envolvesse manuseio de materiais
com motores mecânicos e/ou de força contínua ou com mais de 20 trabalhadores explosivos, substâncias corrosivas, venenosas e/ou gases nocivos e técnicas perigosas
Entre 8 e 12 anos, máximo de 8h/dia com descanso (polimento de metais, vidros e cristais)
Entre 12 e 16 anos, máximo de 12h/dia com descansos Responsabilidade penal para diretores e gerentes de estabelecimentos industriais
Trabalho noturno é proibido para menores de 13 anos
Para menores de 16 anos, trabalho proibido aos domingos e feriados Loi sur la protection des enfantes em bas age et em particulier des nourrissons
Proteção física e mental a crianças menores de 10 anos de idade
Linha do tempo - Espanha

1873
1904 1918
Ley Benot de 1873
Ley sobre Protección a la infancia Ley de Tribunales para niños menores de
Proibição de trabalho aos menores de 10 anos
Inspiração nas leis francesas de 1874 quince años
Educação infantil por meio da criação de
Objetivo de reprimir e encarcerar crianças e
escolas nas fábricas (pelo menos, 3 h/dia)
adolescentes “delinquentes”
Criação de comissões para apurar denúncias
Em resumo...
• Entre final século XIX e início século XX – preocupação da proteção à
infância e de criar políticas públicas
• Nos anos seguintes, realização de congressos internacionais
• Associações profissionais – Pediatria
• Foco no combate às doenças e precárias condições de vida
• Foco nas questões jurídicas (leis protetivas e responsabilização do Estado) e
pragmático (construção de políticas assistenciais)
Congressos internacionais
• 1º Congresso Interacional de Proteção à Criança
• Elaboração de normativas legais mais progressistas e protetoras
1883 – Paris • Enfoque médico-higienista para primeira infância – ex: uso de leite esterilizado
para amamentação

1905 – Paris • Congressos Internacionais de Gotas de Leite


• Produção de publicações, livros, materiais informativos sobre amamentação
1907 – Bruxelas • Exclusão social e pobreza
1911 - Berlim • Implicações políticas sobre nova imagem da infância

• 2º Congresso Americano da Infância


• Proposta de criação de um centro de estudos, ação e divulgação de temas relativos
1919 - Montevideo à infância: 1927 será criado o Instituto Internacional Americano para Proteção da
Criança (em 1949, integrado à Organização dos Estados Americanos)
Em resumo...
“Uma análise detalhada do conteúdo desses congressos revelou que
houve uma substituição de modelos protetivos da infância, de modo
que no último período se impõe o modelo anglo-saxão, onde a
proteção está relacionada com a situação da mãe e o papel que ela
deve exercer na educação das crianças, na contramão do modelo
anterior, dominado pela França e pela Europa Latina, mais preocupado
com o corpo das crianças, suas doenças e os cuidados de saúde.”
(STOLZ, 2020, p. 328)
I Guerra Mundial (1914-1918)
• Preocupação em proteger as crianças não somente da exploração do trabalho e
do abandono, mas dos efeitos nefastos da guerra
• 1919 – Convenções da Organização Internacional do Trabalho sobre:
• Proteção à maternidade
• Definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria
• Proibição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos
• Luta contra o desemprego
1923 – Declaração dos Direitos da Criança de
Genebra
• 1. A criança deve receber os meios necessários para seu desenvolvimento normal,
tanto material quanto espiritualmente;
• 2. A criança com fome deve ser alimentada; a criança doente deve ser cuidada; a
criança que está atrasada deve ser ajudada; a criança delinquente deve ser
recuperada; e o órfão e a criança abandonada devem ser protegidos e socorridos;
• 3. A criança deve ser a primeira a receber alívio em momentos de angústia;
• 4. A criança deve ser alocada em condições de ganhar seu sustento e deve ser
protegida contra toda forma de exploração;
• 5. A criança deve ser criada com a consciência de que seus talentos devem ser
dedicados ao serviço do próximo
1959 – Declaração dos
Direitos da Criança
• 10 princípios:
• necessidade de cuidados e
proteção para as crianças
• Priorização, não discriminação e
direito à educação
• Criança como ser em formação
• Salvaguarda de todo tipo de
exploração
Linha do tempo

1980 – Caracas (Venezuela) 1982


6º Congresso sobre Prevenção do Campanha mundial de combate à
1979 Crime e o Tratamento dos Infratores desidratação causada pela diarreia,
Ano Internacional da Criança Importância de programas de imunização infantil, apoio ao
prevenção – precárias condições de aleitamento materno e a nutrição
vida adequada
Linha do tempo

1985 1990
1990
Resolução 40/33 – “Regras Resolução 45/112 – “Princípios
Resolução 45/110 – “Regras
mínimas das NU para a para a prevenção da
para a proteção dos menores
administração da justiça da delinquência juvenil”
privados de liberdade” (Regras
infância e juventude” (Regras (Princípios orientadores de
de Tóquio)
de Beijing) Riad – Arábia Saudita)
1989 – Convenção sobre os Direitos da Criança
• 1ª vez que proteção e direitos humanos de crianças e adolescentes
têm lugar em um tratado internacional
• 196 signatários
• Todos os países da América Latina
• Estados Unidos da América não ratificou a Convenção
• Alguns países fizeram reservas sobre a compatibilização com legislações
locais, cultura e/ou debates e discordâncias, por exemplo, se a criança deve
ou não ter liberdade de escolha religiosa, estabelecimento de uma idade
mínima e máxima para definição de criança, proibição da participação em
conflitos armados, legalização ou proibição do aborto
1989 – Convenção sobre os Direitos da Criança
“Para efeito da presente Convenção, considera-se como criança todo
ser humano com menos de 18 anos de idade, salvo quando, em
conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja
alcançada antes.”

Reconhece as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, e


também suas famílias que requerem proteção e assistência do
Estado

Direitos: universais, indivisíveis (não há hierarquia entre eles) e


interdependentes (cumprimento de um direito requer a efetividade
dos demais)
• No Brasil, a Convenção foi promulgada pelo Decreto
99.710/1990
1989 – Convenção sobre os Direitos da Criança
“Duas categorias estabelecidas pelas anteriores Declarações de Direitos
das Crianças (1924 e 1989) foram retomadas e postuladas como
“princípios básicos” da CDA/1989: a “não discriminação” e o “interesse
superior da criança”, além dos direitos à vida digna e à educação. Em
outros termos, a nova arquitetura normativa continuou priorizando
com uma roupagem holística o atendimento integral às necessidades
básicas e a proteção respeitosa da autonomia individual e das
particularidades de cada criança e adolescente como formas de
potencializar seu pleno desenvolvimento humano.” (STOLZ, 2020, p.
336)
Anos recentes
•Cúpula Mundial das Nações Unidas para a Criança

1990 •Objetivos e metas nas áreas de saúde, educação, nutrição e direitos humanos
•Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da Criança nos Anos 90 e plano de
ação

1996 •Resolução 48/157 – Crianças em conflitos armados

2000 •Cúpula do Milênio das Nações Unidas: erradicar a pobreza até 2015, entre outras metas
•Declaração do Panamá – “Unidos pela infância e adolescência, base da justiça e da equidade no novo milênio”

2015 •Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável


•17 objetivos e 196 metas

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