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MÉTODOS DE LIMPEZA,

DESINFECÇÃO E ESTERILIZAÇÃO DE
MATERIAIS E AMBIENTES
LABORATORIAIS E HOSPITALARES

Prof. Dr. Fernando Mello


Disciplina: Bioética e biossegurança
Visão geral
• Os materiais utilizados em laboratórios e os
ambientes de trabalho podem veicular agente
infecciosos se não forem descontaminados após
o uso.
• Descontaminação → utilização de processos que
eliminam total ou parcialmente microrganismos;
remoção ou neutralização de produtos químicos
perigosos e materiais radioativos.

• Conhecimento básico de limpeza, desinfecção e


esterilização → Segurança biológica do
laboratório.

• Tornar qualquer material seguro para o descarte


final ou para a reutilização.

• As exigências dependerão do tipo de


procedimento e da natureza do agente infeccioso
estudado.
• Principais categorias de produtos de
descontaminação
✓ Antimicrobiano → Agente que mata microorganismos ou impede o seu
desenvolvimento e multiplicação.

✓ Antisséptico → Substância que inibe o crescimento e desenvolvimento de


microorganismos sem necessariamente os matar. São aplicados sobre
superfícies do corpo.

✓ Germicida químico → Substância química ou mistura de substâncias


químicas que matam microorganismos.

✓ Desinfetante → Substância química ou mistura de substâncias químicas


que matam microorganismos, mas não necessariamente esporos. São
aplicados em superfícies ou objetos inanimados.

✓ Esporicida → Substância química ou mistura de substâncias químicas que


matam microorganismos e esporos.
• Termos importantes
✓ Assepsia → Procedimentos que visam impedir a penetração de
microrganismos num local que não os contenha. Ex: realizar experimentos
em cabine de segurança biológica.

✓ Antissepsia → Inibição do crescimento ou eliminação de microrganismos


em tecidos vivos, por meio da utilização de produtos químicos. Ex: aplicar
álcool em gel 70% nas mãos.

✓ Degermação → eliminação de sujidades e impurezas da pele, através de


sabonetes ou detergentes líquidos específicos para a limpeza. Ex: tomar
banho.
Limpeza
• É o conjunto de ações que visa à remoção
de sujeiras e detritos, com a finalidade de
manter em estado de asseio objetos e
superfícies.

• Artigos muito contaminados não podem


ser desinfetados e esterilizados
prontamente → Limpeza prévia.

• Sujeiras e detritos podem servir como


proteção a microorganismos e podem
interferir na ação destruidora de
produtos de descontaminação.

• Escovar, aspirar, limpar a seco, lavar ou


esfregar com água e sabão ou detergente.
Desinfecção
• É o processo, por meio físico ou químico, que mata microrganismos, mas
não necessariamente seus esporos.

• Meios químicos → germicidas químicos, desinfetantes, antissépticos.


• Meios físicos → Calor.
• Desinfecção por meio líquido
✓ A escolha destes produtos deve ser feita cuidadosamente de acordo com
as necessidades específicas.

✓ Alguns são nocivos ao homem e ao meio ambiente → uso de


equipamentos de proteção.

✓ Utilizados e descartados de acordo com as instruções do fabricante.


✓ Formaldeído
➢ Apresenta atividade contra bactérias, vírus e fungos e esporos.

➢ É comumente aplicado por fumigação às cabines de segurança.

➢ Pode ser aplicado na forma líquida.

➢ Alta toxicidade e caráter irritante → não é recomendado para uso


rotineiro.
✓ Glutaraldeído
➢ Ativo contra bactérias, esporos, fungos e vírus lipídicos e não lipídicos.

➢ Não é corrosivo e atua mais depressa do que o formaldeído. Contudo, leva


várias horas para matar esporos bacterianos.

➢ É tóxico e irritante para a pele e membranas mucosas, devendo-se evitar o


seu contato.

➢ Deve ser utilizado em salas com saída de ar ou áreas bem ventiladas.


✓ Compostos fenólicos
➢ Ativos contra bactérias vegetativas e vírus lipídicos.

➢ Inativos contra esporos.

➢ Triclosan → muito usado como antisséptico (sabonetes, cremes dentais).

➢ Presentes também em diversos produtos de limpeza.


✓ Clorexidina (Gluconato de clorexidina)
➢ Atua como antisséptico.

➢ Apresenta atividade contra bactérias, vírus e fungos.

➢ Ação antimicrobiana de alta eficiência que age como agente


bacteriostático e bactericida.

➢ Clorexidina aquosa, alcoólica, tipos em shampoo, sabonete, spray,


antissépticos bucais.
✓ Álcoois
➢ Mais usados → Etanol e Isopropanol.

➢ Atividade rápida sobre bactérias, fungos e


vírus lipídicos, mas não possuem atividade
sobre esporos.

➢ Etanol → maior atividade germicida, menor


custo e menor toxicidade que o isopropanol.

➢ Promovem a desnaturação de proteínas → a


presença de água junto ao álcool acelera a
desnaturação.

➢ Solução com concentração entre 60% e 80% é


mais eficiente.

➢ Usado para anti-sepsia da pele, desinfecção de


bancadas, cabines, estufas, geladeiras,
centrífugas, pipetas, etc.
✓ Iodo e iodóforos
➢ Muito utilizados como antisépticos pré operatório.

➢ Não é utilizado em utensílios médicos, alumínio ou cobre.

➢ Pode ser tóxico.


✓ Peróxido de hidrogênio (H2O2)
➢ Fortes oxidantes e potentes germicidas.

➢ Pode ser usado na forma de vapor ou líquida.

➢ Descontaminação de bancadas e CSB.

➢ Soluções mais fortes podem estar indicadas para desinfectar aparelhos


médicos/dentários sensíveis ao calor.

➢ Podem ser corrosivos sobre metais tais como alumínio, cobre, latão e
zinco.
✓ Hipoclorito de sódio
➢ Composto liberador de cloro ativo.
➢ Atividade contra bactérias, esporos, fungos e vírus.
➢ Desinfecção em geral de objetos, inclusive contaminados com material
biológico (sangue).
➢ Tem capacidade corrosiva e descolorante → não recomendado para metal.
➢ Tóxico, causa irritação na pele e olhos → uso de EPI e manipulação em
áreas ventiladas.
• Cuidados a serem tomados na desinfecção por
meio químico líquido:
✓ utilizar os EPI;

✓ garantir farta ventilação do local;

✓ imergir os materiais na solução;

✓ observar o tempo correto de exposição ao produto;

✓ manter os recipientes tampados;

✓ enxaguar os materiais submetidos a estes produtos várias vezes


para eliminar os resíduos do produto utilizado;

✓ secar e acondicionar o material em recipiente ou invólucro


adequado.
Esterilização
• Processo que mata e/ou remove todas as classes de microorganismos ou
esporos, por meio de agentes físicos (calor), radioativos (raios gama) ou
químicos (esporicidas).
• Esterilização por calor úmido – Autoclavação
✓ Processo rápido (15 a 30 min)
✓ Temperatura de 127oC
✓ Vapor saturado sob pressão.
✓ Indicado para esterilização de materiais termorresistentes.
✓ Os materiais devem ser revestidos por invólucros permeáveis ao vapor
(papel Kraft).
✓ Materiais colocados espaçadamente para que o vapor circule livremente.
✓ Avaliação da eficácia e monitoramento da esterilização por autoclave

➢ Identificação visual com fitas termossensíveis → muda de cor quando o


material passou pelo calor adequado para a esterilização.

➢ Registro do controle de pressão e temperatura a cada ciclo de esterilização


(127°C e 1,5Kgf/cm²).

➢ Testes biológicos uma vez por semana → Bacillus stearothermophylus.


✓ Possíveis falhas
➢ limpeza deficiente do material;

➢ emprego de invólucros impermeáveis ao vapor;

➢ pacotes incorretamente posicionados na câmara;

➢ superaquecimento;

➢ tempo de exposição insuficiente;

➢ secagem inadequada;

➢ operação incorreta e falta de manutenção da autoclave.


• Esterilização por calor seco – Forno de Pasteur
✓ Estufa elétrica que aquece por irradiação do calor através das paredes
laterais e da base.

✓ Processo lento (~1 hora) que necessita de altas temperaturas (140oC a


180oC).

✓ Calor seco menos penetrante do que o úmido.

✓ Indicado para esterilizar vidrarias, instrumentos passíveis de serem


oxidados pelo vapor e recipientes fechados que não são penetrados pelo
vapor.

✓ Os materiais devem ser revestidos


por invólucros (Papel kraft ou alumínio).

✓ Materiais colocados espaçadamente


para que o calor circule livremente.
✓ Avaliação da eficácia e monitoramento da esterilização pelo
Forno de Pasteur
➢ Testes biológicos com Bacillus subtilis, no mínimo, semanalmente;

➢ Registrar a temperatura em todas as esterilizações;

➢ Utilizar indicadores de temperatura nas caixas (fitas termossensíveis


apropriadas para o calor seco).
Limpeza e desinfecção de ambientes
• Procedimentos de limpeza
✓ Pisos não devem ser varridos → dispersão de sujeira.

✓ Pano úmido com água e sabão, exclusivo para o chão, cobrindo a vassoura
ou rodos especiais.

✓ Água e sabão do balde devem ser trocados várias vezes durante a limpeza.

✓ Paredes, tetos, portas, mobiliários também devem ser limpos com água e
sabão.
• Desinfecção de bancadas
✓ Fricção de gaze ou papel toalha embebido em álcool 70%, no sentido do
fundo para a borda.

✓ Deixar secar naturalmente e repetir a operação 3 vezes, devido a rápida


evaporação do álcool.

✓ Para superfícies mais contaminadas deve se utilizar também solução de


hipoclorito com 0,5% a 1% de cloro ativo → não é recomendado para
desinfecção de superfícies de metal.

✓ Realizar a desinfecção antes e depois da rotina de trabalho.


• Procedimento de desinfecção localizada
✓ Processo realizado em áreas nas quais ocorra respingo ou deposição de
matéria orgânica.

➢ com uso de luvas e roupa protetora, retirar o excesso da carga


contaminante em papel absorvente ou pano de limpeza;

➢ desprezar o papel ou pano em sacos plásticos de lixo ou encaminhar para


a lavanderia;

➢ aplicar desinfetante sobre a área atingida e deixar o tempo recomendado;

➢ remover o desinfetante com pano molhado;

➢ proceder à limpeza com água e sabão no restante da superfície.


• Descontaminação geral de salas e
equipamentos
✓ Fumigação com gás de formaldeído.

✓ Processo muito perigoso → pessoal altamente treinado.

✓ Todas as aberturas devem ser hermeticamente fechadas com fita colante.

✓ Depois do procedimento a sala deve ser muito bem ventilada antes da


liberação da entrada de pessoas.
• Recomendações gerais
✓ Esfregões, panos de limpeza e de chão, escovas e baldes são lavados nos
tanques destinados para tal fim, durante e após o uso.

✓ Tanto para os procedimentos de limpeza como desinfecção, os EPIs


adequados devem ser usados → aventais impermeáveis, óculos, máscaras,
luvas de borracha resistentes e sapatos fechados ou botas de borracha.

✓ Óculos e máscaras devem ser utilizados na limpeza de tetos e paredes.

✓ A limpeza geral é feita mensalmente ou semestralmente, dependendo das


características e do volume de trabalho do laboratório.

✓ Esses procedimentos são realizados preferencialmente quando o


laboratório não estiver em atividade, e sempre com o acompanhamento
de um técnico ou responsável pelo setor.
Higiene das mãos
• A utilização de luvas não elimina a necessidade
de lavar as mãos regularmente e de forma
correta.

• Remover a sujidade e a maioria dos


microorganismos transitórios da pele.

• Lavar as mãos com água e sabão comum é um


procedimento eficiente, mas em situações de
maior risco é recomendado o uso de sabão
germicida.

• Torneiras acionadas com o pé ou cotovelo.

• Quando esses dispositivos não estão


disponíveis, usa-se papel toalha para fechar a
torneira.

• Após a lavagem é recomendada a aplicação de


álcool 70%.
• Quando lavar as mãos?

✓ ao iniciar o turno de trabalho;


✓ sempre depois de ir ao banheiro;
✓ antes e após o uso de luvas;
✓ antes de beber e comer;
✓ após a manipulação de material biológico e químico;
✓ ao final das atividades, antes de deixar o laboratório.

• Regras básicas

✓ antes de lavar as mãos, retirar anéis e pulseiras;


✓ quando houver lesões nas mãos e antebraços, protegê-las com pequenos
curativos antes de calçar as luvas.
• Sequência de lavagem das mãos
• Bibliografia
✓ Manual de Biossegurança. LACEN/SC. 2007

✓ Organização Mundial da Saúde. Manual de segurança


biológica em laboratório. 3ª edição. 2004.

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