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GERENCIAMENTO

DE CRISE
AULA 4

Prof. Cristiano Moskaleski Cubas de Lima


CONVERSA INICIAL
Nesta quarta aula, inicialmente relembraremos quais as fases do
Gerenciamento de Crise, as quais são:
a. Pré-confrontação ou preparo;
b. Resposta imediata;
c. Plano específico;
d. Resolução.

Com uma perspectiva evolutiva e de adaptação à realidade, temos novas


fases:
a. Pré-crise;
b. Primeira Intervenção;
c. Gerenciamento propriamente dito;
d. Pós-crise.

Passaremos então, compreendendo estas novas fases, a definir e


delinear o conceito de Primeira Intervenção, seus aspectos históricos e seus dez
passos a serem tomados. Por fim, os procedimentos finais do primeiro
interventor.

TEMA 1 – CONCEITO DE PRIMEIRA INTERVENÇÃO EM CRISE


A Primeira Intervenção em Crises (PIC) é o conjunto de ações técnicas a
ser aplicado pelo policial militar ou equipe de policiais militares que primeiro se
deparam com ocorrências de difícil resolução. Eles são chamados primeiros
interventores da crise.

Histórico da primeira intervenção em crise


Os norte-americanos constataram que um primeiro atendimento a uma
crise, de maneira técnica e bem realizada, poderia ajudar e preservar muitas
vidas nas situações envolvendo reféns.
Com a chegada da doutrina de Gerenciamento de Crises ao Brasil no final
dos anos 1980 e início da década de 1990, as corporações policiais iniciaram

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uma adaptação aos novos procedimentos. A partir de 2005, várias destas
corporações iniciaram cursos e treinamentos constantes, visando a alcançar
resultados favoráveis, como as Polícias Militares do Paraná, do Mato Grosso do
Sul, do Espírito Santo, entre outras.
Com isso, a doutrina técnica, tem sido repassada para policiais civis,
guardas municipais, agentes penitenciários, integrantes das Forças Armadas,
enfim, qualquer grupo que eventualmente necessite de tais conhecimentos por
conta de suas funções.

Os dez passos da primeira intervenção


Para propiciar a operacionalização da doutrina de Primeira Intervenção,
foram estabelecidos os chamados Dez Passos da Primeira Intervenção.
Apesar de serem apresentados numa sequência didática e objetiva, os
passos devem ser aplicados de forma praticamente simultânea, sendo as
seguintes:
1. Localizar o ponto exato da crise; 6. Coletar informações
2. Conter a crise; 7. Diminuir o estresse da situação;
3. Isolar o ponto crítico; 8. Permanecer em local seguro;
4. Estabelecer contato sem 9. Manter terceiros afastados;
concessões; 10. Acionar as equipes
5. Solicitar apoio de área; especializadas.

TEMA 2 – OS DEZ PASSOS DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO (PASSOS 1 A 3)

1. Localizar o ponto exato da crise


Antes de qualquer ação a ser tomada, é necessário confirmar se a crise
de fato está ou não ocorrendo, e se realmente é uma crise.
Sendo assim, caso a crise se confirme, com a visualização do causador
do evento crítico (CEC) mantendo reféns, vítimas ou tentando suicídio, os
primeiros interventores deverão agir com cautela e segurança, analisando o
ambiente e se preparando para a realização dos demais passos.

2. Conter a crise
Ao ser confirmado o evento crítico, o CEC deverá ser mantido no mesmo
local em que foi encontrado pelos policiais primeiros interventores. A essência

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desse passo é evitar que a crise se espalhe, tomando proporções maiores e mais
perigosas, e também impossibilitar que haja mudança de local, fato que pode ser
vislumbrado como potencialmente desvantajoso para o futuro gerenciamento do
evento.

Isolar o ponto crítico


Por isolar a crise entenda-se não deixar que o CEC tenha contato com o
mundo externo e vice-versa. Esse contato deve ser compreendido num contexto
muito amplo. Contatos de qualquer natureza devem ser vedados. O único
contato do CEC com o exterior deve ser realizado com o primeiro interventor e
mais ninguém.
Os policiais devem ser treinados e orientados para realizar isolamento
adequado e técnico quando assumirem a função de primeiros interventores.

TEMA 3 – OS DEZ PASSOS DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO (PASSOS 4 E 5)


4. Estabelecer contatos sem concessões
Outro passo fundamental durante uma primeira intervenção é estabelecer
contato com o CEC. Entretanto, conforme o procedimento técnico, esse contato
deve ser isento de concessões ao causador, mesmo que ele exija de forma
categórica. Isso porque o policial primeiro interventor não é negociador. Cabe
apenas a este, profissional que integra uma equipe estruturada na fase do
Gerenciamento Propriamente Dito (terceira fase), barganhar com o CEC e
conceder o que for possível dentro das técnicas de negociação, de acordo com
as orientações dos gestores do evento.
Portanto, o primeiro interventor não está autorizado a fazer concessões.
Sua missão é apenas conversar com o CEC visando acalmá-lo para estabilizar
a já tensa situação e não potencializar seu risco.

5. Solicitar apoio de área


Uma primeira intervenção é realizada por equipes policiais com número
reduzido de integrantes – e em contraponto, as atividades a serem
desempenhadas são diversas. Por isso será importante o acionamento de
policiais que pertençam à mesma Unidade para prestar apoio na ocorrência.
Quanto mais rápido este apoio chegar, e mais preparados os policiais estiverem,
melhor será o processo de primeira intervenção. Entretanto, o início das crises

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costuma ser complicado, caótico e confuso, principalmente nos primeiros 45
minutos. É fundamental, portanto, que a mobilização de apoio se dê de forma
coordenada e controlada.

TEMA 4 – OS DEZ PASSOS DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO (PASSOS 6 A 9)


6. Coletar informações
A coleta de dados acerca de uma crise em andamento pode ser a chave
para sua solução aceitável mais tarde.
Basicamente, devem ser anotadas informações que tenham a ver com as
características e comportamentos do CEC, a identificação e as condições de
saúde dos reféns ou das vítimas, particularidades das armas utilizadas e do
ponto crítico.
O primeiro interventor deverá passar essas informações anotadas aos
integrantes das equipes especializadas assim que estas chegarem ao local para
o apoio especializado.

7. Diminuir o stress da situação


Esse trabalho tem como objetivo precípuo a preservação das vidas
ameaçadas, já que um CEC tenso e estressado tenderá a agir de forma cada
vez mais ameaçadora e mais violenta contra os reféns ou vítimas.
Para cumprir esse passo, atitudes controladas podem fazer grande
diferença nesse momento, como:
a. Conversar com o CEC de forma tranquila, mesmo que ele esteja exaltado
e proferindo palavrões;
b. Evitar dar ordens ao CEC já que a vida do refém está sob seu controle;
c. Jamais ameaçar o CEC, pois ao se sentir intimidado ele poderá descontar
sua ira nas pessoas.

8. Permanecer em local seguro


Este passo estabelece que a cautela nas ações iniciais é primordial para
a preservação das vidas. A todo momento da primeira intervenção, os policiais
devem procurar locais seguros e jamais ficarem expostos, principalmente na
chamada linha de alvo ou de tiro do CEC.

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Portanto, a permanência do primeiro interventor em segurança é muito
mais que um passo técnico. É uma condição que propiciará o apoio necessário
a quem precisa.

9. Manter terceiros afastados


O penúltimo passo tem laços estreitos com o terceiro passo, que é relativo
ao isolamento da crise. Enquanto isolar o evento é mais abrangente, incluindo
todo o tipo de corte de contato (verbal, auditivo, visual etc.), nesse momento o
foco é todo voltado para o afastamento de terceiros inocentes que orbitam em
torno da crise no seu caótico momento inicial.
Como visto acima, os terceiros inocentes mais usuais num evento crítico
são curiosos, familiares dos envolvidos e profissionais de imprensa.

TEMA 5 – OS DEZ PASSOS DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO (PASSO 10) E


PROCEDIMENTOS FINAIS DO PRIMEIRO INTERVENTOR
Acionar as equipes especializadas
As equipes (Negociação, Intervenção e Atiradores de Precisão) têm as
ferramentas necessárias para operar diretamente no evento crítico com suas
alternativas táticas e, portanto, devem ser valorizadas.
Logo, assim que forem acionadas, estas equipes se deslocarão e
assumirão as ações diretas nas crises, fornecendo o apoio especializado para a
Unidade responsável pela área, dando início à fase do gerenciamento.
Infelizmente, é inequívoca a constatação de que em muitas crises as
equipes especiais da Corporação policial envolvida não se fazem presentes. Os
policiais das Unidades de área assumem o risco e resolvem agir por conta e
risco.
O trabalho do primeiro interventor na crise ainda não acabou. Enquanto o
ambiente estiver sendo preparado para proporcionar condições ao
gerenciamento, como a instalação dos postos de comando e o local para o
processo de Negociação, os primeiros interventores serão entrevistados pelos
negociadores e pelos policiais do Grupo de Intervenção sobre os fatos ocorridos
até então, para a obtenção de informações importantes. O primeiro interventor
que estiver no contato verbal com o CEC será avaliado pelos negociadores e
poderá ser mantido no contato de forma orientada.

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NA PRÁTICA
Imagine a seguinte situação:
Estou em meu turno de serviço, e quando quase está terminando minha
escala de bombeiro, somos acionados para um incêndio iniciado em uma casa.
Chegando lá, eu, sendo o oficial mais graduado, constato que é uma briga
de amigos. Um dos homens descobriu que sua esposa o estava traindo com um
amigo; o homem traído agora ameaça colocar fogo na esposa e em toda a casa
por vingança.
Perguntas:
 O que você deve fazer em uma situação destas?
 Você poderá ser o primeiro interventor desta situação?
 Sua experiência profissional é suficiente para resolver a situação?

FINALIZANDO
Nesta aula visualizamos que todas as fases do Gerenciamento de Crise
são muito importantes. Mas, a primeira intervenção é imprescindível em nosso
estudo para conhecimento, e só com este conhecimento podemos internalizar
os dez passos do primeiro interventor, para que, seguindo a técnica, possamos
ter um desfecho nas ocorrências críticas, ou, quando nos deparamos com a
situação, termos condições de resolvê-la da melhor forma possível. Guardando
os dez passos, temos:
1. Localizar o ponto exato da crise; 6. Coletar informações
2. Conter a crise; 7. Diminuir o estresse da situação;
3. Isolar o ponto crítico; 8. Permanecer em local seguro;
4. Estabelecer contato sem 9. Manter terceiros afastados;
concessões; 10. Acionar as equipes
5. Solicitar apoio de área; especializadas.

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REFERÊNCIAS

LUCCA, D. V. D. Gerenciamento de crises em ocorrências com reféns


localizados. São Paulo: USP, 2002.

______. O negociador: estratégias de negociação para situações extremas.


São Paulo: HSM do Brasil, 2014.

McMAINS, M. J.; MULLINS, W. C. Crisis negotiations: managing critical


incidents and hostage situations in law enforcement and corrections. 5. ed.
Waltham: Anderson Publishing, 2014.

MONTEIRO, R. C. et al. Gerenciamento de crises. 7. ed. Brasília:


Departamento de Polícia Federal, 2008.

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