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FOTO: ISTOCK

Os cães vêem o mundo de uma forma muito diferente da nossa.


Abel G.M.

Como vêem os cães o mundo? Não é nenhum mistério que a sua visão é muito diferente da nossa, mas as suas particularidades são mais difíceis de detectar se não for
através de estudos comportamentais. Diz-se frequentemente que não vêem muito bem e que dependem essencialmente do olfacto, mas isso não está, de todo, correcto: os
cães vêem algumas coisas melhor e outras pior do que nós – simplesmente porque a sua visão evoluiu para satisfazer outras necessidades.

A família dos canídeos é maioritariamente composta por animais caçadores, razão pela qual a sua visão tem de cumprir uma missão muito específica: identificar
facilmente as presas, que se encontram frequentemente no meio da paisagem e em condições de luz muito variáveis. Por conseguinte, os seus olhos especializaram-se em
distinguir objectos em movimento, sem prestar tanta atenção à sua cor ou nitidez.
FOTOGRAFIA: ISTOCK / TATYANA_TOMSICKOVA

Um mundo com poucas cores


A diferença mais significativa entre a nossa visão e a dos cães é que eles distinguem menos cores, pois possuem apenas dois tipos de cones – as células foto-receptoras
responsáveis pela percepção da cor – enquanto os seres humanos têm três. Cada tipo de cone capta determinado comprimento de onda e a sua combinação forma o espectro
de luz visível para cada espécie.

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Os cones dos olhos dos cães são especializados nos comprimentos de onda correspondentes ao azul e ao amarelo, razão pela qual uma cor se torna mais difícil de
distinguir por eles para quanto mais destas se afasta. Por outras palavras, as cores que se encontram dentro dos limites destes comprimentos de onda, como o cor-de-laranja
e o verde, são percepcionados como amarelo, enquanto as que se afastam mais, como o vermelho ou o violeta, assumem tons monocromáticos aos seus olhos.

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Os efeitos da criação selectiva


A segunda diferença importante entre a nossa visão e a canina é a acuidade visual, ou seja, a capacidade de distinguir diferenças pequenas com exactidão. Regra geral, os
cães têm problemas em distinguir imagens a média e longa distância. O seu rácio na escala de Snellen, utilizada para medir problemas de visão, é de 20/75. Isto
significa que, enquanto uma pessoa sem problemas de visão consegue distinguir um objecto nitidamente a cerca de 23 metros, um cão precisa de estar a cerca de seis
metros para o ver com a mesma nitidez – daí a importância do olfacto na sua vida.

A sua acuidade visual também varia consoante a morfologia do crânio: em particular, os cães de focinho comprido têm melhor visão periférica (até 270º) do que os
focinho curto (que ronda os 180º, semelhante à dos seres humanos). Isto deve-se ao formato diferente da sua fóvea, a zona da retina onde os raios de luz se focam, que é
alongada nos canídeos, proporcionando-lhes um maior campo de visão.

FOTOGRAFIA: ISTOCK / BIANCAGRUENEBERG

Séculos de criação selectiva tiveram efeitos adversos em algumas raças. Por um lado, a selecção para obter cães com focinho achatado para o mercado de animais de
estimação encurtou a amplitude da sua fóvea proporcionalmente à diminuição do focinho. Por outro, a criação de cães de caça, com melhor visão, fez com que as raças de
focinho comprido, mais próximas dos seus parentes selvagens no que diz respeito à forma do crânio, mantenham a sua capacidade visual intacta.

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Em contrapartida, os cães com o focinho achatado ganharam uma capacidade que influenciou seguramente a sua popularidade enquanto mascotes: uma melhor
capacidade para estabelecer contacto visual e focar aquilo que têm à sua frente. É por isso que estes cães costumam olhar directamente para os seres humanos, enquanto os
de focinho mais comprido têm uma tendência, mais ou menos acentuada, de olhar de soslaio ou inclinando a cabeça.

Visão de caçadores
Os cães descendem de animais caçadores e isso influencia altamente dois aspectos: a capacidade de distinguirem objectos em movimento e de verem em condições de luz
muito variáveis. Isto deve-se à sua maior densidade de bastões, outro tipo de células foto-receptoras, responsáveis por captar a luminosidade.

Como já dissemos, os cães têm dificuldades em focar correctamente a distâncias médias e longas, o que significa que padecem de uma certa miopia. No entanto,
compensam essa deficiência com uma excelente capacidade para distinguir objectos ou seres em movimento. Isso deve-se à sua maior quantidade de bastões, que lhes
permite processar as imagens com mais rapidez, podendo, por isso, detectar com maior facilidade alterações na posição de uma criatura ou objecto.

É por isso que os cães preferem os brinquedos em movimento e parecem distinguir-nos com maior facilidade quando nos deslocamos, embora também o façam quando
estamos parados – tentando identificar se somos mesmo nós. Uma experiência demonstrou que um cão conseguia identificar os seus cuidadores a quase um quilómetro de
distância se estes estivessem em movimento, enquanto essa percepção diminuiu para quase metade se estivessem parados.

FOTOGRAFIA: ISTOCK /TSIK

Visão nocturna
A maior densidade de bastões também lhes permite ver em condições de luz mais variáveis. Enquanto outros mamíferos, como os seres humanos e outros primatas, têm
uma visão maioritariamente diurna e a sua pupila demore mais tempo a adaptar-se a condições de baixa luminosidade, os cães e outros caçadores vêem igualmente bem
durante o dia e durante a noite.

Além disso, os cães possuem duas adaptações que melhoram ainda mais a sua visão nocturna. Por um lado, a sua pupila é muito grande em proporção à superfície total do
olho, permitindo a entrada de muito mais luz e, por outro, possuem uma estrutura chamada tapetum lucidum, que reflecte a luz depois de esta passar pela retina,
fazendo-a passar uma segunda vez, fazendo com que a retina a receba em duplicado.

Embora os cães se tenham habituado a viver com os seres humanos há milénios, a herança dos seus antepassados continua a determinar a forma como vêem o mundo.
É por isso que gostam tanto de perseguir bolas, paus e frisbees – ou porque os cães de focinho pequeno parecem observar-nos com mais atenção.

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