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Temas: Classificação e definição dos materiais para engenharia – metais, cerâmicas,

polímeros e compósitos + Estrutura dos materiais.

O engenheiro atual deve ter uma compreensão mais profunda, diversificada e atualizada
das questões relacionadas aos materiais em vista dos avanços em ciência e tecnologia,
do desenvolvimento de novas áreas na engenharia e das mudanças na profissão. O
campo de ciência dos materiais vem se desenvolvendo rapidamente devido ao
reconhecimento de que princípios científicos idênticos se aplicam às propriedades dos
metais, dos materiais inorgânicos não-metálicos e dos materiais orgânicos.
Todo engenheiro deve ter preocupação em obter o conhecimento das propriedades
características e do comportamento dos materiais que vai usar. O problema consiste em
estabelecer um critério para a escolha do material adequado, já que só para o aço há
cerca de duas mil modificações ou tipos. Uma saída é levar em conta propriedades como
resistência mecânica, condutividade elétrica e/ou térmica, densidade e outras. Além
disso, deve-se considerar o comportamento do material durante o processamento e o
uso, onde plasticidade, usinabilidade, estabilidade elétrica, durabilidade química,
comportamento irradiante são importantes, assim como, custo e disponibilidade.
Existem duas situações típicas em que é necessário selecionar um material: quando um
novo produto está sendo desenvolvido ou quando há necessidade de troca de material
para aumento de desempenho de um componente ou partes de estruturas existentes.
Em face à grande quantidade de materiais disponíveis, a seleção é considerada uma
etapa crítica de muitos projetos.
No processo de seleção, uma vez que os requisitos de projeto estejam bem definidos, é
possível listar potenciais candidatos a partir do conhecimento das propriedades típicas
das principais categorias de materiais (metais, polímeros e cerâmicas). Nesta etapa,
especialmente nas etapas subsequentes do processo, é importante conhecer algumas
correlações importantes entre o processamento, a estrutura, as propriedades e o
desempenho.
As propriedades dos materiais dependem do arranjo de seus átomos. Estes arranjos
podem ser classificados em (1) estruturas moleculares, isto é, agrupamento ·de átomos,
(2) estruturas cristalinas, isto é, um arranjo repetitivo de átomos, e (3) estruturas
amorfas, isto é, estruturas sem nenhuma regularidade.
(1) Estruturas Moleculares – Uma molécula pode ser definida como sendo um número
limitado de átomos fortemente ligados entre si, mas, de forma que, as forças de atração
entre uma molécula e as demais sejam relativamente fracas. Estes grupos de átomos,
que são eletricamente neutros, agem como se fossem uma unidade, pois as atrações
intramoleculares são muito fortes, enquanto que, as ligações intermoleculares são
originadas por forças fracas de Van der Waals.
Os exemplos mais comuns de moléculas incluem compostos tais como H 2O, CO2, O2,
CCl4, N2 e HNO3. Dentro de cada uma destas moléculas, os átomos são mantidos unidos
por fortes forças de atração, resultantes, em geral, de ligações covalentes, embora
ligações iônicas não sejam incomuns. Ao contrário das forças que mantêm os átomos
unidos, as ligações entre moléculas são fracas e, consequentemente, cada molécula
está livre para agir de uma forma mais ou menos independente. Essas observações são
suportadas pelos seguintes fatos: (i) Os pontos de ebulição e de fusão de cada um
destes compostos moleculares são baixos, quando comparados com outros materiais;
(ii) Os sólidos moleculares são moles, porque as moléculas podem escorregar umas em
relação às outras com aplicações de pequenas tensões; e ( iii) As moléculas
permanecem intactas, quer na forma líquida, quer na forma gasosa.

(2) Estruturas Cristalinas – Uma molécula tem uma regularidade estrutural, porque as
ligações covalentes determinam um número específico de vizinhos para cada átomo e a
orientação no espaço dos mesmos. A maioria dos materiais de interesse para o
engenheiro tem arranjos atômicos, que também são repetições, nas três dimensões, de
uma unidade básica. Tais estruturas são denominadas cristais.
A repetição tridimensional nos cristais é devida à coordenação atômica no interior do
material e esta repetição, algumas vezes, controla a forma externa do cristal. Em todos
os casos, o arranjo atômico interno persiste mesmo que as superfícies externas sejam
alteradas. Por exemplo, a estrutura interna de um cristal de quartzo não é alterada,
quando as suas superfícies são desgastadas para formar grãos de areia.
Qualquer empacotamento atômico deverá se encaixar em um dos sete principais tipos de
cristais: Cúbico, Tetragonal, Ortorrômbico, Monoclínico, Triclínico, Hexagonal e
Romboédrico. O mais simples e mais regular deles envolve três conjuntos mutuamente
perpendiculares, de planos paralelos, igualmente espaçados entre si, de forma a dar uma
série de cubos. Dentro deste sistema cúbico, os átomos podem ser agrupados em três
diferentes tipos de repetição: cúbico simples (cs), cúbico de corpo centrado (ccc) e
cúbico de faces centradas (cfc).
(3) Estruturas Não Cristalinas (Amorfas)
Os materiais amorfos (literalmente, "sem forma") não apresentam a regularidade interna
dos cristais e abrangem os gases, os líquidos e os vidros. Os dois primeiros são fluidos e
de grande importância em engenharia, já que incluem muitos dos nossos combustíveis e
o ar necessário à combustão, como também a água. O vidro, o último dos três materiais
amorfos, é considerado um líquido rígido; entretanto, quando se considera sua estrutura,
observa-se que é mais do que apenas um líquido super-resfriado.
Não há qualquer estrutura dentro de um gás a não ser a estrutura inerente às moléculas
individuais. Cada átomo ou molécula está a uma distância suficiente dos outros átomos
ou moléculas, para que possa ser considerado independentemente. As interações
causadas por colisões são momentâneas e elásticas.
Os líquidos, tal como os gases, são fluidos e não apresentam a ordem encontrada em
grandes distâncias nos cristais. Entretanto, aqui tem uma similaridade entre líquidos e
gases. Pode-se verificar que a estrutura dos líquidos tem muita coisa em comum com a
dos cristais. Suas densidades e, portanto, seus fatores de empacotamento, diferem de
apenas alguns porcentos. Um líquido é ligeiramente menos denso que o cristal
correspondente; entretanto, esta regra não pode ser considerada geral, porque existe um
certo número de materiais, tal como a água, que expandem ao se solidificar.
Os vidros são considerados, muitas vezes, como sendo líquidos super-resfriados, ainda
mais que não são cristalinos. Entretanto, apenas uns poucos líquidos podem ser super-
resfriados realmente, formando vidros. Portanto, a fim de se fazer uma distinção, deve-se
considerar a estrutura do vidro mais criticamente.
Em temperaturas elevadas, os vidros formam líquidos verdadeiros. Os átomos movem-se
livremente e não há resistência para tensões de cisalhamento. Quando um vidro
comercial, na sua temperatura de líquido, é super-resfriado, há contração térmica
causada pelo rearranjo atômico, para produzir um empacotamento mais eficiente dos
átomos. Esta contração é típica de todos os líquidos; entretanto, com um resfriamento
mais pronunciado, há uma mudança abrupta no coeficiente de expansão dos vidros.
Abaixo de uma certa temperatura denominada temperatura de transformação – também
conhecida como temperatura fictícia – cessam os rearranjos atômicos e a contração que
persiste é o resultado de vibrações térmicas mais fracas. Esse coeficiente mais baixo é
comparável ao coeficiente de dilatação térmica dos cristais onde o único fator que causa
contração são. as vibrações térmicas.
Os materiais sólidos foram agrupados convenientemente em três categorias básicas:
metais, cerâmicas e polímeros. Esse esquema se baseia principalmente na composição
química e na estrutura atômica, e a maioria dos materiais se enquadra em um ou outro
grupo distinto. Além desses, existem os materiais compósitos, que são combinações de
dois ou mais materiais diferentes.
Os Metais são compostos por um ou mais elementos metálicos, tais como ferro,
alumínio, cobre, titânio, ouro e níquel, e com frequência também por elementos não
metálicos, por exemplo, carbono, nitrogênio e oxigênio, em quantidades relativamente
pequenas.
Em relação às características mecânicas, esses materiais são relativamente rígidos e
resistentes, e ainda assim são dúcteis, ou seja, suportam grandes deformações sem
sofrer fratura, sendo indicados em aplicações estruturais.
Os materiais metálicos possuem grande número de elétrons não localizados que não se
ligam a nenhum átomo em particular e muitas das suas propriedades podem ser
atribuídas diretamente a esses elétrons. Por exemplo, são condutores de eletricidade e
de calor extremamente bons e não são transparentes à luz visível; sua superfície
metálica polida possui aparência brilhosa e têm propriedades magnéticas desejáveis,
como o Fe, Co e Ni.
As cerâmicas são compostos formados entre elementos metálicos e não metálicos e, na
maioria das vezes, são óxidos, nitretos e carbetos. Em relação ao comportamento
mecânico, os materiais cerâmicos são relativamente rígidos e resistentes, tendo valores
de rigidez e de resistência comparáveis aos dos metais. Além disso, as cerâmicas são
tipicamente muito duras e sempre exibiram extrema fragilidade (ausência de ductilidade),
sendo altamente suscetíveis à fratura. Em relação às suas características ópticas, as
cerâmicas podem ser transparentes, translúcidas ou opacas, e alguns dos óxidos
cerâmicos (por exemplo, Fe3O4) exibem comportamento magnético. Também são
tipicamente isolantes à passagem de calor e eletricidade (baixas condutividades
elétricas) e são mais resistentes a temperaturas elevadas e a ambientes severos que os
metais e os polímeros.
Alguns materiais cerâmicos comuns incluem o óxido de alumínio (ou alumina, Al203), o
dióxido de silício (ou sílica, SiO2), o carbeto de silício (SiC), o nitreto de silício (Si 3N4) e,
ainda, o que alguns referem-se como as cerâmicas tradicionais, que são materiais
compostos por minerais argilosos (porcelana), assim como o cimento e o vidro. Sua
aplicação se dá como utensílios de cozinha, cutelaria e até mesmo peças de motores de
automóveis.
Os polímeros incluem os materiais plásticos e de borracha, muito familiares em nosso dia
a dia. Em sua maioria são compostos orgânicos que têm sua química baseada no
carbono, no hidrogênio e em outros elementos não metálicos (por exemplo, O, N e Si).
Além disso, têm estruturas moleculares muito grandes, com frequência na forma de
cadeias, que frequentemente possuem uma estrutura composta por átomos de carbono.
Tipicamente, esses materiais possuem baixas massas específicas, enquanto suas
características mecânicas são, em geral, diferentes das características exibidas pelos
materiais metálicos e cerâmicos, sendo não tão rígidos nem tão resistentes quanto esses
outros tipos de materiais. Entretanto, em função das suas densidades reduzidas, muitas
vezes as suas rigidez e resistência em relação à sua massa são comparáveis às dos
metais e das cerâmicas.
Muitos dos polímeros são extremamente dúcteis e flexíveis (plásticos), o que significa
que são facilmente conformados em formas complexas. Em geral, quimicamente são
relativamente inertes, não reagindo em um grande número de ambientes. Uma das
maiores desvantagens dos polímeros é sua tendência em amolecer e/ou decompor em
temperaturas modestas, o que, em algumas situações, limita seu uso. Também possuem
baixas condutividades elétricas e não são magnéticos.
Alguns dos polímeros comuns e familiares são o polietileno (PE), náilon, cloreto de
polivinila (PVC), policarbonato (PC), poliestireno (PS) e a borracha silicone.
Um compósito é composto por dois (ou mais) materiais individuais, os quais se
enquadram nas categorias discutidas anteriormente - metais, cerâmicas e polímeros. O
objetivo de projeto de um compósito é atingir uma combinação de propriedades que não
é exibida por qualquer material isolado e, também, incorporar as melhores características
de cada um dos materiais que o compõe.
Um dos compósitos mais comuns e familiares é aquele com fibra de vidro, no qual
pequenas fibras de vidro são encerradas dentro de um material polimérico (normalmente
um epóxi ou um poliéster). As fibras de vidro são relativamente resistentes e rígidas (mas
também são frágeis), enquanto o polímero é mais flexível. Dessa forma, o compósito
fibra de vidro resultante é relativamente rígido, resistente e flexível. Além disso, possui
baixa massa específica.
Outro material tecnologicamente importante é o compósito de polímero reforçado com
fibras de carbono (ou "PRFC"), no qual fibras de carbono são colocadas no interior de
um polímero. Esses materiais são mais rígidos e mais resistentes que os materiais
reforçados com fibras de vidro, porém, são mais caros. Os compósitos de PRFC são
usados em algumas aeronaves e em aplicações aeroespaciais, assim como em
equipamentos esportivos de alta tecnologia (por exemplo, bicicletas, tacos de golfe,
raquetes de tênis, esquis e pranchas de snowboards) e recentemente em para-choques
de automóveis. A fuselagem do novo Boeing 787 é feita principalmente com esses
compósitos de PRFC.
Existe um grande número de tipos de compósitos, que são obtidos por diferentes
combinações de metais, cerâmicas e polímeros. Há, também, alguns materiais de
ocorrência natural que também são compósitos, como, por exemplo, a madeira e o osso.

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