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VÍDEO 3
agora que já vimos duas aulas sobre esse tema, uma sociedade narrativa.
Para isso, partindo como até agora da obra de Cabrera, procurarei tecer
umas considerações baseadas num livro de Nancy Huston, que foi casada
(Discurso IX) não se preocupa com definir nem conceituar o que seria isso,
mas, por outro lado, descreve com muita atenção o que poderia ser isso:
das pessoas, porque não se pretende apenas narrar, com maior ou menor
separar os bons dos maus, tal como na parábola do Cristo quando falava
que, ao final dos tempos, seriam separados uns dos outros. E, mais ainda,
assumirem as virtudes.
Asuero, da Pérsia e marido de Esther. Tudo deu certo e saiu bem, porque
o Rei lia “cada dia as histórias antigas e do seu tempo e, mais ainda, as da
sua casa....e graças a isso governou sobre cento e vinte e oito províncias
“fazer ver” por que a História deveria ser uma forma de aprendizado
“Quem haverá de tão inumano que não se moverá ao ver uma coisa torpe,
mesmo fingido, ficar aceso no seu afeto e amor de quem tal coisa fez,
por meio dos exemplos e das coisas narradas, se a pessoa for humana se
Deus, a piedade para com os pais, a caridade para com todos. Exalta a
Córdoba propõe, que tipo de sociedade era essa que esperava que os seus
no Livro II, Discurso Terceiro, quando o autor fala “sobre a ordem dos
nesse sentido, parece-me que não há dúvidas sobre esse ponto: antes de
se não aquilo que é justo e honesto” (p. 54) e, por isso mesmo, será
preciso que “cale sobre as coisas feias e desonestas, para não ofender os
mais dirigido à influência moral dos leitores do que à verdade dos fatos,
de tal maneira que não escandalizem nem influenciem com seu mau
a imagem que o autor coloca diante dos leitores quando tenta explicar,
seu ponto de vista, o historiador nem escreve nem está para louvar ou
adular todos aqueles que se encontram nas câmaras dos Príncipes, mas
“fala diante do juízo de Deus como Christiano e não como gentil orador”
(p. 59). E, voltando ao tema do que se deverá então dizer ou calar, insiste:
ter prudência tanto no falar quanto no falar com bom juízo” (p. 60-1).
nosso autor responde criando o exemplo do pintor, “que tem licença para
Por outras palavras, da mesma forma que o juiz deve ser prudente e
daquilo que for contado. Parece-me que é evidente que estamos diante
ainda, o historiador, por isso mesmo, deverá ter sempre presente que
que se cala e o que se silencia, sobre o que se fala e se exalta. O que quero
palavra dita, a realidade cobra um sentido dado por quem disse essa
palavra.
precisamos que nos seja contado. É impossível captar e relatar esses fatos
sem interpretá-los.
O que tudo isto significa ou por que importa? Porque na sociedade
direito era como o ar, igual em todo lugar e, ao mesmo tempo, mais
ética e moral, ou seja, para saber que a ambição mata, é mais fácil fazê-lo
que essas mãos nunca poderão ser limpas, nem com todas as águas dos
céus e dos homens bons. Cada quadro, cada pintura, cada gesto esculpido
nossa religião, nossas riquezas, nosso povo...São ficções simples que todos
realidade ficcional.
movem pelo amor de Deus, por exemplo, também se movem pelo amor
das riquezas e dos prazeres. O que se aprende com as cenas das vidas
pedirá Descarte na metade do XVII, criando uma outra ficção onde tudo se
mais plural, mais heterodoxa, mais aberta e tolerante até, porque não
Modernidade.
histórica.