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Rodrigues, D. 2013. Demandas Conflitantes: Um fenômeno central em Ecologia dos indvíduos.

UFRJ, Departamento de
Ecologia. Disponível em http://graduacao.cederj.edu.br/ava/login/index.php

DEMANDAS CONFLITANTES: UM FENÔMENO CENTRAL EM ECOLOGIA DOS INDIVÍDUOS


Daniela Rodrigues
Departamento de Ecologia, UFRJ

Na aula três da disciplina de Elementos de Elementos de Ecologia e Conservação, são abordados os


níveis de organização em ecologia indivíduos, populações, comunidades e ecossistemas. Em adição, outras
aulas aprofundam o entendimento acerca de atributos importantes dos ecossistemas, como fatores abióticos,
fluxo de energia e ciclagem da matéria. Na disciplina de Populações, Comunidades e Conservação, os níveis de
população e comunidades são abordados em detalhe. Contudo, como se dá a abordagem em escala
individual?

Para tanto, é necessário focar em características individuais e seus efeitos na história de vida dos
organismos, como idade, sexo, traços comportamentais, entre outros. Deste modo, a Ecologia Comportamental
é essencialmente uma disciplina focada no indivíduo, por exemplo. Cabe lembrar que o indivíduo é, via de regra,
o alvo da seleção natural.

Em estudos referentes à ecologia dos indivíduos, uma questão central surge: existe um organismo que
se reproduza tão logo nasça, produza ninhadas grandes e cuide de todos os filhotes, seja superior
competitivamente, escape da predação e capture presas com facilidade? Não, logo estratégias da história de
vida que maximizem sobrevivência e reprodução serão selecionadas em decorrência das pressões que movem a
seleção natural. Recursos, energia e biomassa são finitos, logo os organismos continuamente enfrentam
relações custo-benefício ou demandas conflitantes – mais conhecidas em biologia através da expressão inglesa
“trade-off”. Demanda conflitante é uma relação negativa entre duas características de história de vida dos
organismos, na qual o aumento de uma está associado à diminuição da outra como resultado do compromisso
acima.

Deste modo, em demandas conflitantes, um benefício conferido a um dado indivíduo também acarretará
em um custo para esse indivíduo. Assim, raramente uma estratégia de história de vida será totalmente vantajosa
ou desvantajosa. Em suma, é raro encontrar na natureza demandas otimizadas, ou seja, desprovidas de
conflitos e que acarretem somente em benefícios, e vice-versa. Neste sentido, a evolução tem agido no sentido
de balançar os custos e benefícios.

Por exemplo, um indivíduo que tem uma determinada energia e matéria disponível para a reprodução
pode produzir poucos, porém grandes e bem nutridos ovos ou, alternativamente, muitos, porém pequenos e
pouco nutridos ovos. Deste modo, se o organismo produziu grandes, porém poucos ovos, cada um destes
poucos ovos terá maior probabilidade de sobreviver em comparação a cada um daqueles vários ovos pequenos.
Assim, vê se claramente uma demanda conflitante entre quantidade versus qualidade dos ovos, onde
praticamente inexiste uma situação onde os organismos produzam uma quantidade máxima de ovos enormes.
Caso isto ocorra, a energia alocada para tal seria tão grande que outros investimentos como alocar energia para
achar abrigos, alimentos, entre outras atividades, poderiam estar comprometidos.

Seguindo esta linha de pensamento, a produção de gametas em cada sexo também consta como uma
demanda conflitante. Por exemplo, as fêmeas investem em gametas grandes e os produzem em quantidades
muito menores que os milhões de espermatozoides produzidos por macho. Contudo, a probabilidade de cada
espermatozoide vir a ser bem sucedido é muito menor que cada gameta feminino.

Outros exemplos de demandas conflitantes comuns na natureza:

- Tempo despendido em cuidar dos filhotes já nascidos versus produção de novos filhotes;

- Investimento em partes do corpo, colorações, sons, odores que atraem parceiros para a reprodução,
mas também atraem predadores;

- Mobilidade baixa para não chamar a atenção de predadores versus menor busca por abrigos e dieta de
boa qualidade (= forrageio).

Literatura de suporte:
a
Begon, M., Harper, J.L. & Townsend, C.R. 2007. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4 ed. Porto Alegre,
Artmed Editora. 752p.

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